A Alma da Notícia - Anderson Peters

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A ALMA DA NOTÍCIA Indicado para estudantes dos cursos de jornalismo, o livro “Técnicas de redação em Jornalismo, O Texto da Notícia” busca em seu segundo volume contribuir para despertar nos futuros profissionais o gosto pela linguagem escrita. Ele também procura esclarecer dúvidas recorrentes no momento da redação, tanto de ponto de vista gramatical, quanto do ponto de vista estrutural do texto. A obra, lançada em 2009 pela Editora Saraiva, é a segunda da coleção “Introdução ao Jornalismo”, escrita por Patrícia Ceolin do Nascimento. Patrícia é professora de redação nos cursos de jornalismo e publicidade e propaganda da Universidade Bandeirante de São Paulo. Além disso, ela orienta trabalhos de conclusão de curso de jornalismo e ministra aulas de análise de discurso aplicada às mídias nos cursos de pós-graduação em jornalismo cultural e comunicação televisiva, na mesma instituição. Também é graduada em jornalismo pela Universidade Estadual Paulista (Unesp), mestre e doutora em ciências da comunicação pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA-USP). Ceolin desenvolve pesquisas na área de mídia e linguagem e, como jornalista, trabalhou no jornal Folha de S.Paulo, sucursal Campinas, e nos jornais de bairro JBV (Jornal da Bela Vista) e Jornal Higienópolis, em São Paulo. Em televisão, trabalhou como repórter noticiarista no SBT. Atua ainda como mediadora no Programa de Formação Continuada a Distância em Mídias na Educação (MEC), coordenado pelo Núcleo de Comunicação e Educação (NCE), da USP. Também é autora de Jornalismo em revistas no Brasil: um estudo das construções discursivas em Veja e Manchete (Anna- Blume, 2002). É, sem dúvida, uma das maiores especialistas na área da comunicação social brasileira. Durante suas cento e setenta e seis (176) páginas, “Técnicas de Redação em Jornalismo - O texto da notícia” mostra que é recheado de dicas que podem deixar a prática da escrita cada vez mais fácil, com coesão e clareza. Em seus quatro capítulos, ele aborda a objetividade, subjetividade, o discurso jornalístico, as formas de redação, o jornalismo literário, entre outros conhecimentos essenciais aos profissionais do jornalismo. Ao final de cada capítulo, há retomadas de conteúdo para lembrar o leitor das principais ideias apresentadas pela autora. Possui ainda,


após as retomadas, propostas de atividades criadas pela autora, buscando testar os conhecimentos e informações adquiridas pelo leitor durante cada capítulo. No primeiro deles, intitulado “Texto e comunicação”, a autora aborda as diferentes intenções de comunicar (funções de linguagem), a lógica e legibilidade (coerência e coesão textuais), as variações de linguagem, além de denotação e conotação. Patrícia afirma que o texto é um valioso produto de comunicação. Ela explica que o mesmo deve ser produzido pensando em sua escrita e sua leitura. Concordamos com a autora quando ela diz que para escrever bem, é importante pensar “para quem você escreve”, “qual é o papel discursivo que você exerce enquanto escreve”, “sobre o que escreve”, “qual o canal a ser utilizado”, “qual é sua intenção ao escrever o texto”. Estes são pensamentos que auxiliam a produzir um texto que satisfaça tanto o autor quanto o leitor. Ajuda a expor de forma eficiente as ideias, pensamentos e informações do autor para com o correto entendimento do leitor. Também no primeiro capítulo, Patrícia fala sobre os seis elementos constitutivos do ato de comunicar: emissor, receptor, canal, código, referente (ou contexto) e mensagem. Falamos para nos comunicar. A linguagem é a tecnologia que nos permite cooperar, nos ajudarmos mutuamente, viver em sociedade. Ao falarmos, estamos em diálogo. Sempre que falamos, falamos com alguém, e para conversarmos usamos os elementos comunicacionais caracterizados a seguir: o emissor ou locutor é a pessoa que emite a mensagem; o receptor ou interlocutor é a pessoa a quem a mensagem é remetida; a mensagem constitui a essência do que se propõe a dizer, ou seja, o conteúdo contido na informação; o código representa o conjunto de signos linguísticos combinados entre si, de acordo com o conhecimento do falante em relação à língua materna; o canal trata-se do meio pelo qual a mensagem é transmitida, seja por livros, meios de comunicação de massa, entre outros; o contexto ou referente é o objeto, assunto ou lugar a que a mensagem faz referência. Também no capítulo inicial, a autora explica que a produção textual comporta diferentes funções, diferentes intenções de comunicar. Cada uma dessas funções vincula-se a um dos elementos do processo de comunicação: função emotiva ou expressiva: prioriza o emissor da mensagem; função conativa ou apelativa: prioriza o


