Revista Amazônia Viva ed. 53 / janeiro de 2015

Page 1

ESPECIAL BELÉM 400 ANOS

REVISTA ENCARTADA NO JORNAL O LIBERAL. NÃO PODE SER VENDIDA SEPARADAMENTE.

JANEIRO 2O16 | EDIÇÃO NO 53 ANO 5 | ISSN 2237-2962

BELÉM E SUA MEMÓRIA DIGITAL A história dos 400 anos da capital paraense se perpetua no tempo com a ajuda de internautas que reproduzem fotos e documentos antigos para postar nas redes sociais, conquistando seguidores, curtidas e compartilhamentos

RIBEIRINHOS

Parcela dos belenenses esquecida pelo poder e pela sociedade

BAIRROS

As áreas urbanas mais icônicas da Cidade das Mangueiras

CULTURA

Haroldo Maranhão, o escritor que projetou Belém no mundo literário




EDITORIAL

PUBLICAÇÃO MENSAL DELTA PUBLICIDADE - RM GRAPH EDITORA JANEIRO 2016 / EDIÇÃO Nº 53 ANO 5 ISSN 2237-2962 Presidente LUCIDÉA BATISTA MAIORANA Presidente Executivo ROMULO MAIORANA JR. Diretor Jurídico RONALDO MAIORANA Diretora Administrativa ROSÂNGELA MAIORANA KZAM Diretora Comercial ROSEMARY MAIORANA Diretor Industrial JOÃO POJUCAM DE MORAES FILHO Diretor de Marketing GUARANY JÚNIOR Diretor JOSÉ LUIZ SÁ PEREIRA

Menino serviu de modelo para fotografia em frente à praça do Relógio, no início do século XX

Não podemos nos esquecer de Belém Esta primeira edição de 2016 da

Graças ao trabalho de belenen-

revista Amazônia Viva está sendo

ses e outros cidadãos que ado-

publicada um dia após as come-

taram a terra como lar, a capital,

morações dos 400 anos de Belém.

com sua origem e seu futuro, está

Mesmo assim, resolvemos produ-

presente em iniciativas e projetos,

zir uma edição inteiramente dedi-

nos sonhos e desejos de uma Be-

cada à capital paraense mostrando

lém melhor, mais justa, mais fra-

que a data não deve se resumir a

terna, mais sã.

apenas um dia de festejos.

FELIPE JORGE DE MELO Editor-chefe 4 • REVISTA AMAZÔNIA VIVA •

REPRODUÇÃO / FAUUFPA.ORG

EM ALGUM LUGAR DO PASSADO

Nossa reportagem de capa bus-

Fizemos uma série de reporta-

cou aliar passado, presente e fu-

gens, com foco na história, ciência,

turo. Tendo a internet como pano

cultura e sustentabilidade, tendo

de fundo, entrevistamos donos de

como gancho - como dizemos no

páginas em redes sociais que ali-

jargão jornalístico - a memória da

mentam diariamente a web com

cidade. Belém não pode cair no es-

pesquisas, recortes e citações so-

quecimento. Com quatro séculos

bre a história de Belém. E o resul-

de “vida” e cheia de desafios sociais

tado foi a revelação de um amor

e de infraestrutura, algo comum às

grandioso pela cidade aniversa-

grandes metrópoles brasileiras, a

riante, um sentimento desprendi-

“Cidade das Mangueiras” precisa

do de qualquer interesse pessoal,

ter sua história preservada, divul-

com vista apenas no zelo pela Ci-

gada, contada e recontada.

dade Morena.

JANEIRO DE 2016

Conselho editorial RONALDO MAIORANA JOÃO POJUCAM DE MORAES FILHO GUARANY JÚNIOR LÁZARO MORAES REDAÇÃO Jornalista responsável e editor-chefe FELIPE JORGE DE MELO (SRTE-PA 1769) Coordenação geral LUCIANA SARMANHO Editor de arte FILIPE ALVES SANCHES (SRTE-PA 2196) Pesquisador e consultor técnico INOCÊNCIO GORAYEB Colaboraram para esta edição O Liberal, Agência Pará de Notícias, Agência Brasil, Museu Paraense Emílio Goeldi, Universidade Federal do Pará, Universidade do Estado do Pará, Universidade Federal Rural da Amazônia, Fundação Cultural do Pará - Oficinas do Curro Velho (acervo); Camila Machado, Fabrício Queiroz, Victor Furtado, Anderson Araújo, Moisés Sarraf, Sávio Oliveira, Dominik Giusti, Ana Paula Mesquita, Gabriela Azevedo, João Cunha, Fernanda Martins, Brenda Pantoja (reportagem); Moisés Sarraf e Fabrício Queiroz (produção); Fernando Sette, Roberta Brandão, Carlos Borges, Tarso Sarraf (fotos); Thiago Barros (artigo) André Abreu, Leonardo Nunes, Jocelyn Alencar, Sávio Oliveira (ilustrações); Alexsandro Santos (tratamento de imagem). FOTO DA CAPA Reprodução de jornal histórico pelo celular, por Tarso Sarraf AMAZÔNIA VIVA é editada por Delta Publicidade/ RM Graph Ltda. CNPJ (MF) 03.547.690/0001-91. Nire: 15.2.007.1152-3 Inscrição estadual: 158.028-9. Avenida Romulo Maiorana, 2473, Marco - Belém - Pará.

amazoniaviva@orm.com.br

PRODUÇÃO

REALIZAÇÃO

REVISTA IMPRESSA COM O PAPEL CERTIFICADO PELO FSC - FOREST STEWARDSHIP COUNCIL


NESTA EDIÇÃO

EDIÇÃO Nº 53 / ANO 5

40

Para ficar na memória

Internautas usam as redes sociais para difundir a história dos 400 anos de Belém, postando fotos e documentos antigos sobre a capital paraense CAPA

CARLOS BORGES

FERNANDO SETTE

ROBERTA BRANDÃO

ROBERTA BRANDÃO

36 56 16 48 RIBEIRINHOS

ARTES

A doutora em Desenvol-

O artista plástico Éder

CULTURA

vimento Socioambiental,

HISTÓRIA

Oliveira retrata as pesso-

A produtora cultural Maki-

Leila Mourão de Miranda,

Moradores dos bairros

as “invisíveis” e margi-

ko Akao nasceu no Japão,

afirma que as populações

mais famosos de Belém,

nalizadas da periferia

mas fez de Belém sua

ribeirinhas no entorno

como Dulce Rocque, da

de Belém, procurando

terra natal. Hoje, é um dos

da capital paraense são

Cidade Velha, reconhe-

dar a a elas uma digna

nomes que ajudam a valo-

excluídas das políticas

cem a importância do

visibilidade, muito além

rizar o centro histórico da

públicas e da atenção

lugar onde moram, mas

das manchetes negativas

cidade por meio da arte.

da sociedade.

esperam mudanças.

dos jornais.

QUEM É?

ENTREVISTA

COMUNIDADE

PAPO DE ARTISTA

E MAIS 4 6 7 11 13 14 15 17 17 18 19 19 20 21 25 53 60 62 63 65 66

EDITORIAl AS MAIS CURTIDAS PRIMEIRO FOCO TRÊS QUESTÕES ELES SE ACHAM FATO REGISTRADO PERGUNTA-SE EU DISSE APLICATIVOS CURIOSIDADES DA BIODIVERSIDADE DESENHOS NATURALISTAS CONCEITOS AMAZÔNICOS COMO FUNCIONA CIÊNCIA OLHARES NATIVOS EDUCAÇÃO MEMÓRIAS BIOGRÁFICAS AGENDA FAÇA VOCÊ MESMO BOA HISTÓRIA NOVOS CAMINHOS

JANEIRO DE 2016

• REVISTA AMAZÔNIA VIVA • 5

TARSO SARRAF

JANEIRO2016


ASMAISCURTIDAS DESTAQUES DAS EDIÇÕES ANTERIORES

FERNANDO SETTE

CÂNCER Grande reportagem sobre as novas pesquisas no tratamento contra o câncer (“Uma nova esperança”, Capa, edição nº 52, dezembro de 2015). Os novos estudos são alento para quem sofre com essa doença. Dilermando Oliveira Belém-Pará A reportagem sobre o câncer na Amazônia mostra que devemos cada vez mais valorizar o que é nosso. A cura para todos os males

PAISAGEM DOURADA NO OESTE PARAENSE

A foto aérea de Alter do Chão, em Santarém, feita por Fernando Sette obteve o maior número de “likes” em nosso Instagram, em dezembro

está na natureza. Ana Lúcia Rodrigues Belém-Pará

AKIRA ONUMA

O tema “câncer” foi tratado com maturidade e responsabilidade pela revista Amazônia Viva. Parabéns aos envolvidos. André Bernardes Ananindeua-Pará As pesquisas sobre o tratamento do câncer na Amazônia são muito importantes para o avanço na descoberta da cura da doença. Sílvio Oliveira Belém-Pará

CARTUM UM PRÍNCIPE NA AMAZÔNIA

A charge publicada nas páginas finais da edição passada traduz bem a atual realidade da

A reportagem sobre a parceria entre o Brasil e a Noruega nas pesquisas das mudanças climáticas na região foi a mais curtida no Facebook. A foto do príncipe norueguês Haakon Magno segurando uma preguiça fez o maior sucesso.

na figura do Papai Noel sente os efeitos de suas ações no planeta, gerando o aquecimento global. Emídio Corrêa

CARLOS BORGES

SIGA A AMAZÔNIA VIVA NAS REDES SOCIAIS E COMPARTIHE A EDIÇÃO DIGITAL, DISPONÍVEL GRATUITAMENTE NO ISSUU.COM/AMAZONIAVIVA

humanidade: o consumismo representado

Belém-Pará

Para se corresponder com a redação da Amazônia Viva envie comentários,

fb.com/amazoniavivarevista

dúvidas, críticas e sugestões para o email amazoniaviva@orm.com.br ou escreva

instagram.com/amazoniavivarevista twitter.com/amazviva 6 • REVISTA AMAZÔNIA VIVA •

JANEIRO DE 2016

para o endereço: Avenida Romulo USE UM LEITOR DE QR CODE PARA ACESSAR A EDIÇÃO DIGITAL DE DEZEMBRO

Maiorana, 2473, Marco, Belém - Pará, CEP 66 093-000 ou FAX: 3216-1143.


O QUE É NOTÍCIA PARA A AMAZÔNIA TARSO SARRAF

PRIMEIROFOCO

Chocolate 100% cacau. 100% Belém. PRODUÇÃO ARTESANAL NA ILHA DO COMBU COLOCOU A CAPITAL PARAENSE NA ROTA DA GASTRONOMIA INTERNACIONAL PÁGINA 8 E 9

CULTIVO

SUSTENTABILIDADE

O Pará é o primeiro produtor nacional de pimenta-do-reino, um dos temperos mais usados na gastronomia paraense e contemporânea. PÁG.11

Santarém, no oeste do Pará, foi reconhecido na luta contra o desmatamento e recebeu o certificado de Município Verde. PÁG.13

JANEIRO DE 2016

• REVISTA AMAZÔNIA VIVA • 7


PRIMEIRO FOCO

Na ilha do Combu, a 15 minutos de barco de Belém, onde a maioria dos ribeirinhos do rio Guamá teu seu sustento na produção do açaí, Izete dos Santos Costa, a Dona Nena, encontrou uma fonte de renda que também ganhou o paladar e a gastronomia nacional e internacional: o chocolate 100% cacau. É o chocolate mais puro disponível no mercado atualmente, sem qualquer adição de leite ou açúcar, barrando as versões 85% que são encontradas em poucas chocolaterias famosas. A iguaria orgânica - não recebe quaisquer aditivos ou agrotóxicos, que aumentam o valor nutritivo e antioxidante do cacau - é um dos motivos para a Unesco ter dado a Belém o título de Cidade Criativa da Gastronomia em dezembro. A iguaria era pouco conhecida na própria região, exceto por chefs viajantes, chocólatras-pesquisadores e degustadores de novos sabores. Mas quando o produto começou a ser apresentado em eventos e feiras diversas de gastronomia, como o Festival Internacional do Chocolate e do Cacau da Amazônia, promovida pela Secretaria de Estado de Desenvolvimento Agropecuário e Pesca (Sedap) todo ano em setembro. E desde que chefs locais famosos, como Thiago Castanho, e veículos especializados começaram a descobrir o chocolate da ilha e ajudar na divulgação com receitas próprias, Dona Nena ficou tão conhecida quanto o produto. A produção da “Filha do Combu” é bem artesanal e caseira, da forma que aprendeu a trabalhar com o pai, que plantou uma árvore de cacau no quintal da casa, na ilha. Por semana, ela trabalha com dez quilos de sementes de cacau. Claro, com pouca mão de obra e trabalho sob encomenda para garantir a produção cuidadosa de quem criou 8 • REVISTA AMAZÔNIA VIVA •

JANEIRO DE 2016

FOTOS: TARSO SARRAF

Chocolate gourmet


PRODUÇÃO

O chocolate produzido por Dona Nena, na ilha do Combu, já ultrapassou as barreiras do Estado, e hoje chama a atenção de chefs de várias partes do mundo

a receita, não tem tempo para outra coisa a não ser preparar as barrinhas de 100 gramas (enroladas na folha do cacau, numa embalagem sustentável e elegante, num conjunto chamado “poqueca”), brigadeiro de colher ou embolado, nibs (sementes torradas), licor e chocolate em pó do fruto. A venda dá em torno de 15 quilos por semana nos períodos de safra janeiro a maio e junho a setembro - e na entressafra, a venda direta requer espera. E a fila não é curta. Ou é preciso buscar em lojas especializadas. “Nosso chocolate é gourmet porque é mais saboroso, tem mais pureza, tem sabor mais forte e é único. É feito sem conservantes e tem sementes selecionadas, o que faz toda a diferença em relação aos

que compramos por aí. Para quem achava que não ia fazer dinheiro com chocolate, as coisas estão indo bem!”, comenta dona Nena, orgulhosa dos resultados e da marca que consolidou no mercado gastronômico através de técnicas rústicas de plantio, torra e trituração. Não se intimida ou envergonha em dizer que errou bastante até acertar a receita e que não fazia ideia de que não sabia da qualidade do que tinha desenvolvido. Tudo é possível de se acompanhar in loco, já que conseguir transporte até a casa dela, uma chocolateria aberta quase 24 horas por dia, é fácil e a viagem de barco é rápida não chega a 20 minutos. O Pará, como aponta a Sedap, é

o segundo maior produtor de cacau do País, com 110 mil toneladas de sementes produzidas em 2014, e conta com cooperativas espalhadas pelo Estado que ajudam Dona Nena e mostrar o potencial do chocolate paraense que já faz frente à hegemonia baiana, que lidera a produção cacaueira do Brasil. Hoje são seis marcas e três indústrias só no município de Medicilândia, o berço de projetos pioneiros, como a Cacauway, que já representou o Pará no Salão Internacional do Chocolate em Paris. A produtividade estadual é de 950 quilos por hectare, sendo 80% advindo da agricultura familiar. Atualmente, a área plantada passa de 150 mil hectares, com expansão anual média de 10%. JANEIRO DE 2016

• REVISTA AMAZÔNIA VIVA • 9


PRIMEIRO FOCO AGÊNCIA PARÁ

PA R AE N S E

CADEIRA NA ABC Formado pelo curso de Fisioterapia da Universidade do Estado do Pará (Uepa), em 2002, o pesquisador Givago da Silva Souza foi eleito membro temporário da Academia Brasileira de Ciências (ABC). Atualmente ele coordena o Programa de Pós-Graduação em Doenças Tropicais do Núcleo de Medicina Tropical (PPGDT/NMT), da Universidade Federal do Pará (UFPA) e desenvolve pesquisas em Neurofisiologia. O pesquisador é um dos representantes da Regional Norte da ABC, no quadriênio 2016-2020. A nomeação como membro temporário é o reconhecimento pelo trabalho desenvolvido por jovens pesquisadores em Ciência, Tecnologia e Inovação (CT&I). Os membros temporários têm a oportunidade de estabelecer contato com os membros titulares e com as políticas científicas do Brasil. Além do reconhecimento, a nomeação de representantes da região Norte para ABC oferece muitas oportunidades para o desenvolvimento da pesquisa, da cooperação interinstitucional e da consolidação de parcerias.

