ANZIEU, Didier; MARTIN, Jacques-Yves. La dinâmica de los pequeños grupos. 7. Ed.; tradução: Sofia Vidaurrazaga Zimmerman; Madrid: Editora Biblioteca Nueva, 1997. 287 páginas Primeira edição em 1997 Título original: La dynamique dês groupes restreints Os homens pensam facilmente segundo a oposição indivíduo-sociedade; não pensam naturalmente em termos de grupo, ainda que sua vida e suas atividades se desenvolvam freqüentemente em cenários de aglomerações restritas (p. 13). Ideia central Nó (gruppo) + redondo (kruppa) >>> COESÃO + CÍRCULO (igualdade) (p. 14). No grupo se projeta tanto o inconsciente social como o inconsciente individual (p. 17). O nascimento de um grupo deriva da tensão entre um perigo comum e um objetivo comum (p. 40). Premissas O grupo pequeno representa uma fase intermediária, uma alternativa de interação entre a vida íntima e a vida social, que pode servir de regulador dos vínculos e das distâncias entre o indivíduo e a sociedade (p. 7). Contexto/Histórico 1944 criada a ciência dinâmica de grupo por Kurt Lewin, psicólogo experimentalista alemão que viveu 15 anos nos EUA (p. 18). Nasce da reflexão sobre as razões psicológicas da ascensão do nazismo e do fascismo. No início da ciência dinâmica do grupo, especialmente no que diz respeito aos grupos pequenos (fim da II Guerra Mundial e início da guerra fria) os americanos a viam como a união de um tema sociológico e religioso, ou seja, um antídoto à massificação social e a herança Quaker de apropriação da verdade através da coletividade (p. 19). A URSS e demais países comunistas suspeitavam que a DG era uma ciência capitalista que se prestava à libertação de regimes comunistas (p. 20). 1953 muitas pesquisas sobre DG já eram publicados nos EUA e UK. 1968 a DG é “descoberta” pelos franceses (p. 8). França Segundo Fourier (1772-1837) o equilíbrio do organismo social, a harmonia universal, depende do atendimento das paixões humanas. Quando há desarmonia é porque há repressões em uma educação moral errônea. As paixões humanas buscam atender a uma de 12 tendências (p. 35): - 5 delas são individuais e dizem respeito ao atendimento dos prazeres sentidos (tato, olfato, paladar, audição, visão); - As outras 7 são sociais: - 4 delas se referem ao desejo de estabelecer vínculos afetivos (animistas, ambição, amor e paternidade). - As 3 restantes referem-se a busca de acordo com os demais (espírito de partido, necessidade de mudança de parceiro ou de trabalho, o entusiasmo irracional). Fourier propõe o falanstério como experimento grupal (p. 36), que chegou a ser aplicado sem sucesso nos EUA a partir de 1840 (p. 37). Durkheim (1912) define os grupos como mais que a soma de seus membros, mas uma totalidade; lança a hipótese de uma consciência coletiva (p. 37). Sartre em seus livros LÉtre El Le Neant (1943) e Crítique de la raison dialectique (1960) trata das relações do ser humano com outros seres humanos, o homem frente ao grupo e a história coletiva, com base em relações dialéticas com a natureza (p. 38). Para Sartre há três passos para a passagem de um agrupamento para um grupo (p. 39): passagem do interesse em comum para o interesse comum; passagem das comunicações indiretas para as comunicação diretas (com feedback); existência de grupos que tenham interesses opostos e que implicitamente tornem necessário a luta contra eles [inimigo comum]. Grupos em fusão vivem três experiências (p. 40): de solidariedade, de pertencimento e do outro como um regulador de minha ação na ação comum. Uma vez formado, o grupo toma duas medidas de coação para sobreviver (p. 40 e 41): persegue membros suspeitos de desejarem retirarse da ação comum; determina regras de conduta, trabalho e decisão. A inércia leva o grupo de volta à condição de agrupamento, a reorganização dinâmica mantém o grupo formado. Alemanha
