REVISTA ENCARTADA NO JORNAL O LIBERAL. NÃO PODE SER VENDIDA SEPARADAMENTE.
JULHO 2O16 | EDIÇÃO NO 59 ANO 5 | ISSN 2237-2962
VÍTIMAS DA IMPRUDÊNCIA
NOS RIOS DA
O escalpamento por eixo de motor ainda assusta no interior do Pará. No mês de férias escolares, o número de ocorrências na região se multiplica. Pesquisas em microcirurgias ajudam mulheres a recuperar a autoestima.
MARUJADA
Edição traz uma galeria especial sobre a tradicional festa de Bragança
FLORESTAS
Inpe mantém projeto inédito de monitoramento das áreas verdes
EDUCAÇÃO
Startup desenvolve projeto de alfabetização com uso de aplicativo
EDITORIAL
PUBLICAÇÃO MENSAL DELTA PUBLICIDADE - RM GRAPH EDITORA JULHO 2016 / EDIÇÃO Nº 59 ANO 5 ISSN 2237-2962 Presidente LUCIDÉA BATISTA MAIORANA Presidente Executivo ROMULO MAIORANA JR. Diretor Jurídico RONALDO MAIORANA Diretora Administrativa ROSÂNGELA MAIORANA KZAM Diretora Comercial ROSEMARY MAIORANA Diretor Industrial JOÃO POJUCAM DE MORAES FILHO Diretor de Marketing GUARANY JÚNIOR Diretor JOSÉ LUIZ SÁ PEREIRA
CARLOS BORGES
RIO ACIMA
No mês de julho, o número de acidentes com eixo de motor de barco se multiplicam no Estado
Tragédia anunciada nos rios amazônicos
FELIPE JORGE DE MELO Editor-chefe
O drama de pessoas escalpadas na Amazônia ainda é uma realidade presente e dolorosa no século XXI. Apesar das campanhas de conscientização para evitar os acidentes nos rios da região, como a orientação para cobrir o eixo do motor dos barcos e amarrar os cabelos e usar chapéus, a tragédia ainda faz dezenas de vítimas, na maioria crianças e mulheres, todos os anos. Segundo a agente da Secretaria de Estado de Saúde Pública (Sespa) e coordenadora da Comissão Estadual de Enfrentamento aos Acidentes de Motor com Escalpelamento (CEEAE), Socorro Silva, as ocorrências de escalpamento no Estado multiplicam-se em julho. “A gente reza para o mês acabar logo”, diz a agente .
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JULHO DE 2016
Mesmo diante da dor de ter os cabelos, o couro cabeludo e outras partes do corpo arrancados de forma violenta pelo eixo do motor, as vítimas encontram motivos para voltar a sorrir - algo que, fisicamente, também não é simples devido às complicações do acidente - e dar seguimento à vida. A medicina no Pará avança no tratamento dos pacientes, como o desenvolvimento de pesquisas de reimplante do escalpo. Os primeiros experimentos em laboratórios feitos em coelhos são promissores. Frente à imprudência nos rios da Amazônia, surge uma nova esperança no campo da cirurgia plástica para as dezenas de vítimas dessa tragédia tão peculiar na região Norte.
Conselho editorial RONALDO MAIORANA JOÃO POJUCAM DE MORAES FILHO GUARANY JÚNIOR LÁZARO MORAES REDAÇÃO Jornalista responsável e editor-chefe FELIPE JORGE DE MELO (SRTE-PA 1769) Coordenação geral LUCIANA SARMANHO Editor de arte FILIPE ALVES SANCHES (SRTE-PA 2196) Pesquisador e consultor técnico INOCÊNCIO GORAYEB Colaboraram para esta edição O Liberal, Agência Pará de Notícias, Agência Brasil, Museu Paraense Emílio Goeldi, Universidade Federal do Pará, Universidade do Estado do Pará, Fundação Cultural do Pará - Oficinas do Curro Velho, Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, Instituto Internacional de Educação do Brasil (acervo); Camila Santos, Gabriela Azevedo, João Cunha, Sávio Senna, Victor Furtado (reportagem); Fabrício Queiroz (produção); Carlos Borges, Fernando Sette, Tarso Sarraf (fotos); Anderson Araújo e Thiago Barros (artigos) André Abreu, J.Bosco, Jocelyn Alencar, Leonardo Nunes e Waldez Duarte (ilustrações); Alexsandro Santos (tratamento de imagem). FOTO DA CAPA Porto da Palha/ Belém, por Carlos Borges AMAZÔNIA VIVA é editada por Delta Publicidade/ RM Graph Ltda. CNPJ (MF) 03.547.690/0001-91. Nire: 15.2.007.1152-3 Inscrição estadual: 158.028-9. Avenida Romulo Maiorana, 2473, Marco - Belém - Pará.
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REALIZAÇÃO
NESTA EDIÇÃO
EDIÇÃO Nº 59 / ANO 5
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A dor do escalpamento Os acidentes com eixo de motor dos barcos ainda fazem dezenas de vítimas todos os anos na Amazônia. Em julho, as ocorrências aumentam. CAPA
FLORESTAS
MÚSICA
O Instituto Nacional de
O paraense Arthur Espín-
LIVRO
Pesquisas Espaciais in-
EDUCAÇÃO
dola é um dos principais
A doutora em educação,
vestiga as causas do des-
Grupo de educadores
nomes da atualidade a
Nurit Bensusan é autora do
matamento na Amazônia
paraenses desenvolve
difundir o ritmo que faz
livro infantojuvenil “Dividir
através de um sistema de
metodologia dinâmica de
o Brasil inteiro dançar.
Para Quê? - Biomas do
mapeamento inédito no
ensino para crianças por
Sambista de carteirinha,
Brasil”. Ela lança um olhar
mundo, o TerraClass, que
meio do aplicativo Educa-
o cantor afirma que sua
diferente sobre a educação
está inovando o monito-
software para tablets e
música também tem
ambiental no país.
ramento da região .
computadores.
influências regionais.
ENTREVISTA
SUSTENTABILIDADE
COMUNIDADE
PAPO DE ARTISTA
FERNANDO SETTE
TARSO SARRAF
PROJETO TERRACLASS/INPE-CRA/EMBRAPA
ESTÚDIO GRANDE CIRCULAR
46 34 50
54
E MAIS 4 6 7 11 13 14 15 16 17 18 19 19 20 60 62 63 65 66
EDITORIAl AS MAIS CURTIDAS PRIMEIRO FOCO TRÊS QUESTÕES ELES SE ACHAM FATO REGISTRADO PERGUNTA-SE EU DISSE APPLICATIVOS CURIOSIDADES DA BIODIVERSIDADE DESENHOS NATURALISTAS CONCEITOS AMAZÔNICOS OLHARES NATIVOS MEMÓRIAS BIOGRÁFICAS AGENDA FAÇA VOCÊ MESMO BOA HISTÓRIA NOVOS CAMINHOS
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CARLOS BORGES
JUlHO2016
ASMAISCURTIDAS DESTAQUES DAS EDIÇÕES ANTERIORES
CARTAS
CLÁUDIO TAVARES/ ISA
REVISTA Tenho profunda admiração pela revista Amazônia Viva. Ganhei a primeira edição do meu tio e desde então guardo todas as edições. Sempre recheadas de conteúdos de excelente qualidade, com foto e imagens incríveis. Fico ansiosa esperando a próxima. Sou estudante de engenharia florestal e é um reforço muito importante para me manter por dentro da realidade da nossa região. Muito obrigada pelo trabalho de vocês. Amin Ah
COM A MÃO NA TERRA
A reportagem sobre o trabalho desenvolvido pela Rede de Sementes do Xingu, no Pará e Mato Grosso, do Instituto Socioambiental foi a mais curtida e comentada em nosso Facebook, em junho.
Via Facebook
SEMENTES Obrigada, Revista Amazônia Viva, por mostrar um dos caminhos possíveis para
CAMILO FERREIRA
mantermos a Amazônia Viva. A Associação Rede de Sementes do Xingu está de parabéns (“Do solo amazônico para o mundo”, Sustentabilidade, junho de 2016, edição nº 58). Restauração florestal, desmatamento zero e valorização do conhecimento tradicional no manejo da agricultura familiar e nas áreas protegidas do país. #DesenvolvimentoSimDeQualquerJeitoNão. Letícia Leite Brasília-Distrito Federal Da primeira à última página, a edição da
UM OLHAR ETERNO
A foto do leitor Camilo Ferreira foi a mais curtida em nosso Instagram na edição passada. Ele registrou um momento de tranquilidade no Parque da Residência a partir da perspectiva da estátua do poeta Ruy Barata.
Amazônia Viva deu um show na edição passada. A reportagem sobre os negócios verdes e a produção de sementes com foco sustentável mostra que somos o futuro do país. Nós, nortistas, precisamos nos valorizar mais como parte integrante do Brasil. Wedson Saraiva
CLÁUDIO TAVARES/ ISA
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Belém-Pará
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Maiorana, 2473, Marco, Belém - Pará, CEP 66 093-000 ou FAX: 3216-1143.
DIVULGAÇÃO
PRIMEIROFOCO
O QUE É NOTÍCIA NA AMAZÔNIA
Deu bicho no tucumã
ÓLEO COMESTÍVEL EXTRAÍDO DE LARVAS DO CAROÇO DO FRUTO REGIONAL É USADO ATÉ PARA COMBATER DOENÇAS PÁGINA 8 E 9
HISTÓRIA
CONSCIENTIZAÇÃO
O arqueólogo Marcos Magalhães, do Museu Goeldi, organizou o livro “Amazônia Antropogênica”, sobre a origem da região. PÁG.11
Praia do Atalaia, em Salinas, recebe neste mês uma ação sustentável para promover a limpeza do local. PÁG.15
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PRIMEIRO FOCO
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DIVULGAÇÃO
LARVA GORDA Os meses de junho e julho são os mais favoráveis para realização da atividade de extração do óleo de bicho, pois é o período em que a larva se encontra mais gorda. O tucumanzeiro é considerado uma palmeira que produz cerca de 50kg de frutos por ano, mesmo em solos pobres. Anualmente, a árvore produz de dois a três cachos de fruto. Cada cacho pesa entre 10 a 30 quilos e contém de 200 a 400 frutos. As árvores medem de 1,5 metro e podem chegar até 5 metros de altura.
DIVULGAÇÃO
No arquipélago do Marajó, no Pará, parte da população substitui os óleos de cozinha comercializados pelas indústrias, geralmente utilizados em temperos ou frituras, por um óleo extraído da larva alojada no interior do tucumã. Para os marajoaras, o “óleo de bicho” ou “banha de bicho” contém poderosos benefícios para a saúde, é nutritivo, terapêutico, substitui a manteiga no pão, controla e combate a asma, inchaço, luxações, contusões, derrame, reumatismo e picadas de formigas-tucandeiras. Interessados em compreender a produção e extração do óleo proveniente da larva encontrada no interior do tucumã, Marília Silvany Souza dos Santos, 23 anos, e Kemuel de Abreu Barbosa, 26 anos, egressos do curso de Tecnologia de Alimentos da Universidade do Estado do Pará (Uepa), visitaram às comunidades da zona rural Joanes, Jubim e Maruacá, em Salvaterra, e descobriram que além de o óleo ser consumido como alimento, também se constitui renda complementar para as comunidades extrativistas. A extração é feita por dois métodos. A população quebra a parte interna do fruto, retira a larva, em seguida as põem na água para limpeza. Elas são secadas, transferidas para a frigideira e aquecidas no fogo. O calor faz com que as larvas soltem o óleo. Há comunidades que primeiro amassam as larvas no crivo antes de levá-las para a frigideira e fritá-las. É no interior do caroço, parte também conhecida como amêndoa do tucumã, que as larvas se instalam. O fruto tem uma semente lenhosa, de cor quase preta, que contém uma amêndoa de massa branca, oleaginosa, dura e recoberta por uma película de cor parda aderente. O caroço é recoberto, externamente, por uma polpa amarelo-alaranjada, de pouca consistência e oleosa.
DIVULGAÇÃO
O óleo de bicho
Segundo ele, tem consistência gelatinosa e sabor levemente adocicado. A larva na amêndoa do tucumã é o primeiro estágio no processo de formação do inseto identificado como Speciomerus ruficornis. Segundo a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO), a entomofagia, consumo de insetos por seres humanos, é praticada em países ao redor do mundo, predominantemente em partes da Ásia, África e América Latina. De acordo com o renomado especialista em insetos, Eraldo Medeiros Costa Neto, o uso medicinal de insetos na medicina tradicional é chamado de entomoterapia ou etnoentomologia. “Fui criado em Salvaterra. Conheci e fiz consumo artesanal do óleo e da larva”, diz Kemuel. “Elas (larvas) trazem benefícios à saúde. Há pessoas que as comem cruas. Elas tem alto teor de proteína, são ricas em nutrientes, porque só se alimentam das amêndoas do tucumã”, completa a pesquisadora Marília Santos.
DIVULGAÇÃO
Verificou-se que com 1kg de larva, os produtores obtém em média 433,3ml de óleo, enquanto que para obter 400ml, são necessários 800g de larva. O litro do óleo pode variar de R$ 30 a R$ 60. Marília Santos destaca os benefícios do produto extraído da natureza. “Eles passam o óleo no pão como se fosse manteiga. Diferente do óleo normal que não pode ser consumido assim. Outro benefício é que o óleo de bicho dificilmente é descartado no meio ambiente devido a dificuldade de extração e de ser utilizado para fins medicinais”, ressalta ela. As larvas têm o corpo subcilíndrico, pouco encurvado, coloração esbranquiçada e apresentam pequenas garras. O peso médio delas é de 1,78g, com limite mínimo e máximo de altura de 1,5 e 2,0 mm. Ao invés de serem descartadas, são consumidas cruas, fritas ou assadas, colocadas em farofas e também utilizadas para fins medicinais. O pesquisador Kemuel de Abreu já as provou.
DIVULGAÇÃO
PROCESSAMENTO Da larva à extração
1º A fêmea do Speciomerus ruficornis
2º As larvas se desenvolvem consu-
3º O produtor retira a polpa do
fura o caroço até alcançar o interior
mindo integralmente a amêndoa
tucumã e observa se o caroço possui
do tucumã. O fruto precisa estar no
dentro do caroço
minúsculos furos. Os furos dão indí-
chão para que isso ocorra. Pelo furo,
cios da presença de larvas. O caroço é
ela deposita as larvas
quebrado.
