O Amor no Cinema

Page 1

Ana Catarina dos Santos Cabrito N.º:219767 1.º Ano; Ciências da Comunicação Unidade Curricular: Semiologia Docente: Prof.ª Célia Belim Ano letivo: 2015/2016


Índice 1.

Introdução ................................................................................................................. 3

2.

Análise do filme “Diário da Nossa Paixão” ............................................................... 3

3.

Análise do filme “A Culpa é das Estrelas” ................................................................. 6

4.

Análise narrativa das personagens principais ......................................................... 10 a. Análise narrativa de Allie Hamilton e Noah Calhoun ......................................... 10 b. Análise narrativa de Hazel Grace Lancaster e Augustus Waters ........................ 10

5. Estereótipos e clichés presentes nos filmes analisados e a sua influência na sociedade ........................................................................................................................ 11 6.

Discussão de Resultados ......................................................................................... 12

7.

Conclusão ................................................................................................................ 12

8.

Bibliografia .............................................................................................................. 13

9.

Webgrafia ................................................................................................................ 13

10. Anexos ..................................................................................................................... 14 a.

Imagens do filme “Diário da Nossa Paixão” ..................................................... 14

b.

Imagens do filme “A Culpa é das Estrelas” ....................................................... 16

10. Apêndices ................................................................................................................ 18 a.

Fichas técnicas dos filmes ................................................................................. 18

b.

Citações retiradas dos filmes ............................................................................ 18

c.

Modelo Actancial aplicado aos filmes analisados ............................................. 19

d.

Semelhanças e Diferenças entre os filmes ........................................................ 22

e.

Tipos de espaço nos filmes................................................................................ 23

Ana Catarina Cabrito

Semiologia 2015/2016

Página 2


1. Introdução Este trabalho está inserido na Unidade Curricular de Semiologia e tem como temática principal “O Amor no Cinema”, mais especificamente o papel das relações amorosas na superação da doença. O tema foi escolhido tendo por base a imagem de casal perfeito e amor incondicional que a indústria cinematográfica, nomeadamente Hollywood, tem vindo a criar. Tal concebe estereótipos e clichês que são, muitas vezes, transpostos para a realidade social e para as relações interpessoais. Para explorar o tema será feita a análise dos filmes “Diário da Nossa Paixão” (2004) e “A Culpa é das Estrelas” (2014). A escolha do primeiro filme baseou-se no facto deste ser uma adaptação cinematográfica do livro igualmente titulado do autor Nicholas Sparks. O livro esteve, durante todo o ano do seu lançamento, no New York Times Best-seller List (nytimes.com, 2004). O filme foi também galardoado com vários prémios (por exemplo: MTV Movie Award de Melhor beijo, em 2005). O segundo filme foi escolhido por ter arrecadado diversos prémios, com destaque para o MTV Movie Award de Melhor Filme, em 2014. No que concerne a objetivos e metodologias, o trabalho será elaborado da seguinte forma: análise dos filmes, de uma forma diacrónica (interpretação temática, análise textual, análise de alguns códigos cinematográficos, e exploração de certas simbologias); observação da evolução das personagens principais (análise narrativa das personagens); reflexão sobre os estereótipos e clichês presentes e a sua influência na sociedade; discussão de resultados e conclusão sobre a representação do amor, por parte da indústria cinematográfica. 2. Análise do filme “Diário da Nossa Paixão” Este é o tempo do cinema: agora já não é possível nem ignorá-lo (é uma arte de massa), nem olhálo como o parente pobre das outras artes (Wollen, 1979, p.5). O filme insere-se nos géneros cinematográficos de Drama e Romance1, e é protagonizado pelo casal Noah Calhoun (Ryan Gosling) e Allie Hamilton (Rachel McAdams). É regido por uma narração binária: dois fios condutores a reger a ação, coexistência de duas ações que podem entrecruzar-se ou manter-se distintas (Moscariello, 1985, p.56). Isto explica-se pela construção da ação através da alternância entre o passado (analepses/flashbacks 2 ) e o presente (prolepses), para que o espectador compreenda toda a

1

O Drama Romântico tende a focalizar a sua atenção nas relações afetivas de maior intimidade ou cumplicidade, dando frequentemente a ver o seu reverso, as suas dificuldades e incomunicabilidades, a sua transitoriedade ou incompatibilidade. Por eleger como tema fulcral o mais compulsivo dos afetos, tende a suscitar o maior envolvimento do espetador (Nogueira, 2010, p.30). 2 As constantes «deslocações temporais conferem aos lugares uma unidade de carácter psicológico mas não geográfico». Geralmente, o desenvolvimento de tal tipo de narrativa «não é lógico mas puramente mental, determinado por um jogo de associações visuais e emotivas que criam um universo fictício cuja coerência é de ordem exclusivamente psicológica» (Silva, 2008, p.73).

