Revista Amazônia Viva ed. 65 / janeiro de 2017

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REVISTA ENCARTADA NO JORNAL O LIBERAL. NÃO PODE SER VENDIDA SEPARADAMENTE.

JANEIRO 2O17 | EDIÇÃO NO 65 ANO 6 | ISSN 2237-2962

RELIGIÃO

COMO OS MISSIONÁRIOS MOLDARAM A HISTÓRIA DE BELÉM Em 12 de janeiro de 2017, a capital do Pará completa 401 anos de fundação. No decorrer desse tempo, diversas denominações religiosas ajudaram a formar a sociedade ao defenderem seus ideais empunhando a bandeira da missão em terras amazônicas

PRESERVAÇÃO

ONU institui o Ano Internacional do Turismo para o Desenvolvimento

MATINTA

Pesquisa registra relatos populares sobre a personagem do imaginário regional

PINDUCA

O “Rei do Carimbó” fala sobre a carreira de sucesso como ícone do ritmo paraense


Mudança de vida e de ideias Contém:

Mudança Crescimento profissional de vida e Desenvolvimento local Mineração e Sustentabilidade de ideias Depois de concluir o mestrado em Engenharia de Contém: Produção, Álvaro Ferreira se tornou professor da Crescimento profissional Ufra, em Parauapebas. Natural de Belém, ele mudou de cidade, mudou de vida elocal mudou, também, a sua Desenvolvimento visão sobre a mineração. Mineração e Sustentabilidade O professor não conhecia o município de Depois de concluir o mestrado em Engenharia de Parauapebas e nãoFerreira percebia a sustentabilidade Produção, Álvaro se tornou professor da Ufra, em Parauapebas. Natural de Belém, no negócio mineração. Lá, ele encontrou ele mudou de cidade, mudou de vida e mudou, também, a sua oportunidades, qualidade de vida, conheceu de visão sobre a mineração. perto as atividades da Valeoemunicípio passou a ter O professor não conhecia de convicção Parauapebas e não percebia a sustentabilidade de que a mineração é sustentável e contribui muito no negócio mineração. Lá, ele encontrou para o desenvolvimento local. oportunidades, qualidade de vida, conheceu de perto as atividades da Vale e passou a ter convicção de que a mineração é sustentável e contribui muito para o desenvolvimento local.

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Álvaro Ferreria tem 26 anos. É mestre em Engenharia de Produção e professor univesritário.

Foto Roberto Ribeiro

EKO

vale.com/brasil

23/12/16 17:47


EDITORIAL

PUBLICAÇÃO MENSAL DELTA PUBLICIDADE - RM GRAPH EDITORA JANEIRO 2017 / EDIÇÃO Nº 65 ANO 6 ISSN 2237-2962 Presidente LUCIDÉA BATISTA MAIORANA Presidente Executivo ROMULO MAIORANA JR. Diretor Jurídico RONALDO MAIORANA Diretora Administrativa ROSÂNGELA MAIORANA KZAM Diretora Comercial ROSEMARY MAIORANA Diretor Industrial JOÃO POJUCAM DE MORAES FILHO Diretor JOSÉ LUIZ SÁ PEREIRA Conselho editorial RONALDO MAIORANA JOÃO POJUCAM DE MORAES FILHO LÁZARO MORAES REDAÇÃO CARLOS BORGES

INFLUÊNCIA RELIGIOSA

Igrejas, como a de Santo Alexandre, marcam a presença missionária no início da história de Belém

Os missionários na Amazônia

FELIPE JORGE DE MELO Editor-chefe

Em 401 anos de existência, Belém já acumula incontáveis histórias de vida, de transformações social, político, econômico e ambiental, além de retrocessos e avanços em sua longa jornada. É, sem dúvida, uma cidade rica sobretudo no aspecto humano. E para celebrar mais um aniversário da capital paraense fomos buscar nos registros históricos da cidade a influência dos primeiros missionários que chegaram por aqui e ajudaram a construir a Belém que conhecemos. Pegamos como gancho, para usar o jargão jornalístico, a presença dos templos que marcam a presença das denominações religiosas na Amazônia, não somente da católica, mas também dos

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protestantes, dos judeus, dos muçulmanos e também dos espíritas, que, apesar de não se definirem como religião e nem possuírem templos, têm grande importância na vida cultural da cidade nesses 400 anos. Devido ao volume e à riqueza de informações, vamos dividir esta reportagem em duas edições. Nesta primeira parte, falaremos sobre a presença da Igreja Católica e suas primeiras ordens religiosas, que chegaram junto com os colonizadores. A missão dos catequisadores e a construção de imponentes templos dedicados aos santos de devoção da tradição cristã ajudaram a moldar a história de Belém nesse tempo, deixando um grande legado de fé e cultura.

Jornalista responsável e editor-chefe FELIPE JORGE DE MELO (SRTE-PA 1769) Coordenação geral LUCIANA SARMANHO Editor de arte FILIPE ALVES SANCHES (SRTE-PA 2196) Pesquisador e consultor técnico INOCÊNCIO GORAYEB Colaboraram para esta edição O Liberal, Agência Pará de Notícias, Agência Brasil, Museu Paraense Emílio Goeldi, Universidade Federal do Pará, Universidade do Estado do Pará, Fundação Cultural do Pará - Oficinas do Curro Velho (acervo); Alinne Morais, Ana Paula Mesquita, Camila Santos, João Cunha, Sávio Senna, Victor Furtado (reportagem); Fabrício Queiroz (produção); Carlos Borges, Fernando Sette (fotos); Anderson Araújo e Carla Vianna (artigos) André Abreu, J.Bosco, Jocelyn Alencar e Leonardo Nunes (ilustrações); Alexsandro Santos (tratamento de imagem). FOTO DA CAPA Detalhe do púlpito da Catedral Metropolitana de Belém, por Fernando Sette AMAZÔNIA VIVA é editada por Delta Publicidade/ RM Graph Ltda. CNPJ (MF) 03.547.690/0001-91. Nire: 15.2.007.1152-3 Inscrição estadual: 158.028-9. Avenida Romulo Maiorana, 2473, Marco - Belém - Pará.

amazoniaviva@orm.com.br

PRODUÇÃO

REALIZAÇÃO


NESTA EDIÇÃO

EDIÇÃO Nº 65 / ANO 6

32 História e religião

A formação de Belém recebeu forte influência dos primeiros missionários católicos que chegaram à Amazônia junto com os colonizadores portugueses CAPA

TURISMO

CARIMBÓ

A turismóloga, mestre

O Rei do Carimbó, Pindu-

GENTE

em desenvolvimento

LENDAS

ca, fala sobre sua traje-

O maior patrimônio de

sustentável e professora

A coordenadora do Núcleo

tória musical, parceiros

uma cidade é o seu povo.

da faculdade de Turismo

de Pesquisa Culturas e

de profissão, histórias de

E, em Belém, as pessoas

da Universidade Federal

Memórias Amazônicas da

vida e novos desafios em

constroem a capital com

do Pará, Diana Alberto,

Universidade do Estado do

sua carreira. Ele acaba

suas lutas diárias e seus

comenta sobre o Ano

Pará, Josebel Akel Fares,

de lançar o 36º disco,

sonhos alimentados pela

do Turismo Sustentável,

levantou um estudo inédi-

chamado “No Embalo

alegria e esperança.

instituído pela ONU.

to sobre matintas pereras.

do Pinduca”.

OLHARES NATIVOS

ENTREVISTA

EDUCAÇÃO

PAPO DE ARTISTA

FERNANDO SETTE

NAYLANA THIELY

EVERALDO NASCIMENTO

FERNANDO SETTE

28 42 20

46

E MAIS 4 6 7 11 13 14 15 16 17 18 19 19 54 55 57 58

EDITORIAl AS MAIS CURTIDAS PRIMEIRO FOCO TRÊS QUESTÕES ELES SE ACHAM FATO REGISTRADO PERGUNTA-SE EU DISSE APPLICATIVOS CURIOSIDADES DA BIODIVERSIDADE DESENHOS NATURALISTAS CONCEITOS AMAZÔNICOS AGENDA FAÇA VOCÊ MESMO BOA HISTÓRIA NOVOS CAMINHOS

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CARLOS BORGES

JANEIRO2017


ASMAISCURTIDAS DESTAQUES DAS EDIÇÕES ANTERIORES

CARLOS BORGES

CASTANHA-DO-PARÁ A cada edição, a revista Amazônia Viva nos chama a atenção para os problemas da região. A reportagem “Alerta na floresta” sobre o risco de extinção das castanheiras (Capa, dezembro de 2016, edição nº 64) e sobre o avanço das estradas e rodovias sobre os igarapés no Estado (“Uma estrada no caminho das canoas”, Primeiro Foco, dezembro de 2016, edição nº 64) nos alertam para a atual situação do meio ambiente na Amazônia. É preciso agir enquanto há tempo. Rogério Teixeira Belém-Pará CASTANHA-DO-PARÁ CORRE RISCO NA REGIÃO

A reportagem sobre a situação de vulnerabilidade da castanheira na região na edição passada foi a mais comentada em nosso Facebook.

Em minha opinião, como leitor assíduo desta prestigiosa revista, a reportagem “Alerta na floresta”, da edição de dezem-

FERNANDO SETTE

bro de 2016, foi um tanto alarmista ao falar do risco de extinção da castanha-do-pará. O problema existe, mas creio que está longe de extinguir a espécie na Amazônia, pois os pesquisadores trabalham duro para não chegar a essa realidade. Walter Trindade Belém-Pará Vamos proteger as castanheiras e esse fruto maravilhoso. Fátima Brito Belém-Pará JOVENS NEGROS NA AMAZÔNIA

O ensaio fotográfico com os jovens de coletivos negros em Belém recebeu o maior número de curtidas no Instagram da revista na edição de dezembro de 2016. FERNANDO SETTE

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Embrapa e seu corpo de pesquisadores estão de parabéns nesse árduo trabalho de sustentabilidade e preservação. Castanhal-Pará Para se corresponder com a redação da Amazônia Viva envie comentários, dúvidas, críticas e sugestões para o email amazoniaviva@orm.com.br ou escreva

instagram.com/amazoniavivarevista

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mento das castanheiras na Amazônia a

Maria Nazarena Mantovam

fb.com/amazoniavivarevista

twitter.com/amazviva

No que tange às pesquisas para salva-

para o endereço: Avenida Romulo USE UM LEITOR DE QR CODE PARA ACESSAR A EDIÇÃO DIGITAL DE DEZEMBRO

Maiorana, 2473, Marco, Belém - Pará, CEP 66 093-000 ou FAX: 3216-1143.


TEXTOS VICTOR FURTADO E ALINNE MORAIS RICARDO TELES / VALE

PRIMEIROFOCO

O QUE É NOTÍCIA NA AMAZÔNIA

Minério verde e limpo COM BASE NA SUSTENTABILIDADE, VALE INAUGURA O MAIOR PROJETO DA HISTÓRIA DA MINERAÇÃO NO PLANETA PÁGINA 8 E 9

NATUREZA

PROTEÇÃO

Quarenta e duas mil tartarugas-da-amazônia nasceram no Refúgio de Vida Silvestre Tabuleiro do Embaubal, na Praia do Juncal, no rio Xingu. PÁG.10

A jaguatirica Lina é o primeiro animal da espécie a habitar o Jardim Botânico Bosque Rodrigues Alves, em Belém. PÁG.13

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PRIMEIRO FOCO

Projeto S11D no Pará O primeiro mês de 2017 marca o início da operação comercial do Complexo S11D Eliezer Batista, da Vale, considerado o maior projeto de mineração de baixo custo e baixo impacto ambiental da história do setor, localizado no município de Canaã dos Carajás. Um dos valores do empreendimento é o respeito ao meio ambiente, aos recursos naturais e às pessoas. O projeto integra mina, usina, ferrovia e portos, num investimento

de US$ 14,3 bilhões - o maior investimento privado do País - e que beneficia as operações da empresa em todo o Brasil. Consequentemente, as exportações serão impulsionadas e trarão retorno econômico e social. Foram 15 anos de estudos para garantir a viabilidade de um trabalho por cerca de 30 anos (cerca de 10 bilhões de toneladas de minérios). As sondagens de capacidade datam de 1970. E as compensações ambientais do S11D AGÊNCIA VALE

levam todo esse tempo passado e o futuro em consideração. As obras do S11D incluíram benefícios que ficarão para o Brasil depois, como a ferrovia de 101 quilômetros, expansão da Estrada de Ferro Carajás e ampliação do Terminal Marítimo de Ponta da Madeira, em São Luís (MA). Pela expansão ferroviária já passou um trem de 330 vagões, com uma capacidade de transportar 33 mil toneladas de uma só vez. Ao longo do trajeto da ferrovia, 32 pontos de passagem de animais silvestres foram implantados. Pelo porto, apto a receber navios com capacidade de 400 mil toneladas de cargas, até novembro de 2016, MEGAPROJETO NO PARÁ

O S11D integra mina, usina, ferrovia e portos, num investimento de US$ 14,3 bilhões - o maior investimento privado do País

