Brands Zegna

BRANDS

HISTÓRIA DA S GRANDES MARCA S

A FAMA

por um fio P O R ANA PAULA KUNTZ

O LEGADO DE ERMENEGILDO ZEGNA, QUE TRANSFORMOU UMA TECELAGEM DE LÃ NA MARCA LÍDER EM MODA MASCULINA DE LUXO, CONTINUA EM SEUS FILHOS, COM A TRADIÇÃO DE DESENVOLVER TECIDOS FINÍSSIMOS, MÍCRON A MÍCRON, PARA CRIAR AS PEÇAS MAIS NOBRES E CONFORTÁVEIS DO PLANETA

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Coisa de homem: a vaidade masculina exaltada na campanha publicitária da década de 1970

Angelo era relojoeiro. Casou-se com Catarina, ganhou quatro teares como dote e teve dez filhos. Assim começa a história de uma das grifes de moda mais prestigiosas do mundo.

Os Zegna, família radicada na Vila de Trivero, na região italiana do Piemonte, próximo à Suíça, deram início, no final do século XIX, ao que viria a se tornar a Ermenegildo Zegna. O Ermenegildo, responsável pela projeção dos negócios da família ao patamar internacional, foi um dos filhos, que nasceu em 1892.

Aos 18 anos, tomou a frente do negócio, tornou-se o chefão da tecelagem e instituiu o Lanifício Zegna com um objetivo declarado: produzir os melhores fios de lã usados na alta-costura masculina.

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LINHA DO TEMPO

Por melhores, entendam-se os mais finos, no sentido de elegância e, principalmente, de espessura. É a finura que determina a qualidade do acabamento e da maciez do tecido. O tecido de lã merino Centoventimilla (referente à transformação de 1 quilo de lã em 120 metros de fios), criado em 1961, foi o principal marco dessa revolução. Até hoje, não é qualquer tecelagem que consegue produzir algo similar. Em 1964, Ermenegildo Zegna lançou os tecidos 18milmil18 e 17milmil17, com 18 e 17 micra de espessura (1 mícron equivale a um milésimo de milímetro). Para se ter ideia, o fio de cabelo humano mede de 50 a 60 micra. A luta para reduzir ainda mais essas medidas, mesmo depois da morte de Ermenegildo, em 1966, vem sendo vencida mícron a mícron: em 2010, ano em que completou seu centenário, a marca realizou a proeza de produzir o Centennial Vellus Aureum, um tecido com fios de apenas 11,1 micra. Um terno dessa lã pode chegar a custar o preço de um carro popular.

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No limiar entre o que há de mais natural e o que há de mais tecnológico, a marca investe constantemente em novas soluções para sua fábrica e em projetos de ecologia e sustentabilidade. O tecido High Performance, lançado em 1985, transformou os ternos de lã em peças de verão. Pesando 250 gramas por metro quadrado, ante os cerca de 500 gramas que pesava o metro quadrado do tecido Zegna Número 1, combinando 90% de flanela com 10% de algodão, a novidade permitiu a confecção de calças e paletós leves e confortáveis, com trama aberta para manter o corpo arejado e seco.

Em 1998, foi a vez de colocar no mercado o Traveller, mais flexível, que não amassa e mantém o aprumo permanente e impecável. Desde 2003, a Zegna emprega a membrana Elements sob os tecidos para criar peças inteligentes que se adaptam para regular a temperatura corporal, abrindo e fechando os poros da película.

Em 2005, foi introduzido o Traveller Microsphere,

1892

Nasce Ermenegildo Zegna.

1910

É fundado o Lanifício Zegna, com o objetivo de produzir fios de lã usados na alta-costura masculina.

1961

É criado o tecido de lã merino Centoventimilla, com uma finura de fios nunca antes alcançada.

1966

Morre Ermenegildo Zegna.

1972

Começa o serviço de alfaiataria customizada, para adaptar silhuetas aos modelos de corte de ternos e camisas.

1994

A grife se engaja no projeto International Vicuña Consortium pela preservação dos animais.

2001

A marca chega ao Brasil, com a primeira loja no shopping Iguatemi.

2003

Começa a ser aplicada a membrana Elements sob os tecidos, para regular a temperatura corporal. Também é inaugurada a linha de perfumaria.

2005

É desenvolvido o Traveller Microsphere, com capacidade de se manter limpo e repelir líquidos.