Ana Catarina Cabrito

Semiologia 2015/2016

Página 3


história do casal. O filme inicia-se no presente, onde Allie (Gena Rowlands) aparece com uma idade muito avançada a olhar pela janela do lar, no qual está internada devido à doença de Alzheimer (figura 1, anexos). A ação desenvolve-se através de um monólogo, em voz-off, de Duke (James Garner), que faz uma retrospetiva da sua vida. Cedo se descobre que Duke é Noah. A mudança de nome ocorre para que ele possa recontar a história de amor que partilhou com Allie à própria, que por estar doente não se recorda do seu passado, nem sequer reconhece Duke como o seu marido Noah. Ele mantém este hábito todos os dias na esperança de que um dia a sua mulher consiga recuperar a memória perdida (amor incondicional). A 6 de junho de 1940 a vida de Noah mudou para todo o sempre e, portanto, Duke decide começar a contar a sua história nessa data. Foi naquele dia que Noah e Allie, com apenas 17 anos, se viram pela primeira vez. De entre as pessoas que estavam numa feira popular, Noah fixou o seu olhar (close-up) em Allie. Ao tentar abordá-la, não teve sucesso. O rapaz só conseguiu ter o momento a sós que desejava no fim de uma sessão de cinema, organizada pelos seus amigos Fin (Kevin Connnolly) e Sarah (Heather Wahlquist), convidando-a para irem a pé para casa. Durante a caminhada, feita ao luar, Noah e Allie conversaram e partilharam alguns momentos românticos (figura 2, anexos), como uma dança ao som da música interpretada por Billie Holiday, I’ll be seing you (1944). Apesar da felicidade vivida durante o verão, as diferenças sociais entre o casal eram percetíveis. Noah era um típico rapaz do campo que vivia em Seabrook (Texas, EUA), cidade na qual Allie passava férias com a sua família abastada, proveniente das grandes cidades norte-americanas. Além destas discrepâncias, que não preocupavam o casal, os pais de Allie faziam questão que a filha fosse estudar para a University of Sarah Lawrence (prestigiada escola superior de Artes, em Nova Iorque, EUA). Em termos simbológicos, estes obstáculos servem para realçar o retrato de “amor impossível” entre dois adolescentes. Certa noite, Noah levou Allie para uma casa abandonada, conhecida como casa Windsor, situada na margem de uma lagoa. O casal realizou uma promessa de, no futuro, adquirirem aquela habitação e remodelarem-na a seu gosto. Esta cena é protagonizada por um ambiente sensual e romântico, devido aos planos aproximados (close-up) utilizados e à falta de iluminação do local (figura 3, anexos). Assim que se deitaram no chão, a câmara acompanhou-os fixando-se nas suas faces, que estavam coladas, deixando a imagem quase sem luz e criando um clima intimista, entre o espetador e o casal. O momento é interrompido por Fin que entrou em cena para os avisar de que os pais de Allie estavam à sua procura. Quando chegaram à casa de férias da família Hamilton, a jovem discutiu com os seus pais, que exigiram o fim da relação amorosa. Noah, que ouviu a discussão, acabou por se aperceber que jamais conseguiria dar a Allie o futuro ambicionado pelos pais dela e resolveu terminar o namoro que mantinham. No dia Ana Catarina Cabrito

Semiologia 2015/2016

Página 4


seguinte, a família Hamilton terminou as férias e voltou para casa, em Charleston, EUA. Antes de partir, Allie foi ao local de trabalho de Noah, mas não o encontrou. Durante o tempo de separação do casal, Noah e Fin mudaram-se para Atlanta (Geórgia, EUA), onde se alistaram ao exército americano e combateram na Segunda Guerra Mundial. Fin acabou por morrer na Europa. Ao regressar a casa, Noah conseguiu comprar a casa Windsor, com a ajuda do seu pai (Sam Shepard), e decidiu cumprir a promessa que tinha feito: remodelar a casa ao gosto de Allie. Por sua vez, Allie frequentou a faculdade e fez voluntariado numa enfermaria, auxiliando os feridos de guerra. Apaixonou-se e ficou noiva de um dos seus pacientes, Lon Hammond (James Mardsen). Ao contrário de Noah, Lon era rico e existia uma aprovação da relação que mantinham (figura 4, anexos). Assim que descobriu o noivado de Allie, e depois do seu pai morrer, Noah agarrou-se de tal forma à remodelação que a concluiu em tempo recorde. Esta transformação da casa simboliza a força de vontade que Noah possuía em cumprir a promessa que tinha feito a Allie. Ele depositava na construção a esperança de que ela voltaria para si. Não era só a casa que estava renovada, mas também o amor de ambos, que assim como eles tinha crescido e amadurecido. Tal como a casa (símbolo da vida), eles teriam uma nova oportunidade. Deste modo, a casa e a sua renovação simbolizam a renovação do amor de Allie e Noah. No fim da construção, Noah colocou um anúncio no jornal com o intuito de vender a casa, mas tal nunca aconteceu (figura 5, anexos). No entanto, essa fotografia foi vista por Allie, quando estava a comprar o seu vestido de noiva (figura 6, anexos). Ela ficou tão abalada que decidiu ir até Seabrook falar com Noah. Eles permaneceram separados durante sete anos. Este número surge associado a ideias como a perfeição, a totalidade, a espiritualidade,… Neste caso, os sete anos de separação representam a perfeição do seu amor. Este algarismo pode ainda ser relacionado com a conclusão e renovação cíclica, já que depois de reencontrar o seu amor de verão, Allie acabou com o seu noivado e reiniciou uma relação com Noah. Durante os dias que passou em Seabrook, todo o tempo foi passado ao lado de Noah, na casa que ele construiu. Ambos reviveram o amor que tinham sentido naquele verão, e que afinal não tinha morrido. Após aqueles anos de separação, existiu um primeiro contacto sexual, que se repetiu vezes sem conta. Isto foi percetível através do slow fade3, que encerrou a primeira cena de erotismo. Há um regresso ao presente: a cena é liderada pelos filhos e netos do casal que fazem uma visita ao lar, porém Allie não reconhece ninguém (figura 7, anexos). É curioso ver que esta visita ocorre após a cena de amor, evidenciado que, apesar das dúvidas que possam surgir nas cenas seguintes, o casal fica, de facto, junto (figura 8 anexos).

3

Uma lenta perda de foco, ou uma modesta tomada panorâmica acima dos corpos dos amantes, significando a continuação e conclusão do ato (Turner, 1993, p.55).

Ana Catarina Cabrito

Semiologia 2015/2016

Página 5


Estas incertezas apareceram após uma visita da mãe de Allie (Joan Allen), onde a mesma lhe devolveu as 365 cartas que Noah escreveu, durante o ano subsequente à separação do casal, e que Allie nunca chegou a ver (figura 9, anexos). Depois de descobrir aquelas cartas, a jovem viveu uma luta interior: de um lado, o seu primeiro grande amor, do outro o marido que a família sempre idealizou. Duke finaliza a narrativa, dizendo que Allie acabou por ir viver com o seu amado Noah. Milagrosamente, existe um breve momento de recuperação da memória de Allie, no qual ela se lembra de que a história que tem vindo a ouvir é a sua história. Todavia, o momento acaba quando a doente sofre um ataque de pânico, que agravou a sua doença (figura 10, anexos). No fim da cena, a câmara foca-se no livro que Noah tem lido (close-up) e vê-se uma dedicatória de amor, onde é percetível que, no início da doença, ela escreveu aquele livro para que ele lhe recontasse a história do seu amor quando ela já não se lembrasse. O filme termina com um milagre: quando Noah vai ao quarto da sua mulher há uma recuperação total da memória de Allie, contrariando todas as opiniões médicas. Depois de se deitar ao lado da sua mulher, Noah despede-se dela com um simples “Boa noite!”. Toda esta cena é um eufemismo, uma vez que surge como forma de atenuar a verdade catastrófica -morte do casal- com vista a diminuir a força do impacto que a verdade poderá causar (esjmlima.prof2000.pt, s.d.). Na manhã seguinte, a enfermeira encontra-os juntos, de mãos entrelaçadas, com os corpos pálidos e sem respiração (figura 11, anexos). A despeito das diferenças -sejam elas sociais, morais ou de personalidade- as duas personagens foram feitas uma para a outra e, no final, devem superar ou enfrentar algum tipo de adversidade contra a sua união para serem recompensadas com o “happy end” (Rossi, 2013, p.11). Neste filme o amor surge codificado como a luta contra os obstáculos surgidos ao longo da vida: primeiro as diferenças sociais entre ambos, depois o noivado de Allie com Lon e, no fim, a doença que afetou Allie (alzheimer). O casal consegue superar todas as dificuldades e viver o seu amor até ao fim da vida. Desta forma, é retratada a ideia de amor incondicional e eterno, que supera todas as adversidades e dura até à morte de ambos. 3. Análise do filme “A Culpa é das Estrelas” As personagens principais são Hazel Grace Lancaster (Shailene Woodley) e Augustus Waters (Ansel Elgort). À semelhança do filme anterior, insere-se nos géneros de Drama e Romance. Está orientado por uma narração circular: quando o final da narrativa reencontra o início, de tal modo que o arco narrativo acaba por formar um círculo fechado (Moscariello, 1985, p.56), dado que o filme começa com um close-up4

