REVISTA ENCARTADA NO JORNAL O LIBERAL. NÃO PODE SER VENDIDA SEPARADAMENTE.
AGOSTO 2O15 | EDIÇÃO NO 48 ANO 4 | ISSN 2237-2962
SER SUSTENTÁVEL
CULTIVA UMA HORTA CASEIRA? PARABÉNS, VOCÊ JÁ DEU UM PASSO RUMO À SUSTENTABILIDADE. MAS ADOTE OUTROS HÁBITOS E AMPLIE A EXPERIÊNCIA DE AJUDAR O MEIO AMBIENTE E MELHORAR SUA QUALIDADE DE VIDA.
REALIZAÇÃO
PATROCÍNIO
Nós valorizamos a
Durante o verão amazônico, com clima mais seco e altas temperaturas, as probabilidades de incêndios florestais são maiores. E o menor dos riscos é uma ameaça às florestas do Mosaico de Carajás. Por isso, trabalhamos em parceria com o ICMBio para combater as queimadas antes que elas aconteçam, levando informações e capacitação para as populações que vivem no sudeste do Pará. A sua atitude também é fundamental para prevenir queimadas. Descarte o lixo no lugar certo e não queime-o, não jogue cigarro aceso próximo à vegetação e tenha cuidado ao fazer fogueiras em áreas verdes. Faça você também a sua parte.
Ligue e denuncie 193 – Corpo de Bombeiros / 0800 285 7000 – Alô Ferrovias
EKO
Foto: JoĂŁo Marcos Rosa
Floresta Nacional de CarajĂĄs
Para um mundo com novos valores.
CARLOS BORGES
DA EDITORIA
PUBLICAÇÃO MENSAL DELTA PUBLICIDADE - RM GRAPH EDITORA AGOSTO 2015 / EDIÇÃO Nº 48 ANO 4 ISSN 2237-2962 Presidente LUCIDÉA BATISTA MAIORANA Presidente Executivo ROMULO MAIORANA JR. Diretor Jurídico RONALDO MAIORANA Diretora Administrativa ROSÂNGELA MAIORANA KZAN Diretora Comercial ROSEMARY MAIORANA Diretor Industrial JOÃO POJUCAM DE MORAES FILHO Diretor de Novos Negócios RIBAMAR GOMES Diretor de Marketing GUARANY JÚNIOR
TEMPO DE SER SUSTENTÁVEL
Cultivar uma simples horta em casa já é um bom começo para se viver de bem com a natureza e consigo mesmo
POR QUE ADOTAR HÁBITOS MAIS SUSTENTÁVEIS?
FELIPE JORGE DE MELO Editor-chefe 4 • REVISTA AMAZÔNIA VIVA •
Foi partindo da pergunta acima
gonzo” é como, tecnicamente, cha-
que buscamos construir a pauta para
mamos esse estilo de narrativa, em
a reportagem de capa deste mês. De
que o jornalista deixa de lado a im-
antemão, avisamos que a proposta
parcialidade da informação para
de passar sete dias sob os conceitos
viver profundamente a ação da re-
da sustentabilidade, relatada pelo
portagem).
repórter João Cunha a partir da pági-
O que já esperávamos, e que de
na 38, não tem a pretensão de ser um
fato se confirmou, foi perceber que
manual de como se tornar sustentá-
a sustentabilidade vai muito além
vel mudando radicalmente de vida.
de fazer alguma coisa pela preser-
Mas quisemos descrever a experiên-
vação do meio ambiente, reciclar o
cia, sentir na pele essa questão tão
lixo ou economizar energia elétri-
comentada nos dias atuais.
ca. As mudanças são a longo prazo
Sem se apresentar como um
e refletem um investimento de vida
“diário de bordo”, o texto mostra as
pessoal e comunitária, capaz de al-
impressões e vivências do repór-
terar a realidade ao nosso redor em
ter durante uma semana adotando
favor desta e das futuras gerações. O
novos costumes em nome de uma
retorno da experiência do ser sus-
vida mais sustentável (“jornalismo
tentável deve fazer a diferença.
AGOSTO DE 2015
Diretores JOSÉ EDSON SALAME JOSÉ LUIZ SÁ PEREIRA Conselho editorial RONALDO MAIORANA JOÃO POJUCAM DE MORAES FILHO GUARANY JÚNIOR LÁZARO MORAES REDAÇÃO Jornalista responsável e editor-chefe FELIPE JORGE DE MELO (SRTE-PA 1769) Coordenação geral LUCIANA SARMANHO Editor de arte FILIPE ALVES SANCHES (SRTE-PA 2196) Pesquisador e consultor técnico INOCÊNCIO GORAYEB Colaboraram para esta edição O Liberal, Vale, Agência Pará de Notícias, Agência Brasil, Museu Paraense Emílio Goeldi, Universidade Federal do Pará, Universidade do Estado do Pará, Universidade Federal Rural da Amazônia, Fundação Cultural do Pará - Oficinas do Curro Velho (acervo); Camila Machado, Fabrício Queiroz, Victor Furtado, Anderson Araújo, Moisés Sarraf, Abílio Dantas, Brenda Pantoja, Bruno Rocha, Sávio Oliveira, Vito Gemaque, Arnon Miranda, Dominik Giusti, João Cunha, Natália Mello (reportagem); Moisés Sarraf, Fabrício Queiroz, Bruno Rocha (produção); Hely Pamplona, Fernando Sette, Roberta Brandão, Oswaldo Forte (fotos); Thiago Barros (artigo) André Abreu, Leonardo Nunes, Jocelyn Alencar, Sávio Oliveira, Márcio Euclides (ilustrações); Alexsandro Santos (tratamento de imagem). FOTO DA CAPA Horta caseira, por Carlos Borges AMAZÔNIA VIVA é editada por Delta Publicidade/ RM Graph Ltda. CNPJ (MF) 03.547.690/0001-91. Nire: 15.2.007.1152-3 Inscrição estadual: 158.028-9. Avenida Romulo Maiorana, 2473, Marco - Belém - Pará.
amazoniaviva@orm.com.br PRODUÇÃO
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REVISTA IMPRESSA COM O PAPEL CERTIFICADO PELO FSC - FOREST STEWARDSHIP COUNCIL
AGOSTO 2O15
NESTA EDIÇÃO
EDIÇÃO Nº 48 / ANO 4 CARLOS BORGES
Uma rotina de sustentabilidade
38
O repórter João Cunha viveu a experiência de passar sete dias adotando hábitos sustentáveis, como trocar o ônibus por uma caminhada até o trabalho. Ele relata como foi a experiência em forma de reportagem. ASSUNTO DO MÊS ROBERTA BRANDÃO
36 16
FERNANDO SETTE
ROBERTA BRANDÃO
ROBERTA BRANDÃO
54
58
CONHECIMENTO
CIRCO
Waldenei Queiroz, da
O palhaço Black, interpre-
BOTÂNICA
Universidade Federal
HIP HOP
tado pelo artista circense
A pesquisadora Ana
Rural da Amazônia (Ufra),
MC Pelé do Manifesto
Antonio do Rosário, es-
Maria Giulietti-Harley, do
é colaborador do primeiro
faz rimas e música de
treia novo espetáculo em
Instituto Tecnológico Vale,
Inventário Florestal
protesto como forma
Belém. “Quer Bolacha”
desenvolve pesquisas
Nacional do Brasil, com
de chamar a atenção da
conta uma trajetória de
sobre o uso sustentável
objetivo de conhecer a
sociedade para a realida-
lembranças e aprendi-
das áreas de mineração
flora em todo o país, em
de dos jovens carentes
zados na vida do ator
em Carajás, no Pará.
especial da Amazônia.
da região amazônica.
paraense.
QUEM É?
OUTRAS CABEÇAS
DEDO DE PROSA
ARTE PESQUISADA
E MAIS 4 6 7 11 13 15 17 17 18 19 19 20 20 21 21 24 46 49 49 50 60 62 63 65 66
DA EDITORIA AS MAIS CURTIDAS PRIMEIRO FOCO TRÊS QUESTÕES AMAZÔNIA CONNECTION PERGUNTA-SE EU DISSE APPLICATIVOS COMO FUNCIONA FATO REGISTRADO DEU N’O LIBERAL CURIOSIDADES DA BIODIVERSIDADE ELES SE ACHAM DESENHOS NATURALISTAS CONCEITOS AMAZÔNICOS OLHARES NATIVOS COMPORTAMENTO SUSTENTÁVEL BONS EXEMPLOS MUDANÇA DE ATITUDE VIDA EM COMUNIDADE MEMÓRIAS BIOGRÁFICAS AGENDA FAÇA VOCÊ MESMO BOA HISTÓRIA NOVOS CAMINHOS
AGOSTO DE 2015
• REVISTA AMAZÔNIA VIVA •
ASMAISCURTIDAS DESTAQUES DAS EDIÇÕES ANTERIORES
RÁDIO
HELY PAMPLONA
Conheço o trabalho da Rádio Rural e só temos a aplaudir essa iniciativa da Diocese de Santarém (“Uma rádio pela educação”, Bons Exemplos, julho de 2015, nº 47). O projeto tem transformado a vida de muitas famílias na região. José Rodrigo Sales Bragança-Pará Morei uma temporada em Santarém e sempre escutava a Rádio Rural. É um trabalho muito bonito e importante para a
DE BOA NO TOCO, QUE É TOCA E ABRIGO
O tucano no tronco de uma árvore fotografado por Hely Palmplona fez sucesso em nosso Instagram na edição passada.
comunidade local. Syely Passos Belém-Pará
ARY SOUZA / ARQUIVO O LIBERAL
CARIMBÓ De tudo se faz carimbó mesmo, até fontes para computador (“Fonte do Carimbó”, Arte Pesquisada, julho de 2015, nº 47). Muito boa a ideia do designer Máecio Monteiro ao criar a Zimba. Walter Farias Benevides-Pará
PAPA FRANCISCO O articulista Thiago Barros foi muito feliz na edição passada ao escrever sobre o
SOLUÇÃO PARA O BAGAÇO DO MIRITI
apelo do papa Francisco para a impor-
A declaração das cuias tapajônicas produzidas no Baixo Amazonas como Patrimônio Cultural do Brasil pelo Iphan foi notícia na seção Primeiro Foco no mês passado e teve o maior número de curtidas e comentários festejando esse avanço no conhecimento da cultura paraense no país.
planetária (“A carta do Papa: um chamado à ação”, Novos Caminhos, julho de 2015, nº 47). Cuidar da natureza é um gesto fraterno para com a humanidade. Jussara Maia Belém-Pará
CARLOS BORGES
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tância de uma conscientização ambiental
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AGOSTO DE 2015
para o endereço: Avenida Romulo USE UM LEITOR DE QR CODE PARA ACESSAR A EDIÇÃO DIGITAL DE JULHO
Maiorana, 2473, Marco, Belém - Pará, CEP 66 093-000 ou FAX: 3216-1143.
O QUE É NOTÍCIA PARA A AMAZÔNIA ANTONIO LUIZ/ VALE
PRIMEIROFOCO
A FAMÍLIA AUMENTOU! MAIOR AVE DE RAPINA DO BRASIL, O GAVIÃO-REAL SE REPRODUZ PELA PRIMEIRA VEZ NO PARQUE ZOOBOTÂNICO VALE, EM PARAUAPEBAS. PÁG. 8.
DESCOBERTA Pesquisadores brasileiros identificam população de botos-vermelhos híbridos na região do rio Madeira, entre Rondônia e Amazonas. PÁG.10
EFEITO ESTUFA Observatório do Clima mostra como o Brasil pode chegar a 2020 sem altos índices de emissões de gases. PÁG.12
UNIDADE Mais de 40 etnias brasileiras e estrangeiras vão participar dos Primeiros Jogos Mundiais dos Povos Indígenas este ano. PÁG.14
AGOSTO DE 2015
• REVISTA AMAZÔNIA VIVA • 7
PRIMEIRO FOCO
UM PRESENTE DA NATUREZA
D
epois de um longo período de convivência, o casal de gavião-real (Harpia harpyja) que vive no Parque Zoobotânico Vale, em Parauapebas, deu cria ao seu primeiro filhote. Um presente da natureza no ano em que o PZV chega aos 30 anos de funcionamento. Segundo o veterinário André Mourão, mesmo com o ambiente adequado o nascimento de filhotes é difícil. “A reprodução de harpias em zoológicos é extremamente rara, principalmente em se tratando de animais que ficam em áreas de exposição”, explica. Outro ponto desafiador e positivo sobre esse processo de reprodução foi o fato de os pais terem chocado o ovo. “Exis-
8 • REVISTA AMAZÔNIA VIVA •
AGOSTO DE 2015
tem criatórios especializados que costumam tirar o ovo do cuidado dos pais e completam a encubação artificialmente para aumentar a chance de sucesso da eclosão e de sobrevivência do filhote. Nós optamos por deixá-los fazer a incubação, vendo o ovo eclodir para que tenham a oportunidade de criar laços parentais, assim como acontece na natureza”. A harpia é a maior águia encontrada no Brasil, a mais potente do mundo, considerada uma espécie rara e está na lista de animais ameaçados de extinção no país. Em sua fase adulta pode ultrapassar os 2 metros de envergadura (maior distância entre as pontas das asas). O recinto construído no Parque Zoobotânico Vale para
NOVA CRIA
O nascimento de filhotes de gavião-real em cativeiro é difícil de acontecer, mesmo em ambientes adequados para o habitat natural da espécie, como o Parque Zoobotânico Vale ANTONIO LUIZ/ VALE
abrigar o casal considerou essas proporções. “Investimos em uma estrutura moderna que considera o tamanho e hábitos da espécie. A área tem 300m² e 10 metros de altura”, explica o biólogo Leandro Maioli, do PZV. Além de grande, o recinto possui elementos que reproduzem o clima da floresta amazônica presente em todo o entorno do Parque. “Nós colocamos lá troncos robustos e vegetação rasteira natural e construímos uma fonte que garante a circulação de água que necessitam para consumo e banho”, detalha Maioli. O Parque desenvolve um programa voltado à reprodução em cativeiro de espécies do bioma amazônico que es-
tão ameaçadas de extinção. Em 2013, a equipe comemorou o nascimento dos primeiros filhotes de ararajuba e em fevereiro deste ano chegaram mais dois filhotes. Já em 2014, foi a vez da onça pintada dar cria. Pandora e Thor, um casal de onças pintada e preta nasceram no PZV. A dupla divide hoje o recinto com os pais e seu crescimento é acompanhado por quem circula por lá. Já o filhote de gavião-real nascido recentemente tem plumagem branca, que só deve ficar na mesma cor da dos pais quando chegar aos 4 ou 5 anos de idade. Seus primeiros voos devem acontecer entre os 141 ou 148 dias de vida. Uma cena que, com certeza, muita gente vai querer presenciar.
O Laboratório de Ictiologia da Universidade Federal do Pará, em Altamira, aumentou em 250% o número de espécies de peixes pesquisadas na região do Xingu no último ano. Segundo o coordenador, Leandro Melo de Souza, desde a inauguração do laboratório, entregue à universidade pela Norte Energia em junho de 2014, o número de espécies colhidas para estudos passou de 130 para cerca de 460, e o número de exemplares pesquisados saltou de dois mil para aproximadamente 40 mil. Entre os exemplos de espécies catalogadas a partir da instalação do laboratório está o peixe pacu-capivara, classificado até pouco tempo
BETTO SILVA / NORTE ENERGIA
Laboratório amplia estudo sobre peixes na região do Xingu
INOVAÇÃO
EMBRAPA
O pesquisador João de Mendonça Naime assume a chefia-geral da Embrapa Instrumentação, disposto a intensificar a prática de inovação aberta
250%
como uma espécie ameaçada de extinção. “Diferentemente do que se imaginava, os esO AUMENTO DO tudos sobre o pacu-capivara FOI NÚMERO DE ESPÉCIES mostraram que eles não habi- de peixes pesquisadas na área do rio Xingu tam apenas a Volta Grande do no ano passado Xingu, mas que a espécie também é encontrada na parte do alto rio Xingu e, portanto, não corre risco de extinção, como se apontava antes”, explica o coordenador. O laboratório também desenvolve projetos como a implantação, em Altamira, do Centro Integrado de Pesca Artesanal (Cipar) e a reforma e construção das sedes das coBOA NOTÍCIA Espécies como o lônias de pescadores de Altapeixe pacu-capivara, mira, Vitória do Xingu, Anaameaçado de extinção, foi catalogado após pu, Senador José Porfírio, a instalação do Porto de Moz e Gurupá. laboratório
multi-institucional, principalmente, por meio de parcerias com a iniciativa privada já nos projetos de pesquisa. “Esse é um ponto crítico no processo de produção da Embrapa, transformar em ativos tecnológicos, à disposição da sociedade, o que é desenvolvido nos laboratórios e campos experimentais, dentro do menor prazo possível”, diz o doutor em Ciências da Engenharia Ambiental, que vai dirigir a Unidade nos próximos três anos. De acordo com Naime, a gestão ainda pretende ampliar a inserção da Embrapa Instrumentação no cenário internacional, fortalecendo a integração com os Laboratórios Virtuais (Labex) e projetos da Embrapa no exterior, bem como estimular a realização de eventos de Pesquisa, Desenvolvimento & Inovação (P,D&I) em parceria com institutos de ciência e tecnologia e empresas estrangeiras.
FLORESTA
ECONOMIA A cidade paraense de Oriximiná é o primeiro município brasileiro a se beneficiar pelo uso econômico das florestas públicas federais. O Serviço Florestal Brasileiro (SFB) repassou R$ 753 mil à prefeitura como pagamento pela produção de madeira sustentável na Floresta Nacional de Saracá-Taquera, no entorno da cidade. Para ter direito ao repasse, o município precisa cumprir duas exigências. A primeiro é criar um conselho municipal de meio am-
ANDRÉ ABREU
ENTRE ÁGUA E LUZ
biente. Depois, elaborar e aprovar um plano para a aplicação do valor. Para o diretor de
O fotógrafo Matthew Smith usou um domo especialmente construí-
Concessão Florestal e Monitoramento do
do para capturar contraste da luz e do movimento sobre e embaixo
SFB, Marcus Vinicius Alves, o repasse marca
d’água ao mesmo tempo. As composições de Smith, reunidas no
um momento em que a produção das flores-
projeto “Um Universo Paralelo”, capturam o momento do mer-
tas federais gera benefícios diretos para a
gulho e a transição de um elemento para outro. O fotógrafo se
população de áreas sob concessão.
especializou em fotos subaquáticas.