5º Quando o óleo está aquecido, fica DE DENTRO PARA FORA
em estado líquido, e é utilizado para fritar ovos e temperar arroz, por exem-
Na sequência acima, a larva da espécie Speciomerus ruficornis, que se instala no interior dos caroços de tucumã.
plo. Quando a temperatura do óleo fica 4º As larvas são lavadas, secadas e
conforme a temperatura ambiente, ele
depois colocadas em uma frigideira
apresenta consistência pastosa e é pas-
6º As larvas são misturadas a farinha
para extração do óleo
sado no pão como se fosse manteiga.
de mandioca e viram farofa JULHO DE 2016
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PRIMEIRO FOCO MARCELO CASAL JR / AGÊNCIA BRASIL
PESQUISA
Com a incidência do vírus zika no Brasil, pesquisadores redobram seus estudos para evitar que a doença atinja os bebês de milhares de grávidas no país
EXPERIMENTO
“Minicérebros” ajudam no tratamento do zika O uso de minicérebros pode ser um caminho de sucesso para a busca de medicamentos para o tratamento de grávidas infectadas pelo vírus zika. Quem afirma é Stevens Rehen, professor titular do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade Federal do Rio de Janeiro (ICB–UFRJ), pesquisador do Instituto D’Or de Pesquisa e Ensino e coordenador do Projeto de Criação do Biobanco de Células-Tronco de Pluripotência Induzida (iPS) do Ministério da Saúde. Rehen é um dos responsáveis pela pesquisa realizada no Brasil que comprovou a relação entre o zika e a microcefalia e participou do debate “Minicérebros de laboratório: uma revolução na medicina?”, no Observatório do Mu-
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seu do Amanhã, no RJ. Os minicérebros são uma massa celular produzida em laboratório a partir de células-tronco. O pesquisador explica que eles funcionam como avatares, que são resultado da transformação de uma célula da pele em outra que pode virar qualquer tecido do corpo. “A partir desta reprogramação, a gente cria uma célula que pode virar qualquer tecido e aí a gente instrui esta célula para se transformar nessas estruturas tridimensionais, que têm em torno de dois milímetros, mas que se desenvolvem como se fossem um cérebro fetal de dois meses de idade. Com isso, abre uma série de possibilidades para entender como se forma o cérebro humano para estudar doenças”, disse.
OCEANOS
PESQUISA ON-LINE Agora o es tudo dos oceanos f icou um pouco mais fácil. A razão é que, desde junho, informações sobre os segredos dos mares es tão disponíveis para cientis tas, educadores, ou qualquer pes soa que se inte re s s e p elo as sunto e te nha ace s s o à inte r ne t . A Iniciat i va de O bs e r vatór ios O ceânicos (O OI, na sigla e m inglê s) foi cr ia da p ela Fun daç ão Nacional de Ciê ncia dos E s t a dos Unidos . O proje to pre cis ou de de z anos par a tor nars e realida de. Ao to do, a O OI p os sui 8 3 plat afor mas com mais de 8 3 0 ins t r um e ntos e spalha dos e m s e te mat r ize s o ceânic as no Atlânt ico e no Pacíf ico. C ada plat aforma pos sui uma combinação de aparelhos que geram milhares de informações científ icas, como temperatura e salinidade, entre outras. É pos sível aces sar os dados no site ooinet.oceanobser vatories.org.
TRÊSQUESTÕES
SUSTENTABILIDADE
RESPOSTAS QUE VÃO DIRETO AO PONTO
Projeto financia propriedades rurais na região amazônica
O arqueólogo e antropólogo Marcos Magalhães, organizador do livro “Amazônia
objetivos reduzir as emissões de carbono e aumentar a sustentabilidade. Além de suporte financeiro, as propriedades selecionadas receberão apoio técnico. A ideia é que tecnologias agropecuárias sustentáveis que contribuam para a restauração florestal sejam adotadas pelos produtores. O projeto, que é resultado de uma parceria entre os governos do Brasil, por meio do Ministério da Agricultura, e do Reino Unido, é executado pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e financiado pelo Fundo Internacional para o Clima. Mais informações sobre o projeto estão disponíveis no site www.ruralsustentavel.org/pt-br.
Antropogênica”, que será lançado na exposição “Origens: Amazônia cultivada”, no dia 23 deste mês, no Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG), fala sobre como as populações pioneiras da Amazônia interferiram na formação da biodiversidade das florestas. Quais áreas da Amazônia mais sofreram ação do homem ao longo da história? As áreas dos sítios arqueológicos e o entorno delas apresentam até 100% de influência. Existem aquelas relacionadas aos acessos e caminhos, ou seja, os locais por onde as populações circulavam. Ações das populações agricultoras de 3 mil anos para cá foram mais intensas. No mínimo 60% das florestas de terra firme e de várzea sejam de origem cultural, mesmo que hoje se reproduzam sem a ajuda do homem. A pesquisa na Serra de Carajás apontou que tipo de relação com a terra? Ficou claro que quanto mais antigas eram as populações, menos impacto causavam sobre o solo. As populações pioneiras (entre 11,6 mil e 6 mil anos atrás) eram compostas por grupos pequenos e não tinham residência fixa (nômades). Embora exercessem ações de manejo e pequenas roças, a economia deles era baseada na caça, na coleta e na pesca.
MEIO AMBIENTE
O livro reúne o trabalho de 17 pesquisaASCOM / EMATER
Agricultores de pequenas e médias propriedades vão receber financiamento para gerar baixo carbono
dores. Qual é a conclusão da obra? Ocorreram dois processos históricos distintos: Cultura Tropical (iniciado há 11 mil anos) e de Cultura Neotropical (há 5 mil anos atrás e finali-
M A N U FAT U R A
INDÚSTRIA 4.0
zado com a chegada do conquistador europeu). Os povos da Cultura Tropical iniciaram o manejo
Uma pesquisa realizada pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) revelou, pela primeira vez,
do ambiente, tornando-o mais produtivo. Eram
o perfil da indústria 4.0 no Brasil, que engloba as principais inovações tecnológicas aplicadas aos
nômades e viviam da caça, da pesca e da coleta.
processos de manufatura. Os resultados demonstraram que a maior parte dos esforços está na fase
As populações da Cultura Neotropical eram
dos processos industriais. Das empresas que afirmaram utilizar ao menos uma tecnologia digital,
sedentárias e tinham na agricultura a base de
73% fazem isso na etapa de processos; 47% utilizam recursos tecnológicos no desenvolvimento da
sua economia.
cadeia produtiva; 33%, em novos produtos e novos negócios. JULHO DE 2016
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ARQUIVO PESSOAL
Propriedades rurais sustentáveis de vários estados brasileiros poderão ser financiadas pelo projeto Rural Sustentável. A ideia é selecionar pequenas e médias propriedades nos estados do Mato Grosso, do Pará, de Rondônia, da Bahia, de Minas Gerais, do Paraná e do Rio Grande do Sul e financiar a transformação dessas áreas em unidades demonstrativas de agricultura de baixo carbono, com tecnologias como a integração lavoura-pecuária-floresta, a recuperação de áreas degradadas, o plantio florestal comercial e o manejo sustentável de florestas nativas. Produtores e técnicos rurais podem se inscrever até o dia 19 de agosto para participar do projeto, que tem como
A ação do homem na formação da Amazônia
PRIMEIRO FOCO I N C LU SÃO
RIBEIRINHOS DE JURUÁ Um grupo de ribeirinhos da região do médio Juruá, no interior do Amazonas, lançou uma série de materiais educativos. O lançamento foi realizado em junho, em Carauarí. Os produtos foram lançados através do Projeto Intercambiando, realizado pelo WWF-Brasil, Instituto Coca Cola e Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio). Dezoito dos 60 jovens foram escolhidos para participar de intercâmbios com o objetivo
DESCOBERTA
de conhecer outras realidades e ter contato com estratégias que pudessem ser aplicadas em suas comunidades. Os produtos lançados AGÊNCIA PARÁ
pelos jovens ribeirinhos – uma história em quadrinhos, um guia de bolso, um caderno do Educador Jovem, um jogo da memória e um quebra-cabeça – estão disponíveis para download gratuito no site wwf.org.br/ publicações. INVE NÇÃO
PLÁSTICO DE CRUSTÁCEO Um grupo de pesquisadoras da Unesp, em Ilha Solteira, São Paulo, desenvolveu um novo tipo de plástico. O material, produzido a partir de óleos essenciais e de cascas de crustáceos, pode ser ingerido e possui outros benefícios, como agregar sabor aos alimentos, fazer bem a saúde e gerar menos lixo. O diferencial do plástico produzido na Unesp são as nanopartículas, estruturas microscópicas obtidas a partir da quitosana e de óleos essenciais, que são responsáveis por dar forma ao plástico comestível. AQ U E C I ME N T O
VIDA MARINHA O aumento da temperatura do planeta é um problema real e já está afetando os oceanos.
R E C U R S O S N AT U R A I S
Pesquisa investiga manejo sustentável em terras Kaiapó Uma aldeia pertencente ao território indígena Kaiapó serviu como laboratório para um estudo sobre o uso coletivo da terra e o manejo dos recursos naturais na Floresta Amazônica. A aldeia A’Ukre, localizada no sul do Pará, foi a escolhida. A pesquisa tem apoio da Fapesp e da University of Michigan, dos Estados Unidos, e é coordenada, no Brasil, por Patrícia Fernanda do Pinho, professora visitante no Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da Universidade de São Paulo (IAG-USP), graduada em Ciências Biológicas pela Universidade Federal de São Carlos, e doutora em Ecologia
Humana, pela University of California-Davis. “Decidimos estudar o território indígena caiapó porque ele é uma vasta ilha de f loresta preservada em meio a um mar de paisagens degradadas, sofrendo enorme pressão da pecuária extensiva, da exploração madeireira, da mineração e da crescente expansão da agricultura da soja”, disse Pinho. Ainda segundo a professora, o objetivo foi entender como essa comunidade consegue proteger seus recursos naturais ameaçados, promovendo a sustentabilidade e a manutenção de biodiversidade e contribuindo para a mitigação das adversidades climáticas.
Segundo a Administração Oceanográfica e Atmosférica Nacional dos Estados Unidos (NOAA), os recifes de coral estão vivendo em
INTELIGÊNCIA
águas mais quentes que o normal pelo terceiro
PAPAGAIOS E CORVOS
ano consecutivo. Essa circunstância causa um
Um estudo publicado na revista científica Proceedings of the National Academy of Sciences
branqueamento dos corais, o que significa que eles
(PNAS) revelou que alguns pássaros, como papagaios e corvos, possuem capacidade cognitiva
ficam mais fracos. O problema teve início graças
comparável à dos primatas. Os cientistas ficaram surpresos com os resultados, que provaram que,
ao aquecimento global e ao fenômeno climático
apesar de terem cérebros pequenos, alguns pássaros possuem um grande número de neurônios.
El Niño, segundo a NOAA, o que foi discutido
Isso explica por que esses pássaros exibem níveis de cognição tão complexos quanto os primatas.
durante um simpósio internacional, em junho.
Isso permite que possam, por exemplo, fabricar utensílios e utilizá-los para obter comida.
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JULHO DE 2016
ELESSEACHAM POR QUE MIMETISMO É UMA COISA NATURAL
ALTA TEMPERATURA
Previsão de chuvas escassas nos próximos meses no Pará maior frequência apenas na Região Metropolitana de Belém e nos municípios do Baixo Amazonas. Nas demais regiões do estado, elas ocorrerão apenas ocasionalmente e haverá predomínio de tempo seco”, afirmou Sousa. A análise climática do trimestre junho-julho-agosto de 2016 ocorreu no início do mês passado, na sede do Instituto Nacional de Meteorologia. Dados sobre o clima na região servem para o planejamento de diversas atividades importantes no Estado, como, por exemplo, atividades agrícolas, obras civis, combate aos focos de calor e incêndios florestais.
CÉSAR FAVACHO
Temperaturas elevadas devem continuar até agosto no Pará, segundo previsão da Rede de Previsão Climática e Hidrometeorológica (RPCH) do Pará. O fenômeno climático El Niño, apesar de estar chegando ao fim, tem a ver com essa previsão e ainda será responsável por influenciar no clima de diversas regiões do Pará. É o que diz o diretor de Meteorologia e Hidrologia da Secretaria de Meio Ambiente e Sustentabilidade (Semas), Antonio Sousa. Além das temperaturas elevadas, a previsão é de que haja uma redução drástica nas chuvas do Pará. “As chuvas para o trimestre junho-julho-agosto devem ocorrer com
Bacurau entre as folhagens secas O bacurau é uma ave da família CRISTINO MARTINS / AGÊNCIA PARÁ
Caprimulgidae, da espécie Hydropsalis
albicollis (Gmelin, 1789). Este nome científico vem do grego hydro = água e psalis = tesoura; do latim albus = branco e collis = garganta, o que seria “tesoura d’água com garganta branca”. O pequeno pássaro – mede menos de 30 cm – é conhecido também como curiango, jujau, amanhã-eu-vou (em Minas Gerais) e ibijaú, mede-léguas, acurana e a-ku-ku (nomes indígenas de Mato Grosso). Ocorre em toda a América Central e do Sul, exceto no Chile, e no extremo sul dos Estados Unidos. A espécie é dividida em sete subespécies, dependendo das populações distribuídas geograficamente, e apresentam pequenas diferenças de coloração. Uma das características da ave é a de viver
METEOROLOGIA
O fenômeno El Niño ainda vai castigar a região nos próximos meses, apontam estudos meteorológicos
pousada no chão dos ambientes de florestas, capoeiras e campos. Desenvolvem voos curtos e logo voltam ao chão, e por ali mesmo fazem
AT L A S
POLUIÇÃO LUMINOSA
seus ninhos. Este é um mecanismo de defesa do bacurau, já que adultos e filhotes, por conta
A revista americana Science Advances publicou um novo atlas mundial da poluição
de sua coloração, acabam se confundindo
luminosa. Segundo os responsáveis pelo estudo, o mapa permitirá estudar a iluminação
muito bem com as cores das folhagens do
artificial como um poluidor com impacto potencial sobre a saúde e o meio ambiente. Foi
chão e confiam nessa camuflagem, pois ficam
constatado, por exemplo, que um terço da população mundial não consegue ver a Via
estáticos e só fogem quando pessoas ou
Láctea, e que mais de 80% do mundo e 99% dos Estados Unidos e da Europa ocidental
animais estão muito próximos.
vivem sob um céu poluído pela luz artificial. JULHO DE 2016
• REVISTA AMAZÔNIA VIVA • 13
FATO REGISTRADO
Açaí amassado à mão Não é de hoje que a história do açaí é um caso de amor antigo com quem o consome. Ele serve de alimento aos humanos desde a era pré-colombiana, o que inclui toda a história e a pré-história antes da chegada dos europeus no continente americano, desde o povoamento original no Paleolítico Superior à colonização europeia durante a idade moderna. A maneira tradicional e artesanal de preparar o açaí é simples: depois de apanhado e debulhado dos cachos, os frutos são logo preparados, lavados e deixados em água para amolecimento da polpa. Depois é 14 • REVISTA AMAZÔNIA VIVA •
JULHO DE 2016
amassado à mão e peneirado. A massa é regulada com certa quantidade de água para que fique grossa, média ou fina, a gosto do freguês. Assim que o fruto era comumente preparado, já que a máquina elétrica de bater os caroços é uma invenção mais recente. A foto em destaque é uma cena de Dona Dudu, da Fazenda Morelândia, em Santa Bárbara, no Pará. O ano era 1970. Ela aparece amassando o açaí para uma equipe de pesquisa do Museu Paraense Emílio Goeldi, que periodicamente passava temporadas estudando nas ma-
INOCÊNCIO GORAYEB
tas primárias da fazenda. O Museu Goeldi sempre agradece a hospitalidade e a amizade de Dona Dudu, de seu marido Sotér, já falecido, e de seus filhos. Ah! Naquela época o açaí era especial, diferente. O gosto era mais puro e não incorporava o sarro travoso do excesso de atrito entre os caroços, porque as mãos removem a polpa mais delicadamente. Quem já teve a oportunidade de provar o fruto preparado dessa maneira tradicional sabe disso – e sente falta. Os pesquisadores do Goeldi nunca se esquecem de agradecer.