4

O grande plano pode ser utilizado, também, para isolar e sublinhar a dramática e narrativamente certos objetos relevantes para o desenrolar da ação, em momentos chave do enredo (Nogueira, 2010, p.39).

Ana Catarina Cabrito

Semiologia 2015/2016

Página 6


da face de Hazel e termina na mesma cena. A narrativa tem início com uma voz-off de Hazel que recorda momentos do passado e situa o princípio da história no verão dos seus 17 anos (figura 12, anexos). Hazel lutava contra um cancro na tiroide, diagnosticado aos treze anos, e que ao alastrar-se para os pulmões foi considerado terminal. Simbologicamente, o número treze surge associado ao azar e às coisas más e, por essa razão, o diagnóstico fatal surgiu nessa idade. Ela necessita de um aparelho que a permite respirar. Este mecanismo é alimentado por uma máquina de oxigénio, instalada numa mala de trolley5. A protagonista começou a frequentar um grupo de apoio a jovens com cancro, por recomendação da sua mãe (Laura Dern) e da sua médica, Dr.ª Maria (Ana Dela Cruz), por acharem que ela tinha sintomas de depressão: lia o mesmo livro vezes sem conta, An Imperial Affliction (figura 13, anexos) e nunca saía de casa, refugiando-se em reality-shows. Tanto o livro como o seu autor, Peter Van Houten (Willem Dafoe), são fictícios. Foi aí que conheceu Augustus Waters. Ele acompanhava o seu amigo Isaac (Nat Wolff), vítima de um cancro ocular e que, brevemente, ficaria cego. Augustus também já tinha sofrido de um cancro ósseo, denominado osteossarcoma, superado depois da amputação da perna direita. Durante uma conversa, no fim de uma sessão, Augustus colocou um cigarro na boca e Hazel ficou perplexa com essa atitude. No entanto, ele explicou-lhe que aquele gesto era uma metáfora (figura 14, anexos): metia aquilo que o podia matar entre os seus dentes, mas nunca o acendia, não lhe dando o poder de o matar. Esta cena é uma analogia à luta contra a doença (ou contra outros problemas), já que se o doente enfrentar a sua doença e não tiver medo dela, não lhe fornece o poder que ela precisa para o matar. Assim, a cena corresponde a uma associação comparativa entre duas realidades, entre duas ideias, coladas uma à outra sem quaisquer elementos que explicitem essa associação (esjmlima.prof2000.pt, s.d.). Augustus convenceu Hazel a ler o seu livro preferido (The Price Of Dawn), em troca de ele ler o livro favorito dela. Esta ação representa a vontade de sair da zona de conforto e de agradar ao outro, já que Hazel não trocava o romance An Imperial Affliction por nenhum livro e disponibilizou-se para ler o livro científico de Augustus. Quando terminaram a leitura dos respetivos livros, entraram de novo em contacto. Ambos desejavam conhecer o fim das personagens do romance de Hazel, dado que este terminava a meio duma frase. Ainda assim, compreendiam que esse final simbolizava a morte inesperada e o súbito fim da vida. Ele surpreendeu-a ao dizer-lhe que já tinha entrado em contacto com o autor, Peter Van Houten, e que ele os tinha convidado para o visitarem em Amesterdão, na Holanda. Augustus decidiu utilizar o seu

5

Os adereços que as personagens transportam consigo servem muitas vezes de elementos identificadores, isto é, constituem emblemas (esjmlima.prof2000.pt, s.d.), logo este aparelho respiratório é o emblema de Hazel.

