Revista Amazônia Viva ed. 68 / abril de 2017

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REVISTA ENCARTADA NO JORNAL O LIBERAL. NÃO PODE SER VENDIDA SEPARADAMENTE.

ABRIL 2O17 | EDIÇÃO NO 68 ANO 6 | ISSN 2237-2962

O SEGREDO DOS

CORAIS

Um recife de quase 1.000 km de extensão foi descoberto recentemente na foz do rio Amazonas, entre 60 e 150 metros de profundidade. Agora, pesquisadores e ambientalistas se desdobram para mapear a biodiversidade no local e defender o bioma da ação de empresas petrolíferas, que têm interesse em explorar a região.

SUPERAÇÃO

Tembé é o primeiro indígena a se formar em Direito pela UFPA

SAÚDE

Bonecos inovam o tratamento de crianças com doença renal crônica

SUSTENTÁVEL

ONG incentiva atividades de educação ambiental na periferia da Grande Belém




EDITORIAL

PUBLICAÇÃO MENSAL DELTA PUBLICIDADE - RM GRAPH EDITORA ABRIL 2017 / EDIÇÃO Nº 68 ANO 6 ISSN 2237-2962 Presidente LUCIDÉA BATISTA MAIORANA Presidente Executivo ROMULO MAIORANA JR. Diretor Jurídico RONALDO MAIORANA Diretora Administrativa ROSÂNGELA MAIORANA KZAM ©MARIZILDA CRUPPE/GREENPEACE

EM BUSCA DE RESPOSTAS Uma expedição do Greenpeace adentra o rio Amazonas para ajudar a desvendar os mistérios dos Corais da Amazônia recém-descobertos

Pesquisa rio adentro em favor dos corais

FELIPE JORGE DE MELO Editor-chefe

A recente descoberta de um recife com quase 1.000 km de extensão na foz do rio Amazonas chama a atenção para a necessidade de mais pesquisas sobre a biodiversidade na profundeza das nossas águas. Chamado de “Corais da Amazônia”, o conjunto de esponjas, corais e rodolitos encontrado entre 60 e 150 metros de profundidade faz parte de um bioma pouco estudado na região e que ainda guarda muitos mistérios a serem desvendados pela Ciência. Segundo os pesquisadores, esse ecossistema abrange uma área total de 9,5 mil km², do Maranhão ao Amapá, e somente 5% dele está totalmente mapeado. Sabe-se que a vida aquática em torno dos Corais da Amazônia é rica e variada. O rio Amazonas, conhecido por ser o lar de peixes-bois, ariranhas e botos, também abriga, em seus níveis mais

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profundos, espécies que ainda não haviam sido encontradas no local, como o peixe-borboleta e o budião-sabão. Mas a região onde estão localizados os corais recém-descobertos também desperta o interesse de empresas petrolíferas, por acreditarem que existem grandes reservas de petróleo na área. Oficialmente, as zonas de ocorrência dos recifes amazônicos não estão em áreas de proteção. Temendo um desastre ambiental, devido ao risco de vazamento de óleo, o que causa prejuízos incalculáveis e, muitas vezes, irreversíveis, ao homem e ao meio ambiente, o Greenpeace lançou uma campanha virtual para impedir a exploração na região dos corais. Ao fazer uma expedição na foz do Amazonas, colaborando com as pesquisas sobre o bioma aquático, a ONG solta, mais uma vez, um grito pela “paz verde” na Amazônia.

Diretora Comercial ROSEMARY MAIORANA Diretor Industrial JOÃO POJUCAM DE MORAES FILHO Diretor JOSÉ LUIZ SÁ PEREIRA Conselho editorial RONALDO MAIORANA JOÃO POJUCAM DE MORAES FILHO LÁZARO MORAES REDAÇÃO Jornalista responsável e editor-chefe FELIPE JORGE DE MELO (SRTE-PA 1769) Coordenação geral LUCIANA SARMANHO Editor de arte FILIPE ALVES SANCHES (SRTE-PA 2196) Pesquisador e consultor técnico INOCÊNCIO GORAYEB Colaboraram para esta edição O Liberal, Agência Pará de Notícias, Agência Brasil, Museu Paraense Emílio Goeldi, Universidade Federal do Pará, Universidade do Estado do Pará, Fundação Cultural do Pará Oficinas do Curro Velho, Greenpeace (acervo); Alinne Morais, Ana Laura Carvalho, Brenda Pantoja, Victor Furtado (reportagem); Fabrício Queiroz (produção); Brenda Pantoja, Fernando Sette, Tarso Sarraf (fotos); Anderson Araújo e Inocêncio Gorayeb (artigos) André Abreu, J.Bosco, Jocelyn Alencar e Leonardo Nunes (ilustrações); Alexsandro Santos (tratamento de imagem). FOTO DA CAPA Corais da Amazônia/ ©Greenpeace AMAZÔNIA VIVA é editada por Delta Publicidade/ RM Graph Ltda. CNPJ (MF) 03.547.690/0001-91. Nire: 15.2.007.1152-3 Inscrição estadual: 158.028-9. Avenida Romulo Maiorana, 2473, Marco - Belém - Pará.

amazoniaviva@orm.com.br

PRODUÇÃO

REALIZAÇÃO


NESTA EDIÇÃO

EDIÇÃO Nº 68 / ANO 6

©GREENPEACE

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Debaixo d’água

Pesquisa científica quer desvendar os mistérios dos Corais da Amazônia, recém-descobertos a 150 metros de profundidade na foz do rio Amazonas. CAPA DIUVULGAÇÃO

Alan Tembé é o primeiro

BRENDA PANTOJA

SOCIEDADE

TARSO SARRAF

CARLOS BORGES

20

28

E MAIS

48 40 SENTIDOS

A artista plástica Moara

FOTOGRAFIAS

indígena formado em

CONSCIÊNCIA

Brasil une fantasia, sonho

Imagens enviadas pelos

Direito pela UFPA. Agora,

A ONG Movimento Missão

e realidade em seus

colaboradores da revista

ele quer ajudar os povos

Jovem promove ações

trabalhos inspirados pela

Amazônia Viva mostram

tradicionais a terem aces-

de educação ambiental,

herança indígena de seus

a natureza e o homem

so à assistência jurídica

esporte e lazer, cultura e

antepassados, como

amazônico em belos re-

para lutar pelas próprias

saúde para moradores da

foco na concepção visual

gistros da vida que pulsa

causas na Amazônia, ga-

periferia da Grande Belém

da natureza e da figura

na região.

rantindo seus direitos.

e do interior do Estado.

feminina.

OLHARES NATIVOS

ENTREVISTA

EDUCAÇÃO

PAPO DE ARTISTA

4 6 7 11 13 14 15 16 17 18 19 19 44 54 55 57 58

EDITORIAl AS MAIS CURTIDAS PRIMEIRO FOCO TRÊS QUESTÕES ELES SE ACHAM FATO REGISTRADO PERGUNTA-SE EU DISSE APPLICATIVOS CURIOSIDADES DA BIODIVERSIDADE DESENHOS NATURALISTAS CONCEITOS AMAZÔNICOS PESQUISA AGENDA FAÇA VOCÊ MESMO BOA HISTÓRIA NOVOS CAMINHOS

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ASMAISCURTIDAS DESTAQUES DAS EDIÇÕES ANTERIORES

ESCALPADAS O ensaio fotográfico com as mulheres escalpeladas na edição da Amazônia Viva de março (Olhares Nativos, nº 67) foi de uma sensibilidade ímpar e mostra o compromisso da revista com a sociedade amazônica, sempre com enfoque a partir de um outro olhar, o humano, sobre a nossa região. Parabéns. Marília Contente Belém-Pará Maravilhoso esse ensaio com as mulheres víti-

COM A BOCA NO TROMBONE

mas de escalpelamento na edição nº 67. Como

A imagem mais curtida em nosso Instagram na edição de março foi a caricatura de Dona Onete, do J.Bosco. A seção “Eu Disse” publicou um comentário da cantora paraense em uma defesa aguerrida da nossa cultura.

diz o texto, é um resgate da autoestima dessas mulheres lindas que fizeram parte do ensaio da fotógrafa Nailana Thiely. E a autoestima dessas mulheres servem também pra despertar a nossa. Parabéns. Luiz Guilherme Leite FERNANDO SETTE

Belém-Pará A edição de março prestou uma bela e merecida homenagem às mulheres da Amazônia, por ocasião do Dia Internacional da Mulher. Destaco com louvor as reportagens sobre as docentes na área de Ciências Exatas da Universidade do Estado do Pará (“Mulheres de Conhecimento”, seção Educação) e o belíssimo ensaio fotográfico com as mulheres escalpeladas na Amazônia. Adriana Carneiro Belém-Pará

LENDAS Fantástica a reportagem sobre as lendas PRESERVAÇÃO DA CULTURA AMAZÔNICA

A reportagem sobre as lendas amazônicas e a importância de sua narrativa foi a mais curtida e compartilhada na edição passada em nosso Facebook.

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fundidade das histórias reais que permeiam o imaginário amazônico.

Para se corresponder com a redação da Amazônia Viva envie comentários, dúvidas, críticas e sugestões para o email amazoniaviva@orm.com.br ou escreva

instagram.com/amazoniavivarevista

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Uma abordagem bem construída sobre a pro-

Belém-Pará

fb.com/amazoniavivarevista

twitter.com/amazviva

realidade”, Capa, março de 2017, edição nº 67).

Jacinto Lira

FERNANDO SETTE

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amazônicas da Amazônia Viva (“Imaginário e

para o endereço: Avenida Romulo USE UM LEITOR DE QR CODE PARA ACESSAR A EDIÇÃO DIGITAL DE MARÇO

Maiorana, 2473, Marco, Belém - Pará, CEP 66 093-000 ou FAX: 3216-1143.


TEXTOS VICTOR FURTADO E ALINNE MORAIS FERNANDO SETTE

PRIMEIROFOCO

O QUE É NOTÍCIA NA AMAZÔNIA

A chuva da tarde mudou...

MUDANÇAS CLIMÁTICAS NA AMAZÔNIA ALTERAM UMAS DAS PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS DE BELÉM PÁGINA 8 E 9

FAUNA

COMBATE

Pesquisadores do Brasil e dos Estados Unidos descreveram uma nova espécie de mamífero na Amazônia. Ela foi batizada em homenagem ao Saci. PÁG.11

Pesquisa mostra que fungos encontrados em solos da região podem ter potencial contra ovos e larvas do Aedes aegypti. PÁG.15

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PRIMEIRO FOCO

Tardes úmidas Belém tinha uma chuva que era nacionalmente conhecida. Caía de tarde, entre 14 e 15h. Tinha intensidade média e demorava de 30 minutos a uma hora. A fama da chuva dizia que na capital paraense, só se marcava compromissos antes ou depois da chuva. E então, nos últimos anos, tudo foi mudando. Os períodos de “inverno” ficaram mais longos. Os verões ficaram mais secos. Quando as chuvas deveriam estar diminuindo, aumentaram. Os horários também ficaram uma incógnita. Agora chove a qualquer horário e pega qualquer um desprevenido. O que mudou o clima tradicional do Pará e de toda a Amazônia, também afetou o resto do mundo. É o que aponta o meteorologista José Henrique Cattânio, professor da Universidade Federal do Pará

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TEXTO VICTOR FURTADO FOTOS FERNANDO SETTE

(UFPA). Tudo foi ação do homem em processos industriais. E como essa ação não parece diminuir, as mudanças devem continuar e chegar a situações mais drásticas. Isso vai exigir preparo e atenção de prefeituras, governos estaduais, governo federal e organizações que discutem o clima do planeta. “Devido à ação do homem em converter carbono orgânico (combustíveis fósseis e biomassa) em carbono inorgânico, grande quantidade de gases do efeito estufa começaram a acumular na atmosfera terrestre (perto de 30 km de altura), intensificando os gases do efeito estufa. Com isso, houve aumento da temperatura terrestre. Esse aquecimento vem mudando os deslocamento das massas de ar e interferindo nos padrões de chuva. A retirada da floresta e mudança do

uso da terra, aumento do tamanho das cidades, provocando bolsões de calor, desestabilizam o clima regional. Com tudo isso acontecendo ao mesmo tempo, não se tem mais as chuvas que vinham constantemente em um mesmo período do dia. Agora às vezes vêm durante todo o dia, mais intensas e localizadas”, explica Cattânio. O meteorologista observa que essas mudanças estão atreladas ao aumento da produção de CO2, CH4, N2O. São gases do efeito estufa. Esses gases seriam benéficos se não fossem produzidos artificialmente e sem controle. O fenômeno acumula calor ao redor do planeta. Sem o efeito estufa, a temperatura do planeta poderia ser 15º C menor e poderia impossibilitar a vida que temos hoje. Antes do período industrial, por


volta de 1880, a concentração de CO2 na atmosfera era 280 ppmv (parte por milhão de volume). Em 1999, eram 367 ppmv. Atualmente são 408 ppmv. A cada fi nal de ano, o recorde de aquecimento do planeta é superado. “Estamos indo para um aquecimento médio de 2 °C até 2030”, destaca Cattânio. Esse aumento pode provocar derretimento das geleiras e aumento dos níveis dos mares. Haverá diminuições das correntes frias vindas dos polos e intensificação dos eventos extremos, principalmente o “El Niño”. Esse fenômeno já provoca, periodicamente, secas severas na Amazônia. Essas mudanças na Amazônia fizeram com que este ano tenha tido superação do volume histórico de chuvas. Em fevereiro, março e abril, choveu de 50% a 70% a mais do que

esperado. É a previsão do 2º Distrito de Meteorologia do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet). Janeiro teve chuva em 25 dos 31 dias. A média era de 385,5 mm e choveu 598,9 mm. Em fevereiro, a média histórica é 412.5 mm e choveu 597.9 mm. Chuva em 26 dos 28 dias do mês. Em março, a média é de 447 mm e choveu 686 mm. Chuva em 28 dos 31 dias de março. Climas assim são semelhantes aos anos de 1948 e 1975. Está frio numa época que não deveria mais estar. E as chuvas só devem diminuir no meio deste mês, quando deverá chover em 26 dos 30 dias e superar a média de 356,4 mm. Deve chover de 30% a 40% a mais do que a média histórica do mês. “O mecanismo de chuvas mudou. Estamos observando a volta de

um mecanismo de 30, 40 anos atrás, quando a Região Metropolitana de Belém tinha um período de chuvas muito rigoroso. Provavelmente, tem origem num fenômeno que acontece no Oceano Pacífico equatorial, denominado Oscilação Decadal do Pacífico (ODP), que ocorre em ciclos de 20, 30, 40 anos anos. Inclusive, neste momento, estamos vivendo a fase fria do ODP’’, afi rmou o diretor do Instituto. Para o futuro, pode-se esperar um aumento de temperatura, intensificação das chuvas localizadas, aumentando as inundações, elevação dos níveis das marés, aumento da periodicidade dos eventos extremos, principalmente do El Niño, aumento da incidência de fogo em florestas primárias e aumento do número de raios.