FOTOS: EMBRAPA / DIVULGAÇÃO AGOSTO DE 2015
• REVISTA AMAZÔNIA VIVA •
PRIMEIRO FOCO
COMUNIDADES
A Vale assinou convênio com cinco instituições em Canaã dos Carajás, que tiveram propostas selecionadas pelo Programa Carta Aberta, iniciativa que apoia projetos da sociedade civil para criação de oportunidades de geração de renda na
FAUNA AMAZÔNICA
Boto-vermelho híbrido é encontrado no Amazonas Estudiosos do Instituto Nacional
Reino Unido.
comunidade. Foram selecionados projetos com
de Pesquisas da Amazônia (Inpa/
O Brasil é o país que abriga o maior
foco em melhoramento genético, fortalecimento
MCTI), em parceria com a Universi-
número de espécies de golfinhos flu-
da organização social, implantação de sistema
dade Federal do Amazonas (Ufam),
viais, que são aqueles encontrados nas
agroflorestal e de beneficiamento da produção
revelaram a existência de uma popu-
bacias dos rios Amazonas e Solimões,
de mel. Os selecionados terão até 10 meses para a
lação de botos-vermelhos híbridos
na sub-bacia Boliviana e na bacia do
execução do projeto, a contar da data de assinatura
animais cujo os pais têm composi-
Araguaia. Boto-cor-de-rosa, boto-ver-
do acordo. A iniciativa se soma a outras ações
ção genética diferente) na região do
melho, boto-rosa, boto-malhado, boto-
desenvolvidas pela Vale, a fim de potencializar outra
rio Madeira, que banha os estados
branco, boto-costa-quadrada, cabeça-
vocação do município, a atividade agropecuária.
de Rondônia e Amazonas. A espécie
de-balde ou uiara, por exemplo, são
foi nomeada como Inia boliviensis. A
nomes comuns dados a três espécies
pesquisa foi publicada, recentemen-
de golfinhos fluviais (diferentes dos
te, na conceituada revista “Biological
golfinhos marinhos, que pertencem à
Journal of the Linnean Society”, do
família Delphinidae).
HOSPITAL
CERTIFICADO
O Hospital Regional Público do Leste do Pará, em Paragominas, nordeste paraense, recebeu o Certificado Tecnologia Limpa: Pró-Sustentabilidade da Ecologia Humana e do Planeta. De acordo com o diretor executivo
OBSERVANDO O RIO
do hospital, Adriano de Lima, a certificação evidencia a
Como foi a descoberta do boto-vermelho híbrido
extrema importância em buscar a melhoria contínua dos processos para a promoção da preservação ambiental, como intensas atividades de esterilização.
ENERGIA
TECNOLOGIA
O projeto Sirius prevê a construção de uma nova fonte de luz síncrotron no Brasil até meados de 2018. Com a tecnologia disponível hoje, o equipamento nacional será o mais moderno do mundo em luz síncroton ferramenta usada para estudar qualquer tipo de material no nível atômico e molecular. O pesquisador responsável pelo projeto, Antônio José Roque da Silva, afirma que com a nova fonte de luz síncroton, mais potente, será possível usar técnicas recentes como a tomografia de células, causando impacto relevante nas áreas de
1 A descoberta fez parte de um estudo anterior,
no qual os pesquisadores buscavam entender a distribuição de duas espécies, o Inia boliviensis e o Inia geoffrensis de boto-vermelho na região do rio Madeira.
2 Os pesquisadores perceberam
que as corredeiras do rio Madeira não funcionavam como barreira completa entre as espécies.
3 Para essa constatação,
os pesquisadores analisaram apenas marcadores de DNA mitocondrial, que só permite observar a herança materna. No entanto, dessa forma ainda não foi possível identificar a presença de híbridos.
4 Com os marcadores de DNA nuclear,
que definem a herança paterna, conseguiuse verificar que nas localidades, entre as corredeiras, existiam animais que eram geneticamente diferentes dos que ocorriam a montante das cachoeiras, mas que, no entanto, pertenciam à espécie Inia boliviensis.
5 Os animais foram considerados unidades de
manejo diferenciadas, ou seja, uma população isolada com alelos diferenciados (pequenas porções que compõem os cromossomos e que determinam características) das populações de boto da Bolívia.
6 Os resultados da pesquisa foram publicados na revista científica Biological Journal of the Linnean Society, do Reino Unido.
biotecnologia, nanotecnologia e análise de materiais.
DIAGNÓSTICO
CÂNCER
Membro do Instituto de Microelectrónica de Madrid há seis anos, a cientista brasiliense Priscila Kosaka, de 35 anos, desenvolveu uma técnica para detecção de câncer que dispensa biópsias e que consegue identificar a doença antes mesmo do aparecimento dos sintomas. A previsão é de que ele esteja no mercado em até dez anos e também seja usado no combate a hepatites e mal de Alzheimer. • REVISTA AMAZÔNIA VIVA •
AGOSTO DE 2015
FONTE: BRASIL.GOV.BR
ILUSTRAÇÕES: MÁRCIO EUCLIDES
PROJETOS
TRÊSQUESTÕES CRISTINO MARTINS/ AGÊNCIA PARÁ
EDUCAÇÃO ESPECIAL É TEMA DE LIVRO Pedagoga, Irene Elias Rodrigues fez doutorado em educação pela PUC Rio e hoje, além de professora, é coordenadora do campus da Universidade do Estado do Pará em Tucuruí. Recentemente lançou o seu primeiro livro, “A Inclusão de Pessoas com Necessidades Especiais no Processo Educativo Escolar: resultado da pesquisa de doutorado
Municípios ajudam a medir a sustentabilidade A Fundação Amazônia de Amparo a Estudos e Pesquisas do Pará (Fapespa) lançou o Barômetro da Sustentabilidade dos Municípios Produtores de Energia e com Potencial Hidrelétrico do Estado. A publicação mostra análises do nível de sustentabilidade de dez municípios que produzem energia ou que têm vocação para o setor hidrelétrico no Pará. O estudo objetiva explicar ao cidadão, à comunidade acadêmica, ao gestor público e ao setor privado a sustentabilidade regional e desenvolvimento dos municípios. De acordo com o presidente da Fundação, Eduardo Costa, o Pará abriga um conjunto de investimentos em infraestru-
tura e logística, sendo boa parte deles advindo da construção de barragens e hidrelétricas, que promovem mudanças na dinâmica econômica, demográfica, social e ambiental. “Estas mudanças precisam ser medidas para que o Estado possa programar políticas públicas mais efetivas”, explica Eduardo. A pesquisa apresenta os níveis “insustentável”, “potencialmente insustentável”, “intermediário”, “potencialmente sustentável” e “sustentável” para classificar as cidades. O município de Almeirim foi um dos dez estudados pelo Barômetro, sendo considerado “potencialmente sustentável” em relação ao bem-estar ambiental.
DENTRO DO PADRÃO
A cidade de Almeirim, no Baixo Amazonas, foi uma das analisadas pelo Barômetro da Sustentabilidade dos Municípios Produtores de Energia e com Potencial Hidrelétrico do Estado e foi considerado “potencialmente sustentável” em relação ao bem-estar ambiental
e aborda o tema da educação especial e seus diferentes enfoques.
COMO SURGIU A IDEIA DO LIVRO? A ideia do livro surgiu da necessidade de divulgar o processo de inclusão e a forma diferenciada de como ele pode ser efetivado.
QUAL O OBJETIVO DO LIVRO? O objetivo do livro é mostrar que o processo educativo, dentro de uma perspectiva inclusiva, pode ser realidade em uma escola pública, desde que haja comprometimento, dos educadores, com a qualidade da educação e com o respeito aos direitos de todo cidadão. Educar para a diversidade é educar para a vida e, na vida, todos são diferentes. Discutir sobre educação inclusiva deve ser um processo natural na ação educativa.
COMO VOCÊ VÊ A DISCUSSÃO SOBRE EDUCAÇÃO INCLUSIVA? A inclusão nada mais é do que o exercício da democracia e educação com e pela democracia considera direitos e deveres de todos independentes de suas limitações. Para isso a Escola e a sociedade devem estar reorganizando os seus
ANDRÉ ABREU
MANUAL DA SOJA
espaços para acolher a todos lhes oferecendo oportunidades de crescimento e desenvolvi-
A Embrapa acaba de lançar o Guia Prático para Identificação de
mento. Já ultrapassamos barreiras difíceis,
Fungos mais Frequentes em Sementes de Soja. A publicação apre-
porém ainda estamos distante de vencer a bata-
senta uma das metodologias mais utilizadas na análise de sementes
lha, pois isso depende de um esforço conjunto
do vegetal. Os microorganismos foram classificados em três grupos:
envolvendo todos os setores da sociedade.
patógenos importantes; fungos de armazenamento e contaminantes. AGOSTO DE 2015
• REVISTA AMAZÔNIA VIVA •
ARQUIVO PESSOAL
Uma Experiência Inversa”. Ele é
MEDIDA
Documento incentiva a redução de efeitos dos gases
ESCOLA
INAUGURAÇÃO
A Vale, em parceria com a prefeitura de Canaã dos Carajás, inaugurou uma escola de ensino fundamental, com capacidade para atender cerca de 900 alunos do município. A escola tem 14 salas de aula, laboratório de informática e quadra poliesportiva coberta. A empresa apoiou a prefeitura local com investimento de R$ 4,6 milhões na construção da unidade. O prédio de dois andares é todo adaptado, permitindo a acessibilidade de pessoas portadoras de deficiência. A unidade faz parte de uma série de investimentos sociais em diferentes áreas: saúde, educação, segurança pública, energia elétrica e na atividade rural, que vem sendo realizados pela Vale, por meio do Projeto Ferro Carajás S11D. JEFFERSON ALMEIDA / ASCOM PMCC
O Brasil é hoje um dos dez maiores emissores de gás carbônico do mundo. O CO2 é um dos gases responsáveis pelo fenômeno efeito estufa, conhecido por provocar o aumento da temperatura global. Para alertar e informar sobre as possibilidades para reverter esse quadro, o Observatório do Clima, rede que reúne 37 entidades da sociedade civil com o objetivo de discutir as mudanças climáticas no contexto brasileiro, divulgou um documento que demonstra como o Brasil pode chegar a 2020
limitando suas emissões desses gases e mantendo-as abaixo da média global. A proposta divulgada está sendo chamado de INDC (sigla em inglês para Contribuições Nacionalmente Determinadas Pretendidas) da sociedade civil. As INDCs consistem em metas que todos os países deverão apresentar até 1º de outubro deste ano para um novo acordo a ser assinado na 21ª Conferência do Clima das Nações Unidas, que acontecerá em Paris no mês de dezembro.
SEM GASES Conheça as medidas propostas pelo documento do Observatório do Clima
Zerar a perda de cobertura vegetal nativa
Ampliar a eficiência energética
ABELHAS
NARCÓTICOS
Pesquisadores da Universidade de Colônia, na Alemanha, dizem ter treinado abelhas para que identifiquem odores de heroína e cocaína. Os cientistas descobriram que as abelhas respondiam de forma específica com a vibração de suas antenas a concentrações
Zerar a perda de cobertura florestal Recuperar as áreas degradadas em áreas de preservação permanente e reserva legal
Aumentar as práticas agrícolas de baixo carbono
desses entorpecentes. De acordo com o estudo, as antenas de insetos são os órgãos mais sensíveis já descobertos para a detecção de moléculas voláteis e seriam “mais sensíveis que o melhor dos sensores artificiais”. A pesquisa diz também que a capacidade de percepção dos animais varia de acordo com a espécie. Desta maneira, os cientistas sugerem uma “plataforma de
Reverter a queda e ampliar o uso de fontes de energia renováveis (eólica, biomassa, solar)
Universalizar os sistemas de coleta e tratamento de resíduos e esgoto
detecção de drogas baseadas em insetos” com o uso de diferentes espécies. • REVISTA AMAZÔNIA VIVA •
AGOSTO DE 2015
FONTE: GREENPEACE. ORG.
INFOGRAFIA: MÁRCIO EUCLIDES
PRIMEIRO FOCO
AMAZÔNIACONNECTION
PESQUISA IDENTIFICA NOVAS ESPÉCIES DE MOSCAS NO VER-O-PESO Uma pesquisa de coleta e identificação dos dípteros caliptrados, as populares moscas do Ver-o-Peso, em Belém, levou à descoberta de uma nova espécie no tradicional mercado da cidade. As três campanhas desenvolvidas no local, nos meses de dezembro de 2014, janeiro e abril de 2015, resultaram na captura de 258 moscas de quatro famílias encontradas em materiais orgânicos e lixo da feira. O trabalho de pesquisa proporcionou novas descober-
tas para a ciência, já que foi detectada uma nova espécie do gênero Peckia sp. n. (mosca da família Sarcophagidae). A nova espécie tem, provavelmente, uma distribuição restrita às florestas de várzea do estuário amazônico. Outra surpresa do estudo no Ver-o-Peso foi o registro de uma espécie de mosca até então restrita às regiões Sul e Sudeste do país, a Oxysarcodexia fluminensis (também da família Sarcophagidae). “Este registro constitui-se
numa nova ocorrência para a Amazônia, tendo a distribuição geográfica dessa espécie sido muito ampliada”, aponta Jéssica Soares, autora do estudo. Os orientadores da bolsista do PIBIC/CNPQ/Museu Goeldi, Inocêncio Gorayeb e Fernando Carvalho, do Museu Goeldi, animados com o resultado promissor das novas descobertas, pretendem incentivar investigações semelhantes em feiras de outras regiões da Amazônia.
A parceria é internacional, entre
instituições de pesquisa, do Brasil para o exterior: a Embrapa criou um laboratório rural na China com sede na Chinese Academy of Agriculture Science (CA AS). A parceria é par te do Laboratório Vir tual da Embrapa no Exterior (Embrapa-Labex), que existe desde 1990, e desenvolve pesquisas prioritárias para o Brasil em centros de ensino e pesquisa estrangeiros. Criado em 2012, o Labex China tem como foco inicial a pesquisa de HELY PAMPLONA
258
ESTUDO GENÉTICO DA FLORA TEM APOIO DA CHINA
recursos genéticos vegetais, apoiando programas de melhoramento de genes em ambas as instituições. Fundada em 1957, a CAAS é a maior
MOSCAS DE QUATRO FAMÍLIAS ENCONTRADAS EM MATERIAIS
orgânicos e lixo da feira foram estudadas pela pesquisadora Jéssica Soares
instituição agropecuária da China. Para solidificar o Embrapa-Labex, seus pesquisadores brasileiros ficam sediados no país asiático e em outros cinco países: Estados Unidos, França, Reino Unido, Argentina, Alemanha, Japão e Coreia do Sul. Com sede em Pequim, o Labex China ainda compreende entendimento com a Chinese Academy of Science e a Chinese Academy of Tropical Agriculture Science. Com o Labex, a Embrapa se espalha pelo mundo em busca de cooperação internacional,
MIGRAÇÃO Moscas encontradas em áreas de floresta e regiões Sul e Sudeste do país foram identificadas no Ver-o-Peso
interação com organizações e grupos de excelência e monitoramento
ANDRÉ ABREU
DOBRANDO O CÉREBRO
de tendências e avanços científicos. Ainda há o caminho inverso: pesqui-
Cientistas brasileiros investigaram as “dobras” da superfície do cérebro
sadores estrangeiros desenvolvendo
dos mamíferos, o córtex cerebral, e concluíram que elas são determi-
atividades no Brasil. Espaços inter-
nadas pela mesma fórmula matemática observada nas bolas de papel
nacionais, laboratórios de sotaque
amassado. O grau de “dobradura” do córtex aumenta de acordo com sua
brasileiro, ao redor do mundo.
área total, da mesma forma quando amassamos uma folha de papel. AGOSTO DE 2015
• REVISTA AMAZÔNIA VIVA •
OSWALDO FORTE
PRIMEIRO FOCO
PRODUÇÃO
ÁGUAS
O Portfólio de Boas Práticas Agropecuárias é uma iniciativa do Programa Água Brasil que apresenta ações de conservação e produção sustentável desenvolvidas em sete bacias hidrográficas ao redor do País. O porftólio está dividido em dois volumes e foi elaborado visando a disseminação de quatro temas principais do Água Brasil: Boas Práticas Agropecuárias, Restauração Ecológica, Certificações e Instrumentos Econômicos e Financeiros. O objetivo do portfólio é que todas as ações desenvolvidas nas regiões beneficiadas pelo projeto sejam disseminadas e replicadas em outras regiões do País.
DRONES
AGROPECUÁRIA
Técnicas inovadoras baseadas em satélites, drones e lasers aerotransportados são as mais recentes ferramentas utilizadas pela ciência para monitorar a implantação de sistemas de integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF). De acordo com o pesquisador da Embrapa Monitoramento por Satélite (SP) Édson Bolfe, “a tendência é que novos sensores ofereçam
INDÍGENAS PARTICIPAM DE PRIMEIROS JOGOS EM NÍVEL INTERNACIONAL
Representantes de 24 etnias brasileiras e de outros 22 países participarão dos Primeiros Jogos Mundiais dos Povos Indígenas, que serão realizados no Brasil entre os dias 23 de outubro a 1º de novembro, em Palmas, Estado do Tocantins. Entre as modalidades a serem disputadas
destacam-se: o tiro com arco e flecha e o Xikunahity, futebol de cabeça, além de alguns jogos considerados ocidentais, como o atletismo e a natação. Outras modalidades são: arremesso de lança, cabo de força, corrida de velocidade rústica (100 metros) canoagem rústica, entre outras.
um maior número de bandas espectrais importantes para a agricultura, com custos cada vez menores”.
EMPRESÁRIOS DO PARÁ
VISITA AO PROJETO S11D
Empresários integrantes da Federação das Associações Comerciais e Empresariais do
CÉREBRO
Estado do Pará (Faciapa), Associação Comercial do Pará (ACP), Sindicato das Indústrias
PESQUISAS
Minerais do Estado (Simineral) e das Associações Comerciais e Industriais de Canaã dos
Três macacos conseguiram controlar
Carajás (ACIACCA) e de Marabá (ACIM) visitaram as obras de construção do Projeto
simultaneamente um braço virtual, através
Ferro Carajás S11D. A visita reforça o relacionamento e a premissa de desenvolvimento
de ondas cerebrais, em uma pesquisa
dos fornecedores da região. Maior projeto de ferro da história da Vale, o S11D irá
liderada pelo neurocientista brasileiro
complementar a produção do Complexo de Carajás e demais unidades, agregando maior
Miguel Nicolelis, responsável pelo
produtividade, melhor qualidade e menor custo à produção de minério de ferro.
exoesqueleto usado por um paraplégico na abertura da Copa do Mundo de 2014. A façanha do trabalho dos macacos abre portas para que, no futuro, seja possível a realização de tarefas coletivas apenas com o pensamento, desafiando a premissa de que as nossas mentes sempre estarão isoladas umas das outras. O estudo, conhecido como interfaces cérebromáquina, foi iniciado pelo Centro de Neuroengenharia da Universidade Duke, nos Estados Unidos, no início dos anos 2000. 4 • REVISTA AMAZÔNIA VIVA •
AGOSTO DE 2015
DIVULGAÇÃO / VALE
e possibilitem a extração de informações
DIVULGAÇÃO / FAP
PERGUNTA-SE
URINAR NO PRÓPRIO PÉ CURA A FRIEIRA? A cantora Madonna já havia dito que é adepta desse costume nada convencional, mas a dermatologista Amanda Parijós deixa claro que esta é uma lenda amplamente difundida e que não tem qualquer comprovação científica, além de poder piorar, apesar do debate intenso a respeito das propriedades terapêuticas da urina. O pé de atleta ou frieira é uma micose causada por fungos, organismos que adoram umidade. O fungo Tricophyton pode atacar a pele de várias partes do corpo provocando
DESIGNER DO PARÁ CRIA ROUPAS INSPIRADAS NO MANGAL DAS GARÇAS al é um apanhado geral do Mangal, onde eu destaco a Reserva José Márcio Ayres, com suas borboletas e a tela protetora que remete ao teto do borboletário”, explica Karolline. Já a primeira peça comercial representa o Lago Cavername e o Lago da Ponta, uma metáfora da convivência das aves, com destaque para uma das principais espécies do parque. O próximo passo é construir o restante das peças e apresentar a coleção completa no Amazônia Fashion Week, evento de moda que ocorre em novembro na capital paraense.