Ana Catarina Cabrito

Semiologia 2015/2016

Página 7


desejo dos Génios6 em prol de Hazel, pedindo-lhes que suportassem os custos da viagem e da estadia, já que os pais dos jovens não tinham esses recursos monetários. Quando tudo parecia estar a correr bem, Hazel precisou de internamento hospitalar (figura 15, anexos). O seu estado clínico piorou e os médicos não apoiaram a sua viagem até Amesterdão. Após o regresso a casa, ela tentou afastar-se de Augustus por saber que estava numa fase terminal da sua doença. Mas ele não desistiu de manter o contacto com ela. Desta maneira, vê-se reforçada a ideia de que o amor entre eles era incondicional (figura 16, anexos). Depois de alguns dias de recuperação, a mãe de Hazel, por saber que a filha queria viajar antes de morrer, contou-lhe que a viagem realizar-se-ia, embora por um período de tempo mais curto e que ela acompanharia o casal durante a ida a Amesterdão. Durante a viagem de avião, Augustus mostrou a sua fobia de voar, simbolizadora de que os homens que aparentam ser fortes também têm fragilidades. Porém, em antagonismo ao medo sentido, ouve-se uma música animada de Charile XCX, Boom Clap (2014), que reflete a alegria vivida pelo casal naquele momento. A música amplifica o estado emocional ou a atmosfera, e também tenta transmitir a “importância emocional” de uma cena: os “verdadeiros sentimentos das personagens envolvidas” (Turner, 1993, p.64). Ao chegarem ao quarto de hotel, a mãe de Hazel ofereceu-lhe um vestido azul para ela vestir no jantar com Augustus (figura 17, anexos). A cor do vestido simboliza o inteligível, o abstrato, o não-físico, a racionalidade… (Ramos, 2003). Todos estes conceitos estavam presentes na relação que o casal mantinha, já que até à ida a Amesterdão não existiu nenhum contato físico entre eles, sendo uma relação puramente emocional e intelectual. A negação dos aspetos sensuais do amor e a ênfase do plano imaginativo reforçam a valorização do amor enquanto processo estimulado mentalmente (Rossi, 2013, p.131). No dia subsequente o casal foi à casa de Peter Van Houten. O escritor não se mostrou feliz por vê-los e pediu-lhes que fossem embora. Rapidamente se percebeu que foi a sua mulher, Lidewij (Lotte Verbeek), que os convidou e não o escritor. Quando se sentaram para conversar, depararam-se com um homem alcoólico, antipático e indisponível para responder às perguntas colocadas pelos jovens, por considerar que os doentes terminais eram um fardo na sociedade (figura 18, anexos). O casal, desiludido, abandonou a casa de Peter. Lidewij veio atrás deles e, levou-os numa visita à casa de Anne Frank. Durante o passeio, Hazel deparou-se com demasiadas escadas e teve de se superar a si mesma para chegar até ao fim da visita. Com esta atitude é simbolizada a força que o amor pode suscitar nas pessoas, fazendo-as superar-se a si mesmas, já que antes de conhecer Augustus ela não seria capaz de ultrapassar aquele desafio. Quando chegaram ao fim da visita houve um primeiro contacto físico entre ambos, através de um beijo.

6

A fundação Make A Wish realiza os desejos de jovens entre os 13 e os 18 anos, sofredores de doenças de risco, para lhes conceder um momento de alegria e esperança (makeawish.pt, s.d.).

Ana Catarina Cabrito

Semiologia 2015/2016

Página 8


Nessa noite, existiu um primeiro contacto sexual entre ambos (figura 19, anexos). Este ato remete-nos para a ideia de necessidade de perda da virgindade com alguém que também o seja, criando o estereótipo de que só a assim esse momento será marcado por um ambiente romântico e íntimo. A felicidade do casal foi destruída quando Augustus admitiu que lhe tinha sido diagnosticado um novo cancro, que já se tinha alastrado por todo o corpo, incluindo para os seus órgãos vitais, sendo um cancro incurável e terminal. Esta fase do filme pode ser associada ao fim do livro fictício An Imperial Affliction, que ao acabar no meio duma frase simboliza o fim súbito, assim como a doença de Augustus é um final inesperado para este filme, já que todo o enredo girou em torno da doença de Hazel, havendo uma reviravolta na narrativa. Desta forma, existe uma inversão de expetativas para o espectador. Pouco tempo depois de voltarem a casa, Augustus teve uma crise que agravou a sua condição (figura 20, anexos). Os médicos decidiram interromper a quimioterapia e ele ficou preso a uma cadeira de rodas. Ao saber que o dia da sua morte estava perto, decidiu planear um ensaio do seu funeral, para ter oportunidade de ouvir os discursos fúnebres de Isaac e Hazel (figura 21, anexos). Oito dias depois desse ensaio, Augustus morreu. O algarismo oito representa a inexistência de um início e de um fim, de um nascimento e de uma morte, está ligado ao símbolo do infinito, àquilo que não tem fim. O oito associa-se, desta forma, à eternidade do amor destes dois adolescentes: apesar de Augustus ter morrido, o amor que Hazel sente por ele não terminou no dia da morte dele e não vai terminar no dia da sua morte, será eterno. No fim do funeral do seu amor, Hazel foi surpreendida pela visita de Peter Van Houten, que confessou que o livro que escreveu foi inspirado na sua filha que foi vitimizada por um cancro, acabando por falecer. Ele entregou-lhe uma impressão de um e-mail que Augustus lhe redigiu depois da viagem a Amesterdão, no qual o jovem pedia ao escritor que reescrevesse as ideias que tinha tido para o fim da história de An Imperial Affliction, de forma a que Hazel pudesse obter o final que tanto desejou. O filme termina da mesma maneira que começou, com Hazel deitada no jardim a olhar para as estrelas (presentes no título do filme e representativas do divino e, mais especificamente, da perfeição do amor jovial). Desta vez é ouvida a voz-off de Augustus a ler o e-mail que tinha escrito a Peter Van Houten, enquanto que no grande ecrã são feitas analepses a momentos vividos pelos casal (figura 22, anexos). Assim como no filme anterior, o amor surge codificado na luta contra a doença de Hazel e, depois da reviravolta na narrativa, contra a doença de Augustus. Existe a representação do amor como força motivadora da vontade de viver e de aproveitar cada dia como se fosse o último (carpe diem). Existe ainda a ideia de que, depois desse último dia o amor vai permanecer, retratando o amor eterno, que constitui o “happy end” mesmo com a existência da morte de um dos elementos do casal. Ana Catarina Cabrito

Semiologia 2015/2016

Página 9


4. Análise narrativa das personagens principais A seguinte análise vai debruçar-se sobre a evolução das personagens principais ao longo da história. a. Análise narrativa de Allie Hamilton e Noah Calhoun Allie Hamilton e Noah Calhoun são personagens-tipo/estereótipos, pois representam uma classe social: a classe alta e a classe baixa, respetivamente. O início do filme corresponde à fase final da vida do casal, dado que se encontram num lar e numa idade idosa. Allie é uma sénior debilitada, devido à doença de Alzheimer, não sendo capaz de recordar o seu passado. Todavia, apresenta-se com uma aparência cuidada, já que usa maquilhagem e utiliza um vestiário requintado, representando a classe social a que sempre pertenceu (classe alta da sociedade). Noah, apesar da idade, continua a manter uma postura igual à que mantinha quando era jovem, representado a classe social baixa. No que toca a vestuário, enverga roupas simples, de cores neutras (branco, preto e cinzento), e na sua fase jovem usava t-shirts básicas, também com cores pouco vivas. A personalidade de Noah mantém-se semelhante à que tinha quando era jovem: persistente, humilde e apaixonado incondicionalmente por Allie. Durante o filme são realizadas diversas analepses que permitem visualizar as personagens na adolescência e numa fase adulta. A jovem Allie, que era comandada pelos pais, aparentava ser feliz e extrovertida, visto que não teve vergonha de falar com Noah, e quando apareceu na imagem pela primeira vez ria alto com a sua amiga Sarah. Quando conheceu Noah deixou de se preocupar com os interesses monetários da família, passando a importar-se com aquilo que sentia. Por outro lado, Noah alegava ser um rapaz calmo e sensato, todavia mudou quando conheceu Allie, passando agir por impulso e a pensar de forma emocional. Assim, a paixão aparece sempre associada ao descontrole, a uma força maior que nos arrebata contra todos os nossos interesses (Rossi, 2013, p.41). Em suma, ao longo da narrativa, foi notada a adoção de uma atitude menos racional e mais emocional em relação à vida, já que depois de se apaixonarem, não houve quaisquer preocupações com padrões morais ou sociais. Embora se tenham mantido afastados durante sete anos, Allie não pensou duas vezes quando decidiu ficar com Noah, abandonando a segurança financeira que Lon, o seu noivo, lhe poderia dar. b. Análise narrativa de Hazel Grace Lancaster e Augustus Waters Hazel Grace Lancaster e Augustus Waters são personagens modeladas, já que as suas atitudes e comportamentos vão sofrendo alterações no decorrer da narrativa. No início da história, Hazel mostrava indícios de ser uma rapariga deprimida, sem vontade de viver e que ficava em casa a assistir a reality-shows. Lia sempre o mesmo livro, An Imperial Affliction, e chegou a Ana Catarina Cabrito

