Amcham Highlights - Seminário Inovação e Competitividade Brasileira - 16-08-2012

Page 1

São Paulo, 16 de Agosto de 2012

A inovação é uma das principais respostas para uma maior competitividade do Brasil e percebe-se uma convergência de pensamento crescente entre empresas, academia e os mais diversos agentes de inovação nessa direção. O desafio agora é integrar os esforços de todas essas partes, sob uma pressão de urgência, para promover avanços consistentes, incorporando no País uma real cultura de inovação sistemática, com geração de patentes e resultados financeiros. Esta é uma das principais conclusões do seminário ‘Inovação e a Competitividade Brasileira’, realizado pela Amcham-São Paulo em 16/08. O debate evidenciou ainda que não há como progredir em inovação no Brasil de maneira autóctone. É fundamental que haja mais interação não apenas doméstica, mas também internacional para imprimir a velocidade necessária a fim de que o País vença o atraso nesse campo e passe a ocupar uma posição de

relevo no cenário global. Saiba sobre a discussão em torno do tema aqui. Durante o evento, a Amcham fez uma sondagem para compreender, na visão de representantes de empresas e instituições focadas em inovação presentes, quais são as prioridades para um ambiente mais propício ao progresso da inovação no Brasil. Promover mais iniciativas para demonstrar, por meio de casos concretos, que inovar no País funciona e gera lucro às companhias; dar maior ênfase à formação de recursos humanos qualificados em ciências duras, ampliando e aprimorando a estrutura dos institutos tecnológicos e de inovação; e apoiar a internacionalização de empresas brasileiras e de suas atividades de pesquisa e desenvolvimento para capacitá-las a competir globalmente foram as ações mais votadas. Conheça os resultados da pesquisa aqui.

Veja ainda entrevistas com alguns dos palestrantes do evento:

Jacques Marcovitch

Eduardo Wanick

Pedro Passos

Julio César Castelo Branco Reis Moreira

Professor da USP defende que, em tempos de incerteza, deve-se investir mais em inovação

Copresidente do Conselho de Administração da Natura sugere que os brasileiros pensem fora da caixa e estabeleçam seus próprios espaços de inovação

Presidente e CEO da DuPont para América Latina analisa que busca pela sustentabilidade cria campo amplo para a inovação

Diretor de Patentes do INPI mostra que o instituto negocia acordos internacionais de exame de marcas e patentes, e trabalha pela disseminação da cultura da inovação

Você encontra outras entrevistas com os palestrantes no site www.amcham.com.br


Desafio para Brasil avançar em inovação é integrar esforços de empresas e centros de excelência, sob pressão de urgência A inovação é uma das principais respostas para uma maior competitividade do Brasil e percebe-se uma convergência de pensamento crescente entre empresas, academia e os mais diversos agentes de inovação nessa direção. O desafio agora é integrar os esforços de todas essas partes, sob uma pressão de urgência, para promover avanços consistentes, incorporando no País uma real cultura de inovação sistemática, com geração de patentes e resultados financeiros. Esta é uma das principais conclusões do seminário ‘Inovação e a Competitividade Brasileira’, realizado pela Amcham-São Paulo em 16/08. O debate evidenciou ainda que não há como progredir em inovação no Brasil de maneira autóctone. É fundamental que haja mais interação não apenas doméstica, mas também internacional para imprimir a velocidade necessária a fim de que o País vença o atraso nesse campo. “O tema da inovação é fundamental para uma maior competitividade. Não conseguiremos ser competitivos apenas pedindo um câmbio favorável e proteção ao governo. A inovação é o que nos põe no jogo do mercado internacional. Precisamos de uma agenda ampla e agressiva nessa área”, defendeu Pedro Passos, copresidente do Conselho de Administração da Natura. Dados apresentados pelos palestrantes do evento mostram um retrato crítico da inovação no Brasil. O País já representa 3% do PIB (Produto Interno Bruto) global, mas em patentes concedidas soma apenas 0,1%. “Trata-se de um quadro dramaticamente desbalanceado. Precisaríamos multiplicar por 30 nossa capacidade de inovar”, afirma Eduardo Wanick, presidente e CEO da DuPont para a América Latina e presidente do Conselho da Amcham. Hoje, o Brasil investe 1,17% do PIB em pesquisa e desenvolvimento (P&D), bem menos que os 1,7% registrados na China e os 2,9% computados pelos EUA. A inovação no Brasil ainda é feita majoritariamente pelo setor público, ao passo que na China e na Coreia do Sul a proporção se inverte, com concentração no setor privado. O Brasil é atualmente o 13º colocado no ranking mundial de produção científica, mas não passa do 47º lugar na lista de países líderes em inovação.

