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Uma Carta de Angola

Regan Andringa-Seed

Minha querida amiga,

Olá a partir de Angola! Estou escrevendo-lhe para que você saiba que eu cheguei bem em Angola e para contar-lhe sobre minhas aventuras! Faz só uma semana que eu estou aqui em Angola, e eu já descobri muitas coisas. Nos últimos dias explorei Luanda, a capital do país. Ontem eu visitei a Fortaleza de São Miguel, que foi construída no século XVI pelo Governador, Paulo Dias de Novais. Você sabia que o nome original de Luanda era São Paulo da Assunção de Loanda? Eu acho que é muito interessante que os portugueses repetissem os nomes das cidades nas suas colônias. Eu também aprendi que Angola foi a última colônia portuguesa para ganhar sua independência. Foi uma colônia até 1975. Agora, depois da guerra de independência e a guerra civil, a Fortaleza de São Miguel é um museu sobre a história militar do país. Fora do museu, também é impossível esquecer que a guerra civil durou até 2002. Milhões de pessoas morreram e agora Angola tem uma das populações mais jovens do mundo – 70% das pessoas têm menos de 24 anos de idade. Infelizmente, a cidade de Luanda tem muita desigualdade social, com “musseques” na periferia da cidade que são semelhantes às favelas do Brasil.

Apesar dos desafios da colonização e da guerra civil, a cultura de Angola é incrivelmente rica e eu gosto muito da comida e das tradições. Os angolanos (e eu, agora!) comem muito funge, uma comida feita de farinha de mandioca ou milho, dependendo da região. A mandioca em geral é uma parte grande da gastronomia angolana. Kizaca, por exemplo, é um prato feito das folhas da mandioca. Embora eu achasse que seria difícil encontrar comida vegetariana em Angola, é muito fácil! Durante nosso jantar ontem, também vimos uma performance de kizomba, uma dança angolana. Eu anexei uma foto da performance para você ver! Angola tem muitos estilos de dança incríveis - você lembra a canção Danza Kuduro? Era muito popular nos anos de 2010. Kuduro é outro tipo de dança angolana!

Outro dia eu visitei uma escola, e isso foi muito interessante. Na escola, os alunos estavam praticando para representar uma peça chamada “As Aventuras de Ngunga”, que fala de um jovem durante a guerra de independência de Angola. Eu estava perguntando a uma professora sobre o sistema de educação em Angola, e ela me disse que ainda hoje há muitas pessoas analfabetas em Angola e como mulher é especialmente comum não terminar a escola primária. A professora deseja que o governo invista mais na educação, no nível da primária e da universidade. Agora, a maioria dos estudantes angolanos têm que viajar para Portugal ou outro país para assistir à universidade. Eu também acho que o governo deve fazer mais para promover a educação, e eu estava pensando muito nesse tema por o resto do dia. Em comparação com os Estados Unidos, e até os outros países da África, Angola fica atrás nas taxas de alfabetização. Antes, era difícil entender as diferenças entre minha vida nos Estados Unidos e a vida num lugar onde apenas 71% da população pode ler. Agora eu me sinto agradecida pelas oportunidades que eu tenho tido por causa da educação e pelas normas de gênero que permitem a busca de uma carreira. A peça “As Aventuras de Ngunga” também promove a importância da educação para as crianças de Angola e serve como exemplo de como a educação pode facilitar mudanças sociais e políticas. Eu acho isso especialmente importante em Angola, onde a educação ficou em segundo plano durante a guerra civil. Como Pepetela, o autor, comunica na história, a gente comum de Angola deve valorizar a escola porque dá-lhes o poder para realizar seus objetivos e melhorar seus futuros. Minha vida seria completamente diferente sem a educação, e eu espero que o povo angolano possa ter as mesmas oportunidades no futuro.

Nos próximos dias da minha viagem, espero que eu possa ver mais da natureza do país. Luanda é uma cidade muito bonita com muitas praias, mas tenho ouvido da selva e das cascatas de Angola e acho que essas são coisas turísticas que não posso perder. Então, tenho que viajar para o interior do país para encontrar as cascatas de Kalandula, que é a segunda maior cascata na África! Eu também li num jornal sobre a parte de Angola que fica na selva do Congo. A floresta de Cabinda lá tem muita biodiversidade e eu acho que uma visita a esta parte do país seria muito legal, mas infelizmente não acho que haja tempo suficiente nesta viagem. Suponho que tenho que voltar para Angola outra vez no futuro (talvez você possa vir também)!