receptor da mensagem; função fática: prioriza o próprio canal, o contato, pelo qual a mensagem se estabelece; função referencial: prioriza aquilo a que a mensagem se refere; função metalinguística: prioriza o código pelo qual a mensagem se organiza; função poética: prioriza a própria mensagem, como produto, como materialidade. Sobre a coerência e coesão textuais, Patrícia afirma que o texto é um modo de significado e não uma simples união de frases desconectadas. A coerência unidade de sentido o texto - deve ser entendida como uma amarração lógicocognitiva, que possibilita o entendimento por parte do leitor. A coesão é o mecanismo que possibilita a amarração linguística do texto, e funciona estabelecendo conexões entre as partes do texto - palavras, frases, parágrafos - em relação ao todo representado pela coerência. A coesão textual atua em duas grandes modalidades: a coesão referencial e a coesão sequencial. Tais características e explicações sobre a coerência e coesão dadas por Patrícia auxiliam significativamente aos leitores, na maioria estudantes de jornalismo, na criação de seus futuros textos. Ainda segundo Patrícia, a língua portuguesa apresenta variações, como os dialetos e os registros de linguagem: culto, coloquial e informal. A linguagem culta é aquela que segue a norma da gramática, é a que devemos usar quando formos escrever documentos ou cartas dirigidas a autoridades, por exemplo. Já a linguagem coloquial é aquela informal que usamos no dia-a-dia. Em suma, pode-se dizer que a linguagem culta é escrita e a coloquial é falada. Patrícia cita também o papel dos sentidos de linguagem. A autora explica que denotação é a significação estável das palavras. E conotação é a significação “figurada” das palavras, e depende do contexto linguístico para sua expressão. Dessa forma, o sentido denotativo possui uma significação mais restrita; e o sentido conotativo, uma significação mais ampla. São dicas valiosas aos estudantes de comunicação social. No capítulo 2, Ceolin destaca as três formas de redação: descrição, narração e dissertação. A descrição é o tipo de texto em que apresentamos um ser, um objeto, um ambiente, um lugar, por meio da exposição de seus aspectos característicos, dos seus detalhes. É a partir deles que o leitor compõe o quadro figurativo-sensorial próprio da descrição. A narração é a forma de redação pela qual contamos uma história, relatamos fatos. Tem como elementos estruturais: o próprio fato (ou o


encadeamento de fatos – trama, enredo, intriga), as personagens, o tempo, o espaço e o narrador (o foco narrativo). A dissertação-argumentação é o texto em que expomos ideias e defendemos determinado ponto de vista. Desenvolve-se a partir de um plano argumentativo e sustenta-se no princípio do que nós pensamos como ser verdade. Os principais recursos argumentativos no texto são: exemplificação, explicitação, enumeração e comparação. Essas informações dadas por Patrícia procura excluir dúvidas que ainda permanecem nos leitores, utilizando exemplos a fim de um entendimento completo por quem lê. Já no capítulo 3, intitulado “O discurso jornalístico”, a autora dá dicas textuais, falando da clareza e da força expressiva. Além disso, aborda e apresenta vários temas: formas narrativas e argumentativas em jornalismo impresso; suíte, perfil e entrevista; objetividade e subjetividade no texto jornalístico; estilo e recursos de linguagem; jornalismo e literatura. A autora diz que o texto jornalístico deve ser correto, claro e expressivo. O uso de ordem direta da frase, divisão do parágrafo em períodos curtos, uso de palavras coloquiais e utilização de testemunhos, estão entre as recomendações para a escrita do texto informativo. Fala também sobre o importantíssimo lide, uma técnica muito eficiente utilizada comumente na abertura do texto noticioso. Neste espaço, o redator procura responder às seis questões que cercam o fato: quem, o quê, quando, onde, como e por quê. Atualmente, todos os jornalistas rendem-se ao lide pelo fato de facilitar o entendimento e a clareza do texto. É, sem dúvida, umas das técnicas mais extraordinárias dentro do texto jornalístico. Entrando no jornalismo impresso, identificamos tipos textuais de estrutura narrativa: a nota, a notícia e a reportagem. A nota é uma “notícia curta”, mais enxuta. Apoia-se no lide e, normalmente, ocupa apenas um parágrafo. Por sua vez, a notícia utiliza os mesmos mecanismos da nota, porém acrescenta depoimentos e informações adicionais. Um bom texto de notícia contém qualidade nos principais itens a seguir: a manchete ou título principal, que geralmente apresenta-se grafado de forma bem evidente, com vistas a despertar a atenção do leitor; o título auxiliar, que funciona como um complemento do principal, acrescentando-lhe algumas informações, de modo a torná-lo ainda mais atrativo; o lide; o corpo da notícia, no