VOLTAR A PÁGINA INICIAL

2


Diplomacia da inovação

Exemplos de sucesso

Ademar Seabra da Cruz, chefe da Divisão de Ciência e Tecnologia do Ministério das Relações Exteriores, realçou durante o seminário a importância da integração nacional e internacional para um progresso rápido e consistente em inovação.

A boa notícia é que há consenso de que, apesar das dificuldades, é, sim, possível e vale a pena inovar no Brasil. Exemplos da Natura e da DuPont deram peso a essa percepção.

“Cada um fazer bem sua parte em inovação não é o suficiente. Inovação é uma coevolução em vários fatores, entre diversos atores. Se uma instituição faz bem seu trabalho, mas as demais a ela conectadas, não, o processo pode não ser bem sucedido”, disse. Essa foi a linha de pensamento que levou o Itamaraty a optar por trabalhar com o conceito da diplomacia da inovação, que visa a identificar os principais entraves à inovação no País e tentar superálos por meio de ações conjuntas, com parcerias internacionais, economizando tempo na busca por mais eficiência. “A ideia é entender melhor as demandas do setor produtivo e transformá-las em pauta negociadora da agenda internacional do Brasil”, explicou Cruz. “Precisamos melhorar a articulação entre política de inovação e política de comércio exterior”, reforçou Pedro Passos. Para ele, é essencial, inclusive, que incentivos públicos à inovação prevejam contrapartidas. “O governo precisa condicionar um benefício fiscal para inovação a um compromisso de vender mais produtos no exterior”, sugeriu.

“Vejo espaço para o Brasil ser um centro de inovação permanente. Os paradigmas atuais podem ser quebrados. Não precisamos nos render à posição de liderança do Primeiro Mundo. Temos de criar nossos espaços de inovação e nossas competências”, avalia Pedro Passos. Ele contou que a decisão da Natura de utilizar a plataforma da biodiversidade brasileira como base para inovação, posicionando-se em condições de concorrer com grandes multinacionais do setor de higiene e beleza, ricas em verbas para pesquisa, possibilitou uma transformação completa na empresa, incluindo sua internacionalização. Hoje, mais de 10% das receitas da Natura vêm de comércio exterior. “Conseguimos com inovação gerar valor percebido”, celebrou, anunciando em seguida ao público presente na Amcham a inauguração de um novo centro de pesquisa da companhia na Amazônia. Na DuPont, definida como uma empresa de ciência, em que inovar está no DNA corporativo, há nove anos optou-se por desconcentrar o processo de inovação, desenvolvido até então basicamente nos Estados Unidos. Com essa mudança, conseguiuse uma aceleração tremenda do crescimento na América Latina. “Hoje temos quatro vezes o tamanho da DuPont na América Latina observado em 2002”, revelou Eduardo Wanick.

VOLTAR A PÁGINA INICIAL

3


Compartilhar para engajar As discussões sobre inovação têm de ocorrer com mais frequência no setor privado para que haja maior engajamento, defendeu Wanick. “É necessário haver mais fóruns em que empresas que estão fazendo inovação com sucesso compartilhem isso com outras porque inovação dificilmente se faz sozinho. É preciso parceiros”, observa. Para ele, a agenda de prioridades também envolve o governo. “É essencial tornar a agilidade do processo de patenteamento uma vantagem competitiva para o Brasil, não apenas reduzir nossa desvantagem, mas nos colocar entre os primeiros.”