PERGUNTA-SE POIS É PRECISO ESCLARECER MITOS E VERDADES RONALDO TAVEIRA / FREEIMAGES
MEIO AMBIENTE
Praia do Atalaia recebe projeto de coleta seletiva Em julho, moradores e visitantes de Salinas que passarem pela Praia do Atalaia terão a oportunidade de conhecer mais sobre o processo de coleta seletiva, além de aproveitar uma série de atividades voltadas para a conscientização ambiental. Trata-se do Projeto Tenda Verde na Praia, desenvolvido pelo Instituto Manguezal, que será realizado numa parceria com a Associação de Reciclagem de Salinópolis. O Instituto Manguezal já realizou outras atividades educativas no município em parceria com órgãos do Estado, como a Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado do Pará (Emater) e a
Secretaria de Estado de Desenvolvimento Agropecuário e da Pesca (Sedap). O objetivo do Projeto Tenda Verde na Praia é difundir informações que levem a uma atitude ambiental sustentável e integrada, oferecendo informações de coleta seletiva e resíduos sólidos, além da preservação de ecossistemas marinhos e a conservação da água. A estratégia é a da mobilização social, com atividades junto aos turistas e moradores da Praia do Atalaia, onde o projeto estará localizado e será desenvolvido. A programação será realizada todos os sábados e domingos de julho, das 11h às 17h.
Gargarejo com água e sal alivia a dor de garganta? CRISTINO MARTINS / AGÊNCIA PARÁ
CONSCIENTIZAÇÃO A praia do Atalaia, em Salinas, será alvo de ação sustentável para manter o local limpo neste veraneio
D E S C O B E R TA
ARMAZENAMENTO DE CO2
A revis ta americana Science publicou um es tudo que mos tra o suces so de uma
Por mais desagradável que possa parecer esse remédio caseiro, a medida realmente pode ajudar em caso de inflamações da garganta, como aponta o otorrinolaringologista Cláudio Acatauassu Nunes, professor adjunto da Universidade do Estado do Pará (Uepa) e do Centro Universitário do Pará (Cesupa). Entretanto, a água deve ser morna, aquecida o suficiente para não machucar o que se pretende curar. “O calor da água morna, em contato com a mucosa inflamada, faz com que haja uma vasodilatação nos vasos sanguíneos da região, favorecendo com que um maior número de glóbulos brancos passem para o local afetado, reduzindo a sensação de dor e a inflamação”, explica Nunes. O sal, conclui o médico, ajuda na higiene bucal e desinfecção, facilitando a remoção do muco formado na garganta devido à inflamação. Claro, a medida apenas é para aliviar e não dispensa consulta e tratamento adequados.
experiência que tinha como objetivo desenvolver um método seguro para armazenar dióxido de carbono (CO 2 ). O es tudo faz par te do projeto -piloto Carbf ix, lançado em 2012, na usina geotérmica de Hellisheidi, na Islândia. Foi a primeira vez que cientis tas conseguiram injetar com suces so CO 2 no solo de basalto vulcânico e solidif icá -lo, oferecendo uma solução para o armazenamento des te gás de efeito es tufa vinculado ao
MANDE A SUA PERGUNTA Envie perguntas instigantes sobre hábitos, costumes e fenômenos da região amazônica para o e-mail: amazoniaviva@orm.com.br
aquecimento global. JULHO DE 2016
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EU DISSE
“Como aprendemos recentemente com o ebola, as emergências sanitárias de saúde são também crise de direitos humanos” Zeid Ra’ad Al Hussein, alto comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos. Em seu discurso no Conselho de Direitos Humanos da ONU, ele pediu que países não poupem esforços e recursos contra o zika e lembrou que a doença afeta principalmente os mais pobres. ARQUIVO/ ONU
“Suas histórias e rostos nos convidam a renovar o compromisso de construir a paz e a justiça. Queremos estar com eles: encontrá-los, acolhê-los, escutá-los e nos convertemos com eles em artesãos da paz” Papa Francisco, em mensagem no Palácio Apostólico da Praça São Pedro. O pontífice já chegou a classificar a crise de refugiados na Europa como a “pior catástrofe humanitária desde a Segunda Guerra Mundial”.
“Hoje, apontamos a uma sociedade que valoriza a sustentabilidade, que prioriza o meio ambiente e esse espaço não é a melhor maneira” Horacio Rodríguez Larreta, prefeito de Buenos Aires, após anunciar o fechamento do zoológico da capital argentina. Ele assegurou que o local será um eco parque que promoverá a educação ambiental. A previsão é que os animais do antigo zoológico sejam levados para uma reserva natural da cidade.
“A violência das armas exige mais que momentos de silêncio. Ela exige ação. Ao fracassar neste teste, o Senado fracassou com o povo norte-americano” Barack Obama, presidente norte-americano, após Senado ter rejeitado restrição de armas para suspeitos de terrorismo, mesmo após o pior ataque a tiros do país, em Orlando, na Flórida.
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APPLICATIVOS BOAS IDEIAS NUM TOQUE DE DEDOS
“Se queremos um futuro melhor, também temos de cuidar da vida selvagem. Se você fere uma espécie, está ferindo a todas, incluindo nós, seres humanos”
Currency FX App fácil e rápido de usar para conversão de mais de 150 moedas diferentes do mundo
Gisele Bündchen, em postagem no Instagram, sobre a morte da onça Juma, que foi abatida após participação no revezamento da Tocha Olímpica em Manaus (AM). Além de modelo, Gisele é ligada a causas sociais e ambientais.
com as taxas de câmbio mais atualizadas. Basta escolher quais moedas converter e consultar. Uma ferramenta útil para quem vai viajar e precisa planejar os gastos e calcular orçamentos sem precisar consultar
“Este não é um problema só de países emergentes, como China, Índia, Indonésia, Brasil e México, mas também afeta as economias avançadas”
diferentes sites. Ainda é possível acompanhar variações de câmbio por períodos. Plataformas: iOS e Android Preço: Gratuito
Faith Birol, diretor-executivo da Agência Internacional de Energia (IEA), sobre dados revelados no do-
Business Card Maker
cumento World Energy Outlook, apresentado em Londres. Segundo a IEA, milhões de pessoas morrem
Uma ferramenta leve, mas variada para criar
por ano de forma prematura devido à poluição do ar.
cartões de visita digitais, que podem ser DIVULGAÇÃO
incorporados em páginas de redes sociais, blogs, sites, assinatura de e-mail ou impressos posteriormente. Há vários modelos prontos e em alta definição, mas é possível criar modelos do zero. Plataformas: iOS, Windows Phone e Android Preço: Gratuito
Brush DJ Escovar os dentes ainda é uma medida bá-
“A coisa mais importante que você pode fazer para ajudar o planeta é parar ou diminuir o consumo de carnes e laticínios. Eles não são bons para o corpo e nem para o meio ambiente”
sica de higiene e saúde que muitas pessoas ignoram ou simplesmente esquecem. Este app, em inglês, coloca uma música aleatória na hora de escovar com o objetivo de tornar a escovação menos “chata”. Também há lembretes de escovação. Há pequenas animações que orientam sobre a forma correta
James Cameron, cineasta canadense, durante gravação de vídeo divulgado pela ONG WildAid. O
de escovar e o tempo adequado.
vídeo faz parte de uma campanha em parceria com autoridades chinesas, que tem a intenção de
Plataformas: iOS e Android
conscientizar a população a reduzir o consumo de carne.
Preço: Gratuito FONTES: PLAY STORE E ITUNES
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CURIOSIDADES DA BIODIVERSIDADE
HELY PAMPLONA
A sutileza da piaçoca na Amazônia A jaçanã ( Jacana jacana Linnaeus, 1766) é uma ave que possui diversas denominações para cada lugar onde pode ser encontrada. Outros nomes que ela recebe são aguapeaçoca, cafezinho, casaca-de-couro, ferrão, japiaçó, japiaçoca, marrequinha, menininho-do-banhado, nhaçanã, nhançanã, nhanjaçanã, piaçó, piaçoca, pia-sol e narceja. Em certas regiões do Sul do Brasil, a ave é também conhecida por asa-de-seda. A espécie pode ser vista na América Central e toda a América do Sul e tem seis subespécies. A Jacana jacana ocorre no sudeste da Colômbia até as Guianas, Brasil, Uruguai e norte da Argentina. Na 18 • REVISTA AMAZÔNIA VIVA •
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Amazônia, graças à riqueza de ambientes aquáticos, esta espécie tem grande população e habitats e recursos em abundância. Uma das características marcantes da ave são os dedos longos e finos, além das unhas, que são muito compridas. No dedo que fica para trás, a unha é ma is longa do que o próprio dedo. Esse a rra njo ajuda a ave e possibilita que ela v iva e desloque-se com ef iciência sobre as pla ntas aquáticas, div idindo o peso do corpo em uma la rga base. Isso lhe permite controla r o território e explora r um habitat menos competitivo. As rêmiges, como são chamadas as penas de voo, são verde-amarelas
de pontas negras. Na região do encontro possuem um pequeno esporão amarelo que ex ibem pelo comportamento de estenderem as asas e cantar como se estivessem gritando, numa atitude de defesa do território. A fêmea ex ibe comporta mento poliâ ndrico e reversão no papel sex ua l, na qua l se torna o sexo domina nte e defende ha réns com três a quatro machos, os qua is assumem todo o cu idado pa renta l. Elas passa m cerca de 80% do tempo for ragea ndo sobre a vegetação, consu m i ndo sementes de g ra m í neas, i nsetos i maturos e adultos, pequenos pei xes, a nfíbios e moluscos.
DESENHOS NATURALISTAS
CONCEITOSAMAZÔNICOS O VOCABULÁRIO REGIONAL É UM PATRIMÔNIO
Arredar “Arredar” é um verbo da língua por tuguesa pouco utilizado em comparação com outros sinônimos, como afastar, desviar, recuar, deslocar ou apar tar. A origem da palavra vem do infinitivo latino adretrare, formado a par tir de ad retro (para trás). Entretanto, na região Nor te, e especialmente no Pará, o verbo é bastante utilizado no dia a dia, em diversas situações, mais formais ou informais, dependendo da forma como é empregado. Alguns exemplos de uso da palavra são: “Arreda aí (vai
Uma aventura no estreito de Breves
dentro de um ônibus lotado. “Não te arreda de lá (não sai de lá), tua presença vai ser impor tante pra ti e para processo” também pode ser usado para marcar a presença física em cer tas ocasiões. Durante um acidente de trânsito, quando ocorrer um ajuntamento de curiosos: “Arredando, arredando (afaste-se), o acidentado precisa de ar”. O verbo arredar também é aplicado em situações conflituosas: “Te arreda daí (vai embora), que vai sobrar pra ti”; e até em aconselhamentos: “Arreda-te um pouco (dê um tempo), não é um recuo e cer tamente vais amenizar os problemas”.
WALDEZ
crições do rio, das matas, dos povoados e das populações que ali encontrava. Seu poder descritivo se apoia muito no texto, ao qual ele procura conferir um sabor pitoresco, buscando com frequência jogar luz sobre aspectos destoantes, sobre atributos que permitam ajuizar acerca do lugar ou da população de uma comunidade ou de uma etnia. E em combinação com o texto, as imagens jogam um papel muito importante na caracterização do mundo exterior tal qual Paul Marcoy conseguiu enxergá-lo. A figura acima ilustra a passagem de sua equipe pelo Pará, quando navegava de noite pelo estreito de Breves. Sobre isso disse: “Esta tempestade terminou prosaicamente para uma tempestade. Os danos no barco foram reparados durante a maré baixa. Se o piloto logo esqueceu a terrível noite que passamos no Estreito de Breves, eu não esqueci. Toda a confiança que eu tinha em suas águas calmas foi traída. Eu aprendi a muito custo que não há água pior do que a água que dorme.”
usado em dias quentes na região ou
GRAVURA DE RIOU / REPRODUÇÃO / ACERVO DE OBRAS RARAS DO MUSEU GOELDI
O viajante francês Paul Marcoy nasceu em 1815 em Bordeaux, onde também morreu em 1888. Ele é um dos mais de 100 viajantes que tiveram o relato de suas explorações registrado no famoso magazine francês “Le tour du monde”. A viagem de Marcoy na Amazônia veio a público em 1862, com o título “Voyage de l’océan Atlantique à l’océan Pacifique à travers l’Amérique du sud, 1848-1860”, publicada em 10 fascículos. O percurso no Brasil foi publicado em 1867, nos volumes 15 e 16. O título invertido e a data final 1860 estão errados, pois o viajante partiu da costa do Peru para chegar a Belém e o tempo do trajeto foi em 1846-1847. Em 1869, a editora Hachette deu grande destaque à saga de Paul Marcoy, reunindo tudo em dois grandes volumes, de cerca de 500 páginas cada um, com mais de 600 gravuras desenhadas pelo desenhista Riou. Boa parte dessa viagem se deu em território brasileiro, descendo os rios Solimões e Amazonas até encontrar o Atlântico, na foz da baía do Guajará, em Belém. Marcoy veio fazendo des-
pra lá), menino, está muito calor”,
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OLHARES NATIVOS
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Devoção que atravessa o tempo São mais de 200 anos de tradição. A Marujada de São Benedito é realizada todo mês de dezembro e recebe milhares de devotos. A programação dançante e toda a cor que envolver a marujada atrai muitos admiradores da cultura bragantino. As homenagens ao santo preto é promovida pela Irmandade da Marujada de São Benedito com a Diocese de Bragança. No século XVIII, os escravos africanos que moravam na região criaram a irmandade porque queriam agradecer ao “Santo Negro” pela proteção. Em homenagem, eles dançavam os ritmos da marujada na casa de seus benfeitores. Desde então, a tradição permanece entre as gerações do povo bragantino. Até hoje, a festividade atrai olhares de fotógrafos de todo o Brasil, como o paraense TARSO SARRAF, que apresenta essa galeria especial da festa para a revista Amazônia Viva. JULHO DE 2016
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OLHARES NATIVOS
A cavalo
A cavalhada é um combate da festividade da Marujada de São Benedito. É preciso acertar um pequeno alvo em meio ao sacolejo do cavalo. A plateia envolve visitantes e marujos atentos aos melhores homens da disputa.
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Competição
A cavalhada é realizada durante os fins de tarde no município de Bragança, nordeste do Pará. Dezenas de homens disputam a pontaria mais certeira entre os marujos.
Nas Docas
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Vermelho e branco
No dia da procissão principal, as roupas vermelhas e brancas dão o tom da festa. Marujas e marujos caminham de pés descalços pelas ruas da cidade com a imagem do “Santo Preto”.
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Azul e branco
Casais dançam nos barracões de festa, ao ritmo da marujada e atraem devotos e curiosos. Todos querem participar e conhecer as homenagens ao santo padroeiro.