QUASE IGUAL A JÚPITER Brasileiros lideram a descoberta de um novo planeta com massa semelhante à de Júpiter e que orbita uma estrela com características ANDRÉ ABREU
similares à do Sol. Segundo o Observatório Europeu Sul, o exoplaneta orbita a estrela HIP 11915 e sua posição abre a possibilidade de que a
e com descamação que coçam. Se aparecem no couro cabeludo, podem provocar queda de cabelo e manchas que descamam. Amanda observa que o tratamento adequado é o uso de pomadas antifúngicas e, em alguns casos, podem ser necessários medicamentos via oral, inclusive com manutenção. Cada paciente pode ter um tratamento mais específico, caso seja diabético, use calçados fechados por muito tempo ou trabalhe em ambientes úmidos.
VALENTINA DEGIORGIS / SXC
“Vestir o Mangal” é a proposta da coleção criada pela designer de moda Karolline Saldanha. As cores, formas e texturas que compõem o parque zoobotânico em sua biodiversidade e paisagem foram a inspiração do trabalho “Mangal das Garças: uma visita turística através da roupa”, produzido para conclusão do curso de Tecnologia em Design de Moda da Faculdade Estácio de Sá – FAP. As peças confeccionadas remetem a biodiversidade presente no parque, sendo duas delas comerciais e uma conceitual. “A peça conceitu-
manchas vermelhas e arredondadas
MANDE A SUA PERGUNTA
Envie perguntas instigantes sobre hábitos, costumes e fenômenos da região amazônica para o e-mail: amazoniaviva@orm.com.br
região em torno desse astro seja parecida com o Sistema Solar. AGOSTO DE 2015
• REVISTA AMAZÔNIA VIVA •
QUEM É?
D
eterminação é o lema que a pesquisadora Ana Maria Giulietti-Harley, do Instituto Tecnológico Vale (ITV), em Belém, segue desde a infância no município de Pesqueira, Pernambuco, onde nasceu. Ela já sabia de sua vocação: estudar a natureza. Foi com dedicação ímpar que a bióloga graduou-se em História Natural pela Faculdade Frassineti do Recife, capital pernambucana. Decidiu se aprofundar na Taxonomia Vegetal, a ciência da classificação de plantas, com foco direcionado ao estudo taxonômico das fanerógamas, que são plantas produtoras de frutos e possuem aparelho reprodutor visível nas flores. “Eu gostava de todas as plantas, mas tive que me focar em alguns grupos para ter produção científica internacional. O foco era a família das Eriocaulaceae, cujos grandes representantes são as sempre-vivas, que são chamadas assim porque suas flores continuam com aspecto de vivas por muito tempo”, diz Ana Maria. A pesquisadora realizou estudos e projetos e ensinou por onde passou. Na Universidade de São Paulo, durante o mestrado, estudou a vegetação do cerrado do Distrito Federal. Ainda na USP, durante o doutorado, e por muitos anos depois, estudou a flora dos campos rupestres de Minas Gerais e Bahia, começando pela Serra do Cipó. Conhecendo e classificando novas plantas, a taxonomista formou sua carreira, transmitiu seus conhecimentos e participou de vários projetos durante mais 20 anos na USP, com pós-doutorado no Royal Botanic Garden de Kew, da Inglaterra, e visita a vários herbários do Brasil e exterior. Após sua carreira na USP foi para a Bahia, onde fundou um grupo na Universidade Estadual de Feira de Santana. Lá coordenou as redes do 6 • REVISTA AMAZÔNIA VIVA •
AGOSTO DE 2015
ANA MARIA GIULIETTI-HARLEY
PESQUISADORA DO ITV ESTUDA PLANTAS DA FLORA BRASILEIRA TEXTO ARNON MIRANDA FOTO ROBERTA BRANDÃO
Instituto do Milênio do Semiárido, que partia da coleta da planta e seguia pela identificação, fitoquímica, farmacologia e conservação dos recursos e buscava a obtenção de medicamentos para as doenças do povo do semiárido. Atuou também no programa Protax (Programa de Taxonomia) que preparou novos taxonomistas para a classificação da flora do semiárido. Cem alunos já foram orientados por ela, que é membro titular da Academia Brasileira de Ciências desde 2005. Por sua contribuição à ciência, Ana Maria foi homenageada em junho deste ano pela Rodriguésia, a Revista do Jardim Botânico do Rio de Janeiro, com uma edição especial sobre os seus 50 anos de profissão. Em seu trabalho, ela sempre quis que o Brasil tivesse o conhecimento mais completo possível das inúmeras espécies de plantas do país, para poder provar que o conhecimento sobre as espécies existentes em cada bioma é eficaz para desenvolver a sustentabilidade. Em 2014, quando foi chamada
para desenvolver pesquisas no ITV, no Pará, Ana Maria Giulietti-Harley aceitou o novo desafio de apontar o uso sustentável das áreas de mineração da Vale em Carajás, com planos de conservação e recuperação de forma mais eficiente. “Em um ano aqui na Vale eu pude colocar o meu conhecimento botânico de uma maneira prática, auxiliando a instituição no atingimento de suas metas de sustentabilidade, com o melhor conhecimento da flora nativa. Atuo especialmente focalizando as espécies de plantas endêmicas de canga, as espécies com potencial de utilização pela população humana e dos animais da região permitindo a manutenção dos serviços ecossistêmicos, e as espécies que possibilitem a recuperação das áreas utilizadas pela mineração. O maior desafio é conseguir resultados no menor tempo possível”, ressalta, ao afirmar que é necessário mais taxonomistas na Amazônia para determinar as espécies ainda desconhecidas possibilitando a sua conservação e o uso sustentável.
NOME
Ana Maria Giulietti-Harley
IDADE 69 anos
FORMAÇÃO
Doutora em Taxonomia Vegetal
TEMPO DE PROFISSÃO 50 anos
APPLICATIVOS
ARQUIVO PESSOAL
EU DISSE
BOAS IDEIAS NUM TOQUE DE DEDOS
“Cabe ao agente mostrar ao ribeirinho que é um benefício que fará muita diferença na vida de seus filhos”. Rhamilly Amud, coordenadora do Projeto Primeira Infância Ribeirinha,
CARTA CELESTE
do Amazonas, que permite o acesso aos serviços de saúde às comunidades remotas no Estado.
Indispensável ferramenta para qualquer pes-
(Revista Época)
soa interessada em astronomia e observação de estrelas. Usando as funções de câmera,
“É um desafio unir a ciência moderna e os nossos conhecimentos, mas precisamos quebrar as barreiras”
GPS, bússola, giroscópio e acelerômetro dos dispositivos, o app consegue rastrear a posição e verificar quais as constelações, estrelas, planetas e possíveis eventos ocorrendo no céu. Também há mapas exploráveis para mostrar satélites, meteoros e cometas.
Marta Marubo Comapa, indígena amazonense da etnia Marubo, participante da segunda edição da
Plataformas: Android e Windows Phone
Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência Indígena (SBPC Indígena).
Preço: Gratuito
(Portal INPA)
“Queremos expandir mais o serviço, conseguir mais espaço. Melhorar, tanto em qualidade quanto em quantidade, as nossas atividades no museu”.
É uma ferramenta para quem quer emagrecer
Antônio Maia, professor de pós-graduação em Engenharia Química e criador do Museu de Ciências,
diário de alimentação e exercícios, sistema de
Tecnologia e Inovação da Universidade Federal do Pará (UFPA).
pontuação de alimentos ingeridos e atualiza-
(Portal UFPA)
ção de pesagem. Diferente de muitos aplica-
DIETA E SAÚDE - EMAGRECER de forma sadia. Funciona em quatro etapas: avaliação e índice de massa corporal (IMC),
tivos, não é apenas um contador de calorias, DIVULGAÇÃO
e também orienta à procura de acompanhamento profissional de um nutricionista. Plataformas: Android, iOS e Windows Phone Preço: Gratuito
CURSO DE MAQUIAGEM
“Não há questão maior. Está na hora de nos comprometermos a achar a resposta, a procurar vida fora da Terra. Estamos vivos. Somos inteligentes. Precisamos saber”. Stephen Hawking, físico britânico, ao anunciar o lançamento de um programa de 100 milhões de dólares que deverá buscar uma civilização fora da Terra na próxima década. (Site Galileu)
O app tem 22 etapas de uma maquiagem completa para realçar a beleza feminina, esconder imperfeições e para diferentes ocasiões, como festas, trabalhos, passeios ao ar livre. Há vários idiomas, incluindo português, e todas as lições têm fotos e passo a passo. O aplicativo parece muito com um e-book e pesa menos de 2 MB na memória do telefone. Plataforma: Android Preço: Gratuito FONTES: PLAY STORE E ITUNES AGOSTO DE 2015
• REVISTA AMAZÔNIA VIVA • 7
COMO FUNCIONA
A pesca de curral TEXTO E ILUSTRAÇÃO SÁVIO OLIVEIRA
Quem pratica sabe como é bom pes-
possui elementos de origem indí-
arenoso ou pedregoso, além de
sos de que dispõem.
car à beira mar em noite de luar.
gena, corresponde a cerca de 10%
muitos cipós e braços fortes para
Os pescadores estimam que, em
Porém, além da mítica imagem
da pesca no Pará.
ser montado e mantido.
média, é necessário um mês para
da pescaria de rede e malhadeira
É um estilo que precisa de condi-
A instalação se desenvolve em vá-
preparar o curral. É muito comum
existe a ancestral pesca de curral
ções geográficas favoráveis para
rias etapas, ritmadas pelo ciclo das
que eles o instalem de maneira par-
à beira e ao fundo de nossas águas
se desenvolver, como amplitude
marés. O tempo de construção varia
cial, porém suficiente para que co-
e rios costeiros. A atividade, que
de marés, terrenos planos e solo
em função das pessoas e dos recur-
mece a pescaria.
VAQUEIROS DO MAR
4
Conheça a atividade pesqueira
A espia é a barreira principal da ar-
1
madilha, que faz o direcionamen-
Para entender a “ciência do curral”,
seguem pelas asas, que medem cer-
como dizem os pescadores, é preciso
ca de 50 a 80m, até o depósito, onde
primeiro entender a ciência das ma-
ficam retidos.
to de peixes para a sala do curral. Como são bem-vindos, os hóspedes
rés. Por isso muitas vezes é necessário a presença de um marcador, um pescador perito capaz de decifrar a
5
O curral é despescado duas ve-
direção das correntes e estabelecer
zes por dia, durante a baixa-mar.
um caminho que faça o “peixe mor-
Neste caso, escolhem a maré da
der a isca”, ou melhor, seguir a isca.
noite para retornar ao porto pela
2
manhã, quando é mais fácil vender o pescado. A despesca difere entre os pequenos currais, dentro
Com as marcações do especialista
do rio, e os grandes, na costa. Nos
traçadas, o curral, dependendo da
primeiros, os homens chegam a
forma como é feito pode ser cha-
bordo de uma canoa, que eles en-
mado de “enfia”, “cachimbo”, “cora-
costam do lado de fora do depó-
ção”, ou “enfia-coração”. De acordo
sito. Como a entrada é reduzida,
com a localização, pode ser de bei-
penetra-se por uma janela lateral,
ra, localizado à margem do rio, ou
feita da mesma esteira. O pesca-
de fora, montado em maiores dis-
dor entra no depósito para pegar
tâncias da costa da praia.
3
os peixes.
A preparação inicia-se no campo,
Um curral precisa de cuidados
quando a madeira é escolhida, cor-
constantes. Tem que inspecionar
tada e aparelhada. A marcação in-
amarras, examinar o rodapé do
dígena está fincada nos nomes do
depósito, atulhar possíveis bura-
acessórios para a confecção. Pari
cos. Durante uma safra é preciso
são as esteiras de tala ou vara tran-
substituir parte dos moirões, co-
çadas com cipó ou material sintéti-
locar outros como reforço e trocar
co, feitas para serem as paredes do
panos de paris. Passada a safra
curral. Puçá é a rede cônica usada
eles são desfeitos, para serem re-
para capturar os peixes despesca.
construídos na próxima estação.
8 • REVISTA AMAZÔNIA VIVA •
AGOSTO DE 2015
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FONTE: PESCADORES CURRALISTAS NO LITORAL DO ESTADO DO PARÁ: EVOLUÇÃO E CONTINUIDADE DE UMA PESCA TRADICIONAL. MARIA CRISTINA MANESCHY E A PESCA DE CURRAL NO MUNICÍPIO DE SÃO CAETANO DE ODIVELAS-PA. CAROLINA DE NAZARÉ ALEIXO FIDELLIS
FATO REGISTRADO
REPRODUÇÃO / O LIBERAL/ HELY PAMPLONA
ACERVO MUSEU GOELDI
DEU N’O LIBERAL
ANTEPASSADOS AMAZÔNIDAS
Rocinha, a marca do Museu Goeldi Ela é um dos últimos exemplares no país. Por isso, a rocinha do parque do Museu Paraense Emílio Goeldi, em Belém é ícone da instituição. O termo rocinha, hoje, fica um pouco descontextualizado quando olhamos sua feição e adentramos seus corredores. Mas tem origem no século XIX: eram vivendas rurais que se espalhavam pelos arredores de Belém, um tipo de casas para temporadas de descanso. Símbolos de uma fase da vida da cidade, quando chegaram a cerca de 300 unidades, hoje a rocinha é o símbolo do MPEG, inclusive compondo a logomarca da instituição.
O prédio da foto acima foi construído em 1879, como residência de Bento José da Silva Santos, cujas iniciais (BJSS) ainda podem ser lidas ao alto da porta central da casa. Já em 1895, o prédio foi adquirido pelo governo do Pará para se tornar instalação do então Museu Paraense de História Natural, que ainda não possuía uma sede desde sua criação, ainda em 1866. À época, no prédio, sob direção do suíço Emílio Goeldi (1859-1917), foram instaladas exposições, gabinetes e uma biblioteca. A foto, ainda em preto e branco, data de 1901. A foto compõe o acervo da
biblioteca do Museu Goeldi. Pode-se observar as peculiaridades dos janelões frontais, assim como os vitrais superiores, perdidos nas demais restaurações. A imagem lembra ainda uma construção símbolo de uma arquitetura adaptada ao clima local com suas varandas e pés-direitos elevados, além de materializar o casamento entre homem e natureza, como símbolo de bem-estar e qualidade de vida. Hoje a rocinha se intitula Domingos Soares Ferreira Penna (18181888), mineiro que empreendeu esforços para a criação do museu.
Tribos de homens primitivos viveram na Amazônia na Serra de Carajás, local onde hoje está em atividade a maior mina de minério de ferro do mundo, administrada pela Vale. A edição de 26 de março de 1997 de O Liberal informou a descoberta de inúmeros objetos feitos de cerâmica, pedra e cristal de rocha. A revelação demonstrava que o povo que habitou Carajás era hábil na indústria lítica - a produção de ferramentas produzidos a partir da pedra. Até então, os pesquisadores supunham que os povos que haviam habitado a região a aproximadamente 8 mil anos atrás não conheciam o trabalho em pedra e cerâmica. A equipe que trabalhou em Carajás, foi chefiada pelo arqueólogo do Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG) Marcos Magalhães, que escavou três grutas (Guarita, Mapinguari e do Rato) para colher e encontrar grandes quantidades de artefatos e informações. Em 130 anos de história, o Museu somente havia descoberto apenas três valiosas pontas de pedra. Após essa descoberta, a formação do homem amazônico também passou a ser considerada muito mais antiga do que os arqueólogos acreditavam.
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• REVISTA AMAZÔNIA VIVA •
CURIOSIDADES DA BIODIVERSIDADE INOCÊNCIO GORAYEB
Tamba-tajá: música, lenda e amuleto PLANTA LENDÁRIA
O tamba-tajá visto de outro ângulo: folhas sobrepostas representam a força do amor, segundo a tradição indígenas
As plantas da família Araceae, conhecidas como tajás na Amazônia, da espécie Xantosoma appendiculatum, são consideradas amuletos do amor, sorte, paz e harmonia e que já inspiraram canções, filmes, livros e contos diversos, como a lenda do Tamba-tajá. O vegetal tem duas folhas, sendo uma menor, que cresce com o formato de vagina, sobre a nervura central da folha maior. A planta é usada em feitiços, amuletos e poções
mágicas do imaginário popular ou cultura indígena para unir casais. Na lenda, o casal de índios macuxi Uiná e Acami, de tribos rivais, fugiram para viverem o amor proibido. Mas nas matas, Acami adoeceu
durante a gravidez e não conseguia mais andar. Uiná fez a ela uma maca e a carregava nas costas. Um dia desapareceram por completo. E perto de onde encontraram as armas de Uiná, possivelmente no local onde teria se enterrado junto com Acami, cresciam
plantas que tinham duas folhas, sendo uma em cima da outra, exatamente como o índio carregava a amada. A música Tamba-tajá, do maestro Waldemar Henrique, sobre a lenda, já faz parte da cultura amazônica e foi interpretada por vários artistas nacionais. “Assim, o índio carregou sua macuxi para o roçado, para a guerra, para a morte. Assim carregue o nosso amor à boa sorte... Tamba-tajá...”.
ELES SE ACHAM INOCÊNCIO GORAYEB
OVO QUE PARECE FRUTINHA Os louva-a-deus são
teca de louva-a-deus do
larvas, quando nascerem,
parentes próximos das ba-
gênero Metriomantis sp. A
se alimentem dos ovos do
ratas e prova disso é que
espécie deposita a ooteca
louva-a-deus. Entretanto,
depositam seus ovos den-
em folhas, ficando prote-
a ooteca do inseto é como
tro de uma ooteca, onde
gida por se parecer com
um balão e os ovoposito-
eles se desenvolvem até
frutos de arbustos.
res das vespinhas parasi-
a eclosão dos imaturos.
A ooteca abriga de
tas não alcançam os ovos
Essas estrututras variam
100 a 130 ovos e é muito
em seu interior. Mecanis-
entre as espécies, inclusi-
procurada por vespinhas
mos simples e eficiente de
ve algumas delas têm for-
parasitas que perfuram
proteger os ovos.
ma e características que
a estrutura com seus lon-
Esta ooteca da foto foi
podem ser utilizadas para
gos ferrões (ovopositores)
coletada em uma mata da
identificação.
para botarem seus ovos
margem de uma campina
dentro delas, para que as
em Cametá, Pará.
