REVISTA ENCARTADA NO JORNAL O LIBERAL. NÃO PODE SER VENDIDA SEPARADAMENTE.
AGOSTO 2O16 | EDIÇÃO NO 60 ANO 5 | ISSN 2237-2962
UTINGA REFÚGIO DAS BORBOLETAS NA GRANDE BELÉM
Pesquisa inédita revela que 63 espécies da família Nymphalidae habitam os 3 mil km2 do parque estadual que abrange dois municípios. Excelentes indicadores ambientais, esses insetos mostram por que é preciso conservar a natureza nas zonas urbanas do Pará.
CERVEJA
Insumos amazônicos são matérias-primas para novos sabores
COMUNICAÇÃO
Os Yanomami usam sistema de rádio para fazer contato fora das aldeias
SUSTENTÁVEL
Conceito da gestão verde não pode visar somente a economia
com aVale. O investimento garante mais qualidade e higiene ao leite e agrega valor ao produto, melhorando o preço de venda. Uma novidade que deixa seu Ivanildo com mais esperança de um futuro melhor no campo. Vocação para crescer no campo Contém:
Conheça mais des a história e de outras pes oas que crescem lado a lado com a gente. Aces e vale.com/ladoalado Produção comunitária
130 famílias beneficiadas
Maior qualidade do leite produzido Aumento da renda
Parceria incentiva a produção comunitária
Seu Ivanildo Vasconcelos é produtor rural na comunidade Santa Rita, a 42 km da zona urbana de Ourilândia do Norte. Ele e a esposa mantêm, há 17 anos, uma lavoura de subsistência na pequena propriedade em que vivem. A renda da família vem da produção de leite, uma atividade que tem melhorado nos últimos meses.
Agora, os produtores da comunidade contam com seis tanques para armazenamento e resfriamento do leite produzido na região. Os equipamentos, utilizados coletivamente, foram comprados por meio de uma parceria com a Vale. O investimento garante mais qualidade e higiene ao leite e agrega valor ao produto, melhorando o preço de venda. Uma novidade que deixa seu Ivanildo com mais esperança de um futuro melhor no campo.
Conheça mais dessa história e de outras pessoas que crescem lado a lado com a gente. Acesse vale.com/ladoalado
vale.com/brasil
EKO Foto Roberto Ribeiro
Ivanildo vive na comunidade Santa Rita hรก 17 anos.
EDITORIAL
PUBLICAÇÃO MENSAL DELTA PUBLICIDADE - RM GRAPH EDITORA AGOSTO 2016 / EDIÇÃO Nº 60 ANO 5 ISSN 2237-2962 Presidente LUCIDÉA BATISTA MAIORANA Presidente Executivo ROMULO MAIORANA JR. Diretor Jurídico RONALDO MAIORANA Diretora Administrativa ROSÂNGELA MAIORANA KZAM Diretora Comercial ROSEMARY MAIORANA Diretor Industrial JOÃO POJUCAM DE MORAES FILHO Diretor de Marketing GUARANY JÚNIOR Diretor JOSÉ LUIZ SÁ PEREIRA FERNANDO SETTE
BELAS E AMBIENTAIS
Borboletas preparadas para estudo no laboratório de Entomologia do Museu Goeldi
Conservar para preservar
FELIPE JORGE DE MELO Editor-chefe
Neste mês, completamos 60 edições da revista Amazônia Viva. Há cinco anos entramos no mercado editorial do Estado buscando uma nova forma de falar sobre - e para - a Amazônia. Como diferencial, procuramos sempre construir uma pauta afi nada com a nossa realidade, mostrando outras facetas de uma região pouco conhecida por uns e totalmente desconhecida para outros. A reportagem de capa tem um apelo simbólico. Metafórico. Ao apresentarmos uma pesquisa inédita do entomólogo Fernando Carvalho Filho, do Museu Goeldi, que mostra o perfi l das espécies de borboletas existentes no Parque Estadual do Utinga, em Belém, queremos falar sobre renovação, seja da vida, do espírito, das coisas. Um cons-
4 • REVISTA AMAZÔNIA VIVA •
AGOSTO DE 2016
tante revigoramento, pelo qual também passa a Amazônia Viva em todos esses anos. A pesquisa no parque comprova que as borboletas são excelentes indicadoras ambientais. Por serem muito sensíveis a mudanças climáticas, de vegetação e outros fatores naturais esses insetos ajudam o homem na observação da qualidade ambiental. E ao identificar, até agora, 63 espécies de borboletas da família Nymphalidae no Utinga, Fernando Carvalho Filho reforça o conceito de que é preciso “conservar para preservar”. E para proteger as áreas verdes das zonas urbanas das cidades é preciso acreditar na importância da educação ambiental da sociedade. Missão adotada pela revista Amazônia Viva desde sua origem.
Conselho editorial RONALDO MAIORANA JOÃO POJUCAM DE MORAES FILHO GUARANY JÚNIOR LÁZARO MORAES REDAÇÃO Jornalista responsável e editor-chefe FELIPE JORGE DE MELO (SRTE-PA 1769) Coordenação geral LUCIANA SARMANHO Editor de arte FILIPE ALVES SANCHES (SRTE-PA 2196) Pesquisador e consultor técnico INOCÊNCIO GORAYEB Colaboraram para esta edição O Liberal, Agência Pará de Notícias, Agência Brasil, Museu Paraense Emílio Goeldi, Universidade Federal do Pará, Universidade do Estado do Pará, Fundação Cultural do Pará - Oficinas do Curro Velho (acervo); Ana Paula Mesquita, Camila Santos, João Cunha, Sávio Senna, Victor Furtado (reportagem); Fabrício Queiroz (produção); Akira Onuma, Fernando Sette, Tarso Sarraf (fotos); Anderson Araújo e Thiago Barros (artigos) André Abreu, J.Bosco, Jocelyn Alencar, Leonardo Nunes e Waldez Duarte (ilustrações); Alexsandro Santos (tratamento de imagem). FOTO DA CAPA Borboleta no Parque Estadual do Utinga, por Fernando Sette AMAZÔNIA VIVA é editada por Delta Publicidade/ RM Graph Ltda. CNPJ (MF) 03.547.690/0001-91. Nire: 15.2.007.1152-3 Inscrição estadual: 158.028-9. Avenida Romulo Maiorana, 2473, Marco - Belém - Pará.
amazoniaviva@orm.com.br
PRODUÇÃO
REALIZAÇÃO
NESTA EDIÇÃO
EDIÇÃO Nº 60 / ANO 5
34
Singeleza natural
Estudo revela a existência de 63 espécies e 46 gêneros de borboletas da família Nymphalidae no Parque Estadual do Utinga, na Grande Belém. CAPA
INSUMOS
TEATRO
Os produtos regionais
A atriz, diretora, cenógra-
SOCIAL
presentes na maior flo-
COMUNICAÇÃO
fa, figurinista, dramatur-
Diretor da Fapespa,
resta tropical do mundo,
Moradores de aldeias Ya-
ga, professora e pesqui-
Eduardo Costa diz que o
como cupuaçu e bacuri,
nomami usam sistema de
sadora Wlad Lima é uma
“Barômetro de Sustentabi-
são potenciais sabores
rádio para se comunicar
feroz defensora do teatro
lidade da Amazônia” cola-
para cervejas artesanais,
no interior de Roraima.
no Estado. Há quase 40
bora no desenvolvimento
segmento que vem ga-
Indígenas administram
anos ela dedica-se às
do Pará sob uma ótica
nhando força no mercado
a forma de se comunicar
artes cênicas nos palcos
diferente da economia.
nacional e internacional.
com o mundo exterior.
paraenses.
ENTREVISTA
SUSTENTABILIDADE
COMUNIDADE
PAPO DE ARTISTA
FERNANDO SETTE
ONG HUTUKARA
CAMILA LIMA / ARQUIVO O LIBERAL
AKIRA ONUMA
42 30 44
48
E MAIS 4 6 7 11 13 14 15 16 17 18 19 19 20 22 52 54 55 57 58
EDITORIAl AS MAIS CURTIDAS PRIMEIRO FOCO TRÊS QUESTÕES ELES SE ACHAM FATO REGISTRADO PERGUNTA-SE EU DISSE APPLICATIVOS CURIOSIDADES DA BIODIVERSIDADE DESENHOS NATURALISTAS CONCEITOS AMAZÔNICOS ARTIGO OLHARES NATIVOS MEMÓRIAS BIOGRÁFICAS AGENDA FAÇA VOCÊ MESMO BOA HISTÓRIA NOVOS CAMINHOS
AGOSTO DE 2016
• REVISTA AMAZÔNIA VIVA • 5
FERNANDO SETTE
AGOSTO2016
ASMAISCURTIDAS
ESCALPAMENTO
DESTAQUES DAS EDIÇÕES ANTERIORES
DIVULGAÇÃO
Espetacular! É o que posso dizer de nossa Amazônia Viva do mês de julho. Mostrar a tragédia criada por nós, criaturas humanas, com a colaboração dos motores de embarcações foi importante (“A vida após o escalpamento”, Capa, julho de 2016, edição nº 59). A propaganda tem que ser completa: prender o cabelo todo junto à cabeça. Nem uma trança pendurada resolve. Acho que esse alerta bem apresentado pela revista já vai causar um bem enorme. Mízar Klautau Bonna Belém-Pará A reportagem sobre o escalpelamento nos rios paraenses tem um papel social importantíssimo
POR DENTRO DO TUCUMÃ
A matéria sobre o “óleo de bicho”, extraído da larva do caroço do tucumã foi a mais curtida em nosso Facebook da edição de julho.
para o Estado. É preciso fazer uma conscientização constante sobre o perigo do eixo do barco dos motores descobertos e quem sabe até punir
HELY PAMPLONA
os proprietários e condutores das embarcações. Cidinéia Pantoja Abaetetuba-Pará
SAMBA A entrevista com o sempre gente boa Arthur Espíndola foi uma delícia (“A nova cara do samba amazônico”, Papo de Artista, julho de 2016, edição nº 59). Ele é um cara muito alto-astral e representa muito bem o nosso samba. Emma Cavalcante Belém-Pará
PUPUNHA Parabéns pela excelente dica de como escolher
PIAÇOCA NA MATA
uma boa pupunha (“Como escolher pupunhas
A foto de Hely Pamplona de uma das aves mais peculiares da Amazônia recebeu o maior número de curtidas em nosso Instagram no mês passado.
de qualidade”, Curiosidades da Biodiversidade, junho de 2016, edição nº 58). Essa iguaria tão especial do Pará merecia uma atenção de como pode ser consumida da melhor forma. CARLOS BORGES
SIGA A AMAZÔNIA VIVA NAS REDES SOCIAIS E COMPARTIHE A EDIÇÃO DIGITAL, DISPONÍVEL GRATUITAMENTE NO ISSUU.COM/AMAZONIAVIVA
Renata Alencar Belém-Pará Para se corresponder com a redação da Amazônia Viva envie comentários,
fb.com/amazoniavivarevista
dúvidas, críticas e sugestões para o email amazoniaviva@orm.com.br ou escreva
instagram.com/amazoniavivarevista twitter.com/amazviva 6 • REVISTA AMAZÔNIA VIVA •
AGOSTO DE 2016
para o endereço: Avenida Romulo USE UM LEITOR DE QR CODE PARA ACESSAR A EDIÇÃO DIGITAL DE JULHO
Maiorana, 2473, Marco, Belém - Pará, CEP 66 093-000 ou FAX: 3216-1143.
NAILANA THIELY
PRIMEIROFOCO
O QUE É NOTÍCIA NA AMAZÔNIA
Banco escolar sustentável RESÍDUOS DO CAROÇO DO AÇAÍ SÃO USADOS PARA CONSTRUIR ASSENTOS RESISTENTES E CONFORTÁVEIS PÁGINA 8 E 9
SOCIEDADE
MEIO AMBIENTE
Um estudo realizado no Amazonas procura identificar e descrever o perfil social e econômico dos pescadores ribeirinhos da Amazônia. PÁG.12
Pesquisa da Vale ajuda a preservar o jaborandi em Canaã dos Carajás. Planta começa a ser estudada para uso medicinal. PÁG.15
AGOSTO DE 2016
• REVISTA AMAZÔNIA VIVA • 7
PRIMEIRO FOCO
Banquinho de açaí O fruto característico dos paraenses, o açaí, tomado puro, na tigela com farinha, com ou sem açúcar, versátil como é, já virou sabor de sorvete, iogurte e energético. Pesquisadores afi rmam que a frutinha roxa revela-se como redutor do nível de colesterol. O detalhe é que os benefícios do fruto vão da polpa até o caroço. Em Salvaterra, no arquipélago do Marajó, no Pará, são necessárias cerca de 900 gramas dos caroços descartados pelos batedores artesanais de açaí para se produzir um assento de banco, destinado as crianças carentes das escolas pú8 • REVISTA AMAZÔNIA VIVA •
AGOSTO DE 2016
blicas rurais da cidade. A ideia de reutilizar os caroços em bancos foi tema do Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) da egressa de Tecnologia de Alimentos da Universidade do Estado do Pará (Uepa), campus Salvaterra, Joseane Gonçalves Rabelo, de 42 anos. O trabalho foi orientado pela doutora em Engenharia Agrícola Carmelita de Fátima Amaral Ribeiro, pela co-orientanda Núbia Santos, e auxiliado pelo técnico de laboratório Rosivan Matos. Na cidade marajoara, Joseane e Carmelita notaram o acúmulo de resíduos produzidos pelos batedores artesanais
e por não ter nenhum tipo de beneficiamento, os caroços ficavam acumulados pelas ruas. “Isso traz poluição. Com o trabalho, a intenção é retirar esses resíduos, que nada mais são do que lixo depositado nas ruas, promovendo odores, atraindo ratos e poluição visual ”, diz a professora Carmelita de Fátima. A produção do móvel ocorreu por etapas. As sementes foram coletadas, em seguida, lavadas e secadas ao sol por um período de 25 a 30 dias. No laboratório, os caroços foram triturados, peneirados, adicionou-se cola branca, e, posteriormente, o material foi colocado numa
aproximadamente 40 cm², já direcionado para as crianças. O material tem flexibilidade, durabilidade e pode virar qualquer móvel como mesas, cadeiras, estantes, além de quadros para paredes”, diz a professora. A tecnóloga em alimentos Joseane Gonçalves deseja produzir o móvel para as crianças em grande escala e já pensa na possibilidade de confeccionar bancos também para as praças de Salvaterra. “A maioria dos bancos de concreto nas praças estão quebrados, sem falar nos colégios, que muitos não têm. O nosso produto era um que estava no lixo e hoje podemos reaproveitar”, ressalta.
