Revista Amazônia Viva ed. 64 / dezembro de 2016

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REVISTA ENCARTADA NO JORNAL O LIBERAL. NÃO PODE SER VENDIDA SEPARADAMENTE.

DEZEMBRO 2O16 | EDIÇÃO NO 64 ANO 6 | ISSN 2237-2962

EXTINÇÃO A AMEAÇA REAL QUE RONDA A CASTANHA-DO-PARÁ

A falta de políticas públicas ambientais de preservação e conservação e o desmatamento desenfreado na região colocam a castanheira em risco de desaparecimento da flora amazônica nos próximos anos. Mas pesquisas sobre o plantio sustentável da espécie podem mudar esse cenário.

CLIMA

Decisões do Acordo de Paris se refletem na Amazônia

MADEIRA

Manejo florestal muda a realidade em Porto de Moz

CINEMA

Pará urbano e folclórico ganha vasta produção audiovisual




EDITORIAL

PUBLICAÇÃO MENSAL DELTA PUBLICIDADE - RM GRAPH EDITORA DEZEMBRO 2016 / EDIÇÃO Nº 64 ANO 6 ISSN 2237-2962 Presidente LUCIDÉA BATISTA MAIORANA Presidente Executivo ROMULO MAIORANA JR. Diretor Jurídico RONALDO MAIORANA Diretora Administrativa ROSÂNGELA MAIORANA KZAM Diretora Comercial ROSEMARY MAIORANA Diretor Industrial JOÃO POJUCAM DE MORAES FILHO Diretor JOSÉ LUIZ SÁ PEREIRA Conselho editorial RONALDO MAIORANA JOÃO POJUCAM DE MORAES FILHO LÁZARO MORAES CARLOS BORGES

AMEAÇA NA FLORESTA

A castanha-do-pará é um dos principais produtos da cultura alimentar da Amazônia, mas sua árvore é considerada vulnerável à extinção

Reinado vulnerável ao risco de extinção

FELIPE JORGE DE MELO Editor-chefe

No auge da produção extrativista na Amazônia, nos séculos 18 e 19, além da exploração da seringueira, que era sangrada por milhares de trabalhadores para a extração do látex, outras espécies vegetais da flora amazônica eram comumente subtraídas da floresta em larga escala. Uma delas, a castanheira (hoje com o complemento “do-brasil” no nome para fins comerciais em âmbito internacional), por longos anos serviu para movimentar a indústria alimentícia na região. Fazendo um recorte para o século 21 o que se vê atualmente, segundo o Ministério do Meio Ambiente, é um risco iminente de extinção da espécie, considerada a “rainha da Amazônia”. Sua semente, a castanha-do-pará, perde cada vez mais espaço no mercado

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nacional e do exterior devido à concorrência com outros produtos regionais, como o açaí. Com a produção em baixa, a castanha fica à mercê do esquecimento, também motivada pela falta de hábito de consumo, principalmente pelas novas gerações de amazônidas. Porém, além desse fator alimentar, a maior ameaça à castanheira-do-brasil, segundo o pesquisador da Embrapa Amazônia Oriental Urano de Carvalho vem do modelo de ocupação da região amazônica, já que a derrubada de árvores ainda ocorre constantemente por aqui. O desmatamento, encorajado pela falta de políticas públicas ambientais mais rígidas no país, está dizimando aquela que ainda mantém a majestade em meio às outras espécies do reino vegetal na Amazônia.

REDAÇÃO Jornalista responsável e editor-chefe FELIPE JORGE DE MELO (SRTE-PA 1769) Coordenação geral LUCIANA SARMANHO Editor de arte FILIPE ALVES SANCHES (SRTE-PA 2196) Pesquisador e consultor técnico INOCÊNCIO GORAYEB Colaboraram para esta edição O Liberal, Agência Pará de Notícias, Agência Brasil, Museu Paraense Emílio Goeldi, Universidade Federal do Pará, Universidade do Estado do Pará, Fundação Cultural do Pará - Oficinas do Curro Velho (acervo); Alinne Morais, Ana Paula Mesquita, João Carlos Pereira, João Cunha, Rodrigo Reis, Victor Furtado (reportagem); Fabrício Queiroz (produção); Carlos Borges, Fernando Sette (fotos); Anderson Araújo e Edane Acioli (artigos) André Abreu, J.Bosco, Jocelyn Alencar e Leonardo Nunes (ilustrações); Alexsandro Santos (tratamento de imagem). FOTO DA CAPA Carlos Borges AMAZÔNIA VIVA é editada por Delta Publicidade/ RM Graph Ltda. CNPJ (MF) 03.547.690/0001-91. Nire: 15.2.007.1152-3 Inscrição estadual: 158.028-9. Avenida Romulo Maiorana, 2473, Marco - Belém - Pará.

amazoniaviva@orm.com.br

PRODUÇÃO

REALIZAÇÃO


NESTA EDIÇÃO

EDIÇÃO Nº 64 / ANO 6

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Castanha-do-pará está sob ameaça O fruto da castanheira-do-brasil é um dos principais representantes da culinária regional, mas corre o risco de desaparecer devido ao desmatamento e à falta de consumo CAPA

MADEIRA

IMAGENS

Comunidade ribeirinha

O diretor de TV e cinema

SOCIEDADE

em Porto de Moz, no Pará,

CLIMA

Roger Elarrat está em

Jovens negros de Belém

participa de projeto de

O pesquisador Alberto

uma crescente produção

mostram quem são em

manejo florestal desen-

Teixeira Silva, doutor em

de projetos no audiovi-

um ensaio especial para a

volvido na Reserva Extra-

Ciências Sociais, faz uma

sual, transitando entre

Amazônia Viva. Ao resga-

tivista Verde para Sempre

análise do Acordo de Paris,

linguagens diversas,

tarem a cultura africana,

recebe certificação FSC,

discussão global sobre o

em um diálogo de igual

eles se posicionam contra

selo que atesta atividades

clima da atualidade, e seus

medida com o fantástico

o preconceito.

sustentáveis.

reflexos na Amazônia.

e com o real.

OLHARES NATIVOS

SUSTENTABILIDADE

ENTREVISTA

PAPO DE ARTISTA

FERNANDO SETTE

EVERALDO NASCIMENTO

LUCAS FILHO/ ASCOM IEB

FERNANDO SETTE

42 28 20

48

E MAIS 4 6 7 11 13 14 15 16 17 18 19 19 54 55 57 58

EDITORIAl AS MAIS CURTIDAS PRIMEIRO FOCO TRÊS QUESTÕES ELES SE ACHAM FATO REGISTRADO PERGUNTA-SE EU DISSE APPLICATIVOS CURIOSIDADES DA BIODIVERSIDADE DESENHOS NATURALISTAS CONCEITOS AMAZÔNICOS AGENDA FAÇA VOCÊ MESMO BOA HISTÓRIA NOVOS CAMINHOS

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CARLOS BORGES

DEZEMBRO2016


ASMAISCURTIDAS DESTAQUES DAS EDIÇÕES ANTERIORES

FERNANDO SETTE

NEGROS A reportagem “Belém - Casa do povo iorubá” (Capa, novembro de 2016, edição nº 63) mostra a força da herança cultural dos negros escravizados na Amazônia e nos ensinou o respeito e a admiração que devemos ter por eles. Lucina Costa Belém-Pará HERANÇA AFRICANA

A reportagem sobre a cultura iorubá em Belém foi a mais curtida e compartilhada em nosso Facebook, na edição de novembro, mês da Consciência Negra

Parabéns pela edição linda em pleno mês da consciência negra. Os negros precisam ser vistos com olhos da

FERNANDO SETTE

igualdade e livres do preconceito. Maria Conceição Gomes Ananindeua-Pará A reportagem da Amazônia Viva sobre a cultura iorubana em Belém na edição de novembro valorizou nossa história e nossa gente. Parabéns. Tatiana Cabral Belém-Pará

SMART CITY A entrevista com o pesquisador Denis do Rosário Lima na edição passada (Entrevista, novembro de 2016, edição nº 63) nos faz querer uma Belém mais moderna e de qualidade de vida para a população. Mas é uma EXPRESSÃO CULTURAL

A foto da sacerdotisa iorubana Mãe Neia de Oxumaré teve o maior número de “likes” no Instagram da revista, na edição passada. A foto fez parte da reportagem sobre a herança dos negros escravizados na Amazônia.

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Belém-Pará

da Amazônia Viva envie comentários, dúvidas, críticas e sugestões para o email amazoniaviva@orm.com.br ou escreva

instagram.com/amazoniavivarevista

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Antônio Bentes

Para se corresponder com a redação

fb.com/amazoniavivarevista

twitter.com/amazviva

muito distante.

FERNANDO SETTE

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pena que ainda seja um sonho muito,

para o endereço: Avenida Romulo USE UM LEITOR DE QR CODE PARA ACESSAR A EDIÇÃO DIGITAL DE NOVEMBRO

Maiorana, 2473, Marco, Belém - Pará, CEP 66 093-000 ou FAX: 3216-1143.


TEXTOS VICTOR FURTADO E ALINNE MORAIS SIDNEY OLIVEIRA / AGÊNCIA PARÁ

PRIMEIROFOCO

O QUE É NOTÍCIA NA AMAZÔNIA

Uma estrada no caminho das canoas

DESMATAMENTOS E ABERTURA DE RODOVIAS AMEAÇAM A VIDA DOS IGARAPÉS DA BACIA DO RIO AMAZONAS, NO PARÁ PÁGINA 8 E 9

CLIMA QUENTE

NATUREZA

O ano de 2016 deverá ser o mais seco na Amazônia, segundo a Nasa. O fenômeno El Niño agrava a falta de chuva na região. PÁG.10

O Centro Nacional de Pesquisa e Conservação da Biodiversidade Amazônica monitora botos e jacarés nos rios amazônicos. PÁG.12

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PRIMEIRO FOCO

Progresso avança sobre a natureza Os igarapés podem representar cerca de 80% dos cursos de água da Amazônia. Estão presentes em praticamente todas as paisagens naturais, abrigando uma rica diversidade de populações aquáticas, plantas e insetos. Os pesquisadores da Rede Amazônia Sustentável (R AS) os batizaram de “pequenos gigantes”, que, apesar da grandeza, são facilmente interrompidos por estradas de ter-

ra, aber t a s sem qua lquer est udo de i mpac to; g iga ntes que mu it a s vez es pa ssa m despercebidos aos ol hos dos gestores a mbient a is e empreendedores que precisa m de novos c a m i n hos. Essa é uma das preocupações da R AS, que ao longo de sete anos, estudou as transformações de 100 igarapés nos municípios de Paragominas, Belterra e Santarém. Os dados REDE AMAZÔNIA SUSTENTÁVEL

SIDNEY OLIVEIRA / AGÊNCIA PARÁ

da pesquisa inédita foram apresentados a gestores e órgãos do governo federal e do Estado no dia 6 deste mês, durante o “Simpósio Amazônia Sustentável. Caminhos para uma Amazônia mais sustentável: um diálogo entre ciência e sociedade”. Os resultados iniciais das observações foram surpreendentes e animadores: 143 espécies de peixes, 133 espécies de libélulas e outras 74 espécies de insetos aquáticos nos igarapés pesquisados. O que se encontrava numa extensão de 150 metros de igarapé chegava à diversidade populacional de países inteiros, onde as legislações ambientais e a cultura de preser vação são muito mais avançadas, como a Dinamarca ou a Noruega, por exemplo. Nos igarapés há muitas espécies raras, logo, mais ANÁLISE

Os pesquisadores da Rede Amazônia Sustentável estudaram os impactos sobre os igarapés na relação com as comunidades

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v ulneráveis ainda por ocorrerem em menor número. Contudo, toda essa diversidade se vê ameaçada com a abertura de vicinais, ramais ou estradas precárias. O primeiro e principal dano é a interrupção do cursos dos igarapés. É um caminho que interrompe outro, já que igarapé vem do tupi Ygara (canoa) e Apé (caminho) - caminho das canoas, numa tradução livre. Algumas das construções de estradas e pequenas pontes não levam em conta o nível da água e período quando são executadas. Por conta dessas construções, estima-se que na bacia do Alto Rio Xingu exista 10 mil pequenos reservatórios resultantes de igarapés interrompidos. A redução da conectividade entre as águas limita a movimentação e uso dos recursos pelos organismos aquáticos. Outra ameaça sobre os ecossistemas dos igarapés é a perda de profundidade devido ao assorea-

mento. Isso já limita a vida aquática. E com a profundidade menor, as temperaturas tendem a aumentar e também diminuir a diversidade e recursos. Em alguns casos, há múltiplas interrupções o longo do curso de um mesmo igarapé. A dimensão de impactos rapidamente salta de uma escala local para regional. A legislação ambiental, atualmente, considera que as estradas de terra geram baixo impacto ambiental, como obser va a pesquisadora Cecília Gontijo Leal, do Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG) e integrante da R AS. Ela toma como base os textos do Código Florestal e resoluções dos conselhos federal (Conama) e estadual (Coema) de meio ambiente. Porém, a crítica dela ainda mira a pouca atenção dada por cientistas a esses ecossistemas, que acabam sendo fontes de lazer, alimento e abastecimento de água. Fazem parte da

cultura e da economia. da cultura e, sobretudo, da paisagem natural de diversas áreas e comunidades. Para solucionar esses problemas, a R AS recomenda que os órgãos gestores do meio ambiente, tanto federal quanto estadual, incluam a preservação dos igarapés nos programas de gestão e conser vação de recursos hídricos, incluindo as microbacias das Unidades de Conser vação (UCs) já ex istentes. Outra possível medida é ex igir que a compensação a mbienta l inclua não só o repla ntio ou reposição de espécies vegeta is, como ta mbém traba lhos de rec uperaç ão da s ág ua s. E a ssi m, todos os novos empreend i mentos ag ropecuá r ios precisa m i nclu i r est udos de i mpactos a mbienta is sobre iga rapés du ra nte a const r ução de est radas e qua isquer out ras for mas de ex ploração, com const r uções or ientadas pelo poder públ ico.