Segundo Tönnies e Smalenbach há três categorias de grupos (p. 42 e 43): gemeinshaft – comunidade de vida, agrupamentos de parentesco e lugar; gesellshaft – comunidade de interesse, forma de associação voluntária, com contrato tácito ou explícito, tem a finalidade de promover intercâmbio; e bund (Smalenbach) é uma aliança à qual o indivíduo adere apaixonadamente para perseguir fins comuns fortemente valorizados e idealizados; apresenta características de sociedade secreta. EUA Os Quakers têm estrutura de grupo sem hierarquia que evocava os princípios do início do cristianismo (p.43), foram a base das relações de grupo na formação da sociedade americana. Alexis de Tocqueville, estudioso francês, descreveu a importância da vida em grupo na sociedade americana em seu livro De La démocratie en Amerique (1835-40), no qual descreve a tendência deste povo a formar os mais diversos tipos de associações. Mais tarde, através da filosofia social, inicia-se uma estruturação científica da compreensão dos grupos, Mead (1925) trata do papel da relação com o próximo na formação da personalidade humana, e Cooley (1935) investigou a função do grupo primário na socialização dos instintos individuais (p. 44). Trasher (1927) analisou grupos de jovens delinqüentes (p. 45); White (1943) pesquisa diversas turmas, não necessariamente delinqüentes, na condição de observador participante (p.46); Mayo (professor de filosofia australiano que desenvolveu carreira nos EUA) analisa as relações humanas nas indústrias em diversos estudos de caso ligados à qualidade do ambiente de trabalho (p. 46 e 47). Em 1935 Sherif dá início a experimentos em laboratório de grupos artificiais (p. 51). Definições/conceituações 4 Ramos de desenvolvimento da disciplina dinâmica dos grupos a partir de Kurt Lewin (p. 7): Foco nas investigações a partir dos princípios condutistas e cognoscivistas. Grupo psicológico e campo de forças (Kurt Lewin). Psicodrama e sociometria (Moreno). Psicanálise. Grupos (p. 13): primeira aparição da palavra na frança em 1668, em 1969 Molière faz uso desta palavra em um de seus poemas no qual defende a obra de um amigo arquiteto. Do italiano groppo ou gruppo (significava nó originalmente, no alemão kruppa = massa redonda), tem origem na terminologia das belas artes que designava vários indivíduos representados numa pintura ou escultura, por extensão na aplicação cotidiana, passa a designar a reunião de elementos (seres ou objetos); na metade do sec XVIII grupo passa a designar uma reunião de pessoas, simultâneamente surge a palavra em inglês (grupo) e alemão (gruppe). As línguas antigas não possuíam uma denominação para designar uma associação de pessoas em número restrito com objetivos comuns. Contestações epistemológicas do termo (na forma de preconceitos): De ordem psicológica e psicoanalítica (p. 14 e 15): na maior parte das pessoas inexiste a noção de grupo, o que há são as relações interindividuais, as relações sociais são desdobramento do caráter dos indivíduos, os fenômenos específicos de grupo são desconhecidos, o que há são as condições psicológicas individuais. Essa contestação explica-se pelo temor de repensar a própria situação em um novo marco referencial que cada grupo estabelece e na dificuldade em geral do ser humano descentralizar-se (narcisismo segundo Freud), ou seja, o temor pela perda da individualidade e autonomia e crença na manipulação como mecanismo inerente aos grupos. “A resistência epistemológica ao conceito de grupo procede da resistência do homem contemporâneo à vida em grupo”. De ordem sociológica (p. 16 e 17): considera que o grupo é um fato dado na condição de vida humana em sociedade. Por ser inerente compõe o que seja o indivíduo, sem que este faça uma distinção clara do que sejam os grupos, pois se funde neles. Esse totalitarismo grupal “proíbe” o distanciamento de membros ou introdução de estranhos para estudar o grupo. Outra resistência diz respeito à relação das grandes organizações com os grupos pequenos: “Para a sociedade global, o grupo pequeno é uma força a seu serviço, mas que pode voltar-se contra ela. Daí a desconfiança da maior parte das civilizações aos grupos pequenos espontâneos”. Segundo a tradição anarquista, o grupo autorregula-se e autogera-se, todos os membros são iguais e igualmente aptos para todas as tarefas e têm o mesmo peso. O coletivo é o meio para realizar os desejos sobre os quais os membros estão de acordo; as delegações concedidas pelos membros a um de seus integrantes são provisórias; os especialistas são eleitos e destituídos pela coletividade e estão a seu serviço. Tais princípios surgem tanto da democracia direta como da utopia social. A adoção de grupos auto-administrados nas organizações sociais podem gerar um efeito de mudança capaz de desagregar a própria organização, “o grupo pequeno já não é uma técnica de mudança controlada, mas sim um explosivo revolucinário” (p. 20).