FÓSSEIS

“SUPERPATO” Cientistas anunciaram a descoberta de fósseis do dinossauro batizado com

Probrachylophosaurus bergei , com

CIDADES CRIATIVAS

Unesco reconhece gastronomia de Belém A eleição de Belém como cidade membro da Rede de Cidades Criativas da Unesco, órgão da Organização das Nações Unidas (ONU), pode impulsionar ainda mais o desenvolvimento do turismo e das cadeias produtivas ligadas à gastronomia. A confirmação da escolha foi feita em Paris, e anunciada pelo prefeito Zenaldo Coutinho no Palácio Antônio Lemos (abaixo), na capital paraense. Além de Belém, outras 47

cidades de 33 países integram os novos membros. São escolhidas cidades que se tornam símbolo pelo mundo em sete campos criativos: artesanato e arte popular, design, cinema, gastronomia, literatura, artes de mídia e música. Além de Belém, com a gastronomia, apenas mais duas cidades do Brasil aparecem na lista: Salvador (BA), no campo criativo da música, e Santos (SP), no campo do cinema.

cerca de 9 metros de comprimento e distintiva era uma crista óssea triangular no topo de seu crânio. O apelido de “superpato” surgiu do fato de o focinho do Probrachylophosaurus ser grande em comparação ao de outros dinossauros do grupo. Remanescentes menos completos de um segundo indivíduo, mais jovem que o primeiro, também foram localizados nos Estados Unidos. Seus ossos cranianos são similares aos do Acristavus , um dinossauro bico-de-pato de 81 milhões de anos, provavelmente seu ancestral, e do

Brachylophosaurus , que viveu cerca de 78 milhões de anos atrás e deve ser seu descendente. 10 • REVISTA AMAZÔNIA VIVA •

JANEIRO DE 2016

ALESSANDRA SERRÃO / COMUS

cinco toneladas. Sua característica mais


TRÊSQUESTÕES

ECONOMIA

Pará lidera em produção de pimenta-do-reino

Belém de ontem, de hoje e do futuro Nos últimos 400 anos, a capital paraense

tossanitário da Cultura da Pimenta-do-Reino da Agência de Defesa Agropecuária do Pará (Adepará), Wilson Saraiva da Silva, da Gerência de Pragas de Importância de Econômica, a planta é cultivada em mais de 100 municípios no Estado. Tomé-Açu, no nordeste paraense, é o principal produtor nacional, liderando o ranking com cerca de 80% da área plantada da especiaria. O Programa Fitossanitário da Cultura da Pimenta-do-Reino da Adepará atua em oito gerências regionais e nos 18 principais municípios produtores.

passou por diversas transformações culturais, urbanísticas e sociais que a colocam num lugar de destaque no cenário nacional. A arquiteta e urbanista doutora em Desenvolvimento Urbano Helena Tourinho, professora da Unama, faz uma análise da história de Belém e faz projeções para os próximos anos da Cidade das Mangueiras.

Como era a antiga Belém no cenário nacional?

LUCIVALDO SENA / ARQUIVO O LIBERAL

Ao longo de 400 anos, Belém vem exercendo diversos papéis no contexto nacional e regional. Após os anos 1960, com as políticas de integração da Amazônia ao mercado nacional, consolidou seu papel de importante centro de controle e gestão do território. Hoje constitui uma das metrópoles do país, conforme o IBGE.

O que caracteriza a capital paraense de hoje? Belém é uma cidade cheia de contradições. Ao lado de um imenso e valioso patriCULTIVO PARAENSE

A cultura da pimenta-do-reino tem grande importância econômica e social no interior do Estado

mônio material e cultural convivem carências infraestruturais e desigualdades socioespaciais. Junto com os sonhos e projetos de me-

CLIMA

L I XO

Nas pesquisas sobre os impactos das

Pesquisadores suíços fizeram o primeiro

Além disso, não se pode mais pensar Belém

mudanças climáticas nas florestas do

mapeamento global sobre a poluição nos

nos limites territoriais municipais.

planeta, o engenheiro florestal Matheus

oceanos. Ilha de Koror, no Pacífico é uma

Nunes descobriu a maior árvore tropical

área de proteção ambiental. Um paraíso

do mundo, na área de conservação Maliau

de água transparente e praia limpa – mas

Basin, na ilha de Borneo, na Malásia.

é só de longe. De perto, o que se vê é lixo,

Dependerá, em grande parte, daquilo que

Bolsista do CNPq/MCTI, Matheus faz

principalmente plástico. Os redemoinhos

seus cidadãos e governantes desejarem

doutorado na Universidade de Cambridge,

formados pela circulação oceânica recebem

e trabalharem para que ela seja. Para se

no Reino Unido. As informações obtidas

esse material e o lixo circula, sem ter como

alcançar uma Belém mais justa, mais segura,

a partir de sensoriamento remoto,

sair. Os lixões dos cinco oceanos, reunidos,

mais sustentável e mais resiliente é necessá-

indicavam a existência de árvores muito

cobririam duas vezes o território brasileiro. O

rio (entre outras ações) retomar e inovar nos

altas em lugares com nenhum histórico de

roteiro de poluição foi traçado pela expedição

processos de planejamento e gestão.

intervenção humana.

Race for Water, a “corrida pela água”.

FLORESTAS

NO OCEANO

lhorias caminham as enormes e crescentes dificuldades financeiras para viabilizá-los.

Como deverá ser a Belém do futuro?

JANEIRO DE 2016

• REVISTA AMAZÔNIA VIVA • 11

HELDER LEITE/ DIVULGAÇÃO UNAMA

O Pará é o primeiro produtor nacional de pimenta-do-reino, um dos temperos mais usados na gastronomia paraense e contemporânea. A cultura tem grande importância econômica e social, por ser considerada um dos cultivos mais rentáveis da região e um produto de exportação, que alcança altos preços nos mercados nacional e internacional. É ainda absorvedora de mão de obra, pois cada tonelada colhida corresponde a um emprego no campo. Segundo o gerente do Programa Fi-

RESPOSTAS QUE VÃO DIRETO AO PONTO


PRIMEIRO FOCO IGOR MOTA / ARQUIVO O LIBERAL

L A RVA

PLÁSTICOS Uma equipe de cientistas da Universidade de Stanford, na Califórnia, acaba de apresentar um estudo que sugere uma solução, em um futuro próximo, para o grande problema da contaminação por plástico, substância que pode levar centenas de anos para se decompor. A chave está em uma pequena lar va de besouro conhecida como bicho-dafarinha ( Tenebrio molitor ). Os pesquisadores descobriram que ela consegue se alimentar de isopor, ou poliestireno expandido, um plástico não biodegradável. Os pesquisadores descobriram que esses insetos transformam metade do isopor que consomem em dióxido de carbono e a outra metade em excremento como fragmentos decompostos.

L AG A R TO S

SUMIÇO

Lagartos podem desaparecer de algumas partes da Europa durante o próximo século em decorrência das perturbações causadas pelo aquecimento global. Cerca

TURISMO

de 30% da população atual poderia sumir,

Capital paraense é um dos destinos mais procurados no País

especialmente nas faixas do sul de seu território europeu, segundo o estudo publicado na revista PLOS Biology.

E M P R E SA R I A D O

SUSTENTABILIDADE Um sistema integrado que permitirá a abertura, alteração, baixa e legalização de empresas, facilitando a vida dos

O site do jornal “O Estado S. Paulo” publicou no último dia 8 reportagem com levantamento que coloca Belém como o terceiro destino turístico nacional favorito dos brasileiros para 2016. O resultado segue tendência apontada por uma recente pesquisa do Ministério do Turismo, realizada pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), que mostrou que 81,7% dos brasileiros pretendem ir a destinos nacionais nos próximos seis meses e 13,8% ao exterior. Em

2015, a capital recebeu a média de 1,1 milhão de turistas vindos de fora do Estado, o que representa receita gerada de R$ 746 milhões. “Com as novas perspectivas de projetos e investimentos, com o aniversário de Belém mais todas as divulgações nacionais e internacionais que estamos tendo na mídia, a nossa expectativa é que esse número aumente bastante em 2016”, afirma o secretário de Estado de Turismo em exercício, Joy Colares.

empreendedores. Este é o Projeto Integrador, uma versão estadual da Rede Nacional para a Simplificação do Registro e Legalização de Empresas e Negócios, o Redesim. Empresas que trabalhem com qualquer atividade ambiental, assim que forem abertas, alteradas ou legalizadas na Junta Comercial do Estado do Pará (Jucepa) terão, automaticamente, suas documentações e informações repassadas à Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Sustentabilidade (Semas). A meta é criar a Inscrição Estadual no sistema Integrador Pará no primeiro semestre de 2016.

12 • REVISTA AMAZÔNIA VIVA •

JANEIRO DE 2016


ELESSEACHAM POR QUE MIMETISMO É UMA COISA NATURAL

Santarém entra para lista dos “Municípios Verdes” A cidade de Santarém (abaixo), no oeste do Pará, teve o esforço na luta contra o desmatamento reconhecido ao receber o certificado de Município Verde. O documento foi entregue durante o evento de apresentação e instalação da Base Local Tapajós, primeiro de oito polos do Programa Municípios Verdes que serão instalados estrategicamente no Estado. Santarém recebeu ainda do governo do Estado equipamentos para fiscalização e monitoramento do desmatamento na região, como uma caminhonete, um notebook e dois GPS. “É com alegria que recebemos o certificado de Município Verde e constatamos o quanto avançamos nesses últimos anos em termos de gestão ambiental

Aranhas com cara de caranguejo Confundir-se com o ambiente? Nada de mais. Parecer outro animal? Coisa pouca. Especialista em camuflagem,

municipal. Obviamente, ainda não temos a estrutura ideal, mas é inegável que melhoramos muito nossa estrutura desde que ingressamos no programa”, avaliou o prefeito da cidade, Alexandre Von. Entre as metas estabelecidas pelo PMV e cumpridas pelo município está o percentual mínimo de 80% de imóveis registrados no sistema de Cadastro Ambiental Rural (CAR), a assinatura do Pacto de Combate ao Desmatamento e Sustentabilidade, e o trabalho para estruturação da gestão ambiental local. Ainda de acordo com o governo, Santarém foi escolhido como o primeiro polo devido ao seu desempenho e comprometimento com as metas do programa.

a aranha é a rainha dos disfarces. Pensar nesse animalzinho pode causar arrepios na maioria das pessoas. Mesmo as pequeninas, inofensivas, guardam em si aquela referência à peçonha das venenosas. É por isso que as aranhas da família Thomisidae burlam essa lembrança tornando-se apenas caranguejos. Isso, caranguejinhos! Quem tem medo? Além de serem predadoras, as aranhas também ficam expostas a outros predadores, geralmente vertebrados ou outros artrópodes. Sendo predadoras, parecer um caranguejo é realmente uma vantagem. Mas o mecanismo da rainha dos disfarces não acaba aí. Além de parecerem quase que sararás, as aranhas dessa FERNANDO NOBRE / AGÊNCIA PARÁ

família se camuflam como se fossem lesões nas folhas conhecidas como galhas, que são reações de proteção do tecido das plantas ao ataque de pequenos insetos de quem as larvas se alimentam. O registro desse casal de aranhas foi feito pelo entomólogo Cesar Augusto Favacho. Só tem aranha esperta!

JANEIRO DE 2016

• REVISTA AMAZÔNIA VIVA • 13

CESAR AUGUSTO FAVACHO

CERTIFICADO


FATO REGISTRADO

ARQUIVO / COLÉGIO GENTIL BITTENCOURT

Gentil Bittencourt, o histórico colégio de Belém O prédio está imponente na avenida Magalhães Barata. Afora a grandiosidade, é na capela do colégio Gentil Bittencourt que a imagem peregrina de Nossa Senhora de Nazaré aguarda o início da Trasladação no sábado que antecede o segundo domingo de outubro. Construído durante a Belle Époque belenense, o prédio é tombado como patrimônio histórico e, até hoje, comporta a instituição de ensino para a qual foi criada, administrada pela congregação religiosa Filhas de Sant’Ana, de origem italiana. A foto, tomada em 1906, mostra o colégio de pé, quando ainda recebia, em regime de internato, apenas mulheres. O nome da instituição é uma ho-

14 • REVISTA AMAZÔNIA VIVA •

JANEIRO DE 2016

menagem a Gentil Augusto Morais Bittencourt, nascido em Cametá, mais precisamente no distrito de Carapijó, em 1874. Um dos fundadores do Clube Republicano no Pará, Gentil Bittencourt foi vice-governador do Estado em 1891, assumindo o governo em substituição a Justo Chermont. Também ocupou interinamente a prefeitura, então Intendência de Belém, entre os anos de 1922 e 1923. No mundo jurídico, foi promotor público da comarca de Vigia e, ainda, de Belém, além de adentrar a magistratura, chegando a desembargador, segundo informações da Grande Enciclopédia da Amazônia, de autoria do jornalista Carlos Rocque.

Já o colégio Gentil Bittencourt, então instituto, foi fundado pelo bispo dom Manuel de Almeida de Carvalho, no início do século XIX, em 10 de junho de 1804, sendo reformado um século depois. A instituição, fundada apenas para mulheres, é considerada a mais antiga no campo da educação do Brasil em funcionamento, somando mais de 200 anos, incorporando apenas em 1972 a educação de homens. Na foto, é possível ver características que se mantém até hoje: os arcos da entrada, as formas do frontão e as platibandas ao alto. O tempo da foto e de sua fundação são indicadores da relevância histórica do colégio para a memória da capital paraense.


OSWALDO FORTE

THIAGO ARAÚJO / ARQUIVO AGÊNCIA PARÁ

Comer manga em excesso dá espinhas?

HISTÓRIA

Carlos Gomes lança livro sobre o conservatório Alunos, ex-alunos, professores e ex-professores do Instituto Estadual Carlos Gomes (IECG) participaram do lançamento do livro “Instituto Estadual Carlos Gomes – 120 anos de história”. Os capítulos abordam os aspectos da memória da instituição a partir dos relatos de vida, revelando como eram as práticas musicais e também as experiências pessoais que eles tiveram no tempo em que atuaram na instituição. A pesquisa durou sete meses e teve a participação de mais de 20 estudantes e bolsistas. Foram feitas mais de 60 entrevistas, que resultaram em relatos significativos sobre os fatos marcantes que ajudaram a con-

PERGUNTA-SE POIS É PRECISO ESCLARECER MITOS E VERDADES

Moradores da Cidade das Mangueiras, em plena época de mangas caindo por todo o lado, nada têm a temer em consumir a fruta, rica em antioxidantes, e ter proble-

solidar a terceira mais antiga instituição de ensino da música no Brasil. A publicação é resultado da parceria entre a Fundação Carlos Gomes, Universidade Federal do Pará (UFPA) e Imprensa Oficial do Estado, com organização das professoras doutoras do Programa de Pós-Graduação em Artes da UFPA Líliam Barros e Lia Braga Vieira. O projeto de pesquisa “Memórias do Instituto Estadual Carlos Gomes”, do Grupo de Pesquisa Música e Identidade na Amazônia e Laboratório de História Oral em Educação Musical, em colaboração com o Laboratório de Etnomusicologia, ambos vinculados à UFPA, serviu como base para o livro.

mas com as espinhas. A nutricionista Camila Blanco, professora especialista em Pediatria da Universidade da Amazônia (Unama), explica que não passa de um mito. O açúcar do fruto, que até realmente influencia na acne, não é tão significativo quanto de outros alimentos que possuem muito açúcar e nem por isso são cercado pelo mesmo mito. “A acne tem duas formas de piorar: uma é ingerir alimentos gordurosos em excesso, pois aumentam a produção de sebo e que geram essas lesões: e outra é ingerir alimentos de alto teor glicêmico, que aumentam a produção de insulina, que ajuda na formação de espinhas. Mas aí alto indica glicêmico. Manga é uma

SIDNEY OLIVEIRA / AGÊNCIA PARÁ

fruta de teor glicêmico alto, que pode ter originado esse mito, mas ela é cheia de fibras que freiam a liberação de insulina. É fruta com alto índice e daí esse mito”, explica Camila. A nutricionista reforça que controlar alimentos gordurosos ou com alto teor glicêmico, como doces ou produtos brancos feitos de trigo, sim, é forma de controlar a acne.

MANDE A SUA PERGUNTA Envie perguntas instigantes sobre hábitos, costumes e fenômenos da região amazônica para o e-mail: amazoniaviva@orm.com.br

JANEIRO DE 2016

• REVISTA AMAZÔNIA VIVA • 15


QUEM É?

