ESPECIAL
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Os homens da chapa preta por Ana Paula Kuntz fotos Carol Gherardi
No Clube do Carro Antigo de Jundiaí, os associados se esmeram para deixar seus veículos o mais igual possível ao que eram na época em que saíram da fábrica No dia 21 de agosto de 1982, na cidade de Jundiaí, no interior de São Paulo, 12 homens se reuniram para consolidar uma paixão em comum. Assim, fundaram o Clube do Carro Antigo. Um dos primeiros do país e parte de uma minoria filiada à Federação Brasileira de Veículos Antigos (FBVA), o grêmio jundiaíense tem hoje mais de 260 associados, vindos de outras cidades e até de outros Estados para compartilhar a idolatria pela história viva do automobilismo. O exemplar mais antigo é um Ford modelo T, que desde 1964 pertence a Antonio Santinato, um dos fundadores do clube. Outra raridade é o Maverick Mercury Comet 1976, único no Brasil, trazido de navio dos Estados Unidos por Valmir Lopes Espeleta, diretor-técnico da associação. É ele um dos responsáveis por aferir as condições dos veículos, que devem respeitar uma série de exigências para ser dignos da cobiçada chapa preta. “Do motor ao padrão de costura dos estofados, da cor da lataria aos botões do painel, tudo no carro deve respeitar o modelo original. Eles precisam ter pelo menos 30 anos de uso e apenas os que têm 84% de todos os seus componentes iguais aos que saíram da fábrica podem receber essa placa diferenciada, emitida oficialmente por delegacias de trânsito”, diz.
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30 “gostamos dessa camaradagem, desse entrosamento entre os associados. Do portão para dentro, não importa a profissão ou a classe social de cada um. Somo todos, simplesmente, apaixonados por carros”
raros modelos: denis e seu ford galaxie 500 (à esq.), Dimas e o aero willys itamaraty, amaral com o mustang 1974 e valmir junto ao chevrolet 1951
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Desde os 9 anos de idade, Valmir era fissurado por carro. Lia revistas especializadas com toda a atenção e vivia fugindo da marcenaria de seu pai para a oficina mecânica do tio. Seu primeiro carro, que conquistou com 17 anos, foi um Aero Willys 1964, cinco anos mais velho que ele. “Já comecei a vida no volante com um carro antigo. Hoje, tenho uma coleção com seis modelos”, diz. O interesse permeia várias gerações. Denis Henrique Tealdi, por exemplo, nasceu em 1980, quase junto com o Clube do Carro Antigo, onde hoje ocupa o cargo de diretor-social. Sua primeira relíquia, um Ford Galaxie 500 1973, foi comprada há apenas cinco anos. Nele e nas máquinas de seus amigos, Denis pode ver e lidar com acessórios que já caíram em desuso nos carros da idade dele. Numa primeira olhada, o que mais chama atenção são os ponteiros do painel, que hoje em dia são repletos de indicadores luminosos, colororidos, digitais. Nos veteramos das pistas, a carga da bateria, a pressão do óleo, tudo é analógico. Outro item curioso é a luz de cortesia, uma lâmpada que era manualmente acionada para iluminar a beirada da porta do veículo. Há ainda quem não se contente em encontrar um belo carro, mas que ainda se dedique a reconstituir réplicas de tipos peculiares. É o caso de Dimas Frasson Reynaldo, um jundiaíense 1957, que possui um Aero Willys Itamaraty e está se empenhando em restaurar um Fusca 1967 nos moldes das viaturas usadas pela polícia militar do Estado de São Paulo. O desafio é grande, pois, além da dificuldade em encontrar peças, não há mais carros originais para ser
usados como referência. “Tenho me baseado principalmente em fotografias antigas, mas como algumas são em branco e preto fica impossível conferir precisamente a tonalidade das cores do carro. Outro referencial importante é uma miniatura que comprei de um artesão especializado em fuscas”, afirma. “O formato dos faróis e dos parachoques e o tipo de sirene devem ser idênticos aos usados nos anos 1960. O que está sendo mais difícil achar é o equipamento de rádiocomunicação.” Para criar oportunidades para que quem tem uma peça antiga possa vendê-la para quem a está procurando, o clube promove em suas reuniões mensais uma ação de compra e venda, chamada mercado de pulgas. O evento é aberto a curiosos, que eventualmete podem se associar mesmo sem ser proprietários de um veículo do século passado. “Pagando a taxa de mensalidade, que custa 25 reais, qualquer pessoa pode fazer parte do clube, nos acompanhar nos passeios em comboio e frequentar nosso camarote no Sambódromo de São Paulo durante os eventos que acontecem às terçasfeiras, com exposição e comercialização de peças e carros antigos”, diz o presidente Osvaldo do Amaral. Ele ressalta o caráter filantrópico do grupo, que em todo evento arrecada dinheiro, alimentos, roupas e material para doar a entidades sociais. “Além de gostar de carros antigos, gostamos dessa camaradagem, desse entrosamento entre os associados. Do portão para dentro, não importa a profissão ou a classe social de cada um. Somos todos, simplesmente, apaixonados por carros”, afirma Valmir.
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Próximos eventos Encontros mensais: 12 de junho / 10 de julho / 14 de agosto / 11 de setembro, na sede do Clube do Carro Antigo (Av. Aristeu Dagnoni, 15, Jundiaí) Encontro anual: 15 e 16 de outubro, no Parque da Uva (Av. Jundiaí) Mais informações: tel. (11) 4527-1667
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