LÁ VEM ELA...

Os períodos de “inverno” ficaram mais longos. Os verões ficaram mais secos. Quando as chuvas deveriam estar diminuindo, aumentaram

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AGÊNCIA PARÁ

PRIMEIRO FOCO

PRESERVAÇÃO

Mangal das Garças recebe árvores sob risco de extinção O Parque Zoobotânico Mangal das Garças (foto acima) plantou duas novas espécies em sua área: o pau-rosa e a virola. As duas árvores são nativas da Amazônia e estão ameaçadas de extinção. Dentro do Mangal, a área escolhida para a plantação do pau-rosa foi a de terra firme. Já a virola está sendo cultivada em área de várzea de acordo com a engenheira florestal e pesquisadora do Embrapa, Noemi Vianna. A área denominada de terra firme fica no entorno do Armazém do Tempo e a de várzea, próximo ao Memorial Amazônico da Navegação. A ação é uma parceria do Parque com o Museu Paraense Emílio Goeldi e a Em-

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presa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa). O objetivo é fazer um intercâmbio científico entre as instituições. As mudas são matrizes do Goeldi. Essa não foi a primeira contribuição que o Museu fez para o Mangal. Na fase de implantação do o Parque Zoobotânico o Goeldi doou algumas espécies de plantas como a vitória-régia para fomentar a flora do espaço. O Mangal das Garças foi projetado para representar os ambientes da f loresta amazônica. Atualmente o local tem em torno de 90 a 100 espécies de plantas. O espaço ainda abriga cerca de 60 espécies de fauna, entre peixes, aves e répteis.

SECA

FLORESTA A Floresta Amazônica corre o risco de cair em um círculo vicioso de seca provocado pela ação humana e pela redução das precipitações na região. Os dados são do estudo feito pela cientista Delphine Clara Zemp, do Instituto de Pesquisa Climática de Potsdam (PIK).

ATMOSFERA

DIÓXIDO DE CARBONO Um estudo na Austrália questiona as estimativas sobre a quantidade de dióxido de carbono (CO 2) que árvores podem retirar da atmosfera. Segundo a pesquisa, as árvores não conseguem armazenar tanto dióxido de carbono quando se pensava. Para o estudo, eucaliptos nos limites de Sydney foram artificialmente bombardeados por altas doses do gás e não apresentaram grandes respostas ao novo ambiente.


TRÊSQUESTÕES RESPOSTAS QUE VÃO DIRETO AO PONTO

Os primeiros passos da robótica no Pará

DA FAMÍLIA DO GAMBÁ

Nova espécie de mamífero da Amazônia é batizada de “Saci”

destaque. “Escolhi como epíteto específico o nome ‘saci’, em alusão ao capuz vermelho desse personagem, e também como uma forma de homenagem ao folclore brasileiro”, conta. Representantes do gênero Monodelphis são popularmente conhecidos como catitas. Esses animais são da mesma família dos gambás e mucuras, mas apresentam tamanhos bem menores, com comprimentos de 7 a 20 centímetros. Para a espécie em questão, o Monodelphis saci, o comprimento do corpo é de cerca de 10 centímetros. Mesmo com uma população numerosa, a pesquisadora destaca que a espécie estava desconhecida pela Ciência até hoje por ausência de dados tratados sobre o animal.

MACACO

REENCONTRADO Uma espécie do macaco parauacu-de-vanzolini (Pithecia vanzolini ), que habita o Vale do Juruá, região entre o norte do Acre e o sul do Amazonas, foi reencontrada pelos pesquisadores André Valle Nunes e José Serrano-Villavicencio. O animal não era registrado desde 1956. A redescoberta ocorreu por acaso, durante realização de pesquisa sobre caça

Quais os principais obstáculos para o desenvolvimento de pesquisas na região? Primeiramente a ausência de uma base industrial que demande a aplicação intensa de sistemas robóticos. Paralelamente, a ausência de massa crítica de pesquisadores na área, pois uma formação especifica é prejudicada pela ausência de recursos, que, além de escassos, são direcionados para outras áreas, mais prioritárias na atual conjuntura.

A O MACIEL / DIVULGAÇÃO

Cientistas do Museu Paraense Emílio Goeldi e pesquisadores do Brasil e dos Estados Unidos publicaram recentemente o artigo “American Museum Novitates”, que descreveu, pela primeira vez, uma nova espécie de mamífero que habita os estados do Pará, Mato Grosso, Rondônia e Acre. O animal foi batizado de Monodelphis saci, em homenagem ao Saci, personagem do folclore brasileiro. O nome, de acordo com Silvia Pavan, autora líder do estudo e pesquisadora do Museu Goeldi, se deve ao visual do animal. Ela destaca que a tonalidade avermelhada da cabeça do mamífero se destaca diante da cor da pelagem de seu corpo, assim como o Saci, que possui o gorro vermelho como grande

Qual é o nível das pesquisas em robótica que temos no Pará? Ainda estamos no nível de pesquisas didáticas, restritas a grupos temáticos nas universidades.

Quais conquistas a robótica já trouxe para a saúde, economia, segurança, meio ambiente? Robôs permitem maior interação com humanos através da manipulação habilidosa, para auxiliar na reabilitação física de pacientes; robôs nas tarefas repetitivas de alto risco, que garantem a segurança do trabalhador. Temos robôs vigilantes e no meio ambiente há os que executam tarefas com materiais perigosos ao ser humano.

dentro da Reserva Extrativista Riozinho da Liberdade, no Acre. ABRIL DE 2017

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CESUPA/ DIVULGAÇÃO

Pesquisas em robótica, na região Norte, ainda estão engatinhando. No Pará, o tema dá apenas os primeiros passos. Mas o professor Itamar Vilhena de Brito, engenheiro e coordenador do curso de Engenharia de Computação do Centro Universitário do Pará (Cesupa), acredita que teremos avanços na robótica amazônica.


PRIMEIRO FOCO

THIAGO GOMES / AGÊNCIA PARÁ

CERRADO

EXTINÇÃO Se o índice de desmatamento do Cerrado brasileiro se mantiver como é hoje, em torno de 2,5 maior do que na Amazônia, o mundo pode registrar a maior perda de espécies vegetais da história. Os dados são de pesquisadores do Instituto Internacional para a Sustentabilidade. Eles destacam que apenas 20% da vegetação nativa do cerrado ainda permanece intacta.

LIVRO

REPELENTE Um livro com microcápsulas repelentes que ajuda a manter longe mosquitos transmissores de doenças como dengue, chikungunya, malária e febre amarela foi lançado na comunidade de Tapará-Miri, na região de várzea em Santarém, oeste do Pará. A obra infantojuvenil “Amazon - Guerreiros da Amazônia”, de Ronaldo Barcelos, existe desde 2013 e conta a história de descendentes de todas as tribos indígenas da Amazônia. O repelente é a grande novidade da edição 2017 da obra.

DESMATAMENTO

AVES E MACACOS Nos últimos 4 anos, mais de quatro milhões de aves e cerca de 140 mil macacos foram mortos ou tiveram que se deslocar para outro espaço por causa do desmatamento em unidades de conservação na Amazônia. Os dados foram divulgados pelo Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon).

RASTREAMENETO

MADEIRA ILEGAL O Ibama acaba de lançar um Software que unifica bases de dados sobre a atividade madeireira na Amazônia. O aplicativo permite saber volume e localização de cada árvore cortada na Amazônia para atacar o problema da exploração ilegal de madeira na origem, lugar onde as fraudes mais são cometidas. 12 • REVISTA AMAZÔNIA VIVA •

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RIO ANTIGO

Estudo afirma que Amazonas tem mais de 9 milhões de anos Um estudo sobre o rio Amazonas, realizado por cientistas da Universidade de Brasília e de Amsterdã, concluiu que a verdadeira idade do local, que é considerado a maior bacia hidrográfica do mundo, ultrapassa a estimativa de 2,5 milhões de anos. Segundo os pesquisadores, o rio deve ter entre 9 e 9,4 milhões de anos. Para chegar a essa conclusão os estudiosos fizeram no rio uma longa análise geoquímica e de palinologia, ramo que estuda a estrutura, classificação e dispersão dos grãos de pólen e esporos em um determinado espaço. Durante a investigação os pesquisadores encontraram sedimentos de fósseis de plantas na foz do rio, no Pará. O material além de revelar a possível idade do Amazonas, contribuiu ainda para a investigação de como as

mudanças climáticas alteraram a paisagem da região. Ainda segundo os dados coletados no estudo, o início do Rio Amazonas está associado ao tectonismo neogênico andino, período que se iniciou há cerca de 23 milhões e 30 mil anos. O estudo também concluiu que os desenvolvimentos subsequentes tanto do rio como da biota, conjunto de todos os seres vivos da região, estão intimamente ligados às alterações climáticas do período Plio-Pleistoceno, que compreende entre 2,5 milhões e 11,7 mil anos atrás. A pesquisa recebeu o nome de “A Amazônia no mar: Início e fases do Rio Amazonas a partir de um registro marítimo, com destaque para a renovação da planta Neogene na bacia de drenagem”. O material foi publicado este mês pela revista Global and Planetary Change.


INOCÊNCIO GORAYEB

CRISTINO MARTINS / AGÊNCIA PARÁ

ELESSEACHAM POR QUE MIMETISMO É UMA COISA NATURAL

TECNOLOGIA

Aplicativo pode evitar a extinção de abelhas O uso abusivo de agrotóxicos está ameaçando a população de abelhas em todo o mundo. Sem o inseto, que é um importante polinizador, as colheitas devem ser cada vez menos produtivas. Para reverter a situação uma pesquisadora da Universidade de Vermont, nos Estados Unidos, criou um aplicativo para celular com o objetivo de preservar a espécie. A plataforma, que será lançada em breve, permitirá que os usuários analisem hipóteses para gestão de terras e testem como a preservação das abelhas e a polinização que elas realizam podem melhorar os negócios. A tecnologia deve ser positiva para a agricultura pois possibilita-

rá que os trabalhadores possam conhecer melhor as espécies de abelhas e assim consigam determinar quais trazem o melhor retorno para o seu investimento. A tecnologia tem como base o primeiro mapa nacional de abelhas selvagens dos Estados Unidos, elaborado em 2015, que descobriu o desaparecimento das espécies nas terras mais importantes para a agricultura do país, como o cinturão do milho. O declínio da população de abelhas é registrado em outras partes do mundo e as possíveis causas incluem perda de habitat, pesticidas, poluição, espécies invasoras, doenças e mudanças climáticas.

COMPORTAMENTO

ESPÉCIES DA REGIÃO Uma rede de sensores com microfones e câmeras será instalada sob a copa das árvores para coletar informações, em tempo real, sobre o comportamento das espécies no interior da floresta amazônica. A tecnologia vai identificar os animais por imagem, som e transmissão remota de dados. As informações coletadas vão ajudar a preencher as lacunas existentes no

Lagartas juntinhas e agarradas

Imaturos das espécies de borboletas e mariposas, ordem Lepidoptera, as lagartas, passam por vários estágios larvais até formarem o casulo. Durante o período larval muitas delas permanecem juntas se alimentando das folhas de uma determinada espécie vegetal. Este comportamento de gregarismo é positivo para que a prole se proteja de predadores. Nessa foto, as lagartas estão aglomeradas em uma folha de abieiro parcialmente devorada, mas o aspecto, para quem observa a planta, é de um fruto branco. Os predadores também podem ver assim e os insetívoros não enxergam as larvas. Quando elas são perturbadas podem apresentar comportamentos sincronizados que afugentam os predadores. Levantam a parte anterior do corpo e podem tremer. Outras batem o corpo nas folhas produzindo barulho. Algumas espécies se movem em sincronia parecendo um único ser estranho. Como é difícil saber quais são urticantes, é melhor não tocar nestas lagartas, pois muitas causam sérias queimaduras devido às substâncias que liberam dos pelos. INOCÊNCIO GORAYEB

monitoramento da fauna amazônica. ABRIL DE 2017

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FATO REGISTRADO

INOCÊNCIO GORAYEB

Seu Chico, um técnico indispensável TEXTO INOCÊNCIO GORAYEB

Essa é uma imagem de 1980, na Serra dos Carajás, sudeste paraense, quando equipes do Museu Paraense Emílio Goeldi fi zeram levantamentos da biodiversidade. O personagem em destaque é o técnico de entomologia Francisco Ferreira Ramos, que entregou sua vida à pesquisa na Amazônia. Trabalhou no Instituto Evandro Chagas, de onde foi convidado a atuar no Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), e depois foi transferido para a Entomologia do Museu Goeldi. “Seu Chico” participou de muitas campanhas de campo em diversas localidades na Amazônia e tem seu nome devidamente registrado nas etiquetas de milhares de insetos do acervo do Inpa e do Goeldi.