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AGÊNCIA VALE


cinco embarcações com 1,3 milhão de toneladas de minério de ferro foram carregadas. As operações pelo porto serão 41% mais baratas e usam tecnologias que respeitam a vida marinha para evitar interferências graves no ecossistema pelo tamanho das embarcações que vão operar lá. O minério será lavrado a céu aberto e levado da mina até a usina por sistemas de correias que somam mais de 68 km de extensão entre a mina e a usina. É um sistema chamado “Truckless” (sem caminhões, em inglês). Isso evita a necessidade de abertura de novas vias. Para a operação específica do S11D, seriam necessários 100 caminhões. Mas com o modelo truckless, será gerada uma economia de 70% de diesel, além de redução dos resíduos gerados, como pneus, filtros de óleo e lubrificantes. Isso também reduzirá em até 50% as emissões de gases do efeito estufa, aproximadamente 130 mil

toneladas de CO2 . Haverá ainda uma economia de 18 mil MWh/ano de eletricidade, o equivalente ao consumo de 10 mil residências. Na usina do S11D, a Vale usará uma tecnologia própria de economia de água: o beneficiamento à umidade natural ou a seco. O processo já é utilizado em algumas plantas de Carajás e que permitirá reduzir em 93% o consumo de água, suficiente para abastecer uma cidade de 400 mil habitantes. Barragens de rejeitos não serão necessárias por conta da alta qualidade do produto a ser lavrado e do processamento a seco. O ultrafino de minério com alto teor de ferro, que iria para a barragem, não será descartado, permitindo que seja incorporado à produção. Praticamente toda a operação de movimentação e estocagem dos minérios será num terreno de pastagem, fora da Floresta Nacional de Carajás (Flonaca). Isso reduziu em mais de 40% a supres-

são vegetal na Flonaca quando comparado com o plano diretor original, de 2,6 mil hectares. A Floresta Nacional de Carajás tem 412 mil hectares e, mesmo depois da implantação do S11D, apenas 4% sofreram interferência nos últimos 30 anos em que a Vale está instalada na área. Parte do projeto previa a aquisição de 10,3 mil hectares em propriedades no entorno que serão destinadas, parte ao manejo dos minérios e outra parte para reabilitação e composição da Reserva Legal do projeto, que integra um programa de conectividade de fragmentos florestais. Até agora, mais de 2,2 mil hectares de áreas degradadas estão em recuperação e ganhando floresta nativa. O trabalho vem sendo realizado em parceria com o Instituto Tecnológico Vale (ITV), Instituto Chico Mendes de Biodiversidade (ICMBio) e do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama). RICARDO TELES

RESPEITO AO MEIO AMBIENTE

A Floresta Nacional de Carajás tem 412 mil hectares e, mesmo depois da implantação do S11D, apenas 4% sofreram interferência nos últimos 30 anos em que a Vale está instalada na área

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PRIMEIRO FOCO IDEFLOR BIO / DIVULGAÇÃO

LIVRES PARA VIVER

As 42 mil tartarugas nasceram no Refúgio de Vida Silvestre Tabuleiro do Embaubal, na Praia do Juncal, sudoeste paraense

RIO XINGU

LARVAS

Mais de 40 mil tartarugas nascem em praia no Pará Quarenta e duas mil tartarugas-da-amazônia nasceram no Refúgio de Vida Silvestre Tabuleiro do Embaubal, na Praia do Juncal, no rio Xingu, durante o mês de dezembro. Os ovos vinham sendo monitorados por técnicos do Instituto de Desenvolvimento Florestal e da Biodiversidade do Pará, o Ideflor-bio. O início do processo de desova das tartarugas foi constatado em setembro e teve fiscalização e o monitoramento até o momento da eclosão dos ovos, garantindo, assim, a preservação dos ninhos. A equipe ambiental que participou da ação vem percorrendo toda a área das Unidades de Conservação nas 10 • REVISTA AMAZÔNIA VIVA •

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principais ilhas em que ocorre a desova da tartaruga da Amazônia como as reservas de Juncal, Peteruçu, Peteruçuí, Embaubal, Jenipaí, Carão, Ponta do Miricituba e no entorno das Unidades de Conservação. Durante as fiscalizações realizadas para o monitoramento dos ovos, o Batalhão da Polícia Ambiental apreendeu uma rede de 400 metros. Havia uma tartaruga presa na armadilha, que posteriormente foi devolvida ao seu habitat. Na mesma ação, a equipe do Batalhão também encontrou uma tartaruga, já sem vida, presa a um instrumento de pesca.

ÓLEO NATURAL No Marajó é comum que algumas pessoas substituam os óleos de cozinha industrializados, por um óleo extraído da larva que se reproduz no interior do tucumã. Para os marajoaras o “óleo de bicho” ou “banha de bicho”, como é chamado, contém poderosos benefícios para a saúde e ajuda no controle e combate a asma, inchaços, luxações, contusões, derrames, reumatismo e picadas de formigas tucandeiras. Interessados em compreender o processo de produção e extração do óleo os pesquisadores Marília Silvany Souza dos Santos, 23 anos, e Kemuel de Abreu Barbosa, 26 anos, egressos do curso de Tecnologia de Alimentos da Universidade do Estado do Pará, descobriram que o óleo também constitui uma fonte de renda complementar para as comunidades do local.


TRÊSQUESTÕES

AMAZÔNIA VIVA

RESPOSTAS QUE VÃO DIRETO AO PONTO

Revista conquista prêmio em direitos humanos

O hospital Oncológico Infantil Octávio

que permeia vários outros assuntos é muito bom. Trabalhar na Amazônia Viva especificamente dá uma possibilidade de trabalhar mais com esses temas variados, que, em geral, não se trabalharia em uma redação diária. Foi um presente receber essa pauta”, disse o repórter João Cunha. A premiação teve o objetivo de reconhecer a função social da mídia e sua contribuição na difusão de informações. A ideia foi a de contribuir para o fortalecimento da cidadania e respeito aos Direitos Humanos e aos defensores de sua causa. O prêmio integra a Campanha Novo Olhar da Mídia em Direitos Humanos, promovida pela OAB-Pará e Sinjor.

Lobo é o terceiro hospital paraense a firmar o pacto global com a ONU, para atendimento pautado nos valores da Declaração Universal dos Direitos Humanos, da Organização Internacional do Trabalho, da Declaração do Rio sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento e da Convenção das Nações Unidas Contra a Corrupção. São mais de 12 mil organizações em 150 redes participando. A diretora geral, Alba Muniz, explica os efeitos desses valores sobre o trabalho num hospital público. De que maneira essa parceria influencia no trabalho de um hospital? A unidade se compromete, ainda mais, a ter boas práticas abrindo suas portas para ser fiscalizada e fortalecer a cultura da cidadania. A transparência nos processos torna-se mais efetiva e as ações realizadas visam a sustentabilidade. Contribui no processo de conscientização de seus públicos em relação ao impacto das suas decisões. Qual o resultado nos outros hospitais que já YAN FERNANDES

aderiram ao pacto no Pará? Três hospitais públicos no Pará, gerenciados pela Pró-Saúde, tornaram-se signatários do Pacto Global da ONU. Gerou a redução do uso de recursos naturais e trouxe avanços em diversos processos. Já se nota uma nova cultura, na qual colaboradores, usuários, visitantes e acompanhantes também se envolvem, estando mais conscientes . De modo geral, os hospitais são acostumados a lidar com esses valores no dia a dia? É uma nova realidade para alguns colocarem em prática e para outros aperfeiçoarem. No caso dos hospitais do Pará, gerenciados pela Pró-Saúde, Há o compromisso de promover o crescimento sustentável e a cidadania. Ou seja, além de ser fiscalizada, a instituição passa também a fiscalizar, a contribuir no processo de formação de opinião e a

PREMIAÇÃO Os jornalistas Fernando Sette e João Cunha receberam o prêmio das mãos da advogada Luanna Thomaz, da OAB-PA

disseminar boas práticas.

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ARQUIVO PESSOAL

A revista Amazônia Viva venceu em primeiro lugar o Prêmio Paraense de Jornalismo em Direitos Humanos 2016, da Ordem dos Advogados do Brasil - Seção Pará (OAB-PA), em parceria com o Sindicato dos Jornalistas do Estado do Pará (Sinjor). A reportagem premiada foi “Belém – Casa do Povo Iorubá”, publicada na edição de novembro passado. A reportagem foi escrita por João Cunha, com fotos de Fernando Sette, produção de Fabrício Queiroz, edição de Felipe Jorge de Melo e edição de arte de Filipe Sanches. “Eu estou muito feliz, é um prêmio muito bacana e este reconhecimento para um jornalista

Oncológico Infantil faz pacto com a ONU


PRIMEIRO FOCO ASCOM / SEMAS

GUEPARDOS

RISCO DE EXTINÇÃO O guepardo, animal terrestre mais rápido do mundo, está sob sério risco de extinção segundo estudo liderado pela Sociedade Zoológica de Londres (ZSL) publicado na revista americana “Proceedings of the National Academy of Sciences”. Menos de 7.100 guepardos vivem atualmente em liberdade no mundo e não ocupam mais que 9% da área total sobre a qual se estendiam em outras épocas. A organização de defesa do meio ambiente Wildlife Conser vation Society (WCS) afirma que a população mundial de guepardos chegava a 100.000 espécimes no início do século 20.

ALERTA

RECURSOS HÍDRICOS O uso crescente de água doce na agricultura, na indústria e para o consumo humano pode esgotar os recursos hídricos subterrâneos em várias par tes do mundo nas próximas décadas, aler tam especialistas. Entre as áreas em risco, os pesquisadores citam a Índia, Argentina, Austrália, Califórnia e o sul da Europa. Os dados foram apresentados em um estudo divulgado na conferência anual da União Geofísica Americana, realizado em San Francisco, na Califórnia.

DECLÍNIO

POLINIZADORES O uso intensivo de fertilizantes químicos, a destruição e degradação de áreas florestais e o agravamento das mudanças climáticas são as causas do declínio das populações de insetos polinizadores, como abelhas,

FERRAMENTA

Ambientalistas ajudam a rastrear madeira ilegal As empresas que querem comprar madeira brasileira sem contribuir para o desmatamento ilegal têm uma nova ferramenta que garante que nenhum produto dessa espécie extraído de forma ilegal irá entrar em suas cadeias de suprimento. A plataforma “Bolsa de Madeira Responsável”, criada pelo grupo conservacionista BVRio, utiliza dados do governo e mapas de satélite para ajudar compradores e vendedores a verificar a procedência e os certificados da madeira. A principal função da plataforma é aproximar compradores e vendedores de produtos de origem legal em um ambiente transparente e seguro. Os participantes da Bolsa além de conhe-

cerem a origem do produto também podem fazer seus pedidos e receber cotações e ofertas on-line, aumentando a eficiência do mercado. A plataforma identifica produtos madeireiros de origem responsável no Brasil e na Indonésia. Em breve, o sistema também permitirá transações com madeira de origem responsável proveniente do Peru e do Oeste da África, começando por Gana. A ideia da plataforma é diminuir o comércio ilegal de madeira. Atualmente corte ilegal é responsável por cerca de 90% do desmatamento no Brasil, de acordo com o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama).

moscas e borboletas, ao redor do mundo. A conclusão é de um amplo estudo de revisão feito por um grupo

LA NIÑA

porque a região está sob efeito do fenômeno

internacional de pesquisadores, entre

MAIS CHUVAS

eles a bióloga Vera Lúcia Imperatriz-

O chamado “inverno amazônico”, período de

consequentemente

Fonseca, do Departamento de

intensas chuvas na Amazônia, que ocorre em

chuvas. As informações são do meteorologista

Ecologia do Instituto de Biociências da

algumas áreas entre dezembro e abril, pode ter

do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet),

Universidade de São Paulo (IB-USP).

índices pluviométricos acima do normal. Isso

Gustavo Ribeiro.

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La Niña, que favorece a formação de nuvens e aumento no volume das


ELESSEACHAM POR QUE MIMETISMO É UMA COISA NATURAL

LINA

Jaguatirica é a nova atração do Bosque Rodrigues Alves chi, veterinária do local. A jaguatirica também ganhou um espaço feito especialmente para ela. Isso porque há mais de 10 anos o parque zoobotânico não tinha entre seus animais um felino. A nova casa de Lina tem 100 metros quadrados e está de acordo com as normas do Ibama. O local conta com um lago e diversos troncos de ár vore, tudo para que o espaço se aprox ime ao má x imo do ambiente natural em que essa espécie vive. A expectativa agora é que o bosque possa receber outra jaguatirica, que formará casal com Lina. O novo animal deve chegar ainda neste primeiro semestre de 2017.

FERNANDO CARVALHO FILHO/ MPEG

O Jardim Botânico Bosque Rodrigues Alves tem uma nova atração: é a jaguatirica Lina (foto abaixo), primeiro animal da espécie a habitar o lugar. A felina tem um ano e oito meses de idade e está no local após passar por um período de recuperação e adaptação. Lina chegou ao bosque com apenas três meses de vida após ser resgatada de um cativeiro pelo Batalhão de Polícia Ambiental (BPA). Aos poucos, ela passou por um processo de ambientação para perder os costumes domésticos e se aproximar do modo de vida natural com uma dieta que inclui carne crua, ração e presa viva, que é de fundamental importância para os felinos, segundo Ellen Egu-

OSWALDO FORTE

Uma aranha na árvore

A aranha da foto foi coletada no Pará e, provavelmente, é uma espécie do gênero Syntrechalea, da família Trechaleidae. As espécies de outros gêneros dessa família vivem em rochas das margens de córregos, enquanto as do gênero Syntrechalea se localizam em troncos de árvores perto da água. Elas têm adaptações para se alimentar e predam em árvores. O corpo é achatado com a área cefálica elevada, as pernas longas e finas com tarsos e metatarsos flexíveis e muitos pares de cerdas grandes nas tíbias das pernas I e II. Em 2008, Carico fez uma revisão e descreveu cinco espécies novas na América do Sul. Silva & Lise (2008-2010) descreveram mais três espécies nos estados do Amazonas e Tocantins. Como a foto ilustra, as aranhas apresentam uma perfeita camuflagem com o substrato e

EXPOSIÇÃO

ESPÉCIES AMEAÇADAS

por isso devem ser muito eficientes em predar suas presas. Como a Amazônia apresenta uma

Pau-brasil, mogno e jatobá. Árvores com alto valor econômico e que quase desapareceram

grande extensão de margens de rios, igarapés,

das florestas brasileiras em razão da exploração predatória estão expostas no campus

furos e lagos, os habitats preferenciais dispo-

da Universidade Federal do Pará (UFPA), em Belém. De acordo com a Coordenadoria de

níveis são imensos, por isso, certamente existe

Serviços Urbanos da Prefeitura do Campus, entre as 157 espécies vegetais que existem na

um considerável número de espécies ainda não

Cidade Universitária José da Silveira Netto, seis estão na lista das ameaçadas de extinção do

conhecidas. POR INOCÊNCIO GORAYEB

Ministério de Meio Ambiente. JANEIRO DE 2017

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FATO REGISTRADO

E o tempo passou na aldeia...

