REVISTA ENCARTADA NO JORNAL O LIBERAL. NÃO PODE SER VENDIDA SEPARADAMENTE.
AGOSTO 2O17 | EDIÇÃO NO 72 ANO 6 | ISSN 2237-2962
A CIÊNCIA VAI AO ENCONTRO DA
TRADIÇÃO
Pesquisadores paraenses vão em busca do conhecimento ancestral dos povos amazônidas para compreender a cultura regional, descobrindo uma rica fonte de informações capazes de solucionar problemas atuais da humanidade
PRESERVAÇÃO
Manejo florestal sustentável muda a vida de comunidades tradicionais
PROTAGONISTAS
Voluntários ajudam a conservar a biodiversidade no oeste da Amazônia
LITERATURA
O escritor Paulo Maués Corrêa fala do poder da leitura na formação humana
importantes para a gente Contém:
Abelhas: Cuidado com o planeta importantes Estudos como abelhas nativas para mundo, importantes Compromisso sustentável para a gente As abelhas são grandes responsáveis pela vida no nosso planeta e respondem pela polinização de até 80% das Contém: plantas cultivadas no mundo. Por saber da importância desses pequenos animais como um bioindicador Cuidado com o planeta ambiental, Vale realiza, por meio do Instituto Tecnológico Estudosa com abelhas nativas Vale (ITV), um estudo com tecnologia de ponta. Nossos Compromisso sustentável pesquisadores analisam as abelhas nativas da Amazônia, As pela vida no seusabelhas raios desãovoograndes e o seuresponsáveis papel na manutenção danosso planeta e respondem pela polinização de até 80% das biodiversidade da no floresta. Assim, crescemos cuidando e plantas cultivadas mundo. Por saber da importância desses pequenos animais como um bioindicador colaborando cada vez mais com o meio ambiente. ambiental, a Vale realiza, por meio do Instituto Tecnológico Vale (ITV), um estudo com tecnologia de ponta. Nossos pesquisadores analisam as abelhas nativas da Amazônia, seus raios de voo e o seu papel na manutenção da biodiversidade da floresta. Assim, crescemos cuidando e colaborando cada vez mais com o meio ambiente.
Um projeto, várias pesquisas e só um objetivo: inovar fazendo mais e melhor pelo planeta. Um projeto, várias pesquisas e só um objetivo: inovar fazendo mais e melhor pelo planeta.
Conheça essas e outras histórias essas no vale.com/ladoalado Conheça e outras histórias no vale.com/ladoalado
EKO Foto Roberto Ribeiro
As abelhas sĂŁo marcadas com microchip numa pesquisa inĂŠdita
EDITORIAL
PUBLICAÇÃO MENSAL DELTA PUBLICIDADE - RM GRAPH EDITORA AGOSTO 2017 / EDIÇÃO Nº 72 ANO 6 ISSN 2237-2962 Presidente LUCIDÉA BATISTA MAIORANA Presidente Executivo ROMULO MAIORANA JR. Diretor Jurídico RONALDO MAIORANA Diretora Administrativa ROSÂNGELA MAIORANA KZAM Diretora Comercial ROSEMARY MAIORANA
Estrelas do conhecimento
FELIPE JORGE DE MELO Editor-chefe
Belém do Pará nunca esteve tão na moda. A gente liga a TV e, não raro, se depara com algum “conhecido” daqui da nossa cidade brilhando em terras longíquas para todo mundo ver. Principalmente paraenses ligados à cultura e à gastronomia. Também está se tornando cada vez mais comum vermos “estrelas” de fora do Estado visitando a capital, fora da “Temporada Círio de Nazaré”, para gravar seus programas jornalísticos e de entretenimento, divulgando o que o Pará tem de bom. Mas o que também está merecendo atenção e ampla propagação de suas potencialidades é o conhecimento tradicional deixado pelos nossos ancestrais. O poder da “ciência popular”, no uso das ervas, unguentos e até mesmo do modo de ser amazônico, tem muito a contribuir com o desenvolvimento da sociedade.
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NAILANA THIELY
Dona Coló, erveira do Ver-o-Peso, é uma das “estrelas” de Belém que detém o saber tradicional da Amazônia
SABEDORIA POPULAR
Porém, se ainda não ganhou os holofotes da grande mídia, o saber tradicional da Amazônia nos campos da educação e medicina começa a ser resgatado, valorizado e compreendido pela Ciência convencional. E os pesquisadores da Universidade do Estado do Pará estão dando um belo exemplo de diálogo entre a academia e a tradição. Estudos com base no conhecimento popular começam a ser desenvolvidos com eficácia ímpar dentro dos laboratórios da região. “Eu gostaria de ver a medicina tradicional no mesmo patamar de importância da medicina acadêmica”, almeja Dona Coló, da foto acima, famosa erveira do Ver-o-Peso. Para ela, as duas ciências podem caminhar de mãos dadas, promovendo uma Belém que, por si só, já é uma grande estrela a brilhar.
Diretor Industrial JOÃO POJUCAM DE MORAES FILHO Diretor JOSÉ LUIZ SÁ PEREIRA Conselho editorial RONALDO MAIORANA JOÃO POJUCAM DE MORAES FILHO LÁZARO MORAES REDAÇÃO Jornalista responsável e editor-chefe FELIPE JORGE DE MELO (SRTE-PA 1769) Coordenação geral LUCIANA SARMANHO Editor de arte FILIPE ALVES SANCHES (SRTE-PA 2196) Pesquisador e consultor técnico INOCÊNCIO GORAYEB Colaboraram para esta edição O Liberal, Agência Pará de Notícias, Agência Brasil, Museu Paraense Emílio Goeldi, Universidade Federal do Pará, Universidade do Estado do Pará, Fundação Cultural do Pará - Oficinas do Curro Velho, Instituto Mamirauá (acervo); Alinne Morais, Ana Laura Carvalho, Fernanda Martins, Lucas Filho, Sávio Oliveira, Victor Furtado (reportagem); Amanda Lelis, Everaldo Nascimento, Fernando Sette, Nailana Thiely, (fotos); Anderson Araújo e Inocêncio Gorayeb (artigos) André Abreu, J.Bosco, Jocelyn Alencar e Leonardo Nunes (ilustrações); Alexsandro Santos (tratamento de imagem). FOTO DA CAPA Nailana Thiely/ Ascom Uepa AMAZÔNIA VIVA é editada por Delta Publicidade/ RM Graph Ltda. CNPJ (MF) 03.547.690/0001-91. Nire: 15.2.007.1152-3 Inscrição estadual: 158.028-9. Avenida Romulo Maiorana, 2473, Marco - Belém - Pará.
amazoniaviva@orm.com.br
PRODUÇÃO
REALIZAÇÃO
NESTA EDIÇÃO
EDIÇÃO Nº 72 / ANO 6
NAILANA THIELY
AGOSTO2017
32 Ciência popular
Pesquisadores da Uepa se debruçam sobre o conhecimento tradicional da Amazônia CAPA FERNANDO SETTE
AMANDA LELIS / INSTITUTO MAMIRAUÁ
LUCAS FILHO/ ACERVO IEB
JOSÉ ADERNEIRA
28
E MAIS
20
44 48
IMAGENS
PROTEÇÃO
MEIO AMBIENTE
LITERATURA
Fotos das mais variadas
O coordenador executivo
O livro “Protagonistas:
O escritor e professor
facetas da Amazônia
da ONG Instituto Inter-
relatos de conservação do
Paulo Maués Corrêa regis-
compõem uma galeria
nacional de Educação
Oeste da Amazônia”, lança-
tra histórias e memórias
especial sobre as belezas
do Brasil, Manuel Amaral
do pelo Instituto Mamirauá, de moradores das zonas
naturais do Pará, um local
Neto, fala sobre o uso
conta a experiência de pes-
urbana e rural da Ama-
onde a natureza e ser
sustentável da floresta por
soas ligadas à preservação
zônia, dando voz à gente
humano se encontram.
comunidades tradicionais.
da natureza.
simples do povo.
OLHARES NATIVOS
ENTREVISTA
SUSTENTABILIDADE
PAPO DE ARTISTA
4 6 7 11 13 14 15 16 17 18 19 19 54 55 57 58
EDITORIAl AS MAIS CURTIDAS PRIMEIRO FOCO TRÊS QUESTÕES ELES SE ACHAM FATO REGISTRADO PERGUNTA-SE EU DISSE APPLICATIVOS CURIOSIDADES DA BIODIVERSIDADE DESENHOS NATURALISTAS CONCEITOS AMAZÔNICOS AGENDA FAÇA VOCÊ MESMO BOA HISTÓRIA NOVOS CAMINHOS
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ASMAISCURTIDAS DESTAQUES DAS EDIÇÕES ANTERIORES
RORAIMA ADVENTURES/ DIVULGAÇÃO
MONTE RORAIMA Adorei a reportagem sobre o Monte Roraima na edição passada (“Ponto alto da Amazônia”, Capa, julho 2017, nº 71). Em 2015, eu tive a oportunidade de conhecer esse lugar mágico e tão cheio de vida. Foram dias inesquecíveis de aproximação da natureza. Márcia Schoiann Travassos Belém-Pará
BOSQUES
RUMO AO MONTE RORAIMA
A reportagem sobre as expedições para o Monte Roraima foi a mais compartilhada em nosso Facebook na última edição. EVERSON TAVARES/ INSTITUTO MAMIRAUÁ
SENHOR DAS ÁGUAS
A foto do boto nadando tranquilamente no rio, de autoria de Everson Tavares, do Instituto Mamirauá, foi a mais curtida em nosso Instagram na edição de julho passado. LUIZ BRITO/ RORAIMA ADVENTURES
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Revista Amazônia Viva, parabéns, mais uma vez. A matéria sobre o reaproveitamento dos caroços de açaí (junho de 2017, nº 70) me fez lembrar sobre o artesanato feito com a vassoura do açaí, ou seja, os cachos vazios dos frutos. Estão fazendo coisas lindas na Feira do Açaí. Mízar Bonna Belém-Pará
da Amazônia Viva envie comentários, dúvidas, críticas e sugestões para o email amazoniaviva@orm.com.br ou escreva para o endereço: Avenida Romulo
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CAROÇO DE AÇAÍ
Para se corresponder com a redação
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Gostaríamos de agradecer a matéria publicada pela revista Amazônia Viva sobre o que realizamos nos Bosques Sustentáveis da Universidade Federal do Pará (“Lugar de consciência ambiental”, Sustentabilidade, julho 2017, nº 71). Em nome de todos os que fazem do cotidiano dos bosques Benito Calzavara e Camilo Vianna algo especial para as nossas vidas enquanto alunos, professores, técnicos administrativos, e, principalmente, como cidadãos no cotidiano de uma universidade pública na Amazônia, pois entendemos que precisamos contribuir, nos comprometer mesmo, diariamente, para mudarmos o colapso urbano que vivenciamos na Região Metropolitana de Belém. Ressaltamos que consideramos a divulgação dos nossos trabalhos justamente no mês de aniversário da nossa Universidade, como algo especial, um presente que recebemos de vocês pela publicação, e um presente que todos nós acabamos dando para a UFPA pelos seus 60 anos. Gina Barbosa Calzavara Coordenadora do Espaço ITEC Cidadão
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Maiorana, 2473, Marco, Belém - Pará, CEP 66 093-000 ou FAX: 3216-1143.