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Feminino
A maruja mais antiga ganha o título de capitoa, principal autoridade da festividade. Ela participa de todos os momentos da festividade com todos os ornamentos do figurino colorido.
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Gerações
A festividade reúne gente de todas as idades. Marujos entram na irmandade desde muito novos. É comum ver crianças participando da programação em todos os momentos da marujada.
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À margem
Quase toda a programação ocorre bem no centro da cidade, perto da orla. O rio que banha a cidade é o rio Caeté, devido a ele Bragança é conhecida como a pérola do Caeté.
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Caminhada
Os pés descalços são uma tradição na caracterização. Das crianças aos idosos, todos caminham pela cidade com os pés no chão.
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Indumentária
A peça mais vistosa da vestimenta maruja é o chapéu. Ele é feito com plumas brancas, fitas longas coloridas, espelho e material dourado que mostram todo o esmero é vaidade das mulheres marujas. .
Envie as suas fotos para a seção Olhares Nativos 30 • REVISTA AMAZÔNIA VIVA •
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Para participar da seção “Olhares Nativos” da revista Amazônia Viva basta enviar fotos com temática amazônica para o e-mail amazoniaviva@orm.com.br acompanhadas pelo nome completo do autor, número de identidade e uma breve informação sobre o contexto do registro fotográfico. As imagens devem ser autorais e com resolução de no mínimo 300 dpi. A publicação das fotos tem fins meramente de divulgação de trabalhos profissionais ou amadores, não implicando em qualquer tipo de remuneração aos autores. Participe!
OPINIÃO, IDENTIDADE, INICIATIVAS E SOLUÇÕES CARLOS BORGES
IDEIASVERDES
Drama amazônico
O ESCALPAMENTO AINDA É UMA REALIDADE DOLOROSA NA REGIÃO AMAZÔNICA PÁGINA 38
BIODIVERSIDADE
EDUCAÇÃO
A doutora em Educação Nurit Bensusan é autora do livro infantojuvenil “Dividir Para Quê? - Biomas do Brasil”, voltado para o meio ambiente. PÁG.34
Grupo de educadores desenvolve metodologia de ensino para crianças por meio de aplicativo para tablets e computadores. PÁG.52
ENTREVISTA
N
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“É preciso conservar a biodiversidade” MESTRE EM ECOLOGIA E DOUTORA EM EDUCAÇÃO, NURIT BENSUSAN É AUTORA DO LIVRO INFANTOJUVENIL “DIVIDIR PARA QUÊ? BIOMAS DO BRASIL”. COM A PUBLICAÇÃO, ELA LANÇA UM OLHAR DIFERENTE PARA A EDUCAÇÃO AMBIENTAL NO PAÍS. TEXTO LUCAS FILHO
LUCAS FILHO
urit Bensusan é bióloga e engenheira florestal, pós-graduada em História e Filosofia da Ciência pela Universidade Hebraica de Jerusalém, mestre em Ecologia e doutora em Educação pela Universidade de Brasília (UnB). Trabalhou em reconhecidas organizações não governamentais, dentre as quais o WWF Brasil, onde coordenou a área de políticas públicas, e o Instituto Socioambiental (ISA), sendo coordenadora de biodiversidade. Autora de 15 publicações, Nurit esteve em Belém a convite do Instituto Internacional de Educação do Brasil (IEB) para participar da XX Feira Pan-Amazônica do Livro neste ano e lançar a publicação infantojuvenil “Dividir Para Quê? - Biomas do Brasil” (editora Mil Folhas e Três Joaninhas). Nessa entrevista Nurit comenta o mercado editorial para crianças, lança um olhar diferente para a chamada educação ambiental e ressalta a importância das populações tradicionais para conservar a biodiversidade do país.
ESTÚDIO GRANDE CIRCULAR
No seu livro, você levanta um questionamento sobre a classificação dos biomas. Além de uma proposta didática, de que forma essa classificação pode ter um sentido prático para a conservação ambiental no Brasil? Sim, a verdade é que a classificação em biomas, mesmo que guarde, como toda classificação, uma dose de arbitrariedade, é útil. O Brasil é um país muito grande e muito diverso, tanto em termos ambientais como socioculturais, assim a divisão por biomas ajuda muito a ter políticas mais adequadas e também a adequar a gestão dos territórios às realidades locais. Conservar a biodiversidade é mais fácil em áreas mais uniformes, como, sob certa medida, são os biomas.
EDUCAR
Ilustração do livro “Dividir Para Quê? Biomas do Brasil”, da editora Mil Folhas e Três Joaninhas
Qual a importância de trabalhos como seu, que fazem a articulação entre a pesquisa ambiental, a ciência, as políticas públicas e os conhecimentos tradicionais para a compreensão da realidade ambiental brasileira? Eu, claro, acho muito importante. Primeiro porque esses temas todos dialogam e é importante perceber seus pontos de contato. É também relevante escrever para um público mais geral sobre tais temas, pois a percepção dessa realidade pela sociedade como um todo é essencial para mudarmos nossa forma de agir em relação ao ambiente.
“Não temos conseguido fazer com que a sociedade brasileira se aproprie do sistema e faça pressão para sua melhoria. ainda estamos distantes de ter um sistema de unidades de conservação efetivo.” JULHO DE 2016
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ILUSTRAÇÕES: ESTÚDIO GRANDE CIRCULAR
ENTREVISTA
LUCAS FILHO
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“O mercado de livros infantis tem crescido bem mais do que o mercado de livros para adultos, além disso, há uma aposta no público infantil, ainda em formação”
Considerando as pressões sobre cada bioma e suas particularidades ecológicas, como a senhora avalia o impacto e a efetividade da política do Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC)? O SNUC é um conjunto importante de espaços protegidos, fundamentais para a conservação da nossa biodiversidade. Infelizmente, ele ainda possui muitos problemas de implementação, pois faltam recursos materiais e humanos. Além disso, não temos conseguido fazer com que a sociedade brasileira se aproprie do sistema e faça pressão para sua melhoria. As áreas de visitação, como os parques nacionais, em geral, não possuem uma infraestrutura adequada. Em suma, ainda estamos distantes de ter um sistema de unidades de conservação efetivo. Essa mesma política vigente reco-
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nhece a necessária atuação dos agentes locais na gestão das unidades de conservação em seu território. As populações tradicionais têm desenvolvido essa visão de controle social? Que contribuições isso traz? Essa é um dos avanços mais importantes do SNUC, é entender que apenas com a contribuição das populações tradicionais rurais existe alguma chance de conservar a biodiversidade. Seus modos de vida e seus saberes são essenciais para a manutenção dos processos ecológicos que asseguram a integridade da biodiversidade. Além disso, por razões operacionais, contar com a colaboração dessas populações é fundamental. Qual o papel da educação ambiental nos primeiros anos da vida escolar? Eu não considero o que eu faço edu-
cação ambiental e nem sou a favor desse recorte da educação. Para mim, a preocupação com o ambiente, a percepção da diversidade sociocultural, a interação com os diversos campos da ciência e das artes e o estímulo a criatividade das crianças são os pilares fundamentais para a educação. O IEB passou por um processo de consolidação editorial por anos até chegar a criação do selo Mil Folhas. Resumidamente, qual o histórico desse processo? O IEB publicou livros relevantes sobre seus projetos e reflexões sobre os temas correlatos por anos. Fez uma importante parceria com a Editora Peirópolis que possibilitou às duas entidades publicarem mais livros e divulgarem mais os temas socioambientais. De um tempo para
cá, o IEB vem namorando com a ideia de ter um selo editorial, o que significaria dar mais importância para sua vocação editorial. Por fim, isso aconteceu no segundo semestre de 2014, quando foi lançado o primeiro livro da Mil Folhas. Com o livro “Dividir para quê?” o IEB lançou o selo “Mil Folhas e Três Joaninhas”, que é voltado para o público infantojuvenil. Por que o IEB decidiu se voltar para esse público? O mercado de livros infantis tem crescido bem mais do que o mercado de livros para adultos, além disso, há uma aposta no público infantil, ainda em formação. Ademais, há uma clara carência de bons livros nessa área, que possam complementar os livros escolares ou que possam instigar as crianças interessadas em temas socioambientais.
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A vida após o
escalpamento REDE ESTADUAL DE PREVENÇÃO CONTRA O ACIDENTE ATUA EM REGIÕES RIBEIRINHAS DO PARÁ, TENTANDO EVITAR A TRAGÉDIA CAUSADA PELO EIXO DO MOTOR DE BARCOS. NA OUTRA PONTA, CIENTISTAS PARAENSES BUSCAM MÉTODOS DE APRIMORAR AS CIRURGIAS EM ESCALPADOS E TRAZER DE VOLTA O CRESCIMENTO CAPILAR.
O
TEXTO JOÃO CUNHA FOTOS CARLOS BORGES
vaivém dos barcos por furos e braços de rio, o ronco insistente do motor, o banzeiro que cresce em direção às margens na passagem das rabetas, seguido pela euforia das crianças em “surfar” nas suas ondas de brinquedo; tudo isso que marca as férias de meio de ano em muitas regiões ribeirinhas da Amazônia, e faz a alegria dos veranistas, são sinais de preocupação para Socorro Silva. “As ocorrências de escalpelamento multiplicam-se em julho. A gente reza para o mês acabar logo”, diz. Socorro é agente da
Secretaria de Estado de Saúde Pública (Sespa) e coordena da Comissão Estadual de Enfrentamento aos Acidentes de Motor com Escalpelamento (CEEAE), que todos os anos monitora acidentes desse tipo no Pará. Se, em séculos passados, o escalpo era uma demonstração do poder e da violência do colonizador no extermínio de povos nativos em terras norte-americanas, como mostram os registros da História, o escalpelamento contemporâneo, um problema recorrente e quase exclusivo do Norte do Brasil, tem um vetor tecnológico.
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CAPA
Foi por volta da década de 1960 que os motores alimentados com combustível chegaram à região, se espalhando rapidamente em troca dos velhos remo e vela. Em luga res onde ba rco é f unda menta l pa ra a sobrev ivência, o motor t rou xe rapidez às v iagens f luv ia is. “Tem que usa r o ba rco. Como quem mora na cidade tem que ter u m ca r ro, u ma bicicleta ou u ma moto. Se a gente não t ivesse ba rco, não era nada feito aqu i pra nós, porque a gente v ive em ci ma do r io, prat ica mente, né?”, fa la o pescador Ed m i lson Pitei ra no docu mentá rio “Esca lpela mento – Uma rea lidade a ma zônica” . Ba rcos ma is velozes, mas nem tão seg u ros. O per igo está em u ma peça que, se não est iver cober ta, pode causa r u m acidente de g ra nde i mpacto: o ei xo do motor. A s v ít i mas, gera lmente mu l heres, en rosca m os cabelos no ei xo em rotação e têm pa r te ou a tota l idade da pele que reveste o crâ n io, orel has e out ras pa r tes do rosto a r ra ncadas. “Qua ndo aconteceu o acidente, a gente esta38 • REVISTA AMAZÔNIA VIVA •
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va indo pra igreja no ba rco do meu pa i”, conta Joycea na A raújo, hoje com 20 a nos. À época do esca lpela mento, em uma loca lidade próx ima de Ba rca rena, ela tinha seis. O acidente é ma is comum na fa i xa etá ria entre 0 e 12 a nos de idade, seg undo a CEE A E. Apesar de ser um problema que atinge toda a Amazônia brasileira, o Estado do Pará lidera o número de casos de escalpelamento. Em um solo de tradição ribeirinha, dos 144 municípios paraenses, metade é banhada por cursos de água (rios, af luentes, córregos, entre outros). Desse universo, 46 municípios possuem vítimas do acidente, ainda de acordo com a Comissão. O arquipélago do Marajó e as regiões do Baixo Amazonas e do Tocantins registram a maior incidência de casos, com destaque negativo para os municípios de Abaetetuba, Afuá, Anajás, Bagre, Barcarena, Belém, Breves, Cametá, Chaves, Curralinho, Igarapé-Miri, Juruti, Limoeiro do Ajuru, Melgaço, Moju, Muaná, Oeiras do Pará, Orix iminá, Gurupá, Portel, Prainha e São Sebastião da Boa Vista.
PERIGO NOS BARCOS
É preciso cobrir o eixo do motor das embarcações para evitar tragédias, principalmente com mulheres
Não se sabe ao certo quando aconteceu o primeiro escalpelamento por motor de barco no Pará. Desde o ano de 1979 o Estado já contabilizou 438 vítimas dessa tragédia, segundo um levantamento da Comissão especializada. O número real de ocorrências, no entanto, é maior porque muitos casos não chegam a conhecimento público. “Já ouvimos relatos de acidentes que se deram em áreas muito remotas e a vítima recebeu socorro no próprio local ou morreu sem conseguir tratamento, mas não temos como comprová-los”, afirma a coordenadora da Comissão. O escalpelamento ganhou maior conhecimento público e atenção por parte dos governos locais a partir do século X XI, com mais e mais vítimas chegando à capital paraense em busca de atendimento. Em 2008, foi criada a Comissão Estadual de Enfrentamento aos Acidentes de Motor com Escalpelamento, uma rede articulada de 22 instituições, entre hospitais, secretarias, associações, ONGs e o Ministério Público Federal, que atua nas frentes do tratamento e, principalmente, da prevenção, para que o número de casos diminua e, eventualmente, o escalpelamento seja erradicado no Pará. Socorro Silva declara que a meta da Comissão
para o período 2016-2017 é reduzir a quantidade de ocorrências para 50% do índice atual. Desde o mês de junho, começou a campanha de verão da CEEAE em vários municípios do interior do Estado, cujo foco é informar os usuários de barcos e colocar a cobertura de madeira ou de plásticos, uma preocupação simples, que pode evitar muito sofrimento.