INOCÊNCIO GORAYEB

TEXTO INOCÊNCIO GORAYEB

Na década de 1970, na Semana do Índio, em abril, um grupo grande de indígenas da etnia Tenetehara, os Tembés que vivem na margem do rio Gurupi no Pará, estiveram no Museu Paraense Emílio Goeldi. No Parque Zoobotânico fizeram várias demonstrações de sua cultura pela beleza de seus paramentos, pelas suas belas cantorias e pelo seu linguajar Tupi demonstrando orgulho de sua identidade. O termo Tenetehara significa “gente verdadeira”. Na ocasião, o pesquisador aproveitou a oportunidade e registrou várias fotos daquele grupo visitante. O tempo passou e 44 anos depois o pesquisador foi convidado a participar de um encontro para discutir a imple14 • REVISTA AMAZÔNIA VIVA •

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mentação de um projeto de zoneamento da Terra Indígena Tembé. O evento teve participação dos índios e de técnicos especializados e foi coordenado pela Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Sustentabilidade do Estado do Pará. O pesquisador fez cópias em papel de 18 x 24cm de algumas fotos da década de 70 e, numa tarde na aldeia do rio Gurupi, reunido com um grupo de índios, mostrou as fotos. Imediatamente alguns índios foram buscar o casal que aparecia em uma das fotos para vir ao grupo e olhar as imagens, que foram a eles presenteadas. O casal então convidou o pesquisador para ir à sua casa pela tarde para visitar a família. Nes-

ta seção, apresento a família atual do casal e eles próprios com a foto antiga nas mãos. Esse foi um momento fantástico que demonstra como o casal está bem e prosperou, vivendo na floresta, às margens do rio Gurupi, e constituindo uma bela família, feliz e saudável. A expressão das crianças, dos jovens, dos adultos e seus aspectos gerais comprovam como os indígenas estão bem, apesar dos vários conflitos que vêm enfrentando com as invasões e destruição de suas terras pelo desmatamento, por fazendeiros, latifundiários, empresários e posseiros. Que essa gente verdadeira, os Tenerehara do Gurupi, continue bem na sua luta contínua pela manutenção e recuperação de seu território.


PERGUNTA-SE É PRECISO ESCLARECER MITOS E VERDADES

Eliminar o bolor torna o alimento seguro?

CARLOS BORGES

TESTEMUNHA O poeta e professor Paes Loureiro lançou o livro “A Loba”, sobre os reflexos dos “Anos de Chumbo” em Belém

HISTÓRIA

O poeta e professor João de Jesus Paes Loureiro lançou o livro “A Loba”. A obra, que apresenta um único poema de mesmo nome, conta fatos da ditadura no Pará e lembra os momentos que o autor viveu no período, com destaque especial para o ano de 1964. O poema “A Loba” integrou originalmente o livro “O Ser Aberto”, publicado na década de 1980. Anos depois, por intermédio dos editores e também poetas Marcílio Costa e Antônio Moura, o fragmento foi separado para uma publicação individual. O poeta conta que a obra, que é divida em blocos, lembra os momentos tristes da censura, das prisões e dos exílios, mas também guarda espaço para os bons acontecimentos que Loureiro viveu na época. “É um poema que tem esses dois

lados”, afirma ele. “Têm esses momentos ruins e têm as coisas boas que me aconteceram, os amigos que eu encontrei na época e as boas memórias afetivas que eu guardo desse período”, explica. O poema levou mais de cinco anos para ser concluído. O autor explica que ao longo de 1964 fez uma série de anotações e fragmentos poéticos e nos anos posteriores estruturou e melhorou para que tudo se tornasse o poema. “Os primeiros versos eu escrevi ainda em uma das prisões que sofri durante a ditadura pela necessidade de expressar em um poema essa vivência”, lembra. Para Paes Loureiro, o poema também funciona como um registro histórico de uma época difícil que afetou negativamente muitos paraenses.

ROBERT OWEN WAHL / FREEIMAGES

Livro conta detalhes sobre a ditadura no Pará

Muitas pessoas já se depararam com um alimento que tinha alguns fungos, o bolor, principalmente pão e queijo. Mas não: remover a parte embolorada não torna o alimento seguro para consumo novamente. É o que explica a nutricionista Suely Maria Ribeiro da Silva, professora do Centro Universitário do Pará (Cesupa) e especialista em Gestão da Qualidade na Indústria dos Alimentos. Assim que o fungo contamina o alimento, já está presente nele todo. Suely observa que uma pessoa que ingira, mesmo uma pequena quantidade de um alimento embolorado, ainda que acidentalmente, pode contrair doenças por causa das toxinas dos fungos. O ideal é procurar logo um médico e explicar a situação. Os sintomas podem ser vômito, diarreia, náuseas, dores abdominais e febre. Por isso, o ideal é observar bem o alimento antes de comer, estocar de maneira adequada e sempre estar atento ao prazo de validade.

MANDE A SUA PERGUNTA Envie perguntas instigantes sobre hábitos, costumes e fenômenos da região amazônica para o e-mail: amazoniaviva@orm.com.br

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EU DISSE

“Foi uma pegadinha inútil e cruel” Patton Oswalt, em sua rede social, sobre as mortes de artistas famosos em 2016.

DIVULGAÇÃO

“Eu canto para me vingar de tudo que eu passei e vi fazerem com a minha mãe, comigo. Eu vingo as mulheres negras que são discriminadas. Elas me veem e sabem que podem chegar em algum lugar diferente” Elza Soares, cantora em recente entrevista à “Rede Brasil Atual”. Na ocasião ela comentou sobre o racismo contra as mulheres negras.

“Um dia nós poderemos ver isso como o momento em que, finalmente, decidimos salvar o nosso planeta” Barack Obama, ao ratificar o Acordo do Clima de Paris junto com a China.

“No início deste novo ano formulo sinceros votos de paz aos povos e nações do mundo inteiro, aos chefes de Estado e de governo, bem como aos responsáveis das comunidades religiosas e das várias expressões da sociedade civil” Mensagem do Papa Francisco para o Dia Mundial da Paz de 2017, em 1º de janeiro.

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APPLICATIVOS BOAS IDEIAS NUM TOQUE DE DEDOS

“Hoje vivemos em um tempo de monstros. Em muitas partes do mundo, a razão está adormecida.”

Wally+ Se falta uma ajudinha para organizar as finanças e entender melhor como seu dinheiro está sendo gasto, eis o app. Gratuito para Android e iOS, tem uma interface bem limpa e fácil de manusear. Nele são geradas

Salman Rushdie, escritor inglês de origem indiana durante entrevista ao jornal “O Globo”. Na ocasião ele falou sobre o extremismo de grupos e os conflitos por religião.

planilhas de gastos, planos, calendários de pagamentos e então dá para planejar: como guardar um pouquinho? Vale lembrar que controle e educação financeira potenciali-

“Nós sentimos essa tragédia como sendo nossa também”

zam o êxito do app.

Daily Yoga

Federico Gutiérrez, prefeito de Medellín, na Colômbia, sobre a tragédia com o avião da Chapecoense, em dezembro de 2016.

Para evitar estresse neste ano, use seu smartphone ou tablet, também, para exercícios de ioga e meditação. Este app traz posições DIVULGAÇÃO

de meditação, aquecimento ou relaxamento para qualquer ocasião diferente. Todos os exercícios têm vídeos explicando como fazer e objetivos. Para os exercícios mais exigentes, há ainda um contador de calorias gastas. Se precisar, até música. Gratuito para iOS e Android, com alguns extras na versão paga.

Pzizz

“A mudança climática é o maior perigo que enfrenta nosso planeta. Devemos trabalhar juntos como uma voz coletiva para exigir ações drásticas já. Nossa sobrevivência depende disto” Leonardo DiCaprio, ator norte-americano, durante a divulgação do documentário “Seremos História?”. O longa aborda as mudanças climáticas e as formas pelas quais a sociedade pode prevenir o desaparecimento de espécies ameaçadas de extinção, os ecossistemas e as comunidades indígenas de todo o mundo.

Não só seus aparelhos precisam de energia para funcionar durante o dia. Você também. A premissa desse app gratuito para Android e iOS é de ajudar a dormir mais cedo e melhor com músicas e sons para relaxar. Durante o dia, há outros sons para a manter a mente mais relaxada e, consequentemente, mais produtiva para trabalhar ou estudar. Requer mínimo conhecimento de inglês, mas dá para usar até por intuição. Pode-se programar o tempo de reprodução. FONTES: PLAY STORE E ITUNES

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CURIOSIDADES DA BIODIVERSIDADE

Imaturos de difícil identificação TEXTO E FOTO INOCÊNCIO GORAYEB

Os insetos da ordem Plecoptera vivem em ambientes de águas correntes em pedras, troncos, gravetos, folhiços e raízes. Os adultos eclodem, vivem no ambiente aéreo, acasalam e morrem após poucos dias. Os adultos são relativamente bem estudados e ex istem trabalhos com descrições e classificações para as espécies conhecidas, mas poucos são os estudos sobre os imaturos. Quando os pesquisadores vão ao campo coletar esses insetos aquáticos, coletam com certa facilidade os plecópteros imaturos, mas

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não conseguem identificá-los, pois não ex istem estudos sobre eles, com poucas exceções. Já os adultos são difíceis de coletar e demandam um esforço maior de coletas com luz e com armadilhas de interceptação de voo nas prox imidades dos igarapés. Este quad ro começa a muda r, pois nos ú lt i mos d ias de 2016 os pesqu isadores José Moaci r F. R ibei ro e Inocêncio de S. Gorayeb publ icara m no per iód ico i nter naciona l “Zoota xa” u m a r t igo com chave de ident i f icação pa ra os i mat u ros de plecópteros da A ma zôn ia Brasi lei-

ra. Ni n fas de 22 espécies de Plecoptera são chaveadas e i lust radas pa ra mel hora r suas ut i l idades como g r upo i nd icador de qua l idade de ág ua. Oito espécies fora m associadas com os adu ltos e n i n fas de 14 espécies não con hecidas fora m descr itas e chaveadas como mor foespécies que até agora não fora m associadas com os adu ltos. Os autores estão publ ica ndo em breve out ro a r t igo descrevendo u ma metodolog ia de cr iação dos i mat u ros pa ra obtenção dos adu ltos, apl icada nos própr ios iga rapés ou no laboratór io.


DESENHOS NATURALISTAS

CONCEITOSAMAZÔNICOS O VOCABULÁRIO REGIONAL É UM PATRIMÔNIO

Sumano, ich um “Sumano” (seu mano) e “Ich um” (esse um; aquele ali) são expressões muito utilizadas pelos paraenses que vivem no interior ou nas beiras dos rios e do litoral. Muitas são as situações que essas expressões são aplicadas, com algumas variações linguísticas como “aquele um”, “aquela uma”, “sumana”. Um paraense aficionado por velejar construiu um veleiro com moderna tecnologia para passear singrando as águas louras do estuário do rio Pará. O mastro do veleiro era imenso em relação ao tamanho da canoa que o sustentava. Quando o veleiro passava os ribeirinhos comentavam com uma linguagem bem característica do local: “Quê isto já, su-

GRAVURA DE M. MEE / REPRODUÇÃO / ACERVO DO MUSEU GOELDI

A arte da flor-da-lua Os escritos de viajantes nos século XIX e XX pela Amazônia são interessantes e descreveram vários aspectos da região ainda quase completamente selvagem. As comunidades indígenas, a fauna, a flora, a beleza, a vastidão dos ambientes e diversos outros aspectos da natureza amazônica foram descritos por olhares de navegadores naturalistas e outros intelectuais. Alguns relatos de botânicos sensibilizaram a artista inglesa Margareth Mee, que decidiu dedicar sua vida a ilustrar com sua arte espécies da flora amazônica. Com seu grande talento com pincéis e tintas ela conseguiu ilustrar a beleza e o encanto de espécies de vegetais exóticos aos olhos acostumados com paisagens e flores do velho mundo. Suas ilustrações, além de encantar pela harmonia de formas e cores, desenhando as plantas em contextos naturais, também constituem importantes contribuições à ciência. Em 1956, partiu para sua primeira expedição no rio Gurupi no Pará. De-

pois, apaixonou-se pela região e fez mais 14 expedições em seu próprio barco e produziu 400 pranchas de ilustrações em guache, 40 blocos de desenhos e 15 diários. Viveu no Brasil de 1952 a 1982 e tornou-se uma das maiores ilustradoras botânicas do século 20. Sua paixão pela floresta amazônica a fez retornar ao rio Negro quando já tinha 79 anos. Ela queria pintar a flor-da-lua, uma espécie de cacto que só floresce à noite e é endêmica do Arquipélago das Anavilhanas, no Amazonas. No local, a artista ilustrou as primeiras imagens desta espécie no habitat. Quando M. Mee faleceu suas cinzas foram jogadas no rio Negro, como era o seu desejo. Na imagem acima, se apresenta a prancha com a ilustração da inflorescência da planta Gustavia pulchra Meirs, com o beija-flor-azul-de-rabo-branco da espécie Florisuga mellivora (Linnaeus, 1758). Essa figura foi utilizada na capa do livro “Margareth Mee’s Amazon. Diaries of um artist explorer”.

mano?”. “Ich um passa de vez em quando por essas banda, quero vê quando ‘batê’ um vento daqueles gerar, de setembro, vai virar. E mas, cuma antão ele vai se por de pé?”. O dono do veleiro quando soube desses comentários nomeou o barco como “Ich um”. Nada se sabe quanto a previsão de que o barco tombaria nas rajadas do vento nordeste-sudeste das tardes paraenses. Em outros momentos, a linguagem também é utilizada. “Maninho, ich um paresque ser feiticeiro. Sumano, tava com um bicho venenoso nas mãos”, disse o cidadão do interior que se referia ao pesquisador que pegou uma jequitiranambóia (inseto do grupo das cigarras, inofensivo, mas tido como venenoso pelo povo leigo) com as mãos.