TEXTOS VICTOR FURTADO E ALINNE MORAIS
MÁRIO GUERRERO/ ASCOM UFRA
PRIMEIROFOCO
O QUE É NOTÍCIA NA AMAZÔNIA
Dança que transforma realidades PROJETO DE EXTENSÃO CORPO EM MOVIMENTO, DA UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DA AMAZÔNIA, CONCRETIZA SONHOS DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES DA PERIFERIA DE BELÉM PÁGINA 8 E 9
AMEAÇA
CLIMA
Pesquisa aponta para risco de derramamento de óleo nas águas que circundam a Ilha de Mosqueiro, distrito de Belém. PÁG.11
O aumento no fluxo de chuvas induzido por mudanças climáticas irá afetar a qualidade e a vida das águas no planeta. PÁG.13
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PRIMEIRO FOCO
MOVIMENTOS DA ESPERANÇA Livia Julianna Pantoja, aos nove anos, talvez não imaginasse que seria pré-selecionada para participar da Escola do Teatro Bolshoi no Brasil. É o sonho de muitos bailarinos que dedicam anos de estudo e ensaio. Um sonho que demanda muito dinheiro para financiá-lo. Um sonho que poderia ser inalcançável para quem mora em bairros periféricos de Belém. A jovem bailarina, com apoio da mãe, que nunca deixou de acreditar no potencial da filha, começou a traçar esse caminho aos cinco anos. Foi quando ela entrou para o projeto de extensão Corpo em Movimento, da Universidade Federal Rural da Amazônia (Ufra). O projeto começou em 2008. De maneira tímida, estreou com dez alunas. As aulas eram pagas, mas desde aquela época a ideia era tornar o estudo do balé mais acessível. Afinal, trata-se de uma dança clássica ainda muito elitizada. Muitas crianças dos bairros do entorno da Ufra - Guamá, Marco e Terra Firme, principalmente -, o público-alvo do Corpo em Movimento, não conseguiriam ter acesso sem o que poderia ser um sacrifício para as famílias. Ainda em 2008, pouco mais de um mês 8 • REVISTA AMAZÔNIA VIVA •
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depois, a professora Elene Pinheiro assumiu o projeto. Foi a convite de uma amiga que havia iniciado uma escolinha nas dependências da Universidade. Elene buscou parcerias com o governo do Estado e então conseguiu ser remunerada pela Secretaria de Estado de Educação (Seduc). A partir daí, as aulas se tornaram gratuitas. Ela organizou a estrutura da escola, elaborou um projeto mais robusto, fez divulgação, atraiu novos alunos, dividiu por faixas etárias. Já são nove anos de funcionamento. Atualmente,
FOTOS: MÁRIO GUERRERO/ ASCOM UFRA
há cerca de 200 alunos e um segundo espaço, na Terra Firme, além do espaço da Ufra. A história de Lívia Julianna é a mais recente. Mas desde o início do projeto, várias outras histórias semelhantes ocorreram. Em 2012, cinco alunos do Corpo em Movimento foram pré-selecionados para participar da Miami City Ballet School. Para a professora Elene, foi uma vitória pela quantidade de alunos pré-selecionados. E todos de um projeto social. Algumas escolas tradicionais de Belém conseguiram aprovar
A DANÇA DA PERSEVERANÇA
Aos 9 anos, Livia Julianna foi préselecionada para participar da Escola do Teatro Bolshoi no Brasil. A mãe Rosângela Pantoja acredita na importância de projetos sociais, como o Corpo em Movimento, da Ufra
no máximo três alunos. A escola é tão prestigiada nos Estados Unidos como o Teatro Bolshoi é na Rússia. “A minha prima já fazia e aí fui pedir para minha mãe: ‘quero dançar balé’”, conta Livia. A mãe, a professora Rosângela Pantoja, lembra que ver o nome da filha entre os pré-selecionados foi uma experiência única. “Eu não pude assistir ao teste porque eram apenas as bailarinas e os professores do Bolshoi. O resultado só foi divulgado dois dias depois, pela internet. Foi tanta emoção que nem dormi”. Os cinco alunos que foram aprovados para a escola norte-americana enfrentaram um problema semelhante ao que Livia Julianna enfrenta, a dificuldade financeira para seguir às próximas etapas. As aulas do Corpo em Movimento são gratuitas, mas nem tudo é custeado. Figurinos, inscrições em eventos e competições ainda são arcados pelas famílias dos alunos. Nem sempre é possível. Livia, para continuar com a pré-seleção para o Bolshoi, terá de ir a Joinville,
em Santa Catarina, onde há a única filial do Teatro Bolshoi fora da Rússia. É uma viagem cara. Os alunos que foram pré-selecionados para a Miami City Ballet School não conseguiram concluir o processo seletivo por não terem viajado aos Estados Unidos. Essa é uma realidade que muitos projetos sociais enfrentam, apoios ausentes em determinados momentos. Mas outras vitórias já foram alcançadas em festivais, como Festival Internacional de Dança da Amazônia (Fida) e o Dança Pará Festival. Neste último, o projeto foi campeão durante quatro anos consecutivos, além de um prêmio de segundo lugar e outro de terceiro lugar. Os alunos vão, novamente, participar de todos esses festivais e com pretensões de conquistar espaço entre os melhores, tanto locais quanto de fora do Pará. A própria professora recebeu um prêmio: Coreógrafa Revelação no Dança Pará 2015. Todo mês de outubro, a professora Elene Pinheiro reúne esforços com as famílias, com o governo do Estado
e com a Ufra para uma apresentação no Theatro da Paz: o Festival de Dança Corpo em Movimento. Neste ano, será no dia 31 de outubro. “Era um sonho meu e foi realizado. É tão difícil conseguir uma pauta no Theatro da Paz. Imagina que é um projeto social, de comunidades mais carentes e que vai pra lá! É realmente garantir acesso ao balé, que é, sim, muito elitizado. Então os pais são um ponto fortíssimo para o sucesso desse trabalho”, diz. Duas alunas do projeto estão hoje trilhando o rumo profissional na dança. Mariane vai fazer vestibular para a Universidade Federal do Pará (UFPA). Aline já se formou no curso técnico de Danças Clássicas da Universidade. A ideia de Elene é que elas assumam o projeto e continuem buscando os mesmo êxitos. “Estamos sempre plantando e colhendo frutos do trabalho e da dedicação. Mudando a realidade e as vidas pela arte”, conclui a professora Elene. A frase plantar e colher, informalmente e sem qualquer intenção, acabou mostrando o elo com a Ufra. AGOSTO DE 2017
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PRIMEIRO FOCO
“São trabalhos que me impressionam, fotos incríveis e estar lá no meio deles, com o meu trabalho, é muito gratificante’’, disse o fotógrafo de O LIBERAL, Tarso Sarraf, que, pelo segundo ano consecutivo, emplacou imagens de sua autoria na edição 2016/2017 de O Melhor do Fotojornalismo Brasileiro, livro que reúne 242 imagens de 116 fotojornalistas, profissionais de revistas, jornais, portais e agências de notícias de todas as regiões do Brasil. O Melhor do Fotojornalismo Brasileiro, da editora Europa, é o único livro brasileiro dedicado exclusivamente ao gênero de jornalismo em que a fotografia é primordial na veiculação das notícias. A edição atual envolve imagens marcantes desde a prisão de políticos e marqueteiros, como desdobramento da Operação Lava Jato, ao impeachment da presidente Dilma Rousseff, e os Jogos Olímpicos de 2016, no Rio de Janeiro, onde Tarso Sarraf trabalhou durante o evento, publicando as fotos nos jornais O LIBERAL e Amazônia e Portal ORM, das Organizações Romulo Maiorana (ORM), em Belém, e capa do impresso Folha de S. Paulo. “Cobri as Olímpiadas pela primeira vez e foi como realizar um sonho profissional. Eles escolheram justamente os resultados desse sonho. Estou feliz. Pela segunda vez consecutiva emplaco meu trabalho neste livro e espero ter sempre material para estar lá no meio dos bons. Eu mandei cinco fotos como opções, foram escolhidas três das Olímpiadas Rio 2016. Isso ainda foi mais recompensador por ser a consequência de um trabalho que lutei para fazer’’, disse Sarraf, que tem 25 anos de atuação profissional no Pará. 10 • REVISTA AMAZÔNIA VIVA •
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FOTOS: TARSEO SARRAF
Fotógrafo de O Liberal ganha destaque nacional
OLHAR PARAENSE
As fotos de Tarso Sarraf (à esquerda), feitas durante a cobertura das Olimpíadas 2016, no Rio de Janeiro, foram publicadas no livro O Melhor do Fotojornalismo Brasileiro. Esta é a 2a vez consecuitva que o fotógrafo paraense é selecionado para a coletânea.
TRÊSQUESTÕES
MEIO AMBIENTE
RESPOSTAS QUE VÃO DIRETO AO PONTO
Pesquisa calcula riscos para litoral da ilha de Mosqueiro
A história da Língua Brasileira de Sinais (Libras) começa em 1857 e vem sendo desenvolvida desde então. Desde 2005, a Libras é uma dis-
feito um mapeamento sistemático da linha costeira da ilha para a análise de aspectos como geomorfologia, variação da linha de costa, declividade, cenários de elevação do nível médio do mar, altura significativa de ondas, amplitude de maré, sensibilidade do litoral, infraestrutura urbana e vegetação do local. Yago ressaltou que o trabalho é importante, pois a região litorânea é considerada altamente suscetível a processos erosivos, inundações e à acidentes que envolvam o derramamento de óleo e derivados. O estudante explicou ainda que regiões inseridas em áreas de influência direta de instalações portuárias, com tráfego de embarcações constante e intenso, como é o caso de Mosqueiro, precisam ainda mais de estudo e atenção.
ciplina curricular. No entanto, o aprendizado e amplo acesso ainda são tímidos. A professora Hérica Simão, coordenadora do Núcleo de Atendimento Educacional Especializado (Naee) da Universidade da Amazônia (Unama), fala sobre os desafios da língua no País. Quais os principais desafios para que a Libras seja mais acessível? São diversos, porém destaco aqui apenas um deles, o qual julgo como principal: a necessidade de incorporá-la aos currículos escolares. Apesar de ser obrigatória na formação de professores a partir do decreto n° 5.626/2005, ainda não se efetiva na prática cotidiana das escolas. Por que incluir o ensino da Libras aos currículos escolares? A Libras, como disciplina do currículo obrigatório da educação básica, ainda não acontece. Ou seja, para que essa língua seja mais acessível e ampla é preciso que seja de base. Nada melhor que na própria educação básica para alcançar melhores resultados na sociedade em geral, para tanto ensino da Libras não pode continuar restrito à formação de professores e cursos livres. Há idiomas semelhantes e mais eficientes como a Libra? A Libras não é uma linguagem como muitos pensam e sim um língua. Nesse sentido, existe uma estrutura linguísticas, gramatical como qualquer outra, a diferença é que a Libras CRISTINO MARTINS / AGÊNCIA PARÁ
é uma língua visuo-espacial, diferente, por exemplo, da língua portuguesa que é oro-facial. Por meio dela, o sujeito surdo é capaz de expressar qualquer assunto de seu interesse ou conhecimento.
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RAYANNE BULHÕES / UNAMA
A Ilha de Mosqueiro, um dos distritos mais populares de Belém, possui baixo grau de vulnerabilidade relacionado à inundação pelas águas e alto de grau de vulnerabilidade associado ao derramamento de óleo por derivados de petróleo. Essa é a conclusão da pesquisa do estudante de Engenharia Ambiental Yago Parente. Intitulado “Índice de vulnerabilidade costeira aplicado a uma ilha fluvio-estuarina – Ilha de Mosqueiro (Belém-PA)”, o trabalho, que foi orientado pelos geólogos Amilcar Mendes e José Berredo Reis da Silva, foi premiado no X XV Seminário de Iniciação Científica do Museu Paraense Emílio Goeldi. O estudo de Yago teve por objetivo desenvolver o diagnóstico e o prognóstico da vulnerabilidade de Mosqueiro. Durante a pesquisa foi
Sinais silenciosos da fraternidade
PRIMEIRO FOCO
ESCAVAÇÕES
EM MARITUBA
UFPA vai monitorar impactos provocados por aterro sanitário
HISTÓRIA DA AMAZÔNIA Prestes a completar 400 anos, o Forte de Santo Antônio de Gurupá, no Marajó, é resultado da ocupação holandesa na região e agora está sendo estudado. Pesquisadores do Museu Goeldi, ao lado do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) e Prefeitura Municipal de Gurupá, começaram as escavações no Complexo do Forte para descobrir novos elementos sobre a história da Amazônia e a colonização europeia na região.
Um novo estudo da Universidade Federal do Pará (UFPA) vai avaliar e identificar possíveis áreas contaminadas no Aterro Sanitário de Marituba, na Região Metropolitana de Belém. O trabalho subsidiará ainda um novo modelo de destinação dos resíduos sólidos que vai substituir o atual aterro sanitário. Durante o período de estudo, a Universidade fará pesquisas, que terão como foco principal a investigação ambiental no local, além de um monitoramento do espaço. O objetivo é verificar se há uma contaminação no aterro e identificar se há exposição de pessoas à essa poluição. De acordo com a Secretaria de Meio Ambiente e Sustentabilidade (Semas), por meio deste estudo a UFPA vai orientar tecnicamente o caminho que o governo deve tomar em relação ao local. A pesquisa também deve fazer a correção do atual aterro além de
CALOR
BELÉM 2017 Segundo o Instituto de Meteorologia do Estado (Imep), os registros indicam que este é o período de verão mais quente dos últimos 10 anos em Belém. A temperatura na capital paraense está na média dos 36ºC, mas a sensação térmica é de 40ºC. De acordo com os especialistas, a arborização é solução para diminuir o calor.
DESMATAMENTO
CADASTRO DE TERRAS Um estudo realizado pelo Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia, em parceria com a Universidade Federal de Minas Gerais, comparou o nível de preservação de mais de 20 mil áreas antes e depois do Cadastro Ambiental Rural e mostrou que apenas 6% dos proprietários de terra estão tomando medidas para se adequarem as leis ambientais. Segundo os estudiosos, o número não é suficiente para barrar o desmatamento.
FOME
A crescente demanda por comida nas cidades no meio da Amazônia pode ter um grande impacto na fauna da região, apontou um estudo publicado na revista científica Sciences. Os estudiosos observaram uma redução no tamanho de peixes, que são capturados com frequência para alimentação. 12 • REVISTA AMAZÔNIA VIVA •
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RODOLFO OLIVEIRA / AGÊNCIA PARÁ
FAUNA EM RISCO
determinar qual é o modelo correto que deve ser implantado para garantir a segurança ambiental e das pessoas que vivem próximas do espaço. Um dos responsáveis pelo estudo, o professor Mário Russo, especialista em Plano Estratégico para Resíduos diz que o aterro não está sendo operado de forma correta portanto, são necessárias ações imediatas. De acordo com ele, o trabalho vai analisar o que está acontecendo, estudar o projeto e as operações até encontrar todas as anormalidades do empreendimento e implantar novas medidas. O Aterro Sanitário de Marituba recebe resíduos dos municípios de Belém, Ananindeua, Santa Izabel do Pará, Benevides, Marituba e Santa Bárbara do Pará e sempre apresentou falhas estruturais. A ideia é que a nova pesquisa possa ajudar a solucionar esse problema da capital.