REDE AMAZÔNIA SUSTENTÁVEL REDE AMAZÔNIA SUSTENTÁVEL

DENTRO D´ÁGUA

Os pesquisadores da RAS estão preocupados com a ameaça sobre os ecossistemas dos igarapés, que perdem a profundidade de suas águas devido ao assoreamento

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PRIMEIRO FOCO

Imagem mostra os efeitos do El Niño em uma área cortada pelo rio Negro, no Amazonas

EL NIÑO

Seca na Amazônia pode bater recorde histórico em 2016 O ano de 2016 deverá ser o mais seco na Amazônia. A conclusão é dos pesquisadores da Agência Espacial Americana Nasa. Segundo o grupo, o agravamento da falta de chuva é provocado pelo El Niño, fenômeno climático que causa o aquecimento das águas da superfície do Oceano Pacífico. Os pesquisadores afirmam que a falta de chuvas irá superar a dos anos de 2005 e 2010, períodos de estiagem severa na Amazônia. Com isso, a região deve continuar com a baixa umidade e as árvores vão se tornar ainda mais vulneráveis às queimadas. Para chegar a essa conclusão, os estudiosos também contaram com

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o aux ílio de dados fornecidos pelo Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), que vem monitorando a distribuição das chuvas no Brasil. O instituto apontou que nos últimos dois anos o volume de chuvas na Amazônia ficou abaixo do normal. Segundo o Inmet, as precipitações na região, verificadas no último trimestre de 2015, diminuíram cerca de 50% e continuaram abaixo da média pelo primeiro semestre de 2016. Esse cenário, de tamanha intensidade de redução das chuvas, não era registrado desde 2002. A esperança dos pesquisadores é que a situação melhore no próximo ano.

ALBERTO CESAR ARAÚJO/ ARQUIVO O LIBERAL

CLIMA EM PERIGO

TRÁFICO

ANIMAIS SILVESTRES O tráfico de espécies selvagens é, de acordo com a Comissão Europeia, o quarto negócio ilegal mais lucrativo do mundo, atrás apenas do tráfico de drogas, de seres humanos e do comércio de armas. Estima-se que o lucro anual da atividade gire em torno de 8 a 20 bilhões de euros. Nos últimos anos o tráfico de animais selvagem aumentou consideravelmente, segundo informações do Parlamento Europeu. O baixo risco de detenção e o alto retorno financeiro atraem cada vez mais os criminosos. Os produtos traficados são vendidos por meio de canais legais e os consumidores, muitas vezes, não estão conscientes de sua origem ilegal. O tráfico de espécies selvagem ameaça a biodiversidade do planeta e coloca em perigo de extinção espécies como os elefantes, os rinocerontes e tigres.


TRÊSQUESTÕES

“NEGÓCIOS VERDES”

RESPOSTAS QUE VÃO DIRETO AO PONTO

Amazônia Viva conquista prêmio Fiepa pela 4a vez

CAPA

Negócios

verdes INDÚSTRIA E COMÉRCIO BUSCAM AS BASES DA ECONOMIA SUSTENTÁVEL POR MEIO DA CONSCIÊNCIA AMBIENTAL TEXTO VICTOR FURTADO FOTOS CARLOS BORGES

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JUNHO DE 2016

O Unicef certificou 39 municípios da

economicamente mais sustentáveis. Outro destaque na reportagem foram as oportunidades neste mercado para soluções. Soluções que começam, muitas vezes, com pequenos negócios e que são absor vidos pelos grandes. E iniciativas de grandes empresas que se tornam referências. A revista se S consolida, com mais esse título, como um veículo especializado em ciência, tecnologia, meio ambiente e cultura, entre os mais premiados da região amazônica, já tendo recebido prêmios locais e nacionais. A publicação mensal, do jornal O Liberal, reforça o compromisso com jornalismo de qualidade dos veículos das Organizações Romulo Maiorana (ORM).

Amazônia com o selo do Fundo das Nações Unidas para a Infância. O evento já mobilizou, entre 2009 e 2012, 550 municípios da região na busca por iniciativas e políticas para crianças e adolescentes. Em 2013, foram 611 municípios. O coordenador do Unicef em Belém, Fábio Morais, diz o que o selo representa em reconhecimento aos avanços dos governos e compromissos assumidos com o futuro.

omente os negócios sociais e verdes prosperarão. É o que, há 14 anos, o fundador da organização “Empresa para um mundo sustentável”, o professor da Escola de Administração da Universidade Cornell (EUA) Stuart Hart, já defendia. As empresas pequenas, médias ou grandes que abraçaram a filosofia de negócio sustentável - ecologicamente correto, socialmente justo, economicamente viável e culturalmente diverso -, entendem que trata-se de uma tendência obrigatória e sem volta para manter-se no mercado. E, no cenário internacional de crise, que se instalou no Brasil, no início de 2015, esse conceito tornou-se um diferencial de mercado e garante força para a economia não parar. O conceito de negócio sustentável, que começou a ser desenhado na década de 1970, começou com grandes empresas que, lentamente, foram ditando as regras para toda a cadeia produtiva, apesar de o eixo “culturalmente diverso” ter sido ignorado ou diluído no conceito dos pilares do “Tripé da Sustentabilidade”, o PPP: planeta, pessoas e lucro (planet-people-profit, em inglês) ou ambiental, social e econômico. Esse conceito começou a ser difundido entre pequenas e médias empresas, seja na cultura organizacional, seja na prospecção de oportunidades. Profissionais íntimos com o conceito estão se valorizando, tanto que há ser v iços de terceirização ou agenciamento de “talentos verdes”. JUNHO DE 2016

Quais os critérios para os municípios receberem o selo? O gestor municipal deve aderir à iniciativa, nomear um articulador e desenvolver a metodologia proposta. Na Amazônia, os municípios deveriam pontuar nos três eixos:

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Impacto Social, Gestão de Políticas Públicas e Participação Social. Além disso, era obrigatória a realização dos dois Fóruns comunitários e formar o comitê intersetorial municipal. Há algum compromisso assumido para que o selo seja mantido? ELIVALDO PAMPLONA

É essencial que todos os envolvidos continuem mobilizados. Deverá ser agendada uma conversa com a futura gestão, quando deverão ser apresentados os resultados. É vetado o uso político da marca Selo Unicef. Os municípios poderão utilizá-la durante o período da edição em que foi outorgado, ou seja, até a divulgação dos ganhadores da edição seguinte. A Amazônia está comprometida com políticas de proteção das crianças? Os nove governadores da Amazônia Legal já reafirmaram o compromisso por meio da Agenda Criança Amazônia, pacto para a promoção, proteção e garantia de direitos de crianças e jovens da região. Isso articula os governos municipais, estaduais e federal, a sociedade civil e os cidadãos, acerca de objetivos que

PREMIAÇÃO

Os jornalistas Victor Furtado e Carlos Borges receberam o Prêmio Fiepa 2016 de melhor reportagem no impresso

signifiquem mudanças positivas.

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UNICEF BRASIL / DIVULGAÇÃO

A Amazônia Viva ganhou, pela quarta vez consecutiva, o Prêmio Raimundo Pinto de Jornalismo, do Sistema Fiepa, com a reportagem “Negócios Verdes”, da edição de junho deste ano. A equipe vencedora é formada por Victor Furtado (texto), Carlos Borges (fot o g r a f i a), Felipe Jorge de Melo (e d i ç ã o), F i l i p e Sanches (arte) e Fabr ício Queiroz (produção). A premiação foi feita no dia 24 de novembro, no Hangar - Centro de Convenções e Feiras da Amazônia. A matéria destaca as diversas iniciativas no comércio e na indústria de tornar os negócios ambiental e

Proteger e educar as crianças amazônicas


PRIMEIRO FOCO OSWALDO FORTE

MATA ATLÂNTICA

SEM ONÇA-PINTADA A onça-pintada está severamente ameaçada de extinção na Mata Atlântica. Segundo estudo publicado por pesquisadores brasileiros na revista Scientific Repor ts, menos de 300 felinos ainda sobrevivem espalhados e isolados em pequenas populações pelo Brasil, Argentina e Paraguai. Entre as causas do desaparecimento das espécies o estudo de s t ac a a aç ão pre datór ia do h om e m e as mudanç as no habit at natur al das onç as . A lé m de s s e s f atore s , o cre s cime nto das cida de s e a e x pans ão da agr icultur a t amb é m s ão ap ont a dos com o c aus as do de s as t re.

CACAU

PRODUÇÃO PARAENSE Durante a última edição do “Fórum Estadão – A Impor tância do Cacau na Economia Brasileira”, especialistas em agronegócios af irmaram que a produção de cacau no Pará vai ajudar o Brasil a superar muitos concorrentes pelo mundo. Segundo eles, atualmente a produção do Estado já é três vezes maior que a da Bahia, até então o maior e mais tradicional produtor de cacau no país.

BORBOLETAS

IMPACTO AMBIENTAL O estudo intitulado “Diversidade, padrões de distribuição e esforço de coleta de borboletas frugívoras em floresta ombrófila densa da Amazônia” investiga o padrão de distribuição de algumas espécies de borboletas na Amazônia. As

ESTUDO

Expedições científicas avaliam a situação de botos e jacarés

O Centro Nacional de Pesquisa e Conservação da Biodiversidade Amazônica (Cepam) acaba de realizar uma série de oito expedições científicas ao longo dos grandes rios da bacia amazônica. As viagens fazem parte de um projeto de criação que prevê a implantação de uma rede de monitoramento para acompanhar e proteger as espécies de botos-vermelhos, botos-tucuxis e jacarés amazônicos (acima). Um dos principais objetivos do projeto é avaliar o estado de conservação desses animais além de contribuir com dados que possam verificar os efeitos da proibição da pesca de piracatinga na região. A pesca usava

botos e jacarés como isca e causava a redução dessas populações. Coordenado pelo Cepam, o projeto tem a participação de outros importantes centros de pesquisa, como o Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia, Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá e Universidade Federal do Amazonas. As expedições, iniciadas em setembro deste ano, percorreram parte dos rios Negro, Solimões, Purus e Japurá e passaram por áreas importantes para a conservação da biodiversidade amazônica, como a Reserva Biológica do Abufari e a Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá, no Estado do Amazonas.

informações obtidas por Márlon Santos, doutorando em Entomologia do Instituto Nacional de Pesquisas

CATÁLOGO

existem quatro mil espécies desconhecidas a

da Amazônia (Inpa), podem ajudar a

ÁRVORES AMAZÔNICAS

entender como está o ambiente em

Um artigo publicado no periódico Scientific

pelo

que elas vivem e como as espécies

Reports aponta que seriam necessários 300

Holanda, que já identificou mais de dez mil

são afetadas pelo impacto ambiental

anos para catalogar as espécies de árvores da

espécies de plantas nos nove países abrangidos

provocado por ações humanas.

Amazônia. Segundo o levantamento, ainda

pelo bioma amazônico.

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espera de identificação. O estudo foi realizado Naturalis

Biodiversity

Centerm,

da


ELESSEACHAM POR QUE MIMETISMO É UMA COISA NATURAL

MUNDURUKU

Livro difunde conhecimento sobre saúde e alimentação Indígenas da tribo Munduruku, situados em diferentes regiões e territórios do Pará, produziram o livro “Kuyjeat Posug~ – Saúde e alimentação Munduruku”, escrito na língua da etnia. A obra cataloga plantas e animais fontes de alimentação e saúde para esse povo, ensina como utilizar essas matérias-primas e informa as vantagens dos produtos naturais em relação aos industrializados. Com tiragem de 500 exemplares, a obra está sendo distribuída no final deste ano nas 48 escolas Munduruku do alto e médio Tapajós. O objetivo é que cerca de 3,6 mil estudantes tenham acesso ao material. Os autores do livro cursam o Magis-

Uma linda borboleta camuflada e sorrateira

A borboleta Haeterea piera pertence a família Nymphalidae e subfamília Satyri-

tério Intercultural pelo Projeto Ibaorebu de Formação Integral Munduruku, da Fundação Nacional do Índio (Funai). Para escrever a obra, eles usaram como base uma pesquisa feita em 2014, durante etapa de formação ministrada pelos professores Cailo Almeida, Claudeth Saw e Zenildo Saw. Com os dados do estudo eles escreveram o livro, que em sua maior parte aborda o uso das plantas medicinais, não só em seus efeitos curativos mas também preventivos, e a riqueza nutritiva de animais próprios da alimentação Munduruku, como o porco-do-mato e a anta. Além da versão impressa, a obra também está disponível em formato digital.

nae. Ela pode ser encontrada na Venezuela, Guiana, Equador, Peru, Bolívia e Brasil, nos ambientes de floresta tropical em altitudes de até 1.500 metros. A borboleta é transparente e possui quatro falsos olhos na parte distal das asas posteriores. A espécie é difícil de ser vista por prováveis predadores porque vive na submata, em ambiente úmido e sombrio. No entanto, caso seja encontrada, o predador não investirá no ataque, porque ao atacar a borboleta o animal enxerga uma cabeça alaranjada com dois olhos pretos circundados de alaranjado e uma boca vermelha. As falsas cabeças da espécie estão localizadas na parte posterior. Isso é uma estratégia de defesa da Haeterea piera, pois assim, caso ela seja atacada, as únicas partes danificadas serão as pontas das asas posteriores e assim, a OSWALDO FORTE

borboleta ainda terá uma chance de completar o seu papel reprodutivo na natureza.