Concentração no mundo acadêmico No Brasil, a produção científica tem sido mais centrada no mundo acadêmico. Transformar esse perfil é um grande desafio que o CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico) quer ajudar o País a enfrentar, como mostrou Alexandre Garcia Costa da Silva, coordenador geral do Programa de Pesquisa em Ciências Exatas da instituição. “Há tradição dos pesquisadores de estarem em ambiente de pesquisa, não no ambiente empresarial. Mais de 80% deles se encontram nas universidades e instituições de pesquisa. Percebo uma dificuldade sistêmica de se converter inovação em negócio”, afirmou Silva. O programa Ciência Sem Fronteiras, criado pelo governo federal, com atuação forte do CNPq e

previsão de concessão de 101 mil bolsas de estudo na área de ciências duras em um período de quatro anos, é um importante apoio para começar a reverter esse quadro. Em linha com esse objetivo, a Amcham assinou acordos com o CNPq e a Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior) para fomentar estágios dos estudantes que vão ao exterior, a fim de que complementem sua experiência acadêmica com atuação prática em empresas de forte viés inovador e tragam a cultura da inovação consigo na volta ao Brasil. “Queremos fazer com que esses jovens que vão ao exterior tenham contato com o empreendedorismo. É importante que eles tenham acesso às companhias e aos laboratórios, e se engajem no ambiente empresarial, não só no ambiente acadêmico”, diz Silva. O CNPq, adicionalmente, trabalha na reformulação do Currículo Lattes, uma espécie de banco de dados de pesquisadores, para valorizar a inovação e incentivar que os pesquisadores se envolvam com o tema. “O Currículo Lattes ganhou novas abas para enfocar também inovação, ciência e a parte social da pesquisa. Esperamos mudar a direção e valorizar a inovação para que os pesquisadores passem a trabalhar com inovação.”

Aproximação universidade-empresa A Anpei (Associação Nacional de Pesquisa e Desenvolvimento das Empresas Inovadoras) também se revela engajada no estímulo à formação de profissionais que se dediquem à inovação. Guilherme Marco de Lima, vice-presidente da associação, comparou a formação de engenheiros no Brasil, que representa 10% do total de graduandos,

VOLTAR A PÁGINA INICIAL

4


com os cerca de 40% verificados na China. Na análise dele, reverter essa defasagem implica em uma maior aproximação entre universidades e empresas. “Talentos são essenciais, e companhia e universidade têm de se unir para gerá-los”, diz. Para Lima, ao contrário do que muitos pensam, o atual período de turbulências na economia pode ser uma oportunidade para um maior enfoque em inovação. “Notamos que, de tempos em tempos, crises – e crises de confiança – tendem a afetar fortemente P&D. É necessário pensar em ações para estimular a inovação em tempos de turbulências”, propõe. “Em momentos de incerteza, é preciso aumentar os investimentos em inovação”, completa Jacques Marcovitch, professor da USP (Universidade de São Paulo), que atuou como moderador do debate na Amcham.

Estímulo na academia

desafios frequentes de inovação tecnológica em que equipes de alunos fazem propostas de aplicação de patentes. Outra novidade é a instalação de um parque tecnológico com infraestrutura para empresas idealizarem laboratórios de pesquisa, em colaboração com professores e alunos.

Crédito para o intangível O incentivo à inovação está hoje entre as prioridades do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social). “O banco foi construído para financiar os tangíveis da economia, o processo inicial da industrialização brasileira. Financiar a inovação, o intangível, é uma mudança de cultura que precisa ser disseminada porque o crédito à inovação envolve riscos maiores do que o relacionado a tangíveis”, relatou Helena Tenório Veiga de Almeida, chefe de Planejamento da Área de Planejamento do Departamento de Avaliação, Inovação e Conhecimento do banco.

Representando a academia, a Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) sinalizou, no evento da Amcham, preocupação com estimular o desenvolvimento da inovação. Lá, isso se faz por meio de ações como intercâmbio com instituições estrangeiras e atenção à qualidade de ensino.

Helena conta que o crédito à inovação é concedido pelo BNDES sob a forma de vários instrumentos, mas que ainda há o desafio de melhorar. “Não fazemos ainda linha para P&D pré-competitivo para empresas, fase em que o risco é mais elevado e a capacidade da companhia de investir é menor. Outro desafio é o apoio à internacionalização para empresas de base tecnológica”, exemplificou.

“Para que a inovação ocorra na universidade, é fundamental ter professores e pesquisadores qualificados. Reconhecemos a importância do intercâmbio de professores, pesquisadores e alunos”, afirmou Fernando Ferreira Costa, reitor da Unicamp. A Unicamp também criou uma agência de inovação, a Inova, um prêmio para inventores e

Uma preocupação do banco, assim como aumentar as alternativas de financiamento à inovação, é avaliar o impacto do crédito concedido, com métricas de acompanhamento. “Precisamos fazer com que as empresas inovem sistematicamente. Por isso, acompanhar a efetividade da ação do banco é essencial.”