Em outro sentido, há ainda a constituição dos grupos em torno de um chefe escolhido que, segundo Freud, representa o ideal de eu comum, num paralelo com a religação com Deus (p. 21). Um grupo se constitui com no mínimo 3 indivíduos, mínimo necessário para que ocorram coalizões mais ou menos duradouras, com 4 indivíduos começa a se manifestar os fenômenos de grupo (p. 20 e 30). Utiliza-se o termo grupo para designar classes ou categorias (aplicação comum do termo na sociologia, por exemplo); seria desejável a palavra grupo fosse utilizada para designar os conjuntos de pessoas reunidas ou que podem querer reunir-se; são 5 as categorias fundamentais dos grupos: 1. A multidão (p. 20 a 22): agrupamento num mesmo local sem o propósito explícito de reunião, cada indivíduo pretende satisfazer uma motivação individual, é solitária, leva a um estado psicológico próprio: a. Passividade das pessoas reunidas em relação ao que não representa satisfação imediata de sua motivação individual. b. Ausência ou baixo nível de contatos sociais e relações humanas. c. Contágio emocional e propagação de agitação. d. Estimulação latente devido à presença massiva dos demais, que pode desencadear ações coletivas passageiras e paroxísticas, caracterizadas pela violência ou entusiasmo, ou que pode induzir a uma apatia coletiva impermeável a intervenções. Nessa definição de multidão não se considera as manifestações preparadas. Wesley distingue as multidões convencionais das multidões espontâneas (reunidas por incidente, com reações imprevisíveis e facilmente perigosas, nas quais não há dirigentes, organização nem regras), a parte das multidões organizadas (p. 21). Recomenda-se empregar o termo multidão para toda reunião espontânea ou convencional de grande número de pessoas; já o termo massa sugere-se para os fenômenos de psicologia coletiva relativos a um número ainda maior de pessoas que não estão nem podem estar fisicamente reunidas (moda, opinião pública, etc) (p. 22). [um flash mob é tornar multidão uma massa unidas por um objetivo comum]. 2. A turma ou galera (p. 22 a ...): os indivíduos se reúnem voluntariamente pelo prazer de estar juntos em função de suas semelhanças. Nos animais é chamado de interatração, nos animais é a busca nos pares da mesma forma de pensar e sentir que se tem, e sobre os quais nem sempre se tem consciência a respeito. As turmas mais conhecidas são aquelas de crianças e adolescentes (p. 22): O prazer de estar numa turma [de adolescentes] é conseqüência da supressão ou suspensão da exigência de adaptar-se, e do custo de uma tensão psíquica penosa, a um universo adulto ou social e suas regras de pensamento e conduta. A copresencia com outras personalidades homólogas a si mesmo [...] permite abandonar-se a si mesmo sem coação nem remorso e justifica ser como se é. Além disso, a turma provê a seus membros, que de outra forma estariam privados, a segurança e a sustentação afetiva, ou seja, um substituto do amor. As crianças desamparadas ou abandonadas, as personalidades inafectivas ou débeis ou amorais (crianças ou adultos), os indivíduos separados dos vínculos sentimentais e familiares, os que saem de comunidades com uma forte disciplina nas quais suas necessidades afetivas não são satisfeitas (pensionistas, soldados, marinheiros), constituem naturalmente as turmas. No adulto socialmente adaptado, a turma [...] autoriza atividades que estão no limite das regras morais e sociais: o jogo, a bebida, o flerte, a licença erótica, o escândalo na via pública, o envilecimiento, a destruição de objetos, o mancillamiento de alguns valores (patrióticos, religiosos, etc).