FOTOS: NAILANA THIELY
forma e prensado. A prensagem ocorreu no Laboratório de Design do Centro de Ciências Naturais e Tecnologia (CCNT), em Belém. O resultado do processo foi uma chapa de conglomerado, moldada na altura, tamanho e espessura para o assento do banco para as crianças. As pernas foram produzidas a partir da madeira típica da região, a anani. O banco foi testado até por adultos, que aprovaram a ideia. Segundo a professora Carmelita, o material produzido de resíduos agroindustriais de açaí é de extrema resistência. “Eles ficaram prontos em menos de um dia, sendo que tem um tempo a mais de secagem dos materiais para poder montar. O banco mede
UMA BOA IDEIA
NA ideia de reutilizar os caroços em bancos foi tema de um Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) em Tecnologia de Alimentos da Universidade do Estado do Pará. AGOSTO DE 2016
• REVISTA AMAZÔNIA VIVA • 9
PRIMEIRO FOCO ASCOM / IDEFLOR
NATUREZA
Unidades de conservação no Estado ajudam a integrar o homem ao meio ambiente
MEIO AMBIENTE
Estado cria quatro novas unidades de conservação Quatro novas unidades de conservação (UCs) foram criadas recentemente no Pará, que agora possui 25 UCs em todo o território. Através dos decretos nº 1.566 e 1.567, essas áreas passam a ser legalmente protegidas, tornando o Pará o Estado que abriga o maior campo natural de mangabas e bacurizeiros, localizado no município de Maracanã, além de áreas que constituem o maior berçário de quelônios da América do Sul, na região do Xingu. Dentre os benefícios da criação das novas unidades de conservação, estão a importância dessas áreas para a pesquisa científica, a preservação dos ecossistemas, o uso sus-
10 • REVISTA AMAZÔNIA VIVA •
AGOSTO DE 2016
tentável por populações tradicionais residentes, entre outros. Crisomar Lobato, diretor de gestão da biodiversidade do Instituto de Desenvolvimento Florestal e da Biodiversidade do Estado do Pará (Ideflor-Bio), instância que será responsável por gerenciar as novas áreas de conservação, avalia os territórios e seus usos futuros. “Duas áreas estão em Senador José Porfírio, com a missão de proteger a tartaruga da Amazônia e o seu berçário. Já em Maracanã temos a maior área de mangabas e bacurizeiros do Estado. São ambientes que precisam de gerenciamento para serem preservados”, afirmou.
ARQUEOLOGIA
POVOS DE CAXIUANÃ Pesquisadores do Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG) encontraram na Floresta Nacional de Caxiuanã, no Marajó, indícios da presença de antigos povos ameríndios na região. Foram localizados em sítios arqueológicos da região fragmentos de cerâmica, restos de habitações, instrumentos de caça e pesca, dentre outros vestígios de povos ancestrais. Participantes do “Sítio-Escola de Arqueologia”, uma cooperação internacional entre o Museu Goeldi, a Middle Tennessee State University (MSTU) e a Universidade de Seul (SNU), estão estudando o material cerâmico e a paisagem dos sítios. A base de apoio do Sítio-Escola é a Estação Científica Ferreira Pena (ECFPn), que o Museu Goeldi mantém naquela floresta nacional.
TRÊSQUESTÕES
CONQUISTA
RESPOSTAS QUE VÃO DIRETO AO PONTO
Amazônia Viva vence o prêmio CNI de Jornalismo
O desenvolvimento de aplicativos é atraente para jovens empreendedores e o
Jornalismo, concorriam uma matéria sobre Matriz Energética (Roraima) e outra sobre uma comunidade japonesa do polo industrial de Manaus (Amazonas). “O objetivo era contar a história da produção do açaí artesanal, uma indústria popular, tradicional, que movimenta a economia paraense. As técnicas de produção evoluíram ao longo dos séculos e a arte, passada de geração em geração, também. Hoje conta com tecnologia simples, mas eficiente e acessível aos trabalhadores para uma produção higiênica e sustentável. Essa mesma tecnologia, hoje, é distribuída em toda a Amazônia Legal”, comenta Victor, ressaltando que a premiação nacional reconhece a qualidade da revista Amazônia Viva e é uma homenagem aos mais de 3 mil batedores da Região Metropolitana de Belém.
mercado tem sido receptivo, já que as opções de negócios são amplas e em nível internacional. Para Daniel Junowicz, diretor da AppsFlyer da América Latina, a região Norte, com tantas ideias, ainda não percebeu o potencial desse mercado. Quem está lançando um ou já lançou, precisa cuidar do produto e dos clientes. Quais os principais erros no momento de lançar um app? Às vezes, um novo app é desenvolvido para rodar às pressas, para poder ser submetido às lojas e às campanhas de aquisição, mas o produto ainda não está alinhado e não tem uma performance boa, nem entrega uma boa experiência ao usuário. Além disso, a divulgação não está preparada com antecedência, com metas, e acabam espalhando e gastando muito sem saber o que medir como sucesso. A região Norte tem sido uma fonte de novos aplicativos? Os principais polos de tecnologia no Brasil estão em Recife, Belo Horizonte e Florianópolis. A região Norte é ainda uma área com unidades espalhadas de desenvolvedores de aplicativos. Esperamos que essa região cresça também. Que tipo de apps, atualmente, estão em alta? Serviços têm bastante sucesso no Brasil. Aplicativos de bancos, por exemplo. Apps de comunicação, como WhatsApp, e claro, mídias sociais como Facebook e Instagram também estão no topo dos mais baixados no país. Música, como Spotify, aplicativos de vendas de pessoa CNI / DIVULGAÇÃO
PREMIAÇÃO O repórter Victor Furtado (de barba) recebeu o prêmio de melhor reportagem na categoria Destaque Regional - Norte
física como OLX, editores de fotos, e claro, games têm muito sucesso no Brasil. Desde Candy Crush até jogos de guerra.
AGOSTO DE 2016
• REVISTA AMAZÔNIA VIVA • 11
ARQUIVO PESSOAL
A Revista Amazônia Viva ganhou o prêmio de jornalismo da Confederação Nacional das Indústrias (CNI), na categoria Destaque Regional - Norte, com a reportagem “Açaí e Tecnologia”, capa da edição de setembro do ano passado (foto). A mesma matéria já havia sido premiada, no final de 2015, pela Federação das Indústrias do Estado do Pará (Fiepa) com o prêmio Raimundo Pinto, na categoria Jornalismo Impresso. A reportagem foi feita pelo repórter Victor Furtado, com fotos de Carlos Borges, edição de Felipe Jorge de Melo e edição de arte de Filipe Sanches. Victor foi a Brasília, no dia 29 de julho, para representar a equipe e todos os jornalistas das Organizações Romulo Maiorana (ORM) que atuam no jornal O Liberal e na revista Amazônia Viva. Na mesma categoria do Prêmio CNI de
Lancei um app. E agora?
PRIMEIRO FOCO URÂNIO
EXPORTAÇÃO BRASILEIRA Até o fim deste ano o Brasil deve exportar urânio enriquecido pela primeira vez. A exportação será feita pela empresa brasileira Indústrias Nucleares do Brasil (INB), após acordo com a estatal argentina Combustibles Nucleares Argentinos (Conuar). O contrato foi assinado em junho. Para completar o processo de exportação, ainda é preciso que o produto seja autorizado pela Coordenação-Geral de Bens Sensíveis do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações
DESCOBERTA RODOLFO OLIVEIRA / AGÊNCIA PARÁ
e Comunicações e pela Comissão Nacional de Energia Nuclear (Cnen). O urânio possui propriedades físicas que emitem partículas radioativas. Comercialmente, sua principal função é a de gerar energia elétrica, como combustível para os reatores nucleares de potência.
SOCIEDADE
P E S Q U I SA
DOENÇAS EMERGENTES O Instituto Butantan anunciou a criação do Grupo de Ação Rápida para Doenças Emergentes (Garde-IB), voltado para o estudo de doenças graves e que demandam esforços urgentes, como a dengue, zika e chikungunya. O Garde-IB vai reunir 30 pesquisadores do Butantan para atuar da pesquisa básica à aplicada, envolvendo ainda o desenvolvimento de novos produtos de saúde. O núcleo poderá trabalhar na pesquisa de outras enfermidades, como encefalite japonesa, febre do Nilo Ocidental e síndrome respiratória do Oriente Médio. T E C N O LO G I AS
MELHORIA DO PLANETA A revista científica Scientific American publicou uma lista com as 10 novas
Pesquisa traça perfil de pescadores da Amazônia Um estudo realizado no Amazonas procura identificar e descrever o perfil social e econômico dos pescadores ribeirinhos da Amazônia. Além disso, a pesquisa, intitulada “Perfil Socioeconômico e conhecimento etnoictiológico de pescadores do Médio Rio Negro, Amazonas”, também busca averiguar o conhecimento tradicional de pescadores sobre a pesca, a biologia das espécies e a percepção dos estoques naturais nos três eixos da atividade – ornamental, comestível ou comercial e esportiva. Adriano Oliveira, professor responsável pelo estudo, afirma que a pesquisa vem sendo realizada atra-
vés da aplicação de questionários com pescadores das zonas urbana e rural. A partir daí será possível traçar o perfil dos participantes. “Queremos fornecer informações técnicas e científicas para auxiliar e subsidiar políticas públicas voltadas para o ordenamento pesqueiro na região, além de fomentar a inclusão e aplicabilidade dos conhecimentos das populações ribeirinhas nas pesquisas, tendo em vista a conservação dos recursos pesqueiros e melhoria da qualidade de vida dessas populações”, afirmou. O projeto é desenvolvido no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Amazonas (Ifam).
tecnologias emergentes que podem mudar o mundo. São formas de melhorar a vida cotidiana das pessoas e transformar os
SOBREVIVÊNCIA
processos produtivos nas indústrias,
BIODIVERSIDADE
por exemplo, e que contribuem para a
Segundo estudo publicado na revista científica Science, a perda de biodiversidade no mundo
melhoria do planeta. Entre as tecnologias
ameaça o funcionamento dos ecossistemas do planeta, inclusive a sobrevivência dos humanos.
apresentadas estão novas baterias, materiais
Os pesquisadores afirmam que pradarias, savanas e a tundra são os ecossistemas mais afetados,
em 2D, órgãos em chips e células solares em
seguidos por diferentes tipos de florestas e outras regiões selváticas. De acordo com a pesquisa, em
perovskita, a maioria voltada para consumo
58% da superfície terrestre, onde vive 71% da população mundial, o nível de perda de biodiversidade
energético e redução na produção industrial.
chega a questionar a capacidade dos ecossistemas de suportar as sociedades humanas.
12 • REVISTA AMAZÔNIA VIVA •
AGOSTO DE 2016
ELESSEACHAM POR QUE MIMETISMO É UMA COISA NATURAL
AEROSTATO
Pesquisa facilita comunicação em áreas remotas na região
Os testes com o aerostato foram realizados na sede do Instituto Mamirauá em Tefé (AM).
Abrigos em forma de folhas Esta é uma mariposa da espécie Cicinnus callipus da família Mimallonidae, sua larva é conhecida como lagarta-saia-justa, e são pragas de cajueiros. A mãe deposita os ovos em uma planta, que servirá como alimento para suas larvas. Eclodem dos ovos as larvinhas, que passam a se alimentar comendo as folhas, e crescem fazendo mudas para vários estágios larvais consecutivos, que podem variar entre 4 e 10. No final do último estágio, entre 4 a 6 mm, as larvas param de se alimentar e cada lagarta corta uma folha, fabrica um abrigo enrolando-a e prendendo-a com seda produzida ANTONIO MARTINELLI/ INSTITUTO MAMIRAUÁ
PRO ALTO
O modelo é composto por um balão com gás hélio, com uma base acoplada com equipamentos, como uma antena de recepção de sinais. Francisco Freitas Júnior, coordenador de Tecnologia da Informação do Instituto Mamirauá, explica que o balão é uma alternativa à instalação de torres de transmissão, que demandam um investimento considerável. Além da questão da verba mais em conta, o balão garante mobilidade, já que é possível encher e esvaziar de acordo com a demanda do serviço. Testes do modelo do projeto já foram realizados e demonstraram a eficácia da tecnologia para a transmissão de sinais de comunicação.
INOCÊNCIO GORAYEB
Um projeto que vem sendo realizado em Tefé, no Amazonas, propõe a distribuição localizada de acesso à comunicação em áreas remotas do Estado. A iniciativa Artes (Aeróstato Remoto de Telecomunicação e Sensoriamento) é uma parceria entre o Instituto Mamirauá, o Instituto de Computação da Universidade Federal do Amazonas, o Centro de Tecnologia da Informação Renato Archer e a empresa ômega Aerossystems, e fi nanciada pela Fundação de Amparo à pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam). A proposta do projeto inovador é, especialmente, contribuir com soluções para o desafio de quem trabalha nessas áreas remotas.
por elas mesmo. Põe-se a andar, dispersando, carregando o abrigo, então para. A lagarta prende esse abrigo em alguma parte de uma planta, fechando a proteção e ali dentro empupa - ou seja, entra na fase de preparação para transformar-se em mariposa. Internamente, seu corpo desenvolve-se em metamorfose por vários dias. Quando a mariposa está formada, ela rompe a casca da pupa e o abrigo, e sai uma bela mariposa adulta. O inseto fica por algumas horas estendendo as asas e, em contato com o ar, endurece as partes do seu exoesqueleto. Tem cor e formato que parecem muito com o aspecto de folhas secas. Durante as noites, a mariposa alça voos e acasala. Já fecundada, procura uma árvore onde deposita seus ovos. Essa árvore servirá para abrigar e alimentar as larvas, fechando o ciclo para uma nova geração.
INOCÊNCIO GORAYEB
AGOSTO DE 2016
• REVISTA AMAZÔNIA VIVA • 13
FATO REGISTRADO
Arqueólogos no litoral amazônico Em 1981, o pesquisador Mario F. Simões publicou um artigo sobre as “Pesquisas Arqueológicas do Museu Paraense Emílio Goeldi (1870-1981)”, na revista Acta Amazônica. Nessa publicação foi apresentada uma sinopse das contribuições prestadas pelo Museu Goeldi à Arqueologia na região amazônica, desde sua fundação até àqueles dias, enfatizando a importância do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) na sua recuperação e dinamização das pesquisas arqueológicas em quase três décadas de sua atuação na Amazônia. Para melhor acompanhamento dividiu-se a história dessas pesquisas em
dois períodos: o primeiro, desde sua fundação até a assinatura do convênio do governo do Pará com o CNPq, em 1954; o segundo, desta data até 1981. As linhas básicas de pesquisa da Divisão de Arqueologia do Museu Goeldi foram divulgadas, comportando as seguintes linhas de estudo: promover e intensificar as pesquisas na área da Amazônia Legal Brasileira, especialmente as de Arqueologia Pré-histórica, buscando obter uma perspectiva geral do processo de adaptação do homem pré-colombiano a certas situações ambientais e ao uso de determinados recursos naturais, suas origens, migrações, cronologia, desenvolviINOCÊNCIO GORAYEB
14 • REVISTA AMAZÔNIA VIVA •
AGOSTO DE 2016
mento cultural e possíveis correlações com as demais áreas contíguas sul-americanas; programar e realizar o salvamento de sítios arqueológicos (Arqueologia de Salvamento) ameaçados de destruição parcial ou total pelo surto de desenvolvimento urbanístico e tecnológico da área, como a construção de estradas, represas, indústrias, etc; colaborar com a Secretaria do Patrimônio Histórico e Artístico (SPHAN) e outros órgãos congêneres, no tombamento, cadastro e fiscalização dos sítios arqueológicos, zelando pela fiel observância da Lei N. 3.924, de 24 de julho de 1971, que dispõe sobre a proteção dos monumentos arqueológicos e históricos brasileiros. Em 1971, a arqueologia do Museu Goeldi fez uma expedição coordenada pelo pesquisador Mario Simões para visitar a localização e pesquisar sambaquis litorâneos na ilha de São Luís (MA), com o objetivo de comparação cultural e cronológica com os do litoral do Pará e do Recôncavo Baiano. A foto mostra uma cena de uma escavação de 2m com sambaqui, em Maiobinha, na ilha. Sambaquis são esqueletos de seres pré-históricos, ossos humanos, conchas e utensílios feitos de pedra ou ossos; são depósitos construídos pelo homem de materiais orgânicos e calcários, empilhados ao longo do tempo, que vêm sofrendo ação das intempéries. Alguns grupos indígenas os utilizavam como santuário, enterrando neles os seus mortos. Mario Simões, além de muitas publicações científicas, contribuiu decisivamente com a formação de pesquisadores que vêm avançando o conhecimento sobre as civilizações antigas da Amazônia.