MAKIKO AKAO

Belém do Pará como a terra natal TEXTO DOMINIK GIUSTI FOTO ROBERTA BRANDÃO

A

os 6 anos de idade, Makiko Akao saiu do Japão com os pais e foi para Monte Alegre, no oeste do Pará. Ainda sem falar português, foi para um colégio de freiras, uma espécie de internato enquanto os pais trabalhavam na roça. Depois de um período, mudou-se para Belém, onde passou a morar com conhecidos. As andanças e os trajetos do afeto foram sendo construídos por ela mesma, com aqueles que a cercavam. Distante da família, que se mudou para Santo Antônio do Tauá, abraçou o Brasil como seu páis e o Pará como sua terra natal. “Tenho uma relação muito forte com Belém, independentemente da minha nacionalidade, esta é a minha cidade. E isso se torna forte pela relação que temos com as pessoas, os nossos laços”, diz Makiko. E ela ressalta também a sua relação com o espaço: após anos envolvida nos bastidores da produção cultural de artistas como Miguel Chikaoka, com quem foi casada, ela assumiu sua veia criativa para pensar projetos que possam aos poucos tratar de questões artísticas,

16 • REVISTA AMAZÔNIA VIVA •

JANEIRO DE 2016

mas também de preservação, de patrimônio e de cidadania. Makiko é a idealizadora do projeto “Circular Campina-Cidade Velha”, iniciado em 2014, e que reúne atualmente mais de 30 espaços de arte e cultura na capital paraense a cada dois ou três meses e que tem movimentado as ruas do centro histórico. O objetivo é sensibilizar os cidadãos para a importância de manter preservado os primeiros logradouros da capital. Ela também é a fundadora da Kamara Kó Galeria, a única em Belém especializada em fotografia. Essa vocação se dá em duplo sentido de entendimento das possibilidades de se trabalhar com arte. “Ultimamente tento trabalhar com a arte nos dois extremos que é o objeto como obra de arte, no mercado de arte, de certa forma um ‘produto de luxo’, e na outra vertente é a arte com seu poder transformador, de pensamento, de comportamento, com potencial agregador. Ou seja, como podemos trabalhar com a arte ou através da arte, pois é isso que estamos tentando como

o Projeto Circular e penso que os parceiros também acreditam nisso. Parece um sonho, uma ilusão, mas estamos tentando. Se não há sonhos, como viver né?”, enfatiza. Essa percepção se deu porque Makiko é apaixonada por arte. Desde quando mudou-se para Belém, passava longos períodos no cinema, entre o Olympia, o antigo Palácio e a mostra de filmes da Associação Nipo-Brasileira - o que a fascinava eram as histórias, a imagem e a imaginação. Com o tempo, acabou se enturmando com pessoas do meio das artes durante as décadas de 1970 e 1980, no principal ponto de encontro: o Bar do Parque. Apesar de não atuar diretamente nas manifestações artísticas, pois trabalhava em cargo administrativo na Superintendência de Desenvolvimento da Amazônia (Sudam), ela vivenciou a cena. Mas foi só após a aposentadoria que Makiko passou a se envolver de vez com os projetos artísticos, e já acumula exposições, lançamentos de livros, mostras coletivas, participação de projetos no Brasil e no exterior.

NOME

Makiko Akao

IDADE 65 anos


EU DISSE

APPLICATIVOS

AGÊNCIA BRASIL

BOAS IDEIAS NUM TOQUE DE DEDOS

“Quantificamos um dos principais patrimônios do país, e descobrir nisso que temos 30% das aves do planeta”

Sworkit trainer Um catálogo com mais de 160 exercícios de alongamento para as mais diversas rotinas e

Ana Cristina Barros, secretária de Biodiversidade e Florestas, durante o

com durações diferentes para o corpo todo.

lançamento do Catálogo Taxonômico da Fauna Brasileira, do

O app ajuda o usuário a se preparar para

Ministério do Meio Ambiente, em dezembro.

um longo dia de trabalho, para um treino na academia ou para relaxar após determinadas atividades. Todos os exercícios possuem

“A gente resolveu foi criar algo novo, baseado no que já existia, mas que fosse melhor e mais acessível às pessoas”

imagens ensinando a fazer e basta seguir as instruções. Plataformas: Android, iOS e Windows Phone Preço: Gratuito

Gabriel de Oliveira, estudante do Ensino Médio em Manaus, ao desenvolver um óculos de realidade virtual com incentivo do Fundo de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas.

Inmet Tempo e Clima App do Instituto Nacional de Meteorologia

“As novas gerações vão precisar de recursos naturais para sobreviver”

(Inmet), com as previsões atualizadas para cada região. É simples e serve para consultar como está o clima e quais as possíveis varia-

Wrays Pérez Ramírez, presidente do governo

ções para o dia. Basta escolher a cidade ou

indígena do Peru, durante a COP 21, em Paris.

região e ter uma previsão. Plataformas: Android, iOS e Windows Phone DIVULGAÇÃO / AGÊNCIA FAPEAM

Preço: Gratuito

Minha Leitura Este app elimina a necessidade de marcadores de página e ainda auxilia no gerenciamento das leituras em curso. Basta cadastrar um livro ou livros que o usuário está lendo, número de páginas e ir marcando o progresso em cada um. Uma das funções interessan-

“Se entendermos a floresta não será preciso derrubar um galho de árvore” Niro Higuchi, pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia, sobre a importância da floresta amazônica para o desenvolvimento econômico e social do planeta.

tes é o estabelecimento de metas: você diz em quanto tempo precisa terminar a leitura e o app vai informando o tempo restante, explicando quantas páginas ler por dia. Plataformas: Android Preço: Gratuito FONTES: PLAY STORE E ITUNES

JANEIRO DE 2016

• REVISTA AMAZÔNIA VIVA • 17


CURIOSIDADES DA BIODIVERSIDADE

INOCÊNCIO GORAYEB

Réplicas especiais de muiraquitãs na cidade Eles estão povoando os pescoços de mulheres e homens nas cidades amazônicas: da exclusividade das icamiabas, os muiraquitãs se tornaram um conhecido item de presente. As pequenas peças, originalmente nas cores verde e rosa, eram um amuleto que as mulheres de determinadas nações indígenas presenteavam os homens de outras tribos no intuito de obterem boa sorte nas jornadas diárias pela f loresta. Essa é apenas uma versão da narrativa, dentre as várias, segundo a qual as icamiabas mergulhavam no fundo do rio, obtinham um material que, depois de moldado e

18 • REVISTA AMAZÔNIA VIVA •

JANEIRO DE 2016

seco, virava o muiraquitã. Fora da história tradicional, a feitura desse amuleto hoje é bem diversa. Há peças de barro cozido e até plástico, mas também algumas mais sofisticadas, utilizando madrepérola e ouro, além das artesanais de madeira. Boas réplicas de muiraquitã eram produzidas por Waldemar França, ex-servidor do Museu Paraense Emílio Goeldi, onde atuou pelo Departamento de Zoologia. Waldemar era habilidoso com próteses. Foi assim que ele criou um molde, baseado numa peça original. Utilizando acrílico, ele dava as cores originais, polindo

e, então, passando o fio do cordão. Outros muiraquitãs originais podem ser vistos no Museu do Forte do Presépio e, mais ao lado, no Museu de Arte Sacra, na igreja de Santo Alexandre. No Polo Joalheiro São José Liberto e nas feiras artesanais na praça da República, montadas aos domingos, podem ser compradas réplicas desses amuletos. Em 2008 o geólogo Marcondes Lima da Costa e colaboradores escreveram um artigo sobre os muiraquitãs que pode ser apresentado juntamente com as réplicas, publicado na coleção Amazônia, encartado à época no jornal O Liberal.


DESENHOS NATURALISTAS

CONCEITOSAMAZÔNICOS O VOCABULÁRIO REGIONAL É UM PATRIMÔNIO

É preciso atenção contra o carapanã! Miúdo, cheio de zumbido, Brasil afora ele recebe variados títulos: muriçoca, sovela, pernilongo e, o mais comum, mosquito. Mas, em Belém, é conhecido como carapanã. O termo, de origem Tupi, se refere, no geral, aos mosquitos sugadores de sangue, que perturbam o ser humano e outros animais. Eles ferram, picam, causam incômodos, estresse e, principalmente, transmitem doenças. É preciso atenção contra o carapanã! Eles são insetos de importância sanitária e epidemiológica, componentes da ordem Diptera, família Culicidae, dividindo-se em vários gêneros, como Culex, Anopheles e Mansonia, além do conhecido gênero Aedes. É nesse gênero que está incluída espécie Aedes aegypti,

Do mar de gente, que um dia foi um grande rio Amazonas de gente, era, no século XIX, um longo igarapé de gente, como mostra a gravura considerada o primeiro registro iconográfico da maior manifestação cultural do Pará: o Círio de Nazaré. O desenho retrata um cortejo tipicamente amazônico, com os estandartes, em formato de cobra grande, a circundar a cidade, levando o povo ao horizonte da imagem. Não precisa de tanta conversa pra explicar. Basta a legenda: “O Cyrio”. A gravura foi publicada na revista Puraqué em 1878. Um registro ainda mais raro pelo momento em que fora feito: o primeiro Círio Civil, quando a procissão aconteceu sem a participação do bispado do Pará, sem autorização do então bispo dom Antônio de Macedo Costa. É por isso que, das janelas, religiosos mostram a língua em reprovação à manifesta-

ção, realizada pelo povo desgostoso das medidas eclesiásticas da cúpula do bispado de Belém. Há que se olhar com calma cada detalhe. Há o carro dos anjos, o carro de dom Fuas Roupinho (agraciado por Nossa Senhora de Nazaré ainda em Portugal), o brigue São João Batista e, claro, a Berlinda a transportar a imagem da santinha. Na gravura, não aparece a corda, um dos maiores símbolos do Círio. Lá ainda estava o carro dos foguetes, abolido do cortejo por “questões de segurança”, apesar de nunca ter se registrado nenhum acidente. À frente, a bandeira do então Império do Brasil, além o “Anjo do Brasil”, abolida em Belém, mas que permanece em Vigia. A gravura está se encontra no Acervo Vicente Salles, da Universidade Federal do Pará. Há que se contemplar o longo igarapé de gente: O Cyrio!

ACERVO DE OBRAS RARAS DO MUSEU GOELDI

Círio iconográfico

mosquito transmissor de doenças como a dengue, a febre chikungunya e a mais nova temida dos brasileiros, a zika. Mas os membros da família Culicidae ainda transmitem outras doenças tropicais, como a malária, a filariose e a febre amarela. Entre os meses de janeiro e abril, período chuvoso na Amazônia, os carapanãs se multiplicam. Daí a utilização comum de telas nas janelas e portas e, ainda, dos mosquiteiros nas redes e camas para fugir das “nuvens” desses insetos que sobrevoam as casas em maior ou menor grau nas regiões amazônicas. Recentemente, o Aedes aegypti, membro da família Culicidae, o carapanã mais famoso, ganhou destaque. É que, provavelmente, ele é o vetor do surto de microcefalia que acomete o país. É preciso atenção com o carapanã!

JANEIRO DE 2016

• REVISTA AMAZÔNIA VIVA • 19

ILUSTRAÇÃO: SÁVIO OLIVEIRA

Sai pra lá, carapanã!


COMO FUNCIONA

O seguro automotivo contra queda de mangas TEXTO E ILUSTRAÇÃO SÁVIO OLIVEIRA

Se o cientista inglês Isaac Newton (1642-1727) tivesse estudado em Belém talvez teria observado uma outra fruta cair da árvore para formulação da famosa lei da gravitação uni-

versal. Na “Cidade das Mangueiras”, que foram trazidas da Índia e plantadas durante o governo de Antônio Lemos (1843-1913) no período áureo da Belle Époque, a mecânica

clássica é postulada cotidianamente, principalmente entre o fim e início de cada ano, época de chuvas constantes na região. Atraídas pela gravidade, a massa da manga madura exerce

força inversamente proporcional ao quadrado da distância do corpo atingido, seja humano ou automotivo. Da manga caída, resta o gosto e sumo... Ai, ai, iô, iô!

OLHA A MANGA!

Saiba como agem as seguradoras em caso desse sinistro típico de Belém

1

3

Matematicamente falando, qual a probabilidade de acidentes quando se tem cerca de 9 mil mangueiras recheadas acima de uma frota de mais 500 mil veículos? O resultado é uma cláusula de seguro de automóveis que cobre acidentes com pára-brisa, mais especificamente por queda de manga.

O valor pago depende do tamanho do veículo do segurado. Para um carro popular médio, o valor a ser pago anualmente sai por volta de R$ 100.

2

4

Além da proteção básica, oferecida por corretores de seguros, que cobre a carroceria do veículo automotivo, o seguro para acidentes com manga é uma cobertura opcional, que assegura além dos vidros, farol, lanterna e retrovisor.

Quando acontece o sinistro, como o acidente é chamado pelos corretores, o segurado precisa informar a seguradora relatando o fato. Daí a seguradora solicita um novo para-brisa e o veículo é encaminhado para troca.

FONTE: DILZA PAIVA, CORRETORA DE SEGUROS

20 • REVISTA AMAZÔNIA VIVA •

JANEIRO DE 2016


CIÊNCIA

Por trás das lendas da cidade

EVERALDO NASCIMENTO / ARQUIVO O LIBERAL

As histórias surgidas do imaginário dos moradores de Belém viram tema de pesquisa acadêmica e refletem heranças culturais, lições de moral e comportamentos dos moradores da capital TEXTO FERNANDA MARTINS

D

Dizem os mais velhos que uma enorme cobra encantada dorme sob a cidade de Belém desde antes da sua fundação. Sua cabeça descansa sob onde hoje se encontra a Igreja da Sé, o corpo segue exatamente o percurso realizado no Círio de Nazaré, culminando na Basílica Santuário, onde se encontra o rabo da cobra. Há quem acredite que o dia que essa serpente gigante despertar marcará o fim da cidade como a conhecemos. Há também quem conte que umas décadas atrás sentiu-se em Belém um tremor de terra, creditado pelos cidadãos a um movimento involuntário do monstro em seu

sono secular. Contos como este são parte fundamental da infância, da memória dos mais antigos, de gerações de habitantes de Belém. Todos trazem elementos sobrenaturais e, por vezes, reforçam lições e pregam valores morais e religiosos. Há 22 anos, a doutora em Letras pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Socorro Simões, coordenadora do Imaginário nas Formas Narrativas Orais e Populares da Amazônia Paraense (IFNOPAP), assumiu a tarefa de buscar e catalogar as histórias dos personagens fantásticos desta Belém encantada. “Observei

que o Pará possuía essa riqueza singular, desenvolvi um projeto de pesquisa voltado para a literatura, que era minha formação”, relembra. A preservação da oralidade dos contadores de história locais é o grande diferencial do projeto. “Decidimos que a fala precisava ser mantida, por isso optamos por gravar as histórias em áudio e então transcrevê-las, mantendo a gramática original, seja ela em acordo com a normal culta ou não”, observa. O resultado mantém o ritmo original da contação de história, como vozes e onomatopeias utilizadas pelos narradores para envolver o interlocutor, além dos JANEIRO DE 2016

• REVISTA AMAZÔNIA VIVA • 21


CIÊNCIA

sotaques e vícios de fala característicos da região, permitindo uma experiência ainda mais rica do que a simples leitura das transcrições. Durante as últimas décadas, o projeto colheu mais de cinco mil histórias em diversos municípios do Pará, sendo Belém a mais prolífica das cidades, responsável por 777 contos, tanto do centro urbano da capital quanto das comunidades ribeirinhas. As diferenças entre estas são notáveis. “Os contos sempre refletem o entorno do narrador, a sua realidade. Para os ribeirinhos, a paisagem é o rio, e suas histórias denotam mitos do rio. No centro urbano, as aparições costumam ser relacionadas a ruas, casas e outros locais geográficos da cidade. Os bairros que ainda possuem matas, têm os avistamentos de matintas, sacis, entre outros”, explica. Comum a todos os lugares da capital estão as histórias envolvendo cobras. “Não só em Belém, mas em 22 • REVISTA AMAZÔNIA VIVA •

JANEIRO DE 2016

todo o Pará, as narrativas com cobras encantadas como personagem principal são a maioria”, resume a pesquisadora, que apresenta algumas hipóteses para este fato. “Existe uma mitologia muito rica acerca deste animal, no mundo inteiro. Já na Bíblia, vemos o principal anjo se transformando em uma cobra para tentar uma mulher e este anjo veio a se tornar o príncipe das trevas. É uma imagem muito forte. Além disso, estamos na Amazônia, onde há muitas espécies de cobras, dos mais diversos tamanhos. Acredito que seria impossível que elas não fossem parte do imaginário popular”, analisa. Muitas histórias cumprem uma função social, como aquelas que envolvem a figura do boto, o rapaz bonito, elegante e misterioso que seduz as mulheres e deixa em seu rastro corações partidos e muitos, muitos filhos. A existência do boto justifica a ausência paterna com a

figura encantada. “Uma vez me pediram para selecionar uma história de boto no banco de dados da IFNOPAP para ser publicada no Dia dos Pais. Procurei muito e encontrei, apenas uma”, diz a pesquisadora. A narrativa apresentava uma moça casada que se envolveu com o boto, e este logo depois desapareceu. O encontrou gerou um filho, que o marido acreditava ser dele. Ainda apaixonada pelo boto, a criança tornou-se a luz dos olhos da mãe. Porém, alguns anos depois do nascimento, o boto retorna e anuncia à mulher: “vim buscar o que é meu”. Ele toma a criança dos braços da mãe e desaparece novamente para nunca mais ser visto. Como uma punição por sua traição, a mulher enlouquece. Fim. “Foi a única vez que vi o boto assumir uma paternidade”, diverte-se Socorro. A pesquisa de campo do projeto mostrou ainda que o mito do boto transcende as questões de gênero.