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Várias espécies novas de Carajás foram coletadas por ele, uma das quais descrita em sua homenagem, a mutuca Stypommisa ramosi, Gorayeb & Fairchild, 1987. É comum o destaque às atuações de pesquisadores, mas aqui é preciso reconhecer e homenagear o Seu Chico, que

contribuiu muito com a formação de outros técnicos, de estagiários e de alunos de pós-graduação, transmitindo conhecimentos sobre organização e técnicas de laboratório e de coleções, planejamento, organização e execução de campanhas e técnicas de coletas de campo. Ele sempre atuou com alegria, dedicação e amizade, o que foi muito importante também nas relações com as comunidades rurais e ribeirinhas que as equipes do Museu Goeldi interagiram.

LEGADO PARA A CIÊNCIA

O técnico em entomologia Francisco Ferreira Ramos, o Seu Chico, ajudou a identificar várias espécies na Amazônia


PERGUNTA-SE É PRECISO ESCLARECER MITOS E VERDADES

PESQUISA

Fungos amazônicos podem combater o Aedes Uma pesquisa feita na Universidade do Estado do Amazonas e desenvolvida no Programa de Apoio à Fixação de Doutores no Amazonas concluiu que fungos encontrados em solos da Amazônia podem ter potencial para auxiliar no combate de ovos e larvas do Aedes aegypti. Iniciado em 2016 e com previsão de conclusão em 2018, a pesquisa já isolou, até o momento, 10 linhagens de espécies fúngicas encontrados nos solos de Manaus e do município de Presidente Figueiredo, localizado na região metropolitana da capital amazonense. De acordo com a coordenadora do estudo, a bióloga Yamile Benaion Alencar, as linhagens selecionadas irão passar por testes, que devem indicar a potencialidade de cada em causar a mortalidade do mosquito. Os experimentos serão realizados no laborató-

Mancha branca na unha é sinal de mentira?

Se uma manchinha branca apareceu na sua unha depois de contar alguma mentira no Primeiro de Abril foi pura coincidência. É o que explica a professora Isabelle Silva de Oliveira, coordenadora do curso de Nutrição da Faculdade Maurício de Nassau. As manchas brancas que aparecem nas unhas são sinais de problemas na alimentação ou indícios de doenças graves. É sério. Melhor não mentir para si mesmo. “O surgimento de manchas brancas nas unhas pode estar diretamente ligado à má-alimentação, acarretando em problemas de anemia ou hipovitaminose, caso as unhas estejam fracas e quebradiças. Também pode estar relacionado à cirrose, doenças renais, cardíacas e diabetes. É necessário sempre realizar exames bioquímicos para identificação do problema”, destaca a nutricionista. Essas manchas são conhecidas como leuconíquia. São comuns em crianças, fase em que o corpo está mudando, se adaptando e a alimentação ainda não é bem regular. Nessa fase, pode não ser tão preocupante, mas vale sempre examinar. Na fase adulta, são menos comuns e indicam algum problema. A origem da associação de mentira e mancha branca na unha, parece brincadeira, mas ainda é um mistério.

rio de Malária e Dengue do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa). Ela ainda explica que os fungos do tipo entomopatogênicos podem parasitar insetos, matando ou os incapacitando, e não causam nenhum malefício ao homem. “São fungos já conhecidos, que ocorrem naturalmente, não causam nenhum problema para a saúde do homem. Algumas espécies já são até usadas para combater pragas na agricultura”, diz Yamile. Com os resultados obtidos com a pesquisa a equipe pretende desenvolver um produto de ação inseticida de fácil manejo, inofensivo ao homem e que possa ser disponibilizado no mercado regional, e até mesmo nacional. Assim, eles buscam evitar o uso de produtos químicos no ambiente e colaboram para a saúde da população humana.

BLOG DOS ESMALTES / DIVULGAÇÃO

CESAR FAVACHO / DIVULGAÇÃO

MOSCAS

GASES-ESTUFA Segundo recente estudo publicado pela revista “Scientific Reports”, a larva de mosca da espécie Chaoborus sp, é responsável pela emissão de quantidades significativas de metano. A pesquisa, liderada pela Universidade de Genebra, na Suíça, destaca ainda que o inseto contribuiu para o aumento dos gases do efeito estufa e foi responsável por uma parte das

MANDE A SUA PERGUNTA Envie perguntas instigantes sobre hábitos, costumes e fenômenos da região amazônica para o e-mail: amazoniaviva@orm.com.br

mudanças climática provocada nos últimos anos. ABRIL DE 2017

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EU DISSE

“Não é preciso ser rico para ajudar alguém, nem sequer é necessário ter um diploma universitário.” Rihanna, cantora, durante discurso ao receber o prêmio de ativista do ano de 2017 pela Universidade de Harvard, nos Estados Unidos.

“As únicas pessoas que negam a mudança climática são as mesmas que perdem com a energia renovável. Chegou o momento de nós fazermos a diferença. Rejeitem os que rejeitam [a mudança climática]. Eles são assassinos do planeta Terra.” Kirk Hammett, guitarrista do Metallica, no Twitter. No post, ele criticou o posicionamento do presidente dos EUA, Donald Trump, em relação ao meio ambiente.

DIVULGAÇÃO

“Vale a pena ser sustentável. Não é só a gente que agradece, mas a coletividade.” Fábio Caribé Caribé, sócio-proprietário da Grupotecno, empreendimento que faz reuso de recursos hídricos, em comunicado da ONU para lembrar o Dia Mundial da Água, comemorado no último 22 de março.

“O ambiente de segurança internacional é indiscutivelmente mais volátil hoje do que em qualquer outro momento desde a Segunda Guerra Mundial.” Wolfgang Ischinger, organizador da Conferência de Segurança de Munique, sobre os conflitos atuais.

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APPLICATIVOS BOAS IDEIAS NUM TOQUE DE DEDOS

“Uso as agressões para estabelecer diálogo”

Pic4Turtle Uma rede social digital ligada a um amplo banco de dados sobre tartarugas e educação ambiental. Uma das ideias do

Lázaro Ramos, ator, em recente entrevista ao portal Uol. Na ocasião ele falou sobre seu esforço em afirmar a identidade negra e as formas de lidar com as reações ofensivas que recebe.

app é que o usuário fotografe uma tartaruga que encontrou e imediatamente consiga identificar a espécie, curiosidades e se ela está em risco de extinção. Há ainda informações sobre unidades de conservação, instituições e outros

“Vemos uma ‘luta de partidos’, e acho que realmente é nessa polaridade que mora o perigo.

dados. Gratuito para iOS e Android.

Curriculum Vitae O nome do app não poderia ser mais sugestivo para quem está à procura de emprego.

Fernanda Young, autora, escritora, atriz e comentarista de TV em entrevista a Folha de S. Paulo. Na ocasião, ela falou sobre o comportamento das pessoas na atualidade e como elas se portam diante da política.

Este app fornece vários formatos, cores, dicas para posicionamento de informações em vários layouts diferentes para ficar com DIVULGAÇÃO

o currículo profissional em dia. Após tudo ser preenchido da forma que mais agradar o usuário, é só salvar no formato PDF, imprimir ou enviar por e-mail. Gratuito para Android e iOS.

Muambator Quem costuma fazer muitas compras pela internet, principalmente de importados, costuma perder vários minutos rastreando os pacotes. A função do muambator é poupar-

“Um ambiente poluído é fatal, especialmente para crianças pequenas” Margaret Chan, diretora-geral da Organização Mundial da Saúde, durante a divulgação do relatório que afirmou que fatores como condições do ar, água contaminada e falta de saneamento são responsáveis pela morte de mais de 1,5 milhão de crianças menores de cinco anos.

-lhe desse serviço. O usuário insere todos os códigos de rastreio, coloca uma identificação e então basta esperar que o app vai notificar a cada nova movimentação. E ainda informa sobre situações específicas, como extravios, retenção e taxação. E é gratuito para usar no iOS e no Android. FONTES: PLAY STORE E ITUNES

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PEDRO LISBOA

CURIOSIDADES DA BIODIVERSIDADE

Guarimã e comunidade às margens do rio Aurá TEXTO INOCÊNCIO GORAYEB

Guarimãs são plantas da família Marantaceae, de várias espécies do gênero Ischnosiphon, também conhecidas como guarumã e arumã. As espécies mais utilizadas são I. arouma e I. ovatus. Ocorrem às margens de igarapés, lagos e baixios. Seus caules são utilizados para retirar talas para confecção de paneiros, cofos, balaios, cestarias, apetrechos de pesca e vários tipos de artesanatos. Suas folhas são utilizadas para forrar paneiros de farinha e, até a década de 70,

eram muito utilizados para embrulhar alimentos, pesadas de carne e peixe. Anderson (1977) fez uma revisão do gênero Ischnosiphon e Nakazono & Piedade (2004) escreveram sobre a biologia e ecologia do Guarimã. Em 2009, Pedro Lisboa escreveu o livro

“Aurá: comunidades & f lorestas” no qual descreve o uso destas plantas pelas comunidades ribeirinhas do Aurá, todas instaladas nas prox imidades de Belém. Oportunamente, sugere-se um passeio pelo rio Aurá de rabeta; é interessante e possibilita a interação com comunidades ribeirinhas tradicionais que utilizam artesanalmente essa planta, beneficiam cacau, coletam açaí, pescam e vivem com grande relação com as florestas.

INOCÊNCIO GORAYEB

FIBRA NATURAL

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Os guarimãs ocorrem às margens de igarapés, lagos e baixios. Seus caules são utilizados para retirar talas para confecção de paneiros.


DESENHOS NATURALISTAS

CONCEITOSAMAZÔNICOS O VOCABULÁRIO REGIONAL É UM PATRIMÔNIO

Jiquitaia É um termo do Tupi usado para definir qualquer coisa picante, como pimenta em pó e molho ardente. O povo Baniwa, às margens do rio Aiari, na bacia do rio Negro, Amazonas, produzem artesanalmente a pimenta em pó, chamada de jiquitaia. Vários tipos de pimentas são partidas, secadas ao Sol, piladas, moídas e misturadas com um pouco de sal. Pelo sabor extremamente forte a jiquitaia tem fascinado chefes de culinária famosos. O chef Alex Atala arrecadou recursos para

GRAVURA DE PAUL MARCOY / REPRODUÇÃO / ACESSO AO LIVRO CEDIDO PELA SECRETARIA DE CULTURA DO ESTADO DO AMAZONAS

A Santarém de 1847 O francês Paul Marcoy viajou pela Amazônia em 1846 e 1987, publicou o livro “Viagem pelo rio Amazonas” e produziu 626 gravuras da obra original, sendo 80 destas da Amazônia brasileira. Marcoy conseguiu salvar de seus naufrágios fluviais grande quantidade de desenhos e aquarelas que foram perdidas. O famoso desenhista Edouard Riou as reproduziu. Ao contrário dos naturalistas como Wallace e Bates, Marcoy foi um artista à procura de materiais para seu pincel além de ser um estudioso da humanidade observando tudo que há de novo e interessante nos costumes e no caráter das pessoas. Seu objetivo principal era colocar para seus leitores o que ele tinha a dizer como viajante sempre em busca de aventuras, pronto a esboçar um retrato, uma luxuriante paisagem tropical ou as conversas com os índios e suas cabanas. Sobre sua passagem por Santarém ele escreveu: “A confluência do Tapajós com o Amazonas forma uma baía mais ampla do que qualquer outra que eu tinha visto. Tanto

na direção do grande rio como no do seu af luente a margem de terra firme recuava tanto que a vista tinha dificuldade de acompanhar suas sinuosidades (...) Na ponta formada pela junção dos dois rios, sobre o topo achatado de uma longa colina, estão os muros de barro de uma fortificação outrora destinada a proteger as possessões portuguesas do Amazonas e do Tapajós contra as incursões dos índios e os ataques dos piratas da Guiana Holandesa. Ao pé da colina e à sombra da fortificação espalham-se as casas de Santarém, que se estendem para além das duas torres quadradas de uma igreja. Algumas escunas, chalupas, igarités e canoas ancoradas defronte à cidade davam um toque de alegre animação à capital do Tapajós, que conta com uma centena de casas. Há um tempo eu acalentava um sonho, que se tornara uma ideia fixa como em pessoas doentes e em mulheres em certa situação, era o desejo de comer feijão roxo. O de Santarém é famoso pela qualidade.” INOCÊNCIO GORAYEB

auxiliar os indígenas em sua produção e hoje existe a Casa da Pimenta, da comunidade de Ucaqui, a 1.600 km de Manaus. O termo jiquitaia também é usado para designar formigas do gênero Solenopis, conhecidas por vários nomes populares como formiga-de-fogo, formiga-de-cemitério, doceira, pava-pés, malagueta, ruiva e outros. Elas são utilizadas pela cultura do povo indígena Macuxi em rituais de preparação de jovens para ser um bom homem, bom pescador, bom de mira, trabalhador, corajoso e pronto para casar. Jiquitaia é também uma dança típica do Estado do Tocantins. Além disso, o termo também é utilizado para se referir a pessoas pequenas e bravas, principalmente mulheres. INOCÊNCIO GORAYEB