PERGUNTA-SE POIS É PRECISO ESCLARECER MITOS E VERDADES AUSTRALIAN PARALYMPIC COMMITTEE AUSTRALIAN SPORTS COMMISSION
DIVULGAÇÃO / VALE
PRESERVAÇÃO
O jaborandi (Pilocarpus microphyllus) está presente na área da Floresta Nacional de Carajás, no Pará
MEIO AMBIENTE
Estudo ajuda a preservar o jaborandi em Carajás O jaborandi (Pilocarpus microphyllus), uma planta nativa de regiões de clima quente e úmido, é encontrada nos estados do Pará, Maranhão, Piauí e Bahia. Suas propriedades são mais popularmente conhecidas no uso cosmético, especialmente em produtos para capilares. Mas desde 1876, das folhas desse arbusto é extraído o princípio ativo pilocarpina, substância usada no tratamento do glaucoma, doença que atinge a visão e que pode levar à cegueira. A planta consta na lista do Ministério do Meio Ambiente de espécies da flora brasileira ameaçadas de extinção. Mas pesquisas tem ajudado na preservação da espécie na Amazônia. Exemplo é o estudo desenvolvido no Pará pela Universidade Federal Rural da Amazônia (UFRA), com o apoio da Vale, do Instituto Tecnológico Vale (ITV) e do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodivesidade (ICMBio). Desenvolvido desde 2012, o programa do jaborandi realiza o monitoramento fenológico da espécie, ou seja, faz a identificação das épocas e das formas de produção de sementes e novas folhas. O trabalho também atua no mapeamento das áreas de ocorrência natural. Com o envolvimento do Instituto Tecnológico Vale (ITV) na pesquisa,
está sendo implantando um banco de germoplasma da espécie, composto por plantas matrizes oriundas de diversos locais da floresta. A partir do programa, as informações vão subsidiar no plano de melhoria da gestão da Flona e identificar áreas de coleta, apoiando no manejo de forma sustentável, beneficiando, por sua vez, a Cooperativa dos Extrativistas na Serra dos Carajás, em Parauapebas. Segundo a Coordenadora da pesquisa, Gracialda Ferreira, professora da UFRA, “atualmente se tem muitas informações que ampliam o total de área com a presença natural do jaborandi e sobre sua forma de reprodução, que podem subsidiar uma revisão da lista do Meio Ambiente e melhorar a gestão de nossas florestas”, afirma. Por meio do programa executado, já foram mapeados 30% da Flona, com a identificação de 4.852 hectares de área de ocorrência natural do jaborandi em sete pontos de concentração distintos. O monitoramento é realizado periodicamente por equipe de jovens pesquisadores da UFRA que visitam as plantas marcadas ao longo do projeto, verificam a produção de flores, frutos e seu crescimento, a fim de coletar dados que embasem um melhor plano de conservação da espécie.
Colocar mato sobre a costela alivia a “dor de veado”?
Muitas pessoas já sentiram a “dor de veado”, aquele incômodo muscular, que vai da costela até a cintura. Para passar logo, o costume é colocar um pequeno maço de mato. Essa medida é totalmente sem fundamento, como explica o professor Dirceu Castro, coordenador de Biomedicina da Universidade da Amazônia (Unama), observando que nem uma árvore inteira ajudaria. Por outro lado, ele explica melhor a origem desse termo e o que de fato é a dor. “A famosa ‘dor de veado’ é a dor de uma compressão do baço, quando coloca hemácias de volta na circulação para ajudar numa atividade física. Mas esse órgão visceral não tem terminações ner vosas para dor e usa terminações próximas. É uma dor ‘desviada’! Em algum momento da história, isso virou ‘dor de veado’! Assim que o baço cumpre sua função, volta ao normal e a dor passa cinco minutos depois (do esforço físico)”, conclui Dirceu. MANDE A SUA PERGUNTA Envie perguntas instigantes sobre hábitos, costumes e fenômenos da região amazônica para o e-mail: amazoniaviva@orm.com.br
AGOSTO DE 2016
• REVISTA AMAZÔNIA VIVA • 15
EU DISSE
“O próximo Einstein talvez esteja morrendo de fome na Etiópia e a gente nunca saberá porque é uma criança sem comida” Neil deGrasse Tyson, astrofísico norte-americano, falando sobre a desigualdade que muitas vezes funciona como rejeição à ciência. DIVULGAÇÃO
“Não é exagerado dizer que a luta contra a mudança climática é uma questão de sobrevivência” Angela Merkel, em um discurso no sétimo Diálogo sobre o Clima de Petersberg. Segundo a chanceler alemã, o acordo de Paris é “um sinal de esperança e pode melhorar a vida de milhões de pessoas”.
“Todo o processo de desenvolvimento real é baseado em conhecimento. Este é o grande segredo, e é o que a pesquisa está mostrando.” Antônio Galvão, diretor do Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE), sobre estudo que revela crescimento do número de doutores no Brasil.
“É preciso lidar com as escolhas do consumidor, porque há consequências. Está chegando o momento em que não será mais possível esconder isso debaixo do tapete” Janez Potonik, especialista em meio ambiente da Organização das Nações Unidas (ONU), sobre o consumo de carne, em congresso sobre meio ambiente realizado pela ONU em Nairóbi, no Quênia. A produção de carne e de outros produtos de origem animal é a principal causa das emissões de gases do efeito estufa, entre outros problemas.
16 • REVISTA AMAZÔNIA VIVA •
AGOSTO DE 2016
APPLICATIVOS BOAS IDEIAS NUM TOQUE DE DEDOS
“Esta é uma luta para qualquer um que se sente marginalizado e que não tem direito à liberdade e aos direitos humanos”
Espaço Livre Aplicativo com o objetivo de criar um “mapa da homofobia” através de denúncias e marca-
Beyoncé, em carta aberta, acerca da violência policial contra negros nos Estados Unidos. A cantora disse o respeito pelos outros não depende de raça, gênero ou a orientação sexual.
dores nos mapas online. O uso é totalmente anônimo e seguro. Quando alguma agressão, física ou moral, ocorrer, o usuário pode marcar aquele local onde estava e já avisar que tipo de violência houve. Essa medida não dispensa o
“Saúde e clima são indissociáveis porque a saúde humana depende diretamente da saúde do planeta”
registro de ocorrência numa delegacia, mas já amplia as medidas de combate à homofobia. Plataformas: Android e Windows Phone Preço: Gratuito
Ségolène Royal, ministra francesa do Meio Ambiente, durante conferência organizada pela
Bike Registrada
Organização Mundial da Saúde (OMS), em Paris.
App usado em parceria com os sistemas de DIVULGAÇÃO
segurança pública para coibir o roubo e furto de bicicletas. O Pará foi o terceiro Estado a aderir. O usuário cria um cadastro pessoal e com imagens da bicicleta que usa. Um adesivo pode ser impresso e colado, facilitando o rastreio no momento em que a bike é encontrada após um crime. Plataformas: Android e iOS Preço: Gratuito
SAC MPF
“O risco de que um desastre destrua a Terra é cada vez maior. Então, eu gostaria de despertar o interesse do público pelos voos espaciais. Eu aprendi a não olhar para o futuro distante e a me concentrar no presente. Ainda há muito mais coisas que eu quero fazer” Stephen Hawking, físico britânico, sobre o destino da raça humana, que, segundo o cientista, terá que sair da Terra para sobreviver.
App oficial do Ministério Público Federal para vários tipos de denúncias, entre elas sonegação fiscal, fraudes de notas fiscais, não recolhimento de tributos e contribuições federais, contrabando, evasão de divisas, fraudes bancárias, saque ilegal de FGTS, tráfico de drogas e crimes contra o INSS, além de racismo e qualquer crime contra indígenas, meio ambiente e patrimônio. Plataformas: Android e iOS Preço: Gratuito FONTES: PLAY STORE E ITUNES
AGOSTO DE 2016
• REVISTA AMAZÔNIA VIVA • 17
CURIOSIDADES DA BIODIVERSIDADE
INOCÊNCIO GORAYEB
Pião-roxo para proteção das residências O pião-roxo é uma planta encontrada em quase todo o país, mas principalmente na Amazônia e no Nordeste. É comum ter lugar reser vado em frente às casas rurais e ribeirinhas, nos jardins e em vasos. Algumas famílias acreditam que a planta protege as residências. A crença, originada da cultura africana e da umbanda, é também utilizada pelo espiritismo, esoterismo, e se generalizou entre as pessoas, independente de suas religiões. O nome científico do pião-roxo é J atropha gossy piifolia , descrito por Linnaeus em 1753. Uma das características da espécie é apresentar grande potencial para a geração de produtos farmacológicos e biotecnológicos, baseado nos 18 • REVISTA AMAZÔNIA VIVA •
AGOSTO DE 2016
usos populares e estudos científicos que demonstraram suas propriedades. Muitos usos populares para diversos fins medicinais são relatados, demonstrando grande potencial para originar moléculas bioativas com relevância farmacológica. Futuros estudos dessa planta são importantes para obter melhor conhecimento da composição química dos diferentes extratos, de modo a reconhecer os compostos verdadeiramente importantes nas ações farmacológicas, e para aplicação potencial na medicina complementar e alternativa. É importante ainda focar no refinamento químico dos produtos, buscando eliminar eventuais efeitos tóx icos. Essas são algumas conclusões do ar-
tigo recente “Jatropha gossy piifolia L. (Euphorbiaceae): A Review of Traditional Uses, Phy tochemistr y, Pharmacolog y, and Tox icolog y of This Medicinal Plant”. As pessoas utilizam comumente o pião-roxo para eliminar energias maléficas, fazer descarregos, quebrar demandas, olho gordo, inveja e outros feitiços. A planta é usada em banhos, seca em defumações, bate-folha e também na entrada da casa, para proteção. Várias propriedades medicinais são relatadas pela medicina tradicional. A lgumas propriedades são comuns também a outras espécies do gênero Jatropha, e utilizações humana e veterinária são descritas.
DESENHOS NATURALISTAS
CONCEITOSAMAZÔNICOS O VOCABULÁRIO REGIONAL É UM PATRIMÔNIO
Gapuiar Esse verbo é muito utilizado pelos pescadores da zona costeira amazônica, incluindo o arquipélago do Marajó, e significa “procurar iscas e peixes no balcedo”. Os balcedos são ambientes onde o capim fica acumulado, compactado em beiras de rios e lagos. Os pescadores utilizam a habilidade com as mãos e pegam pequenos caranguejos, camarões, outros crustáceos e peixes. Alguns utilizam uma vara com um anzol incrustado na ponta. Pegam muitas espécies, como a tuí-juvenil. Gapuiam, também, no mangue, entre
A mariposa e o beija-flor
A qualidade das iscas é decisiva para o sucesso da pesca. É por isso que os pescadores experientes gastam certo tempo e esforço gapuiando antes de saírem para pescar. Os menos experientes ficam surpresos com o sucesso da pescaria e logo querem saber qual isca foi utilizada. Muitas vezes dividem o trabalho. “Vou gapuiar, mas tu vais pescar com os parceiros, porque hoje vou visitar minha marreca”, costuma dizer. Nos dicionários, outros significados são atribuídos ao termo gapuiar. Entre eles estão esgotar uma lagoa, para deixar o peixe em terreno seco; procurar qualquer coisa ao acaso da sor te; pescar lançando o arpão, flecha ou fisgar de maneira aleatória.
WALDEZ
Foi nesse contexto que o naturalista Henry Walter Bates (1824-1892) esteve na Amazônia por onze anos. No livro “Um naturalista no rio Amazonas” ele narra as observações que fez acerca dos beija-flores. Bates ficava observando-os e abatia com espingarda alguns para coleção. Certa vez, junto com eles, num fi m de tarde, viu que abateu uma mariposa que estava visitando as flores. Não conseguia distingui-los, porque a anatomia externa e o comportamento e de voo eram muito semelhantes, por isso abateu várias vezes a mariposa. Somente depois de alguns dias e horas de observações é que começou a perceber a diferença. Assim, esse fato foi o responsável pela publicação do artigo “Contribuições à fauna do vale amazônico: Lepidoptera, Heliconidae”, que lhe deu prestigio acadêmico por causa da sua teoria sobre o mimetismo. O desenho (copiado do acervo de obras raras do Museu Paraense Emílio Goeldi) representa uma espécie de mariposa (hoje classificada Aellopos titan Cramer, 1777) cujas formas anatômicas lembram a de um beija-flor.
xes maiores nesses ambientes.
GRAVURA DE HENRY WALTER BATES/ REPRODUÇÃO / ACERVO DE OBRAS RARAS DO MUSEU GOELDI
A Amazônia desperta interesses de cientistas naturalistas desde as primeiras décadas do século XVIII, quando europeus cruzaram o Atlântico para conhecer a geografia, a flora, a fauna e os modos de ser e de viver dos povos da América do Sul, especialmente atraídos pelas histórias das mitológicas mulheres guerreiras que Carvajal alegara ter visto em sua viagem ao norte do Brasil no ano de 1542. Do contato com uma realidade completamente nova ao olhar europeu, foram produzidas informações de toda ordem, que, disseminadas no Velho Mundo, acabaram por inspirar uma sucessão de outras expedições à Amazônia. As peculiaridades de sua floresta tropical alimentaram representações paradoxais sobre a vida nessa parte do Brasil. Exuberância natural e atraso socioeconômico, povos exóticos e inferioridade cultural foram algumas entre as tantas impressões ambivalentes que os viajantes/ naturalistas levaram de suas passagens pela Amazônia para a Europa, desde que fora “descoberta” nas primeiras décadas do século XVI.