Semiologia 2015/2016

Página 10


pedir à sua médica que lhe receitasse fármacos que acabassem com o seu sofrimento (eufemismo para suicídio). Mas, a sua atitude mudou quando conheceu Augustus. Este rapaz sofria de um cancro terminal silencioso, que só foi descoberto mais tarde. Era determinado, altruísta (visto que abdicou do seu desejo, para o conceder a Hazel) e tinha uma vontade de viver inacreditável. Depois de se conhecerem, Augustus mostrou a Hazel que nem tudo na vida de um doente terminal tinha de ser mau e ensinou-a a aproveitar cada dia como se fosse o último, porque, na realidade, esse último dia vai chegar (carpe diem). Quando Augustus morreu, a narrativa não avançou muito, não sendo percetível qual foi a atitude de Hazel a longo prazo. No entanto, a curto prazo Hazel, apesar de estar desconsolada e abatida com a morte do seu grande amor, continuou a querer viver como ele lhe tinha ensinado e teve forças para o fazer. Em suma, é observável que a atitude de Hazel mudou quando conheceu Augustus, havendo uma mudança radical de comportamento depois de encontrar o “verdadeiro amor”. A vida antes dele era associada à depressão, à angústia constante, à aceitação da sua doença como sinónimo de morte. Todavia a “força do amor” alterou a sua atitude em relação à sua situação e à vida em geral. Assim, à semelhança do filme anterior, apesar de haver uma morte no fim há também um “happy end”, dado que a vida de Hazel melhorou para todo o sempre (amor eterno). 5. Estereótipos e clichés presentes nos filmes analisados e a sua influência na sociedade Compreendemos as sociedades retratadas nos filmes, por meio da experiência na nossa própria sociedade (Turner, 1993, p.82). O indivíduo revê-se em histórias retratadas no grande ecrã, identificandose com personagens e extraindo delas ideais que aplicará no seu quotidiano. Nos dois filmes analisados, o amor é codificado na luta de um casal contra várias adversidades, nomeadamente contra a doença. Embora de maneiras diferentes, o amor é descrito como um sentimento incondicional, eterno e invencível. São também apresentados outros estereótipos7 e clichés8 que serão analisados de seguida. No caso do filme “Diário da Nossa Paixão”, os estereótipos e clichés mais evidentes são o da rapariga rica (Allie) que se apaixona por um rapaz pobre (Noah) e que precisa de enfrentar uma luta contra os ideais da sua família para ficar com o seu verdadeiro amor. Além deste, é possível identificar mais alguns: pais ricos que procuram um homem igualmente rico para casar com a sua filha; a mulher que larga tudo para viver com o seu “verdadeiro amor”; a mãe que também viveu um amor de verão semelhante ao da filha, mas escolheu casar com o homem rico (pai de Allie); experiência do amor de verão.

7

É um rótulo que condiciona o olhar antes mesmo que possamos ver algo. (Espindola, s.d, p.188). Uso repetitivo e enfadonho de diálogos e soluções cênicas em qualquer tipo de produção artística. (roteirodecinema.com.br, s.d.). 8

Ana Catarina Cabrito

Semiologia 2015/2016

Página 11


Por sua vez, no filme “A Culpa é das Estrelas” surge o estereótipo de homem-herói que salva a sua amada, neste caso Augustus salvou Hazel, não de um perigo físico, mas de um perigo mental: a depressão. Também surgem outros estereótipos e clichés, como, por exemplo: rapaz e rapariga que nunca tiveram nenhum contacto sexual e que vivenciam a sua primeira vez juntos; pais que fazem tudo pela sua filha doente (sacrificados e lutadores); um dos membros do casal tenta afastar o outro, sem sucesso. Em ambos os filmes existe um discurso mistificante do amor enquanto algo “mágico”, associado às forças do destino, em que duas almas feitas uma para a outra se devem encontrar e unir-se, superando todas as adversidades apresentadas como força externa (Rossi, 2013, p.138). Através desta ideia de “amor por acaso”, surgem a temática do destino. Esta força é caracterizada como sobrenatural, soberana e incontrolável, gerando uma certa inércia na vida das pessoas, visto que ao acreditarem que o destino se encarrega da sua felicidade e realização pessoais, não reúnem os esforços necessários para atingirem esses objetivos. 6. Discussão de Resultados De certo modo, a ideia de que é necessário viver um amor como o representado nos filmes existe na mentalidade dos indivíduos. Há o preconceito de que nunca se atingirá a felicidade/realização completa se não existir alguém ao nosso lado que nos faça viver as cenas românticas que são representadas no ecrã. Quem não chega a encontrar o “par perfeito” tem tendência para se refugiar nestas encenações amorosas, fugindo à própria realidade e alimentando a esperança de que o destino mudará a sua vida. A narrativa pode ser descrita como uma forma de “dar sentido” ao nosso mundo social e compartilhar esse sentido com os outros (Turner, 2013, p.73). Para encontrar esse sentido, os recetores reproduzem aquilo que viram representado/idealizado no ecrã no seu quotidiano. 7. Conclusão É possível verificar que existe uma tentativa, por parte da indústria cinematográfica, nomeadamente por Hollywood, em representar o amor entre duas pessoas, especialmente entre dois adolescentes, como um sentimento invencível e que durará para sempre. Tal foi codificado, em ambos os filmes, na luta contra as várias vicissitudes da vida. Esta ideia de amor incondicional que nunca morre, omnipresente e imprescindível durante a vida, é por ela própria um cliché e um estereótipo: o amor que dura para sempre e supera tudo e todos. O amor é mais do que um sentimento: mobiliza mercados, instituições e transformações no seio da sociedade. É codificado e passa a ser criador e influenciador de mentalidades e pensamentos. É uma linguagem mundial, lida de diferentes formas em cada cultura, mas nunca deixando de ser valorizado. Ana Catarina Cabrito

