Fichamento Psicoterapia de grupo

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YALOM, Irvin D.; LESZCZ, Molyn. Psicoterapia de grupo: teoria e prática. 5. ed.; tradução: Ronaldo Cataldo Costa; Porto Alegre: Artmed, 2006. 528 páginas Título original: The theory and practice of group psychotherapy. O produto da psicoterapia não é a cura – certamente, em nosso campo, isso é uma ilusão –, mas a mudança ou o crescimento (p. xiv). A língua está para o terapeuta assim como o bisturi está para o cirurgião (p. 134). As observações, pontos de vista e insights obtidos por meio dos próprios esforços são mais valorizados do que os que outra pessoa joga sobre nós (p. 149). Observação: o livro destina-se a psicoterapeutas, no entanto os temas abordados são altamente relevantes para coordenadores e observadores de grupos não terapêuticos. É possível substituir, em grande parte do conteúdo, a palavra “terapeuta” por “coordenador”, “terapia” por “encontro” e “paciente” por “participante” sem prejuízo de interpretação e aplicação. Nesse resumo foram mantidos os termos do contexto psicoterapêutico, originalmente adotados pelo autor. Ideia central Tanto a resolução da transferência quanto a aprendizagem interpessoal são fatores terapêuticos fundamentais. Premissas Foco interacional: “A interação interpessoal no aqui-e-agora é crucial para a terapia de grupo efetiva” (p. xvi). Foco no processo: quanto mais focado em processo, mais potência tem o grupo. Ativação e esclarecimento do aqui-e-agora (capítulos 6). São duas as fases do foco no aqui-e-agora: fase de ativação com foco na experiência imediata do interrelacionamento dos membros do grupo (os eventos imediatos do encontro têm precedência em relação a eventos externos atuais e passados) e fase de esclarecimento do processo (ciclo auto-reflexivo sobre a metacomunicação): É importante diferenciar o processo do conteúdo. Imagine dois indivíduos em uma discussão. O conteúdo dessa discussão consiste das palavras ditas de forma explícita, das questões fundamentais, dos argumentos usados. O processo é uma questão completamente diferente. Quando investigamos o processo, podemos perguntar “O que essas palavras explícitas, o estilo dos participantes, a natureza da discussão, dizem sobre o relacionamento interpessoal dos participantes?” (p. 126).

Esclarecer o processo concentrando-se nas necessidades imediatas do grupo de maneira a ajudá-lo a avançar. Fazer isso através de formulação de hipóteses (perguntas, inferências, interpretações). O esclarecimento do processo é uma tarefa típica do terapeuta, os membros do grupo tendem a interpretar como prepotência as tentativas dos próprios membros de esclarecer o processo, e responderão desafiando o “metido”. Além disso: Existem muitas ocasiões em que o processo está óbvio para todos os membros do grupo, mas não pode ser comentado porque a situação simplesmente está ardente demais: os membros são uma parte muito importante da interação para separá-los dela... Às vezes, um terapeuta experiente pode determinar de forma ingênua que é melhor que alguns membros do grupo abordem uma questão que o próprio líder se sente ansioso demais para abordar. Geralmente, isso é um erro: o terapeuta tem uma capacidade maior de falar o impronunciável e de encontrar maneiras palatáveis de dizer coisas desagradáveis (p. 134).

O terapeuta é um historiador do grupo, registrando comportamentos seqüenciais e padrões cíclicos, correlacionando os fatos com os objetivos de cada membro do grupo. Esse passado do próprio grupo compõe o seu aqui-e-agora. A história pessoa e problemas da vida atual dos integrantes – o “lá e então” – surgirão eventualmente no grupo. A abordagem do terapeuta deve ser de auxiliar os membros a compreenderem o passado considerando o modo como ele afeta os relacionamentos interpessoais no presente, e não simplesmente falando do passado. Para ativar o aqui-


e-agora o terapeuta “... muda o foco de fora para dentro, do abstrato para o específico, do genérico para o pessoal, do pessoal para o interpessoal” (p. 137), concentrando-se inicialmente em interações positivas, que não sejam percebidas como um risco ou ameaça. Um recurso é utilizar o tempo verbal condicional, ex.: “se você não estivesse insensível e distante hoje, como você poderia se sentir em relação ao fulano?”. O terapeuta deve ser um modelo de como oferecer e solicitar feedback. Ativar o aqui-e-agora e esclarecer o processo pode exigir do terapeuta interromper o fluxo de conteúdo que eventualmente esteja estagnando o grupo: “o terapeuta não deseja avançar ao redor dos obstáculos, mas através deles” (p. 141). Tais intervenções devem se dosadas: pouca atividade do líder pode deixar o grupo em confusão, excesso de ativação pode deixar o grupo dependente. Estágios para tornar o aqui-e-agora uma vantagem terapêutica: i. Reconhecer o que se está fazendo com as outras pessoas. ii. Entender o impacto desse comportamento sobre os demais e como influenciam a opinião deles sobre si. iii. Decidir se estão satisfeitos com o estilo interpessoal adotado. iv. Exercitar o desejo de mudar. v. Transformar o desejo de mudança em decisão, e esta em ação. vi. Solidificar a mudança e transferi-la para a vida fora do grupo. Atenção ao que é dito, ao que não é dito, e também ao comportamento não-verbal. Atenção ao que destoa, pareça uma reação desproporcional, não pareça fazer sentido: nesses casos pode estar ocorrendo distorção paratáxica (transferência), metacomunicação ou deslocamento. A receptividade é maior às observações formuladas de maneira solidária, e acusações globais são rejeitadas: Raramente os indivíduos rejeitam uma observação de que se distanciam ou se fecham aos outros, ou de que são abnegados demais e nunca pedem nada, ou de que são avarentos com seus sentimentos ou de que escondem muitas coisas do que têm para oferecer. Todas essas observações contêm uma mensagem de apoio: que a pessoa tem muito a dar e que o observador deseja se aproximar, deseja ajudar, deseja conhecer o outro de maneira mais íntima (p. 150).