CESAR FAVACHO
MÁCIO FERREIRA / AGÊNCIA PARÁ
ELESSEACHAM POR QUE MIMETISMO É UMA COISA NATURAL
Os lacerdinhas
CHUVAS
Aumento de nitrogênio vai afetar a qualidade das águas no planeta O aumento no fluxo de chuvas induzido por mudanças climáticas irá afetar a qualidade e a vida das águas no planeta, alertou o artigo publicado na revista Science por pesquisadores americanos. Isso ocorrerá, de acordo com o estudo, porque a precipitação vai aumentar a poluição por nitrogênio nas águas. O nitrogênio é um dos nutrientes que mais agrava a eutrofi zação. O fenômeno, que ocorre principalmente em lagos, represas e açudes, é causado pelo acúmulo de nitrogênio e de outras substâncias nesses locais e faz com que proliferam neles bactérias, plâncton e algas, muitas delas tóxica. Ao morrerem esses seres causam gosto e odores desagradáveis, além de consumirem oxigênio dissolvido, o que e leva a morte de
peixes e algas e afeta toda a cadeia alimentar. No estudo, os pesquisadores analisaram 21 modelos climáticos diferentes em dois períodos de tempo futuro, de 2031 a 2060 e de 2071 a 2100. Eles verificaram que nos Estados Unidos haverá aumento nos níveis de nitrogênio durante esses anos em todos os locais, inclusive naqueles em que esforços estão sendo feitos para amenizar os efeitos de mudanças climáticas. Os pesquisadores alertaram ainda que o mesmo cenário deve ocorrer na Índia e no leste da China, regiões que devem registrar aumento expressivo de precipitação nos próximos anos. De acordo com eles, é necessário tentar diminuir os impactos ambientais para que o fenômeno não se propague para outros países.
Os insetos conhecidos por tripses ou tripes são da ordem Thysanoptera. São pequenos medindo de 0,5 a 14 mm e, dependendo da espécie são escuros, brancos, amarelos, alaranjados ou vermelhos. Os adultos têm quatro asas franjadas, o que dá o nome da ordem: thysano = franja e pteron = asa (do grego). Ocorrem em condições de baixas temperaturas associados à estiagem. São pragas da agricultura e frequentemente são encontrados no tomateiro. O ataque direto prejudica o desenvolvimento dos frutos e suas picadas nas plantas hospedeiras facilitam a entrada de outros patógenos, como por exemplo viroses. Uma espécie asiática (Gynaikothrips ficorum) foi introduzida no Brasil em 1961 e ataca árvores de ficus, que foram plantadas para arborização de várias cidades brasileiras, inclusive de Belém. Causam grandes transtornos às pessoas porque quando estas passam sob os benjamenzeiros eles são atraídos pelas roupas claras, preferindo as amarelas e brancas. Eventualmente caem nos olhos e causam grande ardor ou transitam entre a roupa e o corpo e picam ou irritam a pele. Na década de 60 passaram a ser chamados de “lacerdinhas”, nome relativo ao político carioca Carlos Lacerda, de oposição radical a Getúlio Vargas e Juscelino Kubistchek. A foto mostra alguns tripses vermelhos colonizando musgo. Suas cores vivas podem ser avisos de impalatabilidade, ou recurso para se confundirem com pequenos frutos. Por INOCÊNCIO GORAYEB
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FATO REGISTRADO
Famílias isoladas na Amazônia TEXTO E FOTO INOCÊNCIO GORAYEB
Na Amazônia, muitas famílias vivem em locais de difícil acesso, distantes das infraestruturas de serviços básicos como água potável, energia, transportes, saúde e educação. As políticas públicas alternativas de atenção a esse contingente humano não atendem a maioria ou simplesmente não existem, ignorando esta realidade dos povos das florestas, dos rios e de ramais. Essas famílias dependem de seus esforços de extrativismo e se deslocam por grandes distâncias para trabalhar em alguma roça ou projeto agropecuário. Os poderes públicos municipais e estaduais devem ter um levantamento preciso dessas populações e elaborar projetos para captação de recursos para o atendimento. Meios para isso deveriam existir no planejamento dos municípios. Nos programas de vários ministérios existem recursos para esse atendimento. Por que será que esse problema não é enfrentado? Muitos casais iniciam suas famílias sem nenhum recurso financeiro ou qualquer bem, por isso procuram um lugar onde possam construir uma casa de madeira sem ter que pagar pelo terreno onde estão instalados. A foto é da casa de um jovem casal com dois filhos que vivem a cerca de 10 km da rodovia da Alça Viária, no município de Acará, Pará. Observa-se um aparato artesanal para captação de água de chuva para ser consumida pela família. 14 • REVISTA AMAZÔNIA VIVA •
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PERGUNTA-SE
3º LUGAR
É PRECISO ESCLARECER MITOS E VERDADES
Paraense em concurso mundial de fotografia A fotografia de uma vitória-régia em forma de coração, de autoria do paraense Wendell Medeiros, foi a vencedora na categoria “Escolha Popular”, do concurso de fotografia “Qual é a sua natureza?”, promovido pela The Nature Conservancy (TNC). Wendell tirou a foto no Museu Paraense Emílio Goeldi, em 2013. Entre as quase 33 mil imagens inscritas, o trabalho de Wendell foi selecionado por um júri de fotógrafos de natureza como uma das 100 melhores e, em seguida, disputou a preferência do público na internet. Morador de Santarém, o servidor estadual diz que a conquista trouxe emoção e gratidão. “A sensação é maravilhosa, algo inacreditável. Eu mandei algumas fotos e não achava que elas ficariam nem entre as 100 escolhidas, justamente por
Resina que dá brilho às frutas causa mal à saúde?
ser um concurso internacional”, conta. A premiação tinha o propósito de estimular a conservação das paisagens naturais além de inspirar o maior número de pessoas para contemplação do meio ambiente por meio da fotografia. No total, competiram mais de 10,6 mil fotógrafos profissionais e amadores de mais de 80 países, inclusive do Brasil. “Ficamos muito felizes em saber que o Brasil teve um representante entre os vencedores”, diz Erik Lopes, coordenador do concurso no Brasil. “Essa iniciativa foi uma grande oportunidade de compartilhar com pessoas de todo o planeta como cada um de nós enxerga a natureza e se relaciona com ela, em um mundo cada vez mais marcado pela influência do ser humano nas paisagens”, completa.
Desde que alguém inventou de raspar a casca de uma maçã bonita e brilhante, o questionamento não saiu mais das redes sociais digitais. Muita gente preocupada à toa. A cera ou resina não causam qualquer dano à saúde. São produtos que servem para aumentar a resistência da fruta após o processo de higienização pós-colheita. Antes de seguir para venda, os produtos costumam ser lavados ou escovados. A proteção natural das frutas vai junto, como explica Isabelle Silva de Oliveira, professora da Universidade dan Amazônia. Uma fruta desprotegida duraria, no máximo, três dias antes de estragar. A cera dá um pouco mais de tempo de exposição. Consequentemente, deixa o produto mais atrativo sim. Há ceras e resinas naturais, mas há artificiais. Nenhuma representa riscos. “Cera natural é considerada aditivo alimentar pela Comissão Europeia, levando-se em consideração a especificidade de diferentes tipos de cera sobre diferentes frutos. Além disso, a maioria das frutas enceradas normalmente se come sem a casca”, explica a professora. Isabelle destaca que já vários estudos sobre os revestimentos naturais e artificiais de frutos. Tudo em busca de equilíbrio entre saúde e economia.
ALEJANDRO HEREDIA / FREEIMAGES
WENDELL MEDEIROS / TNC DIVULGAÇÃO
MANDE A SUA PERGUNTA Envie perguntas instigantes sobre hábitos, costumes e fenômenos da região amazônica para o e-mail: amazoniaviva@orm.com.br
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EU DISSE
“É nossa obrigação entregar o mundo em boas condições às futuras gerações.”
“O Brasil sempre achou uma saída e uma hora ela aparece”
Arnold Schwarzenegger, ator e ex-governador da Califórnia (EUA), em recente entrevista na qual defende o meio ambiente e o trabalho dos ambientalistas no planeta.
Martinho da Vila no lançamento de seu livro de crônicas “Conversas Cariocas”. O cantor comenta sobre a atual situação político-econômica do país. DIVULGAÇÃO
“Estamos caminhando rapidamente para um ‘Planeta de Plástico’, e se não quisermos viver neste mundo, teremos que repensar a maneira como usamos alguns materiais” Roland Geyer, especialista em ecologia industrial e pesquisador. Ele estuda a relação entre o plástico e o meio ambiente
“Eu me posiciono porque sinto que estamos vivendo a história. A história está acontecendo.” Wagner Moura, ator, em entrevista ao programa “Conversa com Bial”, da TV Globo. Na ocasião, ele comentou sobre a sua participação no atual momento político do País.
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APPLICATIVOS
BOAS IDEIAS NUM TOQUE DE DEDOS
“Não dá mais para desmatar.” CAM CARD
Fafá de Belém, em vídeo publicado na página do Greenpeace Brasil. Na gravação, a cantora paraense e outros artistas nacionais fizeram um apelo para a preservação da Amazônia e pelo fim das medidas que podem prejudicar a floresta.
A premissa desse app gratuito é bem simples: facilitar o acesso a quem tem muitos cartões de visita diferentes. Basta apontar a câmera a um cartão e todas as informações serão escaneadas e salvas diretamente na agenda de contatos. Nome, telefone, e-mail, endereços, tudo é gravado rapidamente. Disponível para Android e iOS.
FAMÍLIA CORUJINHA
LILI FERRAZ CC BY-SA 3.0
“Usar pele verdadeira não é uma opção. Os grandes designers agora já fazem lindas roupas com pele falsa” Gisele Bündchen, em ensaio para a Vogue Paris, feito inteiramente com roupas de pele sintética, como uma forma de defender a preservação dos animais.
É um instrumento gratuito de Educação em Saúde para famílias cujas crianças estejam internadas em unidades neonatais. Numa interface bem fácil e amigável, dá para conseguir orientações sobre o ambiente neonatal: dos cuidados na admissão até a alta hospitalar, amenizando sentimentos como angústia, medo e ansiedade. Também facilita a comunicação entre família e profissionais de saúde. Iniciativa, gratuita, de pesquisadores da Universidade Federal do Pará. Somente para Android.
MOBIABERT Funciona como integrador de todas as rádios brasileiras num ambiente digital. Com este app dá para encontrar rádios locais ou distantes, além de conferir às emissoras um ambiente de interação com os ouvintes por redes sociais. É uma iniciativa da Associação Brasileira de Rádio e Televisão (Abert) para inserir todas as rádios nesse novo modelo de negócios de radiodifusão. Gratuito para Android e iOS. FONTES: PLAY STORE E ITUNES
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CURIOSIDADES DA BIODIVERSIDADE
APAs para proteção da zona costeira
LUCIVALDO SENA / AGÊNCIA PARÁ
TEXTO INOCÊNCIO GORAYEB
Na década de 90 foram criadas unidades de conservação visando à proteção dos ninhais de guarás (Eudocimus ruber) na zona costeira do Pará. Entre as unidades estavam a Área de Proteção Ambiental (APA) da Ilha Canela, em Bragança; APA da Costa do Urumajó, em Augusto Corrêa; e APA Jabotitiua-Jatium, em Viseu. Para fundamentar as propostas equipes de pesquisadores do Museu Paraense Emílio Goeldi foram ao campo e fizeram estudos de fauna e flora de ambientes e paisagens das áreas a serem protegidas. Foram publicados artigos científicos e CDs-Room sobre os resultados das pesquisas. A APA Jabotitiua-Jatium foi criada pela lei municipal n° 002/28 de 07 de abril de 1998, em Viseu. Dentre os 18 • REVISTA AMAZÔNIA VIVA •
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ecossistemas predominantes neste litoral destacam-se os manguezais, as restingas, os campos naturais e remanescentes de florestas primárias. Esta APA foi criada para ajudar no equilíbrio ambiental destas áreas, além de ser local de abrigo, reprodução e fonte de alimento da fauna ocorrente, particularmente os guarás. Os pesquisadores do Museu Goeldi desenvolveram os estudos visando contribuir para os planos de manejo bem como para o fomento e o conhecimento sobre os ecossistemas costeiros do estado. Eles voltaram-se à caracterização dos tipos de vegetação com identificações ao nível de espécies. Hoje, as áreas protegidas do litoral foram ampliadas por meio da criação de reservas extrativistas. No entanto,
poucos estudos foram desenvolvidos sobre os ninhais de guarás da costa paraense após essas pesquisas. Os guarás pertencem a uma espécie que vive exclusivamente no ambiente costeiro atlântico da América do Sul e dependem principalmente de seus ninhais que vêm sendo agredidos há muitos anos. Estes ninhais existem em pequenos números e os estados do Pará e Maranhão abrigam os maiores. É importante e urgente que novos estudos sejam desenvolvidos para analisar a situação destes ninhais e áreas de repouso e alimentação. Também é necessária a implementação de uma política mais incisiva de proteção, monitoramento e educação ambiental sobre a espécie e a conservação da zona costeira amazônica.
DESENHOS NATURALISTAS
CONCEITOSAMAZÔNICOS O VOCABULÁRIO REGIONAL É UM PATRIMÔNIO
Arreganhar Nos dicionários, a palavra “arreganhar” é a mais indicada com referência ao ato de rir. Quando as pessoas apertam os lábios por efeito de rir, está arreganhando-se. Arreganhando os dentes. Alguns dicionários indicam outros significados como rir-se, ameaçar, provocar, escarnecer, abrir, tornar-se visível e mostrar tudo que é possível. Os chimpanzés costumam arreganhar os beiços e exibir suas grandes dentaduras. No Pará, a conotação de rir-se também é aplicada, entretanto a palavra é mais usada relativa a um ato. Algumas aplicações que se escutam do linguajar amazônico são: “Essa moça é muito simpática e seu sorriso, quando está alegre, é sincero, ela sempre arreganha os dentes”; “Você, garota, tem que parar com
Margareth Mee e a botânica brasileira
isso, todas as suas expressões são exageradas, até sua postura quando anda e vira-se sempre se arreganha”; “Sempre está com as pernas arreganhadas, isso é vulgar”. Algumas vezes o termo também é usado como incentivo
ACERVO MUSEU GOELDI
quando um músico vai começar a tocar e as
Sempre é bom lembrar a produção artística de Margaret Ursula Mee. Ela nasceu em Chesham, na Inglaterra, em 1909, e estudou arte na St Martin’s School of Art, na Center School of Art e na Camberwell School of Art, em Londres. Mudou-se para o Brasil em 1952, ensinou arte na Escola Britânica de São Paulo e tornou-se uma ilustradora botânica pelo Instituto de Botânica de São Paulo em 1958. A partir de 1964 começou a pesquisar as florestas tropicais brasileiras, especialmente a floresta amazônica. Criou 440 pranchas botânicas e escreveu 15 diários. M. Mee morreu na Inglaterra, em 1988, e em sua honra foi criada a “Margaret Mee Amazon Trust”, uma organização para educação, pesquisa e conservação da flora amazônica.