POR INOCÊNCIO GORAYEB

GREENPEACE

POKÉMONS O Greenpeace continua arrecadando assinaturas para o projeto “Salve o Coração da Amazônia”, FERNANDO CARVALHO FILHO

que visa a apoiar o povo Munduruku, que luta há mais de 30 anos contra planos de construção de um complexo hidrelétrico no Rio Tapajós. A organização decidiu usar Pokémons para divulgar alguns dados importantes sobre a degradação do meio ambiente. Butterfree, Bulbassauro, Squirtle, Magikarp e Pidgeot são alguns dos Pokémons escolhidos para ilustrar a campanha.

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ACERVO MUSEU GOELDI

FATO REGISTRADO

Uma pesquisadora e sua espingarda TEXTO INOCÊNCIO GORAYEB

Essa é u ma foto do acer vo da Coordenaç ão de Doc u ment aç ão e I n for maç ão do Mu seu Pa raense E m í l io G oeld i. A i magem foi feit a por E r n st L oh se, em técn ic a de negat ivo de v id ro. A cena é de 1912 e most ra u ma equ ipe de pesqu isa do Mu seu Pa raen se de H istór ia Nat u ra l no ter rei ro de u ma c a sa r u ra l, no nordeste do Pa rá . Na i magem, é possível obser v a r a pesqu isadora Ma r ia E m í l ia Snet h lage por t a ndo sua i n sepa rável espi nga rda (i n st r umento de colet a de pá ssa ros pa ra a s coleções cient í f ic a s). 14 • REVISTA AMAZÔNIA VIVA •

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A or n itóloga era a lemã nascida na Pr ússia. Doutora em ciência s nat u ra is, a pesqu isadora t rabal hav a na zoolog ia do Mu seu de H istór ia Nat u ra l de Berl i m. L ogo depois, ela veio pa ra o Mu seu Pa raen se em Belém e se tor nou d i retora da i n st it u iç ão ent re os a nos de 1914 e 1922. Na imagem ta mbém é possível obser var que todos estão com vestimentas completas, com mangas e calças compridas, alguns inclusive com paletós. Na ocasião do registro eles estavam fazendo um lanche e toma ndo sucos, ta lvez re-

f resco de g rosel ha. A bebida era mu ito apreciada na época. O homem de terno preto ser ve a bebida em uma bandeja ao outro senhor que se aprox ima pela lateral. No centro, bem ao fundo, é possível obser var aves abatidas penduradas no teto. Essas espécies certamente foram empalhados e hoje estão conser vadas na coleção do Museu Goeldi. A imagem apresenta outros elementos, entre eles: uma galunha ciscava no terreiro; o rabo do cavalo era comprido; os bigodes acompa nhava m a moda; e o único desca lço era o ga roto.


PERGUNTA-SE É PRECISO ESCLARECER MITOS E VERDADES ALECSANDRO ANDRADE DE MELO / FREEIMAGES

AMANDA LELIS / DIVULGAÇÃO

CONSUMO

Segundo estudo, habitações de ribeirinhos na Amazônia refletem mudança no poder aquisitivo dessas populações

SOCIEDADE

Casas apontam melhoria econômica de ribeirinhos As mudanças nas habitações da região de várzea amazônica mostram a melhoria de poder aquisitivo de quem vive nas comunidades ribeirinhas das Reservas Mamirauá e Amanã, no Amazonas. A conclusão foi apresentada em um artigo publicado por pesquisadoras do Instituto Mamirauá, na Revista Iluminuras. Isabel Soares de Sousa, diretora de Manejo e Desenvolvimento no Instituto e uma das autoras do artigo, destaca que os programas de manejo de recursos naturais e o acesso a benefícios sociais são os principais motivos da melhoria de renda das famílias. “São as duas principais fontes de renda que eles têm, que levou ao aumento desse poder aquisitivo”, explica.

A modernização das habitações de várzea também pode ser observada, de acordo com as pesquisadoras, pelo acesso a equipamentos e eletrodomésticos pelas famílias. Nessas localidades, no ano de 2006, menos de 40% das famílias possuíam televisão, menos de 10% possuíam freezer e menos de 70% tinham fogão a gás. Em 2011 o número aumentou. As televisões passaram a ser um item presente em cerca de 70% das habitações, e o freezer em 20%. Além disso, mais de 80% dessa população passou a ter fogão em casa, além do acesso a aparelhos celulares. Na atualidade os dados evoluíram ainda mais e devem continuar em constante crescimento, segundo o estudo.

MATÉRIA-PRIMA

Por que tantas pessoas hoje têm intolerância à lactose?

A questão intriga quem descobriu o problema e precisou mudar a dieta, mesmo sem ter nascido com essa condição, que pode ser temporária se adquirida. A mestre em Ciência e Tecnologia dos Alimentos Aline Souza, da Universidade da Amazônia (Unama), explica que, na verdade, houve maior divulgação dos sintomas, facilitando o diagnóstico e então chamando a atenção das indústrias de laticínios. “Alimentos ultraprocessados, aditivos químicos, agrotóxicos e excesso de açúcar prejudicam a flora intestinal e, consequentemente, nossas células intestinais e a produção de enzimas digestivas, como a lactase, acarretando assim em intolerâncias alimentares”, observa Aline. As intolerâncias temporárias podem ter várias causas, mas as enzimas prejudiciais podem sair naturalmente. Há tratamento e muitos alimentos hoje estão disponíveis sem lactose. Uma alimentação balanceada pode evitar não só esse, mas muitos outros problemas alimentares. Mas quem nasceu intolerante a lactose, precisa retirar mesmo a substância da dieta.

VENDA ON-LINE

Com o intuito de expandir o comércio de produtos oriundos da Amazônia para outros países, empreendedores criaram plataforma “Amazon Forest Trading” ou “Floresta Amazônica em Negociação”. A ferramenta virtual disponibiliza, atualmente, 20 tipos de matérias-primas regionais para venda. Entre os produtos estão o açaí, em forma de polpa,

MANDE A SUA PERGUNTA Envie perguntas instigantes sobre hábitos, costumes e fenômenos da região amazônica para o e-mail: amazoniaviva@orm.com.br

pó e misturas, além de óleos como pracaxi, andiroba e copaíba. DEZEMBRO DE 2016

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EU DISSE

“É hora de agir para proteger o clima” Ban Ki-moon, secretário-geral da ONU, durante o comunicado para lembrar o Dia Internacional para a Preservação da Camada de Ozônio.

MARCELLO CASAL JR. / AGÊNCIA BRASIL

“Sabemos que não estamos nos movimentando de maneira suficientemente rápida para enfrentar a crise. Rinocerontes, elefantes, pangolins e leões continuam sendo caçados em quantidades horríveis” Príncipe William, durante a abertura da Conferência Internacional Sobre o Contrabando de Animais, em Hanói, no Vietnã. A mensagem foi um alerta para o ritmo acelerado da extinção e o tráfico crescente de animais selvagens.

“As energias renováveis representam uma oportunidade para a integração energética dos países latino-americanos” Carina Guzowski, professora do Departamento de Economia da Universidade Nacional do Sul da Argentina, durante palestra na Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo. Para ela, as energias solar e eólica representam uma oportunidade de integração dos países latino-americanos.

“Uma das maiores ameaças à vida inteligente no nosso universo é a alta probabilidade de um asteroide colidir com planetas habitados” Stephen Hawking, físico britânico, em uma entrevista ao jornal britânico Express. O cientista explicou que o impacto de um asteroide pode acabar com a vida na Terra.

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APPLICATIVOS BOAS IDEIAS NUM TOQUE DE DEDOS

“Por uma ordem civilizada ao tratamento dos animais”

Proteja Brasil Aplicativo do governo federal para monitorar crimes contra os Direitos Humanos.

Vladimir Putin, presidente da Rússia, em coletiva aos veículos de imprensa local. Na ocasião ele defendeu a implementação de políticas para proteger os cães que vivem nas ruas.

Com ele é possível fazer denúncias que são encaminhadas às autoridades competentes. É possível denunciar trabalho escravo, trabalho infantil, tortura e quais quer formas de violência contra crianças, adolescentes,

“Tenho medo de morrer na própria aldeia”

mulheres, idosos, LGBTTQI, presos. Disponível gratuitamente para Android e iOS.

Agamenon Suruí, da Terra Indígena Sete de Setembro, localizada entre Rondônia e Mato Grosso. O território é um dos principais focos do chamado “arco do desmatamento” e alvo frequente de madeireiros e garimpeiros que exterminam a população para usufruir dos produtos da terra.

Declaração Direitos Humanos Um app pequeno e fácil de manusear com JOSÉ CRUZ / AGÊNCIA BRASIL

todos os artigos da Declaração Universal dos Direitos Humanos, publicada pela Organização das Nações Unidas, em 1948. O texto é comumente deturpado por discursos de ódio em redes sociais e programas de televisão policialescos. Com esse aplicativo, o usuário entenderá melhor dos seus próprios direitos e sobre o que está falando ou criticando. Gratuito para Android, mas há outras opções iguais para iOS e Windows Phone.

“Os Estados Unidos, o segundo maior emissor do planeta, têm que respeitar os compromissos que assumiram. Não apenas porque é seu dever, mas porque é de seu próprio interesse. Todos serão afetados pela mudança do clima” François Hollande, presidente da França, na abertura da conferência do clima COP 22, em Marrakesh, no Marrocos. O líder francês defendeu que todos os países devem assumir seus compromissos para melhorar a situação ambiental do planeta.

Onde Parei Não são todos os estacionamentos que oferecem ferramentas e boa sinalização para saber onde você estacionou o veículo. Mas com esse app, a posição fica marcada com GPS e é possível encontrar facilmente o veículo com anotações e outros instrumentos. Um app simples para facilitar a vida de quem costuma se perder no estacionamento de shoppings. A sensação de estar perdido não tem mais razão. Gratuito para iOS e Android. FONTES: PLAY STORE E ITUNES

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CURIOSIDADES DA BIODIVERSIDADE

Parece beterraba, mas não é TEXTO E FOTO INOCÊNCIO GORAYEB

O cará é uma planta da espécie Dioscorea alata , da família Dioscoreaceae, gênero de plantas que conta com mais de 600 espécies diferentes. De todas essas, apenas 12 são comestíveis, entre eles, o cará, que tem o aspecto de uma beterraba, mas com algumas características diferentes. Alguns artigos científicos registram que a Dioscorea alata é originária da Indonésia, mas algumas espécies do gênero são comuns na Ásia e África. As primeiras coletas do cará ocorreram há 18 • REVISTA AMAZÔNIA VIVA •

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5.000 A. C. e continuaram com o passar do tempo. Quando os portugueses entraram no Oceano Índico aprenderam a fazer uso do cará e ele foi utilizado amplamente como mantimentos nas caravelas no período colonial. O cará é um alimento altamente energético e rico em nutrientes. Cem gramas do produto cozido têm água, carboidratos, fibras alimentares, cálcio, fósforo, ferro, potássio e muitos outros nutrientes. As propriedades nutritivas do cará fortificam os nervos, estimu-

lam o apetite, o crescimento e o processo digestivo. O alimento é preparado cozido com água e sal e, em seguida, é escorrido. Também pode ser cozido em caldos com carne e outros legumes, além de ser utilizado em saladas e na substituição de pães durante o café. No Brasil, o ca rá é comum no Norte e Nordeste e pode ser encontrado nas variedades cará-branco e roxo. O alimento vegetal é plantado nas roças de pequenos agricultores e nos pomares das casas.


DESENHOS NATURALISTAS

Os desenhos de Camargo

GRAVURA DE JOÃO M. F. CAMARGO/ REPRODUÇÃO / ACERVO DE OBRAS RARAS DO MUSEU GOELDI

O pesquisador e desenhista João M. F. Camargo viveu de 1949 a 2009. Desde 1963 o artista começou a coletar e montar seu acervo de Abelhas Meliponini da Região Neotropical. O conjunto hoje é tido como uma das mais importantes coleções do mundo, além de ser o único que inclui peças construídas ocasionalmente por essas abelhas. João iniciou sua carreira científica em 1961 como desenhista da Faculdade de Rio Claro, atual Universidade Estadual Paulista (UNESP). No período, ele teve contato com um grupo de pesquisa em genética, biologia e taxonomia de abelhas. Depois de ilustrar artigos para vários pesquisadores, iniciou suas próprias pesquisas com os insetos.

Camargo estudou o comportamento e a nidificação das abelhas. Do trabalho do pesquisador também se destacam os estudos sobre a bionomia de abelhas Euglossini, comportamento de visita as flores, mecanismos de polinização e etnobiologia dos índios Kayapó. Os desenhos de abelhas, ninhos e flores feitos por João percorreram o mundo e foram reproduzidos em diversas publicações. “Infi nitas formas de grande beleza”, era assim que o desenhista via a natureza. A denominação veio inspirada no título do livro de S. B. Carrol, que Camargo recomendava a seus alunos como leitura adicional. A Revista Brasileira de Entomologia publicou em seu necrológio uma homenagem a João e lembrou um pouco do comportamento do desenhista e de suas obras. “Pontinhos, milhões deles, e dias depois, após horas ininterruptas de trabalho com a pena e o nanquim, lá estava: uma perfeita representação das obras arquitetônicas das abelhas, o magnífico ninho composto por milhares de pontos, ilustrando milhões de anos de evolução. Era assim que ele passava a maior parte do dia, ou desenhando, ou observando na lupa preciosos detalhes das abelhas, na Faculdade de Filosofia Ciências e Letras de Ribeirão Preto, USP, isso quando não estava no mato observando e coletando abelhas, era assim que ele se sentia mais a vontade”.