VOLTAR A PÁGINA INICIAL

5


Necessidade de pessoal no INPI Uma das prioridades para o Brasil avançar mais rápido em inovação, concordam empresários e instituições, é um reforço da estrutura do Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI) – e esse reforço precisa ter como alvo sobretudo o quadro de profissionais, indicou Julio César Castelo Branco Reis Moreira, diretor de Patentes do órgão. Só assim, será possível ao instituto continuar a reduzir o backlog (estoque de patentes solicitadas e ainda não examinadas). “Estamos trabalhando para eliminar deficiências e boa parte delas foi resolvida por meio de informatização, mas ainda falta avanço em pessoal”, descreve Moreira. De acordo com ele, com a infraestrutura atual, o INPI consegue priorizar algumas linhas de pedidos de patente, incluindo, por exemplo, um mecanismo de fast track (via rápida) para patentes verdes. Porém, ainda não tem como priorizar os requerimentos de forma geral.

Inovação na Amcham O seminário ‘Inovação e a Competitividade Brasileira’ é o quarto promovido pela Amcham com foco em inovação, pelo quarto ano consecutivo, revelando que o tema está incorporado fortemente à agenda da entidade. “A Amcham busca aproximação entre a iniciativa privada, a academia e agentes de inovação”, resumiu Gabriel Rico, CEO da Amcham. Nessa área, além dos seminários e do trabalho de facilitação de estágios para estudantes do programa Ciência Sem Fronteiras, a Amcham realiza relatórios de avaliação do INPI sob a ótica dos agentes regulados; organiza encontros com empreendedores, mostrando cases apoiados em grande dose de inovação, com geração de lucro para os negócios; mantém um comitê de Inovação, com reuniões mensais; promove o Prêmio ECO, que evidencia que sustentabilidade não existe sem inovação; e ainda tem uma parceria com o Council on Competitiveness centrada em competitividade e inovação. “Tudo isso porque inovar é uma necessidade para a sobrevivência das empresas e para que se lancem no campo internacional”, conclui Rico.

VOLTAR A PÁGINA INICIAL

6


Pesquisa Amcham: prioridade número um para ambiente mais propício à inovação no País é mostrar casos concretos de que progressos na área geram lucro Promover mais iniciativas para demonstrar, por meio de casos concretos, que inovar no Brasil funciona e gera lucro para as empresas é a maior prioridade para tornar mais propício o ambiente à inovação no País, dizem 30% dos 128 representantes de empresas e instituições focadas em inovação que participaram de sondagem durante o seminário “Inovação e a Competitividade Brasileira”. O levantamento considerou dez prioridades nas quais os próprios votantes se dispõem a atuar.

A segunda grande necessidade apontada é dar maior ênfase à formação de recursos humanos qualificados em engenharia, ciências duras e ensino técnico, ampliando e aprimorando a estrutura dos institutos tecnológicos e de inovação. Foram 16% os que indicaram essa opção.

O apoio à internacionalização de empresas brasileiras e de suas atividades de pesquisa e desenvolvimento para capacitá-las a competir globalmente vem em seguida no ranking de prioridades, com 15%.

Logo depois, com 10% do total de votos, aparece a necessidade de apoiar a inovação por meio do financiamento às atividades inovadoras em companhias, governos e universidades, valorizando os ativos intangíveis.

VOLTAR A PÁGINA INICIAL

7


selecionadas, é uma atitude prioritária para 5%.

Propriedade intelectual

Em seguida, a pesquisa aponta que 3% priorizam

Melhorar a infraestrutura e a cultura de propriedade intelectual no País por meio de um regime pragmático e da reestruturação do sistema de patentes no Brasil teve 9% das respostas, enquanto o desafio de remover os entraves legais para que as universidades possam negociar livremente a propriedade intelectual por elas gerada, inclusive nos casos em que a pesquisa tenha sido custeada por agências governamentais, ficou com 6% das opiniões.

a criação de observatórios de inovação no exterior, junto às principais embaixadas e consulados para acompanhamento de políticas públicas para a inovação, programas, processos, instituições e o trabalho de centros de pesquisa e desenvolvimento. Outros 3% indicam o aprimoramento do marco legal de apoio à inovação, com ajustes que tornem mais efetivos os regimes de incentivos existentes. A necessidade de melhorar a articulação entre

Buscar mecanismos de fast track, ou seja, uma via rápida para o registro de patentes em áreas

política de inovação e política de comércio exterior foi considerada prioridade por 2% dos participantes.

