Amcham Highlights - Seminário O que devemos fazer já para crescer 5% - 25-09-2012

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São Paulo, 25 de setembro de 2012

O que devemos fazer já para crescer 5% ao ano pelas próximas duas décadas? Responder a esta pergunta decisiva para o Brasil foi o objetivo de seminário promovido pela Amcham-São Paulo em 20/09. Economistas e altos executivos apresentaram e discutiram propostas que apontam para alguns caminhos centrais: a relação entre os setores público e privado precisa evoluir, são fundamentais uma melhor gestão da educação e a inserção do empresariado em grandes projetos de infraestrutura, e é necessário encontrar formas de promover simplificação em várias áreas, em especial a trabalhista e a tributária. A percepção de que a educação é prioridade para uma expansão nacional consistente aparece como unanimidade entre os participantes, sejam empresários ou economistas. “Precisamos de um modelo em que sejamos capazes de crescer e dar empregos de qualidade para 150 milhões de brasileiros [que estarão em idade economicamente ativa] em 2030”, apontou o ex-ministro Delfim Netto. Saiba mais sobre essa discussão aqui. O empresariado, representado pelos presidentes da Alcoa, Franklin Feder; Magazine Luiza, Luiza Helena Trajano; Whirlpool, João Carlos Brega; e PwC, Fernando Alves, salientou a urgência de reformas que tragam melhores condições para o desenvolvimento dos negócios e a importância de esforços conjuntos para concretizar avanços. Veja mais aqui.

O evento de 20/09 integra o programa Competitividade Brasil – Custos de Transação da Amcham, que está em seu terceiro ano e tem por objetivo identificar e propor soluções para os principais gargalos que comprometem uma maior competitividade do País. Na visão da Amcham, o debate evidenciou necessidades brasileiras centrais que passam por: • Aumento do nível de confiança e diálogo entre o setor público e o privado, o que é vital para uma maior participação do empresariado em projetos de infraestrutura e também para a promoção de flexibilização das relações trabalhistas. • Na área da educação, atualização da grade curricular dos ensinos médio profissionalizante e superior com ênfase em ciências duras, com parceria da iniciativa privada; ampliação dos projetos de pesquisa e inovação entre empresas e universidades; e melhoria da gestão dos recursos para educação. • Simplificação do sistema tributário. A discussão terá continuidade ao longo dos próximos meses, sendo seu conteúdo e suas conclusões aprofundados e levados a um conjunto de parlamentares comprometidos com o desenvolvimento nacional, a fim de estimular uma grande mobilização para levar adiante reformas inadiáveis no Brasil – tema de novo encontro na Amcham-São Paulo programado para 30/11.

Veja ainda entrevistas com alguns dos palestrantes do evento:

Gesner Oliveira

Consultor da GO Associados defende que o Brasil precisa de novas bases de diálogo entre os setores público e privado para enfrentar os desafios de um crescimento sustentado

Naércio Aquino Menezes Filho

Coordenador do Centro de Políticas Públicas do Insper mostra que, para ganhar produtividade, o País necessita de novas tecnologias e gente qualificada para lidar com elas

Fernando Alves

Sócio presidente da PwC propõe flexibilizar as barreiras de imigração de mão de obra qualificada e as negociações com sindicatos

Franklin Feder

Presidente da Alcoa América Latina diz que cabe aos empresários cobrar o governo, mas também fazer sua parte

VOLTAR PÁGINA INICIAL Você encontra outras entrevistas com osA palestrantes no site www.amcham.com.br