POR INOCÊNCIO GORAYEB

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OLHARES NATIVOS

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A jovem feliz da casa 3239 A casa é simples e, de certa forma, apropriada para o clima quente de Belém. Nossa Senhora de Nazaré, sempre venerada, tem lugar de destaque para proteger e providenciar a proteção da família feliz que mora no 3239 de uma rua qualquer. FOTO: FERNANDO SETTE. JANEIRO DE 2017

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OLHARES NATIVOS

Olhar faceiro e maroto

Olho pra longe e enxergo tudo com meus olhos puxados. Seguro firme e espero observando a transitar da molecada. Sinto aquela brisa fresca e o cheiro da chuva; logo eu também vou tomar aquele banho, pegando mangas e correndo numa pelada molhada. FOTO: FERNANDO SETTE

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Janela privilegiada Meus momentos especiais são baseados nas cenas que enxergo da minha cadeira acomodada na janela. Vejo o cavalo suar puxando a carroça cheia de bagulhos, as pessoas indo e vindo e as faceirices das paqueras, dos encontros e desencontros. Observo o movimento e ouço o barulho constante dos carros e motos em contraste com as batidas calmas do meu coração. Os dias de sol, céu azul aguado maculado de nuvens brancas floculares em contraste com dias chuvosos, com nuvens acinzentadas que dissipam ou caem clareando novamente a paisagem. FOTO: FERNANDO SETTE

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OLHARES NATIVOS

Paisagem natural

Belém vem crescendo cadenciadamente nesses 401 anos, mas o importante é que mantém a identidade de seu povo e sua natureza urbana e natural, representada nesta cena de paisagem sombria com a bruma do amanhecer chuvoso. FOTO: OSWALDO FORTE

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Respeitável público!

Vamos ao circo. O povo simples dos bairros mais distantes adora e lota os espetáculos dos circos, mas os curumins se esbaldam especialmente quando os palhaços desenvolvem suas traquinagens inesperadas. FOTO: OSWALDO FORTE

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OLHARES NATIVOS

Pontos especiais

Esse povo aproveita e orgulha-se dos pontos especiais da cidade, como o complexo Feliz Lusitânia, a Estação das Docas, as belas praças, as beiras dos rios e muitos outros. Curte e convive com a riqueza das expressões culturais, desde o tradicional carimbo, os batuques coloridos e dançantes dos bois-bumbás, o samba, a lambada, brega, tecno-brega, treme... FOTO: EVERALDO NASCIMENTO

Envie as suas fotos para a seção Olhares Nativos

Para participar da seção “Olhares Nativos” da revista Amazônia Viva basta enviar fotos com temática amazônica para o e-mail amazoniaviva@orm.com.br acompanhadas pelo nome completo do autor, número de identidade e uma breve informação sobre o contexto do registro fotográfico. As imagens devem ser autorais e com resolução de no mínimo 300 dpi. A publicação das fotos tem fins meramente de divulgação de trabalhos profissionais ou amadores, não implicando em qualquer tipo de remuneração aos autores. Participe!


OPINIÃO, IDENTIDADE, INICIATIVAS E SOLUÇÕES

Matinta popular UMA DAS PRINCIPAIS PERSONAGENS DO FOLCLORE AMAZÔNICO É TEMA DE PESQUISA DE MESTRADO E DE LIVRO PÁGINA 42

TURISMO

BELÉM 401 ANOS

A turismóloga Diana Alberto, turismóloga, mestre em desenvolvimento sustentável, comenta o Ano do Turismo Sustentável da ONU. PÁG.28

A capital paraense tem sua história ligada aos primeiros missionários que chegaram junto com os colonizadores no começo do século XVII. PÁG.32

J.BOSCO

IDEIASVERDES


ENTREVISTA

E

m 2017, o Turismo Sustentável estará ainda mais em evidência. Isso porque ele foi declarado pela Organização das Nações Unidas como o Ano Internacional do Turismo para o Desenvolvimento. O período será uma oportunidade de repensar a forma como o segmento é trabalhado, além de promover a conscientização das pessoas ao redor do mundo sobre o patrimônio das diversas civilizações. Para a região amazônica, o incentivo e o desenvolvimento de um turismo sustentável pode representar uma grande oportunidade de crescimento, podendo até ser um meio de desenvolvimento para as populações locais. Porém, para isso, é necessário pensar o turismo em conjunto com políticas públicas. O alerta é feito por Diana Alberto, turismóloga, mestre em desenvolvimento sustentável e professora da faculdade de Turismo da Universidade Federal do Pará (UFPA), que faz parte de um grupo envolvido num projeto com moradores dos bairros da Cidade Velha, Campina e entornos, que procura mostrar para essas pessoas de que forma a cultura e o turismo podem se tornar importantes ferramentas de desenvolvimento. Este ano foi declarado pela ONU como o “Ano Internacional do Turismo Sustentável para o Desenvolvimento”. O que isso significa? Primeiro temos que entender que o conceito de sustentável ou sustentabilidade vem desde a década de 1980, com os movimentos ambientalistas pelo mundo, e 1990, quando houve a reunião da ECO 92, no Rio de Janeiro. A sustentabilidade era, principalmente, direcionada para o meio ambiente, mas também estava relacionada aos setores cultural, econômico e político. O próprio conceito de turismo sustentável vem se atrelar a essa nova possibilidade de se fazer turismo sem degradar o meio ambiente. Po-

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“Pensar uma nova forma de fazer turismo” A ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS DECLAROU 2017 COMO O ANO INTERNACIONAL DO TURISMO PARA O DESENVOLVIMENTO. MAS PARA SE FAZER UM TURISMO DE FORMA CONSCIENTE E SUSTENTÁVEL É PRECISO TER A PREOCUPAÇÃO EM UTILIZAR OS RECURSOS NATURAIS SEM DEGRADÁ-LOS, DEFENDE DIANA ALBERTO, TURISMÓLOGA E MESTRE EM DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL. TEXTO CAMILA SANTOS FOTO EVERALDO NASCIMENTO


SIDNEY OLIVEIRA / AGÊNCIA PARÁ

NA COMUNIDADE

A sustentabilidade deve, também, se agregar aos efeitos socioculturais, sendo sensível à cultura e à dinâmica das comunidades. O turismo comunitário no Marajó é um exemplo disso.

rém, esse mesmo conceito de sustentabilidade entra em “crise” em fins da década de 90, início dos anos 2000, pois, em meio a uma sociedade consumista e capitalista em que vivemos, manter essa “sustentabilidade” é quase que impossível. Assim, o que a ONU vem, novamente, intitular de sustentável, deve ser pensado e planejado, pois o turismo, para ser feito, tem que possuir uma base, uma estrutura básica, como saúde, saneamento, educação, transporte, segurança, etc. O que a proposta da ONU pode trazer de benefícios para o turismo nesse segmento, especialmente para a nossa região?

Se os governos realmente, junto com essa proposta internacional, oferecerem recursos que essa base tem que ter, poderá refletir diretamente na atividade turística, porque se faz turismo em cidades que possuem uma infraestrutura. E se o turismo for inserido nas suas agendas de políticas públicas, isso poderá trazer benefícios para a atividade e o desenvolvimento local. Então, em linhas gerais, se essa agenda da ONU for repassada para as instâncias federais, em nível de ministério do Turismo, de secretaria de turismo do Estado, e municipal, sim, podemos ter boas perspectivas para o turismo. E, claro, que a iniciativa privada seja também aliada nesse processo. Mesmo com as várias barreiras que já estamos enfrentando, estamos fazendo pesquisa na Amazônia sobre turismo, em todas as suas formas – de base comunitária, na área da cultura e patrimônio, na área ecológica,

“A sustentabilidade deve, também, se agregar aos efeitos socioculturais, como ter sensibilidade quanto à cultura e a dinâmica das comunidades receptoras, onde o turismo vai ser colocar” JANEIRO DE 2017

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ENTREVISTA

assim como extensão e o ensino –, e temos, sim, propostas para nos aliarmos a essa agenda da ONU. Estamos construindo ideais para a possibilidade de pensar o turismo com sustentabilidade, não somente ambiental, mas cultural, econômica e política para o turismo em 2017.

APRENDER COM ARTE

O Projeto Circular é uma ação que leva os moradores dos bairros da Cidade Velha, Campina e entornos, a entenderem o que é turismo, cultura e patrimônio

Quais os elementos que caracterizam o Turismo Sustentável? Pensar uma nova forma de fazer turismo, com preocupação em utilizar os recursos naturais, sem degradá-los. O turismo sempre vai impactar qualquer lugar onde ele se insere enquanto atividade. O que fazemos, enquanto pesquisadores e estudiosos do turismo, é maximizar os efeitos positivos e minimizar os efeitos negativos, como vemos em estudos de Pedro Pires, Doris Ruschmann, entre outros autores do turismo. A sustentabilidade deve, também, se agregar aos efeitos socioculturais, como ter sensibilidade quanto à cultura e à dinâmica das comunidades receptoras, onde o turismo vai se colocar. Pensar também os efeitos econômicos – estes também como principais impactos que o turismo causa onde ele se insere – e os políticos, que interesses passam nas agendas locais que pensam o turismo como atividade.

“A região amazônica, em se tratando de Pará, ainda está galgando uma estrutura para o turismo de uma maneira geral. Para o turismo sustentável, ainda se tem muito a desenvolver.” 30 • REVISTA AMAZÔNIA VIVA •

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Qual o panorama do potencial amazônico para o Turismo Sustentável? O panorama amazônico é favorável pela perspectiva do seu potencial natural e cultural, que é inegável, mas nada disso é importante se essas políticas de base - educação, segurança, demarcação de terras indígenas e quilombolas, estudos mais sérios quanto a hidrelétricas na região, trabalho, energia, etc - não forem pensadas junto com o planejamento do turismo, este como mais um instrumento de desenvolvimento para a região. A pesquisa do turismo na Amazônia mostra que sem essas agendas de políticas públicas interligadas, não se tem como pensar turismo sustentável, ou qualquer outro tipo de turismo. O potencial existe, mas precisa ser visto em todo esse con-

texto, e o turismo não pode ser pensado isoladamente. Nossa região já possui estrutura para o desenvolvimento desse segmento? O que falta para que o Turismo Sustentável seja expandido cada vez mais? A região amazônica, em se tratando de Pará, ainda está galgando uma estrutura para o turismo de uma maneira geral. Para o turismo sustentável, ainda se tem muito a desenvolver. Deve-se, principalmente, rever políticas que pensem a gestão ambiental no Estado, pois o sustentável vem da base natural e cultural, então faltam ainda políticas públicas que pensem esses dois vieses para se planejar o turismo sustentável na região.


CESAR PERRARI / ARQUIVO O LIBERAL

O projeto “Viabilidade Turística no Centro Histórico de Belém: intervenções turísticas-culturais integradas ao Projeto Circular no Centro Histórico de Belém /PA”, o qual você faz parte, trabalha essa proposta de aliar novas dinâmicas para o turismo local, preocupado com o patrimônio e a cultura da cidade. Quando e em que circunstâncias surgiu a ideia do projeto? O projeto surgiu com um convite feito pelos professores Goretti Tavares, da Faculdade de Geografia/UFPA, Silvio Figueiredo, do Núcleo de Altos e Estudos Amazônicos/NAEA/UFPA, e Makiko Akao, da Câmara Kó e coordenadora do Projeto Circular, para que a Faculdade de Turismo pudesse fazer parte de um novo projeto de intervenção no centro

histórico, e este projeto pudesse estar atrelado ao Projeto Circular Campina. A ideia inicial do projeto de extensão “Viabilidade Turística...” é que pudéssemos todos - FACTUR, FACGEO, NAEA e Projeto Circular - pensar uma ação que pudesse trazer os moradores dos bairros da Cidade Velha, Campina e entornos para entender o que é turismo, o que é cultura, o que é patrimônio e eles mesmo apresentassem suas demandas. E, a partir de palestras/oficinas, identificaríamos pontos importantes para, ao final de um ano, que é primeiro momento do projeto, apresentarmos um plano de trabalho aos moradores, a universidade e aos setores públicos e privados sobre essas demandas identificadas. Isso ainda está acontecendo.