Tratar é acolher
A maioria das pessoas escalpeladas por motor de barco são encaminhadas para Belém, capital paraense, onde atualmente funciona um hospital centro de referência no tratamento dos casos. Ao longo de 15 anos, a Fundação Santa Casa de Misericórdia do Pará continua se especializando no atendimento, cirurgia e acompanhamento físico e psicológico das vítimas, um caminho que se mostrou urgente na virada do milênio. “Com o aumento de escalpelados, a partir de 2001, a Santa Casa assumiu a missão do cuidado desses pacientes, para que os profissionais possam se aprimorar e melhorar a qualidade das consultas e das cirurgias”, conta a enfermeira e coordenadora do Programa de Atendimento Integral às Vítimas de Escalpelamento (Paives), Socorro Rui-
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SUPERAÇÃO
Joyceana Araújo, hoje com 20 anos, sofreu o acidente aos seis, em uma localidade próxima de Barcarena
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FORÇA NO DIA A DIA
vo. “Até esse momento, as pessoas que vinham de outros municípios eram atendidas em diversos hospitais de Belém”. Fundado há 8 a nos, o Pa ives é o progra ma da Sa nta Casa de assistência integra l às v ítimas de acidente por esca lpela mento, o resultado do acúmulo da instituição no tema. Conta ndo com uma equipe multidisciplina r de médicos, enfermeiros, psicólogos, assistentes socia is, pedagogos, f isioterapeutas, terapeutas ocupaciona is, nutricionistas, fonoaudiólogos e equipe de apoio, o foco do Pa ives é fa zer “com que cada prof issiona l converse com o outro e pense em soluções conjuntas, pa ra que o atendimento ao paciente seja contínuo”, obser va Socorro Ruivo. Para a coordenadora, a vigên40 • REVISTA AMAZÔNIA VIVA •
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Tomázia Malaquias, Carliane Moraes e Arlene Prata: vítimas de escalpelamento
cia do programa trouxe uma evolução sensível para as técnicas de cirurgia, o equipamento usado cirurgia das vítimas e o preparo da equipe que lida diretamente com elas, tornando o “tratamento mais rápido, eficaz e menos desgastante para quem passa por ele, em relação ao que era em um passado não muito distante”. “No início, eu cheguei a ficar 6, 9 meses aqui, internada no hospital. Agora, a gente vem pra Belém e passa uma semana, às vezes um dia só”, diz a trabalhadora autônoma Luana Reis, que sofreu o acidente em 2002 em A ltamira e faz a viagem do município do sudoeste paraense à capital periodicamente para continuar o tratamento. Da mesma maneirca que Luana, dezenas de vítimas de escalpelamento habitam regiões distantes de Belém e não têm parentes ou conhecidos na
cidade. Nesse caso, durante o tempo que passam em tratamento na Santa Casa, o lar dessas pessoas é o Espaço Acolher, um dos “braços” do Paives. A casa de dois andares na esquina da rua Diogo Moia com a avenida A lcindo Cacela, abriga tudo o que uma residência precisa: quartos, cozinha, banheiro, sala de estar. A lém disso, possui salas para acompanhamento pedagógico e psicossocial e, desde 2013, a classe hospitalar, um ambiente escolar onde crianças e adolescentes recebem ensino personalizado, de acordo com suas necessidades. Uma estrutura, como sugere o nome, de hospedagem, proteção e cuidado com quem sofre o escalpelamento muito além do momento do acidente.
“O escalpelamento é um acidente que traz dores pra vida toda. Não só a dor física, mas a dor psíquica, porque ele tira das meninas e das mulheres o que na sociedade foi construído de mais bonito para elas que é o rosto, a sua imagem”, aponta a assistente social responsável pelo Espaço Acolher, Luzia de Matos. “Aqui, na casa, os pacientes se reconhecem uns nos outros e veem que o caso deles não é único. Isso é muito fortalecedor. A lém disso, eles são estimulados a se reinserir na sociedade, apesar das barreiras e preconceitos, e pensar o que fazer da vida pós-acidente”, explica.
Inovação além do olhar humano
Para a assistência de acidentados por escalpelamento, o Paives dispõe de recursos e procedimentos cirúrgicos tradicionais, alguns deles até mesmo milenares, caso da trepanação. O método consiste em abrir pequenos orifícios no crânio para que o organismo produza um tecido vascularizado. Dentro de cinco a sete dias, esse tecido vai cobrir a região
óssea. O passo seguinte é a colocação de enxertos de pele, que irão fazer as vezes do couro cabeludo escalpelado. A diferença crucial dessas técnicas em relação aos nossos tempos está na progressão da tecnologia médica, que proporcionou instrumentos mais precisos para esses fins, como a broca neurocirúrgica. Um grupo de cientistas da Universidade do Estado do Pará (Uepa) centra esforços na microcirurgia, operação de estruturas do corpo humano invisíveis ao olho nu através do microscópio, como a próx ima fronteira a ser avançada no cuidado de pessoas escalpeladas no Estado. “Esse tratamento é o que mais sofisticado ex iste do mundo, e a Universidade estadual tem pessoal treinado para fazê-lo corretamente nesses casos tão frequentes e graves na nossa região”, certifica o professor e médico Rui Barros, coordenador do Laboratório de Cirurgia Experimental (LCE) da instituição. A lém do equipamento técnico, no momento da microcirurgia é indis-
pensável o elemento humano: a habilidade, os movimentos minuciosos e a paciência do cirurgião, que dependendo da gravidade e especificidade de cada caso em situações práticas, pode levar várias horas em um único procedimento. “Na microcirurgia, utilizamos um microscópio para ver vasos sanguíneos que medem menos que 1 milímetro e se costuram ‘boca com boca´ de cada um deles para que o sangue passe, porque se simplesmente suturarmos a pele, ela vai morrer”, pontua o coordenador. A microcirurgia, e seu arsenal de microlentes de aumento e agulhas minúsculas, é conhecida e consagrada faz algumas décadas em situações de reimplante e recuperação de movimentos de membros amputados. Em casos de escalpelamento, o processo já é usado com sucesso em diversas partes do mundo e até mesmo no Brasil. O ineditismo da experiência paraense é a sua aplicação no contexto local de acidentes por motor de barco e um estudo inovador com reimplante de escalpo em coelhos. “Não existe na
UNIÃO DIANTE DO PROBLEMA
“Aqui, na casa, os pacientes se reconhecem uns nos outros e veem que o caso deles não é único. Isso é muito fortalecedor”, diz a assistente social Luzia de Matos, do Espaço Acolher. Vítimas recebem todo tipo de apoio, afirma a coordenadora do Paives, Socorro Ruivo (à esquerda).
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• REVISTA AMAZÔNIA VIVA • 41
((FO - OU MELH PAR Á)
CAPA
literatura nenhum estudo no gênero. Esse é o primeiro modelo experimental (em animais) de escalpamento e reimplante de escalpo”, diz o estudante de medicina e integrante do LCE, Vitor Nagai. Vitor investigou, para o seu trabalho de conclusão de curso, a anatomia de coelhos da espécie Oryctologus cuniculus e encontrou semelhanças entre o f luxo sanguíneo dos animais e dos seres humanos na região do crânio, a exemplo da artéria carótida externa, que transporta sangue com oxigênio, encontrada nos dois tipos de organismo. “O coelho tem um escalpo relativamente pequeno, mas se considerarmos as orelhas, o escalpo fica com um tamanho considerável, 42 • REVISTA AMAZÔNIA VIVA •
JULHO DE 2016
parecido com o humano, por isso a nossa escolha. As comparações se mostraram muito satisfatórias”, expõe o professor Rui Barros, que também orientou a pesquisa. A descoberta foi o primeiro passo para um estudo, dentro do Laboratório de Cirurgia, para o reimplante de escalpo nos animais, que serviria de modelo de treinamento e capacitação e cirurgiões. Ao longo de três anos e meio, o projeto coletivo vem sendo conduzido por médicos e estudantes de graduação e pós-graduação em Medicina que formam o time do LCE. No estágio atual da pesquisa, por meio de testes de escalpo e reimplante nos coelhos, os cientistas conseguiram provar a viabilidade da cirurgia
PESQUISA NO ESTADO
Os pesquisadores Marcel Reis, Rui Barros e Vitor Nagai desenvolvem estudos voltados para os escalpados no Laboratório de Cirurgia Experimental, da Uepa
na espécie. Cerca de 30 dias depois do procedimento, vários coelhos operados registraram a volta do surgimento de pelos no escalpo e nas orelhas, demonstrando que a comunicação sanguínea foi restabelecida com sucesso. “Nós reproduzimos aqui no laboratório o escalpo em coelhos, que é muito mais difícil, porque se tratam de vasos muito pequenos. Reimplantamos o escalpo com sucesso e provamos que é possível fazer isso em laboratório, com grandes perspectivas de aplicação em
O DRAMA EM NÚMEROS Distribuição de casos no Pará entre 2000 e 2014 2000 26 CASOS 2001 18 CASOS 2002 38 CASOS 2003 31 CASOS 2004 30 CASOS 2005 11 CASOS CARINHO E ATENÇÃO
Acima, perucas confeccionadas na Orvam. Abaixo, vítimas assistidas no Espaço Acolher.
2006 17 CASOS 2007 24 CASOS 2008 14 CASOS 2009 19 CASOS 2010 9 CASOS 2011 9 CASOS 2012 10 CASOS 2013 8 CASOS 2014 6 CASOS FONTE: SESPA
SAIBA MAIS Com um leitor de QR Code assista aos documentários:
“Escalpelamento - Uma realidade amazônica”, produzido pela ONG Rádio Margarida com apoio do Governo do Estado
“Vitória Régia: As mulheres escalpeladas do Pará”, produzido pelas jornalistas Barbara Arantes, Bráulia Camargo e Juliana Tavares, da Universidade Presbiteriana Mackenzie JULHO DE 2016
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CAPA
FIOS QUE CONECTAM O MUNDO
Orvam oferece tratamento e confecciona perucas para vítimas de escalpelamento com doações que vêm e todas as partes “Esse projeto todo surgiu de uma fala: ‘Cristi-
preconceitos e incompreensões. “Uma grande
com doações de cabelo vindas do mundo todo.
na, nós não conseguimos nem chorar, nem sor-
dificuldade que essas pessoas encontram é
“Essas mechas aqui chegaram do Japão e aque-
rir por muito tempo, porque nossa cabeça dói
achar um lugar no mundo depois do acidente.
las ali, mais claras, acabaram de chegar da Es-
demais’. Isso me tocou muito. Na época, eu não
O bullying e a solidão são barreiras. Aqui nós
panha. Nós recebemos doações de toda parte”,
sabia muito sobre o escalpelamento”. Era agos-
ajudamos a elas enxergarem que direção que-
mostra a assistente social.
to de 2010 e a conversa com uma das vítimas,
rem seguir”, diz Cristina.
O movimento na pequena casa onde funcio-
durante um evento sobre o tema, em Belém,
Uma das principais maneiras que a ONG tra-
na a sede da organização, em Belém, não para.
mudaria a vida da assistente social Cristina de
balha a autoestima dos acidentados é a confec-
Logo cedo de manhã, a professora Paula Gra-
Jesus (foto acima) e de centenas de pessoas que
ção de perucas, feitas pelas próprias vítimas
ciane (à esquerda) e suas filhas Alice e Amanda,
sofreram escalpelamento no Pará.
10 e 13 anos, batem à porta da ONG, cabelos
Quase seis anos se passaram e hoje Cris-
recém-cortados e mechas nas mãos, prontas
tina é presidente de uma das principais ins-
para mais uma doação. “É a segunda vez que
tituições que lutam pelo tratamento e pela
doamos”, conta Paula. “Eu quero que as meni-
qualidade de vida dos escalpelados. A Orga-
nas tenham o prazer de poder mexer os cabe-
nização dos Ribeirinhos Vítimas de Acidente
los de um lado pro outro”, complementa Alice.
de Motor (Orvam) virou símbolo de mulheres,
Para se fazer uma peruca são necessários
crianças e homens atingidos pelo acidente
de 10 a 12 metros de cabelos costurados, o que
de motor de barco e uma referência mundial.
equivale de 4 a 5 cortes de cabelo de pessoas
A Orvam faz parte da Comissão Estadual de
diferentes, dependendo do volume. “O com-
Enfrentamento aos Acidentes de Motor com
primento ideal de uma doação é de 30 cm para
Escalpelamento (CEEAE). Oferece tratamen-
obtermos o bom aproveitamento, sendo que a
to psicológico e de assistência social para as
durabilidade média de uma peruca é de cerca
vítimas e auxílio no difícil processo de se rein-
de 2 anos. Logo, cabelo para nós nunca será de-
serir socialmente, um caminho marcado por
mais”, afirma a presidente da ONG.
44 • REVISTA AMAZÔNIA VIVA •
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vítimas de escalpelamento”, comemora o mestrando e integrante do LCE, Marcel Reis, cujo tema de pesquisa é a cirurgia de reimplante em coelhos. Cumpridos os estágios de testes em seres humanos, caso efetivada, a cirurgia pode realizar um efeito tão sonhado para os acidentados por motor: a volta do crescimento capilar. Para Rui Barros, o que falta à microcirurgia para fazer o percurso do laboratório rumo ao sistema público de saúde do Estado é a falta de conhecimento dos governos locais. Segundo o médico, atualmente apenas um hospital da rede privada em Belém apresenta condições de receber uma cirurgia dessa natureza. “A comunidade científica precisa mostrar a possibilidade de implante de escalpo às autoridades, porque treinamento e pesquisa nós temos”, acredita. No início de julho, Marcel Reis defendeu a dissertação de mestrado na Uepa em uma apresentação pública com a presença de representantes do Governo do Estado. Um segmento da pesquisa de reimplante do LCE foi aprovado em um congresso internacional de Medicina na China e um grupo de estudantes está se mobilizando para representar o trabalho no evento, que será em agosto, mais um momento de compartilhar esse conhecimento que pode ser tão útil aos escalpelados. A criação de uma unidade de reimplante e um plano estadual de resgate das vítimas também são outros pontos destacados pelo médico Rui Barros. “O tempo que passa entre o acidente e a chegada à mesa cirúrgica é crucial. Helicópteros, que o Estado já dispõe, são os meios de transporte mais adequados para as nossas distâncias”, afirma. “O mais importante é que o escalpo seja preservado e não jogado no rio, como geralmente acontece. Se bem acondicionado, em temperatura resfriada, e trazido em pouco tempo, as chances de sucesso da microcirurgia são enormes”.
TRISTE REALIDADE
O acidente de escalpamento na Amazônia é mais comum na faixa etária entre 0 e 12 anos de idade
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, , , E S E -
SUSTENTABILIDADE
Floresta monitorada
PROJETO TERRACLASS/INPE-CRA/EMBRAPA
O INPE investiga as causas do desmatamento na Amazônia através de um sistema de mapeamento inédito no mundo TEXTO JÚLIO MATOS
A
exploração desordenada da maior floresta tropical do planeta tem entre seus maiores problemas e consequente preocupação o desmatamento, questão monitorada pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) desde 1988, apoiado pelo seu Centro Regional da Amazônia (CRA), em Belém. Existe uma dinâmica de ação de combate ao desflorestamento na região amazônica e a missão dos órgãos atuantes contra a prática, a exemplo do INPE, é justamente enfraquecer a atividade e assim reduzir os índices de desmatamento e suas consequências. Há os responsáveis em fazer mapas 46 • REVISTA AMAZÔNIA VIVA •
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para identificar os locais onde ocorre desmatamento, existem aqueles que em posse do mapa vãoao local para conferir e multar se o desmatamento for criminoso e há também os que estudam para explicar como ocorre a dinâmica de desflorestamento. Ao INPE, através do Centro Regional da Amazônia, compete a elaboração dos mapas, através de interpretação de imagens de satélite,a verificação de onde estão ocorrendo ações de desmatamento em toda a Amazônia Legal e também estudar a destinação dada à terra. Um dos projetos desenvolvidos no CRA/INPE, em parceria com a Empre-
sa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) – por meio de suas unidades em Belém e em Campinas (SP), é o TerraClass, responsável por qualificar o desflorestamento. Pasto, agricultura, mineração, floresta secundária: como as áreas desmatadas na Amazônia estão sendo utilizadas? O mapeamento realizado pelas equipes fornece dados para que se saiba exatamente a motivação da derrubada de árvores. Inédito no mundo, o diferencial do TerraClass está no empenho em qualificar o desmatamento na Amazônia Legal. O sistema PRODES, maior programa de monitoramento de florestas do mundo,
PROJETO TERRACLASS/INPE-CRA/EMBRAPA PROJETO TERRACLASS/INPE-CRA/EMBRAPA PROJETO TERRACLASS/INPE-CRA/EMBRAPA
faz mapeamento do desflorestamento, mas é o TerraClass que investiga os motivos: houve desmatamento por quê? Até o momento já foram gerados dados de uso e cobertura da terra para os anos de 2004, 2008, 2010, 2012 e 2014. As informações geradas representam um avanço no conhecimento do uso e cobertura da terra na Amazônia como um todo. O TerraClass utiliza 12 classes temáticas para mapear o desflorestamento e classificar os tipos de uso e cobertura da terra, tendo como base a interpretação de imagens de satélites e tecnologias de geoprocessamento. De acordo com o pesquisador do INPE e coordenador do projeto, Marcos Adami, “merecem destaque os números relativos à agricultura, em crescente no Mato Grosso, Pará e Rondônia, principalmente, e que correspondem a 6% do desflorestamento; à Pastagem, que compreende 60% do total de áreas desmatadas em toda Amazônia; e a Vegetação Secundária, classe que representa 23% das áreas mapeadas”. Para melhorar a qualidade do trabalho dos responsáveis pelo mapeamento do desmatamento na Amazônia Legal Brasileira, eles participaram do I Trabalho de Campo do Projeto TerraClass 2016, que ocorreu entre os dias 22 e 26 de maio, em Paragominas, na região do sudeste paraense. A proposta foi uniformizar conceitos e nivelar a capacidade de discriminar as classes do projeto e isso aplicado a todos os profissionais, visando melhorar a interpretação. Em Paragominas, é possível se observar com clareza os mais variados tipos de uso do solo. A região possui grandes extensões de terra voltadas à agricultura, pastagem, reflorestamento e vegetação secundária. Daí a escolha deste local para a realização do trabalho de campo, somada à presença do Núcleo de Apoio à Pesquisa e Transferência de Tecnologias
EM CAMPO
Equipe do INPE sai para mais um dia de trabalho na floresta. O pesquisador do instituto francês CIRAD, René Poccard-Chapuis (abaixo), ministrou palestra aos cientistas.