Na foto vemos uma oo• REVISTA AMAZÔNIA VIVA •
AGOSTO DE 2015
CASULO
Ooteca disfarçada de fruta no galho de uma árvore
DESENHOS NATURALISTAS ACERVO DE OBRAS RARAS DO MUSEU GOELDI
CONCEITOSAMAZÔNICOS
SENTINDO-SE MUNDIADO É como que um verbo entalhado a formão, que nem casco de barco no estaleiro, sob leves marteladas arrancando lascas em sílabas. Ele é feito como que sob medida para as histórias fantásticas da Amazônia. Não se pode, simplesmente, falar sobre a Iara na cachoeira sem se usar o tal verbo. É que simplesmente não se pode descrever a barriga do Mapinguari e não dizer como
PURA ARTE
o caboclo ficou utilizando exatamente esse
Aquarelas Manuel de Oliveira Pastana expressam a identidade do homem amazônico
termo. É uma palavra por excelência nascida das encantarias da Amazônia. Ninguém escuta uma história de avó sem, no final, se sentir mundiado. Mundo mundo, vasto mundo. É um temo bem popular, muito usado na região, do Salgado ao Marajó, do estuário ao Purus. Refere-se àquele que está encantado, enfeitiçado, entorpecido, perdido. Mundo
As pastanas
Pará (XII Salão, 1993; XVI Salão, 1997). A vida profissional de Pastana começou em Belém como estivador, depois gradativamente migrando para a pintura de placas. Tornou-se, então, professor, tendo oportunidade de estudar com mestres como Theodoro Braga e Francisco Estrada. Seu talento levou-o ao desenho de máquinas na Marinha e, então, à pintura de retratos e paisagens. Pastana vai para a Casa da Moeda, no Rio de Janeiro. No período, cerca de cinco anos, desenhara moedas, notas, selos,
anda em círculos, de um lado pra outro, sem rumo, sem norte. Sente o mundo fora de si.
apólices e outros trabalhos para a instituição. É mais ou menos nesse período que chega às série de desenhos da cerâmica indígena arqueológica, além da produção de arte decorativa, usando como referência a biodiversidade amazônica, seguindo seu mestre Theodoro Braga na utilização da iconografia da região. É que os cacos da aquarela na imagem eram o próprio Pastana. Da arte decorativa às imagens da Casa da Moeda, chegando ao trabalho de cunho científico: aquarela que une o artista.
Ou, na verdade, se sente em todo o mundo. Ou como que em todo o mundo, menos ali. Se eu me chamasse Raimundo... Mudo, mudo. É por isso que estar mundiado é como uma extensão da lenda amazônica. Sempre depois de um confronto com uma entidade fantástica ou com um espírito da floresta, sempre que a narrativa foge daquilo que se espera no mundo natural, sempre que o surreal surpreende o personagem e o ouvinte, é hora de mundiar. Parece cosmopolita, mas é local. Refere-se ao mundo ao redor, mas é um estado psicológico, interior. Quem explica?
SÁVIO OLIVEIRA
A beleza está em unir, por meio da arte, os cacos de uma peça arqueológica de índios amazônicos. De autoria de Manuel de Oliveira Pastana (1888-1984), a arte uniu o pesquisador e a arqueologia na aquarela acima. Nascido na vila de Apeú, município de Castanhal, nordeste paraense, Pastana nos deixou esta e outras imagens, que hoje compõem o acervo de obras raras do Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG). Seu legado artístico lhe rendeu duas homenagens no Arte
mundo... É que a pessoa, quando mundiada,
AGOSTO DE 2015
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ARTIGO
Vale: 30 anos no Pará e a vanguarda no setor mineral Neste ano, a Vale completa 30 anos de operações no Pará e no Maranhão. A nossa
PAULO HORTA Diretor de Operações Ferrosos Norte
atuação nesses dois estados contempla um sistema integrado, que denominamos Sistema Norte, e que envolve as minas do Complexo Minerador de Carajás, no Pará, e a Estrada de Ferro Carajás (EFC). Mas, antes de inaugurarmos as operações das minas e da ferrovia em 1985, alguns anos antes, em 1967, teve início a história de Carajás, quando na manhã de 31 de julho o geólogo Breno dos Santos, em um sobrevoo de prospecção pelo local, descobre a primeira jazida de minério de ferro da região. A descoberta resultaria, 18 anos mais tarde, na operação do Projeto Ferro Carajás, que colocaria o Pará na vanguarda do setor mineral mundial. Ao longo dessas três décadas, somamos muitas conquistas, agregamos um importante aprendizado e vislumbramos inúmeros desafios, alguns dos quais ainda por vir. Hoje, operamos o maior complexo minerador do Brasil, com cinco minas de ferro a céu aberto na Serra Norte, em Carajás (Parauapebas) e uma mina em Serra Leste (Curionópolis). Devido a essas operações, o Complexo Minerador de Carajás é considerado, na atualidade, o maior produtor mundial de minério de alto teor de ferro e baixa concentração de impurezas. Além das minas de ferro, as nossas operações no Pará incluem também minas de cobre (Sossego, em Canaã dos Carajás e Salobo, em Marabá), de manganês (Azul, em Parauapebas) e de níquel (Onça Puma, em Ourilândia do Norte).
• REVISTA AMAZÔNIA VIVA •
AGOSTO DE 2015
O Complexo Minerador de Carajás é referência também no que diz respeito à gestão ambiental. Em nossas operações, reutilizamos mais de 70% de toda a água captada para o processo de beneficiamento do minério de ferro. Para se ter ideia, com a implantação de uma nova tecnologia de processamento à base de umidade natural, ou seja, sem uso de água, conseguimos eliminar a utilização deste recurso em 10 das 17 linhas de beneficiamento, reduzindo o uso da água na planta industrial em cerca de 10 milhões de metros cúbicos por ano. Os sistemas de tratamento de efluentes oleosos também possuem tecnologia de reuso e recirculação, possibilitando a lavagem dos caminhões fora de estrada com o próprio efluente tratado nas oficinas de manutenção. As nossas conquistas são resultado de muito aprendizado, investimentos e tecnologias. Buscamos construir uma cultura organizacional que valorize a diversidade, que seja justa e inclusiva e que ofereça oportunidades de crescimento profissional, priorize a saúde e a segurança dos nossos empregados, que somam hoje mais de 40 mil pessoas entre próprios e terceiros, somente no Pará. Também procuramos estabelecer sempre uma relação forte e aberta com governos, empresas, fornecedores e as comunidades das áreas em que atuamos. E, nesse sentido, contamos com o apoio e a atuação da Fundação Vale, que busca fomentar alianças intersetoriais estratégicas, com base no conceito de Parceria Social Público Privada (PSPP). Essas parcerias pressupõem a união de esforços,
“As nossas conquistas são resultado de muito aprendizado, investimentos e tecnologias. Buscamos construir uma cultura organizacional que valorize a diversidade, que seja justa e inclusiva”
recursos e conhecimento de todos esses atores em torno de uma agenda comum e da execução de obras de infraestrutura, por exemplo, que são resultados de convênios com as prefeituras e Governo Estadual. Nossas parcerias permitem ainda promover melhorias nas áreas de saúde, saneamento, educação e cultura em todas as cidades onde estamos presentes. Como parte dessas importantes parcerias, nesses 30 anos também contribuímos com a formação, qualificação e especialização de mão de obra local. Somente em programas, ações e cursos de qualificação profissional, já foram investidos mais de R$ 25 milhões ao longo desses anos pela Vale. O Programa Preparação para o Mercado de Trabalho (PPMT), por exemplo, é uma dessas iniciativas. Por meio do PPMT oferecemos cursos de capacitação profissional gratuitos à comunidade, cujos conteúdos são desenvolvidos em parceria com o Sistema S: Senac, Senai e Sine. Em uma importante parceria com a Universidade Federal do Pará (UFPA), também implantamos os cursos de graduação em Engenharia de Minas e de Materiais da região Norte e o curso de Geologia no núcleo da universidade em Marabá. Assim como crescemos e evoluímos em produção mineral, nos orgulhamos por contribuirmos também para o aumento da balança comercial do Pará e do Brasil. Os municípios onde operamos apresentaram crescimento e se desenvolveram impulsionados pela mineração, que atrai outros novos empreendimentos para as cidades e municípios. De acordo com o Instituto Brasileiro de Mineração (IBRAM), a balança mineral do Pará registrou, em 2014, um saldo de mais de US$ 9 bilhões. As exportações de bens minerais representaram 70,6% do total exportado pelo Estado, somente no ano passado. O Pará contribui com cerca de 37% para o saldo Brasil do Setor Mineral e ocupa o 2º lugar em arrecadação da CFEM (Compensação Financeira pela Exploração de Recursos Minerais), atrás apenas de Minas Gerais. Além dis-
SALVIANO MACHADO
ECONOMIA Em 2014, a balança mineral do Pará teve saldo de mais de US$ 9 bilhões graças à produção do Complexo Minerador de Carajás
so, os principais municípios onde desenvolvemos nossas operações estão entre os três maiores arrecadadores da CFEM: Parauapebas, Canaã dos Carajás e Marabá. Pelo Índice Firjan de Desenvolvimento Municipal (IFDM), que seria o equivalente ao IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) da ONU, os municípios mineradores também ocupam as dez primeiras colocações. Atualmente, um novo capítulo da história da Vale vem sendo escrito no Pará, com a implantação do Projeto Ferro Carajás S11D, na Serra Sul, em Canaã dos Carajás. O empreendimento prevê investimentos de quase US$ 20 bilhões e operação prevista para o segundo semestre de 2016. O S11D resulta de muita pesquisa e investimento em tecnologia realizados ao longo dos últimos anos e tem características que o diferenciam de qualquer empreendimento já desenvolvido pela Vale. Em relação ao processo de lavra, os tradicionais caminhões fora de estrada, comuns na mineração, se-
rão substituídos por uma estrutura composta por escavadeiras e britadores móveis, conhecida como truckless. Isso vai permitir que o minério seja transportado por um sistema de correias entre o local da extração e a usina de processamento do minério. Na fase de operação, quando comparadas às minas que empregam os métodos convencionais, o S11D poderá gerar uma redução de até 93% de água consumida e 77% de combustível, colaborando para a redução de 50% na geração dos gases de efeito estufa. Nossa contribuição também se aplica ao desenvolvimento da região, onde firmamos nossos convênios e parceria em prol do seu desenvolvimento. E, num futuro que já começa a se desenhar no horizonte, continuaremos empenhados para traduzir as conquistas que ainda estão por vir em desenvolvimento e benefícios para as comunidades com as quais, ao longo desses 30 anos, construímos uma relação de respeito e parceria. AGOSTO DE 2015
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OLHARES NATIVOS
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O encanto do bicho e da planta Os mistérios da natureza estão no que o homem ainda não descobriu sobre a criação. Mas não só: a beleza hipnotizante do que viceja na terra é ainda mais intrigante. A planta e o bicho, aparentemente criaturas diferentes, com sistemas vitais diferentes, relações diferentes no espaço e diferentes nas suas infinitas belezas de vegetal e animal, encantam quase unidas numa cor apenas, numa miríade de tons verdes e detalhes alheios a um primeiro olhar, a quem está desatento aos movimentos, cheiros e sussurros da floresta. É preciso muito treino, muito tino, muito andar no mato para reconhecer tamanho espetáculo, que não requer iluminação especial nem grandes produções: é apenas o rastejar da cobra-bicuda (Oxybelis fulgidus) posada na folhagem em verde vivo do alimento-luz. FOTO: HELY PAMPLONA
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Em sinal de prontidão Dizem que se chama louva-deus (Cardioptera sp.) por causa das patinhas, mas o pequeno bicho verde, de enormes olhos e altivas patas, é punha-mesa para infância de quem brinca na Amazônia. Para a criança, a posição nunca será de ataque, mas de oferta, como reza a ordem natural das coisas. FOTO: HELY PAMPLONA
Um nobre e injustiçado Injustiçado sinônimo de urubu, bicho incrível, tão negro como a literata graúna, tão enxovalhado por se alimentar dos mortos. Não fosse o rei dos ares tudo exalaria triste e dor. Viva o gari mais charmoso dos ares. FOTO: HELY PAMPLONA
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Pose na frente do bosque A cena é comum. Passos na calçada, pertinho do Bosque Rodrigues Alves, a cidade grande inflamada ao redor e eles surgem. Um dos, três, quatro, muitos. Alegres, simpáticos, fazendo a vida ter graça e lembrando que vizinhos dos nossos irmãos de evolução. FOTO: HELY PAMPLONA
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Do alto da árvore A grande copa das árvores nos fala em silêncio de que, embora tanto avanço, tanta engenharia, tanta tecnologia, os sabidos jamais conseguiram reproduzir beleza colossal, que de nada precisa para se impor como ser sagrado de imensos galhos. FOTO: FERNANDO SETTE
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Caminhos de beleza e luz A selva de pedra, seus prédios prateados, suas estradas planas e negras de asfalto, fincado e cortado de placas, jamais terá caminhos tão bonitos de verde, terra, luz e minúcias como os do interior do Pará. FOTO: FERNANDO SETTE
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Aquele banho de rio... O céu: o limite. Limite, viva, crie, amplie o voo. O menos será mais sempre. Não tem volta. E a vida? Doce como um banho de rio. FOTO: TARSO SARRAF
Envie as suas fotos para a seção Olhares Nativos • REVISTA AMAZÔNIA VIVA •
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Para participar da seção “Olhares Nativos” da revista Amazônia Viva basta enviar fotos com temática amazônica para o e-mail amazoniaviva@orm.com.br acompanhadas pelo nome completo do autor, número de identidade e uma breve informação sobre o contexto do registro fotográfico. As imagens devem ser autorais e com resolução de no mínimo 300 dpi. A publicação das fotos tem fins meramente de divulgação, não implicando em qualquer tipo de remuneração aos autores. Participe!
Vamos combater os incêndios florestais De janeiro a julho deste ano, o Pará ocupou o quarto lugar no ranking acumulado de focos de calor no Brasil, com 2.116 ocorrências, segundo dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE). E os números devem ficar ainda maiores neste segundo semestre, período de estiagem. A diminuição das chuvas deixa a vegetação mais ressequida, tornando-a um meio para o
início dos incêndios. A velocidade do vento mais elevada, também, contribui para a propagação do fogo. A Vale tem atuado para evitar as queimadas no estado, por meio de ações educativas e de tecnologias capazes de identificar focos de fogo. Você também pode ajudar a combater este mal. Saiba como contribuir!
Foto João Rosa
Para um mundo com novos valores.
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Prevenção De acordo com o Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis, os incêndios florestais e as queimadas estão entre os principais problemas ambientais enfrentados pelo Brasil, colocando o país entre os maiores responsáveis pelo aumento dos gases de efeito estufa do planeta. Além disso, eles contribuem para o aquecimento global e mudanças climáticas, poluindo o ar e gerando prejuízos econômicos.
Ainda segundo o Ibama, o homem é o principal causador dos incêndios florestais, ao usar, de maneira indevida, elementos que combinam combustível, ar e calor para gerar fogo. Especialmente durante o verão amazônico, ações como queimar o lixo ou fazer fogueiras perto da vegetação devem ser evitadas. Recomendações como esta fazem parte de uma campanha, realizada anualmente pela Vale, no sudeste do Pará, com apoio do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), do Ibama e das Prefeituras Municipais. A iniciativa inclui blitz educativas e preventivas, além da distribuição de material informativo nas comunidades que ficam próximas às áreas de conservação ambiental, como a Floresta Nacional de Carajás e a Floresta Tapirapé-Aquiri.
Foto João Rosa
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Tecnologia Entre as ações permanentes de prevenção, está o Sistema de Detecção de Incêndios, utilizado pela Vale desde 2007. Em tempo quase real, ele identifica possíveis focos de queimadas em cerca de 700 mil hectares de mata amazônica original, numa área que inclui as Florestas do Mosaico de Carajás. Outro sistema de prevenção é o Forest Fire Finder (FFF), capaz de detectar incêndios florestais em apenas cinco minutos e enviar sinais de alerta para as equipes de monitoramento, informando a coordenada geográfica do
foco e agilizando o trabalho dos bombeiros e brigadistas. A Vale, também, mantém três torres de observação instaladas em pontos estratégicos da floresta e disponibiliza kits especiais, compostos por mangueiras de longo alcance, motores de alta potência e recipientes com capacidade para 700 litros de água, que ficam instalados em caminhonetes, aumentando a mobilidade das equipes em locais de difícil acesso.
Brigadistas A Vale investe na formação de brigadistas, entre empregados e prestadores de serviço. Os profissionais são capacitados para identificar os focos de incêndio e iniciar o primeiro combate, até que o Corpo de Bombeiros Civil de Carajás se desloque até o local da ocorrência.
Estúdio Mirante Tucumã
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Onde há fumaça, há fogo... Conheça algumas dicas para prevenir incêndios florestais: Evite a queima de mato como forma de limpeza de terrenos; z Não jogue fósforos ou cigarros acesos na vegetação; z Não queime lixo perto da vegetação; z Tenha cuidado ao usar velas, lampiões e outros materiais inflamáveis em áreas abertas; z Depois de acender fogueiras, ao final, apagar total e corretamente o fogo; z Ao menor sinal de fogo, ligue 193 e ajude a evitar que as chamas se espalhem. z
Utilidade pública Em caso de incêndios, é preciso acionar o Corpo de Bombeiros pelo telefone 193. Se a ocorrência for identificada em áreas próximas às instalações da Vale, a ligação poderá ser feita para a Central de Controle à Emergência, nos seguintes contatos:
z Parauapebas: (94) 3327- 4112 / 3327- 4902 z Canaã: (94) 3327-2284 z
Paragominas: (91) 3739-2505
z Central de Controle à Emergência: (94) 3327-3801 z
Alô ferrovia: 0800 285 7000
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OPINIÃO, IDENTIDADE, INICIATIVAS E SOLUÇÕES
ROBERTA BRANDÃO
IDEIASVERDES
MULHERES DO CARIMBÓ O GRUPO SEREIAS DO MAR, COM SEU TOQUE FEMININO, TEM MUDADO A CENA CULTURAL DE MARAPANIM PÁGINA 46
FLORESTAS O professor Waldenei Queiroz, da
EXPERIÊNCIA Pedimos para o repórter João
INCÊNDIOS O número de queimadas nesta
Ufra, colabora com o levantamento do primeiro Inventário Florestal Nacional do Brasil. PÁG. 36
Cunha passar uma semana sustentável e nos contar como foi a mudança de rotina. PÁG.38
época do ano tende a aumentar na região, alertam dados do ICMBio no Estado. PÁG.46
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OUTRAS CABEÇAS
O
principal objetivo de um inventário florestal é produzir informações sobre os recursos florestais, tanto os naturais como os plantados, de uma determinada região, auxiliando na formulação de políticas públicas de desenvolvimento, uso e conservação da área. Alguns países realizam, a cada cinco anos, seu Inventário Florestal Nacional. A intenção é produzir informações para subsidiar ações na área de meio ambiente e na elaboração de relatórios para acordos e convenções internacionais. Sobre o assunto, a revista Amazônia Viva conversou com Waldenei Queiroz, professor da Universidade Federal Rural da Amazônia (Ufra), e colaborador do primeiro Inventário Florestal Nacional do Brasil, que está em fase de produção. O que é um Inventário Florestal? É uma área que envolve vários segmentos, como modelagem matemática, botânica e geoprocessamento. É o ramo da engenharia florestal que trata de levantar as características quantitativas e qualitativas do potencial florestal de um país, de uma região. É normal num país desenvolvido ser realizado o inventário nacional, que seria feito a cada cinco anos. Isso faz parte, inclusive, do orçamento do País. A Finlândia já tem 80 anos de experiência, os Estados Unidos por volta dos 60 e, o Brasil está realizando seu primeiro inventário nacional. Por que se faz esse procedimento? Para fazer o planejamento florestal de um país. Mas pode ser usada também para implantação de uma empresa. Pode ser uma aplicação estática e determinar as características quantitativas da floresta. E também pode ser contínuo, quando ele é usado regularmente na floresta, ou seja, através do uso de parcelas de uso permanente. 6 • REVISTA AMAZÔNIA VIVA •
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“NÃO SE PODE PLANEJAR SEM CONHECIMENTO” O PROFESSOR DA UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DA AMAZÔNIA WALDENEI QUEIROZ É COLABORADOR DO PRIMEIRO INVENTÁRIO FLORESTAL NACIONAL DO BRASIL E AFIRMA QUE É PRECISO CONHECER A FLORESTA PARA PODER PRESERVÁ-LA DA FORMA MAIS INTELIGENTE POSSÍVEL TEXTO ROSANA MEDEIROS FOTO ROBERTA BRANDÃO
Nesse caso, se estabelece as parcelas num campo e mede, ou a cada dois anos, ou a cada cinco anos, dependendo do objetivo do trabalho. Quais os benefícios de um inventário florestal? É conhecer. Não se pode planejar nenhuma ação sem conhecimento. Então se há um determinado objetivo, de implantar uma empresa, uma indústria, fazer algum estudo, ou implantar uma área de proteção de um parque nacional, como se pode fazer sem ter conhecimento do potencial não só de madeira, mas outros potenciais ecológicos. O inventário ajuda o país a definir a sua política florestal, quanto retirou e quanto precisa plantar. O Pará, por exemplo, tem um problema sério relacionado a desmatamento, então precisa estabelecer imediatamente um sistema de plantações para pelo menos diminuir a agressão na floresta natural e assim implantar as florestas energéticas. Como é feito um inventário florestal? O inventário é defi nido de acordo com o objetivo. Por exemplo, se for um objetivo governamental tem suas características. Em qualquer caso, o primeiro passo é um estudo através de imagens de satélite para fazer uma pré-classificação dos tipos florestais, floresta alta, floresta de várzea, floresta de campo, igapó. Mas para identificar as espécies, saber o volume madeireiro é preciso estabelecer um trabalho de campo, efetuar uma amostragem, por exemplo, uma área de 10 mil hectares. Depois que o objetivo for defi nido, se monta as equipes de campo e procede todos os trabalhos de chegar a parcela, identifica as espécies, medir altura, medir diâmetro, desenvolver uma equação de volume (estimar o volume por árvore e depois por parcela, para chegar a um volume por hectare), assim como ver quais as espécies que ocorrem e ver sua distribuição, por que as espécies
“O inventário nacional não dá somente suporte ao governo, mas também à comunidade, para que possa saber o que está ocorrendo na região amazônica” não ocorrem aleatoriamente pela floresta. Através de processos matemáticos tenta se defi nir essas comunidades e depois fazer uma estimativa por total da área. Como é o trabalho pelo Inventário Florestal Nacional brasileiro? Ele é feito pelo Ministério do Meio Ambiente, através do Serviço Florestal Brasileiro (SFB). Existe uma coordenação técnica só para trabalhar com essas análises no sentido de sugerir e coordenar esse trabalho em todo o Brasil. Essa comissão é formada por mim, por um professor da Universidade de Santa Maria, no Rio Grande do Sul, e por um professor da Universidade Federal de Manaus. Nós temos um manancial de dados disponíveis da Ufra, da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária), do Inpa (Instituto Nacional de Pesquisa da Amazônia), o que nos dá essa capilaridade. Além disso, o SFB já realizou três simpósios, o último foi em Manaus, em 2014, onde se debate esses trabalhos. Também já aconteceram três encontros de mensuração florestal no Brasil, o último no Paraná, ano passado.