Investir em educação de qualidade é chave para garantir crescimento sustentado, apontam economistas e empresários Delfim Netto, economista O Brasil crescer mais e de forma sustentada nos próximos anos depende fundamentalmente do desenvolvimento de um sistema educacional de qualidade e bem administrado, concordam economistas e empresários que participaram do seminário ‘O que devemos fazer já para crescer 5% pelas próximas duas décadas?’ realizado pela Amcham-São Paulo em 20/09. A percepção é de que, a partir da formação de mais gente qualificada, estabelecem-se bases para aumentar a produtividade, a inovação e a competitividade. Em 2030, a população brasileira economicamente ativa atingirá seu auge, totalizando 150 milhões de cidadãos entre 15 e 64 anos, bem acima dos 131 milhões que o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) computou em 2010. A partir desse ápice, espera-se um decrescimento. Portanto, o País tem agora uma janela de oportunidade para agir, investindo fortemente na formação de profissionais, antes que se concretize uma significativa modificação no perfil demográfico, com redução da proporção entre trabalhadores e dependentes, quando necessariamente terá de haver maior produtividade. “De 1900 aos anos 2000, a população do mundo cresceu três vezes, enquanto a do Brasil aumentou dez. Não há outro país no mundo que tenha essa proporção. Temos uma janela de oportunidade de 15 a 20 anos porque depois o perfil mudará. A hora de agir é agora”, instou Jacques Marcovitch, professor da Universidade de São Paulo (USP) que atuou como um dos mediadores do seminário. “Precisamos de um modelo em que sejamos capazes de crescer e dar empregos de qualidade para esses 150 milhões de brasileiros”, pontuou o economista e ex-ministro Delfim Netto, que também mediou um painel do evento e é presidente do comitê estratégico de Economia da Amcham-São Paulo. Para ele, encaminhar essa questão diz respeito fundamentalmente a uma administração mais eficiente da educação no País. “O problema da educação não é recurso, e sim sua gestão.”

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tem um extraordinário poder de inclusão e competição,

Produtividade

mas não a estamos incentivando como deveríamos”,

“Só cresceremos sustentadamente a longo prazo se melhorarmos a qualidade do capital humano. Políticas de câmbio e proteção visam ao curto prazo. O que importa é o aumento da produtividade no longo termo e, para isso, é preciso avançar em educação”, indicou Naercio Aquino Menezes Filho, coordenador do Centro de Políticas Públicas do Insper.

destaca Fernando Alves, sócio presidente da PwC e conselheiro da Amcham. Na PwC, como em boa parte das companhias no Brasil, para enfrentar o gap de profissionais qualificados, aposta-se pesado em treinamento interno. “Somos uma empresa de 5 mil pessoas no País, com 90% dos funcionários com nível superior e 700 deles com MBA,

Conforme Menezes, a produtividade do trabalhador brasileiro é de apenas 20% da do americano e um terço da do coreano. Mexicanos e chilenos também são mais produtivos do que os brasileiros. “O crescimento da

e gastamos 350 mil horas/ homem com formação profissional”, revela Alves.

Parceria Público-Privada

produtividade do trabalho nos Brics (Brasil, Rússia,

Outro ponto alto do debate foi a importância do

China e Índia) foi de 6% ao ano entre 2005 e 2010,

estabelecimento de novas bases de diálogo entre

enquanto no Brasil de somente 2%”, compara.

governo e empresariado. Gesner Oliveira, sócio da GO Associados e ex-presidente do Cade (Conselho

Outro a abordar a questão da produtividade foi Pedro

Administrativo de Defesa Econômica) e da Sabesp,

Garcia Duarte, professor associado do departamento

considera este um aspecto primordial, levando-se em

de Economia da FEA-USP (Faculdade de Economia e

conta que a política pública precisa enfatizar forte

Administração da Universidade de São Paulo). Na ótica

formação de capital físico e humano nos próximos anos.

dele, não é difícil que a economia brasileira cresça 5% ao ano. “O desafio é fazê-lo de maneira sustentada e em

“É preciso construir confiança mútua, melhorar a

um ambiente em que a estabilidade macroeconômica

regulação e oferecer incentivos adequados. O caminho

é preservada”, argumenta. “Para isso, um fator crucial

do desenvolvimento nos próximos 20 anos requer

é a ampliação da capacidade produtiva, que depende

diferentes formas de Parcerias Público-Privadas

de expansão da força de trabalho e da produtividade”,

(PPPs)”, apontou.

explica, tocando novamente nesse ponto. O futuro é encarado com bons olhos por Oliveira. “O

Visão do empresariado

fato de conseguirmos pensar nas duas próximas décadas

Os empresários também colocam a educação como tema central para o Brasil. “Vivemos em um mundo de emergência da sociedade do conhecimento. Para ser competitivo, é preciso pessoas capacitadas. A educação

dá otimismo. A sociedade acordou para o problema da infraestrutura e do capital físico e humano nas suas relações”, argumenta. “Mas não chegaremos lá sem mobilizar tudo aquilo de que o País dispõe, incluindo capital privado e público.”