Utilizar uma sequência progressiva de intervenções, cada vez mais inferenciais (p. 153): i. Seu comportamento é assim. Por meio do feedback e da auto-observação posterior os membros aprendem a se enxergarem como os outros os enxergam. ii. Seu comportamento faz os outros se sentirem assim. Os membros aprendem sobre o impacto do seu comportamento sobre os sentimentos de outros membros. iii. Seu comportamento influencia as opiniões que os outros têm de você assim. Os membros aprendem que, como resultado do seu comportamento, os outros o valorizam, consideram desagradáveis, respeitam, evitam, e assim por diante. iv. Seu comportamento influencia a sua opinião de si mesmo assim. Com base nas informações reunidas nos três primeiros passos, os pacientes formulam auto-avaliações e fazem julgamentos sobre seu valor próprio e sua amabilidade.

Essa progressão prepara a pergunta (a ser formulada indiretamente) você está satisfeito com o mundo que criou? A partir da resposta negativa trabalha-se a decisão de mudar e o ato da mudança em si. Busca remover os obstáculos à vontade para mudar com as seguintes atitudes: exortação (“então, mude!”); responsabilidade (só eu posso mudar o mundo que criei para mim); remoção de obstáculos (não há perigo em mudar, abordagem “como se”, condicional; estimular a cometer o ato temido no grupo); esclarecer os ganhos (clarear as motivações conflitantes que não podem ser atendidas simultaneamente); explicar as motivações (interpretações explicativas propiciam sensação de controle, domínio pessoal sobre a situação, de passivo/reativo a ativo). A força das interpretações explicativas é diretamente proporcional à sua capacidade de oferecer a sensação de domínio pessoal. Três conceitos são utilizados para as interpretações: o passado-presente-futuro, ou seja, o impulso original, as forças atuais e os objetivos e self idealizado, em relação ao passado lembrar que tão importante quanto identificar sua influência é reconstituí-lo, e que é mais uma “tarefa de casa silenciosa” do que algo a ser trazido nas reuniões; o processo do grupo como um todo, identificação dos movimentos do grupo que demonstram normas do grupo antiterapêuticas e resistência em tratar da tarefa, intervir quando a norma ou resistência é percebida, mesmo que sua fonte ainda não esteja clara, citando as evidências percebidas (“o que está acontecendo com o grupo nesse momento?”; “por que esse tema específico está sendo discutido, e por que agora?”), não se deixar enganar por outros temas, às vezes importantes e de conteúdo pessoal emocional, oferecidos num momento em que acabam


sendo usados como fuga, qualificá-lo e dizer que retornaremos a ele, e seguir tratando da resistência; a transferência (capítulo 7). Definições Contratransferência objetiva: impacto interpessoal característico do paciente sobre você e os outros, fonte de dados interpessoais sobre o paciente (p. 149). Contratransferência subjetiva: reações idiossincráticas que se refletem mais especificamente no que você, pessoalmente, leva para seus relacionamentos ou interações, fonte de dados sobre o você (p. 149). Deslocamento: reação não à reação atual, mas a sentimentos causados por transações anteriores (p. 144). Distorção paratáxica: resposta ao outro de forma irreal; transferência lato senso (p. 144). Gratificação secundária: ganhos obtidos na relação com o grupo que levam o paciente a abandonar sua tarefa primária, por exemplo: um relacionamento com outro membro, uma imagem que se deseja projetar, um papel desejável no grupo (p. 146). Hipóteses (pergunta, inferência, interpretação): podem ser usadas para ativar o aqui-e-agora e para esclarecer o processo. São possibilidades explicativas para o processo do grupo. Podem ser apresentadas na forma de pergunta aberta visando investigar o que está acontecendo no grupo (quando ainda não está totalmente claro). Pode ainda ser na forma de inferência – “vocês parecem estar tendo uma reação a isso” – ou interpretação mais específica, porém sempre na forma hipotética (“parece estar”, “tenho a sensação que”, “me parece que”...). A correção da hipótese é algo secundário, desde que ela auxilie o grupo a concentrar-se em seu próprio funcionalmente ela estará operacionalmente correta. Metacomunicação: mensagem sobre a natureza do relacionamento entre dois indivíduos que interagem (p. 126). Processo: natureza da relação entre indivíduos que interagem. O centro do processo de terapia é indentificar a conexão entre o verdadeiro impacto da comunicação e a intenção do comunicador (p. 126). Tarefa primária: do paciente é realizar seus objetivos originais (p. 146).

Simões, Ana Paula asimoes@consvita.com.br


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