Então, se debate todos esses problemas e nós vamos evoluindo nesse aspecto. Quais serão os benefícios do Inventário Florestal Nacional? Existe uma perfeita interação do Serviço Florestal Brasileiro com as Universidades e os institutos de pesquisa que estão colaborando. E no caso de um inventário florestal não se restringe somente a questão madeireira, mas a questão social. Tem uma parte do projeto em que é feito um levantamento para se saber a questão social dos moradores, para se ter ideia da cultura e de suas inter-relações e procurar estabelecer um sistema de proteção florestal, uma consciência de que o morador local se empenha também em proteger a floresta e usar racionalmente seus recursos. Sem o inventário não se tem essa ideia. Esse trabalho vai desenvolver bastante a nossa Universidade, o ensino da graduação, da pós-graduação e, em geral, a ciência da modelagem e do inventário florestal, além das ações de reposição da floresta. O inventário nacional é para isso, para dar suporte não só ao governo, mas para a comunidade saber o que está ocorrendo com região amazônica. Aqui na Amazônia já é realizado esse tipo de procedimento? Sim. Nós já tivemos diversos programas na região amazônica, inclusive o primeiro inventário ecológico do Brasil foi feito aqui na Amazônia, na década de 1950. Nas décadas seguintes, nós tivemos o programa Radam – Rasdar na Amazônia, que levantou em torno de 3 mil parcelas em toda a região amazônica não só dados de florística, como questões de solo, agricultura. Depois tivemos o programa polo Amazônia, ação do governo. Além da consultoria para o SFB quais outros trabalhos o senhor já fez na área? Eu trabalhei no projeto Radam, em 1970, e também dei uma assessoria no inventário ecológico - econômico do estado de Rondônia, há uns dez anos atrás. Participo de cursos, tudo dentro da área matemática. AGOSTO DE 2015
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ASSUNTO DO MÊS
SETE DIAS SUSTENTÁ NA REPORTAGEM DAS PÁGINAS A SEGUIR, O JORNALISTA JOÃO CUNHA RELATA A EXPERIÊNCIA DE PASSAR UMA SEMANA SEGUINDO OS CONCEITOS DA SUSTENTABILIDADE E MOSTRA QUE LEVAR UMA VIDA MAIS “VERDE” VAI MUITO ALÉM DE REGAR AS FLORES DO JARDIM FOTOS CARLOS BORGES
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D
TÁVEIS eXPeRIÊNCIA SOCIOAMBIeNtAl
O repórter joão Cunha caminha na praça Brasil, em Belém, em seu primeiro dia de uma vida
totalmente sustentável. Aos 23 anos, solteiro e sem filhos, ele adotou novos hábitos durante sete dias para poder construir esta reportagem.
epois de alguns adiamentos, hesitações e esperas, a pauta chegou, mais um aviso do que uma confirmação, na forma de um e-mail. Ao final da mensagem do editor, a pergunta que parecia estar em negrito, fonte 32 e pulando da tela: “Estás preparado?”. Viver uma semana, sete dias e sete noites, sob as diretrizes da sustentabilidade. Essa é, basicamente, a premissa dessa reportagem. A palavra em si, “sustentabilidade”, não é nenhuma desconhecida; suas variações também não. Desde os anos 1970, inclusive, ela só tem ganhado corpo e espaço, em discursos de líderes mundiais, seminários e estudos acadêmicos, entre os movimentos sociais, programas de TV e empresas que adotam uma consciência ambiental. Virou marca. E também se desdobrou em vários sentidos. Está no time dos grandes temas e sobre esses, felizmente, não há consenso. Então, por onde seguir? “Atender as necessidades das gerações atuais sem comprometer a capacidade das gerações futuras de atenderem a suas necessidades e aspirações”, está, em uma citação quase literal, no relatório de Brundtland de 1987 da Organização das Nações Unidas (ONU). Esse é o começo mais previsto e a base comum para a compreensão do que é desenvolvimento sustentável. Hoje é um lema dos adeptos da solidariedade geracional, ou seja, “os que virão” merecem herdar a
Terra preservada. Ajustando o foco para realidades mais próximas e íntimas, temos a ideia de um conterrâneo, o cientista manauara Samuel Benchimol (1924-2002). Em uma produção literária extensa, ele firmou a noção de que o desenvolvimento da Amazônia para ser realizado em bases sustentáveis, deve seguir “quatro parâmetros e paradigmas fundamentais: isto é, ele deve ser economicamente viável, ecologicamente adequado, politicamente equilibrado e socialmente justo.” Quatro pilares para analisar a sustentabilidade de um projeto de região, mas que aqui vão ser particularizados nessa experiência em primeira pessoa. Afinal, o resultado de muitos olhares, desdobramentos e mutações, eis a via de informação mais presente sobre sustentabilidade filtrada pelo conteúdo multimídia e personalista: “as listas top alguma coisa”. “10 dicas para ser sustentável no supermercado”. “37 passos para ter um dia a dia mais sustentável”. “819 hábitos para ser mais sustentável”. Essa mistura de guias e pílulas de conhecimento também serviu de direção para o que vem a seguir. Vinte e três anos, solteiro, sem filhos e cicatrizes aparentes, juntei essas referências, e algumas outras mais pelo caminho, mais uma razoável ajuda de custo em dinheiro para construir uma semana sustentável ou que, ao menos, buscou assim ser nos seus aspectos gerais. agosto DE 2015
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ASSUNTO DO MÊS
A FEIRA É LIVRE E O CHORO TAMBÉM! Primeiro, a boca. Ou melhor, a união de lábios, língua, palato e daí adentro pelo canal digestivo. Ah, sem esquecer os outros sentidos, do cheirar, tocar, ver e ouvir. Todos eles contribuem na hora de comer bem, de forma nutritiva, equilibrada e sustentável, o ponto de partida da minha semana. Como pedra-mestra desse capítulo, o Novo Guia Alimentar para a População Brasileira, que em sua nova edição, lançada em 2014, discute a sustentabilidade aliada à alimentação saudável. “Além de uma boa alimentação, é preciso pensar nas formas de buscar esses recursos e como proporcionar às pessoas o direito de ter acesso a eles. De que maneira são produzidos, cultivados, distribuídos. Falar de nutrição e sustentabilidade também é refletir como eu vou fazer novas escolhas alimentares”, afirma a nutricionista e pesquisadora em Saúde, Ambiente e Sociedade na Amazônia, Ana Lorena Ferreira. O guia também oferece outras dicas que dialogam demais com as listas encontradas sobre o tema na web. Priorizar alimentos in natura ou minimamente processados, diminuir o consumo de carne vermelha, aproveitar o potencial de frutas, vegetais e legumes em período de safra. Valorizar a produção local e assim diminuir a poluição derivada do transporte, comprando de agricultores do Estado. 4 • REVISTA AMAZÔNIA VIVA •
AGOSTO DE 2015
Aí, nesse ponto, todos os caminhos levam à feira. Belém, de acordo com a Secretaria Municipal de Economia (Secon), tinha 34 feiras legalizadas até 2009, do tradicional Ver-o-Peso até a icônica do canal do Barreiro, onde dizem se encontrar de tudo. Sem falar nas feiras que nascem da informalidade e das demandas e nas itinerantes, que passam de bairro em bairro, na boleia de um caminhão, em barracas portáteis ou carrinhos de mão. A Feira Orgânica não se encaixa nessa descrição, mas também itinera por aí. Começou tímida, há nove anos, numa reunião de produtores
de alimentos cultivados sem agrotóxicos mostrando o melhor das suas colheitas. A feira virou compromisso e agora, todos os sábados, as tendas se erguem, uma vez na Praça Brasil, no Umarizal, e outra na Praça Batista Campos, bairro de mesmo nome. Quem organiza o movimento são os mesmos produtores de quase dez anos atrás, e que desde 2010 fazem parte da Pará Orgânico, associação com mais de 30 agricultores cadastrados no Estado. A plantação, colheita e benefi- COMEÇANDO PELA BOCA João comprou os produtos para ciamento de alguns produtos é de uma alimentação mais saudável base cooperativa ou familiar. En- em uma feira orgânica. Também trocou as refeições habituais para fileirados em uma lateral da praça, uma dieta mais leve e nutritiva.
ALIMENTAÇÃO SAUDÁVEL
Opções de refeições saudáveis com elementos regionais
CAFÉ DA MANHÃ
Opção 1 Café com leite, tapioca e banana (acima) Opção 2 Café com leite, cuscuz e manga
COMPARE OS PREÇOS PRODUTO Rúcula (maço)
ALMOÇO
FEIRA ORGÂNICA R$ 3
R$ 2
Alface (maço)
R$ 3
R$ 1,50
Pepino (unidade)
R$ 2
R$ 2
Tomate (5 un.)
R$ 4
R$ 4
Couve (maço)
R$ 2
R$ 2
Farinha (500g)
R$ 5
R$ 3
Alface e tomate, arroz, feijão, berinjela e suco de cupuaçu
FONTE FEIRA COMUM: FEIRA DA PEDREIRA
JANTAR
Sopa de legumes, farinha de mandioca e açaí
PEQUENAS REFEIÇÕES Pupunha Manga
VEJA O GUIA COMPLETO NO LINK: GOO.GL/UZNZZS FONTE: GUIA ALIMENTAR PARA A POPULAÇÃO BRASILEIRA (2014) COM SUGESTÕES DA NUTRICIONISTA ANA LORENA FERREIRA
FEIRA COMUM
CORPO SÃO, AMBIENTE TAMBÉM
Para a nutricionista Ana Lorena Ferreira, alimentação e sustentabilidade ajudam a refletir sobre como fazer novas escolhas alimentares para se chegar a uma qualidade de vida melhor
os produtores representam uma boa parte da Grande Belém e vizinhanças: Marituba, Mosqueiro, Benevides, Combu, Santa Isabel. Rúcula, pupunha recheada, pimenta, cajarana, “um doce de cupuaçu, freguês”, feijão manteiguinha, “farinha de Bragança, a melhor do Pará”, tomate, pepino. O cardápio de alimentos também é variado. A feira é livre e o “choro” também! Não custa nada exercitar a arte da pechincha com os vendedores, mas na Feira Orgânica também não carece muito. A maioria dos produtos está com um bom preço, de ganhar a empatar com uma feira comum (veja a comparação de valores ao lado). A couve, por exemplo, foi um achado: R$ 2,00 o maço bem generoso. Porém, há importantes exceções. Uma galinha orgânica, sem aditivos e apenas congelada, custa R$ 30,00. Os xampus, sabonetes e loções fitoterápicas, feitas a partir do extrato natural de ervas, chegam a custar até 3 vezes mais que um equivalente industrial. Considerando o contraste de aporte e estrutura dos produtores de cada um dos lados, em clara desvantagem de competição de mercado para os orgânicos, o preço é justificável. Porém, diferenças como essas, e mesmo as mínimas, podem pesar e muito na feira da maioria dos habitantes da cidade, cuja renda média, em 2010, era de R$ 810,00 por família, segundo pesquisa do Datasus. À parte, o kit natural de higiene, que levou parte considerável do orçamento e os gastos mínimos com o material para fazer uma horta, as compras ordinárias de hortifruti orgânico saíram bem em conta e próximas ao que eu faria na Feira da Pedreira, que fica próximo de onde moro. A propósito, foi esse o meu destino para complementar o “rancho” da semana com uma peça de pescada amarela, daquelas no capricho que se pode encontrar nos mercados de Belém. AGOSTO DE 2015
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ASSUNTO DO MÊS
Como a Feira Orgânica, porém, não existe outra na capital. E isso é um problema. Como a rota desses produtores está concentrada no centro urbano, a alimentação livre de agrotóxicos não chega a ser uma opção para os habitantes da periferia e comunidades carentes, que são 54% a maioria da população belenense. Isso faz parte no poder de fazer “novas escolhas alimentares”, do qual falou a nutricionista Ana Lorena Ferreira anteriomente. A presidente da Pará Orgânico, Conceição Saraiva, diz que fora do circuito central movimentos de produtores orgânicos estão começando a se organizar em feiras locais, de bairros e outros municípios paraenses. “Existem iniciativas de outras pessoas que não são sócias da Pará Orgânico. Em Santa Bárbara está tendo uma feira todos os sábados do pessoal que já recebeu certificação do Ministério da Agricultura. Também em Santarém, Marabá, Viseu e Irituia”, lista a produtora. Saindo da feira para a cozinha, a dieta da semana não foi um grande desafio. Morando com uma pessoa com tolerância a lactose e com outra que mantém restrições alimentares há anos por questões de gosto, lidar com os itens da feira orgânica e fazer um cardápio coerente com a proposta não foi uma grande reviravolta na minha rotina. Preparar os alimentos, isso sim, foi um ponto de mudança relevante, já que a minha única e verdadeira especialidade culinária é a tapioca. Dedicar um tempo, exclusivamente, à alimentação foi bem diferente e instigante combinar os elementos da estação no prato (Veja no box, uma dieta diária com alimentos recomendados pela nutricionista) Mais uma vez ele, o Guia Alimentar, registra a importância de se reconectar com os alimentos.
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AGOSTO DE 2015
DE PÉ EM PÉ 5h45. Botar o primeiro pé para fora da cama. Deixá-lo pendurado assim por mais meia hora. Levantar de vez. Lavar o rosto. Regar a horta. Preparar o café (leia-se, café preto, suco, tapioca e fruta). Vestir a roupa de caminhada mais a mochila cheia nas costas. Sair. Chegar 15 minutos mais cedo no trabalho para tomar banho e se arrumar para mais um dia de jornada. Esse é o resumo telegráfico de cinco dias de semana, também chamados de úteis, sob a influência de ideias de sustentabilidade. Sem elas, o despertador apitaria 7h sem temor de atraso. O ônibus, como de costume, faria o percurso até o trabalho em 25 minutos, descontando o tempo de espera. O transporte coletivo é considerado uma alternativa sustentável para um modelo de mobilidade urbana cada vez mais
centrado no carro individual. Decido ir um pouco além e vencer a distância a pé, já que entre as minhas muitas inabilidades está a de não saber se equilibrar ou se mover em cima de uma bicicleta. O serviço on-line de mapas e posicionamento geográfico me informa que o tempo médio andando para chegar ao destino é de 45 minutos. A prática e o cronômetro do celular me deram quase 35 minutos no total, menos 10 minutos em média, méritos das pernas compridas e de um passo largo. Da casa ao trabalho, são 22 quarteirões, dois canais e três bairros, um trajeto ameno, apesar dos buracos, calçadas irregulares, algumas faixas de sinalização apagadas, garagens e rampas residenciais, carros de lanche, bikes e motos disputando o passeio público. Um privilégio, em comparação ao que grande parte da população ativa na Região Metropolitana de Belém
MOBILIDADE URBANA Percurso da casa do João ao trabalho Média de tempo gasto no percurso: 35 minutos por trecho Distância: 4,2 km Distância total da semana: 33,6 km Economia de tempo: 10 minutos
teria que passar se decidisse fazer o mesmo. Quando não vive em municípios vizinhos, como Marituba e Ananindeua, conhecidas como cidades-dormitório, a segregação é dentro da própria capital que as grandes distâncias se interpõem. Acrescente a esse fato, a condição de ser uma pessoa com deficiência ou usuário de cadeira de rodas para ver amplificada a dificuldade de quem se locomove sem um automóvel. Os adeptos da bicicleta, por preferência ou necessidade, estão sujeitos a uma lógica de trânsito que não os contempla e, muitas vezes, os fere e mata. Os 53,48 quilômetros de ciclofaixas construídas na capital, declarados pela Superintendência Executiva de Mobilidade Urbana (Semob), não são suficientes para os ciclistas, nem fazem uma integração entre vias importantes da cidade. Já a frota de 2.260 ônibus, segundo dados
de 2013 da extinta Autarquia de Mobilidade Urbana de Belém (Amub), é precária em qualidade de estrutura e serviço. Problemas que, de acordo com o especialista em saúde e transporte, Thiago de Sá, são característicos de grandes cidades no país. “A mobilidade urbana em Belém, como na maioria das metrópoles brasileiras, é ruim. É inaceitável a quantidade de pessoas que se ferem no trânsito, particularmente os mais pobres, as crianças e os idosos. A poluição das nossas cidades é outro grave problema. Também é inaceitável que muitos sejam obrigados a usar o carro e a moto, ou porque somos forçados a morar longe do trabalho, ou porque temos medo de andar nas ruas, ou porque o transporte público é caro e ineficiente. Hoje, a grande maioria de nós não tem outra opção de transporte, usamos aquela que é possível usar”, analisa.