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Exportações e salários reais Ao lado dos temas da educação e da relação públicoprivada, as discussões do seminário perpassaram sugestões em variadas frentes.

em uma elevação do volume exportado, mas da pauta exportadora, e adotar padrões tecnológicos que tornem nossas vendas externas mais competitivas”, afirma. Outro desafio abordado por Lima foi a pressão de aumentos salariais diante da disputa aquecida por mão

O professor titular da FEA-USP Gilson Tadeu Lima vê necessidade de melhorar a competitividade estrutural para que a resposta das exportações ao câmbio e a outros fatores se torne menos pronunciada. “É preciso não apenas pensar

de obra qualificada. Se por um lado a trajetória crescente da renda aumenta o poder aquisitivo e a capacidade de consumo – e incentiva a educação –, por outro representa um elemento de custo que impacta a atividade de inovação tecnológica no País.

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Para maior competitividade do Brasil, simplificação tributária e trabalhista é fundamental Luiza Helena Trajano, presidente do Magazine Luiza

De todas as riquezas que o Brasil produz, 36% vão para os cofres das administrações municipais, estaduais e federal a título de tributos e impostos. A alta e complexa carga tributária compromete fortemente a competitividade do País, dizem unânimes, empresários que participaram do seminário da Amcham. No debate que buscou responder à questão “o que o Brasil deve fazer já para crescer 5% ao ano pelas próximas duas décadas?”, em termos de tributação, foi tratada como urgente a racionalização da carga sobre insumos industriais, folha de pagamento e também sobre atividades de inovação. “Nosso sistema tributário não é só complexo, como extremamente regressivo [ou seja, pesa mais sobre quem tem menor renda]. É um fator de exclusão social”, afirma Fernando Alves, sócio presidente da PwC e conselheiro da Amcham. Para a empresária Luiza Helena Trajano, presidente da rede varejista Magazine Luiza, aliviar a carga tributária é fundamental para o País crescer, ainda mais considerando as perspectivas da conjuntura internacional. Ela prega que o empresariado se una por bandeiras comuns para conseguir avanços junto ao governo. “Não podemos pensar que os países que estão em crise não se recuperarão. Quando saírem das turbulências, terão juros e custos baixos e produtividade alta”, afirma. “Não dá para ficar cada um olhando para o seu quintal. Se não nos ajudarmos, não haverá reformas.” João Carlos Brega, presidente da Whirlpool, exemplifica a necessidade de haver uma pauta conjunta de combate aos entraves. “ No Brasil, o produto com maior carga tributária unitária é o cigarro, seguido pela linha branca”, destaca. “Precisamos apresentar propostas claras ao governo.” Mas é preciso atuar pensando tanto no curto quanto no longo prazo, recomenda o executivo. Franklin Feder, presidente da Alcoa América Latina, defende medidas de simplificação tributária que ataquem redundâncias. “Entre as coisas que podemos fazer, estão uma simplificação tributária, com fim dos impostos acumulados”, diz. Por sua vez, o economista Delfim Netto, ex-ministro da Fazenda, professor emérito da Faculdade de Economia e Administração (FEA) da USP e presidente do comitê estratégico de Economia da Amcham-São Paulo, avalia

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que a carga tributária é, sim, elevada para o nível de renda do País, mas muito mais alta em vista da ainda baixa qualidade de serviços que o governo devolve. “Se tivéssemos 36% de carga e a qualidade da saúde, da educação e dos investimentos fosse perfeita, o percentual seria até baixo.” Ele reconhece a pertinência das demandas do setor privado por redução e simplificação tributária, mas também a dificuldade de sua concretização. “Estamos propondo reduzir a carga e, simultaneamente, elevar as despesas. Porém, uma das coisas mais terríveis se chama aritmética. Todos gostariam que a carga fosse zero, mas temos de saber quais são as nossas restrições”, ponderou.