VOLTAR A PÁGINA INICIAL

8


ENTREVISTA

Jacques Marcovitch, professor da USP: Em tempos de incerteza, deve-se investir mais em inovação Amc h a m : A inovação depende mais de uma mudança de cultura ou da execução de pesquisa e processos? J a c q u e s Ma r c o v i t c h : Essas duas atividades são indissociáveis. Muda-se a cultura fazendo. A melhor forma de criar uma cultura é valorizar a ação – isso tanto na construção de valores quanto na resolução de problemas. Na medida em que damos prioridade à ação – e temos exemplo das instituições acadêmicas que valorizaram um engenheiro que desenvolveu uma patente e viu retorno financeiro sobre isso –, outros passam a se guiar a partir de uma mudança. Costuma acontecer que, quando um faz e acerta, outros buscam mimetizar essa ação com projetos distintos. Amc h a m : O exemplo inicial tem de vir do setor público ou do privado? J a c q u e s Ma r c o v i t c h : Ambos caminham conjuntamente. Cabe ao setor privado declarar e determinar sua demanda. Temos várias empresas no Brasil que anunciam quais são suas demandas na área de inovação tecnológica. Esse é um passo que o setor privado está dando. É evidente que os agentes públicos relacionados, como o INPI [Instituto Nacional da Propriedade Industrial], têm de dar apoio, mesmo porque o INPI não pode ficar longe de iniciativas de parcerias universidade-

empresa e necessita prezar para que a proteção do conteúdo construído seja assegurada. Em regiões menos maduras de uma economia, como é o caso dos estados do Norte do Brasil, em que há pouca atuação para a iniciativa privada, o setor público deve ter uma ação interventora rumo a esse primeiro passo para construir uma mentalidade orientada ao resultado. Mas, quando falamos de uma região como a Centro-Sul, com uma economia mais pujante e uma atividade empresarial mais madura, cabe ao agente governamental somente o apoio. Se cada um faz sua parte, todos conseguem inovar. A m c ham : Qual a avaliação que o sr. faz da sondagem da Amcham realizada durante o evento? J a c q u e s Ma r c o v i t c h : A prioridade mostrada é dar mais visibilidade aos acertos e resultados daqueles que conseguem colher frutos. Isso, porém, não quer dizer que não devemos valorizar os erros e fracassos. Devemos mostrar os dois. Com ambos é possível aprender. A m c ham : Qual a mensagem que fica para o País sobre o tema da inovação e da competitividade após o debate? J a c q u e s Ma r c o v i t c h : Uma das principais ideias é que estamos na direção certa, mas em uma velocidade muito lenta, que precisa ser aumentada.

VOLTAR A PÁGINA INICIAL

9


ENTREVISTA

A mc h a m : É possível dizer quando o Brasil conseguirá saltar para melhores posições nos rankings de inovação? J a c q u e s Ma r c o v i t c h : É difícil prever. O Brasil deve, sim, se concentrar em suas prioridades e adotar métricas claras e rígidas para inovar. De que maneira chegaremos em 2030 é impossível determinar. Não há um fator externo ou interno que mostre essa possibilidade. Amc h a m : Olhando para a crise de 2008, é possível dizer que as melhores inovações ocorrem justamente durante turbulências?

J a c q u e s Ma r c o v i t c h : Os tempos de crise oferecem grandes oportunidades e são inspiradores para a inovação, mas precisamos de pioneiros. Esses indivíduos são aqueles que conseguem enxergar o que a maioria não enxerga e têm uma sensibilidade e um olhar para, na crise, saber qual projeto inovador priorizar. A questão é como incentivar esses pioneiros e como criar agora o que será a necessidade econômica daqui para a frente. No passado, de 1930 a 1945, o Brasil prosperou em plena crise mundial [de 1929 iniciada nos EUA]. Por isso, não vejo motivos para não prosperarmos mesmo que o mundo desenvolvido esteja vivendo mais uma crise. Em tempos de incerteza, é hora de investir mais.