as raízes. Além das iscas, pegam pei-
AGOSTO DE 2016
• REVISTA AMAZÔNIA VIVA • 19
ARTIGO
A origem das neurociências na Amazônia
WALACE GOMES LEAL
Doutor em Neuropatologia Experimental e Professor Associado do Instituto de Ciências Biológicas da Universidade Federal do Pará
As neurociências correspondem a uma área do conhecimento que inclui Neuroanatomia, Neurofisiologia, Neuroquímica, Neuropatologia e outras disciplinas que objetivam o estudo da forma e da função do sistema nervoso em condições normais e patológicas. Na Amazônia brasileira fundou-se uma escola para formar neurocientistas graças ao esforço inicial de pioneiros e ao esforço continuado subsequente de muitos que tomaram o bastão e hoje o conduzem adiante. O nascimento das Neurociências na Amazônia é cheio de adversidades, desafios e conquistas. Ele começa em 1977, quando dois estudantes de medicina da Universidade Federal do Pará, Luiz Carlos de Lima Silveira e Cristovam Wanderley Picanço Diniz, foram recebidos pelo renomado neurocientista dr. Eduardo Osvaldo Cruz em seu laboratório no Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho (IBCCF) da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Quando ainda estudante de nível médio, Luiz Carlos Silveira liderava uma iniciativa que provia aos colegas de mesma faixa etária a realização de pequenos projetos científicos que, de vez em quando, eram premiados em feiras de ciências regionais e nacionais. Essa iniciativa denominava-se Movimento Científico da Amazônia (MCA) e teve o mérito de reunir jovens que gastavam suas tardes de sábado em torno de experimentos em biologia e desenhos de foguetes experimentais. Oriundos da equipe de Biologia do MCA, Luiz Carlos e Cristovam pros-
20 • REVISTA AMAZÔNIA VIVA •
AGOSTO DE 2016
seguiram seus estudos em medicina. Ainda na graduação em medicina, foram selecionados como parte de um programa idealizado pelo professor João Paulo do Valle Mendes, diretor do Centro de Ciências Biológicas (CCB) da UFPA e o dr. Antonio Paes de Carvalho, do Instituto de Biofísica da UFRJ. Esse programa visava à formação avançada de recursos humanos e a instalação de grupos de docentes pesquisadores em fisiologia no CCB/ UFPA. Na UFRJ, iniciaram sua formação científica sob supervisão direta do dr. Antonio Paes de Carvalho, no Instituto de Biofísica. Considerando que gostariam de estudar neurociências, foram encaminhados ao Departamento de Neurobiologia do Instituto de Biofísica e lá conduziram seus estudos sob supervisão de Eduardo Oswaldo Cruz. A partir de então Eduardo Oswaldo Cruz habilitaria os paraenses em um grande número de procedimentos. Os dois estudantes terminaram a graduação e realizaram mestrado e doutoramento sob supervisão do dr. Osvaldo Cruz estudando o sistema visual de roedores da Amazônia. A volta dos estudantes, agora pesquisadores, ao CCB visava à implantação de um grupo de pesquisa em Neurociências na UFPA. O Laboratório de Fisiologia dos Tecidos Excitáveis, hoje Laboratório de Neurofisiologia Eduardo Osvaldo Cruz, foi inaugurado na década de 80 com poucos equipamentos doados por Osvaldo Cruz. Foi fundamental o apoio de grupos de pesquisadores já estabelecidos no
“Hoje reunimos um conjunto de programas de investigação no Instituto de Ciências Biológicas na área de neurociências surpreendente”
CCB, incluindo a Genética, liderada pelo professor Horácio Schneider; a Reprodução Animal, liderada pelo professor William Vale e o apoio administrativo fundamental de Jovelino Leão Filho, diretor do CCB. No Museu Paraense Emilio Goeldi, contaram com o suporte do diretor dr. Luiz Scaff, que garantia o fornecimento dos roedores para os ensaios experimentais. Convencidos por Eduardo Oswaldo Cruz, o então vice-presidente do CNPq, Guilherme Maurício Souza Marcos de la Penha, o diretor Executivo da FADESP, professor Antonio Gomes de Oliveira, e o professor Ronaldo de Araújo, então conselheiro da Fundação, concederam os meios materiais mínimos para que o novo laboratório continuasse e que o grupo de neurociências pudesse crescer. Os doutores Luiz Carlos Silveira e Cristovam Diniz, novamente com indicação do dr. Osvaldo Cruz, realizaram estágio de pós-doutoramento na conceituada Universidade de Oxford, Reino Unido, Inglaterra, sob supervisões dos doutores Allan Cowey (Departamento de Psicologia Experimental) e Kevan A. C. Martin (Departamento de Farmacologia Neuroanatômica). Essa iniciativa foi fundamental para incluir Belém e a UFPA no mapa internacional das neurociências. Seguindo os passos de seus fundadores, outros jovens pesquisadores juntaram-se ao grupo de neurociências e novos laboratórios foram montados, como o Laboratório de Neuroquímica, liderado pelo professor José Luiz Martins do Nascimento, o de Neuroendocrinologia, liderado pelo professor doutor Domingos Diniz, e por um período mais curto o Laboratório de Etnofarmacologia, da professora Elaine Elizabetsky. A partir dessa segunda geração, um número expressivo de novos pesquisadores foram formados ampliando os programas de investigação em Neurociências na UFPA. Hoje reunimos um conjunto de programas de investigação no Instituto de Ciências Biológicas
A
B
C
na área de neurociências surpreendente, incluindo Neuroengenharia, Eletrofisiologia, Neuropatologia Experimental, Estudos com Células-Tronco, Neurobiologia, Visão Espacial, Neurotoxicidade, que começam a se expandir e criar outras comunidades acadêmicas dedicadas as neurociências como em Santarém e Bragança. Luiz Carlos e Cristovam tornaram-se neurocientistas dedicados a formar recursos humanos avançados para a Amazônia e nessa corrida de revezamento demonstram para aqueles que recebem o bastão de que é possível fazer bem feito mesmo quando as condições parecem insuficientes e o isolamento científico conspira na direção contrária. Cristovam Diniz é um dos mais renomados neurocientistas brasileiros e respeitado internacionalmente por seus estudos sobre o sistema visual e neu-
HISTÓRIA
Fundadores das Neurociências na Amazônia. (A) Eduardo Osvaldo Cruz. (B) Luiz Carlos Lima Silveria (esquerda) e Cristovam Wanderdey Picanço Diniz (direita) - pesquisadores pioneiros das Neurociências na Amazônia. (C) Secções aplanadas mostrando as áreas sensoriais da cutia. (D) Representação do campo visual da cutia em coordenadas geográficas equatoriais/azimutais (meridianos e paralelos) similar aos primeiros estudos realizados pelos pioneiros neurocientistas paraenses.
D
rodegeneração e infecção. Foi pro-reitor de pesquisa e reitor da UFPA entre 1997 e 2001. Foi agraciado com o prêmio Anísio Teixeira em 2001, concedido pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) a personalidades que tenham contribuído de modo relevante para o desenvolvimento da pesquisa e formação de recursos humanos no Brasil. Luiz Carlos de Lima Silveira, um dos fundadores do grupo de Neurociências da UFPA, faleceu no dia 10 de julho deste ano de um tipo incurável de leucemia. Era professor titular da UFPA. Foi agraciado com a Ordem Nacional do Mérito Científico pelo Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT), grau Comendador. Também recebeu do Instituto de Ciências Biológicas da UFPA a Medalha de Honra ao Mérito Acadêmico e a Medalha Neurociências Brasil pela SBNeC. Tornou-se membro titular da Academia Paraense de Ciências e da Academia Brasileira de Ciências. Seu legado não será esquecido e sua memória é marca indelével nos alicerces das neurociências da Amazônia. VISIONÁRIO
Luiz Carlos de Lima Silveira foi um dos fundadores do grupo de Neurociências da UFPA e faleceu no dia 10 de julho deste ano
AGOSTO DE 2016
• REVISTA AMAZÔNIA VIVA • 21
OLHARES NATIVOS
Pelo Pará
As imagens dos destinos do turismo paraense vão ganhar o mundo com o projeto Opera Prima dell’Amazonia, iniciativa que reúne registros dos fotógrafos Fernando Sette, do Pará, Tadeu Nascimento, de São Paulo, e Adriano Pagani, da Itália, de diferentes localidades que representam a diversidade das atrações e paisagens do Estado. Nestas páginas, imagens de ADRIANO PAGANI
22 • REVISTA AMAZÔNIA VIVA •
AGOSTO DE 2016
Nas Docas
AGOSTO DE 2016
• REVISTA AMAZÔNIA VIVA • 23
OLHARES NATIVOS
Amazônico
A produção, também composta pela jornalista Josiane Amoras e pelo cinegrafista Francesco Rossi, realizou um roteiro de 13 dias que percorreu as regiões da capital (Belém, Mosqueiro e Combu); nordeste (Algodoal e Colônia do Chicano); Marajó (Soure, Salvaterra e Cachoeira do Arari) e Tapajós (Santarém e Alter do Chão). Nestas páginas, fotos de TADEU NASCIMENTO
24 • REVISTA AMAZÔNIA VIVA •
AGOSTO DE 2016
AGOSTO DE 2016
• REVISTA AMAZÔNIA VIVA • 25
OLHARES NATIVOS
Admiração
O resultado será uma exposição fotográfica itinerante que a partir da Itália irá percorrer a Europa divulgando o Pará como destino turístico na Amazônia. Além de atrair os olhares europeus, o projeto quer conquistar espaço nos meios de comunicação de lá para ampliar a visibilidade do Estado. Nestas páginas, imagens de FERNANDO SETTE
26 • REVISTA AMAZÔNIA VIVA •
AGOSTO DE 2016
JOSEANE AMORAS
Envie as suas fotos para a seção Olhares Nativos
Para participar da seção “Olhares Nativos” da revista Amazônia Viva basta enviar fotos com temática amazônica para o e-mail amazoniaviva@orm.com.br acompanhadas pelo nome completo do autor, número de identidade e uma breve informação sobre o contexto do registro fotográfico. As imagens devem ser autorais e com resolução de no mínimo 300 dpi. A publicação das fotos tem fins meramente de divulgação de trabalhos profissionais ou amadores, não implicando em qualquer tipo de remuneração aos autores. Participe!
AGOSTO DE 2016
• REVISTA AMAZÔNIA VIVA • 27
muito obrigado!
CHEGAMOS A 60 EDIÇÕES. ESTAMOS JUNTOS NESSA HISTÓRIA. PUBLICADA PELA PRIMEIRA VEZ EM SETEMBRO DE 2011, A REVISTA AMAZÔNIA VIVA FOI CRIADA PARA DIVULGAR A SUSTENTABILIDADE, A CIÊNCIA E A CULTURA DE UMA AMAZÔNIA QUE MUITAS VEZES DEIXA DE SER PAUTADA. NOSSA GRATIDÃO É COMPARTILHADA COM VOCÊ, QUE NOS AJUDA A CONHECER, CONTEMPLAR E ENTENDER A REGIÃO EM QUE VIVEMOS.
PRODUÇÃO
REALIZAÇÃO
Leia as nossas edições on-line
ENTREVISTA
A
região amazônica tem muitos desafios econômicos, políticos e sociais para o desenvolvimento socioeconômico, que motivaram a Fundação Amazônia de Amparo a Estudos e Pesquisas (Fapespa) a apresentar o “Barômetro de Sustentabilidade da Amazônia”, uma metodologia que ajudará a contribuir para o monitoramento das condições humanas e ecológicas dos estados da Amazônia. Com essa metodologia será possível verificar quais as deficiências de cada região, bem como quais as soluções que poderão contribuir para o desenvolvimento do local. Pesquisas teóricas e empíricas foram feitas para a construção do Barômetro da Sustentabilidade a ser aplicado nos estados. É um projeto novo, mas que tem muito a contribuir para o desenvolvimento de toda a região, como explica o diretor da Fapespa, Eduardo Costa. Qual é o objetivo da criação da metodologia de Barômetro da Sustentabilidade? É uma metodologia que foi desenvolvida por pesquisadores do World Conservation Union (IUCN) e International Development Research Center (IDRC), que é utilizada para avaliação da sustentabilidade. Consegue equalizar as diferenças entre dois grandes eixos: bem-estar humano (BEH) e bem-estar ambiental (BEA). É trabalhar no monitoramento das condições humanas e ecológicas relacionadas ao progresso do desenvolvimento sustentável. A ideia também é ser um modelo sistêmico de sustentabilidade, que traz como característica principal a capacidade de combinar indicadores para chegar a conclusões a partir de dados, por vezes, contraditórios ou difíceis de combinar, como dados de qualidades da água, emprego, economia, educação, violência. O Barômetro de Sustentabilidade surge como um indicador de última geração procurando medir o desenvolvimento de outros municípios ou estados, fugindo da ótica economicista.
30 • REVISTA AMAZÔNIA VIVA •
AGOSTO DE 2016
A sociedade precisa ser sustentável O DIRETOR DA FAPESPA, EDUARDO COSTA, ACREDITA QUE O “BARÔMETRO DE SUSTENTABILIDADE DA AMAZÔNIA” AJUDA A DESENVOLVER O PARÁ SOB UMA ÓTICA DIFERENTE DA ECONOMIA TEXTO ANA PAULA MESQUITA FOTO AKIRA ONUMA
SIDNEY OLIVEIRA / AGÊNCIA PARÁ
EXPERIÊNCIA
A cidade de Bragança, no nordeste do Estado, já recebeu um projeto piloto do “Barômetro da Sustentabilidade dos Municípios Paraenses”
O que de inovador se pode conquistar nos estados da Amazônia a partir do Barômetro da Sustentabilidade? O projeto, bem como, o método do Barômetro da Sustentabilidade, não olha apenas para a questão do bem-estar humano e meio ambiente, mas para a integração do homem com o meio ambiente. Segunda vantagem, ele sai da armadilha do economicismo. A questão econômica não é omitida, mas ela está distribuída nessas duas dimensões. Assim, pode-se ter um elevado bem-estar ambiental, mas se não tiver
um elevado bem-estar humano, essa sociedade não é considerada sustentável. Como o Barômetro da Sustentabilidade pode ser aplicado nos estados? A partir da seleção de indicadores. Para a avaliação de sustentabilidade, foram escolhidos 27 indicadores. Foram selecionados 20 indicadores do BEH e sete indicadores do BEA. A escolha dos indicadores foi a partir da pesquisa e consistência dos dados. Os dados foram coletados nas esferas nacional, estadual e municipal por meio de pesquisa documental e exploratória, além da consulta de várias instituições e órgão oficiais. Dessa forma, passa-se a ter um espectro de análise muito mais amplo. Existe
“Pode-se ter um elevado bem-estar ambiental, mas se não tiver um elevado bem-estar humano, essa sociedade não é considerada sustentável” AGOSTO DE 2016
• REVISTA AMAZÔNIA VIVA • 31
ENTREVISTA
um documento chamado objetivos do milênio. Esse documento definiu qual seria o parâmetro ideal para os indicadores do desenvolvimento humano e estabeleceu parâmetros. Quais seriam esses parâmetros oferecidos pelos Objetivos do Milênio para nortear o projeto de sustentabilidade nos estados amazônicos? Cada um desses indicadores tem cinco níveis. Dependendo do parâmetro, tem-se o grau de sustentabilidade. São eles: o sustentável, quando esse indicador atinge o parâmetro internacional; o potencialmente sustentável, quando apesar de não atingir ele está próximo; o intermediário; o potencialmente insustentável e o insustentável quando está mais distante do parâmetro internacional.