SUSTENTABILIDADE
PROJETO TERRACLASS/INPE-CRA/EMBRAPA
DE OLHO NAS ÁREAS
da Embrapa (NAPT Belém-Brasília). Aliás, foi no NAPT a primeira parada dos 25 analistas em geoprocessamento do Projeto. Antes do campo propriamente dito, os profissionais assistiram à palestra Padrões de uso e cobertura da terra e considerações físicas sobre a paisagem no município de Paragominas, ministrada pelo pesquisador do instituto francês CIRAD, René Poccard-Chapuis. Ele desenvolve estudos em parceria com a Embrapa e a Universidade Federal do Pará. O pesquisador destacou que o mapeamento do uso do solo na Amazônia Legal gera dados que não existem no mundo. A oportunidade de se aperfeiçoar o trabalho dos profissionais é um ganho para fornecer com mais qualidade informações úteis à sociedade. O objetivo do campo foi verificar o uso que se tinha nas imagens de 2015 analisadas no laboratório e comparar com o que se via no presente. Permanece igual? Transformou-se em quê? O estudo possibilita confirmar ou não, a interpretação das imagens quando observado em campo, a conhecida “verdade terrestre”. Pasto com solo exposto, pasto limpo, pasto sujo, regeneração com pasto, mosaico de ocupações e reflorestamento. Essas foram as classes levadas em consideração durante o trabalho de campo. “O reflorestamento, às vezes, pode ser confundido com a vegetação secundária, pois dependendo da idade do reflorestamento (geralmente o de eucalipto mais
de sementes certificadas,
▶Área Urbana
▶Mineração
diversas modalidades
tagens para criação
insumos defensivos e me-
Manchas urbanas decor-
Áreas de extração mine-
de uso da terra e que
tradicional de gado.
canização, entre outros.
rentes da concentração
ral com a presença de
devido à resolução
populacional formadora
clareiras e solos expostos,
espacial das imagens
▶Área não observada
▶Pasto com
de lugarejos, vilas ou
envolvendo desfloresta-
de satélite, não é
solo exposto
Áreas que tiveram sua
cidades que apresentam
mentos nas proximida-
possível uma discri-
Áreas que, após o
Áreas extensas com
interpretação impossi-
infraestrutura diferen-
des de águas superficiais.
minação entre seus
corte raso da floresta e
predomínio de culturas
bilitada pela presença
ciada da área rural,
componentes. Nesta
o desenvolvimento de al-
de ciclo anual, sobretudo
de nuvens ou sombra
apresentando adensa-
▶Mosaico de ocu-
classe, a agricultura
guma atividade agropas-
de grãos, com emprego
de nuvens, presentes no
mento de arruamentos,
pações Áreas re-
familiar é realizada de
toril, apresentam uma
de padrões tecnológicos
momento da aquisição
casas, prédios e outros
presentadas por
forma conjugada ao
cobertura de pelo menos
elevados, tais como uso
da imagem de satélite.
equipamentos públicos.
uma associação de
subsistema de pas-
50% de solo exposto.
Classes temáticas mapeadas pelo Projeto TerraClass
▶Agricultura Anual
FONTE: PROJETO TERRACLASS/CRA-INPE/EMBRAPA
48 • REVISTA AMAZÔNIA VIVA •
JULHO DE 2016
PROJETO TERRACLASS/INPE-CRA/EMBRAPA
antigo), o adensamento das copas faz com que o intérprete confunda o padrão das cores na imagem, porém a diferença se dá pela textura, mais densa e rugosa no caso da vegetação secundáriae lisa, no caso do reflorestamento”, explica a engenheira florestal e especialista em geoprocessamento do CRA/INPE, Márcia Barros, que esteve à frente da organização do trabalho de campo. Os analistas se dividiram em equipes e cada uma utilizou um GPS, um notebook e uma câmera digital. O GPS identificava o ponto exato de localização, confirmado na imagem de 2015 e em seguida se observava em campo, no terreno, no que a área havia se transformado. Os analistas foram acompanhados durante todo o trabalho pelo pesquisador René Poccard-Chapuis, convidado pela Embrapa. O chefe-geral da Embrapa Amazônia Oriental, Adriano Venturieri e o pesquisador Orlando Watrin também estiveram presentes. De acordo com Adriano Venturieri, “o TerraClass tem uma repercussão mundial com a questão de emissões de gases no Brasil. Não existe no mundo quem faça um trabalho como esse”, atesta. “O que nós fazemos é o que a gente chama de qualificação do desflorestamento. Se antes o INPE dizia que tinham sido desflorestados 1.000 km², agora a gente está dizendo
CONECTADOS
INPE investe em tecnologia para aprimorar seus estudos no monitoramento da região amazônica
que desses 1.000 uma parte é agricultura, uma parte é pastagem, por exemplo. Então, agora estamos dizendo o que se transformou após a conversão da floresta”, explica Venturieri, que divide com os pesquisadores do INPE a coordenação do projeto. Com o trabalho realizado, os técnicos puderam inclusive pensar no desmatamento não só como vegetação em si,
mas expandir o olhar, pensar questões de uso do solo, relevo. O resgate histórico feito pelo pesquisador René Poccard-Chapuis foi de fato um dos grandes trunfos. Segundo ele, o TerraClass “se apropria do conhecimento geográfico e transforma ele em operacional. Os dados gerados são importantíssimos para discussões atuais, no que diz respeito ao clima, por exemplo”, ressaltou.
▶Pasto Limpo
de espécies de gramí-
agropastoril, encontram-
pelo plantio homo-
espectral seme-
▶Outros
Áreas de pastagem em
neas entre 50% e 80%,
-se no início do processo
gêneo de espécies
lhante à vegetação
São áreas que não
processo produtivo com
associado à presença
de regeneração da
arbóreas, tais como o
secundária.
se enquadravam nas
predomínio de vegetação
de vegetação arbustiva
vegetação nativa, apre-
Paricá (Schizolobium
herbácea e cobertura de
esparsa com cobertura
sentando dominância
parahyba), Teca
▶Vegetação
ção e apresentavam
espécies de gramíneas
entre 20% e 50%.
de espécies arbustivas
(Tectona grandis) e
secundária
um padrão de cober-
chaves de classifica-
e pioneiras arbóreas.
Eucalipto (Eucalyptus
Áreas que, após a su-
tura diferenciada de
▶Regeneração
Áreas caracterizadas
sp.). Apresentam
pressão total da vege-
todas as classes do
entre 90% e 50%.
▶Pasto sujo
com pasto
pela alta diversidade de
como característica
tação, encontram-se
projeto, tais como
Áreas de pastagem em
Áreas que, após o corte
espécies vegetais.
principal o plantio
em processo avança-
afloramentos rocho-
processo produtivo com
raso da vegetação natu-
em grandes talhões
do de regeneração da
sos, praias fluviais,
predomínio de vegetação
ral e o desenvolvimento
▶Reflorestamento
de formato geométri-
vegetação arbustiva
bancos de areia,
herbácea e cobertura
de alguma atividade
Áreas caracterizadas
co regular e resposta
e/ou arbórea.
entre outros. JULHO DE 2016
• REVISTA AMAZÔNIA VIVA • 49
COMUNIDADE
Alfabetização tecnológica
Grupo de educadores paraenses desenvolve metodologia dinâmica de ensino para crianças por meio de aplicativo para tablets e computadores TEXTO GABRIELA AZEVEDO FOTOS TARSO SARRAF
U
m grupo de profi ssionais paraenses se juntou há cerca de 10 meses para pensar propostas de educação aliadas à tecnologia. Juntos, eles desenvolveram o Educasoftware, uma startup (empresa de pequeno porte que, a partir de uma base tecnológica, crias inovações de mercado), que se propõe a desenvolver ferramentas de ensino. A equipe multidisciplinar, com pedagogos, designers, publicitários, programadores e cartu50 • REVISTA AMAZÔNIA VIVA •
JULHO DE 2016
nistas, produziu a primeira metodologia de aprendizagem dinâmica para acelerar a alfabetização do Brasil. Com todas essas especialidades unidas, eles criaram a “Turminha do Tommy”, um programa que instiga a criança a aprender a ler. “Não é um jogo, porque não queremos aqui estimular a competição, não tem vencedores, nem ranking. É uma metodologia lúdica ‘gameficada’, mas sem o comportamento de jogo”, explica o professor José Maria
Pereira, gerente do projeto. O tempo de produção do projeto foi acompanhado de muita pesquisa. “Alguns de nós estávamos em um evento de startups quando surgiu a ideia de uma turma de legumes. Tínhamos um clube de programação na faculdade e a ideia foi se desenhando. A gente viu tudo o que o mercado oferecia, pesquisamos os jogos, desenhos e aplicativos até chegar nesse formato”, diz o designer Fábio Castro.É um programa, que funciona
como um aplicativo, para ser usado em tablets e computadores, que tem atividades interativas. Divididos em módulos, as crianças vão ser estimuladas a pensar números, cores, formas e letras. Tommy é um tomate e o resto da turma são outros legumes, todos humanizados. “A gente quer falar também da educação alimentar com isso, a escolha do tomate e dos legumes como personagens ajuda a criança a gostar deles”, acrescenta José Maria. Mas para além dos estímulos, há uma recomendação. O método não deve ser utilizado apenas pelas crianças. “Ele é um auxílio. A tecnologia não deve substituir o professor. Queremos unir as bases professor, família e aluno. Incluindo os responsáveis no processo de alfabetização. A criança não vai assistir a turminha, ela vai interagir e para isso ela precisa de ajuda dos responsáveis ou do professor”, conta o designer Lucas Nunes. “Atualmente o processo de educação infantil não é tecnológico, são raríssimas as escolas que trabalham isso. Geralmente é uma sala de informática, são alguns jogos. Mas o que nós desenvolvemos é para ser conduzido pelo professor dentro de sala de aula, com o que ele estiver ensinando para a criança”, acrescenta José Maria.
DEDICADOS À EDUCAÇÃO
Educadores da startup Educasoftware criaram a “Turminha do Tommy”, que instiga a criança a aprender a ler
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• REVISTA AMAZÔNIA VIVA • 51
COMUNIDADE
UNIÃO DE TALENTOS
O professor José Maria Pereira, gerente da startup Educasoftware, fala do prazer da educação. Acima, o designer Fábio Castro e o ilustrador Waldez Duarte, que atuam no projeto.
O programa é dividido em três módulos: a socialização, o letramento e a leitura. “A gente desenvolveu tudo pensando em como manter os valores, deixar infantil, mas sem promover ações incorretas. É feito para crianças de 2 a 6 anos, baseado no conteúdo curricular do nível de ensino. O que antes se trabalhava no livro, pode ser trabalhado no software para isso a gente planeja fazer também a formação dos professores para que eles saibam usar a ferramenta”, garante a pedagoga Missilene Magalhães.
DESENHOS
A questão é que além de aplicar todos os métodos educacionais necessários para atingir as crianças, o visual também precisava ser atrativo. Foi assim que o cartunista Waldez Duarte chegou ao projeto. “Quando eu conheci a ‘turmi-
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nha’, existiam umas deficiências de cor, sombra, formato e expressões. Então dei esse toque para melhorar a apresentação. Foram quatro meses corridos desenhando as cenas, dando vida aos personagens. O maior desafio é desenvolver as tirinhas. Já é uma coisa que gostava, porque a gente desenvolve o texto também, aqui elas têm que ter temas educacionais. Mas tem sido enriquecedor participar do projeto”, relata Waldez. A equipe do Educasoftware apresentou o projeto na última edição da Feira Pan-Amazônica do Livro, realizada em Belém. “A gente não imaginava que as crianças iam gostar logo, que o resultado seria tão rápido. Mas lá na feira muitas crianças, até de idades que não pretendíamos alcançar, interagiram. Os pais elogiavam que não era só um jogo para entreter, elas realmente participavam”, comenta a estudante de publicidade Daniele Oliveira. Com aprovação do público e os últimos
ajustes sendo realizados, a “Turminha do Tommy” deve chegar ao mercado em agosto deste ano. “Quando começarmos a comercializar, isso poderá ser feito para família, que vai receber o aplicativo, os livros e umas tirinhas da turma. Já nas escolas e municípios, queremos trabalhar com projetos de alfabetização”, revela José Maria. O projeto de alfabetização termina no módulo III, mas para a equipe do Educasoftware ele é só o começo. “Nosso objeto de desejo é continuar desenvolvendo ferramentas para o primeiro ano, segundo ano, terceiro ano. Atender os outros níveis de ensino, queremos continuar desenvolvendo metodologias”, finaliza José Maria.