qual se relaciona à informação propriamente dita, procedendo à exposição de uma forma mais detalhada no que se refere aos acontecimentos mencionados. Já sobre reportagem, vimos que se difere de nota e notícia por apresentar base interpretativa dos fatos, pois é mais completa e mais profunda. Exige também, maior capacidade de interpretação e investigação por parte do jornalista. Precisamos buscar personagens dos fatos, falas de especialistas, índices ou dados estatísticos relacionados ao assunto abordado. São dicas fenomenais para uma construção de uma boa reportagem. Em relação aos tipos textuais de estrutura dissertativo-argumentativa - o editorial, o artigo e a resenha crítica – a autora caracterizou e exemplificou brilhante mente cada um deles. De acordo com Patrícia, o editorial é um texto opinativo que apresenta a opinião do veículo ou empresa de comunicação sobre os fatos e assuntos abordados. Já o artigo é um texto assinado que apresenta a opinião de quem escreve. Por último, a resenha crítica fornece julgamento a respeito de produtos culturais diversos (como a obra de Patrícia): livros, filmes, peças de teatro, entre outros. Faz-se análise e avaliação da obra a partir da “leitura” da mesma. Ainda falando sobre o texto discursivo, Patrícia afirma que nas produções que se pautem pela objetividade, há que se considerar, tanto em sua construção, quanto em sua análise, a carga subjetiva que carrega, ainda que de forma não explícita. Segundo ela, os recursos estilísticos propiciam maior expressividade ao texto e indicam subjetividade na produção discursiva. Os mais usuais em jornalismo são: a ironia, a metáfora, a metonímia e a antítese. E de fato, visualizamos esses mecanismos diariamente nos diversos meios de comunicação do Brasil e do mundo. Por fim, no quarto e último capítulo de “Técnicas de redação em Jornalismo, O Texto da Notícia”, Patrícia Ceolin do Nascimento fala sobre ler e escrever: as duas faces de um bom texto. A autora frisa o quanto ler é essencial para escrever bem. A leitura, além de trazer conhecimento e propiciar a ampliação do vocabulário, também permite que o leitor aprenda as estruturas sintáticas da língua. Isto auxilia o redator na correção gramatical-ortográfica do próprio texto, já que ele é o responsável pelo mesmo. Sendo assim, a certeza é uma só: precisamos ler e consultar os dicionários para dirimir as principais dúvidas do português.


Diante disso, após a leitura deste extraordinário livro, chegamos a um pensamento idêntico: é imprescindível para quaisquer estudantes de jornalismo ler esta obra de Patrícia Ceolin do Nascimento. “Técnicas de redação em Jornalismo, O Texto da Notícia” auxilia no entendimento do diversos tipos textuais no meio jornalístico. Caracteriza e exemplifica técnicas e teorias para que possamos aprimorar nossa escrita e ter mais segurança na produção de nossos textos. Seremos comunicadores e lidaremos diariamente com produção textual. Por isso, devemos manter uma relação prazerosa com a própria escrita. Nossos textos precisam ser inteligíveis para a maior parte dos leitores em potencial, bem como ser instigantes e concisos. Necessitamos antecipar as dúvidas dos leitores e respondêlas. Em suma, podemos dizer que este livro busca nos passar conhecimento para termos qualidade em nossos textos, afinal eles são a alma da notícia!

REFERÊNCIAS: NASCIMENTO, Patrícia Ceolin. Técnicas de Redação em Jornalismo - O Texto da Notícia. São Paulo: Saraiva, 2009.


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