“ A maioria dos indicadores (no Pará) está no nível insustentável. São eles: gravidez na infância e adolescência, trabalho infantil, roubos, acesso à internet e evasão escolar.” 32 • REVISTA AMAZÔNIA VIVA •
AGOSTO DE 2016
O que motivou a implantar a metodologia do Barômetro da Sustentabilidade no Pará? Foram várias motivações. As principais são em primeiro lugar, a necessidade de ter um parâmetro mais moderno para auferir o desenvolvimento sustentável. Seja de cidade, estado ou países partindo do pressuposto que os antigos indicadores do IDH já estão ultrapassados. O segundo motivo é incorporar numa ferramenta um conceito mais moderno de sustentabilidade. O terceiro é de um indicador que sirva de parâmetro para o planejamento de políticas públicas e que permita não só a planejamento, mas permita a execução das políticas públicas e o monitoramento e a avaliação das políticas públicas se elas estão eficientes e eficazes no estado do Pará. Quais são os desafios para que o Pará atinja o nível de sustentabilidade satisfatório? Para cada um dos estados existe uma gradação. O maior desafio do Pará está na questão do BEH. A maioria dos indicadores está no nível insustentável. São eles: gravidez na infância e adolescência, trabalho infantil, roubos, acesso à internet e evasão escolar. Como potencialmente insustentável têm-se: índice de Gini, focos de calor, mortalidade materna, homicídios, Ideb -
séries iniciais e Ideb - séries finais. Dessa forma, observa-se que os indicadores do BEA não estão incluídos nos níveis mais baixos de sustentabilidade. A partir das pesquisas, percebe-se que a maior deficiência e desafio para o Pará é alcançar o nível sustentável no bem-estar-humano. Quais são os municípios do Pará que já foram agraciados pelo método Barômetro da Sustentabilidade? O Barômetro tem um alto grau de flexibilidade. Ele pode ser aplicado nos municípios, estados e países. Ele faz parte de um projeto que nós começamos em 2015, chamado “Barômetro da Sustentabilidade dos Municípios Paraenses”. Nós já fizemos algumas etapas, iniciamos o barômetro nos municípios produtores de energia, lançamos nos municípios mineradores, fizemos alguns projetos pilotos como em Bragança. E estamos caminhando agora para lançar ainda nos pró-
MEDINDO OS ÍNDICES Compare o grau dos indicadores estaduais de sustentabilidade do Bem-Estar Humano e do Bem-Estar Ambiental do Pará BEM-ESTAR HUMANO (BEH)
SAÚDE E POPULAÇÃO
INDICADORES MUNICIPAIS GRAU MORTALIDADE INFANTIL (0 A 5 ANOS).................. 62 MORTALIDADE MATERNA....................................... 34 NÚMERO DE MÉDICOS (POR 1000 HAB) ............... 43 LEITOS HOSPITALARES .......................................... 45 GRAVIDEZ NA INFÂNCIA E ADOLESCÊNCIA ................................................... 16
RIQUEZA EXTREMA POBREZA ............................................... 49 TAXA DE ATIVIDADE (% 18 ANOS OU MAIS) ............................................. 63 TRABALHO INFANTIL (% 10 A 14 ANOS) ..................................................... 20 PIB (PER CAPITA) ..................................................... 51 RENDA (PER CAPITA) .............................................. 48
CONHECIMENTO E CULTURA ANALFABETISMO (%15 ANOS OU MAIS).............................................. 41 IDEB (SÉRIES INICIAIS)............................................ 39 IDEB (SÉRIES FINAIS) .............................................. 35 EVASÃO ESCOLAR ENSINO FUNDAMENTAL ......................................... 64 EVASÃO ESCOLAR ENSINO MÉDIO ....................... 49 ACESSO A INTERNET (%)........................................ 12
ximos meses no Marajó, Xingu e Tapajós. A ideia é que no ano que vem, alcancemos os 144 municípios do estado do Pará. Qual seria esse projeto piloto de implantação do Barômetro da Sustentabilidade no Pará? Nós lançamos, recentemente, um Barômetro no município de Bragança, que deu um salto utilizando o projeto. Foi feito um planejamento estratégico do município chamado “Plano Estratégico de Bragança 2030”. Participaram do planejamento Fapespa, Sebrae, UFPA, IFPA, Prefeitura de Bragança, Associações Comerciais, entre outros. Vários atores sociais participaram e elaboraram com base no Barômetro um Plano Estratégico de Bragança. Criaram o Fórum Bragança 2030. Nesse Fórum, pactuaram com o Poder Público diretrizes de políticas públicas para o próximo ano. E ainda está servindo como instrumento de controle social.
Bragança é um exemplo perfeito sobre o planejamento participativo envolvendo os atores sociais da região. E ainda: tem o instrumento de controle social que é o Fórum. Bragança e está servindo de projeto piloto para os outros municípios do Pará. Outro município é o de Paragominas que também é considerado um caso de sucesso no que se refere ao planejamento Estratégico e a implantação do Barômetro da Sustentabilidade.
COMUNIDADE
Há resultados da implantação do Plano do Barômetro da Sustentabilidade nos municípios do Pará? Na verdade esse é um projeto novo. Portanto, ainda não temos resultados efetivos. O que temos são projetos pilotos, como já foi citado, em Bragança. E também em Paragominas e São Miguel do Guamá. Em Ananindeua, Tucuruí e Itaituba já está sendo aplicado o planejamento estratégico de sustentabilidade.
ÁGUA
ROUBOS (POR 100 MIL HAB).................................. 15 HOMICÍDIOS (POR 100 MIL HAB.) .......................... 27 ACESSO A ENERGIA ELÉTRICA .............................. 70
EQUIDADE ÍNDICE DE GINI......................................................... 33 BEM-ESTAR AMBIENTAL (BEA)
TERRA CADASTRO AMBIENTAL RURAL............................. 69 DESMATAMENTO (ATÉ 2014) .................................. 76 ESTOQUE DE FLORESTA ........................................ 82
POPULAÇÃO EM DOMICÍLIO COM ÁGUA ENCANADA .......................................... 51 POPULAÇÃO EM DOMICÍLIO COM BANHEIRO E ÁGUA ENCANADA .................... 57
AR FOCOS DE CALOR.................................................... 29
UTILIZAÇÃO DE RECURSOS NATURAIS COLETA DE LIXO ...................................................... 70 FONTE: BARÔMETRO DA SUSTENTABILIDAD/ FAPESPA
AGOSTO DE 2016
• REVISTA AMAZÔNIA VIVA • 33
CAPA
Utinga, o parque das
borboletas PESQUISA DO MUSEU PARAENSE EMÍLIO GOELDI REVELOU UM PANORAMA DA VIDA DE UMA DAS MAIORES FAMÍLIAS DE BORBOLETAS, A NYMPHALIDAE, NUMA ÁREA DE RESERVA AMBIENTAL NO CORAÇÃO URBANO DE BELÉM TEXTO JOÃO CUNHA FOTOS FERNANDO SETTE
O
biólogo Fernando Carvalho Filho anda pelo Parque Estadual do Utinga (PEUt), em Belém, com olhos inquietos, buscando o alto e o que mais há em volta. Nas trilhas, no interior da mata fechada, na borda das flores e à margem das estradas, tudo é caminho de borboletas. Em várias culturas, esses animais simbolizam renascimento, metamorfose, vida, morte e espiritualidade. Psiquê , a antiga divindade grega da alma, era personificada com asas de borboleta. Para Fernando, elas são sinônimos de beleza, fonte de trabalho e de conhecimento para a proteção da biodiversidade. Nos últimos dois anos, o pesquisador titular e o estudante de Biologia, Rômulo Lopes, passaram longos períodos no Utinga à procura de borboletas da grande família Nymphalidae (lê-se “ninfálidê”). De puçá em mãos, uma pequena rede usada para
34 • REVISTA AMAZÔNIA VIVA •
AGOSTO DE 2016
coletar insetos em ambiente livre, eles empreenderam um levantamento inédito nessa dimensão dentro do Parque Estadual. Finalizado no mês de junho e exibido em primeira mão em um seminário científico no Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG), o trabalho revelou um universo de fauna mais vasto do que se imaginava: foram encontradas 63 espécies e 46 gêneros de borboleta, isso apenas dentro da família Nymphalidae, que contém doze subfamílias; sete delas habitam o PEUt. “Esse número de espécies com certeza vai aumentar, à medida que prosseguirmos com as pesquisas na área”, acredita Fernando, que é pesquisador de Entomologia, ramo da ciência que estuda os insetos, no Museu Goeldi. Um mundo colorido e ao alcance da vista e que pode dizer muito sobre a qualidade do ambiente que vivemos.
A CASA DAS BORBOLETAS
Dentro da grande família Nymphalidae no Parque Estadual do Utinga foram encontrados: 63 espécies 46 gêneros 7 subfamílias de Nymphalidae: Danainae, Heliconiinae, Charaxinae, Biblidinae, Satyriae, Limenitidiae, Cyrestinae
CENTRO DE ENDEMISMO BELÉM 243.752,18 km2 de área
2 estados (Pará e Maranhão) e 149 municípios 5,2 milhões de habitantes Cerca de 70% da cobertura vegetal foi substituída para outros fins (agricultura e pecuária, por exemplo)
PARQUE ESTADUAL DO UTINGA (PEUT) Criado em 1993
1.353 hectares
Cerca de 3 mil km2 de extensão da área do parque está em Belém e em Ananindeua. AGOSTO DE 2016
• REVISTA AMAZÔNIA VIVA • 35
CAPA
Elas são bioindicadores
Borboletas são rainhas de popularidade entre os Homo sapiens . De todos os insetos, elas ocupam o topo do favoritismo, seguidas de perto pelas joaninhas. Estampam camisetas, bonés, posters e mensagens motivacionais na internet, tratamento que não é dispensado às moscas ou aos percevejos, por exemplo. Enquanto você está lendo essa reportagem, milhares de pessoas no mundo estão correndo atrás de um Butterfree, o representante pokemón da borboleta, em versões oficiais ou pirateadas do aplicativo de celular febre do momento, Pokémon Go. “As borboletas têm essa vantagem. Boa parte das espécies têm cores, e por isso são tão carismáticas, a ponto de muita gente pensar que elas nem são insetos, animais associados ao perigo e a transmissão de doenças”, aponta o entomólogo Fernando Filho. É bom enfatizar que, assim como todos os seres invertebrados, com corpo dividido em cabeça, tórax e abdômen, seis patas articuladas, olhos compostos e duas antenas, borboletas 36 • REVISTA AMAZÔNIA VIVA •
AGOSTO DE 2016
são insetos sim. E não se resumem à simpatia e a um corpinho bonito. Ao lado das abelhas, mariposas e alguns tipos de aves e mamíferos, elas fazem o trabalho de semeadoras na natureza. A polinização, como é chamada a fecundação das f lores, recebe a ajuda indireta das borboletas que, voando de f lor em f lor à procura de alimento, espalham pólen entre as pla ntas. “As borboletas presta m um ser v iço importa nte como agentes polinizadores, contribuindo pa ra a ma nutenção dos ecossistemas no pla neta”, a f irma o entomólogo. O Instituto Chico Mendes de Conser vação da Biodiversidade (ICMBio), órgão gestor das Unidades de Conser vação (UC) no Brasil, nos últimos a nos adotou um modelo de controle da biodiversidade baseado em borboletas. Como são muito sensíveis a muda nças no clima, vegetação e outros fatores natura is, esses a nima is têm sido obser vados como indicadores a mbienta is ou bioindicadores. Esse é o nome dado qua ndo uma espécie ou gr upo espécies
CAÇADORES DE BORBOLETAS
O pesquisador Fernando Carvalho Filho e seu assistente Rômulo Lopes passam longos períodos no Parque Estadual do Utinga à procura de espécies da família Nymphalidae
ref lete o estado e o impacto produzido em um habitat ou ecossistema. Os bioindicadores podem ser de origem animal ou vegetal. A borboleta é um exemplar da fauna at ua l mente u sado pa ra o mon itora mento em n ível naciona l e tem apresent ado bon s resu lt ados, dev ido ao rápido tempo de respost a que esses i n setos têm em relação às perturbações que ocorrem no meio ambiente, desaparecendo ou diminuindo de população. “Isso significa que se uma espécie de borboleta está em determinada área, aquela área ainda tem condições significativas para a preser vação não só da borboleta, mas também de outros animais que vivem lá. Só a presença dela é um indicador que aquela área é boa para se viver e deve ser conser vada”, explica Fernando.
De olho nas borboletas
As borboletas que se alimentam de frutas fermentadas, excrementos, líquidos de plantas e animais em decomposição recebem o nome de frugívoras. São elas as mais usadas para fazer o monitoramento. “A amostragem de borboletas frugívoras apresenta algumas vantagens práticas, que facilitam o estudo de suas populações. Elas são facilmente capturadas em armadilhas contendo isca de fruta fermentada, de modo que a amostragem pode ser simultânea e o esforço pode ser padronizado em diferentes áreas e meses do ano”, escreve o doutor em Ecologia pela Universidade Estadual de Campinas e especialista em borboletas, Marcio Uehara-Prado, em artigo conjunto para a revista Biota Neotropica. Além disso, explica Uehara-Prado, os indivíduos podem ser
marcados, geralmente à caneta, e soltos depois de identificados, com um mínimo de manuseio. Isso permite que um estudo não destrutivo para os animais seja feito com confiança. Outro ponto positivo é que “a atração da borboleta pela isca, um recurso alimentar, reduz a possibilidade de capturas ao acaso, o que é comum em outros métodos”. Monitorar borboletas não deve ser restrito a técnicos e cientistas da área, e sim uma atividade compartilhada com quem habita as Unidades de Conservação. Para orientar as comunidades nativas, o ICMBio criou o “Guia de Identificação de Tribos de Borboletas Frugívoras”, um manual ilustrado das espécies de borboleta que são indicadores ambientais, divididas por cada bioma brasileiro. Todos os guias estão disponíveis no site do ICMBio (www.icmbio.gov.br).
AGOSTO DE 2016
AMAZÔNIA Monitoramento da Biodiversidade GUIA DE IDENTIFICAÇÃO DE TRIBOS DE
BORBOLETAS FRUGÍVORAS
PARA CONHECER
O ICMBio elaborou um guia especial para identificação de espécies. Fernando Filho (abaixo) diz que borboletas indicam qualidade ambiental.
• REVISTA AMAZÔNIA VIVA • 37
CAPA
AS MAIS BONITAS DO PEDAÇO
Pertencentes à classe Insecta, as borboletas possuem olhos compostos e par de antenas, como suas parentes, as moscas
38 • REVISTA AMAZÔNIA VIVA •
AGOSTO DE 2016
O monitoramento das borboletas é uma fonte de dados sobre o seu habitat, indicando também a qualidade ambiental e do estado de conservação do local. Informações necessárias para o Utinga que, desde 1993, é um Parque Estadual, localizado em uma das regiões mais populosas e ameaçadas da Amazônia Brasileira: a Região Metropolitana de Belém.
Biodiversidade para curtir e preservar
Um espaço quase quatro vezes o tamanho do Central Park, em Nova York. Dono de 1.353 hectares, o Utinga é uma referência de zona verde no meio de uma grande cidade no Pará. Com uma extensão de 3 mil km² e limítrofe a cinco bairros entre a capital, Belém, e o município vizinho, Ananindeua, o Parque Estadual é uma unidade de conservação ambiental. Famosa opção de lazer para os adeptos de esportes ao ar livre, como o ciclismo e a canoagem, e de quem gosta de contemplar a natureza, o PEUt foi criado para estimular pesquisas científicas, dar estímulo à atividades de educação ambiental e preservar ecossistemas naturais de grande importância ecológica. Destaque para a proteção dos lagos Água Preta e Bolonha, que são responsáveis por boa parte do recurso hídrico que abastece a Região Metropolitana. Além dos seus predicados para a qualidade de vida local, o Utinga é um dos últimos fragmentos de f loresta contínua no Centro de Endemismo Belém (CMB). Essa grande região, que vai do leste do rio Tocantins até a Amazônia maranhense é a mais alterada e impactada do bioma amazônico, devido principalmente ao seu histórico de colonização e ocupação. Reunindo 149 municípios e cerca 5,2 milhões de pessoas, calcula-se que mais de 70% da cobertura vegetal do CMB foi convertida em outros usos, como pasto e monoculturas de soja e eucalipto, o que torna o Utinga uma área prioritária de conservação.