Serviço Para quem estiver interessado em adquirir a “Turminha do Tommy” ou saber mais sobre a metodologia, o contato da EducaSoftware é a página http://www.educasoftware.com.br/
ARTE, CULTURA E REFLEXÃO FERNANDO SETTE
PENSELIMPO
Samba na Amazônia ARTHUR ESPÍNDOLA É UM DOS PRINCIPAIS NOMES DO RITMO NACIONAL NO ESTADO
PÁGINA 54
CIÊNCIAS HUMANAS
EL NIÑO
O antropólogo Arthur Napoleão Figueiredo é um dos mais importantes nomes das pesquisas sobre a origem do homem amazônico. PÁG.60
Pesquisa da Nasa aponta que a região amazônica pode sofrer neste ano com a pior temporada de queimadas da história. PÁG.66
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PAPO DE ARTISTA
54 • REVISTA AMAZÔNIA VIVA •
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A nova cara do samba amazônico ARTHUR ESPÍNDOLA É UM DOS PRINCIPAIS NOMES DA ATUALIDADE A DIFUNDIR O RITMO QUE FAZ O BRASIL INTEIRO DANÇAR TEXTO SÁVIO SENNA FOTOS FERNANDO SETTE
É
um domingo de sol que ilumina o quintal recreativo da Família Espíndola. Debaixo do céu azul, corre o grito da criançada brincando de bola ao redor da piscina enquanto os mais vividos cantam sambas de João Nogueira e Noel Rosa. Do partido alto de seus doze anos de idade, Arthur, de ouvidos abertos, cresce nesse pagode familiar, que mistura música e diversão. Na adolescência ele segue com um cavaquinho em mãos e um coração romântico debaixo do peito, tirando cifras do Exaltasamba, Raça Negra e Só Pra Contrariar. No Carlos Gomes, estuda percussão erudita, mas gosta mesmo é de tocar pandeiro nas aulas com os amigos. Morou no Rio de Janeiro para cursar Ortóptica e viu o que o fazia feliz, seja em Belém, Madureira, Nilópolis ou na Baixada Fluminense: a roda de samba. Arthur Espíndola abriu alas para a música popular quando pisou na quadra da escola de samba paraense Bole Bole para tocar bateria com uma banda de baile. Hoje tem um álbum lançado na avenida e um DVD, que ainda irá desfilar para o público no segundo semestre deste ano. Como mestre-sala da televisão, apresenta a série de episódios “Amazônia Samba”, transmitida pela TV Cultura e disponível no YouTube, em que porta a bandeira do resgate e valorização da memória do samba paraense.
Quando é que o samba tocou teu coração? Na década em que eu vivi o aprendizado da música, nos anos 90, o pagode fazia muito sucesso e ele é primo do samba, um rebelde. Sempre tive contato com aquilo que toca na rádio, mas quando fui na escola de samba, descobri que existe algo antes, aí fui pesquisando, buscando, e chega um momento em quem me encontro com uma identidade. Eu gosto muito dos dois. Gosto de samba e de pagode. Por isso que tu foste pro Carlos Gomes? Minha mãe percebeu isso e me colocou. Outros parentes já haviam feito? Ninguém. O pessoal toca bem até, mas se reúne só pra brincar. Eu era baterista, toquei na minha adolescência em várias bandas, do brega ao reggae e ao rock. Mas quando fui morar no Rio de Janeiro me aproximei novamente do samba. Aí se misturou meu desejo, lembro que me perguntei: “O que é que eu vou fazer que nunca vai me deixar triste, sempre vai me fazer feliz a vida toda, vou morrer velho e feliz? É o samba”. Quando tu estavas no Rio de Janeiro frequentava quadra de escola de samba? Foram cinco anos bem vividos. Eu andei o Rio inteiro, morava na Zona Sul, mas ia para Baixada JULHO DE 2016
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PAPO DE ARTISTA
Fluminense, Nilópolis, Nova Iguaçu, Zona Norte, Zona Oeste, participei muito desse meio e fiz muitos amigos. É engraçado que lá eu tocava música pop, mas vivia no samba. Foi aí que eu me perguntei: “que artista é esse que faz música pop, mas segunda tá no samba, terça tá no samba, quarta tá no samba?” Eu saía da faculdade já fascinado para ir pro samba. Chegaste a tocar samba lá? Não. Depois que eu vim morar aqui tomei a decisão de fazer um trabalho e entrar numa prateleira, porque isso para mim era um tabu. Eu achava que fazendo música pop eu poderia fazer e compor de tudo, mas pra mim era um tabu estar na prateleira do samba. Quando voltei para cá quebrei esse tabu e me tornei um sambista. A partir do momento que eu retornei pro Rio as pessoas sempre me chamaram como um sambista da Amazônia. Rótulos que eles mesmos criaram e que acabei adotando. Ficaste na prateleira da Amazônia? O jornal Estadão fez uma matéria em 2014 dizendo assim: “Em Belém, Arthur Espíndola cria o samba amazônico”. Eu achei o termo samba amazônico muito interessante porque é isso que eu proponho, mas não sabia dar nome. Eu proponho a mistura dos ritmos, a fusão dos instrumentos do samba com os instrumentos daqui. Então quando o Júlio Maria fez a matéria me deu o start pro samba amazônico. Eu estou na prateleira do samba, mas com nosso sotaque, o nosso chiado do S. Esse conceito de samba amazônico influenciou a primeira temporada do Amazônia Samba, da TV Cultura? O programa advém dessa situação da mistura dos ritmos. A banda base do programa tem curimbó, pandeiro, barrica, pandeirão, caixa de marabaixo, banjo, todos os instrumentos 56 • REVISTA AMAZÔNIA VIVA •
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de musica regional amazônica misturados com bandolim e cavaquinho. O programa mostra para o Brasil e para os próprios paraenses que aqui a gente tem uma cena, um movimento que tem uma história muito rica, muito digna, que merece ser contada. É muito importante porque quando se fala samba em Belém do Pará, a primeira coisa que vem na cabeça das pessoas é uma interrogação. Por desconhecimento, falta de interesse ou simplesmente por não viver aqui. Por exemplo, o Rancho é a terceira escola de samba mais antiga do Brasil e isso precisa ser falado. Quais as histórias resgatadas pelo Amazônia Samba? Conseguimos imortalizar como foi feito “Canto de Areia”, da Clara Nunes e “Deusa dos Orixás”, com o Toninho Paraense. Edmundo Souto, que fez “Andança”, de Beth Carvalho, Chico da Silva, que fez “Sufoco”, da Alcione, e “Vermelho”, que é um boi famoso do Garantido. Reunimos os caras do grupo Manga Verde 20 anos depois. O Manga Verde ganhou disco de ouro e vendeu mais de 100 mil de cópias. Se vender 100 mil cópias no Brasil já é uma onda, imagina tu ganhares disco de ouro vendendo só no Pará. Eles eram muito famosos. Mas tem uma história que eu achei muito bonita... Quando a Dona Onete começou a cantar um samba chamado “Cachaça”, que escutava aos 14 anos de idade, quando veio de Igarapé-Miri para Pedreira. Aí ela conta que era um senhor de idade que cantava a música e esse senhor rodava os lugares, mas ninguém sabe quem é. Eu falei com Wilson das Neves, com Toninho Nascimento, com toda a velha guarda do samba do Rio, mas ninguém conhecia a música. Procurei em documentos e não existe, ou seja, a gente conseguiu imortalizar esse samba, que era cantado na Pedreira e ia para o túmulo se não fosse a Dona Onete lembrar.
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PAPO DE ARTISTA
Tu falaste essa questão do cantor que ninguém conhece, me pareceu muito uma entidade fantástica, como nossas lendas, aquele sujeito invisível, mas que todo mundo viu… Hahaha... O autor da música (Cachaça) está como desconhecido. Tu vê alguma diferença no samba amazônico? O samba, assim como a língua portuguesa, é cantado no Brasil inteiro, mas cada região com seu sotaque. Aonde você for, em qualquer lugar, tem alguém fazendo samba, do interior do Acre ao Rio Grande do Sul. Temos referências nacionais do samba em cada região. No Norte, tem João Donato, no Nordeste tem Alcione, no Sudeste, tem Adoniran, no Sul tem Lupicínio, só que cada região tem uma forma característica de fazer samba. Eu não inventei a mistura do samba com o carimbó, porque o Manga Verde já fazia nos 80, 90. “Vai Lavar o Siri” é um carimbó tocado em samba. Eu não estou inventando nada, isso apenas mostra que o samba que a gente faz aqui é característico nosso, não meu. Nosso! Nosso processo poético de criação também é diferente? Quando a gente vê os cortejos do Arraial do Pavulagem, quando ouve uma música do Mestre Lucindo ou quando vai numa quadra junina, a gente vive nossa cultura e acaba levando para o samba as influências que ouve. Tu vai lá no mercado do comércio e fica ouvindo a boca-de-ferro, os bregas, os boleros, e uma hora acaba botando no teu samba.
REGIONAL
Arthur Espíndola defende um samba com a cara do Pará
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Assim como na Bahia em que o samba surgiu com o atabaque... Na verdade eu tenho uma teoria maluca, mas que faz um certo sentido. Existe uma disputa de onde surgiu o samba. Rio ou Bahia. Na verdade o samba se popularizou muito por causa do morro, mas na verdade a favela carioca nada mais é do que os nordestinos que migravam para o Rio.
“O samba, assim como a língua portuguesa, é cantado no Brasil inteiro, mas cada região com seu sotaque. Em qualquer lugar, tem alguém fazendo samba, do interior do Acre ao Rio Grande do Sul.” Eles não tinham onde ficar e criaram as favelas, os guetos e as comunidades. Realmente o samba é carioca, mas nasceu na favela cheia de nordestinos. Nesse teu processo de pesquisa como é que tu vê a configuração do samba em Belém? Belém vive muito o que se consome no Brasil. A Época de Ouro do samba no Pará, coincidentemente, foi quando o samba estava bombando no Brasil. Aí depois veio o axé e os artistas paraenses começam a tocar axé, aí vem o arrocha e as bandas de bregas começam a tocar arrocha, aí vem o sertanejo e surge uma penca de duplas, que nem sabia que tinha tanta dupla sertaneja em Belém. A cena paraense que é muito forte e cheia de música autoral é a cena do tecnobrega, porque é uma música de comunidade, que grita, que vive por si só.
Quais são os principais pontos para conhecer o samba em Belém? Tenho que citar a Casa do Gilson, que é um ponto de resistência e de cultura, independente do samba, tem a casa D’Noca, que faz um trabalho maravilhoso levando samba para pessoas não sambistas, mas gostam de samba. Tem o Samba do Jambeiro, em Ananindeua, na Cidade Nova, que está se tornando um polo de samba forte, de grandes artistas, de grandes compositores e é uma surpresa porque o Samba do Jambeiro, que é um samba de comunidade que existe toda primeira segunda-feira do mês, tem noves anos, tu chegas lá, é lotado de gente, um clima maravilhoso. Eu tenho vergonha de dizer que fiquei sabendo disso ano retrasado. E tem as escolas de samba, com quadras e rodas de samba.
Tu tiveste parcerias diversas, desde a Gaby Amarantos até Wilson das Neves. As minhas parcerias fazem parte da minha influência. A Gaby representa tudo que eu vivi de música paraense aqui porque eu tocava brega e vivi o começo nas rádios. A Fafá de Belém tem aquele requinte de levar a música paraense pro mundo. O Wilson das Neves é o Wilson das Neves. Velha Guarda da Mangueira, que eu cresci torcendo. Felipe Cordeiro fazendo um solo de guitarrada, Curica tocando banjo, Luê cantando, o Rubão, do Arraial, o João Paulo Pires, que não é percussionista de samba, mas de música regional, que eu misturo com Diego Xavier e com o Artur Kunz na bateria. Quando escalei esse time tava pensando nisso: “o que cada um tem pra trazer?” E pego o Renato Torres para dirigir, que é um cara do rock, heav y metal, uou..., entendeu?
Como é que tu olhas para o teu disco? Eu não escuto mais com a mesma frequência porque a gente precisa cortar o cordão umbilical fora para que ele ganhe vida e a gente crie outros. Mas dia desses eu tava ouvindo o CD e chorei porque para mim tem um significado muito maior e me emociono quando vejo alguém pedir uma música do disco que eu não costumo tocar porque a pessoa conhece e quer ouvir aquilo. E o teu olhar no horizonte? O Amazônia Samba é um projeto que me emociona muito, fechei uma temporada e agora a gente vai iniciar a segunda. O DVD foi feito com um carinho tão grande que eu acho impossível alguém não assistir e não sentir isso. O Zé Paulo (diretor artístico) chorava tanto com cada boa notícia do show e isso é tão lindo porque é um amor grande com cada profissional que trabalhou ali. JULHO DE 2016
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MEMÓRIAS BIOGRÁFICAS
conhecedor das origens da amazônia TEXTO ANA PAULA MESQUITA ILUSTRAÇÕES JOCELYN ALENCAR
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Arthur Napoleão Figueiredo 1923-1989
R
esponsável pela fundação do atual Laboratório de Antropologia da Universidade Federal do Pará (UFPA), Arthur Napoleão Figueiredo é um dos mais importantes nomes dessa ciência. Mesmo sem mestrado e doutorado, é reconhecido no mundo acadêmico pelas contribuições com pesquisas sobre folclore, arqueologia, botânica e etnologia. As publicações mais conhecidas são “Amazônia, Tempo e Gente”, “Rezadores, Pajés e Puçangas” e “Banho de Cheiro, Aiaxés e Amacis”. Napoleão nasceu em Belém e formou-se em Ciências Jurídicas e Sociais pela Faculdade de Direito do Pará, em 1946. Fez pós-graduações em Planejamento Regional, Antropologia Cultural, Geografia Econômica e Desenvolvimento Econômico na Fundação Getúlio Vargas, no Rio de Janeiro. A aproximação com a Antropologia foi em 1947, no Instituto de Antropologia e Etnologia do Pará, que funcionava na biblioteca do Museu Paraense Emílio Goeldi. Lá, Napoleão conheceu diversos intelectuais que o influenciaram a participar de uma comissão para tentar pacificar conflitos entre indígenas e brancos invasores de terras. Na comissão, era o relator representante do Pará, junto com o antropólogo, escritor e político Darcy Ribeiro, na qual elaboraram o plano de “Pacificação das Tribos Hostis do Estado do Pará”. Tornou-se profissional da Antropologia assumindo a cadeira de Etnologia e Etnografia do Brasil, em 1960, em companhia de Protásio Frikel, arqueólogo e pesquisador alemão. Realizou sua primeira experiência de campo em sociedades indígenas com a tribo dos índios Aramagoto, do rio Paru do Oeste. No mesmo período, Napoleão coordenou a Faculdade de Filosofia (FAFI) com cursos de extensão de temáticas antropológicas: um sobre linguística e outro sobre arqueologia e etnologia na Amazônia. Tornou-se vice-diretor da FAFI preocupado em incentivar debates, trocas de experiências e seminários para despertar o interesse pela pesquisa e valorizar a participação dos alunos da UFPA na pesquisa de campo. Antropologia na UFPA ainda era apenas em projeto e Napoleão conseguiu que a Divisão de Antropologia do MPEG doasse para o acervo da Universidade duas coleções etnológicas. A primeira com 18 peças da tribo dos Aramago e a
segunda com 203 peças da tribo Xikrin, adquiridas numa pesquisa de Protásio Frikel em grupos indígenas do norte da Amazônia. Além de tribos indígenas, Napoleão resolveu iniciar uma nova linha de pesquisa, sobre cultos afrobrasileiros em Belém. “Nesse momento que trabalhamos juntos. Eu, enquanto bolsista e orientanda dele, tive o interesse de estudar Antropologia Urbana e os cultos afrobrasileiros. Ele se interessou pelo tema e escreveu um projeto chamado ‘Batuques de Belém’, aprovado na UFPA. E nós fomos juntos nessa”, diz a pesquisadora Anaíza Vergolino. Elalembra que o interesse em estudar os cultos afrobrasileiros em Belém surgiu porque algumas literaturas informavam que Belém não tinha uma cultura africana forte por não ser área de comércio do açúcar, como em outras regiões. “Se não tinha negro, como é que tinha tanta casa de culto em Belém?”, questionou. Napoleão e ela aproximaram-se da Federação Umbandista do Pará para iniciarem as pesquisas. Os resultados foram apresentados em um simpósio internacional. “Fomos os precursores em pesquisar cultura afrobrasileira no Pará. Foi o ponto positivo para sermos bem vistos no meio acadêmico e na comunidade umbandista, pois a umbanda não era vista como religião e sim como bagunça, baderna. Sendo objeto de estudo da UFPA, foi dando crédito ao mundo acadêmico da UFPA por ainda não terem feito esse tipo de pesquisa, bem como crédito à comunidade”, comenta Anaíza. Em 1972, pela reforma universitária, a FAFI foi desativada e o acervo e os recursos humanos da Etnologia e Antropologia foram transferidos para o então chamado Núcleo Pioneiro do Pará. Os transtornos incentivaram Napoleão a lutar pela construção de um prédio para o laboratório de Antropologia. Elaborou um projeto e esperou a aprovação por um longo tempo. Em 1987, o governo federal liberou recursos necessários. “Ele foi um grande pesquisador. Construiu a carreira com ética, humildade e generosidade. Sempre muito sério e envolvido no que fazia e acreditava”, lembra Anaíza Vergolino. Napoleão não chegou a ver seu grande projeto pronto. Morreu de infarto, em 1989, e o laboratório de Antropologia foi inaugurado em novembro de 1990, batizado com o nome dele em homenagem ao legado dele para a Antropologia. JULHO DE 2016
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AGENDA DIVULGAÇÃO
IGUALDADE DE GÊNERO Estão abertas até o dia 29 de julho as inscrições para a 11ª edição do Prêmio Construindo a Igualdade de Gênero. A iniciativa foi instituída pela Secretaria de Política das Mulheres (SPM-PR), no âmbito do Programa Mulher e Ciência, em parceria com o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq/ MCTI); a Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade (SECADI/MEC); a Secretaria de Educação Básica (SEB/MEC) e a ONU Mulheres. Podem ser inscritos redações, artigos científicos e projetos pedagógicos na área das relações de gênero, mulheres e feminismos. O concurso é dividido em seis categorias. Mais informações pelo site www.igualdadedegenero. cnpq.br/igualdade.html.