Thiago estuda as relações entre transporte, saúde pública, equidade em saúde e sustentabilidade ambiental. Para ele, a capital paraense está em um momento de transição, num patamar que é possível ser revertido em direção a um cenário de mobilidade urbana sustentável, voltado para o pedestre, a bicicleta e o transporte público. “Agora, por melhor que seja o transporte coletivo, ele é incapaz de garantir sozinho o pleno direito à cidade e um futuro sustentável. É preciso desenvolver um planejamento urbano que aproxime as pessoas, que coloque pobres e ricos nos mesmos bairros, crianças morando a uma distância próxima da escola, áreas verdes em todas as regiões, calçamento decente e ruas adequadamente iluminadas, além, é claro, da desconcentração dos empregos, serviços e oportunidades por toda a cidade”, diz. AGOSTO DE 2015
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ASSUNTO DO MÊS
TRATANDO O PRÓPRIO LIXO CASEIRO Um balde fundo de plástico a postos perto da cozinha. Para lá, um punhado de material verde (folhas frescas, migalhas de pão, grãos, farinha e sobras de frutas, legumes e verduras), rico em nitrogênio; um pouco menos de material marrom (serragem, papelão, papel de jornal, folhas secas), que tem mais carbono, organizar em camadas e aí é remexer o material para arear, regular a umidade e a temperatura e, acima de tudo, exercitar a paciência. Uma semana de atitudes sustentáveis depois, a experiência da compostagem doméstica não está nem perto de dar o resultado esperado, a massa escura, uniforme e com cheirinho de terra que é um poderoso adubo natural. Nessa mistura, no meu caso, ainda bem definida de resíduos está uma dos caminhos para a reciclagem de materiais orgânicos. Para os inorgânicos, existem pessoas e grupos de coletores que aproveitam o valor comercial dos materiais recicláveis e colocam novamente em atividade um elemento cujo futuro seria a decomposição lenta e improdutiva. “Nós enxergamos o potencial econômico naquilo que a maioria das pessoas descarta. Na verdade, 90% desse material é reaproveitável”, diz Marília Castro. Ela é uma das coordenadoras da “Filhos do Sol”, cooperativa de coletores do bairro da Cremação. Marília atende ao meu telefonema e no dia seguinte está cedo à 44 • REVISTA AMAZÔNIA VIVA •
AGOSTO DE 2015
COLETA SELETIVA
DA TERRA PARA A TERRA
Cooperativa de Coletores de Materiais
Veja os pontos de coleta
Recicláveis “Filhos do Sol”, Cremação-Belém
seletiva e cooperativas
(91) 3116-3232/(91) 99154-0844
próximas da sua casa no link
Asprema, Canudos-Belém
goo.gl/5RP8a9
(91) 9616-5003
João fez a comportagem do lixo orgânico que produziu durante uma semana, quando deu início ao cultivo de uma pequena horta. Ele também levou o material reciclável a um centro de triagem, em Belém e trocou uma ideia com Marcus Wilson, da ONG ambiental Noolhar.
minha porta para receber uma pilha de papelões e garrafas de plásticos. Ao fundo, o ronco do motor ressoava. É um dos caminhões de coleta da cooperativa, trabalho que é feito em casas, empresas e órgãos públicos. Nela trabalham 14 pessoas, que recolhem, por semana, de 80 a 100 toneladas de recicláveis por semana. Um número que impressiona, mas nem de longe aplaca as 1.800 toneladas diárias de lixo que em média são produzidas em Belém, de acordo com dados da Secretaria Municipal de Saneamento (Sesan). Para o coordenador da Organização Não Governamental Noolhar, Marcos Wilson, o efetivo de coletores de materiais recicláveis, apesar de ser numeroso, sempre vai perder para a produção de lixo da cidade, enquanto o foco não estiver na educação ambiental. “Além dos problemas de saneamento, existe uma relação destrutiva com os resíduos do nosso consumo. Nós fomos ensinados errado. É preciso promover atividades educativas, que mostrem como não sujar a cidade, ao invés de gastar muito mais em limpála”, observa. Marcos sabe do que fala. Há quase 15 anos, a Noolhar trabalha com reciclagem em Belém, oferecendo cursos sobre reaproveitamento de materiais inorgânicos e preservação do meio ambiente para todos os públicos.
SIM, É POSSÍVEL
A experiência de passar sete dias perseguindo a sustentabilidade, com as atitudes relatadas e outras mais que formam a coletânea do ser sustentável, como economizar água e luz, não foi nenhuma situação-limite ou prova de sobrevivência. Muitas das situações e medidas para uma relação mais harmônica já estavam lá, rondando a rotina, só esperando para serem ativadas. Vinte e três anos, solteiro, classe média, sem filhos e dependentes financeiros, sem cicatrizes aparentes, órgãos e membros todos em perfeito funcionamento. Essas características e privilégios sem dúvida in-
fluenciaram em uma vivência mais fluida de práticas sustentáveis, porém com adaptações e olhares ajustados, cada pessoa, a partir de sua realidade, é capaz de aplicar essas e outras ideias. A sensação é a de nem ter encostado na sustentabilidade desejada, mas a vontade é de continuar nesse caminho pensando a sustentabilidade e agindo com nossos pares, humanos e com toda a comunidade de vida, de que fala o teólogo Leonardo Boff. Respondo aqui a pergunta do editor: Ainda não estou preparado. A compostagem não está no ponto, mas as primeiras plantas de pimenteira da horta já estão começando a brotar. AGOSTO DE 2015
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COMPORTAMENTO SUSTENTÁVEL
PELO FIM DAS QUEIMADAS NA AMAZÔNIA CLAUDIO SANTOS / AGÊNCIA PARÁ
O PODER PÚBLICO E A INICIATIVA PRIVADA SE UNEM PARA ERRADICAR UMA TRISTE REALIDADE AINDA PRESENTE NO INTERIOR DO PARÁ: INCÊNDIOS FLORESTAIS NO PERÍODO MAIS SECO DO ANO NA REGIÃO
N
TEXTO FABRÍCIO QUEIROZ
a região Norte, o período conhecido como verão amazônico é sinônimo de diversão, descanso e alegria. As altas temperaturas e a diminuição da ocorrência de chuvas são um convite para desfrutar dos balneários de rio, mar ou igarapés que banham o Estado. Porém, as condições climáticas diferenciadas favorecem também a propagação de um grande dano à floresta: os incêndios.
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Registros do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) mostram que entre os meses de julho e outubro a ocorrência de focos de incêndio aumenta consideravelmente na região. Em abril do ano passado, por exemplo, período de inverno na Amazônia, foram registrados 27 focos no Pará, enquanto em agosto do mesmo ano, esse número saltou para 8.555. Na série histórica, registrada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o
Estado já chegou a ter 18.130 focos em um único mês. Já em meses com bastante chuva, como março, o índice mostra ocorrências de apenas um foco. As queimadas podem ocorrer tanto de forma natural quanto por influência da ação humana, quando agricultores, só para exemplificar, utilizam fogo para abrir novas áreas de plantação. Sem a orientação e controle adequado, uma ação pontual pode se alastrar rapidamente e levar à
perda de vastas áreas de floresta. Para prevenir essas ocorrências, o monitoramento é fundamental. Frederico Drumond Martins, chefe da Floresta Nacional de Carajás, diz que, especialmente entre julho e setembro, a avaliação diária de risco é necessária na região, que sofre com o baixo índice pluviométrico. “O parâmetro de risco vai de baixo a muito alto. E nesse período é normal chegar a muito alto, principalmente por causa do grande número de dias sem chuva”, comenta. No sudeste do Pará, em parceria com a Vale, o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) atua em cinco unidades de conservação que formam o mosaico de Carajás, importante território com mais de 1,2 milhão de hectares. Além da Flona Carajás, a Floresta Nacional do Tapirapé Aquirí, a Reserva Biológica do Tapirapé, a Área de Proteção Ambiental do Igarapé Gelado e a Floresta Nacional Itacaiúnas são ao mesmo tempo um recanto da biodiversidade amazônica e um desafio para a proteção ambiental. Por isso, a atuação conjunta entre o poder público e a iniciativa privada tem tido grande êxito na região. Uma das ações realizadas é formação de brigadistas, que recebem qualificação para monitorar e fazer uma primeira ação de combate ao foco do incêndio. Alguns funcionários da Vale, no sudeste do Pará, têm capacitação para atuar como brigadistas. Em caso de detecção de queimadas, eles podem ser acionados. Outra iniciativa adotada foi a implantação de um Sistema de Detecção de Incêndios (SDI) desde 2007. Ele permite identificar, em tempo quase real, possíveis focos de queimada em cerca de 700 mil hectares das unidades. Além do SDI, a alta tecnologia também está presente em outro sistema, o Forest Fire Finder (FFF), que utiliza um sensor óptico e uma câmera de
É PRECISO PRESERVAR Registros do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) mostram que a ocorrência de focos de incêndio no Pará aumenta durante o verão amazônico. As altas temperaturas e a estiagem são fatores que contribuem para a propagação das queimadas na floresta amazônica.
ESTE ANO
Em 2015, os focos de incêndio tiveram uma alta em janeiro e junho. Até a primeira quinzena de julho, foram registrados 151 focos em todo o Estado.
JANEIRO
FEVEREIRO
MARÇO
ABRIL
MAIO
JUNHO
JULHO
725
108
61
27
95
265
151
alta resolução com raio de cobertura de 15 quilômetros capaz de detectar fumaça na atmosfera. Os dados gerados, inclusive coordenadas geográficas, são enviados às equipes de monitoramento que podem agir de maneira mais rápida. Para Frederico Martins, ações como essa contribuem para respostas mais efetivas, já que um dos maiores desafios nesses casos é a prevenção. “Uma das regras do incêndio florestal é que ele começa pequeno. Então, o momento é atacar no seu início, por isso as atividades preventivas e de primeiro combate são as mais importantes. Quando começar aquele primeiro ‘foguinho’, acionar as autoridades competentes e combater porque aquele incêndio pode causar grandes danos e atingir grandes proporções”, alerta. O investimento em ações preventivas tem alcançado bons resultados na região de
Carajás, onde não é registrado um incêndio de grandes proporções desde 2012. Desde então, foi intensificada a formação de agentes brigadistas, que têm transporte à disposição, instrumentos de combate como mangueiras de longo alcance, avião e helicóptero equipados, além de toda a tecnologia dos sistemas de monitoramento. As unidades de Carajás contam ainda com mais de 70 quilômetros de aceiros, áreas abertas e mantidas sem vegetação. Em caso de incidente, elas funcionam como barreiras físicas que impedem a propagação do fogo. Na mesma linha preventiva, Vale, ICMBio e prefeituras do sudeste paraense realizam até setembro uma campanha que inclui blitz educativas e distribuição de material informativo em municípios como Parauapebas e Canaã dos Carajás. Uma das metas é orientar pequenos agricultores para que AGOSTO DE 2015
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COMPORTAMENTO SUSTENTÁVEL
Segundo o Ibama, o homem é o principal causador de incêndios florestais porque a maioria ocorre em decorrência de alguma atividade humana que pode combinar os elementos combustível, ar e calor para originar fogo. Para prevenir esses casos, a dica é adotar cautela em diversas atividades, como orienta um manual elaborado pelo instituto.
ONDE HÁ FUMAÇA...
É PROIBIDO FUMAR
Recomenda-se evitar a queima de mato como
Fumantes também podem causar incêndios ao jogar
forma de limpeza de terrenos para uso na agri-
fósforos ou cigarros ainda acesos na vegetação. Ao
cultura e pecuária.
dispensar esse tipo de lixo, a precaução é fundamental.
LIXO NO LIXO
CUIDADO À NOITE
Queimar lixo também é um risco, já que a
Pescadores e outras pessoas que se dedicam a
disponibilidade de material inflamável e as
trabalhos noturnos também devem ter cuidado
condições climáticas desfavoráveis podem
com velas, lampiões e outros materiais inflamáveis.
tornar o fogo incontrolável.
SEMPRE ALERTA
REDE SEGURA
Excursionistas, caçadores e outras pessoas que
A manutenção de redes de alta tensão que cruzam
costumam acampar têm a necessidade de acen-
áreas de floresta também é importante, pois o con-
der fogueiras em alguns períodos. Ao sair do local,
tato dos fios com a vegetação pode provocar faíscas
é preciso apagar total e corretamente o fogo.
e ocasionar incêndios.
entendam os riscos do uso de fogo próximo a áreas de floresta. “O que a gente observa é que ou essas comunidades sofrem com o fogo ou são dependentes dele. Então, a gente incentiva que elas se organizem para se capacitar e conter esses incêndios. E a gente tem trabalhado também
com agricultores para que eles façam uso de uma queimada controlada. O ideal é que isso não fosse necessário, mas quando eles usarem esse artifício é bom que tenham orientação para fazer uma queimada controlada”, defende o chefe da Flona Carajás. Desde julho, o Pará conta com uma nova
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ILUSTRAÇÕES / ANDRÉ ABREU; FONTE: IBAMA
APAGANDO O FOGO
ferramenta para detecção de incêndios. O Sistema de Monitoramento de Incêndio Florestal (SMI-Florestal) foi desenvolvido por meio da parceria do setor de tecnologia da informação da Vale com a diretoria de Geotecnologias da Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Sustentabilidade (Semas). O programa recebe a cada quatro horas dados de 19 satélites do INPE que são avaliados em laboratório. Aliado a informações de climatologia, é possível identificar municípios onde há maior escassez de chuvas e focos de calor que precisam ser monitorados. No mapa, a cada local é atribuída uma cor e um nível de risco que varia de 1 a 5, além de coordenadas. Assim, as equipes ganham em precisão e eficiência. O sistema é público e está disponível no site da Semas, que pretende incentivar ações voluntárias em diferentes partes do estado na prevenção de incêndios.“Qualquer um pode acessar e pode ajudar. Quando você clica, pode pesquisar um período e ver os dados do seu município. É um sistema muito bom porque permite essa parceria do público”, diz Vicente Sousa, diretor de Geotecnologias da Semas. Além disso, o objetivo é integrar as ações de monitoramento ao trabalho de campo, fortalecendo a colaboração com municípios e órgãos como o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e ICMBio e promover educação ambiental. “Nós já tivemos 86 brigadas atuando no estado em 2006. Isso que nós queremos retomar. Vamos trabalhar as parcerias com os municípios e reforçar essas brigadas. Com o sistema, vamos saber as áreas de escassez de chuva e vamos deslocar as ações para essas regiões pra tornar tudo mais preventivo de fato. E também as ações de educação ambiental. Vamos chamar as comunidades, os agricultores para utilizar alternativas ao fogo. As ações de campo vão ser o grande diferencial”, afirma Vicente Sousa.
BONS EXEMPLOS
REPRODUÇÃO
FERNANDO SETTE
MUDANÇADEATITUDE
DEIXE SUA COZINHA MAIS SUSTENTÁVEL Limpar a parte de trás da geladeira, tampar as panelas e reaproveitar alimentos são pequenas ações que também colaboram com o meio ambiente. Algumas pessoas consideram a cozinha a melhor parte da casa, lugar não apenas das refei-
Solidariedade em forma de livros
Proporcionar acesso à informação, à cultura e ao lúdico através do livro são alguns dos objetivos do Projeto Livro Solidário. Criado em 2003, por meio de uma campanha de arrecadação de livros usados, a iniciativa procurou ajudar instituições sociais como creches comunitárias, escolas em regime de convênio, centros comunitários e tantas outras entidades que desenvolvem atividades socioeducativas e que precisam desse apoio. Inicialmente, o Livro Solidário fazia somente a doação de livros e revistas. Em 2011, quando o projeto passou a ser coordenado pela Imprensa Oficial do Estado, outras secretarias foram
reforçando a iniciativa de forma que hoje é possível apoiar a implantação de espaços de leitura, desde a revitalização do ambiente até a doação de estantes, mesas e cadeira, além de livros. Nessas instalações são realizadas as doações dos livros de modo que, durante o ano, a entidade recebe cerca de duas remessas de material para renovar o acervo. Os espaços funcionam em escolas, ONGs e em bairros de vulnerabilidade social, em Belém e região metropolitana. Todos podem participar. Segundo a equipe organizadora, “o projeto tem na sua essência a solidariedade, e precisa do apoio de pessoas comprometidas com a edu-
cação e com a formação de crianças e jovens. Toda ajuda será bem recebida, seja na doação de livros novos, usados ou voluntários da área pedagógica”. Mais de 30 instituições já foram beneficiadas com doação de livros e sete com a implantação de espaços de leitura, incluindo doação de mobília e livros. A doação pode ser feita na Imprensa Oficial do Estado. O projeto arrecada gibis e literaturas de gêneros variados como ficção, romance, poesia, contos, religiosos e outros, para crianças, jovens e adultos. Mais informações no telefone 4009-7847 ou no emaillivrosolidario@ioe. pa.gov.br.
ções. Então que tal transformá-la em um ambiente mais sustentável? Tampar as panelas e não abrir a porta do forno parece óbvio, não é? E é mesmo. Ao tampar as panelas enquanto cozinha, ajuda a aproveitar o calor que simplesmente se perderia no ar. Com isso se economiza gás e ainda se garante que o almoço ficará pronto mais cedo. Outra boa ideia é cozinhar na panela de pressão. Feijão, arroz, macarrão, carne e peixe são exemplos de alimentos que podem ser utilizados. É muito mais rápido e chega a economizar até 70% de gás. A dona de casa Sara Ferreira conta que quando cozinha, busca sempre a economia aliada à qualidade dos alimentos. “O ato de tampar a panela é muito importante na hora de cozinhar. Além dos alimentos ficarem prontos muito mais rápido, por cozinharem no vapor, tem também a questão da economia do gás. É necessário que as pessoas tenham noção dessas informações para contribuir na economia do lar”, garante. Se as bocas do fogão estiverem sujas, o gasto também é maior. Para que os alimentos cozinhem mais rapidamente, a orientação é picá-los em tamanho menor e colocar menos água. Assim que ferver, tampe a panela e abaixe o fogo.
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VIDA EM COMUNIDADE
SEREIAS COM OS PÉS NO CHÃO GRUPO DE CARIMBÓ FORMADO POR MULHERES DE MARAPANIM ECOA A VOZ E A REALIDADE DA PRESENÇA FEMININA NA SOCIEDADE AMAZÔNICA
N
TEXTO MOISÉS SARRAF FOTOS ROBERTA BRANDÃO
uma quarta-feira daquelas em que um programa cultural é bom pra animar, o grupo se apresentou em Belém. Não foi a primeira vez, mas era uma reestreia na cidade. Uma preparação. Casa razoavelmente cheia. Público bem disposto. Na programação, o grupo Sereias do Mar, o único conjunto de carimbó criado e organizado exclusivamente por mulheres. A apresentação daquele dia, no palco do Sesc Boulevard, era um ensaio geral; na semana seguinte, elas disputariam o título no Festival de Carimbó de Marapanim. Durante o show, o primeiro de longa duração, confessaram • REVISTA AMAZÔNIA VIVA •
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as integrantes, se materializou o cotidiano de uma roça de mandioca governada por mulheres. As músicas, os sotaques e as faces apontam para a origem do grupo. Lá da vila Silva, onde moram, município de Marapanim, nordeste paraense, elas são sereias: metade agricultoras, metade, carimbozeiras. Da vila Silva, são 19 quilômetros na estrada de piçarra até a PA-136, de onde são mais 50 quilômetros até Castanhal. À medida que o festival de carimbó deste ano se aproximou, os ensaios se acentuaram. Onze mulheres a tocar curimbó, reco-reco, onças e milheiros. Nas músicas, o solo
das estrofes e o coro dos refrãos, conteúdo que gira basicamente em torno de dois temas: a vida na lavoura e o dia a dia da mulher. A vocalista é Raimunda Vieira Freire de Carvalho, conhecida como “Dona Bijica”. Já na vila Silva, no sábado, um dia antes da apresentação no festival, fomos conhecer o pessoal do grupo. A dona Bijica estava “fazendo as unhas”. E lá mesmo, com os pés submersos numa bacia com água, começou a falar sobre as músicas, as mulheres e a vida na vila. Perguntei sobre a origem do grupo, ela achou melhor nos levar à casa ao lado, da Dona Mimi, mãe da Bijica: a mestra!