Margaret Mee buscava incansavelmente pintar uma planta especial. Buscava pelo desabrochar de uma espécie de cactos conhecida como flor-da-lua (Selenicereus witti). As flores brancas desta espécie desabrocham e morrem uma única vez por ano em uma noite de lua cheia. Após muitas tentativas, realizou seu sonho em 1988, aos 79 anos. Mee disse que ficou enfeitiçada pela orla escura da floresta na espera pela abertura da primeira pétala até a flor desabrochar por completo e “explodir para a vida”. Em 2013, um documentário sobre a vida da ilustradora inglesa. “Margaret Mee e a Flor da Lua” foi produzido pela direção de Malu De Martino. A figura apresentada é a prancha que Margaret Mee fez do cactos flor-da-lua. Por INOCÊNCIO GORAYEB
pessoas gritam “Arregaça, Pinduca”, “Arrebenta, Mariano”, “Arreganha, Verequete!” Por INOCÊNCIO GORAYEB
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OLHARES NATIVOS
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Áreas de baixadas A maioria das áreas urbanas de Belém tem sido classificada como favelas. Muitas residências ainda são palafitas sobre áreas pantanosas de baixadas da cidade. FOTO: FERNANDO SETTE AGOSTO DE 2017
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OLHARES NATIVOS
Cena marajoara
Em Salvaterra, Marajó, vida tranquila, onde as crianças podem brincar na praia ao sabor do vento, coisas simples que a cidade não tem. FOTO: JOSÉ ADERNEIRA
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Cabelo no terreiro
O terreiro da casa serve para muitas atividades da vida rural. A renda familiar é enriquecida por serviços informais. Aqui tem de tudo o que precisa perto de casa, até mesmo um corte de cabelo bem moderno. FOTO: JOSÉ ADERNEIRA
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OLHARES NATIVOS
Brincadeira de criança
Qualquer espaço serve para as brincadeiras da garotada. É difícil segurar as crianças em casa, e as que ficam longe do fácil acesso à internet, certamente, têm uma infância mais rica e interativa. FOTO: FERNANDO SETTE
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Urubus pitorescos
Em muitas áreas urbanas do Pará, a população de urubus é alta. De certa forma isso é pitoresco e característico da Amazônia, mas também reflete o tratamento indevido do lixo. FOTO: IGOR MOTA
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OLHARES NATIVOS
Praias e reentrâncias
A costa amazônica é toda recortada por reentrâncias, estuários, manguezais e praias. Estas são muitas e belas ainda bem conservadas e bastante diferentes outras regiões do Brasil. Registro na Ilha das Canelas, Bragança-Pará. FOTO: NELSON CHADA
Envie as suas fotos para a seção Olhares Nativos 26 • REVISTA AMAZÔNIA VIVA •
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Para participar da seção “Olhares Nativos” da revista Amazônia Viva basta enviar fotos com temática amazônica para o e-mail amazoniaviva@orm.com.br acompanhadas pelo nome completo do autor, número de identidade e uma breve informação sobre o contexto do registro fotográfico. As imagens devem ser autorais e com resolução de no mínimo 300 dpi. A publicação das fotos tem fins meramente de divulgação de trabalhos profissionais ou amadores, não implicando em qualquer tipo de remuneração aos autores. Participe!
OPINIÃO, IDENTIDADE, INICIATIVAS E SOLUÇÕES NAILANA THIELY
IDEIASVERDES
O passado da Ciência
CIENTISTAS BUSCAM APRIMORAR PESQUISAS COM BASE NO CONHECIMENTO TRADICIONAL DA AMAZÔNIA PÁGINA 32
PRESERVAÇÃO
SUSTENTABILIDADE
O coordenador executivo da ONG Instituto Internacional de Educação do Brasil, Manuel Amaral Neto, fala sobre comunidades tradicionais. PÁG.28
Instituto Mamirauá lança o livro “Protagonistas: relatos de conservação do Oeste da Amazônia”, sobre as personagens que cuidam da floresta. PÁG.42
ENTREVISTA
“É preciso promover o manejo florestal comunitário”
C
onservar a Amazônia é um dos grandes desafios da agenda ambiental brasileira, desde os anos 1980 com luta de Chico Mendes pela criação das Reservas Extrativistas. A complexidade do assunto desperta a pergunta: como utilizar de forma sustentável os recursos florestais do país? Entre as inúmeras respostas, formuladas por ambientalistas e órgãos de governo, encontramos o Manejo Florestal Comunitário e Familiar (MFCF). Para falar sobre o tema, conversamos com o mestre em Agriculturas Familiares e Desenvolvimento Sustentável e coordenador executivo da ONG Instituto Internacional de Educação do Brasil (IEB), Manuel Amaral Neto. Ele é coautor de 16 publicações e mais 30 artigos científicos e técnicos relacionados ao MFCF.
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TEXTO LUCAS FILHO FOTOS ACERVO IEB
LUCAS FILHO / ACERVO IEB
Como caracterizar o MFCF? Basicamente é uma modalidade de uso do recurso florestal, realizado por famílias, comunidades locais ou grupos sociais mais amplos. Eles estabelecem direitos e compromissos formais com a manutenção da floresta no longo prazo. Os objetivos sociais, econômicos e ambientais desse manejo se integram em uma paisagem ecológica e cultural, produzem madeira e produtos florestais não madeireiros (óleos, sementes), tanto para consumo, como para o mercado. A formalização do MFCF é feita principalmente pelo estabelecimento de um Plano de Manejo Florestal (PMF) que deve ser aprovado por órgãos ambientais.
PARA O COORDENADOR EXECUTIVO DA ONG INSTITUTO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO DO BRASIL (IEB), MANUEL AMARAL NETO, O USO SUSTENTÁVEL DA FLORESTA POR COMUNIDADES TRADICIONAIS É UMA ALTERNATIVA PARA CONTER A EXPLORAÇÃO ILEGAL DA MADEIRA E O DESMATAMENTO.
“Os pesquisadores têm demonstrado resultados satisfatórios do uso de técnicas de impactos reduzidos para adoção do manejo sustentável. É visível a capacidade de regeneração em áreas sob manejo, quando comparada com o uso sem manejo em uma atividade florestal”
diante de uma forma predatória de utilização da floresta. Em relação a outros países, como o Brasil está na adoção do manejo de baixo impacto realizado pelas comunidades? O protagonismo das comunidades na formalização e implementação de planos de manejo na Amazônia brasileira é recente. Data da segunda metade dos anos de 1990. O Programa Piloto para Proteção das Florestas Tropicais do Brasil (PPG7) foi quem impulsionou os primeiros planos de manejo madeireiro. Países como a Bolívia, Peru e Equador também desenvolvem sistemas de manejo por comunidades. No entanto, na América Central, países como México e Guatemala apresentam experiências mais consolidadas de MFCF. Os dados oficiais apontam a existência de cerca de 900 planos de manejo praticados por famílias e comunidades na Amazônia brasileira. Existe potencial para muito mais. Porém, antes disso, é preciso desenvolver capacidades locais para as famílias
KÁTIA CARVALHEIRO / ACERVO IEB
HERMAN NASS / ACERVO IEB
Quais as qualidades dessa forma de aproveitamento da floresta? Estudos demonstram que a adoção do manejo reduz o dano à floresta e aumenta a eficácia no aproveitamento de seus produtos. Em função da diversidade de espécies encontradas em florestas tropicais, essa atividade tem enorme potencial de mercado. Além disso, quando o manejo é praticado em áreas comunitárias, por grupos de usuários locais, torna-se possível fortalecer o controle social na utilização dos recursos florestais. Ou seja, as famílias não só podem participar da fatia do mercado de madeira tropical, como também podem se tornar aliadas estratégicas para a conservação ambiental. É importante esclarecer que a implementação de planos de manejo requer um planejamento de longo prazo. Por isso, é necessário o desenvolvimento de técnicas de impacto reduzido. Sem a adoção desses métodos o recurso pode ficar escasso rapidamente, ou seja, vamos estar
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ENTREVISTA
manejarem suas áreas. Aprender mais com as experiências dos países vizinhos poderia ser um caminho interessante.
Na sua avalição, se o MFCF é tão eficaz para cumprir uma meta importante do Acordo de Paris (em relação a 2005, cortar as emissões de gases do Brasil em 37% até 2025), por que ele tem sido pouco utilizado entre as políticas públicas de contenção do desmatamento? Falta ao Estado brasileiro incorporar as comunidades na agenda de gestão de florestas públicas. Mais de 60% dessas florestas são comunitárias, como exemplo assentamentos da Reforma Agrária, Unidades de Conservação e Territórios Indígenas. Se por um lado esses territórios de florestas comunitárias constituem uma barreira natural para o avanço do desmatamento, por outro é importante viabilizá-los com políticas públicas de promoção de alternativas sustentáveis. Especificamente no caso do MFCF, há 30 • REVISTA AMAZÔNIA VIVA •
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LUCAS FILHO / ACERVO IEB
É possível afirmar que o manejo da floresta ajuda a conter o desmatamento? Como? Não resta a menor dúvida que sim. Os pesquisadores têm demonstrado resultados satisfatórios do uso de técnicas de impactos reduzidos para adoção do manejo sustentável. É visível a capacidade de regeneração, imitando o comportamento natural da floresta, em áreas sob manejo, quando comparada com o uso sem manejo em uma atividade florestal. No entanto, ainda é preciso que a maioria das empresas florestais passe a adotá-las. Além disso, do ponto de vista da conservação, o manejo é muito mais interessante quando comparado a outros usos do solo, como agricultura e pecuária intensiva. Porém, ainda é comum o manejo ser confundido com desmatamento. Esse entendimento só ajuda a fortalecer o mercado ilegal e predatório de recursos florestais.
um programa do governo federal, criado em 2009, que ainda não saiu do papel. No Pará, há quatro anos discute-se a formulação de um programa estadual de apoio do MFCF. É possível mudar o cenário e dar escala a essa modalidade de manejo? Sim. Primeiro, porque é necessário incorporar as florestas comunitárias na equação do abastecimento do setor madeireiro. Por exemplo, as florestas comunitárias da Amazônia são capazes de abastecer 60% da demanda potencial do mercado de madeira no Brasil. Além disso, o MFCF constitui-se, juntamente com as Concessões Florestais e a Certificação Socioambiental,
PRESERVAR PARA O FUTURO
A ausência de técnicas de manejo na extração da madeira pode levar à escassez do produto. Ou seja, a exploração predatória da floresta prevalecerá.
“Se por um lado esses territórios de florestas comunitárias constituem uma barreira natural para o avanço do desmatamento, por outro é importante viabilizá-los com políticas públicas de promoção de alternativas sustentáveis” como dispositivos potenciais para o aumento do controle social sobre a exploração florestal na Amazônia. No entanto, é preciso articular políticas públicas de promoção do manejo florestal comunitário. Qual o papel da sociedade civil nesse cenário? Veja que a sociedade civil organizada deva qualificar demandas, articular políticas públicas e promover a governança florestal. De um modo geral, setores das ONG, movimentos sociais e instituições de pesquisa têm demandado o tema a diferentes estruturas de governo: seja na implementação do Pro-
grama Federal de Apoio ao Manejo Florestal Comunitário e Familiar, como também na estruturação de um Programa Estadual de Apoio do Manejo Florestal, submetido aos órgãos estatuais no Pará. Além disso, está em curso no Pará a constituição de um Observatório do Manejo Florestal Comunitário e Familiar. Trata-se de uma iniciativa de organizações comunitárias, ONGs e instituições de pesquisa. Eles elaboraram uma agenda em defesa dos territórios de f lorestas comunitárias no Estado com o objetivo de promover o diálogo e a integração de ações que promovam o manejo e uso sustentável dos recursos naturais. AGOSTO DE 2017
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CAPA
A FORÇA DO SABER DA AMAZÔNIA
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OS CONHECIMENTOS POPULAR E CIENTÍFICO SE DÃO AS MÃOS EM FAVOR DA QUALIDADE DE VIDA DOS AMAZÔNIDAS TEXTO FERNANDA MARTINS FOTOS NAILANA THIELY
Q
uem nasceu no Pará e tem mais de 30 anos dificilmente escapou de uma “cura” na garganta em períodos de gripe. Aplicado pela mãe e orientado pela avó, o método consiste em aplicar o óleo de andiroba diretamente na garganta para acelerar seu poder curativo e livrar a criança dos fluidos e inflamação local. Entretanto, é cada vez menos comum o uso deste conhecimento tradicional nas metrópoles amazônicas, o que em muito se deve à adesão ao saber científico, que prescreve remédios e tratamentos desenvolvidos dentro de um método à luz da Ciência.