Quais os principais objetivos do projeto e qual a importância de discutir esse tema com os moradores do centro histórico? O principal objetivo do projeto é fazer um plano de trabalho turístico cultural junto aos moradores do centro histórico, identificando áreas de intervenção para que o turismo possa se tornar um vetor de desenvolvimento cultural, social e econômico no bairro e, quem sabe, se estender na cidade em outros bairros. Para os moradores é importante porque eles são os protagonistas. As palestras/oficinas que já fizemos desde os meses de outubro e novembro desse ano foram para que eles pudessem entender que a cultura e o turismo podem se tornar ferramentas de desenvolvimento para o espaço em que eles vivem, trabalham, que têm uma importância na cidade. JANEIRO DE 2017

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Missão

cidade NA

PASSADOS 401 ANOS DESDE A FUNDAÇÃO DE BELÉM, O LEGADO DOS PRIMEIROS MISSIONÁRIOS CATÓLICOS AINDA MARCA A HISTÓRIA DA CAPITAL E FAZ PARTE DO DIA A DIA DOS BELENENSES EM PLENO SÉCULO XXI TEXTO SÁVIO SENNA FOTOS CARLOS BORGES

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A

cidade de Nossa Senhora de Belém nasceu no dia 12 de janeiro de 1616, concebida em um fortim de presépio, feito de taipa de pilão e cestos, pelo português Francisco Caldeira Castelo Branco e batizada pelo Espírito Santo do catolicismo apostólico romano. Filha do Império Português, cresceu em meio a sangrentas batalhas militares, pois sempre foi muito cobiçada ao olhares de ingleses, franceses e holandeses devido à sua exuberância natural. Jovem colônia rica de recursos, cresceu sendo educada politicamente para trocas comerciais e exploração econômica. Como era herética, pagã e bárbara, foi logo catequizada por missionários franciscanos, jesuítas, mercedários, carmelitas e capuchos, mandados para estas terras pela cristandade portuguesa. Prosperou e se desenvolveu graças à expansão de ações missionárias e edificada em fortificações militares. “Feliz Lusitânia!”, Castelo Branco saudou à terra. “A nossa história é, por conseguinte, a história do modelo europeu de cultura transplantado para a Amazônia. Uma história de imposições culturais ora violentas, ora persuasivas, fruto de um caldeamento étnico de tal sorte que nada é essencialmente indígena, africano ou europeu na Amazônia, nos dias atuais. Tudo é experiência de vida de seus habitantes,” escreveu o antropólogo, historiador e folclorista Vicente Salles (1931-2013). Nesse caldeirão amazônico religioso, a primeira construção lusitana foi uma igrejinha erguida em invocação à Nossa Senhora da Graça, dentro do Forte do Presépio, por Caldeira Castelo Branco. Ao redor dela, foram se estabelecendo pequenos povoados até que, em julho de 1617, chegam os primeiros missionários da Província de Santo Antônio. Com o passar de um mês, os franciscanos capuchos, para tratar da gentilidade, fundam o Hospício do Una, fora dos limites iniciais da capitania, à margem da baía do Guajará, expandindo os limites da ocupação. “A catequese foi importante, mas me parece que a ação política foi muito mais. Quando conquistaram essa parte que hoje chamamos de Amazônia, a Coroa Portuguesa vivia um dilema. Ela precisava concentrar forças no território DEZEMBRO DE 2016

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americano porque já vinha perdendo áreas em outros continentes, mas não tinha como ocupar diretamente a região. Então delegam essa função para as ordens religiosas, que entram em contato com os nativos e por meio do catolicismo estabelecem um papel estratégico e geopolítico, de garantir estas terras. Então esses missionários conseguiram reunir povos indígenas em torno de si, organizar uma dinâmica de produção e de sociabilidade.”, reflete Marco Cezar Coelho, professor da Faculdade de História da Universidade Federal do Pará. Belém no século XVIII era dividida em duas freguesias: Sé e Santana, que abrangiam o bairro da Cidade Velha e Campina, respectivamente. Enquanto na Sé, os missionários ergueram inicialmente as Igrejas de Nossa Senhora do Carmo, Santo Alexandre, São João e a Catedral de Belém, na freguesia de Santana, foram construídas primeiramente as Igrejas de Nossa Senhora das Mercês, Santo Antônio, Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos, Sant’Ana e Santíssima Trindade. Durante o período colonial, a capitania seguiu recebendo missionários e soldados, além de colonos que vieram e a cidade foi se expandido. “Eu gosto de pensar que Belém é um mapa da ocupação da Amazônia. Se você pensar que as ordens religiosas tiveram um papel importante na formação da região, essas ordens religiosas foram mapeando a cidade. A cidade é formada primeiro em torno do forte e depois cruza o igarapé que hoje está encoberto, ali na área do Ver-o-Peso, separando o mercado de um lado e a ladeira do açaí de outro. Aquilo dali era cortado por um riacho até onde hoje é a avenida 16 de Novembro, quando encontrava o Igarapé do Piry, que enchia e dividia a cidade ao meio durante o período de chuva. A cidade passou a crescer a partir de dois polos”, diz o professor. 34 • REVISTA AMAZÔNIA VIVA •

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TESTEMUNHAS DA HISTÓRIA

Belém começou a crescer no entorno do extinto igarapé do Piry (acima). A primeira igreja da cidade, que veio se tornar a Catedral Metropolitana de Belém (à direita), foi erguida de forma modesta na então freguesia da Sé, onde hoje está instalado o bairro da Cidade Velha.


A MISSÃO NA CIDADE VELHA O primeiro convento da capitania foi erguido em 1626, quando a Ordem dos Carmelitas Calçados fundou às margens do Igarapé do Piry, a igreja de Nossa Senhora do Carmo, ainda de madeira e chão doados por fiéis. Os carmelitas também receberam uma légua de terras no Guamá, onde construíram a capela de Santa Tereza e um engenho de moer cana e depois uma sesmaria de meia légua de terras no igarapé Paracuri, onde construíram uma olaria, mas que pouco rendeu. Após 70 anos, a Igreja do Carmo, em ruínas, foi derrubada e em seguida construíram outra no mesmo lugar. No final do século XVIII, o templo foi interditado por uma desavença entre o Bispo e os Carmelitas, sendo reaberta apenas em 21 de abril de 1700. Oito anos depois novamente foi construída outra igreja, desta vez com pedras de liós e um altar mor trabalhado em prata, lavrada em Portugal. No início do século XIX, o Convento abrigou o Conselho Geral da Província, além de ser a primeira sede da Assembleia Legislativa provincial. Na época da Cabanagem, o templo foi local de conflito entre a tropa imperial e os insurgentes. Durante o combate, os soldados imperiais se acuaram atrás do altar-mor da nave, mas foram descobertos e levados para a rua pelos cabanos, sendo salvos apenas com a chegada bispo Dom Romualdo de Sousa Coelho, que intercedeu na luta. Após os Carmelitas Calçados, chegou a Belém, em 1636, o padre Luiz Figueira, da Companhia de Jesus. O padre jesuíta subiu o rio Amazonas para evangelizar as tribos do rio Xingu, depois retornou à Europa e em 1646, tentando voltar à capitania, naufragou na Baía do Sol. Até chegou a pisar na região marajoara, mas foi morto, junto com nove religiosos, por indígenas Aruans. Somente em 1653, os jesuítas se instalaram na capitania para fundar igreja e doutrinar nos domínios da fé. Quando levantaram a primeira edificação, segundo o padre João Felipe Betten-

TEMPLO CARMELITA

A Ordem dos Carmelitas Calçados fundou às margens do Igarapé do Piry, a igreja de Nossa Senhora do Carmo, ainda de madeira e chão doados por fiéis. Hoje, o templo é um dos mais importantes da Cidade Velha.

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dorf, o colégio não tinha “páteo nenhum”, era um “salão cercado de uns páus”, “altos a pique, com uma escada de tabuado que corria de baixo” e “a sacristia era uma passagem limitada”. Diante da situação precária, em 1670, levantaram novos alicerces, paredes e um muro para separar o colégio do “bulício das ruas”. O Colégio de Santo Alexandre foi então fundado com relíquias do santo homônimo, trazidas de Roma, doação do Papa Urbano VII. Depois disso, os jesuítas iniciaram a construção de uma grande igreja, na Praça da Sé, a Igreja de Santo Alexandre. Ela foi concluída em 1719, quase como a conhecemos hoje. Ao lado da Igreja, está o prédio do antigo Colégio.

EDIFICAÇÃO HISTÓRICA

A Igreja de Santo Alexandre, construída ao lado do antigo colégio do santo homônimo. Presença dos padres jesuítas no centro histórico da capital paraense.

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TARSO SARRAF / ARQUIVO O LIBERAL

MÃO DE OBRA RELIGIOSA

A Igreja e Convento das Mercês começou a ser construído em 1640 por missionários trazidos a Belém pelo explorador Pedro Teixeira

A MISSÃO NA CAMPINA Os capuchos da Província de Santo Antônio foram os primeiros a chegar aqui, mas só após dez anos deram início à construção do primeiro Convento e Igreja da Ordem, em junho de 1626. Cem anos depois, a edificação estava ruindo e uma nova pedra teve que ser assentada. No dia 20 de maio de 1743 os capuchos rumaram com as imagens e o santíssimo sacramento para um novo edifício, inaugurado no dia 13 de junho do mesmo ano. Em 1835, o conven-

to também foi ocupado pelos cabanos, que instalaram peças de artilharia e trincheiras nos arredores. Foi no átrio da igreja que o padre Jerônimo Pimentel foi condenado à morte pelo conselho de guerra, por facilitar a fuga de famílias da cidade para navios imperiais. Eis que, prestes a sofrer com o piche quente, o padre foi livrado do suplício pelo presidente cabano do Pará, Eduardo Angelim. Após o episódio, o templo serviu de escola, quartel de polícia e até de presídio do cônego Batista Campos. Os missionários da Ordem Calçada de Nossa Senhora das Mercês chegaram em Belém trazidos pelo explorador Pedro Tei-

xeira. Em 1640, iniciaram a construção da Igreja e Convento das Mercês, feito de taipa e cobertura de palha. O templo atual foi levantado de acordo com o desenho do arquiteto italiano Antônio José Landi, que chegou ao Pará em 1753. Porém, em 1794, os mercedários foram expulsos do Pará, assim como foi ordem régia o sequestro de bens e a incorporação à Coroa Portuguesa. Entre os missionários havia gente da Europa inteira, sendo principalmente alemães e italianos. Desde o século XVII até 1750, os missionários foram a principal força econômica, pois conseguiram atrair a população indígena para as aldeias missioJANEIRO DE 2017

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nárias. Ao longo do tempo, os indígenas sofreram imensas perdas populacionais, causada pela violência dos colonos e também em efeito das desconhecidas doenças trazidas para a América, como a gripe, diarreia e sarampo. À mercê da falta de imunidade, os povos indígenas refugiaram-se nas aldeias dos missionários. A grande quantidade de indígenas gerou uma disponibilidade de mão de obra para o levantamento dos templos, já que o trabalho era visto como um método de educação, um mandamento divino para a salvação da alma. “Isso não quer dizer que as pessoas lidam com a religiosidade só a partir daquilo, tem uma cultura familiar, uma maneira de pensar o mundo que vai moldando a religiosidade. Há estudos que apontam que os cultos aos santos no Brasil são tão devedores da narrativa católica quanto da maneira como povos indígenas lidavam com as divindades. O discurso teológico que a Igreja traz é apenas um elemento dentro dessa equação. Ele não é determinante, mas é condicionante”, elucida o historiador Mauro Cezar Coelho. As ordens missionárias tornaram-se grandes produtoras de farinha e de pescado, gêneros essenciais para a sobrevivência e crescimento do povo na capitania. Enquanto os indígenas trabalhavam na extração das drogas do sertão, como a andiroba, copaíba, salsaparrilha, castanha e cacau, os galpões das ordens missionárias estavam abarrotados, além das posses fazendas de gado, casas, olarias, engenhos de açúcar e aguardente, e também descasque de arroz. Porém, em 1759, por determinação do Marquês de Pombal, diversos religiosos foram expulsos da Amazônia, perdendo o patrimônio das congregações, como fazendas, igrejas, residências, que ficaram sob domínio exclusivo do patrimônio régio. 38 • REVISTA AMAZÔNIA VIVA •

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TEMPLO ANTIGO

Igreja da Sé, hoje imponente no centro histórico de Belém, na Cidade Velha


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O professor de antropologia também lembra que a colonização portuguesa foi diferente da colonização de outros países realizadas na Idade Moderna, pois os portugueses estabeleceram uma sociedade na colônia a partir da produção de gêneros. Com isso, eles foram criando uma sociedade que era totalmente nova, não aquela sociedade europeia, nem a sociedade indígena que habitava aqui, mas outra sociedade com um elemento diferenciador. É uma sociedade que reúne elementos que são portugueses, africanos, árabes, indígenas, mas que não é indígena, europeia, africana e que não é árabe. É uma sociedade amazônica. “Nós falamos português, nós temos um calendário religioso, que tem como culminância o Círio de Nazaré quando nos reunimos em torno da mesa e comemos pato no tucupi, que não é uma comida portuguesa, mas também não é uma comida indígena. É uma comida paraense. O paraense é o diferente. É o resultado do que ficou aqui, é o resultado dessa relação original. É o resultado da conjuntura e nossa originalidade reside aí. É muito difícil encontrar maneiras simples de explicar e encontrar soluções para os nossos problemas porque somos uma sociedade formada de uma maneira muito complexa, com incorporações sucessivas, hierarquias

ORDEM DOS CAPUCHOS

Em 1759, por determinação do Marquês de Pombal (à esquerda), diversos religiosos foram expulsos da Amazônia, perdendo o patrimônio das congregações, como fazendas, igrejas, residências. A Capela do Colégio Santo Antônio faz parte desse período.