Júlia Freire, a matriarca, nos recebeu. “Eles querem falar sobre a história do Sereias”, introduziu Bijica. A Dona Mimi abriu o sorriso, botou-se a falar. “Meus filhos tinham um conjunto de carimbó”, começou. “No Dia das Mães, em maio, queriam fazer um festejo das mães com o carimbó. Então, a Bijica foi falar com os meninos”. Como não houve resposta, “nem que sim nem que não”, conta Dona Mimi, ela cumpriu seu papel de conselheira. “Eu perguntei: Bijica, tu sabes cantar o carimbó? Ela me disse que sim. Então, vai cantar que eu vou bater o curimbó pra vocês”. A orientação veio seguida de perguntas: a senhora sabe? A senhora vai dar conta? “Eu sei e vou dar conta”. Começaram os primeiros ensaios. Três dias e fez-se uma comemoração de Dia das Mães com algumas mulheres. Nascia um grupo, se revelava uma mestra carimbozeira. Dona Mimi diz que não foi nada difícil depois de ter visto seu pai, o Seu Firmino, além dos tios e do avô, “batendo o carimbó”, como ela mesmo conta. O Seu Firmino, por sua vez, dedicou anos de sua vida às rezas de ladainha do latim paraoara e às cantorias das folias de reis. Já Dona Mimi, que era lavradora, cuidou de onze filhos e, aos 40 anos, começou “a pegar criança”, parteira da comunidade: essência da cultura popular. Todos se preocupavam com a
matriarca. É que lá no início do grupo, em 1994, ela já tinha 69 anos. Cumprindo seu papel de mestra do carimbó, ela ensinou a mulherada a fazer o batuque. Mas, naquele sábado, véspera do festival, Dona Mimi se mantinha apreensiva. É que ela não só gosta do carimbó, ela cai de amores pelo batuque. “Sou apaixonada pelo carimbó. Choro! Quando eu toco, lembro das coisas. Choro!”. Pela idade avançada, ela deixou de “tocar o carimbó”, o que exige força no braço, mas segue “tocando o pauzinho”, que marca o contratempo no tronco do curimbó. E havia pedido para ir a Marapanim tocar no festival. O problema: ainda não haviam confirmado a ida da Dona Mimi.
TRABALHO
A roça. Lá o trabalho é diário. Roçado de mandioca e de milho, com as culturas em vários estágios. No dia da visita, final de maio, elas estavam no período de limpeza do terreno, apenas capinando para proteger os pés de maniva e de milho, uma vez que o tempo do plantio vai de setembro a dezembro. A área era de “três tarefas”, ou seja, 150 m², sendo cada tarefa equivalente a 50 m². “Esse aqui é o trabalho da sereia”, brincou uma das lavradoras no meio das vozes a roçar o mato bravo. “Junta um maxixe ali pra botar no feijão”, disse outra. O trabalho normal segue, diariamente, das 6h30 às 11h. “Nós somos trabalhadeiras, hein?”.
NA LIDA DO DIA A DIA
As mulheres da vila Silva, em Marapanim dividem o tempo entre o trabalho na roça e os ensaios e apresentações do grupo Sereias do Mar
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VIDA EM COMUNIDADE
“Sou apaixonada pelo carimbó. Choro! Quando eu toco, lembro das coisas. Choro!” DONA MIMI
CARIMBOZEIRA DE MARAPANIM
MATRIARCA
Júlia Freire, a Dona Mimi, aprendeu carimbó observando os homens da família. Hoje, é referência cultural na comunidade onde mora.
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A roça ficava um pouco além da rua principal da vila Silva, cujo nome advém dos primeiros ocupantes da área. Foi por lá que os primeiros Silva chegaram para cultivar as terras, intitulando a área de Santa Maria do Paramaú. Isso tudo quem conta é Maria Nilse, 68, tataraneta do primeiro Silva. No sábado, naturalmente, o clima era desértico nas ruas do lugar, ainda mais durante a sesta, sagrada por lá. Mas a vila já não é tão vila assim com suas pouco mais de 200 famílias. A escola oferece o ensino primário, até a quinta série do ensino fundamental. De lá até o ensino médio, só na vila Mauí, alguns quilômetros estrada adentro. Posto de saúde, também na vila Mauí. “Se marcar com antecedência, tem médico, sim”, conta Francisca Miranda, 72, outra sereia agricultora. Nas mesas, tem peixe frito e cozido, galinha caipira que zanzam pelas ruas e carne de gado no comércio. Apesar de fundado por mulheres, organizado e gerido por elas, tendo como tema principal a história daquelas mulheres, há um homem no grupo. “É o boto”, apelidam. É o Raimundo Teixeira Neves, 42, que toca um saxofone AGOSTO DE 2015
alto no grupo. Durante a visita, ele ficou por lá, com um banjo artesanal nas mãos: corpo de madeira e pandeiro, linhas de pesca e uma palheta de embalagem de plástico. “Elas me convidaram, eu toco mesmo”, contou Raimundo, que é casado com Suzara Freire, 32, lateral-esquerda do Vila Real, o time de futebol feminino da vila Silva, assim como a Cleonilda Gonçalves, curimbozeira e goleira da equipe. No sábado, dia antes do show, teve jogo no campo lá da estrada.
FESTIVAL
No domingo do festival, elas seguiram ainda à tarde num ônibus e numa van modelo kombi. “Passaram o som” às 15h e, então, se concentraram numa escola ao lado do palco até a hora da apresentação, à noite. Subiram ao palco para a disputa. Ao fundo, lá estava a Dona Mimi, sentada ao lado do curimbó, marcando com o pauzinho no tronco do instrumento. “O baque do pauzinho esconde o erro do baque do carimbó”, havia avisado a velha sereia no dia anterior. Se houve erro, não deu pra ouvir. O grupo não apareceu entre os vencedores. Um pouco frustrante, é bem
verdade. Mas deixaram de lado a competição. No dia seguinte, na segunda-feira, voltamos à vila. As sereias tinham algum trabalho no roçado. Perguntei a elas sobre o que mudou desde a criação do grupo. Com seu ar sério, Dona Bijica iniciou. “De lá para cá, mudou muito, tem mais participação das mulheres”. Participação das mulheres. Com um discurso curto, “apenas” mais participação das mulheres. Não é pouca coisa. As Sereias receberam uma proposta para tocar em São Paulo, mas ainda não fecharam o show. Estão avaliando. “A gente está sendo vista no Brasil inteiro. Isso é nossa cultura, que vem da raiz das nossas famílias”, completou a Bijica. Vão seguir os shows por Maracanã, Barcarena, Magalhães Barata, São João da Ponta e toda a região do Salgado. Fosse vivo, Vicente Salles, o folclorista e pesquisador paraense, certamente avistaria um bom objeto de estudo. Mas não só uma boa pesquisa. Elas vão além. Poderíamos por aqui ficar falando sobre tudo o que o grupo Sereias do Mar é, mas preferimos as palavras de Dona Bijica: mais participação das mulheres...
ARTE, CULTURA E REFLEXÃO FERNANDO SETTE
PENSELIMPO
SONHOS DE MENINO
O ARTISTA CIRCENSE ANTONIO DO ROSÁRIO INTERPRETA O PALHAÇO BLACK NOS PALCOS DE BELÉM E TRAZ MEMÓRIAS E APRENDIZADOS NO ESPETÁCULO “QUER BOLACHA?” PÁGINA 58
NAS QUEBRADAS O rapper MC Pelé do Manifesto defende sua opinião através das rimas fortes e carregadas de críticas sociais. PÁG. 54
EXEMPLO A escritora Yara Cecim começou a
CLIMA O aquecimento global deve acender escrever profissionalmente aos 60anos, tornando- o sinal de alerta nas discussões em todos os se uma referência à literatura paraense. PÁG.60 grupos sociais ao redor do planeta. PÁG.66
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DEDO DE PROSA
A força da rima MC PELÉ DO MANIFESTO NÃO SE CHAMA ASSIM À TOA. AO ESCOLHER O NOME ARTÍSTICO, O RAPPER ALLAN ROOSEVELT DECIDIU IMPRIMIR EM SUA MÚSICA A REALIDADE DOS BAIRROS PERIFÉRICOS DE BELÉM, DANDO VOZ À JUVENTUDE MUITAS VEZES MARGINALIZADA PELA SOCIEDADE. TEXTO VITO GEMAQUE FOTOS FERNANDO SETTE 4 • REVISTA AMAZÔNIA VIVA •
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A
s rimas fortes falando sobre discriminação racial e a vida na periferia são os principais temas abordados nas músicas de Allan Roosevelt, de 23 anos, morador do bairro da Cremação, em Belém. O nome de batismo talvez seja menos conhecido que o artístico, MC Pelé do Manifesto. Ao contar em suas músicas a vida dos moradores do bairro, e, principalmente, dos jovens, o rapper ganhou notoriedade no cenário nacional. A música “Eu Sou Neguinho”, do álbum Gambiarra Periférica, seu primeiro lançamento, já foi visto mais de 12 mil vezes na internet no site Youtube. O reconhecimento de sua arte é revelado até em um breve passeio pelo bairro do Comércio, em Belém, quando um vendedor de uma loja de eletrodomésticos saúda o artista pela boca de ferro. O vendedor tem o comportamento padrão de todo fã: dá um abraço, elogia a música, faz uma selfie e deseja perseverança e sucesso para seguir em frente. Para MC Pelé do Manifesto, a força que vem diretamente das ruas é a inspiração para compor. O rapper, formado nas “batalhas” de MCs da praça Floriano Peixoto, no bairro de São Brás, está produzindo o segundo álbum da carreira. O primeiro disco já está disponível gratuitamente na internet, no link soundcloud.com/pel-do-manifesto para ouvir e baixar. Mesmo depois de dois shows na noite anterior a esta entrevista, o cansaço não venceu MC Pelé do Manifesto, que conversou com a Amazônia Viva, demonstrando a garra para seguir em frente na batalha do dia a dia. Como surgiu o MC Pelé do Manifesto? Foi em 2008, quando eu ganhei um DVD do Gabriel O Pensador. Daí eu decidi que queria me expressar daquela forma. Eu me apaixonei pela cultura hip hop e falei para mim mesmo que eu queria me expressar. Aquela maneira de pensar me motivou muito. AGOSTO DE 2015
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DEDO DE PROSA
Antes de Gabriel O Pensador, tu já tinhas ouvido outras coisas antes? Eu ouvia muito rock nacional, minha base sempre foi de música de protesto. Ouvia Legião Urbana com sete anos de idade. Eu comecei a ver que a minha vertente era essa - a música de protesto, a música com mensagem. Eu reparei que as tuas músicas têm muito esse caráter de protesto, mas também têm um jogo de palavras com a MPB, como Cálice, de Chico Buarque, e músicas do Caetano Veloso também. Tu te inspiras em artistas de outros segmentos para fazer a tua música? As influências são fundamentais. Eu me inspiro no Cartola, no Renato Russo, no Cazuza, Caetano, Chico Buarque, Seu Jorge, entre outros. A minha música é uma música forte. Uma música periférica que aborda as questões sociais e raciais. Eu canto a vida. A tua música, por causa disso, imagino que devas fazer para a periferia. Como ela é recebida nesse ambiente? A periferia ama as minhas músicas, porque eu canto a minha realidade que é a mesma realidade das várias pessoas que moram lá. Então, elas se veem na música. Muita gente chega comigo e fala: “Cara, o que tu cantaste aí é o que eu vivo”. Eu me emociono com isso. E qual é a realidade que tu vives hoje da periferia? A periferia está esquecida. Eu tento trazer uma paz para as pessoas através da música, já que o jovem hoje em dia não tem acesso à escola decente, não tem acesso ao lazer, não vê futuro nenhum a não ser partir para o mundo do crime ou das drogas. O rap tenta resgatar essas pessoas. Como surgem as tuas composições? São pelas inspirações, eu gosto de relatar o que eu vivo, tento escrever no papel. A gente vive um cenário do rap e do hip
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“ A periferia ama as minhas músicas, porque eu canto a minha realidade que é a mesma realidade das várias pessoas que moram lá. Então, elas se veem na música.” hop local que vem se constituindo ao longo do tempo em Belém, ganhando cada vez mais força. O Bruno B.O. é um pouco o exemplo disso. Como tu avalias o cenário do rap local feito em Belém, no Pará e no Norte? Hoje o rap local está muito forte, está em uma crescente muito grande. O rap evoluiu muito nesses últimos dois anos, muito em função das batalhas de MCs, que estão sendo organizadas aqui em Belém. O rap de Belém é um dos mais promissores do Brasil, não sou eu que estou falando é a galera de fora, do sul e do sudeste, que organiza o rap há mais tempo. Eles falam que o rap daqui está muito grande. A gente observa pelo número de MCs que estão chegando ao movimento e pela qualidade das músicas também. A batalha de MCs requer muita destreza com palavras, habilidade para rimar, improvisar a todo momento. Como tu te preparas para isso? Com muito treino e muita leitura para conhecer novas palavras, porque a partir do momento que tu conheces
novas palavras, ganhas a destreza para tratar de novos assuntos. Por isso, a leitura é tão importante para conhecer os assuntos. Sem treino a pessoa não consegue desenvolver uma rima boa. A gente andou rapidamente pelo Comércio e algumas pessoas te reconheceram. Como é ser reconhecido? Isso já está sendo normal na tua vida? Ultimamente está sendo normal, sim, devido ao vídeo que estourou em todo o Brasil. Isso para mim é bom, o reconhecimento da galera é saber que tu estás fazendo um trabalho bom, um trabalho direito. Isso é melhor que qualquer cachê, esse reconhecimento e o brilho no olhar das pessoas que vêm falar contigo, tocam na tua mão, dizem que são teus fãs e a gente percebe a sinceridade no olhar de cada um.
A tua música mais conhecida é “Eu sou neguinho” que trata sobre a temática racial e do preconceito. O que tu podes falar sobre essa música? A música surgiu no comecinho de 2009. Basicamente é assim, eu tinha observado que o Gabriel O Pensador tinha uma música que falava sobre racismo, e os Racionais MC’s tinham uma música também chamada “Nego Drama”. Então, eu decidi falar um pouco daquilo que eu vivia. Sobre o preconceito, que eu convivia tanto na escola, quanto na rua, quando eu entro numa loja, eu decidi expor aquilo que eu vivia. E a música acabou ganhando uma notoriedade que eu nem imaginava por causa da letra que é muito forte. Hoje, ela é minha principal música tanto que eu escrevi há seis anos e tenho que cantar em todo show.
Tu achas que o Brasil avançou em algum aspecto no sentido da igualdade racial e social? Cara, essa parada das cotas sociais é algo que defendo muito, só que a gente não pode se basear somente nelas. Tem que ter o melhoramento da educação pública para que no futuro a gente não possa precisar de cotas. Só que hoje é necessário elas são necessárias porque a maioria dos negros é de escola pública e a gente sabe que a qualidade do ensino não se compara ao da escola privada. Também tem a própria aceitação da sua cor, porque hoje em dia a gente vê muito jovem negro que ingressa no movimento hip hop, que aceita o seu cabelo, aceita a sua pele, isso é muito importante. Ao entrarem para instituições de ensino superior eles acabam se aceitando como negros. Hoje, ser negro deixa de ser vergonha e passa a ser normal.
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AUMENTE O SOM
Ouça “Eu sou Neguinho”, de MC Pelé do Manifesto
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ARTE PESQUISADA
A vida em Q piruetas TEXTO NATÁLIA MELLO FOTO CARLOS BORGES
QUER BOLACHA?
O artista circense Antônio Marcos do Rosário, o palhaço Black, apresenta um espetáculo que é reflexo de sua vida
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uando o pensamento é inebriado pela magia do circo, a trilha sonora que sincroniza com o arremessar dos malabares e as repentinas acrobacias parecem vir das entrelinhas da música “Piruetas”, de Chico Buarque. Hoje, cada movimento da performance de Antônio Marco do Rosário, o AM, se encaixa perfeitamente entre as estrofes da singela canção popular. Contudo, lá atrás, com o despertar de seu encantamento pela arte circense, nasceu um palhaço demasiadamente inusitado: “Black”. Despido de cores, brilhos e embalado pelos acordes de Kiss e Ozzy Osbourne, seus rastros deixavam risos com vestígios de rock n’ roll. “Eu não tinha nenhuma experiência antes. O meu palhaço surgiu roqueiro, punk, isso veio da minha adolescência. A partir do Kiss, montei minha primeira maquiagem, o homem-morcego. Me vestia todo de preto, de bermuda rasgada. Com o tempo, o estilo punk ficou só no jeito do Black ser e olhar as coisas. Fui mudando, mas continuo ouvindo rock”, lembra AM, cuja vida ele nem imaginava dar tamanha reviravolta após o primeiro curso de teatro de rua com técnicas circenses e arte clown, feito ainda em 2002, na Fundação Curro Velho. “Meu foco era ser médico veterinário, mas me apaixonei por essa atividade, que me permite estar sempre pulando, me pendurando”, conta. Depois da primeira oficina, já dominando um pouco de acrobacia, malabares, perna de pau e pirotecnia, AM optou seguir os rumos circenses e se qualificar ainda mais. Ele foi, então, convidado para um estágio de três meses no grupo dos Palhaços Trovadores. Daí o ponto de partida para uma carreira de sucesso na profissão do riso. E a pesquisa não parou desde então. Ao passo que aprofundava suas
técnicas, mais AM se via envolvido pela arte. O relógio do tempo contou oito anos, até ele alçar voos mais altos, se inscrevendo em um edital da Fundação Nacional das Artes (Funarte) em 2010. “Fui aprovado em uma das 15 bolsas, o único da região Norte. Fiquei quatro anos no Rio de Janeiro, estudando na Escola Nacional do Circo. Lá tive a sorte de realizar um dos meus maiores sonhos, que era conhecer os melhores palhaços brasileiros. Luiz Carlos Vasconcelos, o palhaço Xuxu; Teófanes Silveira, o Biribinha; Pepe Nuñez, que é uruguaio. Eles são como uma fonte de inspiração”, conta, sem esconder a satisfação. A inquietude e a ânsia pelo movimento constante ajudaram a tecer os fios que conduzem à personalidade de Black. A cada oficina, uma nova descoberta para o palhaço. Colocar o nariz vermelho é como enxergar através de um filtro único, e se permitir lançar um olhar distinto sobre aquele momento e aquele espetáculo que está sendo vivenciado. “O palhaço está em constante construção, ele se faz ao longo de um tempo. A cada encenação, ele adquire capacidade de ver as coisas de outro ângulo, por isso, quanto mais velho o palhaço, melhor”, explica Cleice Maciel, coordenadora do projeto Tem Gente na Casa, realizado em Belém. A iniciativa ocupa casas para incentivar a arte e contribuir com a formação de plateia. “A casa se tornou um espaço cultural para a cidade”, completa. A máxima de que o palhaço é uma eterna construção é verdadeira, segundo AM, por isso a sede por vivenciar novas experiências. Ainda no Rio, ele participou de aulas na Escola Livre de Palhaços. “Grandes mestres deram aula para a gente. Isso foi um marco para o meu trabalho. Em vários momentos, precisamos vivenciar para reinventar. Não só a tradição do circo, mas envolvendo o teatro, a música, utilizar todas as linguagens possíveis em um número”, diz.
de elementos que só ele pode carregar: suas lembranças pessoais. Com direção de Suani Corrêa e duração de cerca de 50 minutos, a apresentação solo tem um enredo com memórias do artista que se confundem com as do palhaço Black e, por trás dos personagens encenados no palco, estão figuras importantes da família do homem atrás da maquiagem e do nariz vermelho. “É uma homenagem à minha família, meu pai, minha mãe e meu tio. O nome, ‘Quer Bolacha?’, é porque muitas vezes eu chegava à noite e a minha mãe me esperava com café e perguntava se eu queria bolacha, foi algo que ficou na minha cabeça”, conta o artista. “Você não ri de uma pessoa, ri dos três juntos”, resume. “Uma das grandes fontes de pesquisa dele é o observar dos três idosos. No final, você vê a imagem e consegue capturar a essência do que o palhaço apresentou”, completa Cleice Maciel. AM recebeu a reportagem da Amazônia Viva em meio a alguns dos elementos utilizados no espetáculo, entre eles, um telefone e um banco de madeira. A essência do número remonta a um simbolismo poético pertencente à identidade local. A técnica de trapézio, por exemplo, foi transportada para um dos principais ícones do imaginário regional paraense: a rede. Nela, o palhaço literalmente deita e rola, salta e gira. Para contagiar e atrair o público para o seu mundo, Black termina a entrevista com um convite: quer bolacha?