Os saberes intuitivos e práticos são relegados a uma condição mística, levando, por exemplo, tratamentos naturais a serem vistos como algo exótico e curioso. Dispostos a mudar este cenário e dar ao saber tradicional a reverência e respeito que merece, diversas correntes acadêmicas se interessam valorizar e preservar o conhecimento ancestral, buscando compreendê-los e validá-los como uma rica fonte de informações capazes de solucionar problemas atuais da humanidade. Há 34 anos trabalhando com remédios e tratamentos feitos puramente com ervas medicinais, Clotilde de
Souza, conhecida internacionalmente como Dona Coló, é uma das erveiras mais reverenciadas do Ver-o-Peso. Do alto dos seus 65 anos e membro da terceira geração de erveiras da família, ela iguala seus conhecimentos aos de um profissional de saúde. “O médico tem o diploma, mas eu tenho a sabedoria. Mal sei assinar meu nome em um papel, embora saiba receitar tratamentos para os mais diversos males do corpo e da alma”, resume. Todas as ervas comercializadas na barraca nº 34 são plantadas, colhidas e manipuladas por ela em seu quintal, que
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também é a fonte de toda a medicina consumida pelos nove filhos e sete netos. Dona Coló revela o ingrediente principal de todos os seus preparados. “A fé e a positividade, tanto minha, que preparo, como a de quem consome são fundamentais para o sucesso do tratamento. Acho que não só aqui como em qualquer situação da vida”, descreve. Ela afirma nunca ter tido seus conhecimentos colocados em xeque, mas garante que existe uma barreira para sua aplicação. “Eu gostaria de ver a medicina tradicional no mesmo patamar de importância da medicina acadêmica, embora não acredite que chegue a ver esse dia, pois tudo que é comprovado, é tirado do saber tradicional e aplicado como um ‘achado’ científico”, observa. A descrença de Dona Coló com o reconhecimento de seu saber contrasta com a visão mais aberta de Rosineide de Oliveira Braga, de 34 anos, vinte destes dedicados à manipulação de ervas medicinais. “Eu sou uma cuidadora e tenho plena confiança nos meus conhecimentos, embora acredite que o saber tradicional e científico podem andar de mãos dadas”, opina. Para ela, a investigação dentro do método científico pode ser positiva para definir doses e meios de utilização das plantas. “É muito bom perceber que hoje em dia até mesmo médicos receitam chás e tinturas, pois reconhecem seu efeito. Acho que, contanto que não haja apropriação do conhecimento e seja preservado o respeito, essa abertura vai gerar muitas coisas boas para todo mundo”, diz.
VIDA E CULTURA NO SÉCULO XXI Há algumas centenas de milhares de anos, o conhecimento empírico e de observação garantiu a existência dos seres humanos e sua organização em 34 • REVISTA AMAZÔNIA VIVA •
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INTI LICENÇA GFDL CC BY SA 3.0
CAPA
ENCONTRO DE CONHECIMENTOS A erveira Dona Coló acredita na coexxistência entre os saberes tradicional e científico. A curadora do herbário da Uepa, Flávia Lucas (à esquerda), diz que existe uma tendência global da comunidade científica de “retorno ao natural”. A acadêmica Jamylle Campos (abaixo) investiga os efeitos anti-inflamatórios da andiroba associada ao ultrassom no tratamento de lesões em ratos.
sociedade. Todas as ciências nasceram do saber acumulado através das gerações. Porém, em um momento bem mais recente da história, o conhecimento tradicional foi para o banco de trás, dando lugar ao saber advindo da experimentação científica, que passou a ser a fonte número um do conhecimento. O exemplo das ervas é apenas um entre uma vasta gama de conhecimentos, que vão desde o comportamento de animais e identificação de venenos ao tratamento do solo e até o curso das águas, da nascente aos rios. Buscando trazer ao debate o cuidado de resguardar o imenso patrimônio material e biológico presentes nas diversas comunidades do Brasil, a academia tenta popularizar hoje o conceito de Bioculturalidade. “Há uma tendência global de retorno ao natural. A Etnobiologia e todas as etnociências já demonstram isso. Tentamos agora repensar nossas relações com as comunidades tradicionais”, comenta a curadora do Herbário Marlene Freitas da Silva, da Universidade do Estado do Pará (Uepa), professora doutora Flávia Lucas. O movimento mundial de resgate, preservação e respeito ao conhecimento tradicional se encontra em estágio bastante avançado se comparado ao Brasil. “O que nos alerta e nos choca é que na Amazônia isso ainda é muito tímido. Precisamos mudar este posicionamento para ontem. Vivemos em uma área de muita vulnerabilidade e é preciso que as pessoas que aqui vivem se deem conta do que está à sua volta e prestem real atenção para onde estão morando”, alerta a pesquisadora. E, ao contrário do que determina o nosso imaginário, dominado pelos estereótipos reforçados no dia a dia, o conhecimento tradicional não se encontra apenas nas mãos de comunidades indígenas, quilombolas ou ribeirinhas. Para exemplificar isso, Flávia Lucas relembra uma pesquisa que desenvolveu em 189 quintais periurbanos do município de Abaetetuba. “Em cada um desses quintais existe AGOSTO DE 2017
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CAPA
uma pessoa que é referência no conhecimento e aplicação das plantas ali cultivadas. E o conhecimento de cada uma delas é específico às necessidades daquela família ou vizinhança, também passado oralmente de geração a geração. Tradição e cultura se desenvolvem em qualquer lugar, entretanto, persiste uma ideia um tanto naturalista de que comunidades tradicionais só terão repertório tradicional se estiverem no mato”, ressalta. Neste ponto, a universidade entra com o método científico para catalogar informações que então serão compartilhadas com a sociedade. “A nova Lei de Biodiversidade veio prevenir práticas antiéticas que foram exercidas durante muitos anos, quando o pesquisador chegava em uma comunidade, se servia de seus conhecimentos e ia embora levando aquilo para si. Hoje, há protocolos sérios, muitos passos a serem seguidos para chegar a uma comunidade e conduzir uma coleta de dados”, explica. A experiência de compartilhar conhecimentos ancestrais com cada comunidade é descrita com emoção pela pesquisadora. “Quando chegamos ao local, as titulações perdem o sentido, pois nos vemos diante de um repertório tão rico e tão profundo, sem data de início. É imemorial. Nos sentimos muito pequenos diante de tantos detalhes, preservados apenas pela oralidade”, analisa Flávia Lucas. O contato, quando realizado de forma ética, se transforma em um canal de conectividade espontânea. “Somos meros observadores, eles são os protagonistas”, completa. Reverter o quadro atual, na avaliação da pesquisadora, é uma das missões da universidade. “A Bioculturalidade cabe nos currículos de todos os cursos. É nossa obrigação conscientizar esses profissionais em formação do seu entorno. Fazê-los perceber que vivem rodeados de um bioma rico e cheio de peculiaridades e é missão deles trabalhar e reconhecer isso”, conclui.
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PADRONIZAÇÃO
No herbário da Uepa, as informações sobre plantas e ervas medicinais da Amazônia são catalogadas sob métodos científicos universais
CONHECIMENTO GERA INCLUSÃO SOCIOCULTURAL O Plano Nacional de Formação de Professores da Educação Básica (Parfor), executado pela Uepa, trabalha para ampliar o diálogo entre os saberes, quando professores também se tornam alunos ao interagir com comunidades tradicionais. “Foi a partir da experiência como professores formadores que tivemos o olhar voltado para uma nova relação pedagógica ao trabalhar a formação de professores no Parfor, ou seja, estabelecer um contato formativo em dimensões diferenciadas das que temos com a graduação extensiva, cujo perfil do alunado é totalmente distinto. Nesse ponto, há um desafio muito grande e ao mesmo tempo um rico aprendizado”, resume a coordenadora do Parfor na Uepa, a professora doutora Kátia Melo. O Parfor/Uepa já formou 1.505 professores, atualmente conta com aproximadamente 49 turmas e cerca de 1.436 alunos em formação em mais de 30 municípios do Pará. A experiência desses professores em formação, que trazem uma bagagem de saberes, obrigou a coordenação do pro-
ACOMPANHAMENTO
A coordenadora do Parfor, Kátia Melo, comemora a formação de professores inseridos nas comunidades tradicionais
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CAPA
grama a rever seus métodos. “Isso é legítimo e de extrema importância para a academia, que precisa incluir saberes pulsantes e orgânicos de nossa Amazônia paraense, enfrentando aquilo que Boaventura Santos chama de ‘sociologia das ausências’ no seio da academia, ou seja, nesse espaço devem estar presentes outros saberes”, pontua a coordenadora, que cita como exemplo as turmas interculturais indígenas recém-formadas dos povos Waiwai e Tapajós Arapiuns. “A turma Waiwai começou e terminou com 36 alunos. Não teve evasão, isso é emblemático no programa, pois se trata de um povo falante da língua nativa, suas aulas sempre necessitavam de intérpretes. Essa foi uma experiência riquíssima para os professores formadores desta turma, na medida em que além da difusão do conhecimento, necessitavam de deslocamento para as aldeias, buscar modos e métodos de comunicabilidade e reciprocidade no processo formativo”, relembra. Diante de 38 • REVISTA AMAZÔNIA VIVA •
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todas as adversidades, eles chegaram até o final do curso, e já protocolaram na coordenação do Parfor o pedido de uma pós-graduação, o qual foi encaminhado ao Centro de Formação dos Profissionais da Educação Básica do Estado do Pará (Cefor)
e ao Fórum Regional do Parfor. A outra turma intercultural, dos Tapajós Arapiuns, cuja sede do curso funcionava no campus da Uepa em Santarém, também reunia uma especificidade: alunos de oito etnias diferentes, que também trocaram conheci-
EM BUSCA DE RESPOSTAS
Os pesquisadores do Laboratório de Morfofisiologia Aplicada à Saúde da Uepa também desenvolvem diversas linhas de pesquisa com base no conhecimento tradicional da Amazônia
mentos entre si. “Isso reitera a necessidade da relação entre os saberes tradicionais e científicos numa perspectiva de descolonização do saber, mostrando que todos são fundamentais para a sociedade com vistas à preservação da humanidade”, pondera a coordenadora. Para garantir que a troca de conhecimentos se dará de forma adequada, as Instituições de Ensino Superior (IES) debatem constantemente a respeito do perfil do professor formador, uma vez que ele precisa estar atento e aberto a um processo formativo interativo, participativo, que implica flexibilidade, escuta e respeito aos professores que estão em formação e de sua base de conhecimento. “Nesta direção, a perspectiva freireana (com base nos pensamentos do educador Paulo Freire) é fundamental, para pensar a educação de forma dialógica, democrática e plena de respeito. A questão do conflito dos saberes científicos e tradicionais perpassa pela quebra do paradigma de que o saber científico é a verdade absoluta. Esse é um grande exercício. Todavia, o professor formador que não entende isso, passa ao largo do programa”, diz Kátia Melo. A solução para a abertura do diálogo proposta pela coordenadora é similar àquela apresentada por Flávia Lucas: a inclusão do conhecimento tradicional amazônico nos currículos universitários. “Há uma necessidade que mais autores amazônicos estejam nos currículos, nas leituras obrigatórias, bem como autores latinos americanos. Isso
não implica em um abandono aos clássicos europeus e estadunidenses, mas sim que possamos conhecer e nos apropriar da produção latino-americana, o que representará a afirmação identitária, a qual traz ao seu povo uma maior clareza sobre si, autonomia e soberania”, defende. A opinião de Kátia Melo ecoa a do reitor da Uepa, Rubens Cardoso, que reconhece a necessidade de inclusão do conhecimento tradicional produzido na Amazônia e de estabelecer uma conexão direta com as comunidades. “O Pará é multicultural. Sendo a Uepa uma das maiores universidades multicampi da região, é natural que estejamos em posição de ampliar este diálogo”, observa. “Evoluir é necessário, inovar também. Entretanto, é possível construir conhecimento incluindo o saber tradicional, ao invés de negá-lo. É uma questão de mediação e respeito e ainda temos muito a aprender com eles”, acrescenta.