Semiologia 2015/2016

Página 12


8. Bibliografia Moscariello, A., (1985), Como Ver um Filme. Lisboa: Editorial Presença. Penafria, M., (2009), Análise de Filmes- Conceitos e Metodologia(s). Wollen, P., (1997), Signos e Significação no Cinema. Livros Horizonte. 9. Webgrafia Belim, C., (2016), Análise Fílmica, Lisboa: ISCSP. Último acesso em 19 de maio de 2016. Definição de Estereótipo (s.d.): Semiótica Social e Estereótipos: Uma Análise na Comunicação Intercultural. Disponível em: http://www.pucrs.br/edipucrs/online/IXsemanadeletras/ide/Polianne_Merie_Espindola.pdf, último acesso em 18 de maio de 2016. Figuras de Estilo (s.d.): http://esjmlima.prof2000.pt/figuras_estilo/figurestil.htm, último acesso em 11 de maio de 2016. IMDB (s.d.): Ficha técnica de “A Culpa é das Estrelas”: http://www.imdb.com/title/tt2582846/, último acesso em 25 de abril de 2016. IMDB (s.d.): Ficha técnica de “Diário da Nossa Paixão”: http://www.imdb.com/title/tt0332280/?ref_=nv_sr_1, último acesso em 25 de abril de 2016. Machado, J., (s.d.), Roteiro de Cinema. Disponível em: http://www.roteirodecinema.com.br/manuais/vocabulario.htm, último acesso em 18 de maio de 2016. Make A Wish (s.d.), Make A Wish: http://www.makeawish.pt/, ultimo acesso em 7 de maio de 2016. New York Times, (2004): New York Times Best-Seller List: http://www.nytimes.com/2004/08/29/books/paperback-best-sellers-august-29-2004.html, último acesso em 18 de maio de 2016. Nogueira, L., (2010), Géneros Cinematográficos. Disponível em: http://www.livroslabcom.ubi.pt/pdfs/nogueira-manual_II_generos_cinematograficos.pdf, último acesso em 20 de abril de 2016. Ramos, O., (s.d.), Tratado de Ontologia das Cores. Disponível em: https://semiologiaiscsp.files.wordpress.com/2009/03/simbologia-das-cores.pdf, último acesso em 8 de maio de 2016. Rossi, T. C., (2013), Tese de Doutoramento não publicada. Universidade de São Paulo, Brasil. Disponível em: http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8132/tde-26062013-093448/ptbr.php, último acesso em 13 de maio de 2016. Silva, E. M. N., (2008), Tese de Mestrado não publicada. Universidade da Madeira, Portugal. Disponível em: http://digituma.uma.pt/bitstream/10400.13/300/1/MestradoElsaSilva.pdf, último acesso em 12 de maio de 2016. Ana Catarina Cabrito

Semiologia 2015/2016

Página 13


Simbologia dos Números (s.d.): Números 7, 8 e 13: http://www.dicionariodesimbolos.com.br/, último acesso em 20 de maio de 2016. Turner, G., (1993), O Cinema Como Prática Social. Disponível em: https://pt.scribd.com/doc/300056170/Cinema-como-pratica-social-Graeme-Turner-pdf, último acesso em 13 de maio de 2016. 10. Anexos a. Imagens do filme “Diário da Nossa Paixão”

Figura 1- Minuto 5:02. Plano Aproximado de Peito (PAP).

Figura 2- Minuto 16:10. Grande Plano (GP).

Figura 3- Minuto 32:22. Plano Geral (PG).

Figura 4- Minuto 49:42. Grande Plano (GP).

Figura 5- Minuto 58:36. Plano Americano (PA).

Ana Catarina Cabrito

Figura 6- Minuto 62:34. Plano Geral (PG).

Semiologia 2015/2016

Página 14


Figura 7- Minuto 74:47. Plano de Conjunto (PC).

Figura 8- Minuto 84:40. Plano Geral (PG).

Figura 10- Minuto 110:05. Plano de Conjunto (PC).

Figura 9- Minuto 95:23. Plano Americano (PA).

Figura 11- Minuto 118:41. Plano Aproximado de Tronco (PAT).

Ana Catarina Cabrito

Semiologia 2015/2016

Pรกgina 15


b. Imagens do filme “A Culpa é das Estrelas”

Figura 12- Minuto 01:02. Grande Plano (GP).

Figura 13- Minuto 01:52. Plano Americano (PA).

Figura 15- Minuto 38:47. Plano de Conjunto (PC).

Figura 14- Minuto 12:43. Plano Aproximado de Peito (PAT).

Figura 16- Minuto 45:11. Plano Geral (PG).

Ana Catarina Cabrito

Figura 17- Minuto 62:56. Plano Aproximado de Peito (PAP).

Semiologia 2015/2016

Página 16


Figura 18- Minuto 67:43. Plano Contrapicado.

Figura 19- Minuto 83:23. Plano Inserto.

Figura 19- Minuto 96:23. Grande Plano (GP).

Figura 20- Minuto 110:46. Plano Aproximado de Peito (PAP).

Figura 21- Minuto 125:31. Plano de PĂŠ (PP).