CONCEITOSAMAZÔNICOS O VOCABULÁRIO REGIONAL É UM PATRIMÔNIO

Banho de cuia Cuia é um termo que vem do Tupi “kuya e’te”, cuietê, que significa “cuia verdadeira”, “cabaça”. Ela é feita do fruto da cuieira, planta da espécie Crescentia

cujete, da família Bignoniaceae. Na Amazônia e no Nordeste, tanto na área rural quanto na ribeirinha, é comum as pessoas tomarem banho utilizando esse recipiente, de tamanho médio ou grande, para jogar água na cabeça e no corpo. As cuias também são utilizadas para tomar tacacá, açaí, mingaus e para o famoso banho-de-cheiro, além de serem usadas para a confecção de caixas de ressonância para instrumentos como berimbau e maracás. No Nordeste, a cuia também serve como uma unidade de medida de grãos e produtos, já na culinária paraense o objeto é utilizado para servir comidas típicas, o que confere um charme amazônico aos rituais gastronômicos. Banho de cuia também é uma gíria futebolística usada para designar o drible, que ocorre quando o jogador, com um leve toque, faz a bola passar sobre o corpo do adversário e a pega do outro lado. A jogada é popularmente conhecida como lençol ou chapéu.

POR INOCÊNCIO GORAYEB

POR INOCÊNCIO GORAYEB

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OLHARES NATIVOS

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Cidade Morena?

“Eu decidi colocar toda minha ancestralidade africana nas minhas roupas. Desde as camisas estampadas e coloridas até o turbante. Esse processo todo aumentou muito minha autoestima, porque agora eu sei quem eu sou e de onde eu vim. Hoje eu sei que eu tenho uma história e que pertenço a um grande povo: o povo negro”. Quem diz é Rodrigo Souza, um dos jovens do Centro de Estudos e Defesa do Negro do Pará (Cedenpa) registrados no momento ao lado, poses orgulhosas e olhares altivos em meio ao cais e à rotina de desembarque dos paneiros apinhados de frutas na Feira do Ver-o-Peso. Por trás, a cidade de Belém, que ganhou fama de morena, testemunha o quanto a negritude pulsa em sua história e presente. Nas páginas a seguir, um ensaio especial de jovens negros para o fotógrafo FERNANDO SETTE. DEZEMBRO DE 2016

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OLHARES NATIVOS

Divas

Sibely Nunes e Aíssa Matos, estudantes de Comunicação, exaltam a beleza da mulher negra amazônica

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Jovial

Camila Fernanda Gonçalves representa a juventude negra na Amazônia DEZEMBRO DE 2016

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OLHARES NATIVOS

Voz que ecoa

Jeff Moraes veste e canta a negritude no seu projeto musical, Zimba Groove. “Dê poder ao povo preto!”, brada em uma das suas canções, “Menino preto”.

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Negra linda e amazônica

Sinara Assunção, estudante de publicidade, cabelo black em tons de azul

AFROnto

Rodrigo Souza, estudante de jornalismo, se mistura elegantemente à paisagem do Ver-o-Peso DEZEMBRO DE 2016

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OLHARES NATIVOS

Identidade

Michael Sodré, estudante de física, e Carolynne Matos, estudante de química: presença na sociedade

Envie as suas fotos para a seção Olhares Nativos

Para participar da seção “Olhares Nativos” da revista Amazônia Viva basta enviar fotos com temática amazônica para o e-mail amazoniaviva@orm.com.br acompanhadas pelo nome completo do autor, número de identidade e uma breve informação sobre o contexto do registro fotográfico. As imagens devem ser autorais e com resolução de no mínimo 300 dpi. A publicação das fotos tem fins meramente de divulgação de trabalhos profissionais ou amadores, não implicando em qualquer tipo de remuneração aos autores. Participe!


OPINIÃO, IDENTIDADE, INICIATIVAS E SOLUÇÕES CARLOS BORGES

IDEIASVERDES

Salvem a castanheira UMA DAS PRINCIPAIS ÁRVORES DA FLORA AMAZÔNICA ESTÁ VULNERÁVEL DE EXTINÇÃO, AFIRMAM ESPECIALISTAS PÁGINA 32

CLIMA

SUSTENTABILIDADE

O pesquisador Alberto Teixeira Silva comenta o Acordo de Paris, que abre uma discussão global sobre o clima, incluindo a Amazônia. PÁG.28

Projeto de manejo florestal na Reserva Extrativista Verde para Sempre, em Porto de Moz, conquistou a certificação ambiental FSC. PÁG.42


ENTREVISTA

O

Acordo de Paris foi um importante avanço diplomático entre os países membros da Organização das Nações Unidas (ONU) para combater o aumento das emissões de gases de efeito estufa (GEE). O acordo foi discutido e aprovado por 195 países na COP 21, realizada em dezembro de 2015, em Paris, e, neste ano, foi ratificado por mais de 90 países, entre eles o Brasil, um dos países importantes para essa discussão sobre o clima global, já que a ONU e fóruns internacionais preocupam-se com a Amazônia. E o país tem compromissos climáticos assumidos para preservação do rico ecossistema. A região tem papel estratégico no sequestro de carbono e na mitigação de mudanças climáticas globais. Frear o desmatamento é um grande desafio, assim como as causas que provocam a emissão dos GEEs no Brasil, explica o pesquisador Alberto Teixeira Silva, doutor em Ciências Sociais, professor do Programa de Pós-graduação em Ciência Política da Universidade Federal do Pará. À frente do projeto de pesquisa denominado “O Acordo Global do Clima e os compromissos do Brasil e da Amazônia”, o professor fala sobre os avanços do documento para a região. O que o Acordo de Paris trouxe de importante para as discussões sobre o clima global? O Acordo de Paris, aprovado na 21ª Conferência das Partes da Convenção Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP21), representa um ambicioso esforço multilateral para reduzir as emissões de GEEs e combater o fenômeno das mudanças do clima global. Vai substituir o Protocolo de Kyoto, que termina seu ciclo em 2020. O objetivo geral será conter o aumento da temperatura bem abaixo de 2°C, procurando alcançar a meta de 1,5 °C até o final do século. O Acordo de Paris estabeleceu

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“Os governos devem ser os mais cobrados”

O PESQUISADOR ALBERTO TEIXEIRA SILVA, DOUTOR EM CIÊNCIAS SOCIAIS, FAZ UMA ANÁLISE DO ACORDO DE PARIS, MAIOR DISCUSSÃO GLOBAL SOBRE O CLIMA DA ATUALIDADE, E SEUS REFLEXOS PARA AMAZÔNIA. ELE DIZ QUE O COMPROMISSO É DE TODA A SOCIEDADE, MAS QUE OS GOVERNOS DEVEM SER OS PRIMEIROS A SEREM RESPONSABILIZADOS PELA SITUAÇÃO. E AGIR. TEXTO ANA PAULA MESQUITA FOTO EVERALDO NASCIMENTO


OSWALDO FORTE

EFEITO ESTUFA

A Amazônia é uma das regiões brasileiras, juntamente com o Nordeste, mais vulneráveis aos impactos das mudanças climáticas. Os impactos da seca já são sentidos no Marajó, por exemplo.

contribuições anuais de US$ 100 bilhões a partir de 2020 a serem desembolsadas pelos países mais ricos, para financiar e ajudar os países mais pobres e vulneráveis no combate aos eventos climáticos e políticos de resiliências domésticas. Qual é o compromisso do governo brasileiro no Acordo de Paris? A última reunião que houve da COP 21, em Marrakesh, mostrou exatamente que os países já estão começando a se mobilizar para passar da condição de proponentes para a prática. O Brasil, um dos dez maiores emissores de gases do mundo, teve um papel fundamental no desenho da proposta aprovada em

Paris, com a proposição das Intended Nationally Determined Contributions (INDCs). Na INDC apresentada pelo Brasil, consta que pretende reduzir as emissões de GEEs em 37% em 2025 e em 43% em 2030, abaixo dos níveis de 2005. Pretende também restaurar e reflorestar 12 milhões de hectares de florestas até 2030 e expandir o uso doméstico de fontes de energia não-fóssil, aumentando a parcela de energias renováveis, além da hídrica no fornecimento de energia elétrica para pelo menos 23% até 2030, com ênfase em eólica, biomassa e calor. E ainda: acabar com o desmatamento ilegal na Amazônia. Outra estratégia em curso é promover a agropecuária de baixo carbono, considerando a restauração de 15 milhões de hectares de pastagens degradadas e cinco milhões de hectares de Integração Lavoura-Pecuária- Floresta (ILPF) também em 2030. Também

“No que diz respeito à Amazônia, o Brasil assumiu o compromisso de zerar o desmatamento ilegal até 2030. O problema é que o desmatamento está aumentando.” a proteção dos povos indígenas e comunidades tradicionais e a expansão da atual malha de áreas protegidas ou áreas de uso sustentável, alocando os quase 80 milhões de hectares de florestas publicas não designadas ou áreas para uso sustentável de produtos madeireiros ou não madeireiros. De que maneira a Amazônia pode contribuir para a redução das emissões dos gases do efeito estufa? DEZEMBRO DE 2016

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ENTREVISTA

A Amazônia é uma das regiões brasileiras, juntamente com o Nordeste, mais vulneráveis aos impactos das mudanças climáticas. No que diz respeito à Amazônia, o Brasil assumiu o compromisso de zerar o desmatamento ilegal até 2030. O problema é que o desmatamento está aumentando. Segundo dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), divulgados no dia 26 de novembro deste ano, o desmatamento aumentou 16% em relação ao ano passado. Contudo, a estratégia de combate às mudanças climáticas deve também envolver as cidades da Amazônia, visto que, como bem disse a saudosa geógrafa Bertha Becker sobre a Amazônia contemporânea “é uma floresta urbanizada”.

“Devemos ter esse entendimento de que nós devemos dar a nossa cota de participação. Mas o principal ator é o que tem mais estrutura, mais recursos e que poderia sinalizar para uma mudança do ponto de vista da mentalidade, educação ambiental.” 30 • REVISTA AMAZÔNIA VIVA •

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Quais são as maiores ameaças ao desmatamento zero? Primeiro o Plano de Aceleração do Crescimento (PAC) – investimentos em mais de 40 mil projetos de infraestrutura, tais como rodovias, hidroelétricas e hidrovias, a maioria deles na região amazônica. Segundo, a crescente demanda por commodities (carnes e grãos). Terceiro, políticas de assentamento de reforma agrárias não sustentáveis dos 5 mil km desmatados a cada ano. Quarto, implementação parcial do código florestal. Quinto, lobby do agronegócio no Congresso Nacional, pressionado por uma expansão das atividades agrícolas e minerais em áreas protegidas, e sexto, a ausência de regularização fundiária e a existência de áreas de florestas públicas não destinadas. Quais as diferenças entre as ações do Protocolo de Kyoto para o Acordo de Paris? O Protocolo de Kyoto, na verdade, foi um regime internacional com uma grande diferença dos países que participaram porque eles estabeleceram um chamado anexo 1 do protocolo dos países desenvolvidos, industrializados que tiveram metas de redução e o chamado anexo B. Nesse, o Brasil participava e outros países subdesenvolvidos não ti-

PAISAGEM SECA

O desmatamento avança sobre a Amazônia e o Acordo de Paris vem para chamar a atenção das autoridades sobre o problema, que também é global

nham responsabilidade diretamente, portanto, não poderiam ser cobrados da mesma forma que nós, países industrializados. No máximo, o que esses países deveriam apresentar, periodicamente, é um inventário das emissões para saber as quantidades de gases que eram emitidos e algumas experiências ou ações que eles estavam realizando para evitar as emissões. No Protocolo de Kyoto, o compromisso maior era dos países industrializados e dos países que, por si só, mais contribuem para o aquecimento global. Por exemplo, naquela época, os Estados Unidos, que eram o grande emissor de gases poluentes não assinou o Protocolo de Kyoto, não se comprometeu com esse regime que foi criado. O Acordo de Paris


OSWALDO FORTE

cobra um compromisso muito maior das metas dos países industrializados e países emergentes. Como no caso do Brasil e da China, que na época eram países que não tinham compromisso porque eram rotulados como países subdesenvolvidos ou emergentes. E essa separação de metas e ações a países desenvolvidos- industrializados e subdesenvolvidos-emergentes ainda vai existir com relação às metas e responsabilidades? No Acordo de Paris, de certa maneira não, porque todos os países terão que apresentar suas propostas de redução de gases. Assim, todos serão responsabilizados. Mas ainda permanece uma responsabilidade diferenciada. Por

quê? A ONU estabelece que o esforço maior para redução de gases do efeito estufa ainda é dos países que mais poluíram. Então há um entendimento que se deva ter uma responsabilidade comum, mas diferenciada. Está previsto que, a partir de 2020, um aporte de recursos de US$ 100 bilhões por parte dos países mais ricos para financiar projetos de países mais pobres, vulneráveis. A quem o senhor atribui a responsabilidade das emissões de gases e degradação do meio ambiente no Brasil e na Amazônia? A ONU, nos documentos oficiais em relação à questão climática, diz o seguinte: a responsabilidade é de todos os atores, não somente dos governos. Deve

haver cobranças? Claro. Os governos devem ser os mais cobrados porque têm o poder de influenciar. Todos os atores da sociedade, em suas várias esferas e estruturas, estão sendo convocados a esse movimento para se responsabilizar, além dos outros atores que também fazem parte do modelo de governança como o setor privado, as empresas deveriam se preocupar em estabelecer responsabilidades em relação às emissões dos GEE, promovendo programas de otimização de recursos. Devemos ter esse entendimento de que nós devemos dar a nossa cota de participação. Mas o principal ator é o que tem mais estrutura, mais recursos e que poderia sinalizar para uma mudança do ponto de vista da mentalidade, educação ambiental entre outras ações. Tem a ver com uma mudança cultural e da nossa relação com a natureza. DEZEMBRO DE 2016

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CAPA

Alerta

floresta NA

A CASTANHEIRA, UM DOS PRINCIPAIS SÍMBOLOS DA FLORA AMAZÔNICA NO BRASIL, ESTÁ NA LISTA DE ESPÉCIE VULNERÁVEL DE EXTINÇÃO DO MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE. ESSA CONDIÇÃO É UMA AMEAÇA EM POTENCIAL À PRODUÇÃO DA CASTANHA-DO-PARÁ NA REGIÃO. TEXTO RODRIGO REIS FOTOS CARLOS BORGES