EDUCAÇÃO TUTORIAL Seguem abertas as inscrições para participar
BELÉM 400 ANOS
da seleção de tutores do Programa de Educa-
Exposição no Mabe
ção Tutorial (PET), da Universidade Federal do Pará (UFPA). Os interessados devem possuir
Ainda está aberta a exposição “Um Olhar Con-
artística paraense é nosso objetivo. Hoje, a po-
título de doutor e pertencer ao quadro de
temporâneo Sobre o Pará”, no Museu de Arte
pulação de Belém pode apreciar aqui mais de
professores permanentes da UFPA. Ao todo
de Belém (Mabe), no Palácio Antônio Lemos,
70 obras dos mais importantes artistas para-
são cinco vagas ofertadas, distribuídas entre as
praça D. Pedro II. A mostra, que faz alusão ao aniversário da capital,
enses”, afirmou. A artista plástica Elieni Tenório (no detalhe) é um dos
áreas de Ciências Biológicas, Engenharia Civil, Engenharia Elétrica, Física e Geologia. Estão
é uma iniciativa da Prefeitura
nomes que participam da mos-
entre as atribuições do tutor o planejamento e a
de Belém e vai terminar em
tra. “(A exposição no Mabe) É
supervisão de atividades do grupo, assim como
outubro. A entrada gratui-
um verdadeiro presente para
a coordenação e seleção dos integrantes. As
ta. Compõem a exposição
a população, que muitas vezes
inscrições podem ser feitas até o dia 29 de julho.
obras de mais de 50 artistas
não tem condição ou acesso a
Mais informações sobre o processo de seleção
plásticos paraenses, entre esculturas, videoartes, pinturas e gravuras. O evento é coordenado por
arte contemporânea paraense”, diz a artista plástica A visitação da mostra ocorre sempre
no site www.portal.ufpa.br.
CIÊNCIAS AMBIENTAIS
Nina Matos, curadora do Mabe, que fala sobre
de terça a sexta, das 10h às 18h, e aos sába-
Entre os dias 16 e 18 de novembro será reali-
o objetivo da exposição. “Adquirir, conservar,
dos e domingos, das 9h às 13h. Informações:
zado o V Simpósio de Estudos e Pesquisas em
documentar e dar visibilidade para a produção
(91) 98107-0864.
Ciências Ambientais na Amazônia, promovido pelo Programa de Pós-Graduação em Ciências Ambientais da Universidade do Estado do
EXPOSIÇÃO
Pará (Uepa). O evento, que este ano terá como
A exposição “Vivência Tapajós”, no Casarão da Fotoativa (praça das Mercês, 19), está aberta até
tema os “Impactos Ambientais das Atividades
o dia 20 de agosto. A mostra, com coordenação e produção de Rafael Araújo e Adriene Silva da
Humanas”, aceitas submissões de trabalhos até
Silva, apresenta o resultado da oficina realizada ano passado por entre paisagens e comunida-
outubro em diversas áreas, como Agronomia,
des ribeirinhas nos rios Tapajós e Arapiuns, na região oeste do Estado. Compõem a exposição os
Biotecnologia, Comunicação Ambiental, Con-
trabalhos de 15 fotógrafos viajantes que participaram da oficina. A visitação ocorre de segunda
sumo e Meio Ambiente, Educação Ambiental,
a sábado, das 8h às 18h, e a entrada é gratuita. Para quem visitar a exposição e se interessar: as
Meteorologia, entre muitas outras. O simpósio
inscrições para a oficina Vivência Tapajós 2016, que será realizada em novembro, ainda estão
será realizado no Centro de Ciências Naturais e
abertas. Mais informações: (91) 3225-2754.
Tecnologia (CCNT) da Uepa. Informações no site www.uepa.br/paginas/pcambientais/simposio.
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FAÇA VOCÊ MESMO
Saída de praia tie dye
A época de tirar as saídas de praia do armário chegou. Pode ser o momento de criar novas estampas ou incrementar algumas já desbotadas. A técnica “tie dye”, usada por culturas asiáticas, africanas e pelos hippies, é uma das mais adequadas e práticas para customizar cangas e curtir o veraneio com visual exclusivo. Quem quiser, ainda pode aproveitar para
faturar com os modelos. A “tie dye” não ser ve só pa ra ca ngas, mas ta mbém ca misetas, lenços pa ra cabelo, bermudas, shorts, sa ias e qua lquer outra peça em tecido que possa ser facilmente a massado. Basta va ria r as cores, os padrões de desenho e libera r a criativ idade.
• Tecido fino com bom caimento: musseline, crepe, seda, etc • Tinta para tecido
Do que vamos precisar? Obs: Antes de iniciar a pintura, lave o tecido a fim de retirar qualquer resíduo ou goma existentes
• Sal grosso • Pedaço de plástico para forrar a mesa • Pincel nº 20 • Tesoura • Recipientes para diluir a tinta (plástico ou vidro) • Pequenas pedras • Barbante • Água
INSTRUTOR: MICHAEL SOARES / COLABORAÇÃO: TÉCNICA EM GESTÃO CULTURAL LUIZA NEVES / COORDENADORA DE ARTES VISUAIS DA FCP: DILMA TEIXEIRA FOTOS : JACK NILSON / MODELO: ALESSANDRA ARAÚJO JULHO DE 2016
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FAÇA VOCÊ MESMO
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Forre uma mesa com um pedaço de plástico
2
Coloque as pedrinhas por dentro do tecido
Dilua as tintas escolhidas em um recipiente, uma a uma, com um pouco de água
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Espalhe as tintas aleatoriamente com o pincel sobre todo o tecido. Use as trouxinhas de pedra como referência para o centro dos desenhos.
Estenda ao sol o tecido para que o sal se espalhe criando efeitos. Espere secar.
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Após a secagem completa, remova as pedras, retirando os barbantes
10
3 6
Faça “trouxinhas” com as pedras e amarre com um barbante
Salpique o sal sobre toda a pintura ainda úmida.
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Remova o sal, esfregando levemente o tecido com as mãos. Ao término, lave novamente com água e sabão neutro.
Está pronta a canga para usar conforme sua criatividade no verão.
Para saber mais Quem quiser conhecer mais sobre técnicas artísticas pode se inscrever nas oficinas Curro Velho, da Fundação Cultural do Pará. Crianças a partir de 12 anos podem participar. O Curro Velho fica localizado na rua Professor Nelson Ribeiro, nº 287, esquina com a travessa Djalma Dutra, bairro do Telégrafo. Telefones: (91) 3184-9100 e 3184-9109. 64 • REVISTA AMAZÔNIA VIVA •
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RECORTE AQUI
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ATENÇÃO: Essa atividade pode ser feita por crianças, desde que acompanhadas por um adulto responsável
LEONARDO NUNES
BOA HISTÓRIA
Muralha
O mato ultrapassava a cabeça dos mole-
ques em meio, e em alguns casos até um, metro. De tanto de embrenharem naquele quintal atrás das salas do pré-escolar, imprensado entre a quadra e o muro, formou-se um complexo labirinto verde. Era onde os garotos transformavam 20 minutos de recreio em séculos de guerras, com esconderijos secretos, casamatas, trincheiras, bunkers e todo aparato marcial disponível na imaginação. Os adultos jamais desconfiaram dos conflitos que ali ocorriam entre os grupos de rivais. Findo o recreio, todos voltavam a ser colegas de turma. Entravam na sala breados, de cara brilhando, lanhados do capim e manjados de terra e clorofila. Carlos era um repetente contumaz. Doze anos entre os moleques de nove. Queria ser soldado. Era ele o comandante da brincadeira. Falava de estratégias, bolava armas com carteiras quebradas, mesas velhas,
pedaços de paus e panelas trazidas de casa. Eram exércitos dedicados, embora nem soubesse o que era uma guerra de verdade. A referência eram os filmes de Sessão da Tarde ou Tela Quente para os que tinham permissão para ficar acordados até tarde. Era assim naquela escola de Belém, coincidentemente instalada em uma área militar da cidade. Não sei por onde anda Carlos, mas por sua determinação a essa hora deve ser um general. Junho findo e vieram as férias. Era hora de depor as armas e remendar os uniformes. Cada soldado raso para o seu canto e em cada canto uma dor de deixar as guerrinhas para trás por um mês. Um mês! Um mês aos nove anos é igual a dez anos. Agosto, o mês do desgosto, chegou para confirmar a fama de aziago. Na primeira campa do intervalo, os batalhões correram para quadra. Os times seriam divididos, patentes e medalhas entregues. Que nada! O mato sumiu! O labirinto construído a sangue e suor se perdera na lâmi-
na dos terçados dos funcionários da prefeitura. Tudo limpo, baixo, acabado. Carlos ficou lívido. Magrinho, sotaque pernambucano, cabelo crespo. O moral da tropa foi ao chão, tanto quanto o dele. Nem demorou a tristeza. A muralha era a próxima fronteira, Carlos disse empolgado. Os olhos brilharam. Menos de um mês, abriram um buraco no muro. As batalhas de mentirinha ganharam outro cenário, agora entre árvores frondosas atrás da escola. As pausas eram comer os frutos caídos no chão, o que tomou boa parte do tempo até todo mundo perder o interesse bélico e se concentrar na competição de quem comia mais jambo, guardava mais taperebás ou, simplesmente, sentava para se deliciar com manga verde e sal. Era o fim da guerra dos mil dias, sem marcas de sangue ou traumas, apenas nódoas na farda, que nossas mães enlouqueciam ao constatar quando voltávamos para casa. JULHO DE 2016
Anderson Araújo
é jornalista e escritor
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NOVOS CAMINHOS
el niño e a seca recorde na amazônia Recente pesquisa feita pela Nasa em parceria com univer-
THIAGO BARROS
é jornalista, mestre em Planejamento do Desenvolvimento Sustentável (NAEA-UFPA) e professor da Universidade da Amazônia @thiagoabarros
sidades norte-americanas aponta que a região amazônica pode sofrer neste ano com a pior temporada de queimadas da história. O clima seco, característico do segundo semestre no Norte do País, deve ser ainda mais intenso por conta da onda de calor que afeta todo o planeta desde o início dos anos 2000 e, sobretudo, pela ação do fenômeno El Niño. Segundo a Nasa, o El Niño provocou uma antecipação da estação mais quente na Amazônia neste ano. As variáveis climáticas já se apresentam maiores que as registradas no início de temporadas de fogo das secas de 2005 e 2010 – fenômenos que deixaram leitos de grandes rios à mostra, rachados como o solo do sertão nordestino. A seca do rio Acre, que chegou a 1,92 metro no início deste mês, já é tradada como prenúncio de estiagem rigorosa. Mas o maior problema é a alta probabilidade de incêndios nas florestas. O ressecamento do clima e a ausência de chuvas diminuem drasticamente a umidade do solo. Neste ano, informa a Nasa, o risco de fogo é de 92%. Em estados amazônicos onde a pressão sobre as áreas verdes é intensa, como o Pará, o Índice Sazonal da Severidade de Fogo chega a 98%. O registro cada vez mais frequente de marcas climáticas extremas na Amazônia, além da ampliação das fronteiras econômicas, impulsiona o debate sobre
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uma das mais polêmicas teorias sobre a região: a transformação gradativa do bioma em savana. Pesquisa publicada na revista Proceedings of the National Academy of Sciences, da Academia Nacional de Ciências dos EUA, afirma que a heterogeneidade do ecossistema amazônico pode ser a chave para a resistência diante de tantas pressões. O artigo indica uma terceira via sobre a análise do processo, diferente das previsões de estabilidade da floresta ou da perda em grande escala da biomassa: o ecossistema amazônico responde de forma gradual e heterogênea às ocorrências de clima mais seco. Em resumo, isto sugere que a transformação em savana seria mais lenta e transitória do que apontam outras pesquisas. P.S. – Pesquisadores da Universidade de Yale, nos EUA, estudaram dados de levantamento feito pelo Instituto Gallup em 128 países para tentar compreender como é formada a opinião sobre o aquecimento global. Os resultados são preocupantes. No mundo todo, somente 40% dos entrevistados têm ideia do que significa o termo “mudança climática”. No Brasil, a situação melhora: 79% afirmam compreender a questão. A Libéria, na África ocidental, é a lanterna do levantamento, com somente 15% neste quesito. Discrepâncias nas respostas de resultados são explicadas, segundo a análise, pelo nível educacional, acesso à informação e como a mídia aborda o tema em cada país.
“O registro cada vez mais frequente de marcas climáticas extremas na Amazônia impulsiona o debate sobre uma das mais polêmicas teorias sobre a região: a transformação gradativa do bioma em savana”
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