PELA CIDADE

Socorro Simões coordena o Imaginário nas Formas Narrativas Orais e Populares da Amazônia Paraense (IFNOPAP) e cataloga as histórias de personagens e casos fantásticos de Belém


“Ouvimos diversas histórias envolvendo o boto fêmea, que visita os pescadores durantes os longos períodos que este passam nos mares e rios. O curioso é que nesses casos, o boto dificilmente assume a forma de uma mulher humana, tendo o desfecho comum do pescador acordar com o animal deitado a seu lado ou mesmo a tempo de vê-lo fugindo”, analisa.

ENSINAMENTOS

Algumas das histórias visam claramente ensinar aos mais jovens lições importantes, utilizando acontecimentos fantásticos, sempre testemunhados por alguém, que conhece alguém, que conhece alguém, e assim por diante. “É curioso como os narradores costumam começar as histórias insistindo na veracidade da narrativa, que ouviram de outra pessoa que lhes fez a mesma ressalva”, relata a pesquisadora, ao contar uma história bastante reproduzida na capital que já gerou muita dor de cabeça para o clero local. A garota chegou à adolescência e se mostrava cada vez rebelde com sua devotada mãe. Não atendia seus pedidos e recusava seus conselhos. Um belo dia, ao ser impedida por ela de ir a uma festa, a moça perdeu o controle. Apanhou o primeiro objeto que encontrou – uma vassoura – e voltou-se para acertar a mãe. Porém, no meio do movimento, ficou petrificada. Transformou-se numa estátua, condenada a viver para sempre naquele momento de fúria. Quem testemunhou o fato, e viu a moça que “parecia feita de cera”, conta que a mãe enviou o corpo dela para os padres da Catedral de Belém, onde ela foi enterrada em uma cripta e permanece até os dias de hoje. “Muita gente já foi até os padres procurando a moça emparedada. Os religioso sempre explicam e insistem que nunca existiu nada daquilo”, diz Socorro. As igrejas, aliás, são palco de diversas aparições e visagens. Os relatos de procissões de mortos que carregam velas em bairros periféricos de Belém, ainda nos dias de hoje, é muito popular. Há os narradores que juram ter visto com os próprios olhos, pelas frestas das janelas de suas casas, a romaria tomando o rumo de algum cemitério próximo.

MISTÉRIOS DE BELÉM

Trechos de narrativas sobre acontecimentos fantásticos na cidade

Muitos anos atrás, na rua Ó de Almeida, morava Tereza. De coração bom, ela se compade-

ceu de uma moça grávida de oito meses que foi assassinada pelo marido ciumento e assumiu os custos do velório e enterro da vítima e seu bebê. Alguns meses depois, Tereza ouviu passos em sua casa, acreditando que fosse seu marido, ela chamou por ele, mas, em resposta, ouviu uma voz feminina. “Tereza, não te assusta. Só vim te agradecer pelo que fizestes por mim”. Tereza iniciou a oração do Creio em Deus Pai até que deixou de sentir a presença em sua casa, que nunca mais retornou.

Certa vez, cobrador e motorista de um ônibus de uma das linhas no bairro do Souza tive-

ram a presença de uma passageira misteriosa. “Quando chegou na estrada do 40 Horas, eu

abri a luz do salão, no meio do carro uma mulher, sentada dentro do carro. Aí, eu ainda disse: ‘olha cobrador, aquela mulher que está dentro do carro, quem é?’ Ele disse: ‘eu não sei quem é essa mulher!’”, contou o narrador. Seguiram com o carro vazio, sem paradas, até o final da linha, Quando voltaram a ligar as luzes, a mulher havia desaparecido.

No início da década de 1950, o pai da narradora conta que voltava de um comício, na

Sacramenta, quando passou em frente à uma igreja e viu uma moça. “Vinha ele e mais três senhores, já era uma da manhã, e eles avistaram a moça de frente pra igreja, orando. Meu pai disse que ali não passava ônibus essa hora e a convidou para acompanhá-los na caminhada até a ponte do Galo, onde, naquele tempo, seria mais seguro”, relatou. A moça nem sequer respondeu e eles prosseguiram. Ao chegar em casa, a sobrinha dele, então com cinco anos, começou a chorar ao despertar, pedindo que ele tirasse aquela mulher do quarto, porém, ele não via ninguém. Todos na família se juntaram para orar e a mulher desapareceu.

A narradora Dona Flora relembra uma história de sua infância,

quando o pai afirmava para a família que via “um pretinho” no quintal da casa. “Tinha floresta no nosso quintal e a gente achava que era o curupira que aparecia”, conta. Certa vez, o pai armou uma rede em casa e deitou, de repente a rede desabou no chão. Alguém havia desengatado os punhos do S. “O curupira que gosta de aprontar essas coisas, né? Meu pai disse que foi ele”, diz. FONTE: IFNOPAP

JANEIRO DE 2016

• REVISTA AMAZÔNIA VIVA • 23


CIÊNCIA

PESQUISAS

E o imaginário popular amazônico vem ganhando cada vez mais espaço entre os acadêmicos do Brasil e do mundo. O IFNOPAP trabalha em colaborações com dezenas de universidades brasileiras, americanas e europeias e já teve seu banco de dados utilizado para mais de 30 teses de mestrado, outras nove de doutorado, só para contar as defendidas e aprovadas. “Recebemos contatos o tempo inteiro de pessoas interessadas neste tema. Não apenas os acadêmicos, mas cineastas, escritores, historiadores, profissionais das mais várias esferas”, ressalta a pesquisadora.

24 • REVISTA AMAZÔNIA VIVA •

JANEIRO DE 2016

O Campus Flutuante – uma das atividades anuais do IFNOPAP, que leva acadêmicos de diversas áreas do conhecimento embarcados em um navio para conhecer de perto a realidade dos municípios paraenses, enquanto realiza atividades, oficinas e até disciplinas com docentes, discentes e convidados – já virou parte do calendário de muitos profissionais. “As pessoas nos procuram com bastante antecedência, para garantir lugar. A repercussão do Campus Flutuante foi tão positiva que acabou se transformando no projeto de um campus, de fato. Estamos atualmente aguardando a liberação dos fundos para constru-

ção”, adianta Socorro Simões. Mesmo com quatro séculos de idade e sendo reconhecida como uma grande metrópole do Brasil, a pesquisadora acredita que a transmissão oral destes contos em Belém não vai perder força. “Cada local tem seus mitos, suas histórias, suas visagens. Isso não é algo exclusivo de Belém, ou do Pará. Eles vêm sendo transmitidos pela oralidade de geração a geração. A nossa proposta é registrar, com uma metodologia própria, criada por nós, para transformá-los em material de pesquisa, disponibilizando esse banco de dados riquíssimo aos interessados”, conclui.

POVO DA ÁGUA

A relação com rios e igarapés na Amazônia faz com que os povos da região cultivem lendas e histórias ligadas às águas


OLHARES NATIVOS

Da Paz Nesta edição especial dos 400 anos de Belém, o fotógrafo Fernando Sette, criador do site “Expedição Pará”, presenteia os leitores da revista com incríveis imagens de alguns pontos da cidade. Começamos a seção com esta foto da bailarina no hall do Theatro da Paz.

JANEIRO DE 2016

• REVISTA AMAZÔNIA VIVA • 25


OLHARES NATIVOS

Das ilhas O apanhador de açaí garantindo seu ganha-pão com a cara, peconha e coragem

26 • REVISTA AMAZÔNIA VIVA •

JANEIRO DE 2016


Das ruas

Uma manga caída do alto da árvore em Belém não dura muito tempo no chão. Esta aí foi logo recolhida após o clique.

JANEIRO DE 2016

• REVISTA AMAZÔNIA VIVA • 27


OLHARES NATIVOS

28 窶「 REVISTA AMAZテ年IA VIVA 窶「

JANEIRO DE 2016


Nas Docas Das festas O arrastĂŁo do Arraial do Pavulagem hipnotiza quem participa e quem assiste ao cortejo mĂĄgico e cultural


OLHARES NATIVOS

Das feiras

O vendedor de farinha - da boa - à espera dos clientes numa manhã no Ver-o-Peso

30 • REVISTA AMAZÔNIA VIVA •

JANEIRO DE 2016


Das Mercês

A igreja histórica erguida pelos padres mercedários no século XVII continua imponente no centro de Belém

JANEIRO DE 2016

• REVISTA AMAZÔNIA VIVA • 31


OLHARES NATIVOS

Dos torテウs O banho de chuva inesperado no meio de uma tarde calorosa na cidade

32 窶「 REVISTA AMAZテ年IA VIVA 窶「

JANEIRO DE 2016


Da calmaria O encontro entre rio e cidade no coração de Belém

JANEIRO DE 2016

• REVISTA AMAZÔNIA VIVA • 33


OLHARES NATIVOS

Da alegria Belém é feliz por ter um povo fraterno e confiante em dias melhores

Envie as suas fotos para a seção Olhares Nativos 34 • REVISTA AMAZÔNIA VIVA •

JANEIRO DE 2016

Para participar da seção “Olhares Nativos” da revista Amazônia Viva basta enviar fotos com temática amazônica para o e-mail amazoniaviva@orm.com.br acompanhadas pelo nome completo do autor, número de identidade e uma breve informação sobre o contexto do registro fotográfico. As imagens devem ser autorais e com resolução de no mínimo 300 dpi. A publicação das fotos tem fins meramente de divulgação de trabalhos profissionais ou amadores, não implicando em qualquer tipo de remuneração aos autores. Participe!


OPINIÃO, IDENTIDADE, INICIATIVAS E SOLUÇÕES FERNANDO SETTE

IDEIASVERDES

Cheios de história ALGUNS LUGARES DE BELÉM TÊM UMA MARCA PRÓPRIA, COMO O DISTRITO DE ICOARACI, CONHECIDO PELA PRODUÇÃO DE CERÂMICAS

PÁGINA 48

IDENTIDADE

MEMÓRIA

A doutora em Desenvolvimento Socioambiental, Leila Mourão Miranda, alerta para a falta de políticas públicas voltadas aos ribeirinhos. PÁG.36

Internautas ajudam a preservar a história da capital paraense postando fotos e documentos em páginas nas redes sociais. PÁG.40


ENTREVISTA

M

ais da metade do território de Belém - especificamente 65,64% - é composto por ilhas. Ao todo, são 39 ilhas que abrigam cerca de 62,7 mil habitantes e que só foram incluídas oficialmente na cartografia em 2010. Os quatro séculos de história da capital paraense não devem ser celebrados apenas no continente, uma vez que os ambientes insulares são fundamentais para entender melhor a cidade e o seu processo de formação. As águas, assimiladas como lugar de travessia, estão associadas às ilhas nelas existentes, comumente percebidas como um lugar de isolamento, de paragem e nem sempre de fi xação. Os primeiros registros da área são nesse sentido, em documentações produzida entre os séculos XVII e XIX, que informam a utilização delas para instalação de faróis ou sinaleiras para orientar a navegação, como lugares de pesca, fugas, esconderijos ou moradias de indígenas, escravos africanos e fugitivos. Estas relações são retratadas no projeto de pesquisa “Belém de águas e ilhas - 400 anos: saberes, usos, memórias e histórias da insularidade”, coordenado pela professora Leila Mourão Miranda, doutora em Desenvolvimento Socioambiental, da Universidade Federal do Pará. Na entrevista a seguir, ela fala mais sobre a conexão entre continente e ilhas. Estamos celebrando os 400 anos da fundação da capital paraense e não dá para falar da cidade que existe só no continente, ignorando a Belém insular. Como foi o processo de ocupação das ilhas ao redor da cidade? As ilhas de Belém representam o seu pedaço maior e é ainda o mais rico em biodiversidade e o mais esquecido e preterido nas políticas públicas. E isto não ocorreu ao acaso. A noção concei-

36 • REVISTA AMAZÔNIA VIVA •

JANEIRO DE 2016

“As ilhas de Belém são esquecidas nas políticas públicas” DEVIDO À FALTA DE MAIS INVESTIMENTOS, A REGIÃO INSULAR DA CAPITAL PARAENSE PASSA QUASE DESPERCEBIDA NAS COMEMORAÇÕES DOS 400 ANOS DE BELÉM. PARA A DOUTORA EM DESENVOLVIMENTO SOCIOAMBIENTAL, LEILA MOURÃO, O PODER PÚBLICO PRECISA OLHAR MAIS PARA O OUTRO LADO DA CIDADE. TEXTO BRENDA PANTOJA FOTO ROBERTA BRANDÃO


CLÁUDIO SANTOS/ AGÊNCIA PARÁ

tual de ilha traz em si uma carga cultural simbólica e de representações cheia de preconceitos na memória coletiva. A historiografia sobre cidade de Belém e a semelhança de relatos de viajantes têm indicado a existência das águas e ilhas contíguas, mas de forma tangencial aos temas específicos de cada investigação, focados essencialmente na história da parte continental. A documentação sobre a cidade e quase toda a cartografia histórica pouco se refere a tais características, concentrando-se em historiar e representar a área continental, ainda que as ilhas tenham sido referenciadas em diferentes aspectos: local de esconderijos, sede de importantes engenhos, indústrias e olarias (Ilha das Onças), locais para segregação e isolamento de doentes (Arapiranga, Tatuoca e Outeiro), prisões e assemelhadas (Co-

DO LADO DE LÁ

As populações ribeirinhas ainda são alvos de preconceitos e estereótipos na sociedade. Mas as relações sociais precisam mudar ainda neste século.

tijuba), mas principalmente como fornecedoras de açaí. Foi somente no final do século XIX que algumas foram sendo povoadas através de projetos de governo de imigração por ele promovida, como Caratateua (Outeiro) e Cotijuba. Outras de menor importância (Combu, Ilha Grande, Periquitos) para o Estado foram ocupadas por migrantes nordestinos, recusados nos projetos governamentais relativos à produção do látex, ou que vinham por conta própria para a Amazônia, sem condições financeiras para chegar aos seringais ou castanhais. No século XX se elaborou uma nova percepção e significado de algumas dessas ilhas como área de turismo e lazer (veraneio) ou de prisões.

“Nas últimas três décadas ocorreram mudanças na organização social para a produção, apropriação e comercialização dos produtos nas ilhas, adotando em parte as noções de sustentabilidade” JANEIRO DE 2016

• REVISTA AMAZÔNIA VIVA • 37


ENTREVISTA

As ilhas de Outeiro, Mosqueiro, Onças se tornaram locais favoritos de lazer e descanso, para a elite estrangeira e os novos enriquecidos pela extração e comercialização do látex da castanha e das madeiras. Os chalés da orla de Mosqueiro são exemplos da materialização desse processo de ocupação.