SINGELA PRESENÇA
O “Guia de Identificação de Tribos de Borboletas Frugívoras” da Amazônia, comparado com o inventário de borboletas feito pelo Museu Goeldi, mostra que, das borboletas da família Nymphalidae residentes no Utinga, sete espécies são bioindicadores
Callicore excelsior
Subfamília: Biblidinae Possui contornos em azul claro na borda das asas anteriores e um pontilhado da mesma tonalidade (às vezes quase formando uma linha), margeado de negro, próximo à borda das asas posteriores. Vista de cima, a espécie apresenta as asas anteriores com superfície negra ou azul metálica e áreas em laranja. FOTO: PABLO MDS
Consul fabius
Subfamília: Charaxinae Tem asas mais angulosas e de coloração característica em laranja, negro e amarelo; sendo a mais conhecida delas. Apresenta prolongamentos, como caudas terminadas em clava, no final de cada asa posterior. Vista por baixo, a borboleta apresenta o padrão de coloração típico de folha seca. Sua envergadura pode chegar a pouco mais de 7 centímetros. FOTO: FERNANDO ALMEIDA
Archaeoprepona licomedes
Subfamília: Charaxinae A parte inferior das asas é castanho pálido, enquanto que o lado superioréescuro com uma banda diferente e azul brilhante. FOTO: WIKIWAND
Prepona pheridamas
Subfamília: Charaxinae A parte inferior das asas é acinzentada pálida ou acastanhada, enquanto o lado superior é escuro com manchas azuis distintas. Algumas espécies também têm marcas laranja no lado superior das asas. FOTO: ANDREW NEILD
Caerois chorinaeus
Subfamília: Satyrinae Visto por cima, o padrão básico da espécie apresenta asas de coloração castanha com uma pontuação branca no ápice das asas anteriores e uma faixa laranja em seu centro. Asas posteriores com coloração alaranjada em sua borda e contendo caudas entortadas em seu final (o que, com a angulação das asas anteriores, dá uma aparência de meia-lua para a junção do par anterior com o posterior das asas). Vista por baixo, a espécie parece uma folha seca. FOTO: ALAPI973
Bia actorion
Subfamília: Satyrinae Em vista superior, esta borboleta apresenta um padrão de cor amarronzado, mais escuro nas asas posteriores, com destaque para a presença de uma mancha em forma de meia-lua, alaranjada, no ápice das asas dianteiras e uma mancha azulada, metálica, em sua base, não presente em todos os exemplares da espécie. Em vista inferior, apresenta padrão de coloração terrosa, se destacando um pequeno ocelo com o núcleo azulado no ápice das asas anteriores. FOTO: BRUNO LIMA
Pierella lena
Subfamília: Satyrinae Todos os integrantes do gênero Pierella apresentam, vistos de cima, coloração amarronzada com finas marcações mais escuras em suas asas anteriores e com asas posteriores marcadas com ocelos ou manchas. A espécie apresenta, vista de cima, asas posteriores com manchas características em tonalidade de azul e um par de ocelos em seu canto superior. FOTO: ALEX POPOKVIN
AGOSTO DE 2016
• REVISTA AMAZÔNIA VIVA • 39
CAPA
O parque está fechado temporariamente à visitação pública geral para reforma e construção de novos espaços visando o turismo ecológico, uma obra do governo do Estado. Porém, permanece um cenário aberto para cientistas investigarem fenômenos da biodiversidade regional, a exemplo da fauna de borboletas inventariada pelo Museu Paraense Emílio Goeldi. Em média, por ano, mais de dez pesquisas são realizadas no interior do PEUt. Até julho de 2016, quatorze solicitações foram analisadas pelo órgão gestor das Unidades de Conservação do Estado, o Instituto de Desenvolvimento Florestal e da Biodiversidade do Estado do Pará (Ideflor-bio). No presente, diversos estudos estão em desenvolvimento no Parque, com foco nas áreas de ciências naturais, sociais e exatas. “As pesquisas no PEUt estão abordando desde estudos básicos de ecologia animal e vegetal de diferentes grupos taxonômicos, principalmente de trabalhos de estudantes de graduação e pós-graduação, assim como estudos mais 40 • REVISTA AMAZÔNIA VIVA •
AGOSTO DE 2016
aplicados de saúde pública, monitoramento e impacto ambiental, turismo, e engenharia ambiental, com ênfase para os recursos hídricos”, informa o biólogo do Ideflor-bio, André Ravetta. Para ele, ainda há muito a se descobrir sobre o Utinga. “Estudos de monitoramento e de saúde pública que estão sendo desenvolvidos no interior da unidade podem trazer a luz novidades na área de conservação e ecologia de ecossistemas, em relação a futuros resultados de como o ambiente ou micro habitats es-
ESTUDO INCESSANTE
Os pesquisadores do setor de Entomologia identificam e catalogam as características de cada espécie de borboletas encontradas no Utinga
PARCERIA CIENTÍFICA
Para o biólogo do Ideflor-bio, André Ravetta, o Parque do Utinga é um grande celeiro de biodiversidade na zona urbana de Belém e os pesquisadores do Goeldi ajudam em novas descobertas no local.
tão reagindo à mudanças ou alterações no meio”, destaca. “Além disso, é muito provável que novas espécies possam ser descritas pela ciência a partir de novos inventários no PEUt, principalmente da fauna de invertebrados, como ressalta o dr. Fernando Filho”. “A tendência do pesquisador de Biologia é procurar coisas novas em lugares afastados e deixar de lado as coisas que estão em nossa volta, que a gente devia conhecer mais”, diz o biólogo do Museu Goeldi. “Estamos em Belém e
pouco conhecemos o que tem no Utinga, o que tem no Combu, áreas que estão aqui perto e que temos melhor acesso”, complementa Fernando. Baseado nessa ideia, surgiu a ideia de analisar as borboletas Nymphalidae do Parque Estadual do Utinga, projeto que começa a ter desdobramentos no campo da educação ambiental e para os futuros visitantes do parque. “A pesquisa do dr. Fernando, além de exemplificar a rica biodiversidade do PEUt, pode auxiliar no processo de
educação ambiental em relação a importância da conservação de áreas verdes em zonas urbanas como é o caso do Utinga”, diz André Ravetta. O biólogo do Idef lor-bio planeja, em parceria com o pesquisador do Museu Goeldi, divulgar os dados do estudo na formato de guias de identificação de borboletas, contendo imagens, os nomes científicos e características de cada espécie. Um convite ao público para um roteiro diferente pelo Parque do Utinga, guiado pelas asas multicor das Nymphalidae.
AGOSTO DE 2016
• REVISTA AMAZÔNIA VIVA • 41
, , , E S E -
SUSTENTABILIDADE
Sabor engarrafado CAMILA LIMA / ARQUIVO O LIBERAL
Insumos presentes na maior floresta tropical do mundo são potenciais sabores para cervejas artesanais, segmento que vem ganhando força no mercado.
O
sabor da cerveja tradicional, produzida em larga escala na indústria, já conquistou o paladar de pessoas no mundo inteiro, sendo a bebida alcoólica mais consumida do planeta. Contudo, um segmento desse mercado vem ganhando seguidores fiéis e apaixonados, o das cervejas artesanais. Na Amazônia, graças à infi nidade de insumos disponíveis, se tornou possível encontrar a riqueza da floresta engarrafada. Sob essa atmosfera, o Festival Amazônico de Cerveja surgiu com a seguinte premissa: inserir Belém na rota dos festivais cervejeiros e estimular ainda mais a produção das cervejas artesanais na região. “Dificilmente se poderia pensar em produzir cervejas artesanais sem utilizar os insumos mais artesanais do planeta, pertencentes à Amazônia”, afi rma o dire42 • REVISTA AMAZÔNIA VIVA •
AGOSTO DE 2016
tor da Agência de Inovação e Tecnologia da Universidade Federal do Pará (Universitec/ UFPA), Gonzalo Enriquez. Para o pesquisador, há algo além das frutas e sementes amazônicas que pode ser valorizado: a própria água da região. “Como é sabido por quem atua nessa área, um dos ingredientes mais importantes da cerveja e que dá uma qualidade diferenciada é a água, sua composição química, seu tratamento, o que caracteriza uma cerveja especial”, determina Gonzalo. Alguns produtos que, atualmente, são base para a produção de cervejas artesanais – entre eles bacuri, jenipapo, açaí e buriti, já foram incubados na Base Tecnológica da Universitec. Essas e outras plantas servem para produzir cerveja e colocar o produto no mercado com alta capacidade competitiva. “O potencial é incalculável em um
mundo onde o valor das produções naturais está ganhando um peso decisivo em contra a produção industrial de cervejas. Definitivamente, a utilização de insumos locais para cervejas, não apenas favorece ao fortalecimento da economia local, bem como o adensamento das diversas cadeias produtivas das frutas, óleos, e sementes da Amazônia”, conclui Gonzalo. Ao experimentar essa mistura mais caseira, que resulta nos mais variados sabores e texturas, meros apreciadores se tornaram verdadeiros disseminadores da contemporânea cultura cervejeira. Focando no aprendizado de fabricação de cerveja em casa e na difusão dessa prática, o Pará ganhou, em 2013, uma sede da Associação dos Cervejeiros Artesanais, atualmente com 100 associados. Para a maioria dos associados, a fabricação de cerveja é um hobby. Os sócios se
reúnem para fabricar, beber e trocar experiências. Porém, alguns acabam entrando no mercado, montando suas fábricas ou terceirizando a produção das suas receitas em outras fábricas. “Acredito que o primeiro passo para qualquer produção local é o de fazer uma boa cerveja, com qualidade, com um processo controlado, independente do uso de insumos”, afirmou o vice-presidente da Acerva Paraense, Hugo Mattar. O cervejeiro conta que foi realizado recentemente um concurso de cervejas da Liga Amazônica das Acervas, onde participaram as sedes Pará, Amazonas, Amapá e Maranhão. A principal categoria foi a de cervejas com insumos amazônicos e a campeã do concurso foi uma Witbier com cupuaçu, e em segundo lugar uma cerveja que possuía castanha-do-pará na composição de uma Porter. “Acredito que a possibilidade de alavancar a produção com insumos regionais é enorme, porém o foco tem que ser de uma boa cerveja base com o insumo completando ela, e não focar no insumo esquecendo da cerveja, mas temos o maior exemplo que é o da Amazon Beer, que utiliza esses insumos com sucesso. Com frequência vemos mestres cervejeiros de fora vindo ao Pará buscando insumos e ideias para novas cervejas”, pontua Mattar. Para o Festival Amazônico de Cerveja, a Acerva produziu uma cerveja do estilo Session IPA, na fábrica da Amazon Beer. “Essa mesma cerveja foi produzida no ano passado e foi um enorme sucesso. Queremos mostrar que em sua própria casa você pode fazer uma cerveja de altíssima qualidade”, diz o cervejeiro.
PROCESSO ARTESANAL
A produção caseira de cerveja com insumos regionais, como cupuaçu, castanha-do-pará e bacuri, envolve conhecimento, técnica e paciência.
Serviço O Festival Amazônico de Cerveja será nos dias Convenções e Feiras da Amazônia. Mais informações no site do evento www.festivalamazonicodecerveja.com.br
FOTOS: STUDIO LUMIAR
13 e 14 de agosto, a partir das 14h, no Hangar
COMUNIDADE
Rádio na aldeia
ONG HUTUKARA
Yanomami usam sistema de rádios para se comunicar no interior de Roraima TEXTO ALINNE MORAIS
R
adiofonia. Um sistema de transmissão de sons que na atualidade ganhou um papel muito importante para os Yanomami, localizados em Roraima. Distribuídos entre os territórios do Brasil e da Venezuela, os indígenas desse grupo utilizam a tecnologia para defender os seus direitos e proteger as suas terras. Dário Kopenawa Yanomami, coordenador de Políticas Públicas da Hutukara, associação dos povos da região que tem como objetivo defender os direitos da etnia, explica que para eles a tecnologia 44 • REVISTA AMAZÔNIA VIVA •
AGOSTO DE 2016
cumpre o papel de um telefone. “Nos locais onde instalamos a tecnologia eles (Yanomami) nos comunicam sobre invasões de garimpeiros, sociedades desconhecidas que chegam e também nos informam como estão as pessoas daquele lugar, como está a saúde, a educação e avisam se está tudo bem”, conta ele. Segundo Dário, parte da vulnerabilidade da Terra Indígena Yanomami (TIY) sempre esteve relacionada com a ausência de uma estrutura de comunicação. Para ele, esse foi um dos pontos que impulsionou a criação da rádio.
“Era a oportunidade de criar algo que permitisse que as denúncias sobre as invasões e ameaças fossem agilmente comunicadas à sede da Hutukara e às autoridades competentes”, lembra. Davi Kopenawa Yanomami, presidente da Hutukara, conta que em 2005, a associação desenvolveu um projeto piloto para a formação de uma pequena rede de rádios instalada em 12 regiões da TIY. Segundo ele, a rede-piloto se mostrou muito eficiente na circulação de informações fundamentais para o êxito das ações da associação, e em apenas oito anos o número
FOTOS: ONG HUTUKARA
de regiões associadas passou de 12, em 2004, para 32 em 2012. Desde o início do projeto já foram instalados 33 equipamentos em diversas comunidades Yanomami. Segundo Dário, o objetivo final é beneficiar 87 aldeias. “Nosso território é muito grande e as lideranças quase sempre ficam na cidade. Na terra Yanomami não existe telefone, não existe celular então é muito difícil para se comunicar. A única solução que encontramos foi a radiofonia”, diz ele, que também revela que é por meio da tecnologia que as lideranças que ficam nas capitais podem marcam suas reuniões e encontros e saber mais sobre aqueles que ficaram nas tribos. “É fundamental para o povo Yanomami”, diz Davi. Dário explica que a escolha das comunidades para instalação das rádios é feita em conjunto com as lideranças de cada região e segue alguns critérios. O primeiro leva em conta a demografia e considera que a distribuição dos equipamentos deve ser proporcional ao número de aldeias Yanomami que existem na área, e o outro considera a vulnerabilidade do local para priorizar as terras que são constantemente afetadas por atividades como o garimpo. O custo unitário para a instalação de um rádio transmissor, que envolve a aquisição do kit, formado por rádio, antena, painel solar e bateria, além do transporte aéreo, chega a cerca de R$ 10 mil. “É um custo alto por isso precisamos de ajuda”, comenta Dário. Ele explica que ao receber o equipamento os líderes da comunidade beneficiada passam por pequenos treinamentos para aprender a manusear melhor o aparelho. Segundo ele, a ação é para assegurar que tudo ocorra de forma correta e a comunicação seja clara e eficiente. A internet também vem sendo utilizada pelos Yanomami em uma ação que visa ampliar o projeto da radiofonia. Por meio do site Hutukara, os indígenas esperam conseguir, em um primeiro momento, a captação de recursos para implantar a comunicação por rádio em mais 21 comunidades, já que o custo total do projeto é de quase R$ 751 mil.
