Desafio de Semiologia

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Desafio Individual

Liberdade, de Vieira da Silva (1984)

Ana Catarina dos Santos Cabrito N.º 219767 1.º Ano, Ciências da Comunicação Unidade Curricular: Semiologia Docente: Prof.ª Célia Belim Ano letivo: 2015/2016


Foi selecionada a pintura de Maria Helena Vieira da Silva (1908-1992), denominada Liberdade (1984). Esta é uma obra comemorativa dos 10 anos de conquista da liberdade de expressão, em Portugal. Nesta tela, segundo Saussure, o signo é composto por uma imagem visual (conceito), constituída por uma árvore dividida em várias ramificações (significante), que representa a liberdade do pós-revolução (significado). A especificidade da relação, na língua, entre os sons e o sentido, ou entre o significante e o significado foi de seguida declarada arbitrária, ou seja, convencional (Joly, 1994, p.33). De acordo com Pierce, neste caso, o signo propriamente dito é a liberdade em crescimento, representada através da árvore e dos seus ramos (o objeto). Estes dois conceitos ligam-se através do interpretante, que é a analogia criada entre a liberdade (signo) e a árvore (objeto). Esta coisa de que nos apercebemos significa algo diferente – é a particularidade essencial do signo: estar lá, presente, para designar ou significar outra coisa ausente (Joly, 1994, p.35). A moldura, o enquadramento, o ângulo do ponto de vista, a composição e as cores são os significantes plásticos, segundo Martine Joly, que mais merecem destaque na pintura. Existe uma tradição cinematográfica, no que diz respeito à moldura, já que a imagem representada na pintura faz com que o leitor dê aso à imaginação, refletindo de que forma é feita a analogia entre o desenho, a palavra escrita e a data apresentada. Foi feito um enquadramento vertical e estreito, que transmite a ideia de proximidade entre o observador e a pintura representa, aproximando os conceitos de indivíduo e liberdade. Esta curta distância é, também, evidenciada pelo uso de um ângulo do ponto de vista frontal. Numa primeira observação, o olhar do recetor foca-se no centro da pintura, isto é na planta, logo há uma composição axial. As cores predominantes na pintura, cujo fundo é branco, são o vermelho (cor primária) e o verde (cor secundária). Estas cores são preponderantes na bandeira nacional, havendo um engrandecimento da nação portuguesa. São, também, associadas ao cravo (símbolo máximo da revolução de 25 de abril) e possuem simbologias ligadas à beligerância e força (vermelho) e esperança (verde), valores que são associados ao processo revolucionário em causa. Martine Joly definiu quatro níveis de interpretação da imagem. No que concerne à transferência indiciária, é possível identificar num primeiro plano uma referência à data de 25 de abril de 1974. Essa indicação encontra-se escrita no solo que suporta uma árvore, cujos frutos formam a palavra “liberdade”. Assim, a transferência cultural está ligada à Revolução dos Cravos que pôs fim à ditadura iniciada em 1933, por António de Oliveira Salazar, e que instaurou a liberdade de expressão num país inexpressivo há mais de 40 anos. Pode ser admitida como transferência icónica o uso de uma árvore (planta) para fazer a analogia à revolução cujo símbolo máximo foi, também, uma planta (os cravos). Para além disso, a transferência icónica pode estar associada à Árvore da Vida, de Gustav Kmilt (anexo 1), já que em ambas as obras a árvore representada assume formas geométricas, tem raízes subterrâneas e os seus ramos alcançam o céu (havendo um contacto entre os três mundos: céu, terra e subsolo). A transferência do motivo está ligada ao tema principal do quadro: a liberdade que, tal como a árvore, precisa de ser plantada (instaurada) e cuidada, para que possa continuar a crescer e a dar frutos. A análise da imagem (incluindo a imagem artística) pode, entretanto, preencher funções diferentes e tão variadas como proporcionar prazer ao analista, aumentar os seus conhecimentos, instruir, permitir a leitura ou conceber mais eficazmente mensagens visuais (Joly, 1994, p.51). A função poética diz respeito à mensagem que a imagem pretende passar. Dentro do plano icónico, a pintura é uma analogia entre a liberdade e a natureza, representada pela árvore que ocupa quase a totalidade do quadro. Por sua vez, no plano linguístico, há uma referência à data da Revolução dos Cravos: 25 de abril de 1974 e à palavra “liberdade”, renascida após a data referida. A função fática é aquilo que prende, ou não, a atenção do recetor. No que concerne ao plano icónico, a palavra “liberdade”, que está desenhada de forma a confundir-se com os frutos da própria árvore, apela a atenção do visualizador. No plano linguístico, a função fática está contida na palavra desenhada e na data apresentada. Toda a mensagem acerca dos valores de abril e de continuidade da luta pelos mesmos podem ser considerados como sema contextual, ou classema, desta pintura. No plano icónico, toda a representação da árvore em crescimento (Árvore da Vida) incute no recetor a vontade de continuar a lutar pelas conquistas dos antepassados. Por sua vez, no plano linguístico, a data e palavra representadas relembram o Portugal antes do 25 de abril e suscitam sentimentos no recetor de repulsa por esse tempo, aumentando a vontade de preservar a liberdade adquirida. Segundo Martine Joly, a imagem é um instrumento de comunicação entre as pessoas, e pode também servir de instrumento de intercessão entre o Homem e o próprio mundo (1994, p.67). Semiologia

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Bibliografia Joly, M. (1994), Introdução à Analise de Imagem, Edições 70, Lisboa.

Webgrafia Signos. (2010, 13 de maio). Signos, Significante, Significado e Significação [mensagem de Blog]. Disponível em: http://semiotica-unicv.blogspot.pt/2010/05/signo-significante-significacao.html Simbologia das Cores. (s.d.). Tratado de Ontologia das Cores, Osny Ramos. Disponível em: https://semiologiaiscsp.files.wordpress.com/2009/03/simbologia-das-cores.pdf

Anexo 1

Árvore da Vida, de Gustav Klimt (1905)

Semiologia

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