Custos trabalhistas Os elevados custos trabalhistas para manter a produção são um importante ponto a ser melhorado. “O varejo é o setor que mais emprega no País, mas, com nossa lei trabalhista, é inviável ter produtividade”, afirma Luiza. “Temos de lutar pela desoneração da folha de pagamento para melhorar o trabalho. É sabido que, quando o custo [dos impostos] diminui, aumenta a arrecadação. O Custo Brasil tem de acabar.” Ela chama atenção para a importância de que o País avance em direção à livre negociação salarial. Criada na década de 1940 e com poucas alterações desde então, a legislação trabalhista não contempla muitas das situações que ocorrem hoje no mercado de trabalho nem permite a livre negociação entre empresas e trabalhadores. As dificuldades impostas pela rigidez das relações trabalhistas são reconhecidas até pelos sindicatos que representam os empregados, comenta Luiza. Prova dessa percepção é que advogados do Instituto para Desenvolvimento do Varejo (IDV), associação das maiores empresas varejistas, irão à Alemanha junto com uma comitiva formada por presidentes de sindicatos brasileiros para entender como funciona uma associação similar na maior economia europeia e identificar boas práticas, conta Luiza. “É um absurdo fazer acordo entre a federação [patronal] e o trabalhador e, quando isso chega à Justiça do

João Carlos Brega, presidente da Whirpool

Trabalho, o juiz invalidar e multar. Nada se resolverá se não entrarmos no Congresso para estabelecer que o que for decidido entre sindicatos, empresas e trabalhadores será válido judicialmente”, diz. Alves, da PwC, critica a baixa flexibilidade da legislação trabalhista, principalmente considerando o gap de profissionais qualificados no País. “Precisamos, por exemplo, flexibilizar as barreiras de imigração de mão de obra qualificada e que as negociações sindicais levem em conta a produtividade.” Ele sugere que se estabeleçam formas de permitir a contratação de aposentados e pessoas da terceira idade, sem incidir em elevados custos trabalhistas. “Na China, nossa empresa tem milhares de profissionais como sócios aposentados trabalhando de três a quatro meses por ano, no que chamamos de mão de obra contingente. Aqui, contudo, temos uma dificuldade enorme de operacionalizar isso”, compara.

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A avaliação de Alves é que a consolidação das leis trabalhistas (CLT), sancionada em 1943, deve ser atualizada para abarcar as novas demandas e realidades do mercado. “Isso tudo impacta a produtividade e a competitividade, sem falar do problema da educação e da falta de mão de obra qualificada.”

Avanços Os empresários reconhecem a relevância de alguns passos que o governo tem dado, mas dizem que é preciso ir além. Foram mencionadas iniciativas como a redução

do IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) para segmentos como veículos, eletrodomésticos e materiais de construção, e a desoneração da folha de pagamento para setores intensivos em mão de obra, com substituição da contribuição fixa à seguridade por um percentual do faturamento. Franklin Feder, da Alcoa, também lembrou o recente pacote para baratear a energia e o anúncio de novas concessões de ferrovias, estradas e portos. “É um avanço enorme em relação à produtividade, mas, nós, na iniciativa privada, temos de fazer nosso papel porque só apontar o dedo ao setor governamental não adianta”, afirmou.