ESFORÇOS
O custopara a instalação de um rádio transmissor, que envolve a aquisição do kit, formado por rádio, antena, painel solar e bateria, além do transporte aéreo, chega a cerca de R$ 10 mil
AGOSTO DE 2016
• REVISTA AMAZÔNIA VIVA • 45
COMUNIDADE
EXPANSÃO
A ampliação do número de rádios de 33 para 54 vai beneficiar mais 35% do total de comunidades Yanomami no Brasil
A ampliação do número de rádios de 33 para 54 vai beneficiar mais 35% do total de comunidades Yanomami na região brasileira. Os recursos poderão possibilitar a compra de rádios, antenas, painéis solares, inversores e baterias. Segundo Dário, a escassez de recursos motiva os Yanomami a buscarem diferentes meios de captação de dinheiro. “Divulgamos o projeto há alguns anos. Acreditamos que o alcance da internet vai nos ajudar, pois esse projeto trará muitos benefícios para o nosso povo”, avalia. A campanha de captação de recursos teve início em outubro de 2012, por ocasião das comemorações da homologação dos 20 anos da Terra Indígena e contou inicialmente com doações do ISA, da Fundação Rainforest da Noruega e da Embaixada da Noruega e atualmente é aberta a todos que se interessem pela causa. No site da Hutukara, os indígenas divulgam o número da conta bancária disponível para doações, bem como detalhes sobre o projeto. Os Yanomami são uma população indígena que habitam a região de fronteira do 46 • REVISTA AMAZÔNIA VIVA •
AGOSTO DE 2016
Brasil com a Venezuela, com reserva estabelecida entre os dois países. Como a maioria dos povos indígenas do continente, eles provavelmente migraram pelo Estreito de Bering entre a Ásia e a América cerca de 15 mil anos atrás, e se espalharam lentamente para a América do Sul. Com uma população total de cerca de 32 mil índios, o território Yanomami enfrenta problemas que, segundo Dário Kopenawa Yanomami, acompanham o povo há muitos anos. Durante a década de 1980, eles sofreram imensamente quando cerca de 40 mil garimpeiros brasileiros invadiram suas terras, destruíram muitas aldeias, e os expuseram a doenças para as quais não tinham imunidade. O genocídio levou cerca de vinte por cento dos Yanomami que morreram em apenas sete anos. Depois de uma longa campanha internacional liderada por Davi Kopenawa Yanomami, a terra Yanomami no Brasil foi finalmente demarcada em 1992 como o “Parque Yanomami”, e os garimpeiros foram expulsos. Segundo Dário, mesmo apos o ato, ainda existem garimpeiros que trabalham
ilegalmente no local, transmitem doenças como malária e poluem os rios e as florestas com mercúrio. Além disso, a tribo também encontra desavenças com fazendeiros e pecuaristas que desmatam e destroem a terra. “São os nossos problemas antigos que infelizmente agora chamamos de atuais”, revela ele que também não esquece da má qualidade da saúde que piora a situação. “Vamos tentar melhorar”, completa. Para Dário, a Hutukara, que significa “a parte do céu da qual nasceu a terra”, tem um papel fundamental na luta dessas causas. “A Hutukara dialoga com o governo e as autoridades para melhorar a situação”, explica. A instituição criada em 2004 com a reunião de Yanomami de onze regiões no Brasil tem o objetivo de proteger a integridade física do território, zelar pela saúde e educação do povo, além de fomentar a cultura da tribo em suas manifestações regionais e religiosas. “É um trabalho bonito”, comenta Dário, que se mostra bem orgulhoso por conseguir ajudar o seu povo a ter uma condição de vida melhor.
ARTE, CULTURA E REFLEXÃO FERNANDO SETTE
PENSELIMPO
Pensadora do teatro A DIRETORA E PESQUISADORA WLAD LIMA FALA DOS 40 ANOS DEDICADOS ÀS ARTES CÊNICAS PÁGINA 48
HOMENAGEM
ARTESANAL
O artista plástico Ruy Meira deixou um grande legado para a cultura do Estado. Hoje, ele inspira novas gerações de artistas. PÁG.52
Veja como confeccionar uma embalagem sustentável com as dicas dos instrutores das Oficinas Curro Velho. PÁG.58
AGOSTO DE 2016
• REVISTA AMAZÔNIA VIVA • 47
PAPO DE ARTISTA
No espaço das diferenças WLAD LIMA É UMA FEROZ DEFENSORA DO TEATRO NO ESTADO. PARA ISSO, NÃO TEM MEDO, MUITO MENOS VERGONHA, DE EXPOR SUAS VERDADES, SUA FORMA DE PENSAR, SUA EXISTÊNCIA. HÁ QUASE 40 ANOS DEDICANDO-SE ÀS ARTES CÊNICAS, ELA ESTÁ EM UM CONSTANTE RELIGAMENTO ENTRE A NATUREZA HUMANA E A DIMENSÃO INQUIETANTE DO ESPÍRITO. TEXTO SÁVIO SENNA FOTOS FERNANDO SETTE
48 • REVISTA AMAZÔNIA VIVA •
AGOSTO DE 2016
P
elas janelas coloridas, a luz do sol entra em cada cômodo, exibindo estantes cheias de livros que cercam as prateleiras, da História do Teatro Mundial à Teoria Psicanalítica. Por cima das estantes, pincéis de pintura, potes antigos de bombons e um globo terrestre amarelo. Pendurados na parede, vários quadros com desenhos em nanquim e uma marionete do pinóquio. Neste casarão, certa vez, Wlad Lima recebeu uma amiga, atriz e xamã, que disse a ela: “Na minha casa não tem tudo isso! Não preciso de tanto”, referindo-se a imensa quantidade de objetos acumulados ali. Tanto conhecimento, reunido e sistematizado, ao longo de quase 40 anos dedicados ao teatro no Pará. Desde a iniciação artística, estudando na Escola de Teatro de Dança da Universidade Federal do Pará, até a institucionalização da pesquisa acadêmica, com a conclusão do doutorado, Wlad contorna o que considera o primeiro ciclo da existência. Atuou, encenou e dirigiu dezenas de espetáculos por toda a cidade, formando estudantes, lotando plateias e enfrentando opiniões preconceituosas e provincianas. Nessa entrevista, Wlad Lima conta um pouco desse novo segundo ciclo e de novos “quereres” que estão surgindo. De que forma esse contato com a sabedoria ameríndia mudou teu pensamento sobre a arte? Essa perspectiva de que a natureza é um composto, com várias naturezas mas somos uno, as plantas e os animais. A noção de que a floresta está aqui e que tu estás dentro. Estamos dentro de uma área que foi desmatada, asfaltada e virou uma floresta urbana. Por que eu estou falando de teatro pós-moderno, teatro do absurdo, aos moldes do europeu e não estou falando do teatro da floresta? O que nós temos como cena? Todo o trabalho do ritual xamânico é cena. Eu não sei se devo chamar isso de teatro, mas tem algo performático ali. AGOSTO DE 2016
• REVISTA AMAZÔNIA VIVA • 49
PAPO DE ARTISTA
ARQUIVO PESSOAL ARQUIVO PESSOAL ARQUIVO PESSOAL
Nas redes sociais, de certa forma, encenamos um personagem ao gravar um vídeo ou posar para uma foto. Tu traças algum paralelo do contemporâneo com os povos ancestrais? Enquanto nós temos computadores que acionam uma construção virtual, os indígenas também têm esse mundo virtualizado. O Espírito da Lua, por exemplo, que não é nem masculino nem feminino e vem falar contigo. Enquanto a gente está operando o mundo virtual por computadores, eles usam uma bebida, um chá, um tabaco, uma folha ou uma erva para mediar isso. Quando a gente diz: “ah, vou colocar minhas fotos na nuvem!”. Que nuvem é essa? Que espaço é esse? São mundos desmaterializados que podem ser acionados por rituais. Quando eu falo isso também penso em teatro. “Ô de casa, posso entrar para cuidar?” é um espetáculo em que a nossa ideia é ir para dentro da tua casa fazer teatro, desde que tu queiras receber um ato cênico dadivoso, isto é, uma dimensão artística, mas com dimensão espiritual. E aí tu tens duas escolhas: o cardápio de gratidão, em que tu queres agradecer pelo momento ou o cardápio da transformação, em que tu precisas mudar alguma coisa. O que cabe a você? Escolher algum local na casa para receber, convidar a tua família, teus parentes e vizinhos. O que cabe a você, além de abrir a casa, é fazer um pequeno lanche. Aí a gente leva o trabalho, come junto e depois abre um grande bate-papo. Isso tem a ver com o teatro como uma dimensão humana de estar junto, de criação e transformação pessoal. Isso me lembra o ato de receber um médico ou um xamã, quando se está enfermo, ou até a peregrinação das novenas católicas. Sim, é terapêutico.
DOS PALCOS
Wlad Lima e alguns de seus personagens e espetáculos
50 • REVISTA AMAZÔNIA VIVA •
AGOSTO DE 2016
E o Poética Criatura? Meu projeto é novamente oferecer um espaço novo para cidade e me colocar em trabalho com o coletivo lá. A ideia é acomodar a Xoxois, que é o coletivo de mulhe-
“O mundo deu várias voltas e hoje eu percebo que a arte não é suficiente. Ela tem que atravessar a vida e ser atravessada por ela.” res que fazem esse trabalho dadivoso, os Brutos Desenhadores, e a gente quer abrir um grupo de trabalho clínico. Pensar o processo de criação de algo como uma grande terapia de reconstrução e para isso a gente tem uma pessoa de Terapia Ocupacional, artistas, doutores e temos um membro com formação psicanalítica. A gente quer se juntar para clinicar artisticamente, fazer uma clínica artística para quem está com dor. Esse conhecimento tem que ser transdisciplinar? Sim. Eu fui obrigada a ter formação em Ciências Sociais porque naquela época não tinha graduação em Artes Cênicas. O mundo deu várias voltas e hoje eu percebo que a arte não é suficiente. Ela tem que atravessar a vida e ser atravessada por ela. Então eu acredito muito que temos que trabalhar com o complexo, tudo interligado. A gente leva a vida inteira para descobrir que o nosso corpo vai ser desmanchado e passar por uma metamorfose radical para se transformar em outra coisa. Daí tu queres que algo teu fique no mundo. Então acreditar numa outra vida, numa outra dimensão. Quanto mais tu te aproximas disso, mais tu queres religar tudo.
E religião significa isso. É. “Religare”. Comparando o período antes da graduação em Artes Cênicas para hoje muita coisa mudou? Quando eu comecei a fazer teatro era uma prática que não se pensava como ofício de vida. O teatro paraense sempre era feito por jovens porque depois de uma determinada idade tu ias fazer outra coisa porque teatro não levava a nada. Quem queria como profissão tinha que ir embora daqui, mas a minha geração ficou. Nessa terceira geração, por exemplo, essa cuíra de sair daqui existe, mas é diferente. Não é só para fazer teatro, é para fazer teatro, se tornar profissional, ser pesquisador, buscar formação em mestrado, doutorado. Outra coisa é que com todos essas pessoas eu faço a minha reivindicação para o apoio institucional, para a política pública, mas se ela não vem eu faço a minha história. As pesssoas dizem assim: “Você encontrou as portas do mercado?”
Eu digo: “Olha, não tem porta nenhuma, muito menos mercado nessa terra, mas eu construo a porta do meu mercado, eu construo o que eu quero fazer. Se for preciso eu comprar uma casa para fazer meu espetáculo, eu vou fazer isso, mesmo na doidice, vou mesmo”. Tu vislumbras algum modelo? Eu vou furando os lugares e fazendo que o teatro seja necessário ali. Por exemplo, hoje eu acho que ele é necessário dentro das casas das pessoas. Também tenho um espetáculo com o Grupo Cuíra chamado “O Auto do Coração”, que é dentro do ônibus. Tu pegas ao lado do Theatro da Paz e sai pela cidade durante uma hora e meia escutando histórias de amor. Então cada um de nós tem um modelo próprio. Como ele foi necessário para ti? O teatro para mim foi salvador porque é um lugar que recebe todo tipo de gente. E aí o teatro recebeu uma adolescente, com 17 anos de idade, cheia de comple-
xos, imensa, e disse: “Ótimo, que bom que você é gorda. Nós precisamos trabalhar com corpos gordos!”. Hoje estou há 37 anos fazendo teatro nessa cidade. Eu estou no palco, na cena, na rua fazendo teatro. Assim como a minha vida, o que eu vejo ao meu redor são histórias parecidas, pois o teatro tem uma implicância enorme na vida das pessoas. Eu considero importante sustentar minha família e sustentar meu teatro. Aí nessa hora eu não quero ninguém pagando pelo meu teatro. Não quero verba nenhuma de estado, de nada, eu quero fazer o meu teatro. Como tu vês esse processo da “gordofobia” sendo mais identificado na sociedade? Tudo que não se enquadre no modelo do homem, do macho, da mulher, da magra, é discrimando. Hoje o humano está batalhando muito pelo espaço das diferenças. Eu sou mulher, gorda, negra, sapatão e uma onça. Eu sinto isso tudo, mas eu gosto desse lugar da minoria. AGOSTO DE 2016
• REVISTA AMAZÔNIA VIVA • 51
MEMÓRIAS BIOGRÁFICAS
mestre na arte do fazer TEXTO ANA PAULA MESQUITA ILUSTRAÇÕES JOCELYN ALENCAR
52 • REVISTA AMAZÔNIA VIVA •
AGOSTO DE 2016
Ruy Meira 1921-1995
O
cenário das artes plásticas paraenses tem um nome: Ruy Augusto de Bastos Meira, um dos artistas que executou as primeiras manifestações de arte abstrata no Pará, começando pela pintura e passando por técnicas como gravuras e esculturas em cerâmicas. Ruy nasceu no dia 30 de novembro de 1921 e tomou gosto pelos trabalhos artísticos na década de 1940, quando ingressou na Escola de Engenharia e teve aulas de desenho. Nesse mesmo período, expôs trabalhos no V Salão Oficial de Belas Artes do Estado do Pará. Era o início do trabalho de um artista muito ligado às raízes e tradições, indo de encontro a outros movimentos artísticos mais avançados. As obras do artista plástico refletem muito da realidade social do Pará, como destaca Maria Angélica Meira, filha de Ruy. Ela se dedicou a pesquisar a trajetória artística do pai, publicada na dissertação “A arte do fazer: o artista Ruy Meira e as artes plásticas no Pará dos anos de 1940 a 1980”. Na pesquisa, Angélica destaca uma fala do crítico de arte Paulo Herkenhoff: “O que eu diria é que a obra de Ruy, sobretudo, é um periscópio pelo qual se pode ver o sistema de arte no Pará. É a produção do Pará. A partir da obra de Ruy, você pode encontrar aspectos institucionais, políticos e estéticos, questões plásticas, culturais e abstratas, além das relações com a cultura local”. Na década de 1980, Ruy formou os primeiros contatos com círculos artísticos local e nacional. Foi um período fundamental para atuação e produção. Ele partiu da contemplação da natureza como fonte de inspiração. Demoliu o vocabulário plástico visual mais figurativo e se deteve nos traços minimalistas, explorando uma reveladora capacidade de síntese nas telas. Foi um inquieto que não buscou se enquadrar em rótulos. As atividades enquanto engenheiro civil tinham forte tendência à arquitetura. Ruy elaborou projetos que utilizavam detalhes de painéis em madeiras ou em azulejos. Os mais requintados materiais foram aproveitados, principalmente, na construção das fachadas. “Tomou como lema somente construir seus próprios projetos e assim foi responsável por centenas de edificações, entre casas, prédios de apar-
tamento e lojas, além das reformas realizadas tanto em Belém como em outras cidades do interior do Estado”, esclareceu Maria Angélica. Nas construções e elaborações de projetos estão a Igreja Bom Pastor, as reformas dos cinemas das redes Severiano Ribeiro e de várias agências bancárias. Ainda participou, junto com o irmão Augusto Meira Filho, da Comissão de Construção do Monumento a Lauro Sodré, instituída em 1955, pelo então governador Magalhães Barata. No trabalho com cerâmica, Ruy não se apropriou de técnicas modernas e materiais industrializados, mas sim ajustando-se dos “antigos modos de fazer”, de acordo com as necessidades. As argilas que eram aproveitadas pelo artista eram das olarias nas cercanias de Belém. Assim como os indígenas e os caboclos, Ruy utilizava os rolinhos de argilas que eram cuidadosamente organizados. Os pigmentos da matéria-prima eram todos naturais. Ruy nunca se preocupou em elaborar as esculturas em cerâmicas. “Para ele, o meticuloso planejamento dispensado para a realização de seus quadros é abandonado na cerâmica, onde o artista cria as peças somente em sua imaginação. Quanto aos desenhos, decorações incisas e colorações, estas eram feitas diretamente na superfície da cerâmica e sem preocupação com a rigidez”, explicou Angélica. Como a maioria dos pintores, Ruy começou no figurativismo. Seu processo de construção como artista sempre foi marcado pela informalidade e espontaneidade, sem nenhuma preocupação temporal quanto à mudança de estilos e temáticas. Logo, reproduzia fielmente paisagens, naturezas mortas e retratos. Ruy amadureceu sua arte. Manteve relações com outros artistas plásticos, participou de exposições e, em 1951, produziu obras no estilo cubista. Recebeu críticas, mas isso o incentivou a partir para outro desafio: o abstracionismo. O artista faleceu em 1995. Suas obras estão em exposição permanente em uma sala que leva seu nome no térreo do Museu de Arte Contemporânea Casa das Onze Janelas, além de outros museus locais e nacionais. Recentemente, a Fundação Cultural do Pará inaugurou a Sala Ruy Meira, na Casa das Artes. AGOSTO DE 2016
• REVISTA AMAZÔNIA VIVA • 53
AGENDA REPRODUÇÃO
COMPORTAMENTO Em setembro, o Instituto Brasileiro de Neuropsicologia e Comportamento (IBNeC) realiza o II Congresso Norte Nordeste de Ciências do Comportamento. O evento, que será realizado entre os dias 21 e 24 de setembro, no Hotel Princesa Louçã, na avenida Presidente Vargas, 882, Campina, contará com cursos, mesas redondas, conferências, entre outros, sobre assuntos como fisiologia sensorial, transplantes neurais, expressão das emoções, neuropsicologia, e mais. Ainda é possível se inscrever no evento e submeter trabalhos. Informações estão reunidas no site oficial do IBNeC, www.ibnec.org.