RESPEITO PELAS TRADIÇÕES POPULARES
A integração do saber tradicional na academia também inclui as pesquisas na área de Saúde. O Laboratório de Morfofisiologia Aplicada à Saúde da Uepa possui diversas linhas de pesquisa que têm por princípio introduzir em suas investigações o conhecimento tradicional e diversos pesquisadores determinados a validar o que também lhes foi passado através de gerações. “O saber popular guia
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CAPA
a pesquisa. Todo amazônida tem algum grau de contato com o conhecimento tradicional. Usamos isso para definir as plantas e as substâncias a serem estudadas e suas aplicações”, diz o coordenador interino do Laboratório, professor doutor Anderson Bentes, que também passou pela experiência da “cura” da garganta com andiroba quando criança. Conforme a opinião da professora doutora Flávia Lucas, curadora do herbário da Uepa, a inclusão do conhecimento tradicional na academia em instituições do exterior é mais amplo. “Algumas publicações são específicas para isso e outras exigem que este saber seja incluído no trabalho, respeitando todos os protocolos de preservação. Revistas alemãs e americanas bastante renomadas adotaram esses procedimentos para publicação de artigos”, conta o pesquisador. A mobilização dos cientistas paraenses não para nos muros da Uepa, que mantêm parceria ativa com diversos laboratórios da Universidade Federal do Pará (UFPA) para realização de seus estudos. “O que tentamos fazer é determinar as doses adequadas para as diversas aplicações. Algumas plantas, se utilizadas em excesso, são tóxicas. 40 • REVISTA AMAZÔNIA VIVA •
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Como muitas pessoas veem os remédios naturais como inofensivos, isso pode ser prejudicial se não houver uma orientação neste sentido”, ressalta Anderson Bentes. Os olhos da aluna de Terapia Ocupacional Renata Silva denunciam a paixão pelo conhecimento tradicional ao relembrar seu bisavô. “Ele tinha um quintal com diversas plantas em Vila da Paz e sabia como usar cada uma delas. Eu o reverenciava, tudo que ele sabia e como as pessoas o respeitavam por dominar aquele conhecimento. Por causa dele quis ser pesquisadora”, revela. Atualmente, ela trabalha com a aplicação do extrato liofilizado da aloe vera amazônica associado ao ultrassom em ratos com tumor de Ehrlich, para verificar sua eficácia no tratamento. A pesquisa é orientada pelo professor doutor Jofre Freitas, e ainda está em andamento, mas já apresenta resultados promissores. “O ideal é que na região amazônica consigamos chegar ao nível das pesquisas e utilização de plantas medicinais que é feita no Japão, onde existem muitas pesquisas sobre os reais efeitos de cada planta e de seus compostos sobre o nosso
MAIS ACESSO À POPULAÇÃO
Para o acadêmico João Paulo Menezes (à direita), as pesquisas voltadas para tratamentos alternativos de doenças podem amparar políticas públicas futuras no Sistema Único de Saúde
organismo saudável e doente. Da mesma forma, existe uma forte regulação sobre os produtos que são lançados no mercado permitindo que cerca de 70% dos médicos japoneses prescrevam para seus pacientes a utilização de plantas medicinais”, explica Freitas, que também coordena o Laboratório de Morfofisiologia. As professoras doutoras Tereza Cristina e Kátia Kietzer orientam a aluna Jamylle Campos na pesquisa que investiga os efeitos anti-inflamatórios da andiroba associada ao ultrassom no tratamento de lesões em ratos. “Investigar um tratamento tradicional não parte de uma desconfiança de sua eficácia e sim da certeza de que aquilo funciona, pois crescemos com aquilo. Sabemos que dará certo e queremos mostrar para o mundo, dentro do método científico, que funciona”, esclarece a professora Tereza. O pariri, também conhecido em outras partes da Amazônia como crajirú, é o objeto da pesquisa dos alunos João Paulo Menezes e Raphaely Progênio. Orientados pelos professores Rodrigo Santiago e George Dias, eles investigam o poder da planta na cicatrização de pele lesionada de ratos. “Sempre tive uma forte ligação com a área da Saúde Pública e as plantas são um remédio acessível para a população. Vejo que a abertura para tratamentos alternativos é cada vez maior e o respeito também é crescente. As pesquisas podem amparar políticas públicas futuras que incluam estes tratamentos no Sistema Único de Saúde (SUS)”, espera João Paulo Menezes. AGOSTO DE 2017
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SUSTENTABILIDADE
A cara da Amazônia
FOTOS: AMANDA LELIS
Livro lançado pelo Instituto Mamirauá conta histórias de pessoas engajadas com um projeto de conservação no oeste da região amazônica
À
frente do caminho, Luiz Sérgio dos Reis mostra, todo orgulhoso, as hortas e árvores que crescem na comunidade Boa Esperança. “Será que os que vão vir depois de nós vão ver essa fartura de recursos?”. A pergunta carrega o cuidado e a responsabilidade típicos de Seu Luiz, há mais de 42 • REVISTA AMAZÔNIA VIVA •
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uma década no serviço voluntário de agente ambiental da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Amanã, no Amazonas. “Para mim, preservar é amor pela natureza e pelos nossos familiares. As pessoas têm que sentir que têm dever de preservar e garantir o futuro para os que vão vir”, diz. Essa é uma das histórias con-
tadas em “Protagonistas: relatos de conservação do Oeste da Amazônia”. O livro, recém-lançado pelo Instituto Mamirauá, refaz os quatro anos de um projeto de conservação e sustentabilidade na Amazônia pela visão de doze pessoas ligadas a ele. São moradores de comunidades ribeirinhas, como o Seu Luiz, agricultores,
ZELADOR DA NATUREZA
Há dez anos, Luiz Sérgio dos Reis (acima) atua voluntariamente como agente ambiental da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Amanã, no Amazonas
professores, cientistas, técnicos e assistentes de pesquisa que traduzem, à sua maneira, o que é o BioREC. “Bio” de biodiversidade e “REC” de redução das emissões de carbono. Assim é chamado, por seus realizadores e parceiros, o projeto Mamirauá: Conservação e Uso Sustentável da Biodiversidade em Unidades de Conservação. A sigla resume também uma das diretrizes da iniciativa, que é diminuir e transformar práticas causadoras de conversão florestal, degradação ambiental e emissões de gases de efeito estufa. O projeto é desenvolvido desde 2013 pelo Instituto Mamirauá, organização social e unidade de pesquisa do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações. Todas as atividades acon-
tecem nas Reservas de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá e Amanã, unidades de conservação localizadas na região do médio Rio Solimões, Estado do Amazonas. Mamirauá e Amanã são duas das maiores áreas protegidas em floresta tropical da América do Sul, medindo 1.124.000 e 2.350.000 hectares, respectivamente. Somadas ao vizinho Parque Nacional do Jaú, elas formam um corredor de proteção superior aos territórios de países como Costa Rica e Suíça. O alcance do BioREC não é medido apenas pela extensão ambiental: calcula-se que 13 mil pessoas sejam beneficiadas de forma direta ou indireta pelas ações do projeto. O foco é apoiar ações de manejo e gestão participativa nas Reservas Mamirauá e Amanã, com pesquisa, desenvolvimento
e divulgação de conhecimentos nos seguintes temas: ecologia florestal, manejo de agroecossistemas, manejo florestal sustentável madeireiro e não madeireiro, educação ambiental, proteção ambiental e monitoramento do uso do solo. “As ações do projeto e seus resultados representam uma grande contribuição para a conservação da Amazônia e para a qualidade de vida das populações locais, além de terem um efeito demonstrativo de forte impacto sobre a formulação de políticas públicas voltadas para o desenvolvimento sustentável da região”, afi rma Paulo Roberto e Souza, responsável técnico do BioREC, fi nanciado pelo Fundo Amazônia, gerido pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).
FORMAÇÃO AMBIENTAL
Em torno de 13 mil pessoas são beneficiadas de forma direta ou indireta pelas ações do projeto do Instituto Mamirauá
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FOTOS: AMANDA LELIS
SUSTENTABILIDADE
O manejo florestal é uma das frentes do projeto. As atividades se concentram na Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá, localizada cerca de 600 km da capital do Amazonas, Manaus. Ao lado da pesca e da agricultura, o manejo florestal compõe o calendário ribeirinho, com destaque para a extração e venda de madeira. Todo o processo é acompanhado pela equipe do instituto e segue a legislação estadual que regulamenta a atividade. Ao lado dos técnicos, está Jezenias Guedes Nogueira, assistente de manejo do Instituto Mamirauá desde 2007. Ele tem uma função essencial nas capacitações de manejo florestal: é o treinador dos manejadores. “A gente faz uma demonstração, primeiro com um corte. Depois, vai treinando as pessoas. Assim, elas vão se capacitando, se aprimorando, para usar as técnicas certas para redução de impacto e para reduzir a perda da madeira”, diz. Segundo ele, nem sempre é fácil treinar. “No início, tem a dificuldade de manusear os 44 • REVISTA AMAZÔNIA VIVA •
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equipamentos para aprimorar os cortes. Mas, antes de ir para campo, a gente faz uma parte na teoria, faz os desenhos, e quando vai para a prática. Aí eles já começam a entender mais como funciona. E a gente vai repassando para eles, para ter aproveitamento da madeira e também pensar na segurança do operador”, alerta o treinador. Jezenias é morador de uma comunidade com tradição na exploração da madeira, a comunidade do Barroso. Lá, ele foi se familiarizando com o manejo em “casa mesmo”.
DE OLHO NA FLORESTA
No BioREC, as ações de manejo e desenvolvimento em comunidades ribeirinhas e a pesquisa são inseparáveis. Os resultados dos estudos sobre a dinâmica das florestas alagadas e de terra firme que compõem as reservas Mamirauá e Amanã são a base para atividades como o manejo florestal e de recomposição de áreas degradadas. E a pesquisa não seria possível sem eles, os assistentes de campo.
DE MÃOS DADAS
No BioREC, as ações de manejo e desenvolvimento em comunidades ribeirinhas e a pesquisa são inseparáveis. Tudo com a ajuda dos moradores da área.
São homens e mulheres que vivem há muitos anos naquela região e conhecem muito bem os caminhos e a linguagem da mata. É o caso de Erivan Lima de Castro, assistente de campo das pesquisas em ecologia florestal do Projeto BioREC. Morador da comunidade Jarauá, na Reserva Mamirauá, desde que nasceu, de tanto acompanhar o pai em atividades na floresta, Erivan se tornou um especialista em reconhecer espécies florestais. Ele não sabe ao certo quantas delas conhece, mas garante: “Ainda não contei não, mas não é pouca. Andava com meu pai na floresta e ia perguntando. O nome que o papai dizia, eu gravava, observando a madeira”. Nos últimos anos, Erivan participou de atividades de campo que avaliaram a ciclagem de nutrientes da floresta para o solo. Esse movimento de troca, também chamada de reciclagem ecológica, é importante para conhecer a qualidade do ecossistema florestal. Para o monitoramento da quantidade de matéria orgânica absorvida pelo ambien-
te, foram instaladas 240 bolsas preenchidas com folhas no período seco e mais 300 bolsas no período de cheia que foram deixadas em pontos específicos da floresta, recolhidas e monitoradas em determinados períodos. Um dos objetivos da pesquisa foi comparar a velocidade de decomposição nos períodos de seca e cheia amazônicas. “Ele soube fazer as melhores adaptações para que o projeto realmente desses os resultados que deram até agora. Sou muito grata”, conta a bióloga e pesquisadora do Instituto Mamirauá, Fabiana Letícia de Oliveira, que desenvolveu o estudo. Para Filomena Nunes, o BioREC é sinônimo de energia e mudança. Ela também vive na comunidade Boa Esperança que, em maio, inaugurou a Casa de Polpa de Frutas. A unidade, desenvolvida em uma parceria do projeto com os comunitários e a Prefeitura de Maraã, é uma experiência piloto na Amazônia na produção e acondicionamento de polpas de frutas utilizando um sistema de captação de energia solar e de abastecimento de água. AGOSTO DE 2017
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SUSTENTABILIDADE
VISTORIA DA FLORA AMAZÔNICA
Levantamento de estoque para manejo florestal na comunidade Aiucá, Reserva Mamirauá
Antes da Casa de Polpas, grande parte da produção de frutas era perdida, em função das dificuldades de transporte para as cidades próximas ou de armazenamento na própria comunidade. A viagem para o município de Tefé em geral é feita de canoa a motor e pode durar até 10 horas, dependendo da época do ano e do fluxo do rio. A alta temperatura da região e o modelo de transporte levam a uma perda rápida da produção agrícola. “Antes da unidade, a maioria do cupuaçu que a gente pegava estragava. E a gente cortava a polpa com a tesoura, doía muito e cansava também. Agora não, rapidinho a gente faz muita polpa”, lembra Filomena, que é coordenadora do grupo de mulheres e uma das líderes da Casa de Polpa de Frutas. 46 • REVISTA AMAZÔNIA VIVA •
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Além da produção e venda de polpas, os planos do grupo de mulheres da comunidade também envolvem doces e outras delícias que poderão ser feitos a partir do beneficiamento de frutas regionais, como o açaí e o cupuaçu. “Estamos pensando em doces, balas e geleias. A ideia é aproveitar tudo, gerar mais renda e trazer mais benefícios para a comunidade”, conta Filó, como é conhecida na Boa Esperança. Para manter a Casa de Polpas funcionando, foram instalados 30 módulos solares, e um conjunto de 24 baterias, que garantem uma autonomia de dois dias e meio para o funcionamento dos equipamentos. “É o maior sistema de energia solar, com este perfi l e com essa configuração, no alto e médio rio Solimões”, diz
Josenildo Frazão, técnico em tecnologias sociais no Instituto. “O objetivo do projeto, nessa linha de ação, é apoiar mudanças que auxiliem em outras formas de uso da floresta e do solo e, principalmente, práticas que ajudem na conservação da agrobiodiversidade”, ressalta a coordenadora do Programa de Manejo de Agroecossistemas do Instituto Mamirauá, Fernanda Viana.