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OLHARES NATIVOS

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Um banho à beira mar

Esta é uma cena típica da Ilha do

Marajó, a interação entre búfalos mansos e os nativos, além da paisagem praieira. O registro foi feito em um fim de tarde, na praia Grande, Salvaterra. Os meninos dão banho nos animais depois de um dia de trabalho. Os búfalos são úteis no campo, no transporte de cargas, no turismo e como fonte de proteína, carnes, embutidos e derivados de leite. FOTO: ROGÉRIO FOLHA ABRIL DE 2017

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OLHARES NATIVOS

Gafanhoto brasileiro

Quando são imaturos, ainda sem asas, ficam aglomerados e costumam deslocar-se em conjunto, promovendo cena interessante e bela. Devoram as folhas dos arbustos onde vivem. Já adultos se dispersam e causam problemas a lavoura. Também são conhecidos como gafanhoto-bandeira, soldado e soldadinhos. FOTO: CARLOS BORGES

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Garça caminhando na praia

Essa ave vive num paraíso natural, a exemplo da praia da Marieta, a cerca de 30 minutos de Salinópolis. A região faz parte da zona costeira amazônica, a maior extensão ainda natural e conservada, onde há farta alimentação da fauna aquática das águas costeiras, do estuário amazônico e dos rios. FOTO: JOÃO GONZAGA

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OLHARES NATIVOS

À espera dos clientes

Os boxes para venda de pescado estão presentes em mercados de quase todas as cidades amazônicas, principalmente as ribeirinhas e costeiras. Nossa riqueza de pescado em variedade de espécies, quantidade e oferta sazonal, atende muito além de nossas fronteiras. FOTO: NAILANA THIELY 24 • REVISTA AMAZÔNIA VIVA •

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Travessia esplêndida

Cena diária em muitas travessias de rios amazônicos no transporte de veículos, cargas e pessoas. As balsas singram rios e baías ligando cidades, estradas e a vida das pessoas. A chegada a Belém e a outras cidades sempre propicia paisagens espetaculares. FOTO: FERNANDO SETTE

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OLHARES NATIVOS

Cor e contraste

Cenas coloridas e características de Belém podem ser observadas nas muitas praças e logradouros da cidade e em épocas distintas, como o Círio de Nazaré. Nesta foto, feita na Casa das Onze Janelas, o pano de fundo é característico: as mangueiras. FOTO: SILVIA ATAIDE

Envie as suas fotos para a seção Olhares Nativos

Para participar da seção “Olhares Nativos” da revista Amazônia Viva basta enviar fotos com temática amazônica para o e-mail amazoniaviva@orm.com.br acompanhadas pelo nome completo do autor, número de identidade e uma breve informação sobre o contexto do registro fotográfico. As imagens devem ser autorais e com resolução de no mínimo 300 dpi. A publicação das fotos tem fins meramente de divulgação de trabalhos profissionais ou amadores, não implicando em qualquer tipo de remuneração aos autores. Participe!


OPINIÃO, IDENTIDADE, INICIATIVAS E SOLUÇÕES ©GREENPEACE

IDEIASVERDES

Mergulho científico DESCOBERTA DE CORAIS NA FOZ DO RIO AMAZONAS CHAMA A ATENÇÃO DOS PESQUISADORES PÁGINA 32

SOCIEDADE

EDUCAÇÃO

O bacharel em Direito Alan Tembé é o primeiro indígena a se formar no curso pela UFPA. Ele pretende defender as causas do seu povo. PÁG.28

O Movimento Missão Jovem promove ações de conscientização ambiental na periferia da Região Metropolitana de Belém e no interior do Pará. PÁG.40


ENTREVISTA

A

vontade de contribuir efetivamente para melhorar a realidade do povo indígena foi o que motivou Alan Batista Silva a deixar a aldeia Jeju, em Santa Maria do Pará, a cerca de 110 km de Belém, e perseguir o sonho de ingressar no ensino superior. Aos 29 anos, ele tornou-se o primeiro indígena a se formar na Faculdade de Direito da Universidade Federal do Pará (UFPA). Alan Tembé carrega no nome a etnia da qual faz parte e garante que a conquista é de toda a comunidade. “Sabemos do que os povos indígenas são capazes e queremos ser protagonistas das nossas próprias demandas. Queremos estar lá dentro desses órgãos que nos atendem e lutar pelas nossas causas”, diz com convicção. Durante os sete anos cursando Direito, ele passou por três greves na universidade e uma série de dificuldades que quase o fi zeram desistir. Alan teve problemas para se adaptar, arcar com moradia e alimentação, circular pela cidade e custear materiais de estudo. Agora, ele vai se dedicar às necessidades de seu povo e está se preparando para prestar o exame da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB). A demarcação de terras indígenas e o acesso dessa população à saúde e educação são algumas das questões importantes e urgentes que ele pretende defender. Como foi a tua trajetória? O que te levou a escolher o curso de Direito? O meu ensino fundamental foi todo na base, na aldeia em Santa Maria. Tive que cursar o ensino médio em uma vila próxima. Quando fui fazer a inscrição no Enem (Exame Nacional do Ensino Médio), em 2010, descobri por acaso o processo seletivo especial com vaga para indígenas da UFPA. Aquele foi o primeiro ano desse edital. Fiquei surpreso e feliz, pois o povo Tembé já lutava por essa pauta, juntamente com 28 • REVISTA AMAZÔNIA VIVA •

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“Sabemos do que os povos indígenas são capazes” ALAN TEMBÉ É O PRIMEIRO INDÍGENA FORMADO EM DIREITO PELA UFPA. PARA ELE, A ESCOLHA DO CURSO FOI A FORMA QUE ENCONTROU PARA CAMINHAR JUNTO COM OS POVOS TRADICIONAIS, QUE AINDA CARECEM DE ASSISTÊNCIA JURÍDICA PARA LUTAR PELAS PRÓPRIAS CAUSAS NA AMAZÔNIA. TEXTO BRENDA PANTOJA FOTO TARSO SARRAF


ONONNONONONONO

A sustentabilidade deve, também, se agregar aos efeitos socioculturais, sendo sensível à cultura e à dinâmica das comunidades. O turismo comunitário no Marajó é um exemplo disso.

o povo Gavião, de Marabá. Então me inscrevi e a escolha do curso foi pensando na coletividade. Ter uma pessoa com conhecimento jurídico dentro da comunidade seria muito bom para acompanhar as reuniões com órgãos como a Funai (Fundação Nacional do

Índio) e o Ministério Público. A inscrição para o vestibular só poderia ser feita pessoalmente, então aproveitei que uma caravana estava indo para Belém participar de uma audiência pública sobre a usina de Belo Monte. Depois, fui aprovado e ingressei junto com ou-

tros parentes da terra do Alto Rio Guamá (onde vivem Tembés nos municípios de Paragominas, Nova Esperança do Piriá e Santa Luzia do Pará). A formatura foi uma vitória para minha família e para a comunidade. Estou me sentindo muito feliz e realizado. ABRIL DE 2017

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ENTREVISTA

O período de adaptação durante a graduação foi difícil? Foi complicado. Quando chegamos, não recebíamos bolsa e a universidade não tinha se preparado para receber alunos indígenas. Ficamos sem bolsa, sem moradia e outros meios para permanência no curso. Recorremos à Funai, que começou a pagar diárias de hotel. Só do povo Tembé havia umas 20 pessoas. Eles também nos ajudaram com alimentação e transporte, mas isso durou quatro meses até que os recursos do órgão acabaram. Aí fomos morar em um almoxarifado na sede da Funai, onde ficamos por oito meses até que um acordo fosse assinado com a reitoria da UFPA. Nessa época, quase metade dos parentes já tinham desistido. Então passamos a receber uma bolsa da Universidade, de R$ 600, mas as coisas só começaram a melhorar no início de 2012 quando o Ministério da Educação decretou bolsa para indígenas e quilombolas em torno de R$ 900. Dividíamos aluguel de uma casa, mas mesmo assim ainda era difícil viver só desse valor. Por isso eu digo que entramos pela janela, não pela porta. Nos deparamos com uma realidade muito diferente da nossa. Alguns indígenas demoraram a se acostumar com a comida industrializada, por exemplo. Houve momentos em que eu quis desistir. Alguns parentes sofreram preconceito em outros cursos, mas meus colegas da sala de aula me abraçaram, me deram um Vade Mecum e me ajudavam. Isso te faz refletir sobre as políticas de acesso e permanência dos indígenas nas universidades? O que precisa mudar? Em primeiro lugar, as modificações feitas nos processos seletivos para indígenas precisam ser sempre dialogadas com a comunidade. Algumas questões como documentação exigida e modo de inscrição são sempre alteradas. A gente pensa em um vestibular mais acessível aos parentes que têm vivência de aldeia, que moram na base, pois tem muitos 30 • REVISTA AMAZÔNIA VIVA •

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índios citadinos, aqueles que vivem em espaço urbano, tirando a oportunidade dos parentes da base. Além disso, os indígenas aprovados precisam ter uma recepção mais calorosa para que se sintam bem-vindos. A permanência do parente precisa ser vista com cuidado e com agilidade, pois há muita burocracia para dar entrada no recebimento da bolsa. Pode demorar até três, quatro meses e enquanto isso ele fica sem apoio de moradia e alimentação. A BATALHA CONTINUA

Alan Tembé agora vai se preparar para a prova da OAB no fim do ano. Ele quer fazer concursos públicos e um dia se tornar procurador federal.

Acreditas que a educação é uma ferramenta crucial para a promoção do protagonismo indígena na sociedade? O ensino superior é uma necessidade nesse contexto de defesa dos direitos? A formação dos parentes em nível superior é uma reivindicação muito importante das bases. A gente não queria ficar só em formação de ensino médio e parar. Queremos crescer cada vez mais. Sabemos do que os povos indígenas são capazes e queremos ser protagonistas das nossas próprias demandas. Queremos estar lá dentro desses órgãos que nos atendem e lutar pelas nossas causas. Os indígenas querem ser mentores, coordenadores, presidentes, conselheiros, médicos, enfermeiros, professores. A relevância da formação se dá por isso, vem a acrescentar na vida do povo indígena, dos parentes que almejam um futuro melhor e um olhar diferente da sociedade. Não queremos não-indígenas lutando por nós. Hoje, a minha comunidade sabe que tem o Alan Tembé para fortalecer a luta. Em 2010, quando entrei na universidade, falei que voltaria para a base e ajudaria meu povo e agora estou cumprindo a palavra. Eu me sinto na obrigação de ajudar voluntariamente porque essa é uma conquista de todo o povo Tembé. Como vais conduzir a tua atuação profissional? Quais são teus planos para contribuir com a população indígena? Estou me preparando para fazer a prova

“A formação em nível superior é uma reivindicação muito importante das bases. A gente não queria ficar só em formação de ensino médio e parar. Queremos crescer cada vez mais.” da OAB no fi m do ano e quero ter mais essa vitória. Penso em fazer concursos públicos, talvez voltar para a Defensoria Pública do Estado, onde estagiei por dois anos. Meu sonho mesmo é ser um procurador federal. Vou lutar pelos interesses coletivos da minha comunidade. A demarcação dos territórios indígenas em Santa Maria do Pará, por exemplo, é uma das grandes demandas. Inclusive esse era o tema do meu TCC, a princípio. Eu ia abordar as violações de direitos territoriais, mas a professora que seria minha orientadora faleceu e tive dificuldade de encontrar outro orientador para trabalhar esse assunto. Tive que falar sobre direito administrativo. Essa mudança me atrasou um pouco. Tive que voltar para a base porque a bolsa tinha acabado e passei quase um ano refazendo a pesquisa. Posso me aprofundar na questão territorial no mestrado, futuramente. ABRIL DE 2017

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CAPA

Viagem ao fundo do

rio

EXPEDIÇÃO AMBIENTALISTA DESVENDA OS HABITATS AINDA DESCONHECIDOS DE ESPÉCIES AQUÁTICAS, COMO CORAIS, PEIXES E CRUSTÁCEOS, QUE PODEM CORRER RISCO COM A IMINENTE EXPLORAÇÃO PETROLÍFERA NA ZONA COSTEIRA DA AMAZÔNIA TEXTO VICTOR FURTADO