“Espera-se que Belém seja pensada, e não só representada com suas ilhas e águas na elaboração de sua história e demais ciências, mas como objeto de políticas públicas” 38 • REVISTA AMAZÔNIA VIVA •

JANEIRO DE 2016

Sem dúvida, é importante conhecer esse processo para entender melhor a relação existente hoje entre os dois territórios. De que forma se dão as relações de trabalho, economia e dependência entre a cidade e as ilhas? Em relação ao trabalho e suas relações os ilhéus belemitas vivenciaram e vivenciam as que se caracterizam como familiares, baseadas na cooperação nos períodos entre os séculos XVIII e XIX, mas ocorreu a reprodução das relações sociais de trabalho escravagistas vigentes na colônia, nas ilhas onde se instalaram engenhos, olarias, e fábricas, como nas ilhas das Onças, Mosqueiro Cotijuba, entre outras. Após a abolição da escravidão os moradores das ilhas retomaram às relações familiares de trabalho e algumas vezes ao assalariamento ou remuneração por produção no corte e carregamento do palmitos. Ressalta-se que nas últimas três décadas ocorreram mudanças na organização social para a produção, apropriação e comercialização dos produtos nas ilhas, adotando em parte as noções ambientalistas de sustentabilidade e de patrimônio cultural no manejo e cultivo de produtos aromáticos e medicinais, produzidos tradicionalmente e comercializados nas feiras da cidade continental, especialmente na do Ver-o-Peso. Nas primeiras décadas do século XX os ilhéus se organizaram em centros comunitários e associações de moradores sob orientação de técnicos de instituições governamentais e não governamentais, no sentido de defender seus interesses socioeconômicos e culturais. Em face a novas demandas

sobre o território e trabalhadores das ilhas, surgiram propostas de instalação de empresas produtoras de alimentos, turismo e de produção de insumos para a indústria de cosméticos. Por estes contratos, os produtores são autônomos e sem vínculos empregatícios com as empresas contratantes e produzem a partir de aspectos materiais e simbólicos – o saber e o fazer – sob novas exigências tecnológicas, reconfigurando suas tradicionais relações familiares, de amizade, de compadrio, de trabalho e de lazer, assegurando sua sobrevivência e sua inserção no mercado globalizado.


REPRODUÇÃO

ESTUDOS

Leila Mourão coordena a pesquisa “Belém de águas e ilhas - 400 anos: saberes, usos, memórias e histórias da insularidade”, sobre a situação e a geografia da zona insular da capital

A construção da identidade do belenense é vista de forma diferente entre os moradores das ilhas? Como é a representação deste ambiente pela população local? E pelo poder público? As políticas oficiais de governo têm representado os sujeitos insulares como rurais e os projetos relacionados as ilhas são realizados como tentativa de inseri-los na civilidade urbana de Belém. Os moradores das ilhas vivenciam as experiências da cidade em quase todos aspectos de suas vidas, o que fazem deles também belemitas, ainda que estruturem e organizem suas vidas e sociedade em função das águas e das insularidades. O projeto, ao recuperar a história socioambiental das ilhas e a interação com a história da sociedade continental, busca dar uma perspectiva mais ampla sobre a importância desta região e valorizar suas contribuições? Os resultados da pesquisa têm apontado as percepções públicas e privadas sobre as ilhas e águas que contornam a parte continental da cidade e podem indicar as possibilidades de inflexões na cultura, na política e nas ações públicas e privadas na perspectiva de construirmos outra percepção cultural e econômica. Uma outra cultura que contribua para a inserção das ilhas e seus habitantes na cidade, resguardando a especificidade de cada modo de viver ao evidenciar no debate a importância que as ilhas e seus habitantes têm, por exemplo, no abastecimento do açaí, de plantas aromáticas e medicinais, ou na oferta de espaço para o turismo, na manutenção manejada das coberturas florestais para melhorar o clima da cidade continental, entre outras possibilidades. Ainda são tímidas as ações práticas, mas espera-se que num futuro próximo a cidade de Belém seja pensada, e não só representada com suas ilhas e águas na elaboração de sua história e demais ciências, mas como objeto de políticas públicas. JANEIRO DE 2016

• REVISTA AMAZÔNIA VIVA • 39


CAPA

Belém curtida

e compartilhada AS REDES SOCIAIS AJUDAM A PRESERVAR A MEMÓRIA DOS 400 ANOS DA CAPITAL PARAENSE NO SÉCULO XXI TEXTO GABRIELA AZEVEDO FOTOS TARSO SARRAF 40 • REVISTA AMAZÔNIA VIVA •

JANEIRO DE 2016


U

ma Belém guardada na memória de alguns, mas desconhecida por outros. Casarões que não se veem mais, embarcações que passaram, ruas que sumiram, ônibus que já deixaram de circular. Vidas que se foram, construções demolidas, histórias esquecidas. Fragmentos de uma capital de 400 anos registrados em imagens e documentos. Muitas informações, mais a se descobrir, muito ainda a se entender. Nem tudo disponível, nem tudo digital. Porém, buscado e pesquisado por quem ama a capital do Pará e o caminho que ela traçou. O crescimento urbanístico, a evolução da paisagem e mesmo a desconstrução do planejamento. A Cidade das Mangueiras é apaixonante, hoje e ontem. As mudanças permitidas pelo tempo criaram outro visual, mas preservou alguma coisa, uma espécie de alma que a faz tão reconhecível. Parte da memória social e física de Belém está guardada nas mentes e nos livros. Já alguns pontos dessa história estão esquecidos em bibliotecas, arquivos públicos ou álbuns de família. Mas existem. E hão de ser acessados. Alguns curiosos, sobretudo, buscam essas recordações mesmo que não sejam as deles. Compartilham memórias em um movimento de divisão digital importante para a humanidade atualmente. Imagens que reascendem lembranças e provocam reflexões.

“Posts” da história Detalhes e curiosidades históricos de Belém estão acessíveis em páginas nas redes sociais da internet

JANEIRO DE 2016

• REVISTA AMAZÔNIA VIVA • 41


CAPA

REPRODUÇÃO NOSTALGIA BELÉM / LIFE

Imagens dos primeiros Círios. O complexo do Entroncamento muito antes das obras do BRT. Praças e avenidas de anos atrás. Lanchonetes famosas que fecharam, lojas que marcaram época e prédios históricos. Belém tem 400 anos de história, 1,4 milhão de habitantes e uns milhares de fãs na internet. Sim, a internet. Afinal, hoje, ela é o mar onde os rios deságuam. Tudo cai na rede. Fãs porque estão interessados, motivados em conhecer mais sobre a cidade, descobrir mais do lugar onde vive, onde nasceram, visitaram ou planejam ir. Outros fãs são saudosistas, querem saciar a falta que faz não ver o que antes se via. Foi por esse amor à “Cidade 42 • REVISTA AMAZÔNIA VIVA •

JANEIRO DE 2016

Morena” que o publicitário Robson Santos decidiu criar a página “Nostalgia Belém”, no Facebook. Mais de 73 mil seguidores, um acervo com cerca de 1,2 mil imagens postadas e um público extremamente colaborador. Desde o segundo semestre de 2012, o projeto reúne imagens de fachadas de igrejas, de cartazes de cinema, de prédios históricos, de avenidas e até de festas tradicionais que não existem mais. “A memória é muito esquecida e eu sempre gostei da história de Belém. Via outros blogs que faziam isso esporadicamente, mas queria algo mais específico. Não conheço nenhum trabalho do poder público que faça esse tipo de compartilhamento, então criei a página, comecei por ela. É coisa

minha mesmo, sou saudosista. Faço por prazer”, diz. Com o sucesso da página, Robson também criou um blog (www.nostalgiabelem.com) e um perfil no Instagram (@nostalgiabelem). O publicitário costuma pesquisar sobre a cidade em sites oficiais, como o do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mas conta que já pesquisou em muito jornal antigo na Biblioteca Pública Arthur Vianna. “Eles têm muitos jornais antigos de Belém e quando a gente vai virando as páginas encontra cada imagem linda. Já havia muitas propagandas também. Tudo o que vou gostando faço uma reprodução com o meu celular e trato a foto depois para poder publicar. Vou fazendo um banco de imagens

REGISTROS

Imagens antigas da cidade, como as do zepelim, um modelo de ônibus que circulava em Belém durante a década de 1960


para postar aos poucos”, explica. Com uma média de 500 curtidas, 30 comentários e mais 300 compartilhamentos por publicação, Robson Santos garante que considera o feedback do público. “Eu vou filtrando as demandas, o que as pessoas pedem e vou vendo o que já tenho de acervo. Também recebo imagens de álbuns de leitores, acervos pessoais. É muito legal ver comentários como ‘conheço esse casarão, meu avô já passou por lá’. Eu não conto a história da foto, mas muita gente sai contando nos comentários. Minha ideia sempre foi fazer de forma simples e talvez esse seja o segredo para estar dando certo”, comenta. A página “Nostalgia Belém” tem postagens diárias, geralmente feitas de madrugada. “O que mais me impressiona é que sempre tem algo novo para mostrar de Belém. Algo novo, mas antigo ao mesmo tempo”, completa.

HÁBITO PECULIAR

O publicitário Robson Santos criou a página “Nostalgia Belém”, no Facebook, onde arquiva e divulga imagens para que não sejam esquecidas

JANEIRO DE 2016

• REVISTA AMAZÔNIA VIVA • 43


CAPA

FAZER CONHECER

Outra página do Facebook que conquista fiéis seguidores é a “Belém Antiga”, administrada pelo jornalista e advogado Salomão Mendes, desde outubro de 2013, que também tem um blog (belemantiga.blogspot.com.br). “Sempre gostei de colecionar retalhos da história. Comecei a publicar arquivos que eu tinha e me sugeriram fazer uma página com esse gancho. Já existiam páginas assim, mas eu queria contextualizar mais, transportar o leitor para aquela época, porque eu acredito que patrimônio a gente só preserva se conhece”, opina. E é isso que Salomão consegue fazer. Fazer conhecer. As publicações são sempre atreladas a um momento na história de Belém que situa o leitor no tempo e espaço. A construção do aeroporto em 1952,

uma fábrica de pneus na ilha de Mosqueiro, o dia em que o Pelé foi atacante do Clube do Remo e até a prova de que a capital paraense já teve seu próprio Arco do Triunfo. Histórias surpreendentes e imagens curiosas. Apresentar histórias e reativar a memória de quem já foi apresentado a elas. “Quem acompanha a minha página quer conhecer, reclamar. Falam da falta de materiais como esse disponíveis, se chocam quando veem um casarão na imagem, em uma rua que reconhecem e percebem que ele foi destruído. Acredito que todo trabalho nesse sentido tem boas respostas, bons resultados”, diz. E tem, mesmo. São mais de 30 mil seguidores, uma média de 200 curtidas e 70 compartilhamentos. Assim as páginas vão surgindo, mais likes, mais acessos, mais informação partilhada, mais redes.

REPRODUÇÃO

INFORMAÇÃO PESQUISADA

No Tumblr, um microblog de postagens curtas, o geólogo Igor Pacheco criou o “Fragmentos de Belém” (www.fragmentosdebelem. tumblr.com). “Existe desde 2011, mas eu já estava guardando imagens de Belém desde 2006, 2007 para minha própria apreciação. Depois veio uma fixação por adquirir livros sobre a história da cidade e inter-relacionar com as fotos”, conta Igor. Ele tinha muito material, vários livros fichados antes de começar o projeto. “Livros que tinham passagens interessantes. Achei que seria bom divulgar, deixar essas informações abertas para quem tivesse o mesmo interesse”, diz. O ponto de partida foi uma foto antiga do mercado do Ver-o-Peso que um amigo deu a ele. “Aí comecei mesmo a coletar fotos e postais. Havia muita informação acadêmica, REPRODUÇÃO

À ESPERA DO IMPERADOR

A página “Belém Antiga” guarda registros, como o arco construído à beira da Baía do Guajará para a visita do imperador D. Pedro II, em 1876. À esquerda, imagens do acervo da página Nostalgia Belém.

REPRODUÇÃO

44 • REVISTA AMAZÔNIA VIVA •

JANEIRO DE 2016


muitas fotos soltas sem nenhum nexo. E eu lia muitas histórias boas que estavam só nos livros, relatos informais, memoriais; achava que elas deveriam ter maior divulgação”, afirma. Igor Pacheco é daqueles leitores curiosos que se sente parte da cidade onde mora. “Sempre tive curiosidade em compreender como foi a evolução histórica de determinado prédio, rua, costume. Às vezes acho que é uma forma de ligação, pertencimento a Belém, uma mistura de história pessoal com a da cidade”, comenta. Assim como a maioria dos administradores de páginas sobre a história de Belém, o geólogo pesquisa bastante antes de publicar novas informações. “Muito do material vem da internet, seja de sites que colocam postais à venda, seja de acervos acadêmicos do Brasil ou de fora do país. Muitas fotos vêm também de livros ou revistas que compro e escaneio”, diz. E para acompanhar o Tumblr, não seria diferente, mais um público interessado e interativo. “Vira e mexe aparecem pedidos para ceder informações sobre determinada foto, seja para trabalhos acadêmicos ou publicações. Houve recentemente um pedido de Portugal sobre a origem da Casa Outeiro, onde é hoje é o edifício Manoel Pinto. É recompensador ajudar quem precisa de alguma informação ou material de referência”, garante.

INSTRUMENTO DE DEBATE

O meio digital então, parece despertar o interesse das pessoas para a preservação do patrimônio histórico. Cobranças surgem. E causas também. A historiadora especialista em gestão do patrimônio histórico, Lélia Fernandes, acredita em iniciativas como a dos colaboradores virtuais citados nesta reportagem. “Felizmente alguém faz isso, já que o poder público não. Eles deveriam ser estimulados, no entanto fazem por sensibilidade”, comenta. Aproveitar a ferramenta virtual para gerar debate e incentivar o amor pela cidade porque há uma infinidade de estímulos que partem da rede para a sociedade real.

PESQUISA POSTADA O geólogo Igor Pacheco criou a página “Fragmentos de Belém” no Tumblr. Antes de qualquer postagem, ele pesquisa a fonte de informação, faz um “scanner” do material e divulga no seu microblog.

JANEIRO DE 2016

• REVISTA AMAZÔNIA VIVA • 45


CAPA

“A internet é um instrumento importantíssimo para cidadania, para a discussão e para a mobilização. Não podemos ignorar isso”, afirma. Segundo a especialista, o interesse dos internautas parte também da saudade de tempos áureos. “Belém era a capital cultural da Amazônia. Uma das primeiras a se modernizar, na logística industrial. Tudo o que funciona hoje aqui, foi planejada há 100 anos, vem da gestão de Antônio Lemos. A partir daí vivemos lamentando os rumos, as pessoas têm saudade”, acredita. Cada publicação, uma intenção. Cada resposta, um resultado. “São apreensões da cidade, de tudo que já se viu, de tudo que já se ouviu e de tudo que ainda se vê. É quando cada um reflete, sobretudo por algo que é um princípio republicano. O direito a cidade, o direito a cultura. E eu percebo que a partir de trabalhos como esses, a população de Belém mostra que quer vivenciar, discutir e planejar junta”, diz Lélia Fernandes.

PRESERVAÇÃO ADEQUADA

Mas para replicar a memória de Belém, uma ação importante precisa vir antes. Preservação. Digitalizar não encerra o ciclo de proteção da história. Reestabelecer, cuidar, abrigar, zelar. Todas são ações que devem envolver o script de um trabalho como esses. A diretora executiva da Associação dos Amigos dos Arquivos Públicos do Estado do Pará (ARQPEQ), Ethel Valentina Soares, alerta para o cuidado que esse processo requer. “Só precisamos entender que quando a gente digitaliza uma imagem ou um documento, isso não quer dizer que a gente pode descartar o material. A gente digitaliza para poder preservar o original porque papel é frágil. O manuseio dos achados mais antigos exige cuidado e responsabilidade”, afirma.

46 • REVISTA AMAZÔNIA VIVA •

JANEIRO DE 2016

A ARTE DE ARQUIVAR

Ethel Soares dirige a Associação dos Amigos dos Arquivos Públicos do Estado do Pará. Para ela, a internet é uma aliada na conservação da história de Belém.

A associação trabalha promovendo a preservação de arquivos históricos, relíquias valiosas que contam a trajetória do Estado. Documentos como as notas de compra de lugares importantes para Belém, como o mercado do Ver-o-Peso. Documentos de séculos passados, registros que explicam movimentos.