SERVIÇO O livro “Protagonistas: relatos de conservação do Oeste da Amazônia” foi lançado em julho na 69ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), em Belo Horizonte (MG) A versão digital do livro pode ser baixada gratuitamente no site do Instituto Mamirauá: www.mamiraua.org.br/protagonistas
ARTE, CULTURA E REFLEXÃO
A alegria da leitura O ESCRITOR PAULO MAUÉS CORRÊA É UM ENTUSIASTA DA LITERATURA NA FORMAÇÃO INTELECTUAL DA SOCIEDADE PÁGINA 48
MEMÓRIAS
GRANDES PROJETOS
O escritor paraense Max Martins deixou um rico legado na poesia modernista feita na Amazônia. PÁG.52
O biólogo Inocêncio Gorayeb comenta sobre o risco à população ribeirinha causado pela construção de Belo Monte. PÁG.58
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FERNANDO SETTE
PENSELIMPO
PAPO DE ARTISTA
um caboclo escritor O PROFESSOR PAULO MAUÉS CORRÊA ESCREVE LIVROS SOBRE AS MEMÓRIAS E O IMAGINÁRIO AMAZÔNICO QUE SE PERPETUAM NO INTERIOR E CENTROS URBANOS DO PARÁ POR MEIO DA ORALIDADE DE GENTE SIMPLES DO POVO TEXTO SÁVIO SENNA FOTOS FERNANDO SETTE
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“Antes a mãe comprava um livro para manter o filho em casa, hoje compra um jogo novo. A concorrência que o livro tem hoje em dia é muito maior, antes era só a rua. Hoje tem computador, celular, videogame e o professor tem que ser mais artista para encantar o aluno com o livro.”
aulo Maués Corrêa é um caboclo falador. E também escritor. Assim que recebe a equipe não para de contar histórias enquanto vai apresentando seus livros, retirando-os e colocando na estante da editora, um de cada vez. Fala sobre “A Loira do Banheiro”, lançado este ano na XXI Feira Pan-Amazônica do Livro, que atrai e assusta leitores de todas as idades. Comenta sobre a gigante pesquisa para “Cobra Grande: Terror e Encantamento na Amazônia”, maior obra sobre a lenda já publicada. E ainda lembra da estreia literária com “Inglês de Souza em Todas as Letras”, publicado em comemoração aos 150 anos do autor paraense, a convite do professor José Arthur Bogéa, que o considerava um “craque das vírgulas”. Como leitor, Paulo foi mais um dos capturados por “Visagens & Assombrações de Belém”, de Walcyr Monteiro, que o instigou a pensar a temática do terror amazônico, desde as lendas de seres fantásticos até o urbano “Carro Prata”. Como pesquisador, em breve irá lançar, junto com o Grupo de Pesquisa Makunaima, um ensaio sobre a oralidade na Amazônia, com base no trabalho de Vicente Salles, por quem revela grande admiração e felicidade quando lembra que começou a pesquisar no acervo homônimo. Atualmente, o jovem escritor participou da 2ª edição de “O Negro na Formação da Sociedade Paraense” e “Lundu - Canto e Dança do Negro no Pará”, primeiro livro publicado após o falecimento do antropólogo e folclorista paraense.
Estudar literatura, sobretudo paraense, fez muita diferença na minha formação enquanto leitor.
Como começou o encantamento pela literatura? Desde pequeno eu sempre fui encantado pelo objeto livro e tinham muitos livros e revistas em quadrinhos em casa porque minha mãe comprava. Na minha escola tinha sala de leitura, livros didáticos e eu fui ampliando o gosto pelo livro.
Por quê? Porque eu fui formado estudando escritores paraenses. Eu conheci Dalcídio Jurandir, Eneida de Moraes, João de Jesus Paes Loureiro e Ruy Barata na escola, ainda criança. Então, hoje, se tu perguntares para um adulto escolarizado quem são esses autores, eles dificilmente vão lembrar AGOSTO DE 2017
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PAPO DE ARTISTA
“Se eu não for bom um leitor dificilmente serei um bom escritor, porque se há um combustível para você escrever é a leitura. Todos os grandes escritores são, antes de tudo, bons leitores e conscientizar os estudantes a respeito disso é uma tarefa básica de qualquer professor formador de leitor.”
todos além dos que são nomes de praça e rua. Não conhecem porque não existe uma política de ensino de literatura, muito menos de literatura amazônica nas escolas. Nesse caminho para cá onde foi que isso se perdeu? Toda vez que muda o governo, muda tudo. Tudo que o sujeito anterior fez o próximo faz de conta que não existiu, ou se toma conhecimento, desfaz tudo. Foi assim que acabou. E a formação do leitor? Antes a mãe comprava um livro para manter o filho em casa, hoje compra um jogo novo. A concorrência que o livro tem hoje em dia é muito maior, antes era só a rua. Hoje tem computador, celular, videogame e o professor tem que ser mais artista para encantar o aluno com o livro. E como tu vês essa presença da tecnologia na educação hoje? Eu não vejo como um problema, apenas tem ser na medida certa. Eu trabalho com formação de professores e fico assustado quando o professor diz que não tem tempo para a leitura, mas não consegue se livrar do celular, que fica grudado na mão dele. Toda hora ele fica passando e recebendo mensagem. Soa meio contraditório e denuncia algo muito grave: que as pessoas, inclusive educadores, não veem a leitura como um prazer, e sim como uma obrigação. Até brinco com meus alunos e professores que eu nunca vi jaca cair de uma mangueira. Tu vislumbras algum caminho para que tenhamos uma população que leia mais? Primeiro o envolvimento da família. A criança que tem leitores em casa, tem um bom exemplo. A segunda é a escola, com investimento em bons professores e em terceiro, o apoio institucional. O governo tem que ter uma política séria de formação de leitores nas instâncias municipal, estadual e federal, com a composição de
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acervos, valorização e capacitação de professores, especificamente para essa área porque é diferente você dar aula e você desenvolver práticas de fomento à leitura. Para desenvolver estratégias de leitura você tem que exercer todo o seu encantamento sobre as pessoas que estão presenciando aquilo. Tem que saber jogar com outras ferramentas que vão muito além de uma prática pedagógica. E qual a importância de ler com frequência? Se eu não for bom um leitor dificilmente serei um bom escritor, porque se há um combustível para você escrever é a leitura. Todos os grandes escritores são, antes de tudo, bons leitores e conscientizar os estudantes a respeito disso é uma tarefa básica de qualquer professor formador de leitor. Mas isso não quer dizer que essa crise seja local, porque que é uma crise planetária. E o que é que tu costumas ler? Eu estou muito focado na elaboração da minha tese de doutorado, então eu leio muito sobre Amazônia. Sempre li na verdade, mas agora muito mais. Estava lendo muito sobre Nelson Rodrigues, porque concluí minha pesquisa de hobby sobre ele e sua obra. Mas também gosto muito de Literatura e Psicanálise, Semiótica e Crítica Literária. E com relação aos mitos, o que os mitos amazônicos têm a nos dizer? Não tem uma especificidade do mito amazônico porque o mito, de um modo geral, explica a origem das coisas, seja um objeto ou um comportamento. Sempre que eu tenho contato com uma narrativa eu procuro abstrair dela uma moralidade porque sempre há, mesmo nos mais grotescos. O Ataíde, de Bragança, é uma figura monstruosa, imensa e tem um aspecto de lama. Ele tem o pênis tão grande que dá a volta no pescoço e se encontrar as pessoas no meio do caminho vai estuprá-las. Qual a moralidade? Ele ataca as pessoas que estão em horário inapropriado de pescar ou tirar caranguejo. Ele é o guardião de uma norma de conduta. Os mitos também demarcam uma limitação de tempo e de espaço. Não pode naquele
Se a gente conversar com vigilantes de museus sempre vão contar histórias de assombrações também… O Walcyr Monteiro diz o seguinte: “Quando o progresso vai avançando as assombrações vão se afastando”. Eu não diria isso, elas vão se adaptando. Antes, por exemplo, as visagens apareciam e a pessoa ouvia barulho de carroça, hoje as pessoas relatam que ouvem barulhos de carro. A “Moça do Táxi” daqui a pouco vai dar uma volta de Uber. Existe possibilidade de explicar isso pelo imaginário, não como uma formação de imagens, mas como a deformação de imagens decorrentes de uma má percepção. Um fator determinante para que isso aconteça é o medo.
LEITURA POPULAR
Os livros de Paulo Maués Corrêa retratam a sociedade amazônica, desde o registro das memórias e causos até as obras de outros autores paraenses
igarapé, às seis horas da tarde, porque é o horário que a Iara está tomando banho. Se tu fores vai levar uma flechada. Contar histórias é uma forma de instrução. Tanto que quando vou dar um curso no interior tiro um tempo da disciplina para instrumentalizar os alunos a fazer esse registro porque é humanamente impossível uma pessoa só fazer esse trabalho. Qual o valor disso para nossa memória? Olha, isso pode ser reduzido numa expressão só: identidade cultural. Nós vive-
mos num contexto muito curioso porque há uma associação íntima entre o real e o imaginário. Não é um pensamento primitivo porque existe nas grandes cidades. Aqui em Belém, prédios tem má fama por conta de assombrações de gente que entrava para se jogar lá de cima. O Edifício Manoel Pinto da Silva é um exemplo, porque foi construído em um espaço da cidade que pertencia ao Cemitério da Soledade. A gente está numa das maiores metrópoles da Amazônia, mas o pensamento mítico impera.
Na mata então… Eu peguei uma história de um senhor lá de Urumajó. Na década de 70, ele se arrumou para uma festa, colocou a melhor calça boca de sino, uma moda na época, e foi. Na volta estava chovendo, mato molhado e resolveu voltar andando para casa. A chuva já tinha passado, aquele luar e ele começou a ouvir um barulho. Chap, chap, chap! Ficou com medo de olhar, caso fosse uma coisa tenebrosa, e aí chap, chap, chap, e começou a correr e o negócio acelerou também! Chapchapchap! Até que chegou um ponto que não ele aguentava mais e caiu. Daí se recuperou, levantou e silêncio total. Na verdade ele se tocou que não era nada além da calça larga dele, que umedeceu por causa do mato, com uma barra batendo na outra. O sujeito não formou aquela imagem, ele deformou porque começou a pensar no monstro que estava correndo atrás. Mas a explicação não compete ao povo, mas a quem vai estudar e analisar. Até porque o grande barato é não ter explicação. Tu achas que o progresso científico é capaz de explicar isso? Nãããão. Shakespeare ainda está vivo. “Há mais coisas entre o céu e a terra do que sonha a nossa vã filosofia”. Ainda tem uma cobra grande morando embaixo de Belém. AGOSTO DE 2017
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MEMÓRIAS BIOGRÁFICAS
O poeta da modernidade amazônica TEXTO ANA LAURA CARVALHO ILUSTRAÇÕES JOCELYN ALENCAR
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Max Martins 1926-2009
N
ascido em 20 de junho de 1926, em Belém, Max da Rocha Martins foi um poeta que representou a renovação da literatura no século XX e colocou o Pará numa posição de destaque na literatura nacional. Autodidata, dedicou-se à poesia por toda a vida, tendo transitado entre modernismo, concretismo e experimentalismo. Max, que morreu aos 82 anos, em 9 de fevereiro de 2009, se interessou muito jovem pela poesia, pois seu pai possuía um pequeno acervo em casa, onde o poeta encontrou a obra de escritores românticos do Brasil. Seus primeiros textos foram publicados em um jornal escolar, O Colegial. Foi a partir desse periódico que floresceu a amizade entre Max Martins, Haroldo Maranhão e Benedito Nunes. De 1945 a 1951, eles participaram do suplemento literário Arte-Literatura da “Folha do Norte”, de grande importância na época. Max fez estudos particulares nas áreas de literatura, poesia, artes e filosofia, a partir de 1934, e ainda colaborou com a revista literária Encontro, em 1948. Na Folha do Norte, publicou poemas que viriam a integrar seu primeiro livro, O Estranho, com o qual conquistou os prêmios Frederico Rhonsard, da Academia Paraense de Letras, e Santa Helena Magno, da Secretaria de Educação do Estado do Pará. Max Martins foi noticiarista e secretário de redação da Folha do Norte entre 1962 e 1964. Participou em Leitura de Poemas, com os poetas James Bogan, Age de Carvalho e Vicente Cecim, e na Oficina Literária Afrânio Coutinho, com Age de Carvalho, em 1980. Foi ele quem fundou e dirigiu a fundação cultural Casa da Linguagem, instituição voltada para o estudo e ensino da literatura, entre 1990 e 1994. Recebeu em 1993 o prêmio Olavo Bilac, da Academia Brasileira de Letras, pelo volume “Não para Consolar”, coletânea de toda a sua obra até então. Em 2001, recebeu o título de Doutor Honoris Causa da Universidade Federal do Pará (UFPA). Ao lado de Benedito Nunes, Francisco Paulo Mendes e Mario Faustino, Max Martins viu chegar a modernidade
na poesia brasileira, da qual se tornou um dos nomes mais importantes. As suas obras mais importantes foram traduzidas para o alemão, inglês e francês. Max Martins escreveu O Estranho (1952), Anti-Retrato (1960), H’Era (1971), O Ovo Filosófico (1976), O Risco Subscrito (1980), A Fala entre Parêntesis, com Age de Carvalho, à moda da renga japonesa - cadeia de poemas (1982), Caminhos de Marahu (1983), 60/35 (1985), Poema-cartaz Casa da Linguagem (1991), 3 Poemas - folder com desenho, colagem (1991), Marahu Poemas (1985), Não para Consolar (1992), Para ter Onde Ir (1992). A professora Lenilde Andrade Pinheiro, mestre em Comunicação, Linguagem e Cultura pela Universidade da Amazônia, estuda Max Martins desde a época da graduação. “Conheci o poeta em 1996, ano em que iniciei minha graduação em Letras na UFPA. Ganhei dois livros, mas Caminhos do Marahu me fascinou. Para mim, ali havia uma possível relação com a tradição da modernidade ocidental selada por Charles Baudelaire, cuja obra representou um marco no fazer poético do Ocidente, uma vez que nela o poeta conseguiu imprimir as transformações proporcionadas pelos fatos mais marcantes da modernidade: o aparecimento das cidades, o aperfeiçoamento da técnica, a ênfase aos elementos gerados pelo efêmero e pelo fugidio”, diz. Lenilde acredita que as escritas de Max Martins, impulsionadas pelos fatos da modernidade, tomaram abrangência universal e conseguiram imprimir o espírito brasileiro na forma de pensar temas. Nesse sentido, Max Martins inscreve sua poesia dentro dos parâmetros da intertextualidade com os discursos da modernidade, interagindo com o leitor, considerando o interlocutor de máxima importância para a consagração de uma obra literária. “Depois de me aprofundar um pouco mais em Caminhos de Marahu, penso que Max Martins poderia estar sendo lido em todo o país. Talvez esse fosse o modo mais efetivo de homenagear Max Martins”, avalia a educadora. AGOSTO DE 2017
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AGENDA ASCOM FCP
EXPOSIÇÃO A exposição “Látex”, com obras assinadas por grandes nomes da arte paraense, pode ser vista até o dia 25 de agosto, de segunda a sexta, de 9h às 17h, no Espaço Cultural do Banco da Amazônia, localizado na avenida Presidente Vargas, 800. As obras refletem parte da história da borracha no País. Entrada gratuita. Informações: (91) 4008-3491.