Ana Catarina Cabrito

Semiologia 2015/2016

PĂĄgina 17


10. Apêndices a. Fichas técnicas dos filmes Ficha técnica

“Diário da Nossa Paixão”

“A Culpa é das Estrelas”

Título Original

The Notebook

The Fault In Our Stars

Ano

2004

2014

País

E.U.A

E.U.A

Realização

Nick Cassavetes

Josh Boone

Argumento

Lynn Harris Mark Johnson

Wyck Godfrey Marty Bowen

Produção

Avery Pix

Temple Hill Entertainment

Distribuição

New Line Cinema

20th Century Fox

Protagonistas

Ryan Gosling e Rachel McAdams

Ansel Elgort e Shailene Woodley

Duração

123 minutos

126 minutos

Drama e Romance

Drama e Romance

Baseado em…

Livro do escritor Nicholas Sparks: The Notebook, de 1996

Livro do escritor John Green: The Fault In Our Stars, de 2012

Pontuação no IMDB

7.9

7.9

Género Cinematográfico

Tabela 1- Ficha técnica dos filmes (fonte: IMDB). b. Citações retiradas dos filmes Citações do filme “Diário da Nossa Paixão” “ Não sou nada especial; disso estou certo. Sou um homem comum, com pensamentos comuns e vivi uma vida comum. Não há monumentos dedicados a mim e o meu nome, em breve, será esquecido. Mas amei uma pessoa com toda a minha alma e coração e, para mim, isso sempre bastou. Os românticos chamariam a isto uma história de amor, os cínicos diriam que é uma tragédia.” (Por Duke, em voz-off, no início da narrativa.) “Eles não se entendiam, raramente concordavam em algo. Brigavam sempre. E desafiavam-se todos os dias. Mas, apesar das diferenças, tinham algo importante em comum: eram loucos um pelo outro.” (Por Duke, em voz-off, para descrever a relação do casal.) “Os amores de verão começam por todos os tipos de razões mas, no fim, todos têm uma coisa em comum: são como estrelas cadentes, um momento espetacular de luz no céu, um relance de eternidade e, de repente, acabam.” (Por Duke, em voz-off, quando Noah terminou a relação com Allie.) “Nós eramos apenas crianças, mas nós amávamo-nos de verdade.” (Por Allie, quando reencontrou Noah, em Seabrook.) “Então, não vai ser fácil. Vai ser muito difícil. Nós vamos ter que trabalhar nisto todos os dias, mas eu quero fazê-lo, porque eu quero-te a ti. Eu quero tudo em ti, para sempre, todos os dias… Eu e tu, para sempre. Todos os dias!” (Por Noah, quando pedia a Allie para terminar o seu noivado.)

Tabela 2- Falas de personagens retiradas do filme “Diário da Nossa Paixão”.

Ana Catarina Cabrito

Semiologia 2015/2016

Página 18


Citações do filme “A Culpa é das Estrelas” “É uma metáfora, vê: tu metes aquilo que te pode matar entre os teus dentes, mas não lhe dás o poder de te matar.” (Por Augustus, para explicar o porquê de ter um cigarro na boca.) “Não dá para escolher se te vais ou não magoar neste mundo, mas é possível escolher quem o vai fazer." (Por Augustus, ao pedir a Hazel para não se afastar dele.) “Apaixonei-me da mesma maneira que alguém adormece: profundamente e de repente, de um momento para o outro.” (Por Hazel Grace, ao declarar o seu amor a Augustus.) “Estou apaixonado por ti e não quero negar o simples prazer de sentir algo verdadeiro. Estou apaixonado por ti, e sei que o amor é apenas um grito no vácuo, e que o esquecimento é inevitável, e que estamos todos condenados ao fim, e que haverá um dia em que tudo o que fizemos será reduzido a pó, e sei que o sol vai engolir a única Terra que podemos chamar nossa, e eu estou apaixonado por ti." (Declaração amorosa de Augustus, para Hazel, em Amesterdão.) “Não posso falar da nossa história de amor, porque essa vai morrer connosco. Então vou falar de matemática. Não sou formada em matemática, mas sei uma coisa: existe uma quantidade infinita de números entre 0 e 1. Existe o 0,1 e o 0,12 e o 0,112 e uma infinidade de outros. Obviamente, existe um conjunto ainda maior entre o 0 e o 2, ou entre o 0 e o 1 milhão. Alguns infinitos são maiores que outros. Um escritor de quem costumávamos gostar ensinounos isto. Há dias, muitos deles, em que fico zangada com o tamanho do meu infinito limitado. Queria mais números do que os que provavelmente vou ter, e, por Deus, queria mais números para o Augustus Waters do que os que ele teve. Mas, Gus, meu amor, não imaginas o tamanho da minha gratidão pelo nosso pequeno infinito. Eu não o trocaria por nada neste mundo. Deste-me uma eternidade dentro dos nossos dias contados, e estou muito grata por isso." (Elogio fúnebre de Hazel, no ensaio do funeral de Augustus.)

Tabela 3- Falas de personagens retiradas do filme “A Culpa é das Estrelas”.

c. Modelo Actancial aplicado aos filmes analisados Modelo Actancial Sujeito ativo Sujeito passivo Objeto-valor

“Diário da Nossa Paixão” Allie e Noah, que vivem o amor perfeito e incondicional transmitido no filme. Todos os visualizadores do filme, que desejam viver o amor vivido no filme. Relação ter-ser: ter alguém que nos ame incondicionalmente, ser o amado de alguém.

“A Culpa é das Estrelas” Hazel Grace e Augustus que representam a imagem de casal ideal. Todos os visualizadores do filme, que desejam viver o amor vivido no filme. Relação ter-ser: ter alguém que nos ame incondicionalmente, ser o amado de alguém.

Tabela 4- Modelo Actancial nos filmes analisados.

Ana Catarina Cabrito

Semiologia 2015/2016

Página 19


Modelo Actancial

“Diário da Nossa Paixão”

“A Culpa é das Estrelas”

Actor

Actor coletivo: o casal Allie e Noah.

Actor coletivo: o casal Hazel e Augustus.

Actante

Predicados Fisionómicos:

Predicados Funcionais:

Predicados Fisionómicos:

Predicados Funcionais:

Início: Jovens representativos da beleza típica dos anos 40. Allie caracterizadora das classes altas e Noah das classes baixas.

Allie representa a força da juventude, energética e sempre bemdisposta. Noah expõe o lado mais racional do amor, embora nunca deixe de amar a sua mulher.

Início: Hazel aparece muito afetada com a doença, tendo poucos cuidados consigo mesma. Augustus não sofre grandes alterações ao longo da narrativa, mantendo o seu visual atlético e descontraído.

Hazel representa a mudança, dado que passou de não querer viver para querer enfrentar todos os problemas. Augustus representa a força do amor, já que foi graças a ele que Hazel quis lutar contra a sua doença.