“Trabalho diretamente com preservação então sempre vou pedir cuidados especiais. Mas é válido que a internet esteja alimentando esses movimentos, desde que quem leia e quem publica enxergue uma história a ser preservada em cada uma dessas publicações”, afirma. A preservação das memórias históricas


MUITAS CURTIDAS

Imagens de Belém que bombaram nas redes

Ônibus antigo para o Guamá. Eliel Muniz / Nostalgia Belém

Manoel Pinto da Silva, o comerciante português em frente a sua empresa “A Automobilista”, no térreo do famoso edifício que levou seu nome. Anos 50, século XX. Belém Antiga

Quantidade de seguidores (Média até o fechamento desta edição) Nostalgia Belém 73.783 Belém Antiga 30.116

Base Aérea de Val de Cans, 1949

Fragmentos de Belém 2.595

University of Wisconsin / Fragmentos de Belém

de Belém é uma ação a ser compartilhada e estimulada. Movimento que tem reunido interessados e provocado discussões importantes. São lembranças e informações que fazem parte da trajetória da capital paraense. Proporcionar acesso às belas imagens e aos preciosos documentos de uma capital com a importância de Belém é um presente que 400 anos de vida mereciam.

Outras páginas e blogs: haroldobaleixe.blogspot.com.br fauufpa.wordpress.com pelasruasdebelem.zip.net facebook.com/Belem-de-Antigamente ufpadoispontozero.wordpress.com

JANEIRO DE 2016

• REVISTA AMAZÔNIA VIVA • 47


COMUNIDADE

Um país que se chama Belém A capital paraense abriga alguns dos bairros mais icônicos e famosos do Estado, reunindo histórias do passado e do presente da cidade TEXTO JOÃO CUNHA FOTOS FERNANDO SETTE

D

e quantas cidades se faz uma? Qual a porção de identidades cabe na naturalidade “belenense”? A reportagem da Amazônia Viva partiu do berço da capital paraense, na beira do rio Guamá; passou por redutos de tradição; por zonas que há pouco tempo eram consideradas fronteiras e cada vez mais estão juntas e misturadas ao centro urbano; pela rodovia Augusto Montenegro, onde a cidade se expande, até a outra ponta, Icoaraci. Três bairros, um distrito e muitas histórias para contar. Ao avançar por Belém, encontramos microcosmos com códigos, culturas e linguagens diferentes, cada um conversando com os outros e sabendo bem de si e da sua parte no todo da cidade.

48 • REVISTA AMAZÔNIA VIVA •

JANEIRO DE 2016

Cidade Velha e Viva

“Comemorar os 400 anos de Belém na verdade é comemorar os 400 anos da Cidade Velha”, diz Dulce Rocque com a propriedade de quem tem uma relação de mais de cinco décadas com o bairro. Belém foi criada ali, de um forte militar português de taipa de pilão e paliçada, e cresceu como o povoado da Feliz Luzitânia para depois se tornar a cidade com sua identidade atual. O primeiro braço de povoamento, espichando para o Norte, é a área que se percebe pelo nome: Cidade Velha. Dulce, hoje aposentada, mora em um antigo sobrado de frente para a praça do Carmo, há poucos metros de onde toda essa

história começou. No meio de um conjunto arquitetônico de casarões, monumentos e igrejas seculares, ela convive com um museu a céu aberto. Legado material que inclusive foi reconhecido com o tombamento pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) em 2012. Para Dulce, aí está o grande diferencial e responsabilidade de quem habita no pedaço mais antigo de Belém. Para cuidar da preservação do bairro e do bem-estar dos moradores, a “Cidade Velha, Cidade Viva” (CivViva) foi criada há nove anos. Durante esse tempo já foram várias as causas em que a associação se envolveu na defesa do centro histórico. A mais significativa foi contra a construção de um shopping center


no lugar da tradicional loja de fogos Bechara Mattar em 2013. “O projeto não incluía um estudo de impacto de vizinhança em termos de paisagem urbana, ventilação, tráfego e muitos outros”, conta Dulce, presidente da associação. “Ele ainda ultrapassava o limite máximo permitido para construções na Cidade Velha e não previa a construção de estacionamento, o que é

ilegal”. Uma ação foi movida pelo Ministério Público Federal (MPF) e a obra foi embargada. A CivViva, que hoje é construída por mais de 60 integrantes, é esse ponto de referência de pessoas que buscam soluções para os problemas e valorizar a história do bairro. Um dos sonhos da associação é que a educação sobre patrimônio seja estendida para toda a po-

pulação de Belém. “Não se trata somente de um punhado de prédios antigos, são partes da história e memória coletiva da cidade”, afirma o arquiteto Pedro Santos, morador da Cidade Velha há 24 anos e também integrante da CivViva. “Se as pessoas se conscientizarem da importância (do patrimônio), elas vão defendê-lo, por isso a necessidade de educação patrimonial e ambiental”.

CENTRO HISTÓRICO

Os integrantes da associação Cidade Velha, Cidade Viva buscam soluções para os problemas e valorizar a história do primeiro bairro de Belém

Nação jurunense

Saindo da Cidade Velha, mas ainda na velha Belém, existe um mundo a parte. Onde os caminhos guardam o nome da ancestralidade: Tamoios, Mundurucus, Caripunas. Das festas, do samba, da saudade e do tecnobrega. Mesmo com o estigma da violência que marca os bairros mais pobres, quem vem de lá, do feirante à cantora de sucesso nacional, enche a boca pra dizer que é do Jurunas. A antropóloga e professora da Universidade Federal do Pará (UFPA), Carmem Izabel Rodrigues, dedicou dez anos da vida a estudar o fascínio pelo Jurunas e as formas de sociabilidade que formam a identidade do jurunense. Para isso, passou a frequentar o bairro com mais regularidade, marcando presença nas festas e observando o cotidiano dos moradores. Como resultado do estudo, nasceu a tese de doutorado que se desdobrou no livro “Vem do bairro do Juru-

nas”, lançado em 2006. Para a pesquisadora, várias imagens coexistem no discurso popular sobre o Jurunas, entre elas o “bairro comunitário”, de parentes e vizinhos, compadres e conterrâneos, colegas e chegados; o “bairro perigoso”, de desocupados, bandidos e gangues, onde a violência é constante na vida cotidiana; o “bairro de trabalhadores”, de vendedores autônomos, de mão de obra barata que pode ser aproveitada; “bairro de ocupantes-invasores” que enfrentam a polícia, desrespeitando as leis. “Bairro de eleitores-cidadãos”, cujas vozes e votos têm um peso considerável na política local. E o “bairro de antigas tradições festivas”, de batuques, bumbás, festas de santos, do carnaval da escola “Rancho Não Posso Me Amofiná” e festas juninas. “O Jurunas é, ao mesmo tempo, um bairro cultural, de espaços de inovação e criatividade e um território cultural”, escreve a antropóloga no artigo de 2011

MARCAS SOCIAIS

O bairro do Jurunas carrega as mazelas de qualquer bairro periférico das grandes cidades brasileiras, mas também é conhecido pela população trabalhadora e alegre, que não abre mão de uma boa festa

JANEIRO DE 2016

• REVISTA AMAZÔNIA VIVA • 49


COMUNIDADE

“Jurunas, lugar imaginado?”. “(Nele) se produzem estilos de vida próprio, de sociabilidades e tradições festivas, que permitiram atribuir ao bairro um ethos festeiro, ao lado das imagens de violência que têm estado frequentemente associadas ao bairro em seu processo de ocupação e urbanização.”

Sem perder a realeza

“Do samba e do amor”. A Pedreira carrega esse título de outros carnavais, do auge da boêmia no século passado, quando tinha o pé mais na periferia que no centro e as noites eram levadas pelo batuque de uma roda de percus-

50 • REVISTA AMAZÔNIA VIVA •

JANEIRO DE 2016

são. Apesar de ter nascido e se criado em território vizinho, o Umarizal, Socorro Luna dançou demais no bairro, em cada baile que havia. E foram muitos. Ela relembra vivamente esses tempos, porque também é uma cria do samba de Belém. Há 20 anos, adotou a camisa da “Embaixada de Samba do Império Pedreirense” (ESIP) e não sai mais do bairro. É a “chama” da Pedreira que, segundo ela, impregna cada morador. Sentada ao fundo barracão da escola, na travessa Mauriti, ao lado da Feira da Pedreira, “Help”, como é conhecida, toca os preparativos para o desfile desse ano. “Só

um instantinho”, interrompe a entrevista para marcar com caneta um detalhe na alegoria. “Onde eu estava?” Ela contava a história de gloriosas folias, quando a Embaixada não reinava sozinha na passarela. Havia mais duas escolas no bairro. “Os tempos estão mais difíceis. Elas fecharam e nós continuamos na batalha”, revela. É um capítulo árduo em 64 anos de história. Nascida como “Maracatu do Surbúbio” na década de 50, a ESIP tem uma caminhada de títulos e campanhas memoráveis no carnaval paraense, muitas delas apresentadas no chão da Aldeia Cabana, o sambódromo oficial da cidade,


que não podia ser em outro lugar, senão a Pedreira. Fora do 1º pelotão do samba e com pouco dinheiro em caixa, a Embaixada segue seu caminho pela avenida, se valendo da força da comunidade, que tem uma forte identificação com a escola e para a qual o barracão sempre está aberto. “O pessoal da feira é maravilhoso. Sempre que tem feijoada pra levantar fundos pra Ala das Baianas, eles doam alguns quilos de carne, tempero e assim vai”, conta Help. As festas e bingos são só uma parte da programação corrente. Desde os anos 1990, a Embaixada se tornou um grande centro comunitário, oferecendo serviços e atividades para os pedreirenses, de samba no pé ou não.

NA BATUCADA

A Pedreira é famosa pelo samba e pela boêmia. A escola Império Pedreirense mantém a tradição carnavalesca no bairro, e também investe em projetos sociais para os moradores da área

A CARA DO BAIRRO

Publicitário criou identidades visuais específicas para algumas áreas urbanas de Belém O bairro do Reduto é uma ân-

citário belenense, que consistiu

moradores e a cultura contem-

cora vermelha de costas para

em gerar imagens representa-

porânea de cada local.

um rio Guamá ocupado por car-

tivas de aspectos importantes

Para chegar ao resultado, o pu-

gueiros, remetendo à sua ativi-

do contexto histórico e atual de

blicitário se misturou à rotina

dade portuária e tradição fabril.

cada bairro. Além dos três ci-

dos cinco bairros escolhidos e

Nazaré estampa a cúpula do

tados, Jurunas e Cidade Velha

entrevistou pessoas que vivem lá,

santuário de Nossa Senhora por

também receberam suas ver-

além do levantamento histórico

cima das mangueiras e dos pré-

sões visuais.

para juntar características tradi-

dios. Já o Umarizal é uma árvore

A ideia surgiu de uma experiên-

cionais e recentes de cada bairro.

de umari, que dá o nome ao lugar,

cia que Mateus teve muito longe

“A pesquisa abriu um leque de

sob um fundo verde e com uma

de Belém, quando fez um in-

conhecimentos sobre as histó-

estética moderna, com inspira-

tercâmbio nos Estados Unidos.

rias da cidade como um todo e

ção na vida noturna e na fachada

Ele notou muitas iniciativas de

seu processo de povoamento”,

de empreendimentos de luxo.

identidade das comunidades

afirma Mateus. “É interessante

Essa é a feição que esses locais

do país e teve a vontade de ex-

ver como os bairros se desenvol-

ganharam nas identidades visu-

perimentar na terra natal uma

veram de formas bem variadas

ais feitas por Mateus Paes. Elas

forma de expressar a identifica-

e como suas características mu-

foram resultado da pesquisa de

ção de bairros unindo os aspec-

daram ao longo do tempo, abri-

monografia proposta pelo publi-

tos históricos, a percepção dos

gando diferentes culturas”.

ÍCONES DA CIDADE

O publicitário Mateus Paes (acima) criou logotipos que identificam alguns bairros de Belém, associando características próprias das áreas urbanas

JANEIRO DE 2016

• REVISTA AMAZÔNIA VIVA • 51


COMUNIDADE

ARTE EM ARGILA

A herança cultural dos primeiros artesãos de Icoaraci perpetua na reprodução de desenhos marajoaras nas cerâmicas, que hoje são conhecidas mundialmente

Terra da cerâmica

O raciocínio do nativo de Belém, do morador de longa data ou do turista mais sabido rapidamente liga as palavras “Icoaraci” e “cerâmica”, essa última talvez logo seguida por “marajoara”. Para os que vivem no distrito litorâneo a cerca de 20 km da capital paraense, a tradição do artesanato em argila não veio de primeira mão dos nossos ancestrais do arquipélago do Marajó, que por lá fizeram morada há centenas e milhares de anos. A ceramista e pesquisadora Sineia Hosana afirma que tudo teve início com Mestre Cabeludo nos idos de 1950. “Ele achou no lixo uma revista com imagens das peças pré-coloniais e tentou reproduzir em casa. Depois vieram outros mestres, como Cardoso, que estudaram e especializaram as técnicas”. Antes dos artesãos já tinha cerâmica em Icoaraci. Isso desde o início do século XX,

52 • REVISTA AMAZÔNIA VIVA •

JANEIRO DE 2016

quando ela era conhecida como Vila Pinheiro. A produção tinha saída utilitária, de acessórios de casa, e não decorativo e artístico, como as peças atuais que ganharam o mundo. Sineia explica que elas não são puramente “marajoaras” ou “tapajônicas”, mas a mistura de várias culturas, formando um estilo e design únicos que só se aprendem por aquelas bandas. É esse fazer genuíno que ela quer resgatar e o tornar mais uma vez popular entre os jovens. À frente da Cooperativa de Artesãos de Icoaraci (COARTI), Sineia conduz oficinas de cerâmica para crianças, a mais nova delas seu neto Johann ou “Iôiô”, de 5 anos. “A nossa luta é para manter essa prática viva. E eu vejo que as crianças têm interesse em saber, mesmo que mais tarde eles venham a trabalhar em outra coisa, mas aprendem esse ofício lindo”, diz. As aulas recontam a maneira de criar a

cerâmica, a narrativa e a simbologia dos povos amazônicos de outrora. “Nós temos uma cerâmica milenar que no Marajó pode ter até 4 mil anos e em Taperinha (Santarém) 8 mil anos. Isso é uma história, são vidas que a cerâmica conta. Ao mesmo tempo, elas falam de Icoaraci, que tem um artesanato único”, afirma. Atualmente, a lição é tomada na casa da presidente. A sede da cooperativa, um casarão de época ao lado da praça da Matriz, foi fechada há alguns anos para reformas. As melhorias ainda não aconteceram por falta de recursos federais. Enquanto elas não começam, a COARTI cedeu o espaço do pátio para aulas de capoeira, artes marciais e atividades para os idosos da comunidade. “Em breve, vamos reabrir com a estrutura que temos, porque esse espaço é nosso. Vai ser um centro de formação de artesãos, venda de cerâmica e turismo para Icoaraci”, planeja Sineia.