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Gesner Oliveira, consultor da GO Associados: Brasil precisa de novas bases de diálogo entre setor público e privado A mch am : Para o Brasil crescer, um dos pontos fundamentais é acelerar os investimentos em infraestrutura. Na sua avaliação, como isso pode ser feito? Gesner Oliveir a: Se quisermos crescer 5% ao ano de forma sustentável, há diferentes hipóteses. A taxa de investimento [que foi de 19% do Produto Interno Bruto em 2011] tem de crescer alguns pontos, sendo que [o economista] Delfim Netto fala em 25% do PIB. Mas temos um problema de esforço de formação de capital, que é baixo para a infraestrutura. Precisamos de novas bases de diálogo entre o setor público e o privado, uma relação mais madura e baseada em questões objetivas e regras claras. Este é o pressuposto para avançar. A mch am: Quais seriam essas ‘questões objetivas’ a que o sr. se refere? Gesner Oliveir a: A boa regulação é um dos aspectos mais importantes. Temos a percepção de que as agências reguladoras precisam ser fortalecidas com mecanismos de difusão da cultura de boa regulação no governo, a exemplo do PRO-REG [programa federal para aprimorar a gestão e incentivar a melhoria da regulação]. As agências reguladoras poderiam ter participação maior das na fiscalização dos contratos de Parcerias Público-Privadas (PPP).

Am c ham: Como fortalecer a regulação? Gesner Oliveir a: As agências reguladoras precisam ter pessoas competentes, com reputação e interesse em zelar por elas. Creio que os mecanismos de consultas públicas poderiam ser mais disseminados, com acompanhamento do Congresso, avaliação de jurisprudência pelo Judiciário e seleção criteriosa dos que ocuparão cargos diretivos das agências reguladoras pelo Executivo. Os três Poderes têm responsabilidades e a sociedade precisa participar com questões objetivas nas audiências e consultas públicas, acompanhando o trabalho das agências. Isso dará estabilidade de regras. Am c ham : Quais foram os destaques do seminário, na sua visão? Gesner Oliveir a: Há três aspectos positivos. O primeiro é o próprio debate na Amcham, com lideranças empresariais e políticas da maior importância discutindo o longo prazo. O segundo aspecto é a convergência de que é preciso dar ênfase ao capital físico e humano sem separar uma coisa da outra. Quando se fala, por exemplo, que um porto é essencial, também é fundamental lembrar que é necessário haver pessoas capacitadas para administrá-lo, inovar processos e ter qualidade de vida. A consciência da importância da capacitação física e humana é muito positiva. O terceiro aspecto é a noção de que precisamos de novas bases de diálogo entre o setor público e o privado.

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Naércio Aquino Menezes Filho, coordenador do Centro de Políticas Públicas do Insper: Para ganhar produtividade, País necessita de novas tecnologias e gente qualificada para lidar com elas A mch am : Quais foram os destaques do seminário, na sua avaliação?

Am c ham: Que tipo de educação é mais importante para o Brasil?

Naércio Aquino Menezes Filho: O evento mostrou claramente a importância do investimento em capital físico e humano. Fiquei gratamente surpreso com a ênfase no capital humano.

Naércio Aquino Menezes Filho: É preciso haver estímulos desde a primeira infância. Um aprendizado adequado na pré-escola é a base para a assimilação de matemática e ciências nos ensinos fundamental e médio. Assim, o Brasil terá boas notas no Pisa [Programa Internacional de Avaliação de Alunos] e haverá uma parcela maior de estudantes de exatas e tecnologia no ensino superior, que, por sua vez, entrarão nas empresas com mentalidade voltada para tecnologia e novos produtos. Isso aumenta a produtividade das companhias, o que leva a crescimento de longo prazo. O caminho correto é esse: começar uma educação sólida na primeira infância para se chegar à tecnologia e ao crescimento de longo prazo.

A mch am: O que fez o capital humano se tornar tão relevante para o empresariado? Naércio Aquino Menezes Filho: Os efeitos que o capital humano tem na produtividade. O Brasil só crescerá de forma sustentável se houver aumento da produtividade e, para isso, é preciso novas tecnologias. Para incorporá-las, tem de haver mão de obra qualificada que saiba lidar com elas. Sem isso, não se têm resultados em crescimento de produtividade. A mch am: Como integrar desenvolvimento humano e tecnológico? Naércio Aquino Menezes Filho: É preciso combinar investimento em máquinas modernas que incorporem tecnologia com força de trabalho educada e uma base de empreendedores que criem novos produtos, sem ficar só no portfólio tradicional. Temos de desenvolver um ambiente de empreendedorismo com inovação como existe nos EUA, onde um Steve Jobs [fundador da Apple] desenvolva produtos que as pessoas nem sabiam que desejavam.