2010

É lançado o Centennial Vellus Aureum, tecido com fios de apenas 11,1 micra.

2011

Entra em funcionamento a loja virtual – e estão programadas a abertura de 20 lojas até o fim do ano.

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Espaços nobres: o ano do centenário teve exposição de imagens e roupas na sede em Milão. Abaixo, o parque em Trivero

para camisa, inspirado nas folhas da flor de lótus e com capacidade de se manter limpo e repelir de sua superfície líquidos e outras sujeiras. Em 2009, veio o High Performance Cool Effect, com tecnologia para proteger a pele da radiação solar. O resultado são tecidos escuros capazes de refletir até 80% da luz do sol (o normal é 20%), quase tanto quanto os tecidos brancos.

No viés da luta pela sustentabilidade, a empresa – que usa apenas fibras naturais, seja de ovelhas, cashmere, vicunhas, seja de carneiro merino, escolhidas criteriosamente para seguir os padrões de limpeza, simetria, aparência e comprimento – está engajada desde 1994 em trabalhar com o governo peruano no projeto International Vicuña Consortium, pela preservação da espécie, que hoje está salva de extinção. No final dos anos 1980 havia menos de 5.000 animais, e agora já existem mais de 150.000. Um novo projeto filantrópico foi estabelecido pela Fondazione Zegna no Peru para desenvolver a instalação de água na comunidade Picotaini, para a construção de poços, barragens e mais de 10 quilômetros de canais para fornecer água pura aos criadores de vicunhas e a seus rebanhos.

Na Itália, o projeto Oasi Cashmere, de 2008, prioriza a utilização de técnicas tão artesanais quanto na Idade Média para tingir fios de cashmere puro com madeira, ervas e pigmentos naturais, sem o uso de aditivos químicos. Em Trivero, uma estrada panorâmica com 25 quilômetros na paisagem montanhosa teve seu reflorestamento financiado pelo patriarca, Ermenegildo, com pinheiros abetos, rododendros e hortênsias, que agora fazem parte dos 100 quilômetros quadrados do Parque Natural Oasi Zegna, onde há também um resort.

“Meu pai já era um ecologista antes mesmo de esse termo existir”, diz Angelo Zegna, atual presidente honorário do grupo. “Ele sempre cultivou e transmitiu a importância do bem-estar dos funcionários e o respeito ao meio ambiente.”

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Com o irmão Angelo, Aldo assumiu a gestão da Ermenegildo Zegna na década de 1960, quando foram inauguradas as primeiras lojas da marca em Milão e Paris, lançadas as primeiras coleções de roupas esportivas e inseridos acessórios no portfólio, como o perfume Essenza di Zegna (2003), Ermenegildo Zegna Eyewear (2004) e Ermenegildo Zegna Underwear (2006), sempre com empresas parceiras especializadas em cada seara.

Os acessórios já representam 20% das vendas, que, no ano passado, geraram um faturamento de 2,2 bilhões de reais. No final de 2010, somavam-se 560 lojas pelo mundo, das quais mais de 300 de gestão direta, e 2011 deve terminar com a abertura de outras 20 lojas. No Brasil, a primeira franquia foi aberta em 2001, no shopping Iguatemi. Atualmente, há outras duas lojas em São Paulo, uma no Rio de Janeiro e uma em Brasília.

Um dos serviços exclusivos é a confecção oferecer roupas sob medida. Desde 1972, o serviço de alfaiataria customizada procura adaptar a silhueta aos modelos de corte de ternos e camisas, produzidos na Suíça e entregues ao comprador em até seis semanas. Resultado de um trabalho artesanal, cada peça, em média, requer mais de 33.000 pontos e 18 horas de trabalho manual especializado. Um terno Zegna feito sob medida custa de 6.500 reais a 16.000 reais.

A Zegna também já desenvolveu sua loja virtual em 3D, que permite a compra de calças, camisas, jaquetas, sapatos, cintos e gravatas pela internet, mostrando que o apego às tradições é tão forte quanto o espírito inovador.

Com ideias arejadas, a quarta geração Zegna, formada por Ermenegildo (neto), Paolo, Anna, Benedetta, Laura e Renata já está ocupando os cargos de poder no grupo, que, mesmo sendo a líder mundial no mercado de moda masculina de luxo, continua mantendo o direito de se manter uma empresa familiar.

Linha fina: as cabras de Inner Mongólia (norte da China) fornecem o melhor cashmere do mundo

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