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cidade pós-covid

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BIBLIOGRAFIA

BIBLIOGRAFIA

Para outros processos históricos tão marcantes quanto, foram necessários anos de estudo e reflexão para apreender-se as principais contribuições e ensinamentos dessas situações. Como sabemos, este não é o caso, pois ainda vivemos sob os efeitos do vírus e o medo da doença. Contudo, é importante traçar o histórico do processo, ainda recente, buscando entender as diversas relações com as coisas, pessoas e espaço. Para tanto, inicialmente me apoiarei no capítulo “Epidemia de COVID-19, mapas à procura de fatores associados” de Hervé Théry na coletânea do livro “COVID-19: passado, presente e futuro”. Sabe-se que o vírus que surgiu na China percorreu primeiramente a Europa e posteriormente as Américas, estágio onde adentrou o Brasil. Nos mapas ao lado é possível acompanhar o percurso do coronavírus e o seu processo de contagiosidade pelo país. O que é importante notar nesses mapas é que à medida que o tempo avança, os círculos vermelhos aumentam em número e em raio, indicando o aumento no acúmulo total de casos; e as tonalidades em azul tornam-se mais escuras, indicando a relação de casos com a população de determinado estado, mais especificamente em direção a Amazônia. Ele acrescenta que, embora a região seja pouco povoada, a população está concentrada ao longo dos rios, que para aquele contexto são como nossas rodovias, isto é, os principais meios de transporte e por onde a população urbana se concentra, o que facilitou a rápida circulação da doença. (Théry, 2020) O autor segue analisando e relacionando mapas do avanço da COVID-19 com outros fatores socioeconômicos do país, como densidade em domicílios, razão de dependência familiar, saneamento inadequado, esperança de vida e população ativa sem renda. E pontua:

“Analisando esses mapas, pode-se argumentar que a distribuição de casos (conhecidos) de COVID-19 é semelhante à de fatores como pobreza, más condições sanitárias associadas a ela, alta densidade de ocupação de moradias e seus equipamentos sanitários insuficientes, composição familiar com muitos dependentes (crianças, jovens e idosos) e baixo nível de escolaridade.” (THÉRY, 2020, p.109) 0 600 km

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Fonte: Elaborada pelo autor (2020) com base em dados das Secretarias Estaduais de Saúde (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2020). Software Cartes & Données ©Articque. FONTE: Elaborado por Henvé Théry (2020) com base nos dados das Secretarias Estaduais de Saúde (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2020). Disponível em: http://www.livrosabertos.sibi.usp.br/portaldelivrosUSP/catalog/book/552

Além disso, um aspecto conhecido desde o início e que continua de extrema importância para o tema é a transmissão por meio da mobilidade contínua, capacidade que adquirimos e aprimoramos conforme avançamos enquanto sociedade. Nunca fomos tão urbanos, globalizados e interconectados. Atravessamos cidades, estados e até países em questão de horas. Nesse sentido, e restringindo o recorte para o interesse do trabalho, a rede de cidades especialmente no estado de São Paulo é a rede pela qual se estruturam diversas outras: de transporte, de economia, de riqueza, desigualdade social etc. Assim, é evidente o porquê o vírus entraria por São Paulo, e como ele mantém forte relação com as hierarquias dos centros urbanos (comparar mapas ao lado com os seguintes). O mapa anterior mostra não apenas a relação do eixo de contágio com os eixos rodoviários, mas também a relação com a rede de cidades mencionada. O alcance espacial dos fluxos que partem ou chegam em São

Elaborado pelo IBGE, disponível em: https://www2. unesp.br/portal#!/noticia/35626/por-que-a-circulacao-de-pessoas-tem-peso-na-difusao-da-pandemia Paulo estrutura rotas de disseminação do vírus pelas cidades paulistas, especialmente as grandes e médias cidades. No âmbito das impressões pessoais, e diante de todo o exposto até o momento, me parece necessário e urgente a proposição de novas

diretrizes e modelos de desenvolvimento e expansão urbana. Os investimentos públicos em saneamento básico, saúde e habitação para populações de vulnerabilidade social devem deixar, finalmente, o campo das discussões e migrar para a implementação urgente e obrigatória, pois não cabe mais discutir questões de ordem tão básicas frente aos temas abordados daqui em diante. Dito isso, a pandemia e as situações derivadas dela retomou as necessidades de uso dos recursos naturais e renováveis em diferentes escalas, como ventilação e iluminação natural. Isto é, a ventilação e iluminação tornou-se novamente de suma importância nos cômodos domiciliares, ambientes de trabalho e espaços públicos; depois de um longo período dominado pelo protagonismo da iluminação artificial e dos ares-condicionados. Nesse mesmo sentido, o fortalecimento das economias locais e dos produtores familiares rurais se fez ainda mais necessária diante de tamanha crise econômica, e soma-se a isso a necessidade de digitalização das interações sociais de trabalho, compra e venda. Essas situações surgidas pela pandemia abriram discussões sobre a retomada ou incentivo dessas questões, uma aliança entre o naturalizado e ancestral, e o inovador e digitalizado, ambos em prol de um melhor funcionamento das relações e dinâmicas diante desse contexto atípico e histórico. Assim, pode-se dizer que algumas dessas atividades podem e devem permanecer como modelos de funcionamento, especialmente aquelas que dizem respeito à construção de espaço e cidade mais saudável, sustentável e resiliente.

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