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Á

rvore conhecida como “rainha da Amazônia” devido ao seu porte majestoso e imponente, a castanheira, também chamada de castanheira-do-brasil (Bertholletia excelsa), corre o risco de perder a coroa no reino vegetal. A árvore está na lista do Ministério do Meio Ambiente (MMA) como espécie vulnerável de extinção. Centenárias, há espécies na Amazônia que podem chegar a até 1.000 anos de existência. Produz o ouriço, que abriga entre oito e 25 sementes, chamadas de castanha-do-pará. O Brasil é o segundo produtor mundial do produto. A liderança atual é da Bolívia. Fatores como o desmatamento e o envelhecimento das árvores contribuem para a situação de vulnerabilidade. Para que a espécie não venha a desparecer, e o país volte a ter a liderança do mercado, a Embrapa Amazônia Oriental desenvolve técnicas de produção de mudas com alta eficiência no campo. São técnicas de enxertia, que diminuem em 50% o tempo de crescimento da planta. O procedimento pode ser feito no viveiro pelo método de garfagem ou no campo pelo método de gema. O primeiro consiste em introduzir uma ponteira de uma planta adulta na muda. Já na segunda técnica, retira-se somente a gema para introduzi-la na muda que está no campo. Este método exige um pouco mais de habilidade, porém, se o enxerto morrer a muda pode ser reaproveitada para uma nova tentativa. “Num primeiro momento avaliamos se o clone da planta ‘pegou’, e depois quando começa a florar”, explica a pesquisadora da Embrapa Amazônia Oriental Walnice Nascimento, responsável pelo projeto. Como cada projeto da Embrapa dura quatro anos, Walnice precisará de outro, com o mesmo período, para verificar o processo de DEZEMBRO DE 2016

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CAPA

produção, ou seja, quando a planta começará a produzir. “Como a planta enxertada é um clone de uma planta adulta, o produtor escolhe as mais produtivas, e a partir dela produz novas plantas. Com a enxertia reduzimos pela metade o tempo de início de produção da castanheira. Por exemplo, se ela produzia com 10 anos, pode começar a produzir com cinco anos, dependendo das condições de adubação e nutrição dada as plantas. O objetivo é indicar aos produtores uma planta que comece a produzir mais precocemente. E também incentivar o plantio para que a espécie não possa ser extinta”, afirma Walnice. A maior ameaça à castanheira, segundo o pesquisador da Embrapa Amazônia Oriental Urano de Carvalho vem do modelo de ocupação da Amazônia, já que a derrubada de árvores ocorre constantemente na região. “Nisso, avança o desmatamento, e a floresta desaparece, dando lugar à lavoura e à pecuária. Assim, os castanhais vão desaparecendo. Apesar de estarem presentes em todos os nove países amazônicos, atualmente só são mais abundantes na Bolívia e Suriname”, diz. E alerta: “Se no futuro aparecer algum tipo de doença numa castanheira, ficará difícil identificar fontes de resistência para tal, já que houve a derrubada desenfreada das árvores”. Trabalhando na Embrapa há 40 anos, Urano de Carvalho explica que a legislação brasileira proíbe a derrubada da castanheira. Para ele, o Brasil deveria ter, com mais solidez, projetos de políticas de incentivo a uma dos principais símbolos da Amazônia. “Os que foram realizados, não tiveram sucesso. Muito por conta do ciclo demorado da espécie. As tentativas de maior sucesso foram as de pequenos plantios com sistemas agroflorestais, como o realizado no município de Tomé-Açu, 34 • REVISTA AMAZÔNIA VIVA •

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HÁBITOS INSUSTENTÁVEIS

Para o pesquisador da Embrapa Amazônia Oriental Urano de Carvalho (à direita), a maior ameaça à castanheira-do-brasil (acima) vem do modelo de ocupação da Amazônia, já que a derrubada de árvores ocorre constantemente na região


por exemplo”. Os sistemas agroflorestais (SAFs) são consórcios de culturas agrícolas com espécies arbóreas que podem ser utilizados para restaurar florestas e recuperar áreas degradadas. A tecnologia ameniza limitações do terreno, minimiza riscos de degradação inerentes à atividade agrícola e aperfeiçoa a produtividade a ser obtida. “Mas, os que trabalham com esse sistema, hoje, são em pequena quantidade. Muitos pequenos produtores procuram muda de castanheira; o grande problema é a dificuldade em encontrar um viveirista produzindo mudas enxertadas de castanheira. Só trabalham com mudas oriundas de sementes, ou seja, não há a garantia que vá produzir bem”, explica o pesquisador. Viveirista é o profissional que trabalha com a instalação agronômica onde se cultivam, germinam e desenvolvem todo o tipo de plantas e de árvores até à altura de serem transplantadas. Os viveiros contam com diferentes classes de infraestruturas em função do seu tamanho e das suas características. Urano conta também que há muitas reclamações de produtores, não só do Pará, mas de outros estados, de que os castanhais nativos estão, com o passar dos anos, diminuindo a capacidade de produção. O pesquisador acredita que a causa seja, provavelmente, pelo próprio envelhecimento das castanheiras, já que a maioria são centenárias. Com 400 anos e outras com 800 e até mil anos. “Estudos apontam que as castanheiras maiores estão produzindo menos frutos que as castanheiras menores. Ou seja, significa dizer, também, que a vulnerabilidade da espécie se dá ao próprio envelhecimento. No Brasil, é remota a possibilidade de aumentar a produção de castanha, pelo aumento da área de extrativismo. A alternativa é o plantio de castanheira”. O problema, segundo o pesquisador, é que os grandes plantios realizados até hoje não tiveram êxito por conta da dificuldade de identificar castanheiras que produzem muitos frutos, já que a produtividade é muito baixa. “Existem cas-

tanheiras de 40 anos que produzem 100 kg de frutos e têm castanheiras com a mesma idade que não produzem nada. O caminho é clonar diversas castanheiras produtivas. E esse é o principal projeto da Embrapa nesse sentido”, comenta. TEMPO DE CULTIVAR

Responsável pelos estudos sobre a castanheira na Embrapa Amazônia Oriental, a pesquisadora Walnice Nascimento diz que é preciso observar todas as etapas de evolução dos clones da espécie, como a floração.

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CAPA

COLETORES

Caracterização socioambiental e econômica da produção das castanhas Para realizar a caracterização socioambiental e econômica de sistemas de produção da castanheira-do-brasil, os pesquisadores da Embrapa Amazônia Oriental estão buscando conhecer melhor alguns dos atores que compõem a cadeia produtiva, como os pequenos produtores e coletores, colhendo dados desde a produção até a comercialização. Hoje, segundo a Embrapa, mais de 55 mil pessoas têm seu sustento baseado no extrativismo da castanha-do-pará, o que gera a necessidade de conhecimentos sobre os diferentes tipos de organização social das comunidades extrativistas e de suas relações com as áreas onde são coletados os frutos. Outra ação importante do projeto é a identificação de quais são os principais fatores formadores do preço do produto nas regiões estudadas. Além do Pará, o projeto contempla atividades em mais cinco estados da região Norte – Acre, Amapá, Amazonas, Roraima e Rondônia – e um do Centro-Oeste, o Mato Grosso. FONTE: EMBRAPA AMAZÔNIA ORIENTAL

CULTURA EXTRATIVISTA

Atualmente, mais de 55 mil pessoas têm seu sustento baseado no extrativismo da castanha-do-pará, o que gera a necessidade de conhecimentos sobre os diferentes tipos de organização social das comunidades extrativistas na Amazônia

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FALTA DE COSTUME

O baixo consumo da castanha-do-pará ante também é um dos fatores para a queda da produção no Estado

PARÁ PERDE A LIDERANÇA NA PRODUÇÃO O Estado do Pará, que já foi o maior produtor de castanheiras do Brasil. Hoje está atrás dos estados do Amazonas e do Acre. Isso por conta do fechamento, no Estado, da então maior indústria de castanha do país e do mundo. Acredita-se que o fechamento da fábrica se deu em virtude da grande derrubada de castanheiras no sudeste do Estado, importante centro produtor do fruto. Isso fez com que, na década de 90, a Bolívia começasse a dar uma atenção especial à castanha e expandisse a produção. Hoje, o país vizinho é o maior produtor de castanha-do-pará do mundo. Um fator interessante levantado pelos pesquisadores da Embrapa Amazô-

nia Oriental é em relação ao hábito de consumo, já que, hoje, muitas das frutas nativas da Amazônia são pouco consumidas pelas novas gerações. Isso se deve ao fato de que produtos, como o cupuaçu e castanha-do-pará, por exemplo, só estão presentes nas feiras e supermercados em época da safra. Em contrapartida, as frutas de outras regiões e continentes, como maçã, pera e banana estão nas gôndolas em qualquer parte do ano, porque são produzidas em grandes quantidades. “Essas frutas não têm problemas com sazonalidades, e quando têm, há métodos de armazenagem, ou seja, se tem tecnologia para conservação pós-colheita”, explica Urano de Carvalho. Nesse contexto, o pesquisador cita um caso interessante: do cumari, uma fruta pouca consumida atualmente. Ele diz que no passado foi uma das cinco mais consumidas pela população da Amazônia, prin-

cipalmente pela indígena. “Essa fruta pode sumir do mercado por causa da falta de hábito de consumo. Pode desaparecer do mercado. Não estou dizendo que a espécie vá desaparecer, mas sim que a fruta poderá deixar de ser consumida. Ou seja, pode ser deixada de lado em substituição a outra. Hoje, se você mostrar o cumari para um jovem urbano ele não vai gostar porque não adquiriu o hábito de comer. Não foi acostumado”, explica. E isso pode acontecer com a castanha-do-pará. “Aí entra a questão da derrubada das árvores, hábito, preço, e da facilidade da fruta ser consumida.”, enfatiza o pesquisador da Embrapa. Outro aspecto levantado por ele é que nos últimos tempos houve uma popularização muito grande do açaí, e os produtores ficaram voltados para a produção da fruta e esqueceram as outras, como a castanha-do-pará, por exemplo. DEZEMBRO DE 2016

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CAPA

A FLORA AMAZÔNICA AMEAÇADA Em virtude do constante desmatamento da floresta amazônica, muitas outras espécies da flora também estão ameaçadas de extinção, segundo a lista do Ministério do Meio Ambiente. Foram identificadas, ao todo, 472 plantas, das quais 24 são nativas do bioma amazônico. Por ser uma floresta fechada e com um grande número de árvores de grande porte – cerca de 11.120 espécies -, as espécies de vegetação rasteira são poucas. Estima-se que existam 30 milhões de vegetais na Amazônia. Além da castanheira, há também espécies conhecidas, como a seringueira, o cacaueiro e a vitória-régia. Estudos apontam que 17,3% da cobertura florestal do bioma amazônico já foi destruído. A posse ilegal de terras, as queimadas e a expansão da fronteira para pecuária e agricultura estão entre os fatores predominantes para essa devastação, e para o aumento da taxa de plantas em extinção na Amazônia. O Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) entende por espécies ameaçadas de extinção aquelas com alto risco de desaparecimento na natureza em futuro próximo, embasados em documentação científica. O pau-cravo (Dicypellium caryophulatum), por exemplo, está praticamente extinto no Brasil. Uma de suas populações deverá ser suprimida com a construção da usina hidrelétrica de Belo Monte, no Pará. Na página ao lado, algumas espécies que correm o risco de extinção na Amazônia: 38 • REVISTA AMAZÔNIA VIVA •

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SINAL VERMELHO

Árvores ameaçadas de extinção na região:

Mogno

(Swietenia macrophylla) Classificação: Vulnerável Características: Árvore nativa da Amazônia, mais comum no sul do Pará, é ornamental quando usada na arborização de parques e jardins. A madeira do mogno é muito usada na produção de móveis. Pesquisadores da Universidade Federal do Pará também estudam sobre as propriedades da árvore para o combate ao câncer.

Andiroba

(Carapa guianensis Aubl.) Classificação: Vulnerável Características: As sementes de andiroba fornecem um óleo amarelo com propriedades insetífugas e medicinais. Além disso, ela pode ser utilizada no combate às infecções do trato respiratório como: dermatites, lesões secundárias, úlceras e escoriações. Tem também propriedades cicatrizantes e antipiréticas. O óleo é utilizado ainda em vários produtos para tratamento de cabelo deixando-o sedoso e brilhoso.