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diversas, não é só uma hierarquia econômica, não é só uma hierarquia política, não é só uma hierarquia do saber, não é só uma hierarquia da cor, são diversas hierarquias que são resultantes desses convívios ao longo do tempo. Certamente que Belém tem diversas manifestações religiosas, mas está claro que a religiosidade católica organiza o ano. O catolicismo é muito relevante e foi um polo importante e agregador desta sociedade.”, pensa o historiador. Quatrocentos anos depois, com quase 1,5 milhão de habitantes, Belém agora é devota de Nossa Senhora de Nazaré, mas também congrega igrejas evangélicas, frequenta centros espíritas, templos budistas, sinagogas judaicas, terreiros de umbanda e candomblé. A cidade hoje é um território em que habitam diversas cosmovisões, banhadas por almas, fantasmas, santos, anjos e orixás. Em meio a tantas preces, rezas, oferendas, súplicas e sacrifícios, é possível percorrer a história religiosa da cidade como uma romaria que traslada dos assentamentos indígenas até a mesquita islâmica, sempre em intensa comunhão cultural. Na próxima edição, acompanhe os passos dessa multifacetada caminhada religiosa em Belém do Pará. JANEIRO DE 2017

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EDUCAÇÃO

No rastro das matintas

Pesquisadora lança livro sobre uma das principais personagens da encantaria na Amazônia TEXTO SÉRGIO FERREIRA JÚNIOR

U

FOTO NAILANA THIELY

ma mulher velha ou jovem, feiticeira, que pede fumo e transforma-se em pássaro, detentora de uma maldição que ninguém quer, que vive a vida a desassossegar os outros. Essa é a narrativa da matinta perera, que povoa o imaginário amazônico e é reconhecida mesmo nos contextos urbanos da sociedade. As histórias e o significado desse mito são tema do livro “Um memorial das matintas amazônicas”, de autoria da coorde42 • REVISTA AMAZÔNIA VIVA •

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nadora do Núcleo de Pesquisa Culturas e Memórias Amazônicas (Cuma) da Universidade do Estado do Pará (Uepa), Josebel Akel Fares. A obra é vencedora do Prêmio Vicente Salles 2014 do Instituto de Artes do Pará (IAP), na categoria ensaio. O trabalho é a dissertação da pesquisadora, que foi defendida em 1997, no Mestrado em Letras: Linguística e Teoria Literária da Universidade Federal do Pará (UFPA). Apesar da data da defesa, o tema das matintas e do ima-

ginário da região continua a despertar interesse, pois se trata de um fenômeno sociocultural e de saberes nativos que definem a maneira como as pessoas se relacionam, vivem e concebem a própria realidade. A obra concebe a narrativa da matinta perera como um espetáculo, em que a personagem principal se apresenta em um palco no qual encena o sentido da nossa cultura e se mostra sob diferentes luzes, sob diferentes formas. A pesquisa foi feita a partir do

PESQUISA

A coordenadora do Núcleo de Pesquisa Culturas e Memórias Amazônicas da Universidade do Estado do Pará (Uepa), Josebel Akel Fares, lança o livro “Um memorial das matintas amazônicas”, sobre as lendárias personagens da região


contato com as narrativas recolhidas em Bragança, na Região do Rio de Caeté, pelo projeto Imaginário nas Formas Narrativas Orais Populares da Amazônia (IFNOPAP) da UFPA. Após esses contatos, a pesquisadora foi até a cidade, conversou com os narradores e recolheu mais relatos. Apresentam-se nesse palco, matintas voadoras, terrestres, invisíveis, que aparecem transformadas, à meia-luz ou na escuridão da noite, místicas e aterrorizantes. Na luz do dia, aparecem como a feiticeira ou como alguém normal, a mulher negra, a velha ou o homem. A pesquisadora tece um “lençol de histórias”, em um estudo que reúne referências sociológicas, antropológicas, semióticas e literárias, para falar dessa personagem que encarna mito, conhecimento e cultura amazônicos. Por que eleger as narrativas da matinta como objeto de pesquisa? Quando eu entrei no mestrado, percebi que havia na UFPA um grande projeto de recolha de narrativas orais, o IFNOPAP. Eu já pensava em trabalhar com narrativas orais, mas vendo que o material já estava coletado, resolvi ler e escutar o material. Desse material, o que mais vinha aos meus olhos eram as narrativas de matinta e curupira. Na dúvida, separei essas narrativas; mas as de matinta tinham mais a ver com a minha trajetória de vida, com as bruxas que eu encontrei pelo caminho. Então, a professora Jerusa Pires Ferreira, mais tarde minha orientadora no doutorado, me disse que as curupiras são um mito que circula no Brasil inteiro. Daí haver outros trabalhos sobre elas. Então, seria melhor eu fazer a escolha pelas narrativas de matinta perera. Comecei em 1995 e terminei em 1997. Essas narrativas tem foco em Bragança, porque era o lugar que naquele momento tinha mais narrativas coletadas. Primeiro li as narrativas já transcritas pelo projeto, posteriormente ouvi as fitas. Isso não me satisfez e fui a Bragança, para ouvir aqueles narradores que eu já havia selecionado. Logicamente, eu os encontrei. Mas cada vez que se conta uma história, se conta de forma diferente. Então, aquelas narrativas que eu havia selecionado antes, não existiam mais na voz, porque cada performance é um momento único e como tal, não

poderia encontrá-las. A movência do tecido narrativo é muito ágil. O narrador se transforma a cada hora e transforma narrativa. Como foi trajetória da pesquisa que resultou no livro “Um memorial das matintas amazônicas”? Essa dissertação foi defendida no final dos anos 1990 e ela circulou muito. Escrevi muitos artigos e a escondi. Eis que sete ou oito anos depois, encontro 60 páginas do meu trabalho dentro de um outro texto e isso gerou plágio, que levou 10 anos para ser comprovado. Esse plágio aconteceu na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), em um programa de nota máxima no campo das Letras. Esse processo foi longo e, em 2015, a moça foi dada como plagiadora e perdeu o título. Enquanto isso, esse trabalho ficou circulando, eu fiquei conversando sobre ele, indo para eventos falar sobre ele, mas não o publiquei. Um dia, meu filho, Advaldo Castro Neto, que fez mestrado em Artes, resolveu ler meu trabalho, porque quando defendi ele era ainda muito menino. Quando ele leu, ficou muito impressionado de como esse trabalho ainda não havia sido publicado. Ele sabia sobre o plágio e disse: “então vou inscrever teu trabalho no prêmio”. Disse que ele poderia inscrever, mas que eu não iria mover um dedo, pois não se havia chegado à conclusão do plágio. Ele o inscreveu no IAP (Instituto de Artes do Pará), assinei todos os papéis no prêmio Vicente Salles. O trabalho foi premiado quase que paralelamente ao resultado da comprovação do plágio. E esse trabalho é o mesmo que eu defendi, eu não mexi nele. Fiquei com vontade, mas se o fizesse, seria outro trabalho. Apesar de eu continuar acreditando naquilo que está escrito, os anos fazem com que a gente amadureça teoricamente, pense, reflita um pouco mais. É a minha dissertação com pequeninos ajustes formais, não de conteúdo. Ele foi lançado na Feira do Livro e a trajetória dele está sendo bonita, porque as pessoas estão recebendo muito bem a obra. Isso é muito importante porque o saber com que eu trabalho não envelheceu e as discussões levantadas na dissertação são pertinentes até hoje, apesar de ter sido escrita há quase 20 anos.

A matinta aparece em quais formas e figurações dentro da região amazônica? Dentre as formas com que eu trabalhei, eu levanto três possibilidades no meu trabalho. A primeira é de uma matinta insivível, que não tem configuração física. A gente ouve a matinta e percebe que ela é aérea, porque o assobio vem de cima. Outras vezes, a gente percebe que ela é terrena, porque o assobio passa pelos ouvidos do ouvinte. A outra matinta é mesmo a matinta aérea, a matinta pássaro. Eu vou estudar uma infinidade de pássaros que vão configurar essa matinta no estado de metamorfose. Ela aparece como diferentes pássaros e como morcego. Há também a matinta terrena, que se confiJANEIRO DE 2017

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EDUCAÇÃO

gura um pouco como as bruxas que a gente estuda no imaginário medieval, normalmente mulheres velhas, feias, discriminadas pela sociedade, que sempre moram em lugares longínquos, em uma tapera. Faço um grande estudo sobre os mitos terrenos, sobre os que voejam, porque essas apareceram no corpus com que trabalhei. Isso não significa dizer que não existam outras. Outra coisa que é importante dizer é que elas são homens e são mulheres. Homens também são matintas. Das 14 narrativas que eu analisei, a metade é de matintas homens. No livro, escrevo sobre o modelo fabular configurador das matintas bragantinas. Falo da ação, que acontece em três momentos fundamentais: primeiro, a aparição da matinta, que vem desassossegar os humanos com seu assobio; depois, o humano vai oferecer para ela uma prenda, se restabelece a ordem e no dia seguinte ela vem cobrar a prenda que foi prometida. As personagens humanizadas, quando elas estão “desviradas”, são jovens ou idosas, homens ou mulheres, brancos ou negros. No entanto, a maior recorrência é de mulheres idosas. O tempo da epifania é noturno; muito raramente encontrei narrativas em que a matinta era vista sob a luz solar. O solar é só quando ela “desvira”, quando ela está desmetamorfoseada. O que se oferece para calar o canto de uma matinta é o tabaco ou o café, porque ela pita e apita para desassossegar esse humano. Esse assobio na representação dos contadores é “fíti, fíti, fíti”. Além disso, desmetamorfoseada, ela é pretinha, o seu José, o menino filho de alguém, um homem conhecido, um velho chamado Seu Cirilo, uma velha mal encarada, uma velha de 90 anos, uma senhora conhecida e por aí vai. O que representa a matinta como mito e parte do imaginário amazônico? De que maneira as narrativas, como a da matinta, ajudam-nos a compreender quem somos? 44 • REVISTA AMAZÔNIA VIVA •

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“O tempo da epifania é noturno; muito raramente encontrei narrativas em que a matinta era vista sob a luz solar. Só quando ela ‘desvira’” A matinta é normalmente esse ser discriminado e isso faz com que nos repensemos um pouco. Se a gente pensar que o mito vem explicar uma situação real de que a gente não consegue dar conta no mundo objetivo, se criam os mitos, se cria esse imaginário e esse imaginário também é realidade. É nele que a gente vai tentar compreender e explicar algumas

coisas. Como a história do boto. Por que existe o boto? Para explicar que as mulheres têm filhos sem marido, que as mulheres às vezes “pulam a cerca”, etc. Então, a matinta vem fazer com que a gente reflita sobre essas pessoas. Você pode ver que não há nenhuma configuração de matinta que não seja de pessoas discriminadas: uma “pretinha”, um velho, uma senhora que mora em uma tapera. Isso é algo da Amazônia que faz a gente refletir sobre essas pessoas à margem da sociedade. Sobre quem somos, é importante reconhecer que o espaço que a matinta habita é o espaço amazônico, é o espaço de beira de rio, da floresta, é o espaço onde vivem os ermitões. Se estudarmos um pouco a Idade Média, a gente encontra os ermitões que vivem nas florestas. Assim são as matintas, elas também se escondem na floresta, elas se escondem na beira do rio, elas voam, elas andam em canoas. Há outro tipo de matintas, como as das cabeças voadoras, que deixam a cabeça na rede, de origem indígena. A matinta, na verdade, é de origem indígena. É um personagem que na mitologia indígena levava e trazia notícias para o mundo dos vivos e para o mundo dos mortos. Quando o colonizador chegou, ele a transformou em bruxa.


ARTE, CULTURA E REFLEXÃO FERNANDO SETTE

PENSELIMPO

É carimbó pra lá... PINDUCA FALA SOBRE CARREIRA, PRODUÇÃO MUSICAL E NOVOS DESAFIOS EM SEU TRABALHO

PÁGINA 46

MÚSICA

CÓDIGO FLORESTAL

O violonista Tó Teixeira fez história no bairro do Umarizal, formando uma legião de alunos e músicos profissionais em Belém. PÁG.52

A jornalista Carla Vianna analisa os desafios da Conservação das Florestas Nativas na sociedade brasileira . PÁG.58

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PAPO DE ARTISTA

Pinduca Rei UMA VERDADEIRA INSTITUIÇÃO PARAENSE, O ARTISTA TRANSCENDE GERAÇÕES COM SUA FIGURA ICÔNICA E UM CARIMBÓ ESTILIZADO. A FORÇA DO SEU SOM ESTÁ REGISTRADA EM “NO EMBALO DO PINDUCA”, O DISCO MAIS RECENTE DA CARREIRA

TEXTO JOÃO CUNHA FOTOS FERNANDO SETTE

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A

casa avarandada e cheia de plantas, da entrada até o quintal, mais parece um sítio. Difícil acreditar que estamos a um portão de distância de uma das ruas mais movimentadas e sonoras do bairro do Guamá, em Belém. É lá que mora Aurino Quirino Gonçalves, o Pinduca, num ambiente que o lembra a interiorana Igarapé-Miri, onde nasceu. A vida desse paraense de 79 anos de idade e pra mais de meio século na música, por outro lado, está longe de estar em clima de retiro. No fim da turnê de divulgação de “No Embalo do Pinduca”, disco que revisita 13 sucessos do músico em roupagens diferentes, e com mais um lançamento em vista, o músico segue uma rotina tão agitada como os carimbós estilizados que o fizeram famoso pelo mundo e um campeão de vendagens, no auge do mercado fonográfico. Sentado em uma cadeira de balanço e com o inseparável chapelão multicolorido a tiracolo, “O Rei do Carimbó” reflete confortavelmente sobre a carreira, o tempo das grandes orquestras, as mudanças que causou com seu carimbó moderno, a relação com tradicionais mestres do gênero e também as parcerias com a nova cena da produção musical paraense. “Coloco a minha experiência à disposição do público”, afirma, entre um embalo e outro. Confira a seguir:

E como surgiu o chapéu, que é uma marca registrada? Foi esse o ponto de virada para o Aurino Quirino se tornar, de fato, o Pinduca? O negócio do chapéu foi lá pela década de 1970. Eu tinha recebido um convite pra ir no programa do Flávio Cavalcanti (apresentador de uma TV de rede nacional), que fazia muito sucesso na época. Eu estava então em Cametá (município paraense) e vi um “cabôco” com um chapelão de palha na cabeça, de pescador. Rapaz, aquilo veio na minha mente, que eu podia usar também, porque no carimbó de raiz não tem chapéu. Aí fui lá e perguntei: ‘Ô, amigo, você quer me vender esse chapéu?’. O cabôco até se admirou, né? E falou assim mesmo: ‘Mas pra quê você quer o meu chapéu?’. Aí eu expliquei: ‘Olha, eu sou o Pinduca, eu canto carimbó, tô indo gravar um programa e tive a ideia de usar um chapéu desse pra me apresentar’. Quando eu falei isso, ele ficou tão alegre que falou assim: ‘Olha, se é pra isso, eu lhe dou o meu chapéu’. Depois eu fui ao Ver-o-Peso, enfeitar o chapéu com coisas do artesanato, como está aí. E foi uma aprovação na hora! Quando eu cheguei a São Paulo e entrei em cena, todo mundo queria tirar foto comigo, me entrevistar. Aí nasceu esse chapéu, que virou um símbolo. Toda hora eu mantenho ele bem enfeitado, tenho dezenas do mesmo estilo.