EDUCAÇÃO

Cartas para Castelo Branco Projeto de estudantes da Escola Rui Barbosa reúne redações com análises sobre a evolução de Belém desde sua fundação, em 1616 TEXTO ANA PAULA MESQUITA FOTOS CARLOS BORGES

U

ns a exaltam destacando suas belezas naturais, comidas e culturas. Outros a criticam apontando que a Cidade das Mangueiras está mal cuidada e abandonada. Esse discurso não é original. A questão é: será que os cidadãos conhecem a história da capital e o que essa história influenciou na Belém atual? É para colaborar com a resposta a essa pergunta que alunos e professores da Escola Estadual de Ensino Médio e Fundamental Rui Barbosa, a convite do professor, pesquisador e técnico em gestão cultural do Museu do Forte do Presépio, Saint-Clair Dias, fi zeram, produzem o livro “Carta ao Castelo Branco”, lançado no dia dos 400 anos de Belém, 12 de janei-

ro de 2016. O livro tem 200 redações feitas pelos alunos, que escreveram uma carta ao capitão-mor Francisco Caldeira Castelo Branco, fundador de Belém, narrando a história e as mudanças ocorridas na cidade a partir da perspectiva e do olhar de cada um. Para Saint-Clair, a observação que os alunos tiveram para escrever a carta os ajudou a ter o conhecimento da realidade e do lugar onde vivem. A carta foi fundamentada na história e na reflexão. “Isso ajudará eles a conhecerem o lugar onde nasceram e ainda poderão trabalhar a questão da memória, refletir sobre essa realidade e mostrar, a partir da imaginação deles, como eles enxergam a história da

criação de Belém”, explicou. Para a construção do documento, os alunos tiveram uma motivação: a escola Rui Barbosa realizou um projeto chamado “Belém, Quatro Séculos de História”, idealizado pelos professores da escola com objetivo de despertar a cidadania valorizando a origem da cidade e preservando o patrimônio material e imaterial do bairro da Cidade Velha. Várias atividades foram realizadas com os alunos como apresentação e exposição de trabalhos, dramatização de danças e peças teatrais, interpretação de textos e aulas de campo, como assistir ao filme “A Cabanagem”, no cinema Olympia – o que já é uma aula de história em si pelo museu centenário e mais antigo em funciona-


EDUCAÇÃO

mento do País - e visitas ao centro histórico como as igrejas São João, Catedral Metropolitana e Igreja de Santo Alexandre; palácios Lauro Sodré e Antônio Lemos; ruas da Cidade Velha, praça do Carmo, além de outros lugares que estão no bairro histórico. Todo esse circuito tem um único fim: fornecer aos alunos do colégio o conhecimento da história da cidade e a compreensão da realidade em que vivem. A professora de Geografia Simague Rocha destacou que essas atividades e a produção da carta são uma forma de valorizar a educação, “...de fornecer a esses alunos um novo olhar sobre a educação e sobre a cidade de Belém por meio das pesquisas”. A professora de Ciências Silvana Rocha ressalta a importância de conhecer mais o lugar onde os alunos estão inseridos e estudando, pois o colégio Rui Barbosa se localiza no bairro da Cidade Velha e é um dos colégios mais tradicionais da região. “Nós queremos incentivar o conhecimento da formação histórica e geográfica de Belém”, disse.

A memória é uma das preocupações dos educadores, pois para eles as novas gerações carecem de mais informações sobre o patrimônio histórico do Pará. A Cabanagem é um dos assuntos trabalhados com os alunos, pois valorizar a história cabana é importante como elemento formador da sociedade paraense. “Nós temos um sério problema que é a questão da memória. Nós tivemos aqui um dos principais movimentos sociais brasileiros, que foi a revolução cabana. Foi um movimento que se preocupava com as questões sociais. Além de outros acontecimentos que deixaram marcas históricas na culinária, arquitetura e ruas que nós vivenciamos sem saber a origem”, aponta o professor e Estudos da Amazônia Rubens Reis. “O grande desafio histórico-educacional, para os professores da escola Rui Babosa, é dar condições de cidadania consciente, tornar os alunos organizados e participativos do processo de construção político, social e cultural de uma Belém que buscamos nesses 400 anos de história, memória e identidade”, afirmou a professora Simague. O ponto central do projeto é formar cidadãos conscientes do lugar onde vivem. É refletir e valorizar Belém, para que no futuro eles possam contribuir para que essa cidade seja digna de quem mora nela e de quem quer visitá-la e conhecê-la. O livro-carta poderá ser utilizado pelo Museu do Forte do Presépio como mídia pedagógica e obra paradidática nas escolas. A produção é artesanal e feita pelo instituição e os exemplares serão distribuídos para a imprensa, escolas, sendo que parte ficará disponível no museu por meios digitais.

O que você escreveu para Francisco Caldeira Castelo Branco?

IMPORTANTE FORMAÇÃO

Laís Ferreira, 12 anos, 7º ano.

Acima, o professor e técnico em gestão cultural do Museu do Forte do Presépio, Saint-Clair Dias, convidou alunos e professores (ao lado) da Escola Rui Barbosa para apresentarem a visão da comunidade estudantil sobre a cidade de 400 anos

54 • REVISTA AMAZÔNIA VIVA •

JANEIRO DE 2016

James Gonçalves, 15 anos, 8º ano. Escrevi que Belém precisa melhorar em vários pontos, principalmente o saneamento básico, com menos poluição nos rios. É possível perceber muito lixo na Baía do Guajará e isso a gente não pode deixar de lado.

Synthia Vieira, 14 anos, 8º ano. O que escrevi na carta foi sobre a valorização da história da nossa cidade, pois é só por meio da memória é que compreendemos a Belém da atualidade. Ainda é preciso valorizar nossa cultura, segurança e saúde.

Vitor Trajano, 13 anos, 8º ano. Muitos pontos turísticos de Belém estão localizados na Cidade Velha. Na carta escrevi que esses pontos estão mal cuidados em meio a sujeiras. As ruas do bairro estão muito sujas. Desejo uma Belém bem mais cuidada.

Destaquei a importância da educação. Penso que ela está sendo esquecida. Deveria existir mais projetos para incentivar a educação. Uma cidade tão rica como Belém não pode ser vítima da falta de investimentos.


ARTE, CULTURA E REFLEXÃO FERNANDO SETTE

PENSELIMPO

Retratos periféricos O ARTISTA PLÁSTICO ÉDER OLIVEIRA SE DEDICA A RETRATAR AS PESSOAS “INVISÍVEIS” DA SOCIEDADE

PÁGINA 56

LETRAS

ABANDONO

O jornalista e escritor belenense Haroldo Maranhão é autor de clássicos da literatura nacional, como “Miguel, Miguel”. PÁG.60

Em 400 anos de história, Belém ainda ignora sua parcela insular, relegando populações ribeirinhas ao esquecimento. PÁG.66

JANEIRO DE 2016

• REVISTA AMAZÔNIA VIVA • 55


PAPO DE ARTISTA

B

ienal de São Paulo. Pavilhão Ciccillo Matarazzo. Em meio à intensa movimentação, o paraense Éder Oliveira observa. Ele, um dos dois representantes do Estado na mostra, tem a oportunidade de conferir, no zum-zum-zum de visitantes e nas expressões de genuína curiosidade, a força de seu trabalho. Pintados nas paredes brancas da sala imensa, homens negros de peito nu observam a plateia. Os olhares fixos num misto de indiferença, medo, raiva e impotência. No evento mais importante das artes visuais da América Latina, a imagem do homem comum da Amazônia ganha destaque, impressionando pela aspereza das formas e por reivindicar, nas tintas de um de seus conterrâneos, um lugar de fala. Natural de Nova Timboteua, na região do Salgado paraense, Éder Oliveira é um dos nomes de maior destaque no cenário atual das artes visuais na Amazônia. Formado em Educação Artística pela Universidade Federal do Pará, o artista, pintor por ofício, leva para os muros de bairros de Belém, como Cidade Velha, Reduto e Marambaia, as mesmas imagens com que preencheu as paredes do pavilhão destinado à sua produção no parque Ibirapuera. Homens retirados das páginas policiais dos jornais da capital paraense que, ampliados para a interação com transeuntes nas vias públicas, ganham um novo tipo de representação, carregada de questionamentos sobre identidade, estereótipo e, finalmente, preconceito. Autodidata na pintura, o timboteuense acumula em uma década de trabalho participações de destaque em salões e mostras pelo país, sempre levantando a discussão sobre o homem da periferia da Amazônia. Além dos muros espalhados pela capital paraense, o daltônico

56 • REVISTA AMAZÔNIA VIVA •

JANEIRO DE 2016

O olhar sobre a Belém da periferia O ARTISTA PLÁSTICO ÉDER OLIVEIRA RETRATA A PERIFERIA DA CAPITAL DANDO DESTAQUE ÀS PERSONALIDADES “DIMINUÍDAS” SOCIALMENTE NA CIDADE AMAZÔNICA DE 400 ANOS TEXTO ELVIS ROCHA


EDER OLIVEIRA / DIVULGAÇÃO

Éder tem no currículo a presença em mostras como “Amazônia, Ciclos de Modernidade” (2012), promovida pelo Centro Cultural Banco do Brasil em Brasília e no Rio de Janeiro; “Pororoca: A Amazônia no MAR”, no Museu de Arte do Rio (2014); “O Triunfo do Contemporâneo”, no Museu de Arte Contemporânea do Rio Grande do Sul, em Porto Alegre (2012); em duas edições do Salão Arte Pará (2006 e 2007); além da já citada Bienal de São Paulo, em 2014. Na entrevista a seguir, Éder fala sobre as motivações artísticas, a relação com as ruas e a visão sobre as contradições da cidade que abriga sua obra. Éder, teu trabalho tem um quê de crítica social forte, em que trabalhas a questão da identidade do homem da Amazônia, especialmente os que vivem nas zonas periféricas. Queria que falasses um pouco sobre as reflexões que te levaram a trabalhar essas questões na tua obra. Sempre tive um fascínio pela representação do “outro”, me interessava muito a ideia de representar pessoas ao meu redor, que não por acaso eram pessoas que configuram o tipo amazônico. Demorou pouco tempo para juntar uma coisa a outra e a questão social foi apenas um reflexo daquilo que já trazia em mim. Durante muito tempo na história da arte a pintura serviu para representar figuras de autoridade. Teu trabalho de certa forma subverte isso. Amplias figuras normalmente “diminuídas” socialmente e as joga para o público. Essa relação foi consciente? Sim, consciente. Estava na faculdade e pulsava a ideia de fazer algo contraditório, mas acabou que a racionalização desse conceito surgiu quase ao mesmo JANEIRO DE 2016

• REVISTA AMAZÔNIA VIVA • 57


PAPO DE ARTISTA

CARLOS BORGES EDER OLIVEIRA / DIVULGAÇÃO EDER OLIVEIRA / DIVULGAÇÃO

REALIDADE

Éder Oliveira retrata em grandes pinturas ao ar livre pessoas esquecidas e marginalizadas pela sociedade

58 • REVISTA AMAZÔNIA VIVA •

JANEIRO DE 2016

tempo em que conheci minhas referências, da vendedora de cheiro Antonieta Feio à série Sumaré, de Alex Flemming, percebi que não era o novo que estava buscando, mas sim fazer juntar minha voz a algo que já acontecia. Teu trabalho tem ligação forte com a maneira como os meios de comunicação, especialmente os jornais, caracterizam os moradores da periferia de Belém. Como enxergas essa relação da cidade com a imagem, com o estereótipo relacionado aos moradores dessas áreas? O homem amazônico traz em sua fisionomia uma carga histórica muito forte, seja da miscigenação que o formou ou a marca da labuta, a expressão marcada de alguém que não detém em sua natureza social o poder de tomar decisões sobre si e seu entorno. Hoje essa fisionomia traz algo a mais, algo que tem haver com o medo, com insegurança, e os meios de comunicação tendem a enfatizar esse estereótipo e isolar ainda mais essa condição a critérios raciais, como se voltássemos a acreditar que o mal tem raízes genéticas ou na necessidade de branqueamento do povo brasileiro, já defendido em outros momentos de nossa história. Hoje o caboclo é vítima e algoz. A violência é banalizada e com ela a vida, sobretudo de pessoas da periferia, sobretudo de pessoas de cor, onde o poder público não investigará e a matéria do jornal apenas apontará culpados. Apesar de expor teus trabalhos em galerias, usas a rua pra apresentar tuas reflexões ao público. Como se deu essa preferência pelo espaço público para apresentar tua obra? A rua tem seu ritmo próprio. As pessoas, os compromissos, relações totalmente contrárias ao propósito do cubo branco. Meu interesse nas ações em espaço público não se concentra apenas no conteúdo simbólico, confrontar as pessoas com aquilo que tendem a rejeitar, mas também na contradição de fazer

“O caboclo é vítima e algoz. A violência é banalizada e com ela a vida, sobretudo de pessoas da periferia” uma pintura de cavalete, com todas as suas regras e procedimentos feitos pra perdurar, em um lugar inusitado, algo que já nasce limitado enquanto durabilidade, mas capaz de uma potência que dificilmente alcançaria apresentado num formato tradicional. És daltônico e isso te levou à monocromia na produção dos teus trabalhos. Como se deu a descoberta do problema e a adaptação a ele? Foi muito difícil aceitar o daltonismo, já estava na faculdade e nunca havia precisado usar cores. Tive que lidar com a ideia de nunca chegar ao nível técnico que começava a almejar. Desde quando entrei na academia queria ser um retratista clássico, e isso não seria possível com essa diferença visual. Mas por coincidência ou não essa descoberta se deu quando comecei a pintar pessoas marginalizadas e essa foi apenas mais uma das muitas diferenças que incorporei ao trabalho. Recentemente realizaste uma exposição chamada “Alistamento”, em que retratas jovens em idade de ingressar no serviço militar. A exposição foi realizada a partir de uma convocatória. Queria fazer uma espécie de novo alistamento com esses militares, mas com um propósito artístico, então divulguei e recebi os voluntários em meu ateliê. O projeto foi importante não só por


CARLOS BORGES

ter chegado além do retrato físico, mas por entender mais sobre essa institucionalização humana. Ser militar era um sonho de criança, quando ainda morava em Timboteua esse era um caminho muito promissor para pessoas com nosso perfil social. Trabalhar com o esse grupo também brinca com a questão de lado, o “bom e o mau”, estereótipos que aprendemos desde cedo. A Revista Veja classificou a Bienal de São Paulo de 2014, da qual participaste, como um exemplo de “pobrismo de butique” nas artes visuais. O que terias a dizer a respeito desse tipo de avaliação? A 31ª Bienal de São Paulo foi uma mostra extremamente política. Acredito que somente por isso coube meu trabalho ali. Não

acho que uma revista presa ao pensamento político neoliberal iria acatar de outra forma uma Bienal curada por estrangeiros, que deixou de lado grandes galerias e o mercado de arte ao se concentrar numa estética sobre questões sociais como marginalização, religião e gênero. Mas acho curioso pensar que os argumentos usados para mostrar o quanto o evento era tinha teor equivocado, foram os mesmos utilizados por outros meios para elogiá-lo. Belém está completando 400 anos, cheia de contrastes como a maioria das grandes capitais do país. Qual a avaliação que o cidadão Éder Oliveira faz da cidade em que vive e o que poderia ser feito para melhorá-la? Belém é uma cidade muito singular dentre as demais ca-

pitais brasileiras. Com uma riqueza natural que só é menos perceptível que a humana, mas a cidade é dona de muitas contradições. É estranho descrever a grande hospitalidade na mesma sentença em que falo da enorme sensação de medo e insegurança diária. Num momento em que todo o país parece estar agindo ao avesso, Belém parece destacar ainda mais seus contrastes. A desigualdade social e o descaso com as pessoas de menos poder aquisitivo parecem ter virado uma triste regra nesse aniversário. Sou otimista quanto ao futuro dessa cidade, mas acredito que não depende mais de ficar torcendo; as pessoas devem começar a ter consciência de que isso não é mais normal, de que um voto de dois em dois anos não é a única responsabilidade cívica. JANEIRO DE 2016

EXPRESSÃO

Daltônico e autodidata, Éder Oliveira sempre teve um fascínio pela representação do “outro”