VOLTAR A PÁGINA INICIAL

10


ENTREVISTA

Pedro Passos, copresidente do Conselho da Natura: Brasil precisa pensar fora da caixa e estabelecer seus próprios espaços de inovação Amc h a m : Como o sr. analisa o desenvolvimento da inovação no Brasil? Ped ro Pa s s o s : Fico entusiasmado pelo ambiente que se cria sobre um tema tão importante, e de saber que essa agenda se torna interessante a cada dia. Estamos nos concentrando na inovação tecnológica, em patentes e produtos, mas vivemos algumas transições e a inovação tem vindo de onde menos se espera.

Pedro Passos: Lidando com o ambiente empresarial, fico com a sensação de que há conservadorismo ao tentar manter velhas empresas de setores tradicionais, muitas vezes com protecionismo, câmbio e outras histórias. É claro que não podemos jogar tudo isso fora, mas temos de pensar no novo. Os paradigmas atuais podem ser quebrados. Não precisamos nos render à posição de liderança do Primeiro Mundo ou ao tamanho da China. Precisamos criar nossos espaços, pensar fora da caixa. Vamos inovar!

Amc h a m : A que exatamente o sr. se refere?

A m c ham : Como fazer isso?

Ped ro Pa s s o s :É importante uma reflexão para saber se nossas estratégias estão corretas, de onde estão nascendo as inovações e que tipos de pessoas estão levando isso adiante. Hoje, as maiores empresas do mundo foram criadas por garotos que nem sempre têm graduação e pós-graduação. O incentivo, em alguns lugares, é montar uma empresa inovadora antes mesmo de se formar. Nossa abordagem de incentivo é a mais correta?

P edr o Passo s: No setor de varejo e consumo, os hábitos de compra estão sendo mudados de forma radical. Potências do mundo empresarial estão sendo destruídas por novas. Várias redes [tradicionais] estão sendo derrubadas pelo mundo digital, por uma compra que se faz dentro do metrô. O consumidor vai a uma loja, testa o produto, toma um café, mas compra do concorrente pela internet. Falo de uma modificação ampla, a alteração radical dos modelos de negócios. Isso permeia o poder e a lógica das empresas e o tipo de liderança que realmente inova no mundo.

Amc h a m : Como deveria ser uma abordagem correta para a inovação no Brasil?

VOLTAR A PÁGINA INICIAL

11


ENTREVISTA

Amc h a m : No seminário, falou-se de uma ampla agenda de incentivo à inovação. O que, para o sr., é prioridade? Ped r o Pa s s o s : A agenda de inovação é ampla. Temos de fazer de tudo e em paralelo. Estimular o empreendimento local, mas também incentivar as grandes empresas e as pequenas a se internacionalizarem. É isso que estabelecerá parâmetros de competitividade para o País. Amc h a m : Outro ponto discutido foi a aproximação entre a academia e as empresas. O que é possível fazer para integrar mais ambas as partes em curto prazo? Ped r o Pa s s o s : A função primeira da academia é formar gente qualificada. Mas ela também gera muito conhecimento, que não pode ficar represado

em gavetas ou silos. Essa produção tem de criar impacto positivo na sociedade, e uma forma de fazer isso é transformar pesquisas em produtos e serviços, além de novas abordagens para todos. É preciso estabelecer um eixo de comunicação e troca de conhecimento entre a sociedade e a academia. A m c ham : A Natura optou por uma plataforma de inovação focada na biodiversidade brasileira. Na sua avaliação, qual é a vocação do País em termos de desenvolvimento tecnológico? P edr o Passo s: Focamos a inovação em biodiversidade. A partir dela pode-se avançar em biotecnologia, um dos campos que o Brasil tem a explorar. O Brasil também tem a explorar energias alternativas, petróleo e derivados. É possível ainda fomentar uma indústria sofisticada de petroquímica, alcoolquímica e medicamentos biológicos.