Querida amiga, espero que você goste dessa narrativa das minhas aventuras. Eu estaria muito feliz se recebesse uma atualização sobre o que tem feito nas últimas semanas. Estou ansiosa por nossa reunião!

Um abraço, Regan

“Minha história também é importante”: Uma história não contado de uma rapariga que cresceu da guerra de independência

(Uma extensão de As Aventuras de Ngunga por Pepetela)

Anika Velasco

Eu fui filha da guerra de independência de nosso país. Naquela época, vivia no interior do país, em um kimbo afiliado à missão do MPLA. Estava tão perto do conflito violento todo o tempo. Não é que eu estivesse tentando me meter no meio dos conflitos, é que estava cercada pela guerra a todos lados. Visões de armas e sons de rachaduras não eram coisas estranhas para mim porque eu vivia com os guerrilheiros no meu kimbo.

Aos treze anos, eu fiquei apaixonada e também fiquei casada. Tristemente, não eram com o mesmo homem. Tinha-me apaixonado por um miúdo – independente e corajoso, inteligente também – mas miúdo. Mas, ele foi um dia de repente. Embora estávamos em uma guerra lutando por valores excepcionais, minha família ainda tinha problemas ordinários, como temos algo para comer? Meus pais, velhos e sem dinheiro, casaram-me com um senhor do kimbo em troca de um alambamento. O miúdo veio para visitar-me e para convencer-me de fugir do meu marido, mas eu o mandei embora.

Dois anos passaram. A gente sempre falava da guerra, dos portugueses, de nossas chances de ganhar. O barulho político cresceu, com certos kimbos virando um contra o outro embora todos estávamos lutando contra os portugueses. Transforme-me em uma mulher. Torneime mãe e adicionei outro papel aos que já tinha – de ser filha bondosa e mulher atenciosa. Eufórica, senti quando descobri que esta guerra finalmente tinha acabado. Pensei que a libertação era nossa! Mas em breve, percebi que embora tivéssemos ganhado nossa independência, eu seguiria sem minha própria independência do meu marido.

As coisas mudaram. Princípios baseados no socialismo científico foram expostos constantemente a todos que podiam ouvir. Meu marido começou a participar em discussões políticas sobre o futuro do comunismo no país. Mas não muito mudou para mim. Ficava em casa cuidando dos meu filhos e meus pais, sendo abusada por meu marido e sempre tendo tempo para preparar a comida três vezes por dia.

Afinal, um dia, meus pais morreram de malária (em paz descansem) e eu percebi que talvez eu também pudesse ganhar minha própria independência. Soube que era hora de deixar meu marido quando chegou um homem ao meu kimbo. Ele era um homem de Luanda que era professor. Algo do seu rosto fazia-me lembrar do miúdo que tinha tentado convencer-me a fugir do kimbo há anos atrás. Quando abriu sua boca para dizer seu nome, eu soube que ele era esse menino. O nome que disse era o nome que eu o tinha dado. Até quando era miúdo, nunca foi muito bom em desistir. Algumas noites depois, fugi com ele com meu filho em um braço e uma bolsa cheia de minha vida inteira no outro.

Tem sido quinze anos desde essa noite onde ganhei minha independência. Vivo em Luanda com meu filho. Uma das primeiras coisas que fiz quando cheguei à cidade foi tomar aulas para aprender a escrever e ler. Sem muito dinheiro e com a necessidade de comer, foi difícil mas cheguei a fazer as aulas e aprender a escrever. Desde então, estou escrevendo e lendo – meu trabalho atual e minha paixão eterna. E o miúdo-que-se-transformou-em-homem? Ele nunca teve o hábito de ficar em só um lugar. Ele viaja pelo país, ensinando a miúdos e adultos para que possam ampliar seus horizontes. Sempre estarei agradecida por seu papel em minha vida.

Fui filha da guerra de independência de nosso país. Agora sou uma mulher do meu país, escrevendo minha própria história e assegurando minha independência através das minhas letras. Meu nome é Uassamba e minha história também é importante.

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