O que tem no chapéu do Pinduca? Ixi, tem muita coisa pra mostrar. Artesanato que a gente encontra no Ver-o-Peso, curiosidades, algumas coisas que os fãs dão. Por baixo, é sempre forrado com patchouli, aí eu começo a colocar os outros elementos: tipiti, maraca de índio, Nossa Senhora, curimbó, tamanco, uuuu... Procurando aqui tem de tudo, o boi Garantido e o Caprichoso também, pra não ter briga, Deus o livre... (risos).

Antes da trajetória solo e da aclamação, você tocou em muitos lugares, como músico contratado, e chegou a ter conjunto próprio. Como foi esse início na música? Eu comecei a tocar em Igarapé-Miri, minha terra natal, como percussionista, tocava pandeiro, batia maracá. Depois eu fui pros bailes em Abaetetuba, cheguei a Belém e virei baterista. Comentavam que eu era o terceiro melhor JANEIRO DE 2017

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PAPO DE ARTISTA

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“Eu sempre acreditei no carimbó. É o que eu chamo de ritmo envolvente, que nem o forró e o samba, você ouve e não consegue ficar parado”

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PAPO DE ARTISTA

“Eu já fui muito criticado por eu ter modificado o carimbó. Modificado, não, modernizado! É por isso que eu ainda toco com essa garotada aí”

baterista do Pará, eu era bom pra caramba. Então, o Orlando Pereira, que tinha o melhor grupo da cidade, me convidou pra tocar na banda dele. Foi como ser promovido de cabo pra capitão! Era um tempo muito bom e bonito, porque a música era toda acústica. Depois, vieram as guitarras, o contrabaixo, os teclados e eu montei o meu conjunto, o “La Pachanga”. O meu contrabaixista era marceneiro e fez o instrumento no quintal da casa dele. No início, era aquela zoada (risos)! Mas a gente foi se ajeitando e deu certo, como está dando até hoje. E a decisão de investir no carimbó veio quando? Veio aos poucos. É uma música da minha infância, do interior do Estado, mas em Belém não era bem aceito no século passado, quando eu comecei a tocar. Diziam que era coisa da roça, de pobre. Entre uma música e outra dos bailes que eu fazia, eu fui tocando, tocando os carimbós de raiz, fui muito vaiado, mas levava numa boa. Eu sempre acreditei no carimbó. É o que eu chamo de ritmo envolvente, que nem o forró e o samba, você ouve e não consegue ficar parado.” O seu primeiro disco gravado “Carimbó e sirimbó do Pinduca” (1973) entrega um som bem distinto do ritmo tradicional, com instrumentos eletrônicos e uma cadência mais intensa. Quais foram as influências envolvidas nessa mudança? Quando a gente gravou, estava naquele período de eletrônica na música, a informática estava chegando, e eu acompanhei as novidades. Eu já fui muito criticado por eu ter modificado o carimbó. Modificado, não, modernizado! Foi aí que nasceu essa história de eu gravar carimbó moderno, pop. Antes, a gente tocava muito em festas de gafieira, nos clubes do subúrbio, mas aí as aparelhagens chegaram e cresceram, se modernizaram. Quando nós começamos ver esses grupos se apresentarem, eram só dois projetores na entrada do clube, assim que eram as festas de aparelhagem. Vê como é hoje em dia, a diferença! A do Crocodilo é um espetáculo, uma coisa grandiosa. As mudanças sempre acontecem e eu sigo o ritmo. É por isso que eu ainda toco com essa garotada aí (risos).

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Ao mesmo tempo, você faz parte de um dos gêneros mais antigos da cultura do Pará, uma expressão artística que foi reconhecida em 2015 pelo Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) como patrimônio cultural imaterial brasileiro. Como era sua relação com mestres tradicionais do carimbó, como o Verequete? Quando eu comecei a gravar discos, o Mestre Verequete também gravou. Aí os nossos divulgadores, meus e os do Verequete, começaram a espalhar um clima de animosidade entre nós dois, que nunca houve, pra vender disco. Nas lojas, colocavam uma pilha de discos meus e outra do Verequete e o pessoal comprava a rodo. Mas era tudo mentira essa briguinha. Nós sempre fomos amigos. Eu respeitava o Verequete e tinha um carinho muito grande, já gravei muitas músicas do mestre. Eu também me dava muito bem com o Mestre Cupijó e gravamos músicas um do outro. Eu comecei a ouvir carimbó com músicas deles, foram eles e vários outros mestres que ajudaram a divulgar o carimbó em todo o Pará. “No embalo do Pinduca”, lançado em 2016, traz muitos sucessos em carimbós, lambadas, siriás e cumbias que compõem o seu repertório clássico, em uma apresentação contemporânea. Como surgiu esse projeto? Esse é um projeto da Natura Musical, produzido pela AmpliCriativa. Foram selecionadas treze músicas do passado com uma releitura do Manoel Cordeiro, nosso produtor musical. Tá bonito esse CD. Eles fi zeram umas mudanças que muita gente nem conhecia essas músicas, gravadas 20, 30 anos atrás. Colocaram cheiro do Pará, uma pitada de sal, leite e açúcar e, desses carimbós antigos, fi zeram algo novo pra apresentar pras novas gerações. Aí eu chego nos shows, no meio dos barbudos, e a garotada vibra. A recepção foi ótima. Já fomos pro Rio, São Paulo e tocamos em algumas casas de Belém. Agora em janeiro, encerramos a turnê de shows.


O REI DO CARIMBÓ Aurino Quirino Gonçalves, o Pinduca, nasceu em Igarapé-Miri, no nordeste paraense, e já percorreu o Brasil e o mundo para levar sua arte amazônica

E como foi trabalhar na produção e tocar junto com o Manoel Cordeiro, outro artista veterano na música paraense? Foi ótimo. É engraçado isso, nós somos colegas de música há muito tempo aqui em Belém, eu e o Manoel Cordeiro, desde a época em que ele criou o Warilou (grupo musical que fez muito sucesso no Pará nas décadas de 1980 e 1990). Mas nós nunca tínhamos trabalhamos juntos. E agora sim, nos encontramos fi nalmente. Eu e ele no palco é impressionante, só no olhar e nos sinais a gente se entende. A nossa relação no estúdio também foi maravilhosa, porque quando eu falava ‘sim’ ele não dizia ‘não’ e vice-versa. Era sempre concordando. Nossas ideias completaram-se e ficou uma beleza. E depois de “No Embalo...”, quais serão os próximos passos do Pinduca? Eu vou lançar um novo disco este ano, que eu mesmo produzi, e está diferente de tudo os que as pessoas imaginam do Pinduca. Tem carimbó também, mas ele vem recheado com mambos internacionais. O nome oficial é “Uma festa com Pinduca e sua banda”, mas eu chamo ele de “Carimambo” (risos). É um disco muito instrumental, que eu sonhava há muito tempo fazer. Meu desejo com ele é despertar a noite musical e dançante aqui em Belém, que está em baixa. Antes, a vida noturna de Belém talvez fosse a terceira ou a quarta do Brasil, não perdia pra de Recife (PE) ou deFortaleza (CE). Agora, você quer ir num show no meio da semana, dançar e ouvir música ao vivo, e tem que ir lá na Doca, naqueles barzinhos, esses “purãozinho” (sic) adaptados que inventaram agora. Mas, Graças a Deus, que eles existem, a gente faz show lá também! Eu coloco minha experiência à disposição do público. JANEIRO DE 2017

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MEMÓRIAS BIOGRÁFICAS

Tó Teixeira 1893 - 1982

Um poeta e seu violão TEXTO ANA PAULA MESQUITA

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ILUSTRAÇÕES JOCELYN ALENCAR

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unca toquei para atrair multidões. Quando môço, dos vinte aos cinquenta anos, meu prazer era tocar para quantos me quizessem ouvir” (sic.). Essa é uma das frases de Tó Teixeira presente no livro “Tó Teixeira: o poeta do violão”, escrito pelo musico Salomão Habib, que levou mais de 20 anos de pesquisa para a contar a história do violonista paraense. Na noite do dia 13 de junho de 1893, no bairro do Umarizal - à época um bairro antigo, de negros e de muitos festejos populares -, nascia Antonio Teixeira do Nascimento Filho, conhecido como Tó. Além do nome, o menino herdou do pai o gosto pela música. Seu pai era ferreiro, mas um exímio flautista. O bairro do Umarizal foi um lugar de muitas inspirações para o violonista. Composições como: “Carvoeiro do sapato branco”, “Caranguejo refogado com azeite doce”, “Vamos tomar café”, “Sinto-me bem assim”, “Padeiro sem camisa”, “Olha o pato comendo alpista”, foram criadas por ele. Nelas, Tó Teixeira imprimia o cotidiano dos negros trabalhadores na Belém da Belle Époque. Ainda criança, Tó Teixeira foi trabalhar como aprendiz em uma oficina de encadernação de um português. Junto com ele estava o poeta Bruno de Menezes, que nasceu no mesmo ano que o músico. Os dois eram grandes amigos. O proprietário da oficina morreu e Tó Teixeira se tornou responsável pelo negócio. “Ele dizia que consertava o livro em dez dias e os lia em oito. Foi a maneira como ele se instruiu. Ele tinha uma caligrafia perfeita e um conhecimento político e geográfico absurdo”, destaca Salomão Habib. O violonista foi responsável por influenciar gerações, como o Nego Nelson, que também foi aluno dele aos 14 anos de idade. Tó Teixeira se tornou professor de violão e teve muitas canções perdidas. Salomão conta que Tó Teixeira compunha canções para seus alunos estudarem. “Durante toda a minha pesquisa, descobri que as longas décadas em que ele deu aula ele escrevia uma música para cada aluno exercitar em casa e ainda escrevia músicas para outras pessoas. Ele entregava o original e não ficava com nenhuma cópia. Com isso, a obra dele se espelhou. Até o presente momento, ainda encontro pessoas, bem idosas,

que foram alunas do Tó Teixeira que possuem as originais das canções dele”, observa. O violonista também enfrentou o preconceito por ser negro. Mas sua ternura e educação refinada e um talento inigualável faziam dele um homem aceito em todas as rodas sociais. Era como se fosse uma espécie de passaporte para o convívio social mais amplo e aristocrático. Essa postura refinada do violonista o concedeu entrada a uma casa aristocrática que o recebia para os eventos e, dentre os convidados, ele era o único negro. Numa noite, Tó Teixeira dividiu atenções com o grande amigo Remo Figueiredo, também músico. Remo interpretou a canção “À Beira Mar”, de Vicente Celestino, acompanhado pelas cordas do violão de Tó. “O dia mais feliz de sua vida; o dia em que pelo violão sua alma soluçou o pranto não de tristeza, como há muito fazia, mas de alegria de sentir-se valorizado e percebido em sua essência humana e musical”, trecho do livro de Salomão Habib. O que caracteriza a obra de Tó Teixeira é a simplicidade, a ternura e, sobretudo, um retrato musical que ele faz do cotidiano do belenense. Retratava a culinária, os pontos turísticos, exaltava os amigos. A importância dele para a música paraense é ser “a primeira pessoa a trazer a linguagem erudita para o violão, que é um instrumento de origem popular. Ele foi a primeira pessoa a montar uma orquestra de violões. A primeira pessoa a transitar entre o popular e o erudito. Tradição popular e técnica erudita da música clássica”, diz Salomão Habib. Importância histórica por ter sido o primeiro professor de violão de Belém. Importância social por ele ser negro, pobre e violonista, três características de uma minoria ainda mais esmagada naquela época. “Tudo o que ele tinha era bem cuidado. Era uma pessoa simples, mas que valorizava muito a vida. Uma pessoa dessa é uma pessoas admirável. Antes de eu ser apaixonado pela música, eu sou apaixonado por ele”, afirma o pesquisador. Os acordes de violão de Tó Teixeira se calaram no dia 29 de outubro de 1982, às 13 horas de uma sexta-feira. “Meu corpo morre, mas em cada acorde vou estar vivo naquele momento”, registrou o músico poeta. JANEIRO DE 2017

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AGENDA JORGE RAMOS / ASCOM FCV

PAUTA LIVRE Estão abertas as inscrições para o concurso “Pauta Livre”, da Fundação Cultural do Pará (FCP). A competição é voltada para artistas, produtores e coletivos que tem projetos na área das artes. Os 26 projetos selecionados vão poder utilizar, como prêmio, os teatros Waldemar Henrique, Margarida Schivasappa e a Galeria Teodoro Braga para exibir as produções. As inscrições devem ser feitas presencialmente na sede da Fundação Cultural do Pará, no bairro de Nazaré, até o dia 27 de janeiro de 2017, das 8h às 18h. Mais informações: (91) 3202-4391.