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©GREENPEACE

N

o final da década de 1970, pesquisadores começaram a encontrar algas calcárias e peixes recifais na foz do rio Amazonas. Naquela região já havia um recife de corais, mas que foi descoberto apenas em abril do ano passado e que ficou conhecido como “Corais da Amazônia”. São quase 1.000 km de extensão. A área total é de 9,5 mil km² do Maranhão ao Amapá, com apenas 5% dela realmente mapeada. Todo o resto é ainda um mistério, que leva tempo até ser realmente desvendado. Desde então, inúmeras pesquisas continuam sendo feitas para compreender todo o ecossistema que lá existe. Quarenta anos depois, cada mergulho revela novidades sobre as várias espécies de corais, esponjas, rodolitos e toda a vida que existe nesse bioma. Quando o recife foi encontrado, juntamente com toda uma fauna e flora marinhas, notou-se que aquele novo ecossistema demandava muito mais estudo e preservação. Ainda não há como precisar números do que pode ser encontrado. Tudo o que se tem a descobrir preocupa entidades de proteção do meio ambiente e pesquisa. Um consórcio da Petrobras (Brasil), Total (França) e BP Energy (Inglaterra) pleiteia a exploração de possíveis reservas de petróleo. Há indícios de que essas reservas existam. Informalmente, as estimativas não passam de 5% de chance de sucesso. Somente as sondagens dessas corporações podem dar certeza. No entanto, trata-se de um processo intrusivo e perturbador aos Corais da Amazônia. O licenciamento ambiental está sendo analisado pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama). A licitação, feita em 2013, pela Agência Nacional do Petróleo (ANP), ofereceu 96 áreas. Ao final, 13 foram arrematadas. Há outras áreas menores, que serão exploradas por seis empresas: Queiroz Galvão Engenharia e Petróleo, BHP Biliton, Brasoil Manati, OGX, Pacific Brasil e Premier Oil. Se comprovada a existência do petróleo na foz do Amazonas, onde os corais foram encontrados, a exploração e a produção podem durar uma década ou mais. Com isso, problemas ambientais poderiam ser agravados. A exABRIL DE 2017

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CAPA

tração de petróleo pode causar sérios riscos à natureza, como a dizimação da vida marinha. Um vazamento pode ser fatal. Por mais avançadas que sejam as técnicas de exploração, protocolos de proteção e projetos ambientais, o problema nunca será totalmente eliminado. Mas bem antes da descoberta do recife na Amazônia costeira as ameaças à biodiversidade marinha no local já existiam. Em quase toda a extensão, há pesca artesanal e industrial intensa. Não se sabe o quão prejudicial foi essa exploração ao longo dos anos. No território da foz do rio Amazonas, há 80 comunidades quilombolas que sobrevivem desse ecossistema, lar de peixes-bois, botos e ariranhas. No extremo norte do Amapá, está o Parque Nacional do Cabo Orange, uma das maiores áreas de mangue do mundo.

Na tentativa de proteger esse ecossistema único e inexplorado na foz do rio Amazonas, a ONG Greenpeace iniciou uma campanha virtual de coleta de assinaturas, por meio do link br.amazonreefs.org. O objetivo é anular a possibilidade ao menos das sondagens petrolíferas na área. Até o final de março passado, mais de 860 mil assinaturas haviam sido colhidas. Para reforçar a importância ambiental e científica do recife, a organização operou com um navio e um submarino ao longo das águas turvas e barrentas do bioma, que fica no encontro do rio Amazonas com o oceano Atlântico. A expedição foi de 22 de janeiro a 10 de fevereiro deste ano. Quase 50 pessoas participaram da expedição com o navio Esperanza. 34 • REVISTA AMAZÔNIA VIVA •

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FOTOS: ©MARIZILDA CRUPPE/GREENPEACE

EXPEDIÇÃO INÉDITA NA AMAZÔNIA


ANTES DO MERGULHO

A bordo do navio Esperanza, a equipe de cienstistas e ambientalistas do Greenpeace repassa o plano de investigação subaquática na foz do rio Amazonas. Um submarino de alta tecnologia é usado durante a expedição.

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CAPA

RECIFE AMAZÔNICO

Durante a viagem, foram encontradas arraias, caranguejos-aranhas, piraúnas, chernes, lagostas, peixes-mariquitas, entre tantas outras espécies. Algumas delas eram inimagináveis de se encontrar lá. Também foram encontrados diferentes habitats. Nessa região está uma estrutura recifal enorme com uma heterogeneidade de paisagens muito maior do que os cientistas da expedição previam. Havia bancos de esponjas e de rodolitos, jardins de esponjas e de corais negros. Entre os tantos peixes que foram registrados pelas câmeras do submarino, estavam espécies ameaçadas de extinção, como o cherne e cioba. Dois peixes-borboletas e um budião-sabão foram as possíveis descobertas de novas espécies. Segundo Ronaldo Francini Filho, docente da Universidade Federal da Paraíba, essas são espécies bem diferentes no Atlântico. “O próximo passo é continuar o estudo, tentar encontrar esses peixes e estudá-los de acordo com o seu DNA. Só assim teremos certeza de que são uma espécie até então não catalogada pela ciência”. O pesquisador ainda acredita que a área possa ser até três vezes maior que o território estimado de 9,5 mil km². Os mapas que mostram a geologia do fundo do mar onde estão os recifes de corais da Amazônia são superficiais e sem detalhes, aponta Francini. Na expedição, foi encontrado um paredão, apelidado de “Falha do Joel”, de cerca de 70 metros de altura e 10 quilômetros de comprimento.

O recife Corais da Amazônia pode ter se formado entre 12 e 14 mil atrás. A profundidade varia de 60 a 150 me36 • REVISTA AMAZÔNIA VIVA •

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Idade média

12 A 14 MIL ANOS Início dos estudos

FIM DA DÉCADA DE 1970 Descoberta dos corais

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Área total da foz do Amazonas

9,5 MIL KM2

Extensão dos recifes

1 MIL KM

Profundidade

Área mapeada

60 ATÉ 150 METROS

POUCO MAIS DE 5%

Reservas de petróleo

8 A 12 BILHÕES DE LITROS Empresas licitadas para exploração

9

Período de exploração caso as reservas sejam encontradas

10 ANOS

ESPÉCIES ENCONTRADAS

©GREENPEACE E ©MARIZILDA CRUPPE/GREENPEACE

VALOR INESTIMÁVEL PARA A CIÊNCIA

Conheça os números dos corais na foz do rio Amazonas

25 espécies de algas vermelhas 6 de algas verdes 4 de algas marrons 5 espécies de algas calcárias 34 espécies tipicamente tropicais e subtropicais de algas marinhas 61 espécies de esponjas 2 espécies de corais negros, além de pequenas colônias diversificadas. 73 espécies de peixes recifais e lagostas FONTES: GREENPEACE, REVISTA SCIENCE ADVANCES, EMPRESA BRASILEIRA DE COMUNICAÇÃO, FIEPA


VIDA DEBAIXO D’ÁGUA

Durante a expedição na foz do rio Amazonas foram encontrados bancos de esponjas e de rodolitos, jardins de corais negros, além de outras espécies aquáticas, como peixes, algas, moluscos e crustáceos. O recife de quase 1.000 km de extensão chamado de Corais da Amazônia pode ter se formado entre 12 e 14 mil atrás.

tros. Com pouca luz e mistura de águas, a quantidade de organismos existentes lá é inestimável, além de possíveis novas espécies. “Como sabemos tão pouco sobre esses recifes, não há como falar em números, mas certamente em termos de peixes, esponjas e microrganismos novos temos um potencial muito grande. Praticamente em cada mergulho realizado alguma espécie nunca descrita antes é observada”, comenta o oceanógrafo Nils Edvin Asp Neto. Ele é professor pós-doutor da Universidade Federal do Pará (UFPA) e membro do Instituto de Estudos Costeiros (Iecos). Ele pesquisa o recife, juntamente com Fabiano Thompson (UFRJ), Eduardo Siegle (USP) e Ronaldo Francini Filho (UFPB). “Os recifes são uma parte essencial de um grande sistema, onde vários organismos adultos podem viver. Enquanto juvenis, habitam a região costeira. Além disso, vários ciclos biogeoquímicos são completados pelos recifes na foz do Amazonas. As condições oceanográficas únicas na área produzem processos biogeoquímicos, organismos e relações entre organismos igualmente únicos. O potencial para a biotecnologia é imenso. Biomoléculas ativas, antibióticos e etc. podem estar escondidos lá. A sobrevivência dos corais rasos, que estão morrendo em todo o mundo, pode ser garantida pelos recifes mesofóticos como os da foz do Amazonas”, acrescenta Nils. Existem setores dos recifes amazônicos que são realmente únicos, destaca Nils. Em parte pelas dimensões do rio Amazonas e da pluma que produz no oceano adjacente. O rio Amazonas é responsável por 20% das águas descarregadas no oceano Atlântico. “Em certas áreas, os recifes vivem uma espécie de relação de ‘amor e ódio’ com a pluma do Amazonas, onde existe um delicado e complexo balanço ABRIL DE 2017

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CAPA

espaço-temporal entre a quantidade gigantesca de nutrientes descarregada pelo Amazonas, que favorece todo o ambiente, e a escassez de luz na água e fundo, causada pela grande quantidade de sedimentos em suspensão, o que prejudica a cadeia trófica. Nessas condições especiais, organismos desenvolveram metabolismo, bioquímica e fisiologia próprios, bem como complexas relações entre espécies que são únicas e produziram espécies em vários casos também únicas”, destaca o oceanógrafo. Thiago Almeida, ativista do Greenpeace, ressalta que a área a ser explorada pelo consórcio não está precisamente no território dos recifes. Isso não é certeza, pela falta de mapeamento acurado. Mesmo assim, o risco de uma vazamento de petróleo é a maior preocupação. A distância entre o bloco de exploração e parte dos recifes é de oito quilômetros.

O ativista lembra, como exemplo do que pode dar errado, da explosão na plataforma da Deepwater Horizon. O acidente resultou num vazamento equivalente a 4,9 milhões de barris de petróleo, em 2010. O óleo poluiu a costa de diversos países no Golfo do México e se estendeu por quase 1,5 mil quilômetros, durante 87 dias. Onze pessoas morreram no acidente. O dano à vida marinha foi incalculável. A plataforma pertencia à BP, um dos membros do consórcio com a Total e a Petrobras. Pensando num cenário de desastre, Thiago observa que um vazamento de óleo poderia chegar à costa do Amapá. É onda está o Parque Nacional do Cabo Orange. “Temos lá a maior área contínua de mangues do mundo, que são importantíssimos estuários, berçários, para a vida, e também têm papel importante na captura e sequestro de carbono, ajudando a combater o aquecimento global e as mudanças climáticas”, analisa. Oficialmente, as áreas de ocorrência dos recifes amazônicos não estão em áreas de proteção. Tanto Nils quanto Thiago 38 • REVISTA AMAZÔNIA VIVA •

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©GREENPEACE E ©MARIZILDA CRUPPE/GREENPEACE

DEFESA


Almeida acreditam que um passo importante seria justamente a criação de áreas de reserva marinha na região. O apelo às autoridades brasileiras, que analisam os licenciamentos das obras, prioriza as áreas preservadas que estão ameaçadas e territórios dos povos tradicionais. Por enquanto, a estratégia de defesa do bioma é destacar que trata-se de um ecossistema novo, que precisa ser preservado e estudado adequadamente. E também têm sido feito apelos ao Ibama, que tem cobrado das empresas estudos de impacto ambiental. Essa pendência é que tem segurado as licenças.

DO OUTRO LADO O que dizem as petroleiras sobre a exploração EXPEDICIONÁRIOS

Ronaldo Francini Filho, docente da Universidade Federal da Paraíba, integra a equipe do Greenpeace e diz que objetivo é conhecer e defender a biodiversidade abaixo do rio Amazonas

na foz do Amazonas •

Em nota, a francesa Total diz que a empresa conduziu caracterização ambiental e que os resultados dos estudos mostraram que não há ecossistemas recifais dentro da área dos blocos operados por ela. “As atividades de perfuração somente serão iniciadas após a Total receber a licença ambiental do Ibama, ainda em análise por este órgão”.

A inglesa BP Energy, também em nota, disse que pesquisa realizada pela empresa não detectou nenhum sinal dos recifes na área de seu bloco de exploração. “Em todas as suas operações de perfuração, o principal foco da BP é com a prevenção de vazamentos de petróleo, aplicando as melhores práticas da indústria na segurança, no desenho dos poços, na perfuração e na proteção ao meio ambiente”. A exploração é até 2018, pelo contrato.

