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FOTO: TOMAS RANGEL
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MUITAS IDEIAS E UMA CÂMERA
POR | ANA PAULA KUNTZ
Cineasta por parte de pai e mãe, Eryk Rocha, filho de Glauber Rocha e Paula Gaitán, tem encantado o público e a crítica com seu jeito único e experimental de fazer cinema
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presente de aniversário chegou um pouco adiantado. Uns quinze dias antes de comemorar seus 34 anos, em 19 de janeiro, o cineasta Eryk Rocha recebeu a notícia de que o filme Transeunte (VideoFilmes), seu primeiro longa-metragem de ficção, foi premiado pela Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema) como o melhor nacional de 2011. Filmada em preto e branco, a produção que esteve em cartaz nos cinemas brasileiros em agosto do ano passado conta a história de Expedito, um senhor solitário que vive no Rio de Janeiro em companhia do barulho da cidade, de conversas alheias e das vozes do rádio que escuta constantemente pelo fone de ouvido. Com este, já são 13 prêmios para o longa do filho de Glauber Rocha, ícone do Cinema Novo, diretor de Deus e o Diabo na Terra do Sol (1964) e Terra em Transe (1967), entre outras obras-primas da cinematografia nacional. Ainda é difícil para o senso comum desvincular Eryk de sua genealogia. A crítica especializada não resiste às comparações, apontando a coragem, a inquietação e o inconformismo, além do gosto por temas politizados, como traçõs semelhantes entre pai e filho. Eryk diz que não se incomoda. Mas, com seu discurso brando e trabalho árduo, busca provar o valor de seu nome com base em seus méritos, e não na carga genética. No currículo ele tem, além de dois curta-metragens, três documentários: Rocha que voa (2002), Intervalo Clandestino (2006) e Pachamana (2008). O tino para a sétima arte vem tanto por parte de pai quanto por parte de mãe. A cineasta colombiana Paula Gaitán, diferente mente de Glauber, que não teve tempo de compartilhar as habilidades do herdeiro ( Erik tinha apenas três anos quando o pai faleceu) , tem o filho como parceiro na produção do longa Sobre a neblina, que está sendo rodado em Minas Gerais. Outro trabalho de Eryk em andamento é a filmagem de um musical sobre Jards Macalé. O iconoclasta músico carioca, dono de uma carreira pontuada de grandes lances, é desconhecido do grande público. Macalé causou comoção ao devorar uma rosa enquanto cantava Princípio do Prazer, no festival Abertura, em 1975; foi parceiro de Vinicius de Moraes na década de 60, dirigiu shows de Maria Bethânia, fez canções de sucesso interpretadas por Gal Costa (“Hotel das Estrelas” e “Vapor barato”), trabalhou em Londres com Caetano Veloso e também compôs trilhas sonoras para vários filmes, entre eles, O Dragão da Maldade contra o Santo Guerreiro. Sim, de Glauber Rocha. Nascido em Brasília, hoje Eryk Rocha mora no Rio de Janeiro, está solteiro, mas se auto declara namorador. Falante e entusiasmado, ele tem em comum com o calado personagem Expedito os fones de ouvido como grandes parceiros nas andanças pelas ruas cariocas. “Estou sempre escutando música. Especialmente Jards Macalé , claro.”
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2/14/12 11:10 AM