Am c ham: Como educacional?

acelerar

o

desenvolvimento

Naércio Aquino Menezes Filho: O foco é em alfabetização e resultados no ensino infantil, começando desde a pré-escola. Também é preciso focar em gestão, ou seja, diretores e professores cobrarem o desempenho dos alunos com metas claras de resultado. Incutir essa cultura de gestão na rede pública e foco em alfabetização já a partir dos primeiros anos de vida ajuda. É possível fazer. O que se precisa é espalhar os bons exemplos. Am c ham: Como isso pode ser feito?

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Naércio Aquino Menezes Filho: Há movimentos como o Todos pela Educação [movimento civil para universalizar a educação até 2022], da iniciativa privada, para mobilizar a sociedade para a importância da educação. Além de Fundação Bradesco e Itaú Social, existem várias entidades e fundações de empresas preocupadas com a educação. A grande dificuldade é romper tabus para haver metas claras e gestão apropriada dentro do sistema público. A mc h am: Como quebrar os tabus a que o sr. se refere? Naércio Aquino Menezes Filho: Para romper, é preciso um gestor público forte, que tenha capacidade de mobilizar e atuar como líder. Só assim os resultados aparecem. Em Sobral (CE) e Foz do Iguaçu (PR), há escolas com excelência maior do que a de países da OCDE [Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico]. Porém, o Brasil tem 5,5 mil municípios e

consegue ser efetivo somente em dois ou três. A questão é como espalhar a experiência positiva para todos os municípios. Am c h am: Como o Estado pode melhorar a gestão da educação? Naércio Aquino Menezes Filho: O primeiro passo é colocar secretários de Educação que sejam bons gestores. Ainda persiste no Brasil, principalmente em municípios pequenos, a prática de indicações políticas, por laços familiares ou acomodação de interesses políticos de partidos. É preciso que o secretário de Educação ou Saúde seja o melhor gestor do município para que viabilize um aprendizado que torne o capital humano gerador de crescimento. Temos de colocar gestores mais competentes para lidar com educação e saúde para que assim tenhamos resultados de longo prazo.

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Fernando Alves, sócio presidente da PwC: Temos de flexibilizar as barreiras de imigração de mão de obra qualificada e as negociações com sindicatos A mch am : A falta de mão de obra especializada é um problema conhecido no Brasil. O que acelerou o senso de urgência de formação de capital humano, conforme discutido no seminário? F e r nan d o Alves: Não há, no Brasil, nenhuma empresa importante que não esteja debatendo o que fazer para recrutar mais gente. Simultaneamente, todas estão tendo dificuldades de encontrar profissionais com qualificação, mesmo com projetos de formação internos. É notória a falta de pedreiros, engenheiros e analistas de sistema. O País está vivendo um surto de crescimento para o qual não estava preparado, tanto na dimensão da infraestrutura como no preparo da mão de obra. Essa impossibilidade de materializar o progresso que empresas e governo sentem cria um senso de urgência que é positivo. A mch am: Como as empresas estão suprindo a falta de formação de gente qualificada? F e r nan d o Alves: Há certa precarização da educação. A quantidade de faculdades que existem em São Paulo, cerca de 400, já indica isso. Há muito analfabeto funcional tanto do ponto de vista da educação básica como da superior. Quando se encontra um engenheiro, o que está difícil, é preciso dar cursos internos para complementar sua formação. Uma alternativa para ampliar a oferta de mão de obra é reduzir a barreira de imigração. O Brasil se fez com imigrantes e, em um cenário em que precisamos de gente, não podemos contar com eles. Não somos um país densamente povoado, portanto não vejo razão para não criarmos maior