O objetivo das turmas não é a realização de atividades em comum, mas sim estar junto por serem parecidos; têm um número mais limitado que a multidão e são efêmeras; se duradoura torna-se um grupo primário assumindo características deste (p. 23). Assim como ocorre com os animais, em turmas ocorrem mudanças de características na postura, aparência, linguagem, dentre outros, buscando parecer-se uns com os outros [mimetização]. 3. O agrupamento: pessoas reunidas periodicamente em número pequeno, médio ou grande, com uma relativa permanência de seus objetivos nos intervalos entre as reuniões. Os membros de um agrupamento têm um interesse comum, e são conscientes deste interesse, a responsabilidade para alcance desses interesses é cedida a um representante, dirigente ou acontecimentos; a não ser por esse interesse comum, os membros não possuem vínculos nem contato (ex.: associações) (p. 24). 4. O grupo primário: afirma valores comuns, privilegia a lealdade e solidariedade, define papeis, define objetivos diferentes da complacência coletiva (p. 23). Possui número pequeno de membros, de maneira a ter-se a percepção individualizada de cada um dos demais e ser percebido reciprocamente; realização ativa de fins comuns com certa permanência, assumidos como objetivos do grupo e valorizados por este; relações afetivas que podem ser intensas entre os membros – simpatias, antipatias – e constituir subgrupo de afinidades; interdependência dos membro e
sentimentos de solidariedade, união moral fora das reuniões e atuações em comum; diferenciação das funções entre os membros; constituição de normas, crenças, sinais e ritos próprios ao grupo, linguajem e códigos [ex.: piada interna] (p. 25 e 26). Nesses grupos ocorrem condutas de manutenção (conservação; grupos comemorativos) e progressão (transformação; grupos de ação) as relações entre os membros, da organização interna, do escopo físico-social da sua finalidade (p. 25). Segundo a definição de grupos primários do sociólogo americano C. H. Cooley (p. 26): Por grupos primários, entendo aqueles caracterizados por uma associação e uma cooperação íntimas e cara a cara... O resultado desta associação íntima é, do ponto de vista psicológico, uma certa fusão das individualidades em um todo comum, de forma que a vida comum e a finalidade do grupo se convertem na vida e na finalidade de cada um... a forma mais simples para descrever esta totalidade é dizer que é um nós; isto implica a espécie de simpatia e de identificação mútua da qual nós é a expressão natural. Cada um vive com o sentimento desse todo e encontra nesse sentimento os fins principais que se fixam sua vontade... Os grupos primários são primários no sentido que aportam ao indivíduo sua experiência mais primitiva e a mais completa da unidade social; são também [primários] no sentido em que não são tão mutáveis no mesmo grau em que são das relações mais elaboradas, portanto formam uma fonte relativamente permanente de onde o restante emana sempre... Assim esses grupos são as fontes de vida não apenas para o indivíduo mas também para as instituições sociais.
Os grupos pequenos favorecem a formação de grupos primários (p. 27). 5. O grupo secundário ou organização: caracterizado por relações frias, racionais, contratuais (p. 26 e 27), é um sistema social que funciona segundo as instituições (jurídicas, econômicas, políticas) em um segmento específico da realidade social (p. 27).
Caso particular, o grupo amplo: reunião de 25 a 50 pessoas na qual se fala livremente de um tema ou problema comum, a falta de identificação mútua, ser alvo de olhares e a falta de controle sobre o que é dito e sobre os olhares levam a uma ameaça a identidade pessoal, e a conseqüente busca de vínculos (p. 27).