ESPETÁCULO
Projeto Tem Gente na Casa ocorre toda última semana de cada mês. A Casa dos Palhaços fica na travessa Piedade, 533 - Reduto, Belém. Telefone: (91) 3086-6424.
O espetáculo “Quer Bolacha?” surgiu assim, como um desabrochar do trabalho de pesquisa desenvolvido por AM, adicionado
SERVIÇO
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MEMÓRIAS BIOGRÁFICAS
Yara Cecim 1916-2009
Abençoada pelas sereias amazônicas TEXTO ARNON MIRANDA ILUSTRAÇÕES JOCELYN ALENCAR
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L
endária desde o batismo. Assim se pode definir Yara de Araújo e Souza Cecim, escritora que nasceu em Santarém no dia 13 de maio de 1916, região cercada de diversas lendas amazônicas. Graças a essas histórias, a mãe da contista, Honorina, escolheu o nome da filha. Ela teve complicações no parto, e pediu às sereias que acreditava rondar a casa dela, em um sítio às margens do rio Tapajós, que lhe garantissem a vida de sua criança ao nascer. Em agradecimento, a professora de piano batizou a menina com o nome da rainha das águas: Yara. Foi vivendo em Santarém, com a família, que a escritora tirou todos os elementos característicos de seu estilo literário como contista da região amazônica. Com o incentivo dado pelos pais à leitura, Yara sempre gostou de escrever desde muito nova. Depois de mudar com a família para Belém, Yara casou-se com o treinador de futebol Miguel Cecim e teve três filhos: Vicente, Elizabeth e Paulo. Segundo o filho, o poeta e jornalista Vicente Cecim, Yara sempre quis estar mais perto dos livros. Mas ao priorizar a dedicação à família, ela resolveu se dedicar inteiramente à literatura ao completar 60 anos de idade. Após tomar a decisão, Yara viajou para a Bahia, onde morou com Vicente durante dois anos. Lá, começou a escrever seus contos, que não tardaram a serem reconhecidos. De volta a Belém, a escritora recebeu menção honrosa pela Academia Paraense de Letras no concurso Samuel Wallace Mac Dowell, de 1989, com o livro “Taú-Taú e Outros Contos Fantásticos da Amazônia”. Yara Cecim também recebeu da APL o prêmio Terêncio Porto. No campo da poesia, ela também escreveu as obras “Folha de Outono”, em 1983, e “Arebescos”, em 1991. Dois anos depois reuniu contos no livro “Histórias Daqui e Dali” e, em 2004, o livro “Lendário” reuniu as melhores obras da prosadora. Yara Cecim também se dedicou às artes plásticas e à pesquisa da realidade amazônica, além de fazer parte da Associação Paraense de Escritores, da Associação de Jornalistas e
Escritoras do Brasil, da Academia Castro Alves de Letras e de outras associações nacionais e internacionais de ciências, arte e cultura. A experiência lhe rendeu diversos prêmios e medalhas. A característica do texto de Yara Cecim trazia na essência as experiências que teve e as histórias que ouvia sobre as lendas da Amazônia. Antes de serem escritos, os contos apresentados aos filhos, que ficavam maravilhados. Vicente Cecim diz que o cenário sempre transitava entre o sonho e a realidade, e que tanto nas histórias que ouvia com os irmãos quanto nos livros escritos, era difícil saber se o personagem estava sonhando ou acordado. O escritor lembra que o conto do Taú-Taú era um dos preferidos dele e dos irmãos. A história é sobre um homem misterioso e baixinho, que surge num acampamento de seringal onde só estava o cozinheiro preparando a comida dos trabalhadores. O homenzinho pergunta quantos trabalhadores voltariam da floresta e antes de ir embora, oferece para o cozinheiro uma enorme melancia, para ser repartida entre todos, quando voltassem. Desconfiado, o cozinheiro não comeu da melancia, mas todos os seringueiros comeram. Não tardou para que eles caíssem no sono. E, imediatamente, uma clareira surgiu na mata com a ação de um grupo de homens-macacos de todos os tamanhos, cujo líder era aquele mesmo homenzinho disfarçado, que planejou a armadilha. As criaturas devoraram os trabalhadores. Ao contar o número de homens, o líder do bando ordenou que encontrassem o homem que faltava, o cozinheiro, que conseguiu se esconder no alto do telhado de palha do acampamento. Segundo Vicente Cecim, Yara também tinha como marca pessoal a solidariedade. Ajudava quem precisasse mesmo sem conhecer. Fazia partos e dava atenção a toda pessoa que conversava com ela. Com a idade, os esquecimentos vieram e, em 26 de outubro de 2009, aos 94 anos, a escritora de Santarém, afilhada das sereias, faleceu, mas segue tão viva como a lenda que a batizou. AGOSTO DE 2015
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AGENDA TAMARA SARÉ / SECULT / AGÊNCIA PARÁ
REDAÇÃO Os interessados em participar do concurso de redação da Universidade Federal do Pará tem até o dia 30 de agosto para se inscreverem. Com o tema “O papel do aluno da UFPA frente ao desafio de uma Belém sustentável”, a ideia do concurso fundamenta-se na possibilidade de que as melhores propostas possam contribuir com soluções viáveis para a problemática de destinação dos resíduos sólidos na Região Metropolitana de Belém, como uma forma de participação dos alunos da UFPA para o Projeto Belém 400 Anos. Informações pelos telefones (91) 3201-7370, 3201-8134 ou pelo e-mail coletaseletiva@ufpa.br.
QUÍMICA O 14º Encontro de Profissionais da Química da Amazônia (14º EPQA) será realizado no período de 18 a 21 de agosto, em Belém. No período de 19 a 21 a programação será na UFPA, nas dependências do prédio do Programa de Pós Graduação do Instituto de Tecnologia – PPGITEC. O tema do Encontro será: “A Atuação dos Profissionais da Química
INOVADORES
ARTE PLÁSTICA
Frente aos Desafios Atuais”. A programação completa está no site www.crq6.org.br.
As obras de três artistas paraenses - Ruma de Albuquerque, Emanuel Franco e Geraldo Teixeira – estão reunidas na Mostra “Experientia”, que segue até o dia 16 de agosto, no Museu de Arte Contemporâ-
AGROECOLOGIA
nea, da Casa das Onze Janelas. Os trabalhos podem ser vistos de terça a sexta-feira, sendo às terças a
De 28 de setembro a 1º de outubro será reali-
entrada gratuita e, nos demais dias custa R$ 4, com meia entrada para estudante.
zado o IX Congresso Brasileiro de Agroecologia
Mais informações: (91) 4009-8821 / 8825.
(CBA), no Hangar. A programação contará com palestras, seminários, mesas-redondas, ofici-
PRÊMIO DO MIT
nas, entre outros. Temas como: Sustentabili-
Até o dia 27 de agosto, os brasileiros podem se candidatar ao Prêmio Inovadores com Menos de 35, promo-
dade socioambiental e enfoque amazônico
vido pela MIT Tecnology Review, publicação do Instituto de Tecnologia de Massachusetts, e é considerado
em agroecologia estarão em pauta no evento.
o de maior reconhecimento mundial aos jovens inovadores. O concurso é feito em parceria com o Banco In-
Inscrições pelo www.cbagroecologia.org.br.
teramericano de Desenvolvimento (BID). Mais de 150 jovens já tiveram seus projetos premiados na América Latina. As inscrições podem ser feitas pelo site www2.technologyreview.com.
CIÊNCIA Até o dia 17 de setembro estão abertas
OCEANOGRAFIA
as inscrições para o 11º Prêmio Santander
A XXVII Semana Nacional de Oceanografia ocorrerá do dia 17 ao dia 22 de agosto, com o tema: “Interações
Universidades, que dará prêmios aos melhores
de Norte a Sul: A Amazônia como um Cenário Oceanográfico”, e terá como objetivo promover a interação
projetos de inovação científica, em gestão e
entres o conhecimento científico e cultural das diversas áreas das Ciências do Mar e da Terra. As inscrições
apoio estudantil. São quatro modalidades de
podem ser feitas por meio do site www.sno2015.com.
premiação: “Empreendedorismo”, “Universidade Solidária”, “Destaques do ano” e “Ciência
ENFERMAGEM
e Inovação”. Para 2015, na 11ª edição do prêmio,
O Instituto de Ciências da Saúde da Universidade Federal do Pará (ICS/UFPA) está com inscrições abertas,
estão previstos mais 2 milhões de reais para
até 14 de agosto, para a Especialização em Enfermagem Oncologia Pediátrica, destinada a graduados em
os vencedores, além de bolsas de estudo em
Enfermagem; e para a Especialização em Alimentação Escolar, curso ofertado para nutricionistas, até 21 de
instituições internacionais. Podem se inscrever
agosto. Para ambas as especializações, as inscrições devem ser feitas na Secretaria de Pós-Graduação do
estudantes e professores pesquisadores, por
ICS/UFPA. Outras informações podem ser obtidas pelos telefones (91) 3201-6816, 3201-6843.
meio do site universidades.ciatech.com.br.
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FAÇA VOCÊ MESMO
Porta recado de pregadores Já pensou num uso diferente para os pregadores de roupa, aqueles de madeira, que ficam na área de serviço ou no quintal de casa? Com os pregadores e outros materiais, você vai confeccionar um porta recado, utensílio IN M
A
dos mais necessários em dias de correria. Esse tipo de artesanato e muitos outros podem ser conhecidos através das oficinas oferecidas gratuitamente pelo Curro Velho, que volta das férias a partir do dia 17 deste mês.
DO QUE VAMOS PRECISAR?
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5 pregadores de roupa de madeira 2 pedaços de 20x25 cm de papelão de embalagem 5 potes pequenos de tinta à base d’água (branco, preto, vermelho, azul e amarelo) 1 tesoura com ponta arredondadas 1 rolo de fita gomada 1 tubo de cola branca 2 pincéis (um fino e um largo).
MARCELO LOBATO A HELENA SARIA WALLACE FERREIRA LUCIANA MORAES
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ATENÇÃO: Essa atividade pode ser feita por crianças, desde que acompanhadas por um adulto responsável
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Comece pintando a face de bonequinhos nos cinco pregadores de roupa.
Faça a gravata e a listra da calça pra concluir. É isso! Os bonequinhos estão prontos.
Pinte a base do papelão na cor desejada.
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Continue a pintura, desenhando e pintando os olhos, o cabelo e a boca dos seus bonecos.
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Vamos para a segunda parte. Recorte dois pedaços de papelão do mesmo tamanho: 20 x 25 cm.
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Quase lá. Com o auxílio de um pedaço de fita gomada, pinte uma barra branca na parte superior do papelão.
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Agora é a vez de vestí-los. Pinte a camisa e a calça dos personagens.
Cole os dois pedaços de papelão, um sobre o outro.
Escreva os dias da semana e cole os bonequinhos um lado do outro. Nasceu! Seu porta recado está pronto.
PARA SABER MAIS Quem quiser conhecer mais sobre técnicas artísticas pode se inscrever nas oficinas Curro Velho, da Fundação Cultural do Pará. Crianças a partir de 12 anos podem participar. A Fundação Curro Velho fica localizada na rua Professor Nelson Ribeiro, nº 287, esquina com a travessa Djalma Dutra, bairro do Telégrafo. Telefones: (91) 3184-9100 e 3184-9109.
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RECORTE AQUI
FAÇA VOCÊ MESMO
LEONARDO NUNES
BOA HISTÓRIA
Ernesto
Era o terceiro rádio da casa. O primeiro durou uma
vida e só saiu da sala, no destaque de sempre próximo à janela, encimado pelo retrato de casamento de Ernesto e Idalina, quando ele, atolado num dos muitos sufocos causados pela falta de dinheiro, não teve escolha e, tomado de uma tristeza doída, levou o aparelho à feira perto do porto para fazer o papel ingrato de vendedor acanhado e sem vocação, desesperado para botar comida na mesa com o dinheiro da venda. Voltou com os dentes trincados, os olhos úmidos e os poucos borós no bolso, sonhando com a volta por cima, com trabalho e um rádio novo, que nem demorou a chegar. Veio a bonança e o segundo rádio, comprado a prazo, mas, bem maior, de móvel brilhante, transistor potente, som cristalino. E a harmonia voltou para casa em ondas com o noticiário, as novelas, os shows de comédia e calouros, o futebol, as cantoras e cantores, a música, enfim. E, colado nele, absorto, o homem soube do começo da guer-
ra, da bomba no Japão, dos presidentes do golpe, do campeonato no México, das primaveras do outro lado do oceano, dos invernos brancos de nevascas ferozes, das catástrofes naturais e da grande novidade, a televisão, nas lojas da cidade. Comprou uma em preto e branco, tempos depois, muito mais para as crianças que grudaram na tela e pediram outras, exigindo o mundo colorido na sala de estar, até cresceram, tomarem rumo e largarem o televisor, jamais ligado pelo pai, amante incondicional do rádio. O amigo inseparável de Ernesto com o peso dos anos deu prego sem chance de reparação, e foi parar no quartinho de tralhas. O substituto era um modelo parecido, de qualidade sonora idêntica, no entanto, adquirido em antiquário porque rádios como aquele não se via mais no mercado comum, dominado pelos compactos de plásticos e mica, preto e cromado, multicoloridos, cheio de chiados, a preços
mínimos, sem charme algum. Quando partiu deixando Idalina, e a casa foi vendida, a nova dona se encantou encontrou a máquina num canto, empoeirada, deixada como espólio pelos antigos proprietários, que nunca souberam que era uma máquina de imaginar, não de emitir sons, como julgavam. Ela tentou ligálo, inutilmente, no primeiro dia de arrumação. Semanas à frente compreendeu que a serventia para ele seria agora de outra natureza, então, retirou as peças do interior com engenho e zelo, e aproveitou a bonita carcaça para plantar as flores, vivas e lindas. E ao rádio de Ernesto, o terceiro e último, coube permanecer mudo como vaso, mas pleno a enfeitar a vida. AGOSTO DE 2015
ANDERSON ARAÚJO
é jornalista, escritor e blogueiro
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NOVOS CAMINHOS
aquecimento global e responsabilidade Foram necessários três séculos para que o conceito de desenvolvimento englo-
THIAGO BARROS
é jornalista, mestre em Planejamento do Desenvolvimento Sustentável (NAEAUFPA) e professor da Universidade da Amazônia @thiagoabarros
basse a dimensão de crise ambiental e início dos debates sobre sustentabilidade e capacidade de suporte. Isto ocorreu a partir dos anos 1980, quando emissões de gases do efeito estufa e outros tipos de poluição começaram a interferir drasticamente no equilíbrio da biosfera. Atualmente, sentimos os impactos do aquecimento global. Não existiria vida sem o efeito estufa, mas as atividades produtivas ao longo dos últimos 100 anos têm provocado a emissão de uma quantidade tão grande de gases, como o dióxido de carbono, ao passo de o fenômeno intensificar ainda mais a fixação de calor na atmosfera. Esta situação é demonstrada pelos relatórios do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), da ONU, e pela Organização Meteorológica Mundial. Estudos de vários centros de pesquisa e universidades do mundo comprovam a ligação do aquecimento global com o aumento do nível do mar, derretimento das calotas polares e mudança nos padrões de precipitação e dos fenômenos El Niño e La Ninã, que promovem enchentes e secas nunca antes vistas em várias regiões um exemplo nacional recente é a crise da água em São Paulo. Além disso, este desequilíbrio nas relações entre os organismos e os fatores biológicos e físicos – por exemplo, desastres climáticos – podem comprometer a agricultura, aumentar o número de epidemias e pandemias e extinguir espécies, apontam renomados especialistas, baseados em estu-
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dos feitos em vários países. Os níveis atmosféricos de dióxido de carbono, metano e outros gases no globo são resultado, sobretudo, da queima de combustíveis fósseis – carvão, petróleo e gás natural -, corte e queimadas de florestas – este item com concentração preocupante em toda a região amazônica. Apesar das iniciativas internacionais para a redução de emissões, como o Protocolo de Kioto e a utilização do crédito de carbono, cada molécula de CO2 permanece na atmosfera por um século antes de ser assimilada. Assim, os níveis de concentração do gás continuarão a subir, reforçando o cenário pessimista já mostrado por pesquisas que comprovaram o aumento de 0,5°C na temperatura mundial no século passado. Recentemente, a Agência Oceânica e Atmosférica (NOAA) e a Nasa fizeram o alerta: 2014 foi o ano mais quente já registrado na história, com temperatura média global 0,69°C mais alta que a registrada no século 20. Relatórios do IPPC também apontam uma curva ascendente de temperaturas médias nos últimos anos. Modelos apresentam uma tendência de elevação da temperatura global entre 1,4 a 5,8 graus Celsius até o final deste século, o que provocaria degelo das neves eternas nos picos das grandes montanhas, encolhimento da camada de gelo da Groelândia, elevação do nível do mar – com a inundação de comunidades costeiras e áreas urbanas importantes – e danos irreparáveis ao ecossistema amazônico, gerando desdobramentos em todo o planeta. Sem dúvida, este quadro é um chamado à responsabilidade.
Estudos de vários centros de pesquisa e universidades do mundo comprovam a ligação do aquecimento global com o aumento do nível do mar
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