Pau-amarelo (Vochysia haenkeana)

Classificação: Criticamente em perigo Características: É no tronco da árvore que está o interesse dos exploradores. Essência principal de perfumes, um deles imortalizado pela atriz norte-americana Marilyn Monroe, o tronco e as lascas precisam ser processados a vapor para a extração do óleo que atrai a indústria de cosméticos. Para obter 180 litros de essência, é necessário de 15 a 20 toneladas de madeira, precisando derrubar mil árvores. FONTE: EMBRAPA AMAZÔNIA ORIENTAL

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CAPA

DA MATA PARA DENTRO DE UM LABORATÓRIO Para que projetos como o da enxertia de castanha-do-pará tenham êxitos, a Embrapa Amazônia Oriental conta com o laboratório de frutíferas (LABFRUTI), que desenvolve pesquisas na área de propagação de espécies frutíferas nativas da Amazônia, dentre elas a caracterização biométrica de frutos e sementes, e a superação de dormência em sementes. O LABFRUTI também realiza testes de germinação e armazenamento de sementes das espécies, assim como o estudo de suas fisiologias, avaliação de tipos de substratos e recipientes para o crescimento de mudas, testes de tetrazólio e hibridação de plantas frutíferas. Além da castanheira, muitas outras espécies são estudadas e trabalhadas pelo LABFRUTI. O muruci é um deles. Neste caso, os pesquisadores trabalham com a enxertia para multiplicar árvores que possibilitem frutos com maior rendimento de polpa. “Ou seja, o objetivo é proporcionar uma espécie mais produtiva em termos de quantidade. Com isso, a população terá um produto final com mais qualidade”, afirma Walnice Nascimento. Outra área de atuação do LABFRUTI visa ao melhoramento dessas espécies, onde são realizadas desde as etapas de pré-melhoramento com a caracterização de clones (caso da castanha-do-pará), até os ensaios de competição destes materiais em diversas localidades do Pará, para identificação e recomendação dos genótipos mais adaptados e com estabilidade de produção para cada um destes locais. Como forma de contribuir para o fortalecimento da cadeia de valor da castanheira-do-brasil, pesquisadores da Embrapa Amazônia Oriental desenvolvem um amplo projeto, que caminha por duas vias principais: geração de metodologias para auxiliar no mapeamento e modelagem 40 • REVISTA AMAZÔNIA VIVA •

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da ocorrência de castanhais nativos da Amazônia Brasileira, por meio de geotecnologias, e caracterização das relações sociais e econômicas dos sistemas de produção da castanha. Com início, em 2014, o projeto Mapeamento de Castanhais Nativos e Caracterização Socioambiental e Econômica de Sistema de Produção de Castanha-do-Brasil na Amazônia, já coletou de inúmeros dados, que agora estão em fase de consolidação e análise. Os pesquisadores trabalham com as imagens de satélite de diferentes sensores para avaliar à possibilidade de detecção de árvores de castanheiras, uma vez que estas são dominantes no dossel (estrutura formada pela copa das árvores) da floresta. O maior desafio, segundo a Embrapa, é identificar a grande diversidade florística existente nas florestas tropicais. Em seus ambientes naturais, as castanheiras podem estar acompanhadas de uma multiplicidade de até 300 espécies por hectare. Nesse sentido, os pesquisadores também buscam responder a outros importantes questionamentos, como os fatores relacionados ao clima, solo, diversidade e topografia que interferem na ocorrência, abundância e produção de frutos das castanheiras. O projeto tem duração de 48 meses e as informações coletadas durante o período serão importantes para o avanço do conhecimento sobre a castanheira, em especial nos aspectos relacionados ao seu ambiente natural de ocorrência. Projetos sempre são bem-vindos. Ainda mais aqueles que se preocupam com a vida de uma população. A Amazônia agradece. O mundo agradece. Ideias inovadoras e eficientes são necessárias não só para a garantia da sobrevivências das espécies, mas também para o bem estar social e qualidade de vida de uma população. É uma via de mão dupla: a floresta precisa constantemente de boas práticas e exemplos de como sustentá-la, e a população sabe que a solução está nela. Ainda bem.

PROPAGAÇÃO DAS ESPÉCIES

Além da castanha-do-pará, o LABFRUTI da Embrapa Amazônia Oriental pesquisa outras espécies vulneráveis na região, como o muruci (representados em duas etapas nestas páginas). No laboratório são realizados testes de germinação e armazenamento de sementes, estudos de fisiologia e hibridação de plantas frutíferas.

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SUSTENTABILIDADE

Madeira legal na comunidade

Manejo florestal desenvolvido na Reserva Extrativista Verde para Sempre recebe certificação FSC TEXTO LUCAS FILHO

A

Cooperativa Mista Agroextrativista Nossa Senhora do Perpétuo Socorro do Rio Arimum (Coomnspra), localizada no município de Porto de Moz (PA), está certificada pelo Conselho de Manejo Florestal Forest Stewardship Council (FSC), conforme divulgado no site da organização. O selo FSC atesta que a extração madeireira segue critérios baseados em uma gestão ambientalmente apropriada, socialmente benéfica e economicamente viável, respeitando o ser humano e o meio ambiente. 42 • REVISTA AMAZÔNIA VIVA •

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No Brasil, há somente seis empreendimentos madeireiros comunitários certificados pelo FSC. A Coomnspra é o sétimo, o segundo no Estado do Pará. “O sentimento é de vitória, porque não é fácil falar de certificação em um plano de manejo desenvolvido por comunidades [e não empresarial]. Acreditamos que teremos benefícios, pois trabalhando corretamente ganham todos: nossas famílias e o meio ambiente”, comenta Jones Santos, presidente da cooperativa, que possui mais de 50 associados, residentes na localidade

Nossa Senhora do Perpétuo Socorro do Rio Arimum. Um dos fatores determinantes para a conquista do selo foi o engajamento dos moradores. “A experiência nos mostra que as comunidades da Amazônia que manejam produtos madeireiros e não madeireiros são capazes de se organizar”, comenta Junia Ruggiero, que integra a equipe do Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola (Imaflora), entidade certificadora e responsável pelas auditorias na cooperativa.


KÁTIA CAVALHEIRO/ DIVULGAÇÃO IEB BRASIL

JAIME SOUZZA/ DIVULGAÇÃO IEB BRASIL

FUTURO VERDE

Desmatamento na Resex Verde para Sempre já consumiu em torno de 4% do território. Comunidades buscam o manejo sustentável para conservar os recursos da reserva para futuras gerações.

A busca coletiva para seguir os princípios e critérios internacionais do FSC foi uma ferramenta importante para aprimorar o manejo e a gestão realizada pela comunidade. Isso se traduz em “manter a floresta conservada, ser engajado socialmente e ter boa gestão do território”, explica Junia.

O engenheiro agrônomo e mestre em Manejo Florestal, Westphalen Nunes, avalia que certificação é um reconhecimento de que as populações tradicionais são capazes de gerir seus recursos florestais comuns, traduzidos em benefícios socioeconômicos e ambientais hoje e para as futuras gerações. Contudo, o envolvimento das famílias como protagonistas nas diferentes etapas do manejo precisa ser construído com cautela. “É necessário tempo e métodos adequados para gerar lições e apren-

dizados que possam ser replicados em outras realidades amazônicas”, pontua Westphalen. O sucesso da Coomnspra tem como fonte uma série de esforços institucionais. Desde 2002, o Instituto Internacional de Educação do Brasil (IEB) realiza atividades de formação para a comunidade. Em 2013, o Instituto iniciou um trabalho de sensibilização para o Manejo Florestal Comunitário e Familiar (MFC), por meio de oficinas e seminários. “Para nós, é um privilégio DEZEMBRO DE 2016

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SUSTENTABILIDADE

KÁTIA CAVALHEIRO/ DIVULGAÇÃO IEB BRASIL KÁTIA CAVALHEIRO/ DIVULGAÇÃO IEB BRASIL

MUDANÇA DE MENTALIDADE

Nas comunidades às margens do rio Arimum, em Porto de Moz, a extração madeireira passou a ser sustentável após a criação da resex Verde para Sempre, afirma a a líder comunitária Maria Margarida (à direita)

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PELA NATUREZA

Manuel Amaral Neto, coordenador do Instituto Internacional de Educação Brasil (IEB), ressalta o papel das parcerias no processo de certificação ambiental junto ao FSC LUCAS FILHO/ DIVULGAÇÃO IEB BRASIL

JAIME SOUZZA/ DIVULGAÇÃO IEB BRASIL LUCAS FILHO/ DIVULGAÇÃO IEB BRASIL

fazer parte dessa história. Discutimos a certificação de Arimum a partir de um processo de capacitação realizado junto com o FSC-Brasil e apoio do Fundo Vale e da Clua (Climate and Land Use Alliance). Depois disso, muitas outras instituições se envolveram e foram determinantes para essa conquista”, relembra o coordenador do IEB, Manuel Amaral Neto. A Resex Verde para Sempre foi criada em novembro de 2004. O território é uma fonte de recursos fartos para a indústria madeireira. A região possui dimensões maiores do que o Líbano (cerca de 1,3 milhão de hectares). Mais de 50% de seu território são áreas de floresta que reúnem árvores de grande valor comercial, tais como o angelim-vermelho, a maçaranduba e o ipê. “Antes da criação da reserva, era extraído diariamente uma média de três mil metros cúbicos de madeira. Eram balsas entrando e saindo, noite e dia, carregadas de toras”, relembra a líder comunitária Maria Margarida. Naquela época, a extração ilegal por madeireiras de fora do território era constante e sem controle. “Após a criação, logo no início, enfrentávamos pistoleiros para impedir o saque de nossas áreas”, conta Margarida, hoje ocupando o segundo mandato como vereadora no município de Porto de Moz.

Segundo dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), a Unidade de Conservação teve, até o ano passado, cerca de 4 % de sua área comprometida pelo desmatamento, algo em torno de 40 campos de futebol. Além da extração sem o manejo adequado da madeira, outro fator que inf luenciou o percentual foi a abertura de estradas clandestinas. Em 2006, o IEB realizou um estudo que identificou mais de mil quilômetros de estradas irregulares na reserva, a maioria ligando outros municípios, Altamira, Uruará e Medicilândia. Atualmente, o cenário é mais favorável aos comunitários que buscam realizar o manejo da floresta de forma sustentável, a partir de técnica de baixo impacto, como confirmou a certificação. Margarida espera que a conquista dos moradores do rio Arimum se amplie. “Nossa luta agora é ajudar outros grupos que estão com o plano de manejo aprovado. Queremos investir em formação, em conhecimento técnico e, ao mesmo tempo, diversificar nossa produção beneficiando a matéria-prima e apoiando a agricultura familiar”, destaca Maria Margarida em sua luta para manter o nome da Resex, Verde para Sempre, uma realidade para seus netos e bisnetos. DEZEMBRO DE 2016

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SUSTENTABILIDADE

JAIME SOUZZA / DIVULGAÇÃO IEB BRASIL

AÇÕES ESTRUTURANTES

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MANTER VIVA A NATUREZA

Localiza-se na “esquina” do Rio Amazonas com o Rio Xingu. Pelo Amazonas estão as áreas de várzeas. Durante o verão, formam incontáveis lagos que servem de berçários naturais para criação e reprodução de diversas espécies de peixes, quelônios e répteis. Pelo rio Xingu surgem quilômetros de praias de areia com água clara. Às vezes elas ficam esverdeadas, devido ao aumento da concentração de algas. No centro da reserva, estão as áreas de terra firme, onde a floresta é exuberante

Reserva Extrativista Verde para Sempre

em sua plenitude. Dentro dela há particularidades, como a presença de sítios

BIOMA: Amazônia

e uma fauna muito rica. Foi diante de tanta beleza e de diversidade de recursos

ÁREA: 1.289.362,78 hectares

que centenas de famílias se adaptaram e constituíram suas relações sociocultu-

CRIAÇÃO: 8 de novembro de 2004

rais, lutando pelo seu território e manutenção do seu modo de vida.

arqueológicos, nascentes de igarapés com água cristalina, áreas de castanhais

JAIME SOUZZA / DIVULGAÇÃO IEB BRASIL

Manuel Amaral Neto avalia que a falta de uma política pública de promoção do manejo florestal tem impossibilitado o avanço de planos de manejo em territórios comunitários. As famílias detentoras de recursos florestais são assediadas por empresas madeireiras que praticam a atividade irregular e - muitas vezes - acabam cedendo às pressões pela “facilidade” da atividade ilegal. “Isso porque elas não dispõem de incentivos para habilitar suas florestas para o manejo florestal”, destaca Amaral. Para o coordenador do IEB, seria necessário avançar em ações estruturantes para que o manejo sustentável da floresta ganhe escala entre as populações amazônicas. “É necessário aportar recursos e esforços na regularização fundiária; na assistência técnica para elaboração e gestão dos planos de manejo; capital de giro para as atividades de operações florestais (manejo e beneficiamento dos produtos localmente); e facilitar mercados para produtos florestais oriundos do manejo em territórios comunitários. Em alguns países onde há incentivos dessa natureza (por exemplo, no México), o manejo florestal comunitário é uma realidade”, explica Amaral. A Coomnspra tem autorização para realizar o manejo florestal em uma área de 4.355 hectares, em uma das maiores unidades de conservação do país. “Há muitas empresas sem responsabilidade. Conhecemos o desafio de competir com a madeira ilegal. Mas nós abraçamos a causa. Queremos agregar valor ao nosso produto. Vamos buscar madeireiras certificadas”, enfatiza Jones, esperançoso e comprometido em caminhar corretamente, em um mercado cercado de ilegalidades e obstáculos.


ARTE, CULTURA E REFLEXÃO ROGER ELARRAT / DIVULGAÇÃO

PENSELIMPO

Imaginário e tão real O DIRETOR DE TV E CINEMA ROGER ELARRAT TRADUZ IDEIAS EM PROJETOS AUDIOVISUAIS

PÁGINA 48

ARTES PLÁSTICAS

MEIO AMBIENTE

Nascido em Castanhal, no Pará, o pintor Manoel Pastana deixou um legado de cores e formas sobre a região amazônica. PÁG.52

A doutora em Geografia e Gestão do Território Edane Acioli analisa a necessidade de profissionalização sobre a reciclagem no país. PÁG.58

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PAPO DE ARTISTA

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Com a cabeça cheia de ideias DEZ ANOS DEPOIS DE VISAGEM, SEU PRIMEIRO FILME OFICIAL, O DIRETOR DE CINEMA E TV ROGER ELARRAT ESTÁ EM UMA CRESCENTE PRODUÇÃO DE VÁRIOS PROJETOS NO AUDIOVISUAL, TRANSITANDO ENTRE LINGUAGENS DIVERSAS, EM UM DIÁLOGO DE IGUAL MEDIDA COM O FANTÁSTICO E COM O REAL TEXTO JOÃO CUNHA FOTOS FERNANDO SETTE

inema e televisão. Ficção e documentário. Animação e filme live action. Para Roger Elarrat esses pares são conjugados assim, longe do “ou” da escolha mutuamente exclusiva. Quando o assunto é filmar, não existe dicotomia. “Quando você abraça essa profissão, tem que se buscar tudo”, defende. A trajetória do diretor paraense é um reflexo dessa posição. Desde Visagem (2006), uma interpretação em stop-motion de contos de assombração típicos de Belém que marcou sua estreia formal no ofício, os trabalhos se assomam em vários sentidos e tamanhos: curta-metragem, série, animação, comerciais, programas de TV. Em 2017, ele parte para um território ainda desconhecido: a filmagem do seu primeiro filme de longa duração: “Eu, Nirvana”. Roger Elarrat abriu as portas de sua produtora, a “Visagem Filmes”, em Belém, e na entrevista a seguir fala sobre o seu projeto mais recente, em fase de finalização, a série “Squat na Amazônia”, movimentos de ocupação que unem o político e o artístico em um só, o gosto pelo realismo fantástico, a experiência de lançar um filme internacionalmente e o panorama da produção audiovisual paraense. “Squat na Amazônia”, teu projeto mais recente, é sobre jovens que fazem uma ocupação urbana por meio da arte, em Belém. O tema da ocupação é muito forte e atual, com o movimento dos estudantes nas universidades e escolas em todo o país. Aqui na cidade mesmo, em 2015, o casarão do Solar da Beira foi ocupado durante quase um mês por um grupo de pessoas em uma proposta artística e de revitalização do espaço. Como foi desenvolver esse assunto e como ele chegou até a ti?