flexibilização migratória, a exemplo da Austrália. Essa é uma forma de acelerar nosso desenvolvimento. Am c ham: Há necessidade de flexibilização também em outras frentes? Fer nand o Alv es : A falta de flexibilidade também é percebida na hora de negociar com os sindicatos. As negociações não levam em conta a produtividade e estamos contaminados por uma superestrutura sindical que, apesar das boas intenções, na prática tem exposto o trabalhador. No mundo, se discute o trabalho flexível e de idosos, por exemplo. Na China, nossa empresa tem milhares de profissionais como sócios aposentados trabalhando de três a quatro meses por ano, no que chamamos de mão de obra contingente, mas, aqui, temos uma dificuldade enorme de operacionalizar isso. Am c ham: Quais foram os destaques do seminário, na sua avaliação? Fer nand o Alv es : De formas diferentes, os dois painéis foram convergentes para a necessidade de focar na educação como vetor fundamental da transformação do País. Nesse processo, também se discutiu a gestão do ente chamado governo. Ele arrecada muito, mas gasta mal. Na discussão, priorizamos a educação, sua gestão e o tamanho do Estado. A prioridade em educação se materializa por uma expressão orçamentária, pela revisão da gestão dos recursos e também na visão de que um Estado forte e indutor de desenvolvimento não precisa ser necessariamente grande.

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Franklin Feder, presidente da Alcoa América Latina: Cabe aos empresários cobrar o governo, mas também fazer sua parte A mch am : Quais foram os destaques do seminário, na sua avaliação? F r an k lin F eder : Ressalto o consenso entre economistas e a visão das lideranças da iniciativa privada de que tem de haver medidas de longo termo somadas às de curto prazo. Falamos muito sobre [a urgência de se investir em] educação. Estamos sentindo a necessidade de capacitar a nossa mão de obra e força de trabalho. O capital humano é o fator mais importante. Tocamos também na [importância da melhoria na] gestão de recursos [por parte do poder público]. Ao mesmo tempo, é preciso somar isso a medidas de curto prazo, como a simplificação tributária e a implementação de mais Parcerias Público-Privadas. A mch am: Como a Alcoa tem lidado com o gap de mão de obra qualificada? F r an k lin F eder : A necessidade de capacitação tem uma diversidade muito grande. A mineração é intensiva em capital, não intensiva em mão de obra, mas a qualificação de que a indústria de base precisa é alta. Falta capacitação técnica. Em algumas das nossas operações, estamos falando da capacitação básica: precisamos de um soldador ou um eletricista. Na Alcoa, desenvolvemos treinamento

próprio com outras instituições da iniciativa privada e também formamos parcerias com universidades federais. Para nossa operação mais remota, que fica no interior do Pará, estamos trazendo uma universidade federal para um campus na cidade. Am c ham: Para os empresários, qual a mensagem central que fica após o debate na Amcham? Fr an k li n Fed er: Vejo que é preciso cobrar o governo, mas, sem dúvida, temos de, antes disso, fazer a nossa parte. No País, há vários casos de empresas que só cobram sem fazer a sua parte. Uma coisa que vejo ser fundamental para o crescimento do País é a energia, e a presidente Dilma [Rousseff] fez um avanço enorme em relação a esse ponto ao determinar a redução de impostos. Foi um avanço importantíssimo. Precisamos evitar a questão de “nós e eles”, de colocar a culpa no governo. Só apontar o dedo ao setor governamental não adianta. É claro que o governo precisa se mexer na educação e na infraestrutura. Mas, na iniciativa privada, temos de fazer o nosso papel em cada um desses setores. Os empresários necessitam partir de uma pergunta: onde queremos chegar? Transformar a resposta em metas quantitativas e qualitativas e falar sobre os caminhos que podemos estabelecer são pontos críticos desse papel porque mais importante do que saber o que fazer é saber como fazer.

Expediente Editora: Giovanna Carnio (MTB 40.219) Reportagem: André Inohara e Marcel Gugoni Fotos: Mário Miranda Diagramação: Lucas Marques

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O evento foi patrocinado por:

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