Jornal Pioneiro - Anistia perseguidos políticos - 29/08/2003

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PIONEIRO

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S E X TA - F E I R A , 2 9 D E A G O S T O D E 2 0 0 3

POLÍTICA

MANIPULAÇÃO ELETRÔNICA GILBERTO COLOMBO SOBRE FOTOS AGÊNCIA RBS E BANCO DE DADOS/PIONEIRO

Especial / Lei da Anistia

O saldo da intransigência Durante o regime militar, 774 parlamentares perderam seus mandatos e 15 mil brasileiros foram expulsos do país ANAHI FROS anahi.fros@jornalpioneiro.com.br

Q

uando a Lei da Anistia foi promulgada, em 28 de agosto de 1979, tirando da clandestinidade os presos e perseguidos políticos, mais de 300 mil pessoas estavam vinculadas, voluntária ou involuntariamente, ao Serviço Nacional de Informações (SNI). A função do órgão era delatar todos que fossem contrários ao regime militar. Desde abril de 1964, tanto as Forças Armadas quanto as polícias civil e militar es-

tavam a serviço da repressão política, perseguindo, interrogando e prendendo os chamados subversivos. O resultado desolador do período militar foi revelado pelo secretário nacional de Defesa dos Direitos Humanos, Nilmário Miranda, em artigo assinado no site da Rede de Direitos Humanos e Cultura (Dhnet): cerca de 15 mil trabalhadores perderam seus empregos por perseguição política, mais de mil sindicatos sofreram intervenção, 774 parlamentares tiveram seus mandatos cassados e quase 15 mil bra-

sileiros foram exilados ou gar o funcionamento dos expulsos do país. As cifras serviços de informações, da ditadura contabilizaram mas o relatório final termiainda 424 mortos por ação nou sendo arquivado. Intedireta ou indireta do regime. grante da Comissão Especial Federal No traçaque analisa a do do saldo Não existem concessão de da intransidados oficiais indenizações gência no a parentes de mapa brasido número vítimas da leiro, chegade gaúchos ditadura milimos ao sul tar, e do modo país. Em prejudicados vimento Tor1992, a Aspela ditadura tura Nunca sembléia LeMais, Suzana gislativa insLisboa revela taurou uma Comissão Parlamentar de que os autos do processo Inquérito (CPI) para investi- despareceram. Ela afirma

que não existem dados oficiais do número de gaúchos prejudicados pelo regime militar. Suzana era mulher de Luiz Eurico Tejera Lisboa, desaparecido em 1972. Apenas sete anos depois, seu corpo foi localizado, enterrado em São Paulo sob o falso nome de Nelson Bueno. Militante da Ação Libertadora Nacional (ALN), Ico, como era conhecido, foi o primeiro desaparecido político a ser localizado no Brasil. Natural de Santa Catarina, foi o primogênito de sete irmãos – entre eles o músico

Um brizolista a serviço do regime militar Caxias do Sul não sediou a tortura, prática restrita às capitais do país, mas contou com um posto de passagem que centralizou a tomada de interrogatórios e prisões provisórias, até a libertação dos suspeitos ou seu envio para

Porto Alegre. O antigo prédio de esquina onde hoje funciona o 2º Distrito Policial, entre as ruas Marquês do Herval e Pinheiro Machado, era conhecido nas décadas de 60 e 70 como a sede do Serviço de Ordem Política e Social (Sops), braço do Departamento de Ordem Política e Social (Dops) do governo militar. O local era o destino de que qualquer caxiense suspeito de subversão (alguns deles citados no quadro ao lado). Hoje comissário da Polícia Civil, Gilberto Tadeu Corá, 55 anos, foi efetivado como inspetor no Sops em 1970. Simpatizante de Leonel Brizola – na época, filiado ao PTB e exila-

do no Uruguai – Corá não tinha opção: ou concordava em trabalhar no sistema imposto pelo regime, ou também seria enquadrado na Lei de Segurança Nacional, de 4 de abril de 1935, que definia crimes contra a ordem política e social. – A Polícia Civil era usada pelo regime. A orientação difundida nacionalmente era para que ficássemos de olho em qual-

quer atitude suspeita contra o governo. Os Atos Institucionais eram a lei, e ela não devia ser transgredida. Ouvíamos bastante rádio para cuidar o que era dito – recorda Corá. Ele afirma que o tratamento dados aos presos era extremamente respei-

toso, até pela familiaridade com os acusados, pessoas conhecidas da sociedade. – Uns ficavam surpresos com a prisão, outros já esperavam que isso aconteceria – relata. Os enviados para Porto Alegre eram transportados em uma Kombi e deixados na sede do Dops, onde atualmente funciona o Palácio da Polícia. Corá destaca a diferença do movimento revolucionário local com o da Capital: – O perfil era mais intelectualizado, sem manifestações na rua. A violência estava concentrada nas capitais.

caxiense Nei Lisboa. Aos nove anos, Ico veio com a família para Caxias do Sul. Em 1964, abandonou a cidade depois de ser ameaçado por um professor do Instituto Educacional Cristóvão de Mendoza – Ico havia elaborado um manifesto contra a ditadura. Um ano depois, já como estudante do colégio Júlio de Castilhos, de Porto Alegre, assumiu a militância política, passando pela clandestinidade, até desaparecer, em 1975. Ico integra a lista federal dos 136 desparecidos políticos brasileiros.

Presos em Caxias Adair Castilhos Airton Joel Frigeri Antônio Carlos da Rosa de Oliveira Antônio Lisboa da Silva Antônio Rath de Queiroz Abílio Osvaldo Weber Armin Damian Bruno Segalla Clari Isabel de David Clóvis Antônio Sperandio Darwin Corsetti Ernesto Bernardi Ênio Fávaro Gilberto Grocobolski Silveira Helena Rodolfi Henrique Ordovás Filho Heran Paulo Damin Ignácio da Silva Mafra Júlio Pedro Furlan João Rodrigues Barcelos Filho João Ruaro José Ruaro José Daltro da Silva José Lino Eloy Jules Constante Borghetti Leovegildo Neri de Campos Luiz Andrea Fávero Luiz Ernesto dos Reis Quaresma Luiz Pizzetti Orlando Pedro Michelli Paulo de Tarso Carneiro Percy Vargas de Abreu e Lima Romeu Bortolini Rômolo Segalla Reoni João Rigo Régis Arnoldo Ferretti Rubens Pedroso Valter Romeu Casara Valter Tonini Fonte: Pioneiro de 11/4/1964 e Orlando Michelli

EDSON COSTA/PIONEIRO


CORREÇÃO MATÉRIA Correção publicada: SEGUNDA-FEIRA, 1º DE SETEMBRO DE 2003 p. 9 Erramos O ano correto do desaparecimento de Luiz Eurico Tejera Lisbôa durante o regime militar é 1972, e não 1975, como aparece na matéria publicada sexta-feira à página 12.


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