Características conforme número de pessoas (p. 30): - 3 a 5 pessoas: grupos pequenos, geralmente não estruturados, atividades espontâneas e informais do tipo conversação. - 6 a 13 pessoas: ainda grupo pequeno, possui um objetivo que permitem aos participantes relações explícitas entre eles e percepções recíprocas, dedicados a reuniões e discussões.
- 14 a 24 pessoas: grupos estendidos, tipo comissões de trabalho, grupos pedagógicos que utilizam métodos ativos, são difíceis de conduzir devido à tendência à subdivisão. - 25 a 50 pessoas: grupos amplos, em geral dedicados à transmissão de conhecimento, a negociações sociais (convenções, acordos coletivos), a informação recíproca. Pode-se aplicar técnicas para manejar a tendência à subdivisão (tais como Phillips 66 ou Painel modificado). - Acima de 50 pessoas: assembléias que necessitam de uma estrutura permanente (oficinas, comissões) e regulamentação interna que organizam procedimentos. Angústias primitivas (p. 15): os estudos psicoanalíticos dos grupos colocaram em evidência as angústias primitivas (angústia perseguidora, angústia depressiva, angústia de fracionamento do corpo, angústia ante o desejo de uma fusão simbiótica no grupo, aniquilamento para a personalidade individual). Representações sociais do grupo: “fatos psíquicos coletivos que impregnam o pensamento, orientam a ação e mantêm a ensoñación sobre os grupos” (p. 18), podem ser veiculadas através do folclore, literatura, religião, ciência ou técnicas. Metáforas que apóiam as teorias científicas dos grupos: 1. Biológica: o grupo como organismo vivo, analogia da moral coletiva com a interdependência dos tecidos e órgãos; 2. Mecânica: o grupo como máquina escravizante, analogia da autogestão social com o feedback cibernético. (p. 18). Dinâmica de grupo, segundo Kurt Lewin, as condutas humanas são a resultante não apenas de forças psicológicas individuais, mas também de forças próprias do grupo ao qual o indivíduo pertence (p. 18). As ações de grupo se distinguem das ações psíquicas individuais, pois emergem da pluralidade de um conglomerado de indivíduos (p. 20). Indivíduo anômico: segundo Durkheim, é aquele que está fora de um grupo, out-group, é mais frágil que o indivíduo integrado em uma comunidade (p. 37). Teorias (capítulo III) A sociometria segundo Moreno Moreno inventa o psicodrama em Viena, 1923 (p. 53), e mais tarde a técnica sociométrica, segundo a qual (p. 54): Os seres humanos estão vinculados, uns aos outros, por três relações possíveis: simpatia, antipatia ou indiferença. As relações podem ser medidas a partir de um questionário no qual cada membro de um grupo indica a que, no grupo, eleje ou rechaça como companheiro. A análise das respostas permite estabelecer uma espécie de radiografia dos vínculos socioafetivos no interior do grupo. [...] A moral e como consequência os resultados de um grupo, de uma dotación, de uma equipe de trabalho dependem do predomínio das relações de simpatia entre os membros e de sua relação com o líder.