VOLTAR A PÁGINA INICIAL

12


ENTREVISTA

Eduardo Wanick, presidente e CEO da DuPont para América Latina: Sustentabilidade cria campo amplo para inovação Amc h a m : Durante o seminário, o sr. mencionou a importância de fóruns para compartilhamento de experiências de inovação no setor privado... E du a r d o Wa n i c k: [Os fóruns são] Muito importantes para compartilhar conhecimento. Crescer através da inovação não é uma área na qual o Brasil se destaque, e precisamos aprender com exemplos de sucesso. Amc h a m : Como o sr. percebe a predisposição do setor privado para criar uma agenda conjunta de inovação com governo, academia e – eventualmente – instituições internacionais? E du a r d o Wa n i c k: Começando a melhorar. O primeiro passo é gerar uma maior convicção nas empresas brasileiras de que é possível gerar crescimento lucrativo através da inovação. Amc h a m : O sr. apontou que o Brasil precisaria multiplicar por 30 sua capacidade de inovar para balancear os indicadores de contribuição para o PIB

e os registros de patentes no mundo. Esse salto é viável? Em que prazo? Eduar do Wanic k: É viável no longo prazo com muitas melhorias, como demonstrado pelos exemplos da Coreia do Sul e da China. No curto prazo, já é possível fazer um grande progresso dobrando ou triplicando a intensidade da inovação na nossa economia. Amcham: O sr. vê no governo brasileiro senso de urgência para acelerar o processo de desenvolvimento tecnológico? Eduar do Wanic k: Creio que o programa Ciência Sem Fronteiras é uma boa evidência de que o governo Dilma está empenhado nisso. Antes tarde do que nunca. O anúncio desta semana [13 a 17/08] sobre investimentos em infraestrutura [o plano de logística e transportes do governo, que prevê grande volume de concessões de estradas e ferrovias à iniciativa privada], apesar de não relacionado a tecnologia e inovação, também demonstra que o senso de urgência está aumentando, felizmente. É importante reconhecer quando o governo acerta.

VOLTAR A PÁGINA INICIAL

13


ENTREVISTA

Amc h a m : As pequenas e médias empresas se queixam da falta de um ambiente mais estimulante à inovação, em função de pontos como burocracia excessiva na formalização de empreendimentos e falta de crédito. Como o governo e o setor privado como um todo podem ajudar a melhorar esse quadro?

Eduar do Wanic k: A necessidade de um crescimento mais sustentável para acomodar os anseios dos bilhões de novos consumidores em mercados emergentes em um planeta com recursos e meio ambiente finitos cria um campo muito amplo para a inovação.

E du a r d o W a n i ck : A burocracia realmente é um entrave e, em geral, um tremendo estorvo na nossa cultura. Enquanto isso não muda, é importante compartilhar os exemplos de sucesso em criar crescimento sustentável através da inovação, apesar dos entraves. O seminário da Amcham demonstrou, por parte de todos os setores, uma grande boa vontade em ajudar as pequenas e médias empresas a inovar.

concentrado nos EUA, para a América Latina?

Amc h a m : Como o respeito aos critérios de sustentabilidade influencia a agenda de inovações tecnológicas nas empresas?

A m c ham : Como foi para a DuPont o desafio de trazer o desenvolvimento da inovação, inicialmente

Eduar do Wanic k: Foi um processo complexo, mas muito exitoso. O segredo foi a adoção de um processo de inovação bem disciplinado. A m c ham : O que o sr. pode adiantar sobre os próximos projetos de inovação da DuPont? Eduar do Wanic k: Continuaremos inovando nas nossas áreas tradicionais e, com a recente aquisição da [indústria dinamarquesa de ingredientes alimentícios especializados e enzimas] Danisco, aumentaremos a prioridade da inovação na área de alimentos.

VOLTAR A PÁGINA INICIAL

14


ENTREVISTA

Julio César Castelo Branco Reis Moreira, diretor de Patentes do INPI: Instituto negocia acordos internacionais de exame de marcas e patentes, e trabalha pela disseminação da cultura da inovação

Amc h a m : Como está a negociação de novos

A m c ham : Como vêm evoluindo as conversas para

acordos internacionais de PPH [Patents Prosecution

um acordo comum de exames entre os escritórios de

Highway, sistema de fast track idealizado pelo

patentes da América do Sul?