Já a direção da Queiroz Galvão informou que, para atender ao processo de licenciamento ambiental requerido pelo Ibama, a empreiteira brasileira realizou pesquisa que não apontou a presença de recifes na área de exploração. A perfuração na área deverá ocorrer em 2019 e 2020, assim que as obras forem liberadas. ABRIL DE 2017

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EDUCAÇÃO

Semeadores de esperança

Q

uando decidiu largar o emprego em um supermercado para se dedicar ao trabalho voluntário, Adriano Andrade, ouviu dos amigos que estava ficando maluco. Há 16 anos, ele fundou a organização não governamental Movimento Missão Jovem (MMJ), que começou com a ajuda de cinco voluntários e hoje tem mais de 100 apoiadores. A entidade realiza ações que promovem educação ambiental, esporte e lazer, cultura, saúde e capacitação para moradores dos bairros de Val-de-Cans e 40 • REVISTA AMAZÔNIA VIVA •

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Iniciativa de ONG Missão Jovem estimula a preservação da natureza nos bairros de Belém e no interior do Estado TEXTO E FOTOS BRENDA PANTOJA

Maracangalha, em Belém, e comunidades dos municípios de Marapanim e Curuçá. Durante o ano, a MMJ realiza ações ambientais que incluem palestras, plantio de mudas, recolhimento de lixo das ruas e dos rios e atividades recreativas. A mais recente ocorreu em março no conjunto Bela Vista, no bairro de Val-de-Cans, onde foram plantadas 30 mudas em um pequeno parque que os moradores lutam para preservar. “Pouca coisa é feita na prática em prol da natureza, tanto pelo poder público quanto pelos cidadãos. É muito importante que a gente cuide

dos recursos naturais que temos, para vivermos melhor”, afirma Adriano. Distribuição de cestas básicas para famílias carentes e aulas gratuitas de vôlei, futebol, basquete e ginástica para pessoas de todas as idades são ações realizadas com frequência pela entidade. Eles também oferecem orientação jurídica, aulas de violão, parceria para cursos profissionalizantes, entre outras iniciativas. “São as doações e parcerias que nos mantém, mas fazemos esse trabalho com muita dificuldade. Precisamos de mais apoio dos representantes


do poder público e formar uma rede de ONGs que buscam a transformação social”, acrescenta. Uma das maiores necessidades da MMJ, além da manutenção de seus projetos, está em conseguir um veículo para transportar os voluntários para as ações ambientais que são feitas em vários bairros de Belém e, especialmente, no interior do Estado. O coordenador de meio ambiente da ONG, Francisco Teixeira, destaca os mutirões de limpeza organizados no ano passado em 17 comunidades ao longo do rio Maú e também na praia do Crispim, de onde retiraram meia tonelada e uma tonelada de lixo, respectivamente. “A falta de conscientização ambiental é o principal problema da sociedade. É necessário intensificar o trabalho de formação com as crianças, porque reeducar adultos é mais complicado. A importância da nossa atuação é levar conhecimento para o público infantil, sobre como separar o lixo em casa e o tempo de decomposição dos materiais, por exemplo”, reforça ele, que se considera um ambientalista de nascença. Nascido em Curuçá, Francisco cresceu aprendendo a respeitar a mata, os rios e igarapés. Em 1993, já morando na capital paraense, ele foi trabalhar como voluntário no Parque Estadual do Utinga assim que o espaço foi criado, onde recebeu formação técnica e fez cursos no Batalhão de Polícia Ambiental. “É algo que faço porque tenho amor pela causa. Instruo as crianças para formar agentes multiplicadores. No interior, orientamos também sobre plantio e sobre resíduos sólidos. O caminhão do lixo não entra em algumas comunidades, então incentivamos a reciclagem, compostagem ou mesmo a queima de uma parte do lixo, para evitar que vá para o fundo do rio, assoreando os leitos e poluindo as águas”, completa. Segundo Adriano Andrade, em cada programação eles reúnem de 150 a 200 pessoas, entre voluntários e moradores da área. Um grupo de representantes da

ENGAJAMENTO

O fundador do MMJ, Adriano Andrade (abaixo), apostou no projeto social aliado ao meio ambiente e hoje conta com o apoio de voluntários, como Francisco Teixeira (à esquerda), que coordena as ações ambientais, e de Marely Marvão (acima), da Associação Sociocultural Bela Vista, que sempre recebe as atividades em Val-de-Cans, na periferia de Belém.

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EDUCAÇÃO

CORPO E MENTE

Os jovens dos bairros assistidos pelo MMJ também participam de atividades esportivas. Abaixo, o diretor do grupo Guardiões e Amigos de Parques Ecológicos (GAPE), Flávio Trindade, que apoia as ações

ONG foi formado em Curuçá, para dar continuidade ao trabalho. “Estamos semeando o cuidado com o meio ambiente e a solidariedade, ocupando o tempo ocioso das crianças e adolescentes com esporte”, frisa. O auxiliar de eletricista Marcelo Franco Duarte, 23, é um dos integrantes do time de futebol da MMJ há um ano e sempre acompanha as ações ambientais. A limpeza da praia do Crispim, em Marapanim, o deixou impressionado e mudou a percepção dele sobre o lixo. “Agora quando vejo meus amigos jogando lixo na rua, chamo a atenção. Fazer isso prejudica a nós mesmos, mas nem todos aceitam o conselho, não é fácil mudar esse hábito que as pessoas tem. Na praia, conversamos com os banhistas também. Lá tinha muito peixe morto, um resultado da poluição”, conta. A ação foi realizada em junho e recolheu cerca de uma tonelada de resíduos. O estudante Ygor Moreira Couto, 12 anos, também começou a participar da MMJ através do futebol e tem aprendido muitas coisas novas. No conjunto Bela Vista, ele assistiu as palestras e fez questão de plantar várias mudas de açaizeiro e paricá, demonstrando 42 • REVISTA AMAZÔNIA VIVA •

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que entendeu a importância de um bairro arborizado. “Nunca tinha plantado uma árvore, é muito fácil. As pessoas vão poder se alimentar dos frutos e aproveitar a sombra. Na minha escola a gente não fala muito sobre como proteger a natureza e na minha rua vejo muita gente jogando lixo mesmo nos dias que o lixeiro não passa. Temos que cuidar mais para ter um lugar melhor para viver no futuro”, comenta. Outras espécies plantadas foram andiroba, sapotilha, ipê-roxo. O objetivo, de acordo com Francisco, é fazer um viveiro de mudas e um canteiro de plantas medicinais no par-

que Cônego Ronaldo Menezes, localizado no conjunto e que vinha sendo degradado. A demanda veio da Associação Sociocultural Bela Vista (ASCBV), que é parceira da ONG e cede as quadras para os treinos esportivos dos projetos da MMJ. “Essa é uma área protegida e algumas pessoas, ilegalmente, tentam desmatar para ocupar e vender lotes. Por isso, a ação ambiental da MMJ é importante para fortalecer a sensação de pertencimento não só dos moradores do residencial, mas de todos os munícipes”, diz Marely Marvão, presidente da ASCBV. O diretor do grupo Guardiões e Amigos


de Parques Ecológicos (GAPE), Flávio Trindade, também participou da programação e ressaltou que a união da sociedade civil é importante para pressionar o poder público e conseguir melhorias. “Aqui em Belém população ainda joga muito lixo na rua e acha que se despeja em outro bairro, a sujeira não vai lhe atingir. Não veem a cidade como a nossa casa. A mudança começa em cada um de nós e temos que ensinar isso para as crianças”, reforça. Ele informou que o GAPE está concentrado em combater o abandono e as tentativas de ocupação do Parque Ecológico Municipal Gunnar Vingren, mas também cobra a manutenção de outros espaços, como o Parque Municipal da Ilha de Mosqueiro. Outros parceiros da Movimento Missão Jovem são o Batalhão de Policia Ambiental (BPA) e a Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Sustentabilidade (Semas), que prestam apoio em palestras e trilhas. O cabo Silva Junior, mestre em Ciências Ambientais, destacou que o BPA é conhecedor do trabalho da ONG e que cuidar do meio ambiente é uma responsabilidade de todos. “Os órgãos ambientais, sozinhos, não dão conta de atender toda a demanda do nosso Estado, que é muito grande. No que tange a educação ambiental, é mais complexo, pois deve ser um processo contínuo. Apoiar iniciativas como essa é fundamental para construir uma consciência ambiental nos cidadãos e descentralizar o trabalho. Estamos plantando a semente do respeito à natureza e queremos que ela germine, se multiplique”, comenta.

SERVIÇO A sede da ONG fica no conjunto Paraíso dos Pássaros, quadra 30, lote 11, no bairro de Maracangalha. Mais informações e fotos do trabalho realizado estão disponíveis na página www.facebook.com/ongmovimentomissaojovem e no site www.ongmmj.org. O contato pode ser pelo telefone 99925-7921 ou pelo email ongmmmj@gmail.com.

EDUCAÇÃO E SUSTENTABILIDADE

Crianças e jovens plantam mudas de árvores nos bairros para tornar o ambiente onde moram mais verde e sustentável

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PESQUISA

Brincadeira de criança

Pesquisa desenvolve bonecos de pano para auxiliar tratamento de pequenos pacientes com insuficiência renal crônica

TEXTO DAYANE BAÍA FOTO NAILANA THIELY

É

uma hora da manhã e Maria Vitória Paixão, de 14 anos, aguarda a van da Fundação Santa Casa de Misericórdia do Pará na estrada de Bacuriteua, próximo a Bragança, no nordeste paraense. Ela é a primeira paciente infantil a embarcar para a sessão de hemodiálise, que começa ao amanhecer em Belém. Ela fica por quase quatro horas ligada à máquina de filtragem do sangue e refaz o caminho de volta ao município de ori44 • REVISTA AMAZÔNIA VIVA •

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gem para estar em casa às 9 da noite. A adolescente nasceu com meningocele, síndrome rara que atinge bebês ainda no útero, ocasionando má formação da medula espinhal. A insuficiência renal é uma das sequelas que costuma aparecer nesses casos. A rotina se repete quatro vezes por semana e é imprescindível para executar a tarefa vital que os rins não conseguem realizar sozinhos. Necessária, porém desgastante, pois afeta diretamente a qualidade de

vida de outras 25 crianças e adolescentes atendidos no setor de Terapia Renal Substitutiva do hospital. Essa foi a constatação da pesquisa da terapeuta ocupacional Thais Gonçalves, egressa do Programa de Residência Multiprofissional em Saúde da Universidade do Estado do Pará (Uepa), em parceria com instituições preceptoras, entre elas a Santa Casa. Na pesquisa, Thais Gonçalves avaliou o nível de qualidade de vida sob o olhar das crianças e dos pais.


Ela utilizou um questionário para identificar a percepção de três fatores: independência, exclusão social e o impacto do tratamento. Os resultados mostraram que as crianças possuem um grau de dependência maior por conta das limitações, como os cuidados com o cateter que liga os pacientes às máquinas e não pode ser molhado. “Vivemos em uma região cheia de rios e elas não podem desfrutar. É calor e tem restrição de ingestão de líquidos. Tudo isso faz com que elas acreditem que podem menos do que as outras crianças”, afirma Thais. O tratamento, último ponto analisado, revela o maior impacto, já que a quebra da rotina interfere não apenas nos pacientes. “Causa uma ruptura na vida da mãe - que corresponde a mais de 80% dos acompanhantes - e de toda a família, que precisa se adaptar à rotina, adotar novos hábitos e passar pelo mesmo processo de sofrimento”, completa. Thais foi além dos resultados da pesquisa e criou dois mascotes para melhorar a realidade dos pacientes. Rinaldinho e Rinaldinha são bonecos de feltro em formato anatomicamente parecido com os rins humanos. Cada paciente recebeu um exemplar. “A ideia é que eles tivessem um símbolo que pudessem se identificar”, conta. A proposta foi abraçada pela instituição e os bonecos passaram a integrar as ações educativas. “É uma linguagem diferente, o personagem facilita o entendimento, eles criam vínculos relacionados à saúde e ao autocuidado. Buscamos associar o mascote ao que eles deveriam fazer e que de repente ainda não conseguem”, afirma Fernanda Lobato, terapeuta da instituição, que colaborou com a pesquisa. Os bonecos dinamizaram a rotina de pacientes que esperam por um transplante há mais cinco anos, tempo de existência do serviço da Santa Casa. O trabalho das terapeutas também engloba esse acompanhamento da fila de espera. Até 2016 a média de cirurgias era de duas por ano, mas desde janeiro esse cenário começou a mudar. Foram transplantadas quatro crianças, três delas no Hospital Ophir Loyola e uma em São Paulo, devido o peso ser abaixo de 20 quilos. Thais coletou os dados em 2016 durante seu

AMENIZAR O SOFRIMENTO

A egressa do Programa de Residência Multiprofissional em Saúde da Uepa, Thais Gonçalves, criou os personagens Rinaldinho e Rinaldinha para desenvolver um tratamento especial com as crianças com doença renal crônica da Santa Casa. Fernanda Lobato, terapeuta da instituição, que colaborou com a pesquisa.

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PESQUISA

período de residência no setor. A terapia ocupacional integra a equipe multiprofissional e inclui também as áreas de pedagogia, enfermagem, nutrição, psicologia, serviço social e nefrologia pediátrica. A Santa Casa é pioneira nesse formato de atendimento e possui um Comitê de Humanização. “Avaliamos a rotina de vida do paciente pré-tratamento e as mudanças necessárias a partir do diagnóstico. Buscamos minimizar o impacto, tornando a adaptação menos dolorida e orientando a família quanto aos cuidados crônicos e em longo prazo, que exige restrições”, diz a terapeuta Fernanda Lobato. A assistência também visa a promover qualidade de vida durante o tratamento, pois as sucessivas internações interferem no desenvolvimento físico, cognitivo e social. Os atendimentos são realizados durante as sessões de hemodiálise para melhorar a aprendizagem conforme a faixa etária da criança. De acordo com a terapeuta, a maioria delas precisa se afastar da escola, por isso também tem acompanhamento pedagógico. “Quanto mais ativa a criança, menores são os efeitos colaterais desse tratamento”, explica Fernanda. Para estimular a participação dos pacientes são realizadas atividades individuais, em grupo, palestras educativas, jogos e gincanas. Como o tratamento é de longo prazo, é possível perceber a resposta e as consequentes mudanças no desenvolvimento infantil. Apesar do cenário de esperança, a demora é grande devido à falta de doadores de rins para crianças. Alguns jovens alcançam a maioridade e continuam o tratamento no serviço adulto. Para Thais, muitas pessoas não conhecem a realidade da diálise infantil e acham que ocorre mais em adultos, com o envelhecimento. “É importante alertar a sociedade para trabalhar de forma preventiva e sensibilizar quanto à doação de órgãos. Existem muitas crianças precisando de transplante e acabam se perdendo porque as famílias não têm esse entendimento”, diz Thais Gonçalves. 46 • REVISTA AMAZÔNIA VIVA •

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FORÇA E ESPERANÇA

Devido às longas sessões de hemodiálise na Santa Casa, as crianças participam de atividades educativas e os bonecos em formato de rins dinamizam o tratamento.