COMPUTADORES O 35° Simpósio Brasileiro de Redes de Computadores e Sistemas Distribuídos – SBRC 2017 será realizado de 15 a 19 de maio, no Hotel Princesa Louçã, na avenida Presidente Vargas, 882 – Campina. O evento vai contar com sessões técnicas, minicursos, painéis, debates, workshops, salão de ferramentas, palestras e

CARNAVAL 2017

Crias do Curro Velho

tutoriais com convidados de renome internacional. Mais informações: sbrc2017.ufpa.br

A partir do dia 14 de janeiro iniciam-se os en-

animais, da fauna e das fábulas o grupo pre-

IMÊMORES (DOCS)

saios e as oficinas destinadas às crianças com

tende abordar o assunto em um contexto mais

O artista Alberto Bitar apresenta a exposição

idade a partir de 7 anos que queiram desfilar

amplo e cultural.

fotográfica “Imêmores (docs)” até o dia 29 de

na Escola de Samba Crias do Curro Velho. As

O desfile das Crias do Curro Velho já existe há

janeiro, no Laboratório das Artes, do Museu

oficinas e ensaios para o desfile vão ser realiza-

mais 20 anos e já é tradição na capital paraen-

Casa das Onze Janelas. Na mostra o público

dos sempre aos finais de semana. Aos sábados,

se. Além de ser um trabalho de resgate social

vai conferir dezenas de documentos deixados

de 15h às 18h, e aos domingos, de 9h às 12h.

das crianças e adolescentes que moram na

para trás, que foram capturados pelo artista.

O desfile da escola já tem data confirmada.

Vila da Barca e no bairro do Telégrafo o projeto

As imagens são de arquivos públicos e também

Será no dia 18 de fevereiro, com concentração

também tem um diferencial na produção das

privados já desativados e mostram registros do

às 8 horas, na praça Brasil, no bairro do Umari-

fantasias, alegorias e adereços com o reapro-

primeiro emprego, da demissão, da autoriza-

zal. A saída está prevista para às 9 horas, rumo

veitamento de materiais. Sucata plástica, CDs,

ção de uma compra, das férias tão esperadas,

ao bairro do Telégrafo, seguindo pela avenida

DVDs, garrafas pets, isopor e outros objetos

além da negativa de licenças e firmações de

Senador Lemos e travessa Djalma Dutra. A che-

que são descartados pela sociedade são trans-

contratos. Mais informações na página da Fun-

gada será no Curro Velho, encerrando a progra-

formados em arte, alegorias e adereços para

dação Cultural do Pará facebook.com/fcpara

mação com um grande baile carnavalesco.

o desfile das crianças e jovens, que prometem

Este ano as Crias do Curro Velho levam para a

fazer a festa no carnaval de 2017. Mais infor-

CURTA OLYMPIA

avenida o tema “Diversidades”. Por meio dos

mações: (91) 3184-9101.

O projeto Curta Olympia com a exibição do filme “Sophia”, de Kennel Rogis, vai até 23 de

CAPACITA 2017

janeiro, no Cine Olympia, na avenida Presidente Vargas, 918 - Campina. As sessões são de

A Universidade da Amazônia (Unama) realizará durante o mês de janeiro o “Capacita 2017”. O

quinta a sábado, às 18h10, e aos domingos, às

projeto oferece oportunidades de aperfeiçoamento profissional gratuito, tanto para os alu-

17h10. O longa conta a história de Joana, uma

nos da Instituição, quanto para a comunidade em geral. Serão mais de 100 cursos, até 29 de

mãe dedicada que ao tentar entender melhor

Janeiro de 2017. Para participar, os interessados devem preencher a ficha de inscrição dispo-

o universo da filha Sophia passa por belíssi-

nível no site da Unama pelo link: extensao.unama.br. Mais informações: unama.br

mas experiências sensoriais. Entrada franca. Mais informações: (91) 3230-5380.

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JANEIRO DE 2017


FAÇA VOCÊ MESMO

Porta treco em mosaico de PAPEL Aprenda a fazer uma caixa porta treco em mosaico de papel com uma foto do Ver-o-Peso, aproveitando o material que não é mais utilizado em casa. A técnica do mosaico é uma forma de arte decorativa milenar, que nos remete à época da civilização greco-romana, quando teve seu apogeu. O mosaico é um embutido de pequenas peças de pedra ou outros materiais como plástico, areia, papel ou conchas, formando uma imagem. O objetivo é preencher algum tipo de plano, como pisos e paredes ou objetos decorativos. Para produzir a decoração da caixa porta tre-

Do que vamos precisar?

co qualquer pessoa pode aproveitar a criatividade, utilizando revistas coloridas e uma caixa de papelão ou de madeira. Sua imaginação pode ser colocada em prática a partir do que se pretende decorar. Com a possibilidade de recriação a partir dos materiais reaproveitáveis, como uma simples caixa, você pode guardar qualquer coisa de grande valor pessoal, seja material ou sentimental. O importante é que esse trabalho nos remete à valorização do caráter de sustentabilidade trabalhado nas oficinas Curro Velho, oferecidas às pessoas, independentemente de idade.

• Cola branca • Tesoura com pontas arredondadas • Pincel • Copo descartável • Revistas coloridas • 1 caixa de papelão ou madeira • 1 foto do Ver-o-Peso

INSTRUTOR: LUIZ SANTIAGO / COLABORAÇÃO: DEUSARINA VASCONCELOS / FOTOS: IONALDO RODRIGUES (ASCOM CURRO VELHO)/ ARQUIVO AMAZÔNIA VIVA

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FAÇA VOCÊ MESMO

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Pegue a caixa de papelão ou madeira do formato e tamanho que você preferir.

Com a tesoura, recorte as páginas das revistas com as cores que você irá montar o mosaico sobre a imagem escolhida.

Agora, vamos começar a fazer a montagem do mosaico, colando os recortes coloridos sobre a foto.

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Pegue uma foto do Ver-o-Peso (pode ser de revista ou cartão-postal) ou escolha uma imagem, conforme o tamanho da caixa e recorte-a.

Para dar resistência à caixa, faça a papietagem (colagem de papel) na tampa da caixa, com o papel, de preferência páginas brancas, da revista.

Passe a cola nos recortes dos papéis e os cole, conforme o formato da imagem até preencher toda a figura.

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Após escolher a imagem para montar o mosaico pegue várias revistas.

Depois da papietagem, cole a foto do Ver-o-Peso no centro da tampa da caixa.

9

A caixa porta treco está pronta, agora é só aproveitar e guardar suas coisas preferidas nela.

Para saber mais Quem quiser conhecer mais sobre técnicas artísticas pode se inscrever nas oficinas Curro Velho, da Fundação Cultural do Pará. Crianças a partir de 12 anos podem participar. O Curro Velho fica localizado na rua Professor Nelson Ribeiro, nº 287, esquina com a travessa Djalma Dutra, bairro do Telégrafo. Telefones: (91) 3184-9100 e 3184-9109. 56 • REVISTA AMAZÔNIA VIVA •

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RECORTE AQUI

1

ATENÇÃO: Essa atividade pode ser feita por crianças, desde que acompanhadas por um adulto responsável


BOA HISTÓRIA

Rua

de chumbo, de textura doce, de forma macia. A mulher se mantém reticente e olha. É só o que pode fazer. A temperatura é a mesma de todo verão, de todo inverno, de todo outono e primavera, do dia e da noite. O tempo arde, insistente, como se a cidade estivesse condenada ter axilas úmidas, o couro quente, a pele tostada moreno canela das Índias. O relógio da torre anuncia hora redonda e a pontualidade da precipitação que, faz anos, maninha, não é pontual em nada. Cai a qualquer hora e, às vezes, mantém-se segura nos flocos do céu como ameaça constante, de mal com quem insiste na pergunta no andar debaixo: será que vai chover? A mulher repete e se lança à rua. Vai de guarda-chuva dentro da bolsa, remédio fraco para o temporal que se anuncia. Não há mangueiras. A rua é de terra batida e vira um sabão rosáceo com a enxurrada. As casinhas

de madeira no baixio de maria-moles e capa de lodo do canal, onde ela mora, vão ao fundo, os dejetos transbordam e formam uma piscina de perigos onde brincam as crianças. Ela caminha com alguma graça e cuidado, não gosta dos sapatos sujos de piçarra. Vai lá embaixo, senhorinha, ver os panos e as armas de sempre: linha, agulha, dedais, botões. Não se importa mais com as nuvens. Para na sombra do poste da avenida para esperar, porque ainda que haja céu de chumbo o sol massacra das seis às seis e a sombra, magrinha, ainda é um oásis no bafejo dos dias. Entra no coletivo, diligente com o troco, de olho no movimento, não quer dar sorte para ninguém. As ruas do Comércio estão apinhadas, como todos os dias. Bugigangas sobre os tabuleiros improvisados. É janeiro, um camelô ainda vende os piscas-piscas chineses e um Papai Noel de sax se requebra na calçada. Sobre as cabeças a massa cinza se movimenta e recebe novos vapores das poças,

da tubulação furada, dos excessos e até do suor vertido de cada transeunte. O floco imenso que cobre o firmamento engorda, silencioso, enquanto a mulher o espreita por entre fios elétricos e edifícios em ruínas entre uma entrada e outra em armarinhos. Finda a andança com a compra e sai a calçada. Os primeiros pingos são como copos d’água de tão grandes. Aumentam o fluxo conforme ela apressa o passo. É tão nítida a relação entre os ritmos do corpo e o da chuva que ela para de correr para barrar o toró. A natureza obedece por dois segundos, no máximo, mas a precipitação chega definitiva. Ela abre a sombrinha inútil, frágil enquanto o aguaceiro pinta de branco o resto de tarde. Aceita o destino da cidade e segue flutuando na torrente, encharcada, açoitada pelo vento, resignada do mesmo jeito que encara o sol inclemente de todo dia que, improvável, ainda aparecerá minutos depois para encerrar seu trabalho e dar lugar a uma noite fresca e sem lua. JANEIRO DE 2017

LEONARDO NUNES

Há uma indecisão estancada na porta, no quadrado da janela. De cor

Anderson Araújo

é jornalista e escritor • REVISTA AMAZÔNIA VIVA • 57


NOVOS CAMINHOS

Os desafios do novo código florestal

Os desafios do novo Código Florestal, atualmente chamado Lei da Conservação das Florestas Nativas, está posto para a sociedade. O primeiro

CARLA VIANNA é jornalista e especialista em mídia e cultura 58 • REVISTA AMAZÔNIA VIVA •

grande passo é realizar o Cadastro Ambiental Rural (CAR) de todas as propriedades rurais desse imenso Brasil. Muitos estados têm atendido a solicitação dos órgãos federais, porém os avanços efetivos são tímidos. Só para se ter uma ideia o novo Código Florestal somente foi publicado depois de anos de debate, discussão política, além de idas e vindas dentro dos poderes. Entretanto, quem imagina que essa pendência está resolvida não está ciente dos conflitos, que estão longe de serem pacificados, devendo a discussão política continuar com a análise de vetos e de Medida Provisória pelo Congresso. Após a realização do CAR nas propriedades rurais serão conhecidos os números das áreas a serem recuperadas, seja de Reserva Legal (RL) e/ou de Área de Preservação Permanente (APP). Os valores percentuais de RL e de APP mudam em cada região do País. No caso da Amazônia o já famoso 80:20 é muito discutido, pois os produtores rurais somente podem usar o total de 20% da área da propriedade. Algumas variações e exceções são observadas em decorrência de leis estaduais, que alteJANEIRO DE 2017

ram esses percentuais, em razão dos grupos de produtores, como grandes pecuaristas; produtores de porte médio e agricultores familiares dentre outros. Definindo-se o perfil de cada propriedade, o proprietário deverá elaborar o “Prada” (Projeto de Recuperação de Área Alterada). Para atender a essa enorme demanda, a Embrapa vem desenvolvendo projetos especiais, visando à estruturação de bases de dados para viabilizar o acesso a informação técnica por todos os usuários do setor. Um projeto está sendo desenvolvido pela doutora Noemi Vianna, juntamente com equipe da Embrapa e uma catalogação de uma lista de espécies para cada tipo de vegetação/ região, compilando dados de mais de 40 anos de pesquisa florestal. Da seleção de espécies até os arranjos para implantar os diferentes modelos de plantação, a exemplo dos Sistemas Agroflorestais (SAFs) e Integração Lavoura-Pecuária_Floresta (ILPf), além dos plantios puros e mistos, tudo está sendo cuidadosamente organizado para disponibilizar as informações para os proprietários rurais do Brasil. Realmente, um enorme desafio para que as gerações futuras possam desfrutar das florestas deste país. Preservar é uma necessidade. A vigilância diária e a luta para ver os infratores cumprirem a lei.

“Um enorme desafio para que as gerações futuras possam desfrutar das florestas deste país. Preservar é uma necessidade. A vigilância diária e a luta para ver os infratores cumprirem a lei”


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