Escritório de Marcas e Patentes dos EUA, o USPTO, para dar agilidade ao exame dos pedidos de registro

Jul io Mo r eir a: Estamos trabalhando não apenas

de patentes por escritórios de países associados]?

na região sul, mas também na criação de um grupo de propriedade intelectual entre os Brics [Brasil, Índia,

Ju l io

Moreira:

A grande dificuldade que

Rússia, China e África do Sul]. De efetivo, estamos

temos para implantar o PPH é a questão política.

trabalhando em conjunto com o Prosur, grupo de

Tecnicamente falando, não temos impedimentos em

nove países [Argentina, Brasil, Chile, Colômbia,

celebrar acordos desse tipo. Estamos procurando

Equador, Paraguai, Peru, Suriname e Uruguai] para

criar outros mecanismos [para agilizar o exame

tratar de política de propriedade intelectual de forma

de marcas e patentes] e um deles é um acordo

geral [o Prosur surgiu para ampliar a agilidade dos

de colaboração no hemisfério sul. No início de

serviços desses escritórios na região].

agosto, em Brasília, assinamos um memorando de entendimento entre 40 países do eixo sul – América

A m c ham : Em que consiste o trabalho conjunto com

Latina, Ásia e Caribe – para operar de forma mais

o Prosur?

efetiva em termos de propriedade intelectual. Inclusive o cônsul para a América Latina de Direitos

Jul io Mo r eir a: No escritório brasileiro, criamos

de Propriedade Intelectual do Consulado Geral dos

uma ferramenta eletrônica que serve para o exame

Estados Unidos [Rio de Janeiro], Albert Keyack,

colaborativo e é acessada pela internet. Diferentes

esteve presente, como observador.

escritórios em diferentes tempos podem examinar

VOLTAR A PÁGINA INICIAL

15


ENTREVISTA um pedido, e isso hoje é realidade. A ideia é

Julio Mo r eir a: Não temos outra opção que

conseguir, de forma síncrona, avaliar o exame de

não seja fazer isso ocorrer, e o INPI trabalha

outro país ao mesmo tempo e chegar a um resultado

diariamente nesse objetivo. Em parceria com o

comum mais robusto, de negativa ou concessão.

Movimento Empresarial pela Inovação [MEI], a CNI [Confederação Nacional da Indústria] e os estados

Amc h a m : Quais são as atribuições do Prosur?

de São Paulo e Rio de Janeiro, temos investido em levar a cultura da propriedade intelectual e a

Ju l io M o r e i r a : A cooperação não se restringirá ao

disseminação da importância de proteção dos ativos

exame de patentes, mas abrangerá também marcas

intangíveis para as empresas e os estados, além de

e indicação geográfica [delimitação de uma área,

fazer chegar esse conceito às escolas técnicas. Temos

restringindo o uso aos produtores locais].

de levar a cultura de inovação ao berço, como o Japão faz.

Amc h a m : E quanto às negociações com o Brics? A m c ham : Como isso poderia ser realizado? Ju l io M o r e i r a : Iniciamos as discussões, mas de modo geral o processo está bem incipiente. Com a

Julio Mo r eir a: Trata-se de levar a propriedade

África do Sul, firmamos um acordo para ajudar a

intelectual às escolas primárias. Começamos na

instalar um escritório de patentes no fim de agosto.

universidade, estamos atingindo as escolas técnicas

Pela primeira vez, eles começarão a examinar patentes

e o passo seguinte é chegar à educação fundamental

de invenção porque até aqui só validam. Nossa

e à secundária. Com isso, cria-se a cultura da

dificuldade é identificar as contrapartes na China e na

propriedade intelectual. A etapa a seguir é incutir nas

Índia para começar os contatos de cooperação. Ainda

pequenas e médias empresas o espírito de proteger

não fomos efetivos nesse ponto, mas acreditamos que

o que elas criam. Atualmente, elas produzem

isso ocorra em algum momento.

tecnologia e não se protegem, então temos de mostrar que sua capacidade de crescer aumentará

Amc h a m : No debate, alguns representantes de

muito se cuidarem de suas inovações. Num segundo

governo e empresariado sugeriram uma aproximação

momento, queremos levar essa tecnologia criada

entre as entidades relacionadas a inovação. Como

para fora do País.

isso pode acontecer em um futuro próximo?

Expediente Editora: Giovanna Carnio (MTB 40.219) Reportagem: André Inohara e Marcel Gugoni Crédito das fotos: Mário Miranda Diagramação: Lucas Marques

VOLTAR A PÁGINA INICIAL

O evento foi patrocinado por:

16


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.