TELECOMUNICAÇÕES A Sociedade Brasileira de Telecomunicações (SBrT) promove o XXXIV Simpósio Brasileiro de Telecomunicações e Processamento
RUY MEIRA
Homenagem em galeria
de Sinais (SBrT 2016), o encontro de maior relevância acadêmica nacional da área. O evento será realizado de 30 de agosto a 2
Até o dia 2 de setembro é possível visitar a
lorização dos bens culturais amazônicos, tem
de setembro, no Barrudada Tropical Hotel,
“Mostra Ruy Meira: A Arte do Fazer”. A exposi-
como destaque o caráter educativo, priori-
em Santarém (PA). O tema desta edição do
ção marca a inauguração da galeria Ruy Mei-
zando nomes que influenciaram na formação
simpósio será “Telecomunicações e Desa-
ra, na Casa das Artes, praça Justo Chermont,
de outros artistas. Outro diferencial da sala é
fios para Inclusão Digital e Desenvolvimen-
236, inaugurada pela Fundação Cultural do
a proposta de receber visitas de escolas pú-
to Tecnológico na Amazônia”. As inscrições
Pará (FCP), e apresenta pinturas, esculturas,
blicas e grupos pedagógicos. A ideia é manter
on-line para participar do SBrT 2016 seguem
croquis e catálogos originais, além de repro-
uma agenda periódica de visitação de escolas
até o dia 18. Após esse período, as inscri-
duções de fotos e textos que contextualizam a
públicas e outros grupos com perfil pedagó-
ções ocorrerão somente no local do evento.
trajetória do artista. A curadoria da exposição
gico, estabelecendo um elo entre a arte e os
Mais informações no site www.sbrt.org.br/
ficou nas mãos de Maria Angélica, filha do ar-
processos educativos.
sbrt2016.
tista. Ruy Meira, paraense de importância na
A mostra segue até o dia 2 de setembro, de
cena cultural nacional e internacional, atuou
segunda a sexta, das 9h às 19h, com entrada
EXPOSIÇÃO
na década de 50. Sua obra era diversificada,
gratuita. Visitas mediadas podem ser solicita-
Segue aberta para visitação no Espaço Cul-
abrangendo diversos nichos, como pintura,
das pelo e-mail galeriacasadasartes@gmail.
tural Banco da Amazônia a mostra “Trajetó-
escultura e cerâmica.
com, ou no próprio local, das 14h às 17h. In-
rias”, que reúne obras de 15 artistas. Entre os
A galeria Ruy Meira, espaço voltado para a va-
formações: (91) 3202-4391.
participantes está a artista Eliza Arruda, que apresenta ilustrações inspiradas no lirismo
ESTUDOS DO LAZER NA AMAZÔNIA
do universo feminino. Também participam da mostra Alberto Bitar, Paulo Sampaio, Ary
De 14 a 16 de setembro será realizado o II Congresso Brasileiro de Estudos do Lazer (CBEL), pro-
Souza, Bruno Cantuária, Egon Pacheco, Elci-
movido pela Associação Brasileira de Pesquisa e Pós-Graduação em Estudos do Lazer (ANPEL) e
clei Araújo, Flavya Mutran e Emanuel Franco
pelo Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Sustentável do Trópico Úmido (PPGDS-
- que também é responsável pela curadoria
TU), do Núcleo de Altos Estudos Amazônicos (NAEA), da Universidade Federal do Pará (UFPA).
da exposição. A mostra “Trajetórias” marca
O evento, que tem como tema “Lazer, Desenvolvimento e Sustentabilidade”, tem por objetivo,
o início das festividades dos 74 anos do Ban-
entre outros, promover e ampliar o intercâmbio entre acadêmicos, profissionais e instituições
co da Amazônia (avenida Presidente Vargas,
interessadas em aprofundar conhecimentos no âmbito dos estudos sobre lazer, do desenvolvi-
800, Campina) e fica aberta até o dia 26 de
mento e da sustentabilidade. Mais informações pelo site www.cbel.com.br.
agosto, sempre de segunda a sexta, das 9h às 17h. A entrada é gratuita.
54 • REVISTA AMAZÔNIA VIVA •
AGOSTO DE 2016
FAÇA VOCÊ MESMO
Embalagem artesanal Embalagens diferenciadas têm sido um dos atrativos na hora de dar um presente especial ou somente guardar coisas de uma forma mais cheia de estilo. Lojas especializadas existem em todo o país. E para fazer embalagens originais, tanto para uso pessoal como para vender, os técnicos da Fundação Curro Velho trazem uma técnica fácil e versátil: cartonagem. A técnica possibilita a confecção de vários objetos utilitários e decorativos além de embalagens: blocos de anotações, kits para organizar mesas de escritórios, porta retrato, caixas, embalagens entre outros. A base é em papel paraná (papelão), de gramaturas variadas e cola branca. Os revestimentos variam entre papel e tecido.
Atualmente, a cartonagem é muito usada na encadernação, mas data do Antigo Egito. Na época, eram usadas camadas de fibra ou papiro aglutinadas, suficientemente flexíveis para serem modeladas, enquanto molhadas, sobre as superfícies irregulares do corpo. O método era usado nas oficinas funerárias para produzir invólucros, máscaras ou painéis, os quais cobriam todo ou parte do corpo já mumificado e envolvido nas bandagens. O conjunto de técnicas de dobradura, medições e colagem é muito importante para o bom acabamento da peça, fazendo com que ela ganhe valor e beleza o que transforma a cartonagem em uma das artes mais utilizadas em nosso cotidiano.
• 1 folha de papel kraft
Do que vamos precisar? *Para uma embalagem de 10 cm de largura x 15 cm de altura
(dimensões: 41cm X 24 cm ) • 1 tesoura com pontas arredondadas • 1 régua • 1 lápis • Cola escolar • Pedaço de fio de sisal • Pincel
INSTRUTOR: JULIANA LEBREGO / COLABORAÇÃO: TÉCNICA EM GESTÃO CULTURAL LUIZA NEVES COORDENADORA DE ARTES VISUAIS DA FCP: DILMA TEIXEIRA / FOTOS : IONALDO RODRIGUES AGOSTO DE 2016
• REVISTA AMAZÔNIA VIVA • 55
FAÇA VOCÊ MESMO
4 7 10
Inicie recortando o papel kraft nas dimensões de 41 cm por 24 cm e marcando com o lápis uma linha de 1 cm na altura do papel. Faça um vinco sobre a linha traçada, utilizando a parte cega da lâmina do estilete (que não tem corte) e faça uma dobra;
Junte as duas linhas que se formaram e rebaixe novamente o papel, formando assim um retângulo;
Remonte o retângulo e recorte as quatro laterais até a altura do vinco.
Com a ajuda de um furador, faça os furos na parte superior da embalagem para passar o sisal;
2 5 8
11
Com o pincel, passe cola no espaço de 1 cm que você dobrou;
Em uma das faces do papel, faça uma marcação de 9 cm na parte que será o fundo da embalagem. Deite a embalagem e marque todos os lados;
Cole as duas abas de forma paralela;
Passe o fio de sisal por entre os furos e faça um laço;
3 6
Cole na outra extremidade do papel e depois rebaixe o papel utilizando as mãos ou uma espátula;
Faça um vinco na linha marcada utilizando a costa do estilete;
9 12
Para melhorar o acabamento, faça um pequeno corte nas pontas das outras duas abas que ficaram por cima e cole-as também;
Pronto! Temos uma embalagem simples de fazer, sustentável e bonita.
Para saber mais Quem quiser conhecer mais sobre técnicas artísticas pode se inscrever nas oficinas Curro Velho, da Fundação Cultural do Pará. Crianças a partir de 12 anos podem participar. O Curro Velho fica localizado na rua Professor Nelson Ribeiro, nº 287, esquina com a travessa Djalma Dutra, bairro do Telégrafo. Telefones: (91) 3184-9100 e 3184-9109. 56 • REVISTA AMAZÔNIA VIVA •
AGOSTO DE 2016
RECORTE AQUI
1
ATENÇÃO: Essa atividade pode ser feita por crianças, desde que acompanhadas por um adulto responsável
Ruídos Depois de viúvo
, a ideia da chácara ganhou chances reais. Estava aposentado, os filhos casaram, os netos e bisnetos o visitavam pouco. Colecionava velórios de amigos e parentes. Na terça, uma bola atravessou o muro e se alojou nas petúnias do jardim. Pegou uma faca de churrasco, inutilizou o brinquedo e o devolveu para rua em duas bandas, furioso. Ele abriu o portão e viu o grupinho de moleques em dispersão. Pensou em pedir desculpas, reparar o erro. Entrou, sentou-se na cadeira de balanço, que rangeu, como rangeram os seus ossos. Enfim, lembrou que nasceu em 1935. Viu o mundo se transmutar, ganhou dinheiro, a família cresceu e se desfez. Havia poucos ou nenhum plano. Talvez o único dele fosse a propriedade do Marajó. O retiro bucólico era um sonho de funcionário público de carreira, conquistada na época em que não se exigia concurso e consolidada com dedicação, competência e lisu-
LEONARDO NUNES
BOA HISTÓRIA
ra. Começou debaixo, como manda a cartilha. De menino de recados chegou a superintendente adjunto! Agora morava em uma casa confortável de condomínio. Cada cômodo específico tinha ruídos do passado. Na cozinha, o apito de uma panela de pressão, vez ou outra. No quarto ao fundo, o eco de algazarra pueril. Na sala de jantar, murmúrios de uma cantoria feminina. Não dava medo, incomodava apenas. Depois da bola cortada, decidiu arrumar a mala e partir para chácara, finalmente. A estrada, a balsa e a viagem longa o cansaram. Chegou à noite e o caseiro não o reconheceu. Os dois eram anciãos e a última vez em que se falaram as televisões coloridas custavam o preço de um carro novo. Só de manhã se viram direito. Equívocos desfeitos. Ele saiu para a praia e aspirou o quanto pode do cheiro da maresia marajoara. A casa estava conservada, apesar do mofo. Nas paredes, fotos de verões antigos. No quintal, o jirau,
as panelas de ferros e os improvisos de anos atrás das poucas vezes em que esteve com a família no lugar. Fez planos novos: uma horta, um gerador mais potente, as cercas novas e criação de porcos. Em seis meses, a vida voltaria ao sítio. Escureceu numa calmaria profunda. Passou a noite de cara para cima. Contou as telhas e desviou de morcegos. O arrulho das ondas era a única zoada. Uma casa sem passado não faz nenhum barulho. De manhã, pegou a caminhonete e fez o caminho de volta para Belém. O caseiro não entendeu nada, mas gostou da partida do proprietário a quem acreditava ter morrido havia uns 20 anos. Antes de chegar em casa, comprou uma bola da seleção brasileira e chocolates. À noite, encontrou a cadeira rangente. Sentou-se tomado de ansiedade para se redimir com os pequenos vizinhos e aguardou seus fantasmas se manifestarem no vazio da solidão que lhe sobrara. AGOSTO DE 2016
Anderson Araújo
é jornalista e escritor
• REVISTA AMAZÔNIA VIVA • 57
NOVOS CAMINHOS
Comunicação e conscientização
Nesses tempos de intensificação das redes sociais, não
THIAGO BARROS
é jornalista, mestre em Planejamento do Desenvolvimento Sustentável (NAEA-UFPA) e professor da Universidade da Amazônia @thiagoabarros
são apenas as pessoas ligadas ao movimento ambiental que falam sobre meio ambiente. O tema e sua importância perpassam no discurso de cientistas, empresários, políticos, líderes religiosos, entre outros. No entanto, para inúmeros críticos, a mídia – dada a sua importância social – não espelha esta movimentação como deveria. A mídia avança na cobertura ambiental na medida em que é pressionada pela sociedade - bem mais informada em relação às discussões sobre meio ambiente e desenvolvimento do que há três décadas. Grande parte desta conscientização está ligada ao surgimento e à ação de Organizações Não-Governamentais (ONGs), que retomaram o enfraquecido movimento ambientalista nos anos 90 para pressionar governo e empresariado por alternativas ao atual modelo de desenvolvimento. A possibilidade de memória disponível da mídia é um ponto extremamente positivo e pode engrossar ações coletivas de mobilização de atores. Pela visibilidade que oferece, é capaz de causar fortes impactos nas discussões, nas agendas públicas. Nesse processo de comunicação, a compreensão dos conflitos torna-se fundamental. O uso dos meios de comunicação como ferramentas educacionais e de mobilização transforma-se em um problema quando qualquer informação repassada por fontes é trabalhada como verdade absoluta. Conceitos básicos, como meio ambiente, desenvolvimento sustentável, biodiversidade e
58 • REVISTA AMAZÔNIA VIVA •
AGOSTO DE 2016
conservação, seguem obscuros no imaginário popular, como apontam recentes pesquisas de opinião. Uma evolução anômala da consciência ambiental, deslocada da relação com a ação social, implica que o meio ambiente não tem a ver com o cotidiano das pessoas e não interfere de forma drástica no dia a dia. Esse problema se reflete nos meios de comunicação, ganhando ressonância, mostrando grandes questões, mas afastando-as dos grandes centros. Dentro do próprio país, mas tão distante dos brasileiros. Existe uma grande produção de conhecimento que circula muito pouco na sociedade. Os governos têm o papel de oferecer condições para a qualificação da consciência ambiental, mas ainda não utilizam suas ferramentas de maneira eficaz. Políticas públicas relutam em se materializar além dos documentos assinados em reuniões. Caem no esquecimento à espera de um “gancho” que as recoloque em exposição. Não surpreende, desta forma, o resultado de levantamento sobre opinião ambiental divulgado recentemente pelo instituto Market Analysis: 71% dos entrevistados não “confia nada” no governo nacional como operador de benefícios sociais. No contexto da crise política e econômica, aponta a pesquisa, os temas ambientais pouco aparecem de modo espontâneo na lista de preocupações dos brasileiros. Com o crescimento do desemprego e insegurança, falta de governabilidade e corrupção, a discussão ambiental fica para depois.
“Existe uma grande produção de conhecimento que circula muito pouco na sociedade. Os governos têm o papel de oferecer condições para a qualificação da consciência ambiental, mas ainda não utilizam suas ferramentas de maneira eficaz.”
ECOCHARGE