Por fim Moreno une o psicodrama e a técnica sociométrica na proposta do sociodrama, no qual os representantes de uma comunidade em conflito representam a forma como vivem as situações que são fontes de conflito (p. 54). A Dinâmica dos grupos segundo Kurt Lewin Psicólogo da Escola de Berlim que emigrou para os EUA, transpôs para o estudo da personalidade humana e dos grupos os princípios da Gestaltheorie, ou psicologia da forma, demonstrando que a percepção e o hábito se manifestam não nos elementos, mas nas estruturas das organizações/reorganizações das sensações e lembranças (p. 54). Essa estrutura é dinâmica, um sistema de forças em equilíbrio, quando este se rompe ocorre uma tensão no indivíduo, que passa a comportar-se visando restabelecer algum equilíbrio. Segundo Lewin são três as formas de tensão (p. 55): aquelas advindas de uma tarefa interrompida (efeito Zeigarnik); aquela resultante da frustração e que leva a agressão ou retração; aquela resultante do fracasso ou dos êxitos durante a realização de uma tarefa repetitiva e que modifica a atitude dinâmica frente a essa tarefa (ex.: nível de aspiración aumenta devido à confiança em função do êxito ou para compensar a decepção do fracasso). Lewin propõe os conceitos de espaço de vida, de locomoção do indivíduo através deste espaço, de distância psicológica entre pessoas e objetos de um campo [relacionar com proxêmica] e de barreiras que se interpõem entre os elementos de um campo (p. 55). Em seus experimentos observa que o autocratismo no grupo induz dois tipos de reação: a obediência passiva (resistência pela inércia) ou a agressividade abrupta; no clima democrático pode haver a presença de agressividade, mas esta é descarregada pouco a pouco; num clima laisser-faire a agressividade elevase também devido às frustrações da não realização de tarefas (p. 56). Ou seja “a frustração leva a reações agressivas,
mas estas adquirem matizes específicas segundo os climas grupais” que por sua vez dependem do estilo de ordem (p. 57). As hipóteses de Lewin são as seguintes (p. 57): O grupo é um todo no qual as propriedades são diferentes da soma das partes; o grupo e seu entorno constituem um campo social dinâmico, no qual os elementos principais são os subgrupos, os membros os canais de comunicação e as barreiras. Modificando-se um elemento privilegiado, pode-se modificar a estrutura do conjunto.
Lewin considera o grupo uma realidade sui generis e um sistema interdependente, que não pode ser reduzida aos indivíduos que o compõem. Em relação à mudanças sociais, os trabalhos de Lewin indicam que um grupo resiste à mudança quando está num equilíbrio das suas forças internas, o que ele denomina de estado quase estacionário (p. 57). Uma maneira de descristalizar as forças internas e buscar um novo ponto de equilíbrio é promover discussões não diretivas que pouco a pouco ajudem o próprio grupo a implantar uma crise interna e buscar um novo ponto de equilíbrio. A conformidade com o grupo é um dos elementos da resistência interna à mudança: é necessário reorientar esta força a serviço da mudança (p. 59). A aproximação não diretiva segundo Rogers Rogers tem um approach diferente de Lewin, ele considera que todo saber preestabelecido sobre o grupo é prejudicial (por isso não formula teorias ou hipóteses), o facilitador deve ser não diretivo em suas ações no grupo (utilizar nada mais que técnicas de incitação e compreensão, p. 60) e estar atento à especificidade deste, orienta propiciando a verbalização de coisas sentidas em profundidade. Rogers não é afeito a abstrações, interpretações, exercícios não verbais ou corporais (p. 59). As teorias cognitivas Dedicada a desvendar o funcionamento da “caixa preta” entre o estímulo e a resposta, buscando analisar a imagem mental e a linguagem, necessariamente experimentalista. O psiquismo traduz a imagem em linguagem, e a linguagem em imagem, de onde surge uma teoria comportamental dos sentidos (p. 60). Festinger formula a teoria da dissonância cognitiva: mecanismo do pensamento para amenizar a sensação de incoerência interna (p. 61). A crítica aos pressupostos experimentalistas: Serge Moscovici Elementos conceituais para a análise da influência social: normalização – conformidade – inovação; os pressupostos expermentalistas tradicionais de estudo dos grupos apóiam-se num tripé: necessidade de controle social, exigência de conformidade e busca sistemática de consenso; deste tripé se desdobram as seguintes proposições (p. 66): 1. Em grupo, a influência social é desigualmente repartida e exercida de forma unilateral. 2. A influência social tem como função manter e reforçar o controle social. 3. As relações de dependência determinam a direção e importância da influência social exercida em grupo. 4. As formas que tomam os processos de influência são determinadas por estados de incerteza e a necessidade de reduzir a incerteza. 5. O consenso, que enfoca o intercâmbio de influência, se fundamenta na norma de objetividade. 6. Todos os processos de influência são considerados a partir do ângulo do conformismo.