ARTE, CULTURA E REFLEXÃO MOARA BRASIL / REPRODUÇÃO

PENSELIMPO

Sensibilidade indígena A ARTISTA PLÁSTICA MOARA BRASIL PROVOCA SENSAÇÕES COM SUA ARTE PÁGINA 48

VISIONÁRIO

FINANCIAMENTO

O botânico João Murça Pires foi um pesquisador consciente sobre a importância da ciência para a sociedade amazônica. PÁG.52

O corte nos recursos federais repassados à Amazônia pode prejudicar o desenvolvimento da Ciência na região. PÁG.58

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PAPO DE ARTISTA

arte Sensorial

A ARTISTA PLÁSTICA MOARA BRASIL UNE FANTASIA, SONHO E REALIDADE EM SEUS TRABALHOS INSPIRADOS PELA HERANÇA INDÍGENA DA AMAZÔNIA

TEXTO ANA LAURA CARVALHO

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FOTOS: DIVULGAÇÃO

A

rtista plástica, estilista e designer gráfica. Moara Brasil é formada em Publicidade e Propaganda pela Universidade Federal do Pará (UFPA) e em Moda pelo Senai de São Paulo. Nascida em Belém, em 1983, é autodidata e atualmente mora na capital paulista. Em 2003, iniciou sua produção artística, quando tinha 19 anos, pintando e customizando roupas de brechó. Essas peças exclusivas e personalizadas passaram a ser comercializadas inicialmente entre amigos e pessoas próximas. Depois, ficaram bastante conhecidas em Belém. Sua principal inspiração é a Amazônia, bem como todas as riquezas culturais e naturais do Brasil. Mas as maiores influências são, sobretudo, os mitos e lendas que envolvem um mundo encantado. Moara sempre busca expressar a fantasia e a realidade da fauna e flora da Amazônia. Animais exóticos, flores fantásticas e cores deslumbrantes despertam a criatividade da artista, permitindo-lhe criar e recriar o novo em suas ilustrações, além de transitar entre o real e o imaginário. Ter nascido e vivido no coração da Amazônia foi, para a artista, como receber uma dádiva em poder experimentar seus frutos, flores, diversida-

de cultural e artística com todo o exotismo que lhes é peculiar. Esse contato direto com tanta riqueza de informação cultural reflete e se traduz em suas obras, que buscam proporcionar um passeio nas histórias fantásticas e um mergulho no imaginário, a partir dessa intimidade com esses temas que compõem a mitologia e a cultura do povo brasileiro. Moara se utiliza de materiais diversos, como nanquim, guache, lápis de cor, aquarela, para traduzir fantasias ao papel.

À FLOR DA PELE

Moara Brasil também é estilista e designer gráfica. Ela se inspira nas questões femininas e na natureza para desenvolver seu trabalho.

Como foi o início da sua carreira? Comecei pintando roupas de um brechó que eu tinha, com a marca Loramoara, em Belém. Foi quando descobri meu apreço pelo desenho e pintura. Porém foi em São Paulo, depois de ficar alguns anos perdida em empregos que não se encaixavam no meu perfil, que eu realmente resolvi me dedicar às artes. Trabalhei em galerias para sustentar um curso de ilustração que comecei a fazer em 2013, até ser demitida. Com o dinheiro, pude investir melhor no início da minha carreira e então realizar a minha primeira exposição, em 2015, na Sala Ilustrada, com o título “Ameríndios”. ABRIL DE 2017

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“Quando comecei a trabalhar (em São Paulo) cheguei a sofrer preconceito pelo meu sotaque e por usar brincos de pena. Isso me doeu muito. Como resposta, eu decidi incentivar aqueles que se identificavam comigo a não ter vergonha de suas origens e, portanto, a se aceitarem”.

De onde vem a influência para desenvolver pesquisas sobre os costumes e a cultura dos povos ameríndios do Brasil? Da minha crença de que estamos numa sociedade cada vez mais vazia, mais líquida, segundo Bauman (Zygmunt Bauman foi um sociólogo polonês, professor emérito de sociologia das universidades de Leeds e Varsóvia. Morto em janeiro deste ano, deixou uma vasta obra sobre as relações humanas na sociedade), e por eu ter vindo morar em São Paulo, pois me senti mais distante da minha própria identidade. Quando comecei a trabalhar aqui (em São Paulo), com 25 anos, cheguei a sofrer preconceito pelo meu sotaque e por usar brincos de pena. Isso me doeu muito. Como resposta, eu decidi incentivar aqueles que se identificavam comigo a não ter vergonha de suas origens e, portanto, a se aceitarem. Eu resolvi, então, mostrar a importância de as pessoas não se desconectarem de suas essências, pois o mundo só é belo porque é diverso. Além disso, a saudade me fez buscar a conexão com o meu lugar. E, por este motivo, comecei adentrar no meu universo, fui me descobrindo, conhecendo e me aceitando como uma paraense com sangue indígena. A minha família tem uma mistura bonita de imigrantes espanhóis e judeus com indígenas tapajônicos. A família do meu pai tem traços indígenas muito fortes. E toda vez lembro da minha avó. Ela sempre carregou o costume indígena em toda a sua vida. Você também se interessa por aspectos voltados ao universo feminino. Por quê? Eu comecei a me interessar pelo universo feminino no final de 2016. Acredito que foi algo bem pessoal, alguns motivos emocionais, físicos e a busca por autoconhecimento. Por bastante tempo, tomei anticoncepcional e já não entendia o meu corpo e nem minhas emoções. Eu sempre fui ansiosa. Morar em São Paulo potencializou isso. Juntei a minha ansiedade e as consequências negativas que o anticoncepcional estava me trazen-

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do. Parei imediatamente de tomar a pílula porque vivia com enxaqueca. Foi então que comecei a frequentar círculos do Sagrado Feminino, em São Paulo. Iniciei minhas leituras sobre xamanismo e me interessei por fitoterapia. A série “Sagrado Feminino”, de seis colagens que expus em Belém e trouxe para São Paulo, teve o intuito de apresentar a mulher ao encontro da sua essência feminina no universo. E, assim, estimular sua aceitação. De que forma a estética e a visão particular desses povos se manifesta em suas obras? A natureza, por exemplo, está sempre presente no que faço. Em minha última série, na construção de minhas colagens estava pela forma de plantas, flores e animais. Geralmente eu me aproprio artisticamente de imagens de indígenas e não-indígenas e ressignifico com colagem e pintura. Me inspiro principalmente na natureza, pois é um elemento extensamente defendido por esses povos. Como você propõe o diálogo entre as tradições culturais e as variadas técnicas de criação visual? Por meio de minha arte que está mais pop e colorida. E a conexão com a tradição, que não é necessariamente algo que tem que ser antigo, mas sim que está sempre em movimento e pode ser adaptado para qualquer mídia e para qualquer tempo. Acredito que essa minha nova linguagem tenha sido influenciada pelos dois outros artistas - Arthur Porto e Tainá Maneschy - do “Coletivo Poraquê”, que já trabalhavam com colagens e, portanto, me ensinaram essa técnica. Juntando esta técnica com uma temática com a qual eu já trabalhava, resolvi representar universo feminino, que está tão em voga e a reconexão com a natureza. Qual o seu relacionamento com as diferentes formas de expressão? Sempre aberta. Eu me envolvo e estou aberta a experimentar todas as formas de expressão. Estou numa fase, por exemplo, de “vídeos-minuto” e fotografia que ainda não divulguei pois ainda estou experimentando. Já fiz também pintura, desenho, colagem, roupa, parede, escultura, xilogravura e linoleogravura.

FOTOS: DIVULGAÇÃO

PAPO DE ARTISTA


EXPOSIÇÕES

A paraense Moara Brasil divulga sua arte ameríndia em salas de São Paulo

Atualmente, quais projetos seus estão sendo executados? Tenho trabalhos com o Coletivo Poraquê, com o qual fazemos exposições em vários locais em SP. Vamos participar de feira no Idea Fixa, no evento “Feira Polvo” e também no Jardim Secreto Fair. Estamos também negociando um lugar para fazer uma exposição coletiva em São Paulo. Faço parte da organização e tenho trabalhos expostos na Galeria Mix 63, numa ocupação artística, o Ouvidor 63. Organizo projetos para o mês de maio, do aniversário do Ouvidor 63, três anos de ocupação e ainda a inauguração da Galeria Nuventre, também do Ouvidor 63. Exponho uma obra minha na ocupação Ermelino Matarazzo e estou em processo de confecção de uma vaca para CowParade SP. Grafito uma parede na avenida Paulista, junto com diversas mulheres, num projeto do Thiago Bender. Estou fazendo um desdobramento da minha série “Sagrado Feminino”, junto com outra artista paraense, sem data definida ainda para apresentar ao público e aprendendo a tatuar. Como tem ocorrido sua inserção no cenário artístico do Sudeste e Norte do Brasil? No Norte, eu tive um reconhecimento mais rápido. No Sudeste, tem vindo aos poucos e sinto que neste ano comecei a ver o resultado de tanto esforço que fiz para conseguir o lugar onde estou agora. Estou feliz. Você se considera uma artista de sucesso? Sim, sempre me considerei bem antes de conseguir reconhecimento. Ainda estou no comecinho da minha carreira, apesar de ver o reconhecimento rápido. Ainda tenho muito o que viver, aprender e dizer para o mundo. ABRIL DE 2017

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MEMÓRIAS BIOGRÁFICAS

Botânico com espírito aventureiro TEXTO ROSANA MEDEIROS ILUSTRAÇÕES JOCELYN ALENCAR

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João Murça Pires 1917-1994


O

ano de 1945 ficou marcado na história por um grande acontecimento que mudaria o futuro da humanidade, o fim da Guerra Mundial. No mesmo ano, ocorria na Amazônia um acontecimento de menor porte e, aparentemente, sem muita importância, mas que também mudaria a história. Naquele ano, chegou ao Pará o botânico João Murça Pires, que acabaria se tornando um expert da taxonomia da flora amazônica. Nascido em Bariri, São Paulo, Murça Pires chegou à região como funcionário do recém-criado Instituto Agronômico do Norte (IAN), atualmente Embrapa Amazônia Oriental. Foi no IAN que o botânico iniciou o que seria a marca de sua trajetória profissional, as expedições botânicas pela Amazônia. Em 40 anos de profissão, foram mais de dez viagens pela região. Essas expedições permitiram que Murça Pires criasse laços com cientistas nacionais e internacionais. “Ele era reconhecido internacionalmente como um notável taxonomista e fitogeógrafo, e, desde o início de sua atuação na Amazônia, sempre procurou estreitar laços com grandes instituições estrangeiras, como The New York Botancial Garden, Smithsonian Institution, Royal Botanic Garden, além de destacadas instituições nacionais, a exemplo do Jardim Botânico do Rio de Janeiro, do Museu Nacional, do Instituto de Botânica de São Paulo, do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia e a da Universidade de Brasília”, relata Ricardo Secco, pesquisador de botânica do Museu Paraense Emílio Goeldi. Como botânico deixou um legado extenso na descrição de taxas novos, enfatizando-se a descoberta de uma família (Saccifoliaceae), além de três gêneros e 47 espécies. O amor pela pesquisa em botânica somado à competência como cientista transformaram João Murça Pires num dos botânicos mais importantes da Amazônia. Seus trabalhos sobre a flora amazônica se tornaram clássicos e ainda hoje são os mais expressivos e completos que existem. Um dos grandes atributos de Murça Pires era o espírito aventureiro. Essa característica proporcionou ao cientista várias viagens, nas quais afiava sua ousadia e expandia seu conhecimento sobre a região. Na década de 1960, realizou por meio do programa Guiana (convênio de cooperação nacional e internacional, apoiado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientí-

fico e Tecnológico/CNPq e pela National Science Foundation, dos Estados Unidos) excursões botânicas pelas bacias principais do Amapá, coletando um total de mais de três mil coleções de exemplares vegetais para estudo. Era um pesquisador consciente da importância da Ciência para a sociedade. Defendeu e atuou na criação de herbários, possibilitando o desenvolvimento de estratégias de preservação, de manejo e de utilização sustentável de espécies vegetais catalogadas para os herbários. Fundou o herbário da Embrapa, o da Universidade de Brasília (UnB), o da Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira, em Itabuna, Bahia e, o da Universidade Federal do Maranhão (UFMA). Segundo Ricardo Secco, o botânico “era um homem tímido, muito culto e competente, mas de personalidade fechada e crítico feroz”. Conhecedor da importância da pesquisa a longo prazo, que só pode ser realizada em área conservada, defendia a conservação de áreas naturais e condenava a implantação de projetos de desenvolvimento na Amazônia sem qualquer planejamento prévio. João Murça Pires só se importava com a ciência, que para ele não tinha fronteira. Ele reclamava das dificuldades para a entrada de cientistas estrangeiros no Brasil, enquanto a ocupação desordenada destruía imensos trechos da floresta amazônica, causando a perda pura e simples da biodiversidade. Murça Pires também teve forte atuação na educação. Foi professor e diretor da Escola de Agronomia da Amazônia/EAA (atual Universidade Federal Rural da Amazônia), da Universidade de Brasília (UnB), do Curso de Pós-Graduação em Ciências Biológicas criado pelo convênio entre a Universidade Federal do Pará e o Museu Paraense Emílio Goeldi entre outros. Seu esforço e competência lhe renderam diversos prêmios e medalhas, além de outras conquistas, enfatiza Ricardo Secco: “Outras grandes conquistas de Murça Pires foram o campus de pesquisa do Museu Goeldi, na década de 80, conseguido graças aos seus esforços. Também a Estação Científica Ferreira Pena, na Floresta Nacional de Caxiuanã, no município de Melgaço, na década de 90, que até hoje funciona como laboratório de estudos da biodiversidade da Amazônia, inclusive é base de estudos para o Programa de Pesquisa em Biodiversidade (PPBio)”. ABRIL DE 2017

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AGENDA ALEXANDRE MORAES

CARTUNS O 9° Festival Internacional de Humor da Amazônia - Ecologia no Traço será realizado de 26 de maio a 4 de junho, no Hangar, na Dr. Freitas, bairro do Marco. O evento vai apresentar cartuns e caricaturas sobre o tema e vai ocorrer dentro da programação da XXI Feira Pan-Amazônia do Livro. Os interessados em participar podem inscrever as obras até 10 de maio. Mais informações na página Salão Internacional de Humor da Amazônia.