• REVISTA AMAZÔNIA VIVA • 59


MEMÓRIAS BIOGRÁFICAS

Haroldo Maranhão 1927-2004

Um escritor belenense TEXTO NILSON CORTINHAS ILUSTRAÇÕES JOCELYN ALENCAR

60 • REVISTA AMAZÔNIA VIVA •

JANEIRO DE 2016


O

gene dominante da família Maranhão tinha um quê de jornalismo. A paixão começou com o patriarca, Paulo Maranhão. Ultrapassou duas gerações e, de tão forte, chegou ao neto, Haroldo. Haroldo Maranhão foi um escritor que passeou livremente entre o jornalismo e a literatura. Para muitos, trata-se do maior escritor paraense de todos os tempos e um dos maiores do Brasil. Entre diversas obras, uma das de maior destaque é “Miguel Miguel”, novela de 1992. Já foi leitura obrigatória de vestibular da Universidade Federal do Pará e da Universidade da Amazônia e ainda virou minissérie na TV Cultura do Pará. Nasceu em Belém, em 7 de agosto de 1927 e morreu no Rio de Janeiro, em 15 de julho de 2004. Sua trajetória explica o sucesso alcançado a curto, médio e longo prazo. Cresceu e se criou na Folha do Norte, que pertencia ao avô e ao pai dele. Tratava-se do jornal de maior força da região, na época. Segundo recortes históricos, ele usava a área do arquivo do periódico para brincar de futebol, com bolas feitas de papel. E se consumou a saudável confusão entre a brincadeira e a leitura. Entre um drible e outro, ele aproveitava para se debruçar nas prateleiras e ler. O resultado foi rápido, prematuro. Ainda aos 13 anos, Haroldo integrou, de fato e de direito, o time de jornalistas da Folha do Norte. Em um primeiro momento, a veia jornalística tendeu para a editoria policial. Mas, rapidamente, o menino ousado ganhou espaço e, aos 19 anos, já esboçava claramente a preferência pela literatura. Em 1945, criou o suplemento literário da Folha do Norte, que agregava a rotina do belenense, poesias e crônicas ilustradas de grandes escritores como Manuel Bandeira, Cecília Meirelles, Carlos Drummond de Andrade. E sem contar os paraenses, Max Martins, Mário Faustino, Levy Hall, Ruy Barata, Benedito Nunes. “Ele teve a chancela do avô para editar o suplemento literário dominical da Folha, Arte e Literatura. O suplemento era encartado nas edições dominicais e teve 165 edições até o seu fim, em janeiro de 1951. Nessa empreitada, e já negando as convicções parnasianas (poesia que reagiu contra os abusos sentimentais dos românticos), Haroldo reuniu colaboradores de várias partes do Brasil, a nata da intelectualidade da época, modernistas históricos ou

neo-modernos de 45”, diz Juliana da Silva Medina, pesquisadora da trajetória do jornalista e mestre em Letras na área de Estudos Literários pela UFPA. Juliana conduziu um trabalho minucioso, intitulado “Três faces de Haroldo Maranhão: o leitor, o jornalista, o escritor”. O recorte do trabalho acadêmico, como de praxe, tem uma limitação que objetiva a produção de análises mais específicas. A carreira de Haroldo Maranhão também abrange a advocacia. Ele trabalhou como advogado na Caixa Econômica Federal. Mesmo em outra área de atuação, estava sempre atento à escrita. Era o homem das palavras, colecionando histórias. Enquanto lia documentos jurídicos, por exemplo, Haroldo achou uma palavra e insistiu para o amigo Aurélio Buarque de Holanda que incluísse no dicionário da língua portuguesa. E assim foi feito. “Economiário”, adjetivo, pertencente ou relativo à Caixa Econômica. Mas, para Juliana Medina, a literatura de Haroldo Maranhão é a veia mais pulsante. O estilo é marcado pelos acontecimentos familiares, e por extensão, pelos acontecimentos que marcaram Belém e o Pará. Ele escreveu contos, romances e literatura infantojuvenil. “Dois terços da sua obra foi dedicada ao público jovem, dado que poucos levam em conta, talvez por se tratar de um gênero menos prestigiado ou considerado menos importante. Nessa vertente, ele se permitiu exercitar a veia literária com mais leveza, mas não com ingenuidade”, define Juliana. “A literatura adulta, em contrapartida, é visceral, irônica, ácida, sobretudo em alguns romances ambientados no Pará”. Um apaixonado pela língua portuguesa, Haroldo brincava com as palavras, pesquisava infinitamente os regionalismos, principalmente, os que se tratavam dos municípios paraenses. “Afora a produção literária, conhecida, mas certamente não suficientemente explorada, não há como negar que em sua época Haroldo foi um catalisador de manifestações culturais, tanto à frente do Suplemento literário, como à frente da livraria Dom Quixote. Por outro lado, é preciso considerar ainda que a sua biblioteca pessoal, assim como seus arquivos, que se encontram no Centur, têm ainda muito a revelar sobre Haroldo Maranhão e sua terra natal”, comenta Juliana Medina. JANEIRO DE 2016

• REVISTA AMAZÔNIA VIVA • 61


AGENDA PAULA SAMPAIO / ARQUIVO O LIBERAL

EDUCAÇÃO A Coordenação de Pesquisa e Extensão da Escola de Aplicação da UFPA (Copex-EAUFPA) publicou edital para seleção de propostas originais de artigos a serem publicados na Série “Cadernos de Ensino 2016”. A série reúne trabalhos inéditos, entre artigos, resenhas e traduções, com possibilidades didáticas e científicas na perspectiva do ensino aprendizagem da Educação Básica. As inscrições seguem abertas até o dia 15 de maio. Mais informações pelo site portal.ufpa.br.

PESQUISA A Fundação Amazônia de Amparo a Estudos e Pesquisas do Pará (Fapespa), em parceria com a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), lançou dois novos editais de apoio à pesquisa científica. São mais de R$ 2 milhões em Bolsas de Pós-Doutorado e em Apoio a Doutores Recém-Contratados. Ambos os certames seguem com inscrições até 29 de fevereiro, por meio do site www.portalfadesp.org.br.

BIODIVERSIDADE

Expressão da arte urbana

O Programa Fapesp de Pesquisas em Caracterização, Conservação, Restauração e Uso

A Fundação Cultural do Pará (FCP) lançou o concurso “Pauta Livre” (Edital 006/2015), para a seleção

Sustentável da Biodiversidade (Biota) abriu

de propostas de atividades artístico-culturais na forma de espetáculos, shows, performances, expo-

uma chamada de propostas para selecionar e

sições, instalações, artes integradas, dentre outras, apresentadas por artistas, produtores, coletivos

apoiar projetos de pesquisa que contemplem

ou instituições de caráter cultural, para acesso à pauta dos espaços culturais da FCP, sem ônus para

a área de educação em biodiversidade. As

o selecionado. As inscrições vão até 28 de janeiro. O processo seletivo é composto de três fases: a ins-

propostas devem ser submetidas até o dia

crição; a seleção de caráter meritório, classificatório e eliminatório; a habilitação e chamamento para

31 de março de, por meio do site da Fapesp

assinatura do contrato, somente para os trabalhos selecionados. Mais informações (91) 3202-4367.

www.fapesp.br/sage.

O Espaço São José Liberto abriga a

ASCOM / IGAMA

JOIAS

BARRAGENS Seguem abertas as inscrições até o dia 29 de janeiro para o Mestrado Profissional em

exposição “Potências Amazônicas:

Engenharia de Barragem e Gestão Ambiental.

Biodiversidade e Diversidade Cul-

O mestrado profissional é o primeiro curso

tural na Belém 400 Anos”, que pode

de pós-graduação stricto sensu ofertado pelo

ser visitada até 28 de fevereiro. O

Campus Universitário de Tucuruí. Mais infor-

evento promove os setores criativos

mações pelo site www.pebga.propesp.ufpa.br.

de joia, moda e design, os empreendedores individuais e os microem-

MEDICINA

presários dos ramos de joalherias,

As inscrições para o XVIII Congresso Médico

moda e biocosméticos, com acervo

Amazônico seguem abertas. A programação

que valoriza a biodiversidade ani-

contará com cursos e palestras. O evento será

mal e vegetal e a diversidade cultu-

realizado entre os dias 24 e 27 de abril, no

ral do Estado do Pará. Informações

Hangar, em Belém. Informações no site www.

pelo telefone (91) 3344-3500.

congressomedicoamazonico.com.br

62 • REVISTA AMAZÔNIA VIVA •

JANEIRO DE 2016


FAÇA VOCÊ MESMO

ESTAMPA de azulejos portugueses Uma das fases mais prósperas dos 400 anos de história de Belém foi a do período colonial do Brasil. E alguns dos símbolos arquitetônicos eram os azulejos portugueses, que estampavam as fachadas dos imóveis que hoje compõem o patrimônio histórico da capital paraense. Para lembrar desta época em alusão ao aniversário de Belém, os instrutores e técnicos da Fundação Cur-

Do que vamos precisar?

Papel de sublimação (lixo)

Tesoura

Ferro de passar roupa

Peça com tecido sintético (Blusa)

ro Velho ensinam a fazer uma blusa com estampas desses azulejos clássicos através do processo de sublimação, uma técnica muito usada na criação de camisetas personalizadas. Trata-se de aplicar um papel transfer aquecido. Dessa vez, a ideia é ainda reciclar o papel já usado. Além de ecologicamente aceitável, dá para dar nova vida às blusas perdidas no armário e ainda faturar nesses tempos de crise econômica.

INSTRUTORA: CARLA BELTRÃO / COLABORAÇÃO: DILMA TEIXEIRA (TÉCNICA EM GESTÃO CULTURAL – ARTES VISUAIS) / FOTOS: WALACE FERREIRA / MODELO:LUIZA GARCIA, 12 ANOS JANEIRO DE 2016

• REVISTA AMAZÔNIA VIVA • 63


FAÇA VOCÊ MESMO

4

Dobrar o papel de sublimação em quatro partes iguais e cortar.

Montar o desenho recortado sob a blusa.

2

5

Escolher a imagem desejada para reproduzir com recortes a impressão. Podem ser procuradas imagens na internet ou usar fotos pessoais.

Coloque um papel em cima da peça e passe a roupa numa temperatura alta.

3

Forrar a peça de roupa escolhida com um papel, como se fosse um sanduíche.

6

Agora é só explorar sua criatividade com novos padrões e novas tendências.

Para saber mais Quem quiser conhecer mais sobre técnicas artísticas pode se inscrever nas oficinas Curro Velho, da Fundação Cultural do Pará. Crianças a partir de 12 anos podem participar. A Fundação Curro Velho fica localizada na rua Professor Nelson Ribeiro, nº 287, esquina com a travessa Djalma Dutra, bairro do Telégrafo. Telefones: (91) 3184-9100 e 3184-9109. 64 • REVISTA AMAZÔNIA VIVA •

JANEIRO DE 2016

RECORTE AQUI

1

ATENÇÃO: Essa atividade pode ser feita por crianças, desde que acompanhadas por um adulto responsável


LEONARDO NUNES

BOA HISTÓRIA

400 dobrões

Vou remendar a cidade em cada pedra topada, prédio ruído, copa de

árvore, raiva na esquina, manga estourada, máquina, ferrugem, ruído, namorada inventada, poeta inspirado, cantoria ao luar, silêncio, ricochete, estrondo, calçada, caco de vidro, estepe no pé, correria, quintal encharcado, choro no quarto, riso na aurora, porque Belém é uma cidade que ainda tem aurora, visto só pelos meninos no caminho do grupo escolar, bem cedo. Em cada torrente, madrugada vazia, inimigo criado, amigo do peito, muro pichado, saudade partida, moça espevitada, rabo de saia, recado extraviado, taberna fechada, balcão úmido, poema rasgado, sonhado, esquecido – a muito poema nos fundos de gavetas, atrás das cristaleiras, nos antigos porões, no cheio de mofo sutil nas salas dos casarios. Belém se desenha sozinha, no espelho dos anos, e a abraço em cada suspiro de longe, regresso feliz, aroma de feira, escama no chão, pitiú flutuante, suor pela tarde, urubu pelo ar, nas manhãs

colossais a se transformar em dias febris de calor. E se entranha a cidade em cada projeto de vida, decepção recolhida, percalço, desamparo, conquista, berro de pai, beijo de mãe, poente na margem, em cada cidade dentro da grande cidade, mal costurada entre si, querida e odiada nos ônibus apinhados, na solidão dos carros de passeio, na incongruência dos táxis, no medo de andar a pé, na moda das bicicletas. Belém se consolida no tempo, sem demora, em amor filial, em quatro séculos, em cada minuto de espera, no mês de trabalho, no orçamento apertado, no ano após ano sabático dos vagabundos, nos pobres coitados de terno a suar, na desesperança em ficar, na dolorida missão de partir. Como é lenta a cidade, e apressada também, alguns dizem. E a guardam para sempre na pergunta se está tudo bem por telefone, em cada azul e laranja das seis da tarde, nas ladainhas das casas do subúrbio, no bafejo de fogo ao meio-dia, à meia-noite, a qualquer hora, nos adoráveis bêbados a vagar,

no pescador de peito nu e olhos baços na pedra do peixe, na vizinha ressonada nas padarias das primeiras horas, na devoção, na corda, na promessa, no desencanto, na vontade de voltar nunca estancada, na lembrança de ir Lá embaixo segurado pelas mãos. Belém resiste intensa como uma febre, embora inventem tantas poções, embora a queiram curada alguns, os doutores da razão. Belém é doença? Que nada. É uma rua de terra, um prédio sem elevador, um reencontro na praça, um zunido de música lá longe, um cheiro bom, uma panela fervendo, uma eterno conhecer o conhecido de um conhecido de um conhecido que se pensava distante, uma festa, um dramalhão de enredos sobrepostos, não lineares, de alegrias recorrentes, de tristeza pesadas no que não se resolve e se guarda como um rancor precioso ou 400 dobrões de ouro maciço, inestimável tesouro, Belém, mitificada, vívida, forjada na realidade e na memória dos afortunados que dela nascem e nela morrem todos os dias. JANEIRO DE 2016

Anderson Araújo

é jornalista e escritor

• REVISTA AMAZÔNIA VIVA • 65


NOVOS CAMINHOS

Essência ribeirinha renegada EM 400 anos

No ano em que completa quatro séculos, Belém pre-

THIAGO BARROS

é jornalista, mestre em Planejamento do Desenvolvimento Sustentável (NAEA-UFPA) e professor da Universidade da Amazônia @thiagoabarros

com a apropriação por portos, empresas de diversos setores, hotéis, restaurantes,

cisa voltar os olhos para uma de suas

edifícios, muros... O espaço mágico e

principais vocações: ser uma cidade das

acolhedor, síntese da vida na Amazônia,

águas e conviver com seus rios e igara-

a beira do rio, foi privatizada.

pés de forma harmoniosa. É um desafio

Exceto as praias da região insular,

cujos resultados beneficiariam somente

conviver com a água significa visitar

as próximas gerações, talvez as que co-

as principais janelas públicas: orla da

memorem os 500 anos da capital. Para

Universidade Federal do Pará, praça

uma mudança de paradigma, rever o

Princesa Isabel, Portal da Amazônia,

passado torna-se fundamental.

Mangal das Garças, complexo Feliz Lu-

Desde a fundação da cidade, em 1616,

sitânia, Ver-o-Peso, Estação das Docas,

os cursos d’água que não foram com-

Ver-o-Rio e Icoaraci. É pouco para uma

pletamente aterrados tiveram o cami-

cidade tão grande e para os anseios dos

nho natural alterado, sendo obrigados

belenenses.

a correr em canais, valas de concreto ou

A situação é mais crítica em relação

entubados sob o asfalto. A maior parte

aos rios e igarapés que cortam a cidade

das sete bacias hidrográficas de Belém

internamente. Quase todos poluídos,

sucumbiu ao crescimento urbano de-

muitos deles foram sentenciados ao es-

sordenado e à urbanização planejada,

quecimento ainda no século 19. O Mu-

mas de forma equivocada.

rutucu, onde o caboclo Plácido teria en-

Ao longo de 400 anos, Belém ironica-

contrado a imagem de Nossa Senhora de

mente insiste em seguir de costas para

Nazaré, sobrevive somente nos relatos.

os rios, apesar de muito depender de-

Sobre seu antigo leito pesam avenidas e

les. O lago Piri de Jussara foi o primeiro

arranha-céus.

obstáculo ultrapassado pelos coloniza-

Até onde o projeto de urbanização do

dores. O aterramento do Piri, que tinha

intendente Antônio Lemos chegou, Be-

como foz o atual cais do Ver-o-Peso e se

lém ganhou ruas largas e perpendicu-

estendia até a travessa Arcipreste Mano-

lares, mas às proximidades do Marco da

el Teodoro, começou em 1803 e durou 20

Légua, os cursos d’água intransponíveis

anos. Assim, os gestores da cidade liga-

começaram a servir de abrigo para a po-

ram a Cidade Velha à Campina e abri-

pulação pobre, expulsa gradativamente

ram caminho à expansão urbana.

das áreas secas.

Esta primeira etapa do desapareci-

Nos anos 90, as baixadas e palafi-

mento de rios e igarapés está ligada à im-

tas foram substituídas por canais de

plementação do capitalismo mercantil na

concreto ao longo da execução da ma-

região. A partir do Forte do Castelo, para-

crodrenagem de algumas bacias. A ur-

da obrigatória das expedições de explora-

banização cobrou o seu preço: os rios e

ção da Amazônia, as primeiras ruas foram

igarapés, agora esgotos a céu aberto, di-

abertas em direção à floresta. A cidade

ficilmente serão despoluídos.

crescia e esbarrava nos cursos d’água. A orla da cidade começou a ser fechada primeiro com fortificações e depois

66 • REVISTA AMAZÔNIA VIVA •

JANEIRO DE 2016

No ano em que completa quatro séculos, Belém sofre as consequências de renegar sua essência ribeirinha.

“A primeira etapa do desaparecimento de rios e igarapés está ligada à implementação do capitalismo mercantil na região”


ECOCHARGE


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.