Fim: Idosos, maltratados pela idade, sobretudo Allie que, quando a doença piora, deixa de cuidar de si (como tinha feito até então) e passa a usar o mesmo pijama todos os dias.

Papel Actancial

O par representa o casal ideal, que consegue superar todas as adversidades, devido à força que transmitem um ao outro.

O casal desempenha o papel principal em toda a narrativa e o filme gira em torno da sua história, que evidencia a mensagem de amor eterno que se pretende transmitir.

Fim: Hazel vai ganhando força e começa a apresentar mais cuidados com a aparência, chegando a vestir um vestido para jantar com Augustus.

Ambos representam a força do amor na adolescência, capaz de enfrentar a maior dificuldade: a doença.

O par amoroso é o protagonista da narrativa, sendo que todo o filme é baseado na história de amor que eles viveram até à morte de Augustus.

Tabela 5- Modelo Actancial nos filmes analisados.

Ana Catarina Cabrito

Semiologia 2015/2016

Página 20


Modelo Actancial Destinador

Destinatário

Objeto

Sujeitos

Adjuvante

Oponente

“Diário da Nossa Paixão”

“A Culpa é das Estrelas”

Casal protagonista: Allie e Noah Recetores do filme, que projetam o que vêm representado para as suas vidas. Sobretudo, públicos mais jovens (adolescentes), por serem mais vulneráveis e depositarem esperança em concretizar o que desejam. Representação dos ideais de amor incondicional e eterno, que os recetores anseiam ter na sua vida e que nem sempre são possíveis. O objeto retratado é o amor como força soberana e eterna. (Referidos na Tabela 4) A encenação do amor que resiste a todos os problemas, os estereótipos/clichês criados e a fácil identificação do recetor com as personagens (revendo-se nelas), contribuem para a criação de uma aproximação entre o sujeito passivo e o objeto. O contexto social, os estilos de vida e os próprios parceiros amorosos dos recetores podem levar ao afastamento entre os sujeitos passivos e o objeto. Com toda a encenação, por vezes, são criados estereótipos/clichês que, nem sempre, correspondem à realidade da sociedade atual.

Casal principal: Hazel e Augustus Visualizadores do filme, que projetam o que vêm representado para as suas vidas. Sobretudo, públicos mais jovens (adolescentes), por serem mais fragilizados e depositarem esperança em concretizar o que desejam. Representação dos ideais de amor incondicional e eterno, que os recetores anseiam ter na sua vida e que nem sempre são possíveis. O objeto retratado é o amor como força soberana e eterna. (Referidos na Tabela 4) A encenação do amor que resiste a todos os problemas, os estereótipos/clichês criados e a fácil identificação do recetor com as personagens (revendo-se nelas), contribuem para a criação de uma aproximação entre o sujeito passivo e o objeto. O contexto social, os estilos de vida e os próprios parceiros amorosos dos recetores podem levar ao afastamento entre os sujeitos passivos e o objeto. Com toda a encenação, por vezes, são criados estereótipos/clichês que, nem sempre, correspondem à realidade da sociedade atual.

Tabela 6- Modelo Actancial nos filmes analisados.

Ana Catarina Cabrito

Semiologia 2015/2016

Página 21


d. Semelhanças e Diferenças entre os filmes Semelhanças Temática

História do casal

Início da história

Codificação do amor

“Diário da Nossa Paixão” Amor e superação da doença: alzheimer. Apesar de passarem 7 anos das suas vidas separados, nunca se esquecem um do outro. O amor deles acompanha-os ao longo da história, dando-lhes força para enfrentar tudo e todos. Conhecem-se por força do “destino”, no início do verão de 1940. Ambos eram adolescentes, já que tinham apenas 17 anos. Surge codificado na luta contra as diversas adversidades que a vida lhes vai impondo: contexto social, noivado de Allie e doença. Todas as dificuldades são superadasamor incondicional e eterno.

“A Culpa é das Estrelas” Amor e superação da doença: cancro. Depois de se conhecerem, tanto um como outro ganham mais força e vontade para combater a doença que os vitimiza. Conhecem-se num grupo de apoio a jovens com cancro, por acidente/casualidade (força do destino). Tinham 17 anos. Surge codificado na luta contra o cancro, primeiro enfrentam o cancro de Hazel, e quando descobrem o reaparecimento da doença terminal de Augustus, têm força para aproveitar os últimos dias do rapaz.

Tabela 7- Semelhanças entre os filmes analisados.

Diferenças

“Diário da Nossa Paixão”

“A Culpa é das Estrelas”

Contexto social dos casais

Divergências sociais: Allie é da classe alta da sociedade e Noah provém da classe baixa, da sociedade do século XX.

Igualdade social: tanto Hazel como Augustus são provenientes da classe média da sociedade atual.

Término da história

Retrato da doença de Alzheimer, que provoca graves perdas de memória. Período da Segunda Guerra Mundial e pós-guerra, meados do século XX. O filme termina com a morte do casal, por milagre e ato divino.

Forma de narração

Grande parte do filme é narrado em voz-off, por Duke.

Doença Época temporal

Retrato do cancro, em diversas formas: cancro da tiroide e pulmões (Hazel) e dos ossos (Augustus). Época Contemporânea, anos 2013/2014 do século atual. O filme é finalizado depois do funeral de Augustus. Somente algumas cenas, nomeadamente a inicial e a final, são narradas pela voz-off de Hazel.

Tabela 8- Diferenças entre os filmes analisados.

Ana Catarina Cabrito

Semiologia 2015/2016

Página 22


e. Tipos de espaço nos filmes Tipo de Espaço Espaço Físico Espaço Temporal Espaço Social

Espaço Psicológico

“Diário da Nossa Paixão”

“A Culpa é das Estrelas”

Seabrook e Charleston (EUA)

Pittsburgh (EUA), Amesterdão (Holanda)

Meados do século XX, desde 1940 até quase ao fim do século. Diferenças sociais evidentes: ele da classe baixa (pobre) e ela da classe alta (abastada), da sociedade do século XX. Amor de verão vivido pelas personagens principais e que regressa, ao fim de sete anos de separação para mudar, novamente, a vida de ambos.

Início do século XXI- 2013/2014 Poucas diferenças sociais, ambos pertencem à classe média da sociedade atual.

Dois jovens apaixonados e que enfrentam uma luta contra o cancro.

Tabela 9- Diferentes géneros de espaços nos filmes.

Ana Catarina Cabrito

Semiologia 2015/2016

Página 23


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.