CLUBE DE CIÊNCIAS

Iniciação científica O Clube de Ciências da Universidade Federal do Pará está com as inscrições abertas para o projeto de iniciação científica sócio-mirim, que visa popularizar a ciência e a educação científica entre crianças e jovens. Os interessados em participar podem se inscrever até o dia 28 de abril, nos horários de 8h às 12h e 14h às 18h, de segunda a sexta, na sede do Clube, que fica localizado no Instituto de Educação Matemática e Científica, no campus básico da UFPA, próximo ao primeiro portão e a Prefeitura do Campus. As vagas são destinadas a estudantes da educação básica, a partir dos seis anos de idade, e do ensino médio, que estejam regularmente matriculados em instituições da rede pública de ensino. Para se

inscrever é necessário apresentar comprovante de residência, comprovante de matrícula da escola, documento de identificação do responsável e certidão de nascimento para crianças e jovens que ainda não tenham identidade. Durante o projeto, os alunos serão estimulados a desenvolverem um trabalho de iniciação científica infantojuvenil envolvendo o próprio cotidiano. No final do ano, eles terão a oportunidade de mostrar esses projetos na exposição científica do Clube. A aula inaugural será realizada no dia 29 de abril e vai contar com brincadeiras, lanches e atividades. Já as aulas regulares são realizadas aos sábados, de 8h às 11h. Mais informações no (91) 3201-7642.

ARTIGOS A Revista Amazônia: Ciência & Desenvolvimento está selecionando artigos científicos com temas voltados para a região Norte. Os interessados em publicar seus trabalhos podem enviar os textos para a 24ª edição do periódico até o dia 30 de maio. Mais informações no site bancoamazonia.com.br.

LEITURA Clube de leitura infantil, para estimular o hábito de ler entre crianças e jovens de 7 a 12 anos, dia 29 de abril, das 9h às 10h30, no Sesc Boulevard, na Av. Boulevard Castilhos França, 522, Campina. As inscrições são gratuitas e podem ser feitas até o dia do evento. Sujeito a disponibilidade de vagas.

FOTOGRAFIA

OSCAR 2017

O fotógrafo paraense Rafael Araújo apresenta a exposição “Nascido e Criado” que reúne imagens que

O filme Manchester à Beira Mar, indicado

retratam a cultura amazônica em terras e rios pelo interior do Estado. A mostra segue aberta para visita-

em seis categorias do Oscar 2017 será exibi-

ção até o dia 21 de abril, das 10h às 16h, de terça a sexta, e de 9h às 13h aos sábados, domingos e feriados,

do nos dias 20, 21, 22, 23 e 26 de abril, sem-

na Casa das Onze Janelas, que fica na Praça Frei Caetano Brandão, Cidade Velha. A entrada é franca. Mais

pre às 19h30, no Cine Líbero Luxardo, na Av.

informações no (91) 4009-8821.

Gentil Bittencourt, 650, Nazaré. Ingressos por R$ 12,00 (inteira) e R$ 6,00 (meia).

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FAÇA VOCÊ MESMO

Porta-pincel com rolos de papel Um porta-pincel é fácil de fazer e reaproveita um recurso que quase sempre é descartado: rolos de papel-toalha. Basta aplicar recortes de tecidos, esquecidos em uma gaveta qualquer, e usar um pouco de criatividade. Mas dá para ir além de um porta-pincel. É

Do que vamos precisar?

possível fazer porta-maquiagem, porta-lápis, porta-treco, porta qualquer coisa que caiba lá. Basta adaptar o tamanho do rolo para o que se pretende usar. Com prática e experimentação, será possível variar os materiais e formas de cobertura usadas.

Rolos de papel-toalha

Retalhos de tecido

Tesoura

Cola quente

Pedaços de papelão

Lixa

Tinta

Cola branca para madeira

Pincel

Lápis ou caneta

DILMA TEIXEIRA, INSTRUTORA E COORDENADORA DE ARTES VISUAIS/ OFICINAS CURRO VELHO | LUIZA NEVES, TÉCNICA EM GESTÃO CULTURAL SUANE SANTOS, MODELO | LEANDRO RIBEIRO, FOTOGRAFIAS / ASCOM/FCP

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FAÇA VOCÊ MESMO

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Separe alguns rolos de papel de tamanhos variados (pode ser de papel toalha ou qualquer outro que tenha em casa) e lixe levemente as peças por dentro e por fora.

Recorte o círculo do papelão.

Para impermeabilizar, passe uma mão de cola branca em toda a extensão das peças e espere secar. Repita todo o processo em quantas peças desejar.

2 5 8

Pinte o interior da peça e espere secar (pode variar a cor da tinta a seu gosto).

Cole o círculo em uma das extremidades do tubo, criando o fundo da peça.

Após a secagem, passe um fio de cola quente, para juntar as peças preparadas.

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Risque um círculo num pedaço de papelão, usando o próprio rolo como medida para fazer o fundo da peça.

Comece a colar os pedaços de tecido para encapar toda a peça, usando a cola branca.

Está pronta a sua peça, onde você poderá guardar pincéis de pintura, maquiagem, flores, canetas, cartões e o que mais a criatividade permitir.

Para saber mais Quem quiser conhecer mais sobre técnicas artísticas pode se inscrever nas oficinas Curro Velho, da Fundação Cultural do Pará. Crianças a partir de 12 anos podem participar. O Curro Velho fica localizado na rua Professor Nelson Ribeiro, nº 287, esquina com a travessa Djalma Dutra, bairro do Telégrafo. Telefones: (91) 3184-9100 e 3184-9109. 56 • REVISTA AMAZÔNIA VIVA •

ABRIL DE 2017

RECORTE AQUI

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ATENÇÃO: Essa atividade pode ser feita por crianças, desde que acompanhadas por um adulto responsável


BOA HISTÓRIA

Diziam sem medo algum que ela era uma matinta pereira. Na cara dura mesmo, durante o dia. Ofereciam tabaco quando ela passava. Riam alto. Apelidavam. Na taberna, os papudinhos gracejavam quando a mulher aparecia para comprar meia dúzia de ovos ou uma quarta de charque ou uma colherinha de azeite. Os moleques na rua arrumavam um jeito de assoviar o mais alto possível com ajuda dos rabos de papagaio, feitos de sacolas plásticas, quando ela atravessava a ladeira com cuidado para não escorregar na tabatinga, no seu passinho lento. As fofoqueiras cochichavam, os velhotes maldizentes pensavam mal, o pessoal novato mantinha a curiosidade e perguntavam o motivo. Ninguém sabia. Era uma senhorinha de cabelos desgrenhados com fios brancos, gris e alaranjados, sem muito volume adornados com uma tiara, a pele murcha, o rosto vincado, os olhos de quem passou fome, as mãos secas com unhas sujas, as pernas tuirentas, os pés frágeis e encardidos em cima de uma havaiana carcomida. Saía pouco e

vestia as mesmas batas de sempre: a rosa nas segundas e terças, as azuis claras nas quartas e quintas, as amarelo-claro nas sextas e sábados. Aos domingos, punha vestido preto e rezava na igreja à nossa senhora. Consumia-se no mal hábito dos cigarros artesanais de palha, morava sozinha e fingia não se incomodar com a encarnação dos vizinhos. Vivia da minúscula pensão do marido, morto há tantos anos que ela já não lembrava mais do rosto dele nem possuía foto para refrescar a memória. Não teve filhos, comia pouco e trocava a noite pelo dia numa insônia sem cura. A casa dela era minúscula e erguida na primeira leva de invasores daquele charco que, aos poucos, foi aterrado com barro e resto de construções. Pequena, azul de portas e fenestras com molduras marrons, ficava no ponto mais alto e mais alta era porque os esteios de sustentação pareciam pernas enormes que mantinham o casebre flutuando. Ela subia por uma longa escadinha estreita cujas tábuas se tornavam sabão e o corrimão ficava gelado nos dias mais úmidos. No fim das tardes, postava-se na jane-

LEONARDO NUNES

Bullying

la para olhar a rua. Comunicava-se com quase ninguém, não por querer, mas porque era hostilizada com a história de ser sobrenatural. Vivia entre a tristeza e o aborrecimento. Até gostaria de uma prosa, um café, uma pequena alegria, mas ninguém ali dava trégua. Planejou o fim de tudo na noite de quinta enquanto chovia. Já na sexta-feira à noite, no mesmo toró enfadonho, pôs-se na rua à meia-noite, assoviou mais alto do que o apito das crianças que a azucrinavam. As casinhas se iluminaram para ver o que ocorria. Ela se despiu na via pública. Tirou a camisola e as combinações e, por baixo, havia não a couraça de anciã centenária, porém a índia mais bonita que qualquer um dali veria naquele e nos próximos anos. Andou a passos firmes lentos para absorver toda água possível do temporal diante dos que se assustavam com a cena. No fim da ruela sem saída, diante de um canal turvo de dejetos e marias-moles, alçou voo transmutada em coruja. De cima, piou em maldição por não tolerar aquela gente mesquinha, como quem diz: nunca mais. ABRIL DE 2017

Anderson Araújo

é jornalista e escritor • REVISTA AMAZÔNIA VIVA • 57


NOVOS CAMINHOS

Prioridades de pesquisa em tempos de crise

INOCÊNCIO GORAYEB é mestre e doutor em Entomologia, pós-doutor em sistemática zoológica e pesquisador do Museu Paraense Emílio Goeldi 58 • REVISTA AMAZÔNIA VIVA •

Em tempos de crise econômica é comum que a sociedade questione a aplicação de dinheiro público e queira privilegiar atividades que deem retorno visível e imediato, quando este fenômeno afeta o sistema de pesquisa, cujo financiamento depende, em grande medida, do Estado. Sempre nesses tempos difíceis volta à eterna discussão equivocada da oposição entre pesquisa básica e pesquisa aplicada. Esse foi o tema de um excelente artigo publicado na revista “Pesquisa”, da FAPESP (SP), agosto de 2016, intitulado “Os impactos do investimento”, de Fabrício Marques, páginas 16-23. Neste pequeno espaço fazemos conjecturas sobre esse assunto, observando o impacto na região amazônica. Já há algum tempo, mesmo bem antes da crise atual se instalar, a pasta da Ciência e Tecnologia já vinha sofrendo cortes que afetaram a manutenção da infraestrutura das instituições, os recursos mínimos para funcionamento relativos a gastos correntes e as verbas destinadas a programas e desenvolvimento de projetos de pesquisa. Sem mencionar a falta de concursos públicos para reposição do número de pesquisadores do quadro. Nesse cenário, a Amazônia sempre foi a região mais atingida do país, mesmo porque vem sendo desigual e desproporcionalmente preterida. Ela sempre figura fácil nos discursos das prioridades, mas na prática as implementações são diferentes. Outro aspecto interessante é quanto as prioridades de pesquisa. Em outras ABRIL DE 2017

palavras, em que os recursos devem ser aplicados nesses momentos de crise. Existem vários fluxos que determinam prioridades: 1 – Demandados e sugeridos pela sociedade ou seus representantes; 2 – Demandados e sugeridos pelos poderes públicos, Estado; 3 – Definidos e sugeridos pelas Instituições de Ensino e Pesquisa; 4 – Definidos e sugeridos por políticas de organizações e Comissões Internacionais; 5 – Definidos pelos pesquisadores, cada um na sua especialidade. Diante desse amplo leque, em momentos de crise, muitas dessas prioridades ficam de fora, e as decisões para onde os recursos serão aplicados, depende de correntes dominantes no poder estatal. Geralmente o agronegócio e a saúde são priorizados, mas infelizmente no Brasil da última década, o domínio de políticos e da corrupção acaba definindo um fluxo mais poderoso e até alheio aos já citados. Respeito ao conhecimento destacado dos pesquisadores na definição de prioridades fica num plano longínquo. Eles detêm um conhecimento reconhecido acima da sociedade em geral dentro de suas respectivas linhas de pesquisa, por isso, podem enxergar prioridades além dos outros fluxos citados. É tempo de trabalhar duro e com inteligência, e até com sacrifício, mesmo na crise, para não vulnerabilizar as estruturas institucionais e instâncias históricas de geração de pesquisa, porque elas podem ser alvo de perda de identidade, de junções, incorporações, subalternizadas e até extintas.

“Já há algum tempo, mesmo bem antes da crise atual se instalar, a pasta da Ciência e Tecnologia já vinha sofrendo cortes que afetaram a manutenção da infraestrutura das instituições”


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