A partir destas considerações S. Moscovici parte para reflexões sobre uma concepção genética da influência social, de onde destaca três elementos: a importância do conflito como fator de evolução social, assim como a inovação e a ressonância social; daí surgem 6 novas proposições (p. 67): 1. Cada membro do grupo, independente de seu ranking, é uma fonte e receptor potencial de influência. 2. A mudança social, assim como o controle social, constitui um objetivo de influência. 3. Os processos de influência estão diretamente vinculados com a produção e com a reabsorção dos conflitos. 4. Quando um indivíduo ou um subgrupo influenciam um grupo, o principal fator de sucesso é o estilo de comportamento. 5. O processo de influência é determinado pelas normas de objetividade, as normas de preferência e as normas de originalidade. 6. As modalidades de influência incluem, além da conformidade, a normalização e a inovação.
Segundo S. Moscovici, poder e influência são dois conceitos diferentes e a mudança deve ser considerada como uma finalidade do grupo, no qual indivíduos e subgrupos têm caráter ativo (p. 67). Moscovici diferencia a abordagem da influência social conforme o modelo funcionalista e o modelo genético (p. 68):
A perspectiva psicanalítica Segundo Freud, não matar o totem (substituto do pai), não se casar com os pais (tabu do incesto), são a transposição social do complexo de Édipo (p. 68): “a morte do pai fundador é um trabalho psíquico interno que todo grupo tem que efetuar em um plano simbólico (e algumas vezes no plano real) para ascender a sua própria soberania e converter-se em seu próprio legislador”. Segundo Freud, os principais subsistemas psíquicos derivam das identificações e das projeções: o superego (regras e proibições) é o resultado da interiorização das relações com autoridades (pais e filhos); o ideal de ego (valores pessoais) é o resultado das interiorizações das relações de estima entre pais e filhos. Em grandes organizações ocorrem dois tipos complementares de identificação: num primeiro tipo o chefe está interiorizado, sua imagem é substituída pelo ideal de ego de cada um, esse ideal de ego comum assegura a unidade desta coletividade; num segundo tipo de identificação, se estabelecem redes de identificação mútua entre os membros, que asseguram a coesão. Este segundo tipo de identificação mantém baixo o nível de agressividade intragrupo, já o primeiro tipo, em algum momento pode converter-se de imagem de herói a de perseguidor, e mobilizar a agressividade, ficando a unidade ameaçada a não ser que se recorra ao sacrifício interno do chefe ou de um substituto (p. 71 e 72). [...] se a organização fundada sobre uma autoridade de tipo paternal tem receio de uma fonte de instabilidade, que é o ressentimento contra aquele que o condenam por sua severidade, por sua crueldade ou simplesmente por seu poder, a organização fraternal é minada pelo retorno das rivalidades, pela supervivencia dos amores próprios e pelos desejos de domínios, e pela fragilidade das tendências sociais, nascidas mais tardiamente no indivíduo. (p. 72).
Bion, a partir de suas aplicações psicoanalíticas ao estudo de grupos de veteranos em readaptação pós-guerra elabora dois enunciados (p. 75 e 76): 1. O comportamento de um grupo de realiza em dois níveis – o da tarefa comum (racional e consciente) e das emoções comuns (afetivo e fantasmático); 2. Os indivíduos reunidos em um grupo se combinam instantaneamente e de forma involuntária para atuar segundo os estados afetivos denominados de pressupostos básicos (dependência, agressão-fuga, acoplamento em subgrupos ou duplas) Métodos Estudo dos grupos naturais Entende-se por grupos naturais aqueles que se formam a partir das atividades sociais (sala de aula, fábrica, escritório, etc), sendo o pesquisador um observador participante (se fazendo aceitar pelo grupo ou como parte dele desde seu início), podendo atuar conforme uma de duas abordagens, sociométrica ou da observação participante (p. 83 a 85): Na abordagem sociométrica o grupo sabe que um de seus membros é pesquisador. Essa abordagem possui duas dificuldades – o grupo modifica suas condutas habituais devido a reações perseguidoras ou depressivas; o pesquisador tem a árdua tarefa de assumir dupla função (observador e parte do grupo) que pode se transformar num jogo duplo. Na abordagem da observação participante o grupo não sabe da presença de um pesquisador em seu meio. São 4 os níveis de explicação possíveis mediante estudos de grupos naturais (in loco ou em laboratório) em psicologia social (p. 89): 1. Processos intra individuais; 2. As dinâmicas interindividuais mas intra situacionais; 3. Os efeitos das posições sociais em uma interação e; 4. A intervenção de crenças gerais.