DOCUMENTÁRIO Indicado ao Oscar 2017 de melhor documentário em longa-metragem, a produção “Eu não sou seu negro”, de Raoul Peck, poderá ser visto de 24 a 30 de agosto, às 18 horas, no Cine Líbero Luxardo, na avenida Gentil Bittencourt, 650, Nazaré. Ingressos por R$ 12 (inteira) e R$ 6 (meia). Informações no (91) 3202-4321.
DIREITO
CURRO VELHO
INSCRIÇÕES PARA OFICINAS CULTURAIS
O Curro Velho e a Casa da Linguagem, espaços da Fundação Cultural do Pará, estão com as inscrições abertas até o dia 11 de agosto para o IV Módulo de Oficinas de 2017. Os cursos oferecidos cobrem as mais diversas áreas artísticas e linguísticas como audiovisual, linguagem visual, laboratório de animação e informática. No Curro Velho, serão realizadas aproximadamente 36 oficinas que estão distribuídas em cursos de desenho, xilogravuras, pintura, cerâmica, serigrafia, dublagem para desenho animado, ilustração, narrativas fotográficas, produção de vídeos, entre outros. Já na Casa
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De 26 a 28 de outubro, no Hangar Centro de Convenções da Amazônia, na avenida Dr. Freitas, Marco, será realizado o 3° Congresso Brasileiro de Processo Constitucional, voltado para estudantes e profissionais da área de Direito. Mais informações no site eventos.sereduc.com. da Linguagem, os cursos serão de desenho de observação, desenho e pintura para crianças e confecção de máscaras. Quem quiser participar deve se apresentar na secretaria da instituição escolhida para o curso portando documento de identificação RG ou certidão de nascimento - e comprovante de residência. Os alunos de escolas públicas podem fazer os cursos sem pagar a inscrição mediante a apresentação de comprovante de vínculo com a instituição de nível fundamental ou médio. Quem não for da rede pública pagará uma taxa de R$ 20 por oficina. As inscrições devem ser feitas presencialmente nos espaços onde elas serão realizadas. A Casa da Linguagem fica localizada na avenida Nazaré, próximo à Praça da República, e o Curro Velho na rua Professor Nelson Ribeiro, no bairro do Telégrafo. Mais informações pelos números (91) 3323-0302 (Casa da Linguagem) e (91) 3323-0020 (Oficinas Curro Velho).
CINEMA Até 1º de outubro o Sesc estará com inscrições abertas para a segunda edição da Mostra Sesc de Cinema. Cineastas independentes de todo o país podem inscrever seus trabalhos no site oficial da mostra. Os vencedores assinam um contrato de licenciamento de dois anos para exibição pública das produções nos espaços do Sesc em todo o Brasil, ampliando assim sua visibilidade nacionalmente. Mais informações pelo site do órgão: sesc.com.br/mostradecinema.
TECNOLOGIA O 2º Congresso Nacional de Ciências Exatas e Tecnologias será realizado de 28 a 30 de setembro, no Hangar, na avenida Dr. Freitas, Marco. O evento é voltado para as áreas de Arquitetura e Urbanismo, Informática e Engenharias. Mais informações no site eventos.sereduc.com
FAÇA VOCÊ MESMO
Uma fotografia diferente Nos primórdios da fotografia, havia uma técnica de impressão peculiar, que misturava químicos e sumos vegetais: a antotipia. O processo, para fins comerciais, caiu rapidamente em desuso, mas restou um formato de impressão com resultados artísticos. Cabe ressaltar que a imagem é
monocromática. As Oficinas Curro Velho, da Fundação Cultural do Pará (FCP), ensinam os primeiros passos, com folhas de papel. Contudo, os experimentos podem ir para folhas vegetais mesmo de porte grande. Após algum treino, será hora de experimentar em outras superfícies.
Do que vamos precisar? • • • •
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Álcool de cereais Pilão ou almofariz Recipiente de vidro ou plástico 1 Folha de papel aquarela cortada no formato 10 X 15 cm 1 Foto em preto e branco, impressa em papel de transparência
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1 Filtro de café de papel 2 Placas de vidro (ou uma placa de vidro e uma de madeira) 4 Grampos para prensar Repolho roxo picado Conta-gota Luvas Hastes flexíveis com algodão
ATENÇÃO: USE LUVA, SE NECESSÁRIO, PARA NÃO MANCHAR AS MÃOS. SE NÃO TIVER PILÃO OU ALMOFARIZ, USE UM MARTELO DE CARNE, O CABO ROLIÇO DE UMA COLHER OU OUTRO MATERIAL DA COZINHA PARA MACERAR AS FOLHAS.
DILMA TEIXEIRA, COORDENADORA DE ARTES VISUAIS OFICINAS CURRO VELHO | LUIZA NEVES, TÉCNICA EM GESTÃO CULTURAL | JORGE RAMOS, FOTOGRAFIAS ASCOM/FCP
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Coloque o repolho roxo picado no recipiente e faça a maceração usando o almofariz ou pilão.
Aperte o filtro para escorrer o líquido no recipiente. Tenha bastante cuidado para não rasgar o filtro.
Após a secagem, coloque o papel sobre uma superfície plana e cubra-o com a imagem impressa na transparência.
Após o tempo de exposição ao Sol, retire os grampos e o vidro e por último retire a transparência.
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Adicione 20 gotas de álcool de cereais no recipiente e continue macerando até soltar todo o líquido (sumo).
Com o sumo do repolho roxo, emulsione (espalhe o sumo) o papel de aquarela, usando o cotonete em movimentos uniformes. Repita o processo até 3 vezes.
Sobreponha a placa de vidro e prenda-o com os grampos nos quatro lados.
Estará concluída a transferência da imagem da folha de transparência para o papel de aquarela.
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Quando já tiver uma boa quantidade de líquido, use o filtro de café para coar, despejando o sumo em um recipiente plástico ou vidro.
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Prenda o papel em um varal ou deixe-o sobre uma mesa, aguardando secagem total.
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Exponha ao Sol durante 5 dias, tomando cuidado para não tomar chuva.
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Está pronto!
Para saber mais Quem quiser conhecer mais sobre técnicas artísticas pode se inscrever nas oficinas Curro Velho, da Fundação Cultural do Pará. Crianças a partir de 12 anos podem participar. O Curro Velho fica localizado na rua Professor Nelson Ribeiro, nº 287, esquina com a travessa Djalma Dutra, bairro do Telégrafo. Telefones: (91) 3184-9100 e 3184-9109. 56 • REVISTA AMAZÔNIA VIVA •
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RECORTE AQUI
FAÇA VOCÊ MESMO
BOA HISTÓRIA
Aprendeu a atirar com o pai, ainda menino. O velho dizia que, no mato, era preciso saber se virar. A comida não estaria esperando na geladeira, porque nem geladeira existia. Já nas primeiras aulas se mostrou bom de mira, enquanto mirava e acertava as latas de óleo colocadas no cercado. Carregou o hábito anos depois, o que só melhorou a pontaria. Saiu da roça ainda pequeno, mas nunca deixou de revisitar as origens. Assim que teve condições, comprou um terreno longe da cidade, que era pequena, mas já tinha problemas de grandes centros. Nos fins de semana, colocava mulher, filho e cachorro no carrinho velho, que conseguiu comprar em longas prestações, e seguiam para o pedaço de terra onde cultivavam uma boa roça, criavam galinhas e se banhavam num igarapé gelado de águas límpidas vindas do Xingu. Caçava, de vez em quando, em
LEONARDO NUNES
Max
memória do pai e quando a mulher cansava da carne das aves. Não ia longe, acompanhado apenas do cão e voltava com o almoço fresco, como seus bisavôs. Repetiu o ritual naquele dia. Acordou antes do Sol sair e, nas primeiras luzes, se embrenhou no mato. Caminhava lento junto com Max, o fila brasileiro imenso de onze anos, fiel amigo a quem considerava um filho. Era o cão companheiro e ajudante nos dias de caça. O céu estava cinza e um mormaço abafava o ar, como em dias aziagos. Na mata, só se ouviu o vento e pássaros muito longe. Max levantava o focinho, mas não sentia cheiro que pudesse garantir a boia. Até que ouviu o farfalhar nos arbustos e se manteve em guarda. O dono percebeu e se preparou. Ficou inerte com o cano voltado para onde o cachorro indicava. Viu apenas o vulto. Parecia algo grande, uma capivara talvez.
Sem muita certeza, disparou. Depois do tiro, o ganido. O homem não percebeu quando Max se esgueirou até a moita, como nunca fazia, porque sempre esperava as ordens do dono para trazer o alvo nas caçadas. Nesse dia, não. Quando viu o fila alvejado, de cara, percebeu o fim. Tentou salvá-lo, mas o ferimento no pescoço era gravíssimo. Pôs o cão imenso nas costas e o carregou por dois quilômetros até chegar à casinha, onde a mulher viu a cena e se desesperou. Demorou quase duas horas para cumprir o percurso do local do acidente até onde a família o esperava. A arma e o bicho foram enterrados embaixo de uma castanheira. O passeio na chácara findou em seguida ao funeral. E ficou decretado, em acordo tácito, que ninguém mais voltaria ao cenário do dia mais triste do ano. AGOSTO DE 2017
Anderson Araújo
é jornalista e escritor
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NOVOS CAMINHOS
ribeirinhos Expulsos em Belo Monte
INOCÊNCIO GORAYEB é mestre e doutor em Entomologia, pós-doutor em sistemática zoológica e pesquisador do Museu Paraense Emílio Goeldi
Em 20 de julho de 2017, na 69ª Reunião da SBPC – Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, foi publicado o livro “A Expulsão de Ribeirinhos em Belo Monte – Relatório da SBPC”, coordenado por Sônia Barbosa Magalhães e Manuela Carneiro da Cunha. Esse livro de 448 páginas contém três artigos iniciais, 17 capítulos, além da apresentação e considerações finais. O documento reúne histórias, reflexões e propostas com o objetivo de sensibilizar a sociedade e os poderes públicos de modo que se restabeleçam aos ribeirinhos do Rio Xingu as condições que desfrutavam antes da construção da Usina Hidrelétrica de Belo Monte. O relatório recomenda que seja criado um Conselho dos Ribeirinhos do Reservatório, com representação de todos os “lugares” pertinentes, com a atribuição, entre outras competências, de estabelecer critérios para identificação dos ribeirinhos do Reservatório da UHE Belo Monte, de promover essa identificação com aplicação desses critérios e, de forma geral, de tomar decisões, fundamentadas no parentesco e vizinhança, sobre o lugar no território apropriado a cada família. Para mediar entre o Conselho Ribeirinho e os outros agentes do processo de reterritorialização, propõe a constituição de um Grupo Interinstitucional de Mediação em que terão assento o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), Ministério Público Federal, Defensoria Pública da União, Universidade Federal do Pará - Campus Altamira, sendo um representante de cada uma dessas instituições, e três representantes do Conselho dos Ribeirinhos do reservatório. Alguns pequenos trechos do livro es-
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clarecem que o presente estudo multidisciplinar talvez seja, antes, a prova mais concreta de uma permanente postura de arrogante surdez que acompanha todo o processo expropriatório desencadeado a partir da construção do complexo hidrelétrico Belo Monte e que esperamos agora seja infletida. É, portanto, com a hidrelétrica já em fase de operação que os ribeirinhos seguem resistindo, sem atos espetaculares, mas cotidianamente (incansavelmente), buscando sair do estado de suspensão que lhes foi imposto, do não-lugar que lhes foi atribuído para re-existir. O que foi destruído foi exatamente o modo tradicional como viviam os ribeirinhos do médio rio Xingu, a partir de uma complexa territorialidade que combinava ilhas, terra firme e a cidade de Altamira, com substanciais alterações na vida social e na produção que se verificavam em acordo com as variações sazonais. Destruído violentamente, tanto porque o desastre ambiental provocado pela construção da barragem já é em si violento, quanto pelo modo como se deu o processo de expulsão. Esse é um documento histórico da memória da destruição ambiental e humana decorrentes do processo de instalação da Usina de Belo Monte, com também da resistência dos povos atingidos e da entrega de intelectuais a difundir este processo, propondo correções e ajustes de ações que possam amenizar a destruição causada. É portanto, uma grande contribuição aos povos do Xingu, ao Pará, a Amazônia e ao Brasil. Esse documento também registra ao mundo a triste realidade e demonstra que há resistência aos crimes que vem acontecendo na Amazônia.
“É, portanto, com a hidrelétrica já em fase de operação que os ribeirinhos seguem resistindo, sem atos espetaculares, mas cotidianamente, buscando sair do estado de suspensão que lhes foi imposto”
ACESSO AO LIVRO “A Expulsão de Ribeirinhos em Belo Monte – Relatório da SBPC”: http://portal.sbpcnet.org.br/ livro/belomonte.pdf
EKO
As abelhas são marcadas com microchip numa pesquisa inédita
Foto Roberto Ribeiro
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