É curioso, porque na minha lista de projetos futuros, tinha a ideia de falar sobre um squat, que é um tipo comum de ocupação artística na Europa. Quando o edital da Ancine (Agência Nacional de Cinema) que viabilizou a produção do “Squat na Amazônia” foi lançado e uma das linhas dadas era “uma série de TV com oito episódios, para o público jovem, sobre um coletivo periférico e engajado”, eu pensei: “vou fazer o projeto sobre a ocupação”. Em Belém, a gente tem um histórico de artistas que montam seus grupos e têm muita dificuldade de fomentar, de conseguir espaço pra se apresentarem, e isso acontece também em muitos outros lugares. É sintomático: é muito difícil a arte que vem da periferia crescer e se estruturar, então isso foi uma base forte pra criar a série. Quando o projeto foi enfim aprovado, em 2015, o processo de ocupação já tinha começado a crescer. O Teatro Cuíra fechou, a ocupação do Solar da Beira foi muito marcante, então parecia que estava tudo no ar, as coisas muito conectadas. Depois a gente tem um cenário político que cambaleou e oscilou muito e que há muita contestação envolvida até hoje e isso resultou nas ocupações, primeiros das escolas em São Paulo e agora no Brasil todo. A série, então, se relaciona com algo muito contemporâneo. Desde a época de pensar o projeto, eu tinha consciência que existe hoje um público jovem muito questionador, engajado e que está interessado em se ver na TV, mas tem pouco espaço pra esse tipo de representação. A série foi gravada no segundo semestre de 2016 e está em pós-produção. Quando ela estreia e o que o público pode esperar do “Squat na Amazônia”? A série começa a ser exibida pela DEZEMBRO DE 2016

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PAPO DE ARTISTA FERNANDO SETTE

“Existe hoje um público jovem muito questionador, engajado e que está interessado em se ver na TV, mas tem pouco espaço pra esse tipo de representação”

TV Brasil no primeiro semestre de 2017. É uma história de jovens que ocupam um casarão antigo no centro histórico de Belém e fazem desse um espaço de expressão artística. Em cada episódio, é visto o que acontece dentro da ocupação, as dificuldades e produção do grupo. É uma ocupação artística que tem esse caráter contestador de mostrar uma arte diferente, mas com um caráter de humor, que não vem do político, mas da relação entre esses jovens. Teus filmes já foram ao mundo dos “causos” de assombração, de extraterrestres, de pessoas que morrem duas vezes e até mesmo a uma peleja contra o Diabo. Pela primeira vez, com o “Squat na Amazônia”, a trama parece se situar em uma realidade menos fantástica. Como esse novo trabalho se relaciona com os anteriores? Na maioria dos filmes que eu fiz até agora, trabalhei com histórias de suspense, de horror e, em alguns deles, com uma pegada de comédia. Tem coisas que se repetem de um pro outro e se referenciam. Por exemplo, em quase todo projeto meu, e eu brinco com isso, tem cenas com um carrinho de raspa-raspa ou um fusca amarelo. Os ambientes de cortejos de rua e as cenas em cemitérios também são recorrentes. Nem sempre isso é intencional, tem coisas que a gente vai descobrindo durante os anos, pelo processo, “olha, de novo tô trabalhando com tal tema...”. Assim, eu consigo experimentar esses elementos de outra forma e é o caso do “Squat na Amazônia”, que é uma história que sai do realismo fantástico, é mais crua nesse sentido. Visagem (2006), teu primeiro filme oficial, é uma animação em stop-motion. Depois vieram curtas-metragens, séries televisivas, além dos teus trabalhos em outros campos, como a publicidade. Como é filmar em linguagens tão diferentes dentro do audiovisual? Isso é muito bacana. Quando você abraça essa profissão, tem que se buscar tudo, eu acho, porque o diretor que só faz filmes vai viver um set de filmagens num período muito curto, a cada ano, isso se conseguir filmar todo ano. Quando você consegue na-

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vegar entre projetos diferentes, você está o tempo todo dirigindo. Às vezes eu tô dirigindo a abertura de um programa de TV, às vezes um especial de fim de ano, às vezes um curta, um documentário. A ideia de buscar desafios diferentes me aprimora muito como profissional, porque um projeto nunca é igual a outro. Os desafios sempre vão te forçar a ter respostas diferentes, um preparo diferente e ideias diferentes. Eu já filmei aéreas em helicóptero, já filmei em rapel, em presídio, filmei em vários interiores, filmei em barco, em navio cargueiro, em locações apertadas, até dentro de banheiro. Essa vivência de direção parece que não é acumulativa, ela vai mudando. De toda a tua filmografia até aqui, nenhum filme teve tanta projeção quanto o curta “Juliana contra o jambeiro do diabo pelo coração de João Batista”, que estreou no Festival de Cannes, em 2012. Como foi essa experiência? O “Jambeiro” foi pra vários festivais internacionais, mas Cannes foi o começo de tudo. Nós inscrevemos o filme em uma mostra do festival e ele foi muito bem recebido. A maioria dos curtas-metragens que eles veem lá são muito simples, não sei se por questões de financiamento, de estrutura, mas eles ficaram impressionados com um curta que era um road movie (filme que se passa na estrada), que tinha efeitos especiais, trilha sonora original, cenas com 300 figurantes, isso impactou e foi muito bacana. Ao lado de “Squat na Amazônia”, outras produções audiovisuais paraenses estão em processo de planejamento e filmagem, em uma cadência talvez maior do que se via há poucos anos. O ambiente para a produção local está mais favorável? No início dos anos 2000, os filmes feitos no Pará eram menos constantes. A gente tinha um curta, dois anos depois outro curta, aí depois de mais um tempo outro curta, e os profissionais da área tinham pouca possibilidade de trabalhar


FERNANDO SETTE

com regularidade. Realmente, ao longo dos anos, temos tido uma produção mais constante. O Luiz Arnaldo (Campos), a Jorane (Castro), o Fernando (Segtowick), a Priscila (Brasil)... quando um não está filmando, o outro está. Então, a equipe que trabalha com um, trabalha com outro, e também tem as produções de fora que começaram a vir com mais frequência pra cá também, então eu acho que esse cenário está mudando.

DIVULGAÇÃO DIVULGAÇÃO

Fechado o ciclo de “Squat na Amazônia”, os próximos projetos teus e da Visagem Filmes já estão em andamento. Me fala um pouco sobre eles. Vamos gravar outra série pra TV Brasil, só que dessa vez ainda maior, com treze episódios: “Sacoleiros S.A.”. O roteiro, escrito por mim e pela Larissa Ribeiro, conta a história de um grupo de pessoas que ganha dinheiro em épocas de crise, na base da trambicagem. Em certo ponto, a história vira uma grande sátira de obras de crime, a gente faz referências (às séries) Narcos, Breaking Bad, e também aos filmes “O Poderoso Chefão”, “Chinatown”. Antes, porém, começamos a rodar o meu primeiro longa-metragem para as salas de cinema, cujo nome é “Eu, Nirvana”. O projeto foi aprovado no início desse ano pelo (antigo) Ministério da Cultura, a Carolina Oliveira e a Dira Paes (atrizes) serão as protagonistas, e agora vamos entrar em preparação para gravar em 2017, a partir de junho. É um roteiro meu sobre uma menina que sofre um acidente de barco e fica em coma. Quando ela desperta do acidente, não consegue mais dormir e fica acordada durante meses no hospital e começa a ter falhas de percepção da realidade. Às vezes, ela pode conversar com pessoas que não existem e ir a lugares que não são reais. É um filme que vai ter um clima de suspense, mas se trata de um drama todos sobre os personagens femininos nessa história. Assista ao curta “Visagem”

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PELAS LENTES

Roger Elarrat é autor de obras originais sobre uma Amazônia folclórica e urbana, como “Chupa-chupa” (acima) e “Juliana contra o jambeiro do diabo pelo coração de João Batista”

Assista ao curta “Juliana contra o jambeiro do diabo pelo coração de João Batista”

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MEMÓRIAS BIOGRÁFICAS

Amazônia em cédulas e galerias TEXTO JOÃO CARLOS PEREIRA

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ILUSTRAÇÕES JOCELYN ALENCAR

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Manoel Pastana 1888-1984


N

ascido no mesmo ano em que a princesa Isabel libertou os escravos, 1888, o castanhalense Manoel de Oliveira Pastana não fazia referência a uma possível ascendência africana, mas se considerava, com muito orgulho, prisioneiro do sangue indígena que dizia correr em suas veias. Filho de uma família humilde, fez o caminho natural de todos que tinham desejo de mudar de vida: assim que pode, transferiu-se para Belém, onde começou trabalhando na estiva, foi pintor de placas e depois professor. Mas foi como artista plástico e o que hoje se chama de designer, que se projetou para o mundo. Pastana conheceu o final da “belle époque” amazônica e, em Belém, teve uma chance rara: estudou com Francisco Estrada e Theodoro Braga, por cujas mãos foi levado à arqueologia do Marajó e do Baixo Amazonas. Um mundo novo se abria diante do jovem artista, que não apenas se identificara com as formas e cores de sua região, mas também se valeria delas para ganhar projeção nacional. A habilidade no manejo das linhas e a sensibilidade para a escolha das cores fizeram com que Pastana fosse contratado pela Marinha do Brasil para desenhar máquinas. Nessa época, começou a pintar e produzir retratos e paisagens. A temática dominante, contudo, era a cerâmica indígena. Ao mesmo tempo em que desenhava e pintava, também buscava inspiração na flora e na fauna da Amazônia para criar objetos de arte decorativa. Mesmo sem ter ido à Europa, conhecia o estilo “nouveau” e seu trabalho, de alguma forma, guarda afinidade com a estética que dominou o mundo no final do século XIX e começo dos século XX. Em 1917, realizou uma exposição na cidade paulista de Jaú. Cinco anos depois, um grupo paulista sacodiu o ambiente cultural brasileiro com a Semana de Arte Moderna. Pastana também estava afinado com os ideais de 22. Como se vê, nada acontece por acaso. Entre 1918 e 1935, o artista paraense expôs pelo menos quatro vezes no Rio de Janeiro. Seu talento não passou desapercebido pelo

governo, que o convidou para trabalhar na Casa da Moeda onde, ao longo de cinco anos, desenhou moedas, notas, selos, apólices, dentre outras peças. Inexplicavelmente, a história da arte não reservou para Manoel Pastana um lugar de destaque entre os grandes do século XX. O jovem que ajudou a fundar, em 1918, a associação dos Artistas Plásticos, embrião da Academia Livre de Belas Artes do Pará, expôs em Paris, no ano de 1937, e de lá trouxe medalha de prata, numa exposição mundial. Dois anos depois, seus trabalhos foram mostrados nos Estados Unidos e no Chile. Manoel Pastana morreu no dia 25 de abril de 1984 na cidade do Rio de Janeiro, aos 96 anos. Até essa data, ainda produzia. A natureza e a cultura dos povos indígenas do extremo Norte do Brasil foram o motivo recorrente de uma obra que o mundo inteiro conheceu e aplaudiu e que, no Pará, parece condenada a um triste esquecimento. Nesse sentido, Pastana não é personagem isolada de um sistemático apagamento de memória. Outros artistas aqui nascidos também fazem parte de uma galeria de ilustres desconhecidos desta terra, mas reconhecidíssimos fora daqui. O pintor, desenhista e crítico de arte Quirino Campofiorito, (1902); o artista plástico Ismael Nery, de (1900); o músico Jayme Ovalle (1894), os escritores José Veríssimo (1857), Inglês de Souza (1853), Osvaldo Orico (1900), o inventor Júlio César Ribeiro de Souza (1843), os atores Sérgio Cardoso (1925) e Clea Simões (1927), o médico Gaspar Vianna (1885) e Inocêncio Serzedelo Correa (1859) - esses dois últimos, pelo menos, tiveram seus nomes colocados em placas com nome de rua - são seus companheiros numa lista que poderia ser largamente ampliada de paraenses esquecidos ou mal lembrados, para os quais, um dia, o Pará vai olhar com reconhecimento e respeito.