A análise da interação Método nem clínico nem experimental que pode ser aplicado tanto a grupos naturais quanto experimentais. Esse tipo de método aplica-se apenas em reuniões-discussão e analisa os fenômenos da comunicação, ou seja, focaliza o comportamento observável, sem fazer inferências sobre os motivos por detrás destas condutas. A análise das interações inclui a relação do número de unidades de comunicação emitidas por indivíduo em direção a cada um dos demais e em direção ao grupo em geral. Os resultados são registrados em uma tabela de dupla entrada com número de linhas igual ao número de membros e número de colunas igual ao de membros e mais uma para o grupo. Denominada estrutura de Bales ou estrutura centralizada, a classificação é de acordo com o número de emissões direcionadas a um determinado membro ou ao grupo ou emissões recebidas. O status mais elevado do grupo é do indivíduo que emite ou recebe mais comunicações (p. 89). A partir desse método Bales propôs 12 categorias para a observação das interações em um grupo (p. 90):
Este método é questionado por limitar as variáveis de observação e potencialmente desviar a atenção do observador para aspectos secundários em relação à dinâmica de interação que pode estar acontecendo no grupo.
O recurso aos grupos artificiais A partir de Kurt Lewin os experimentos com grupos artificiais focalizaram os fenômenos típicos de grupos (influência, coesão, normas, tensão, atração), uma tarefa capaz de motivar o grupo é proposta, mas não tem importância em si, é o pretexto para estudar os fenômenos de grupo. A experimentação segue um esquema hipotético-dedutivo no qual se deduz que uma modificação na variável independente exercerá uma determinada conseqüência sobre a variável dependente, por exemplo, a modificação do estilo de ordem afeta a taxa de agressividade (p. 92 e 93). Dentre os grupos artificiais vale ressaltar o método denominado T-Group (abreviação de basic skills training group) ou grupo de diagnóstico, que conta com as seguintes variáveis (p. 97 e 98): ausência de vínculos anteriores. Diversidade, entre 8 e 12 participantes, obrigação de intercâmbios verbais e liberdade completa desses intercâmbios, número relativamente elevado de reuniões consecutivas (pelo menos 10). O T-group caracteriza-se (p. 100): 1. Pela carência de poder (autoridade), o que permite observar todas as formas de liderança (autocrática, democrática, laisser-faire), estilos de líder, momentos cruciais do mandato (tomada, afirmação, ruína), problemas de legitimidade e usurpação, consentimento, obediência, rivalidade, resistência passiva e rebelião aberta, as representações imaginárias suscitadas pelo exercício da autoridade e a ambivalência das atitude que resultam dessas representações. 2. Pela presença de vasta gama de dificuldades de comunicação, resultantes do egocentrismo, das ambigüidades semânticas e da retórica; provoca nos participantes ações para a definição de uma linguagem comum (feedback, marcos referenciais, léxico, coadaptação de estilos). 3. Do ponto de vista da afinidade, atualiza as razões das simpatias e antipatias, sua dependência e efeitos sobre o clima, a moral a solidariedade e o trabalho de grupo.
Parte 2...
Simões, Ana Paula asimoes@consvita.com.br