* João Carlos Pereira é jornalista e professor. Vice-presidente da Academia Paraense de Letras e presidente eleito do Conselho Estadual de Cultura do Pará. DEZEMBRO DE 2016

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AGENDA REPRODUÇÃO

ORGÂNICOS A exposição “Orgânicos”, de Luciana Magno, está em cartaz no Espaço Cultural Banco da Amazônia. Com curadoria de Marisa Mokarzel, a mostra apresenta registros em fotografia e vídeo que refletem o mapa político do Pará e mostram a vegetação e utilização dos recursos naturais do Estado. A exposição vai ficar aberta para visitação durante o período de 18 de novembro a 13 de janeiro, das 9h às 15 horas. Informações: basa.com.br

ÉPOCAS Um passeio histórico e cultural pelos 400 anos da capital paraense: é o que propõe a exposição “Belém de Todas as Épocas”. Por meio de painéis fotográficos, registros audiovisuais, textos e imagens o público pode fazer uma retrospectiva por vários períodos da história de Belém, desde sua fundação até a atualidade, passando pela Colônia, Império, República,

CINE OLYMPIA

A felicidade não se compra

Belle Époque e Modernidade. Mais informações: belemdetodasasepocas.com.br.

Dia 23 de dezembro, como programação es-

homem que ele é importante e especial para

PREMIAÇÃO

pecial de Natal, o Cine Olympia exibirá o filme

muitas pessoas.

Se você produziu, em 2015 e 2016, filmes de

“A Felicidade Não se Compra”, de Frank Capra.

“A Felicidade Não se Compra” foi produzido

longa ou curta-metragem sobre temáticas so-

A narrativa se passa em Bedford Falls e conta

pela firma independente Liberty, de Frank

cioambientais, pode inscrever sua obra, até 15

a história de George Bailey, interpretado por

Capra e William Wyler. Em 1974, após não ter

de janeiro, na Seleção sexta edição da Mostra

James Stewart, que sempre ajudou a todos.

feito tanto sucesso, o longa caiu em domínio

Ecofalante. Podem participar da competição

No filme, após uma série de desilusões e de-

público e foi exibido inúmeras vezes na TV

produções de qualquer gênero e duração.

savenças com o poderoso Sr. Potter, interpre-

americana, especialmente na época de Natal.

Energia, água, mudanças climáticas, consu-

tado por Lionel Barrymore, George pensa em

A partir daí, a produção, que mistura drama,

mo, ativismo ambiental, poluição, políticas

se suicidar no Natal saltando de uma ponte,

fantasia e romance, se tornou um clássico na-

públicas, mobilidade, alimentação, economia

mas tantas pessoas oram por ele que Claren-

talino que é exibido no Brasil e em outros pa-

verde, globalização, vida selvagem, desenvol-

ce (Henry Travers), um anjo que espera há 220

íses durante o mês de dezembro. Em Belém,

vimento, povos e lugares estão na lista extensa

anos para ganhar asas é enviado para a Terra

quem quiser conferir o filme pode acompa-

de temas. Os prêmios da competição variam

com a missão de tentar fazer George mudar

nhar a sessão única que tem entrada franca

entre 15 e 5 mil reais para os vencedores. Inscri-

de ideia. Por meio de flashbacks, nos quais

e inicia-se às 18h30. Mais informações pelo

ções, regulamento e outras informações dispo-

a bondade e a honestidade do protagonista

telefone (91) 3230-5380 ou pela página no Fa-

níveis no site: ecofalante.org.br/mostra/

transparecem, Clarence demonstra para o

cebook.com/CineOlympiaOficial.

CONGRESSO Nos dias 19, 20 e 21 de abril de 2017, será rea-

SAÚDE

lizado o Congresso Nacional Multidisciplinar

Será realizado, nos dias 12 e 13 de dezembro, a segunda edição do Encontro Regional Norte

da Saúde e Bem Estar (Conmsaber) com o

da Rede Unida, com o tema “Entre rios e florestas, o tecer do cuidado na Amazônia: desafios

tema: Os Desafios Encontrados pelos Profis-

do SUS”. O evento discutirá assuntos como o desmonte do SUS, interprofissionalidade na for-

sionais da Saúde no Tratamento Humanizado

mação para a saúde, escola sem partido, direitos trabalhistas, violência obstétrica, programa

na Saúde Pública. O evento será de 8h às 18

Mais Médicos e saúde mental. Na programação haverá mesas de debate e rodas de conversas.

horas, no Centro de Eventos Ismael Nery, no

O evento será na Universidade da Amazônia - UNAMA. Mais Informações: redeunida.org.br/

Centur (Avenida Gentil Bitencourt). Informa-

congresso2016/regionais/norte

ções: Página oficial do Cepespa Brasil disponível no link facebook.com/catay.cnx

54 • REVISTA AMAZÔNIA VIVA •

DEZEMBRO DE 2016


FAÇA VOCÊ MESMO

Guirlanda de Natal reciclável Para inovar nas cores, economizar e acrescentar um toque mais pessoal à decoração de Natal, uma guirlanda reciclável e fácil de fazer é uma solução. Tudo com material que se tem em casa ou que custará bem pouco para reunir. E, além do enfeite para casa, dá para vender e juntar para adquirir outros enfeites e deixar a decoração única. A técnica, ensinada pelas Oficinas Curro Velho, pode ser aplicada em outros objetos como árvores de natal, molduras de espelhos, quadros, tampas de caixas de presente. Para dar o toque final, use pedrarias, peças em metal, f lores de plástico

e outras peças que puder encontrar em casa para reaproveitar. A experimentação é altamente recomendável. Ouse nas cores e padrões usando tons não tradicionais, como o amarelo, laranja, azul, roxo ou mesmo tecidos com estampas f lorais, geométricas e listradas. A fita de cetim pode ser substituída por uma faixa do próprio tecido escolhido pra fazer as “f lores” da guirlanda. E para dar mais firmeza à guirlanda, enrole um arame antes de encapá-la com a fita de cetim ou aumente a quantidade de folhas de revista.

• Folhas de revista • Fita crepe

Do que vamos precisar?

• Retalhos de tecido liso • Fita de cetim (largura 4cm) • Fita de cetim (largura 2cm) • Tesoura com pontas arredondadas • Copo descartável • Pistola de cola quente ou cola de silicone líquida • Peças variadas de bijuterias, pedrarias, etc

COORDENADOR DE ARTES VISUAIS/ OFICINAS CURRO VELHO: CRISTIANO AMORIM / INSTRUTORA/TÉCNICA EM GESTÃO CULTURAL – FCP: LUIZA NEVES FOTOGRAFIAS /ÁUDIO VISUAL – FCP: JACKNILSON DEZEMBRO DE 2016

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FAÇA VOCÊ MESMO

4 7

Destaque as folhas de revista e amasse-as no sentido do comprimento (serão necessárias 16 folhas para uma guirlanda de aproximadamente 20cm de diâmetro)

Envolva o círculo com uma fita de cetim (ou tira de tecido) fixando-a no papel com gotas de cola de silicone.

Pingue uma gota de cola no centro do círculo e aperte-o, formando uma espécie de flor.

2 5 8

Sobreponha as folhas amassadas de quatro em quatro unidades para dar volume à guirlanda, unindo-as com a ajuda da fita crepe (faça quatro conjuntos de folhas de revista com quatro folhas cada conjunto).

Traspasse uma fita de aproximadamente 2cm de tecido no círculo e dê um nó para pendurar a guirlanda.

m a cola quente, vá colando as “flores” bem próximas umas das outras em todo o círculo encapado.

3 6

Para formar o círculo, una cada conjunto de folhas de revista ao outro com a ajuda da fita crepe.

Risque no tecido círculos de aproximadamente 7cm de diâmetro (use um copo descartável como molde) e recorte-os.

9

Para finalizar, insira livremente várias peças de bijuteria, botões, pedrarias por entre as “flores”. Pendure a guirlanda na porta e dê as boas vindas ao Natal!

Para saber mais Quem quiser conhecer mais sobre técnicas artísticas pode se inscrever nas oficinas Curro Velho, da Fundação Cultural do Pará. Crianças a partir de 12 anos podem participar. O Curro Velho fica localizado na rua Professor Nelson Ribeiro, nº 287, esquina com a travessa Djalma Dutra, bairro do Telégrafo. Telefones: (91) 3184-9100 e 3184-9109. 56 • REVISTA AMAZÔNIA VIVA •

DEZEMBRO DE 2016

RECORTE AQUI

1

ATENÇÃO: Essa atividade pode ser feita por crianças, desde que acompanhadas por um adulto responsável


BOA HISTÓRIA

Frio. Talvez a primeira sensação real de um gelado que ainda desconhecia. O mais perto que che-

gou do arrepio total, da imersão completa no gelo, era nas manhãs antes da escola, embaixo do chuveiro obrigatório que precedia vestir o uniforme para as aulas das sete horas. Nada comparado, porque no banheiro ligava a ducha e passava uma eternidade esbanjando água. Depois estendia a mão por mais um tempinho, molhava a ponta do pé esquerdo e entrava no jato em queda como quem passa por uma fresta, na lentidão de uma preguiça do mato. No entanto, o frio dessa vez veio cortante e veloz como uma rede a envolver a vítima na armadilha. Rápido também foi a corrida. Descalço, a terra pedregosa e rosácea de barro duro no toque dos pés, o capim vivo espalhado, os três tubos transpassando o sub-

terrâneo da ruazinha, às costas a igreja pequena branca e azul, uma tábua larga e comprida para servir de banco a quem contemplava os fins de tarde na visão de privilégio guardado pela calmaria só quebrada pelos visitantes. Mais distante o casebre onde os adultos estavam reunidos no preparo de uma galinha de quintal para o almoço. Um jirau, risadas, bancos de tocos antigos, o telhado de palha de açaizeiro, velhas histórias das muitas idas até o Santa Rosa. Estavam em casa, todos eles, alheios aos riscos. Era uma prova. Na verdade, uma tentativa de parecer maior. Ele era franzino, pequeno, um mucuim perto dela. Os cabelos amarelos de minhoca, os olhos verdes, era uma moça perto do curumim. No menor sinal de dúvida dela, ele se atirou. Tomou distância, pegou embalo, correu, tomou impulso na beira e experimentou o gelo. Não deu tempo de ouvir o “não

LEONARDO NUNES

Resgate faz isso, menino”. O contato com a água só foi pior do que perceber que não dava pé. Sentiu o infi nito até chegar no lodo preguento do fundo. Empurrou-se para cima. Desceu em seguida. Pensou na mãe. Desceu de novo. O ar já lhe faltava. Subiu já tomado de medo e afundou em seguida. Era o fi m, ele pensou, já com as lágrimas se misturando à água doce que o levaria para sempre. Sentiu o braço no pescoço e o corpo como uma enguia a lhe envolver. Arrastado agora sem entender mais nada. Até que o chão de areia voltou e ele percebeu a salvação. Ergueu-se e rápido engoliu o choro. O rosto agora esfogueado de vergonha, o desespero do afogado ainda na feição. A moça o olhava e ria dentro do biquíni, heroína do dia. Levou o resgatado até os pais. Ganhou atenção que queria, não do jeito que imaginava. Só tinha sete anos e nenhuma instrução sobre igarapés. DEZEMBRO DE 2016

Anderson Araújo

é jornalista e escritor • REVISTA AMAZÔNIA VIVA • 57


NOVOS CAMINHOS

reciclagem precisa de profissionais

A capital paraense produz região metropolitana de Belém há diariamente cerca de 1.200 mais de 15 organizações realizando toneladas de resíduos. Cerca de a coleta seletiva em domicílios e es-

EDANE ACIOLI é doutora em Geografia e Gestão do Território pela SorbonneNouvelle (Paris) e coordenadora de projetos do Instituto Internacional de Educação do Brasil (IEB) 58 • REVISTA AMAZÔNIA VIVA •

500 toneladas desse volume é recuperada mensalmente por catadores de materiais recicláveis, que atuam individualmente ou organizados em associações e cooperativas. Em Belém, a indústria da coleta de resíduos é quase desconhecida pela sociedade. Ela tem se reproduzido de forma espontânea, formando uma economia subterrânea em um mercado quase invisível, mas extremamente forte e complexo. Estima-se que anualmente a reciclagem na capital gere em torno de R$ 110 milhões. Plástico e alumínio representam 20% do volume total e geram quase 50% dessa receita. O avanço no setor, a partir da criação da Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS -12.305/2010), abriu um espaço para inserção de profissionais neste mercado. Quanto mais produtos entram na cadeia produtiva (plásticos, papéis, metais nobres) maior é a necessidade de profissionalização de quem atua com aquilo que é considerado lixo. Contudo esse avanço ainda é problemático, principalmente em regiões onde a implementação da legislação caminha vagarosamente. A falta de informação e o preconceito com as atividades ligadas à coleta e ao tratamento de resíduos gera uma carência de pessoas familiarizadas com as particularidades do setor. A desinformação inclui desconhecer o trabalho dos catadores de materiais recicláveis. Somente na DEZEMBRO DE 2016

tabelecimentos comerciais. A tendência é que os grupos de catadores organizados acessem aportes financeiros para avançar na cadeia da reciclagem. O apoio poderá vir de convênios com o poder público, de projetos com Organizações Não Governamentais e do setor privado que, a cada dia se mostra mais preocupado em adotar processos sustentáveis de produção. Este panorama abre um leque de oportunidades para quem deseja se colocar no mercado em um setor que busca qualificação. Muitas dessas organizações demandam profissionais nas áreas de logística e administração, gestão de transportes, fluxos (coleta, triagem, estocagem, comercialização), marketing, comunicação e educação ambiental. Para se candidatar a uma vaga é aconselhável que o candidato busque conhecer o mercado dos produtos recicláveis no Brasil e na região. Além disso, o perfil do profissional que deseja prestar assistência técnica para os catadores inclui outros requisitos. É aconselhável entender aspectos da educação popular e saber integrar seu saber técnico com o conhecimento prático dos catadores. Tudo isso é preciso estar alinhado com a motivação de construir e fortalecer coletivamente empreendimentos que ajudem a gerar renda, qualidade de vida e justiça social para os grupos mais fragilizado na cadeia produtiva da reciclagem. É bom estar preparado.

“Atuação deve buscar construir coletivamente empreendimentos que ajudem a gerar renda, qualidade de vida e justiça social”


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