A ARTE DE ENTREVISTAR BEM – THAÍS OYAMA Indicado para estudantes, professores e profissionais de jornalismo, o livro “A Arte de Entrevistar Bem”, escrito por Thaís Oyama, busca esclarecer os erros e acertos da entrevista. A obra foi lançada em 2008, em São Paulo. Em sua segunda edição, em 2014, foi novamente reimpressa pela Editora Contexto, possuindo 112 páginas. A autora, Thaís Oyama, é redatora-chefe da revista Veja, onde está desde 1999. Já trabalhou na TV Globo (sucursal de Brasília), nas revistas Marie Claire e República (já extinta) e nos jornais Folha de São Paulo e O Estado de São Paulo. Desde 2003 dá palestras sobre técnicas de entrevista para jornalistas e estudantes de jornalismo. Thaís Oyama, dividiu o livro “A Arte de Entrevistar Bem” em sete capítulos. A autora aborda o “antes”, o “durante” e o “depois” de uma entrevista. Dicas sobre como marcar a entrevista, como se vestir, como obter a confiança do entrevistado são alguns tópicos que Thaís fala no livro. Segundo ela, boas entrevistas sempre rendem boas reportagens. A mesma ideia vale para entrevistas ruins: certamente acabarão em reportagens ruins. No capítulo 1, intitulado “Antes”, a autora explica como marcar uma entrevista e como preparar-se para ela. Segundo Thaís, é importante manter um bom relacionamento com assessores de imprensa dos entrevistados, visto que eles podem facilitar e auxiliar, tanto na marcação dos encontros, como na própria entrevista, já que possuem conhecimento de assuntos referentes ao entrevistado, como movimentos, interesses e projetos. Na sequência, a autora fala dos melhores locais para fazer uma entrevista. O primeiro e melhor local, segundo ela, é a casa do entrevistado, pois lá ele fica mais confiante e mais à vontade. Para o jornalista Joel Silveira, citado pela autora, o entrevistador deve se propor a ir ao território do entrevistado. Depois da casa do entrevistado, os melhores locais são restaurantes, aviões e escritórios dos entrevistados. Isso não vale para escritórios dos advogados ou assessores de imprensa, nem locais com muito barulho e/ou propícios a interrupções. Outro tópico abordado por Thaís Oyama neste capítulo, é a pesquisa, uma variável que pode determinar o destino de uma entrevista. É imprescindível que o repórter faça uma pesquisa bem feita. Segundo a autora, isso aumenta
enormemente as chances de uma boa entrevista. A pesquisa serve para conhecer o entrevistado e seu trabalho, o que facilita a elaboração de uma pauta interessante. Uma dica dada pela autora é que, se possível, deve-se conversar com amigos e desafetos do entrevistado antes do encontro. Quantos aos meios de comunicação usados para fazer entrevistas, o melhor, em escala de valores é o pessoal. Em segundo, vem o telefone e, por último, o email. Na entrevista por telefone, não se tem o contato visual, que é importante para a persuasão e percepção do repórter. Já no e-mail, perde-se a espontaneidade da fala, segundo a autora. Em relação a gravar ou não as entrevistas, Thaís Oyama explica que o gravador pode trazer algumas desvantagens, como inibir o entrevistado, mas que a vantagens de seu uso são inúmeras: preservam a fala do entrevistado tal como ela é; serve como backup; permite que o repórter dispense as anotações no bloco e ouça a fala do entrevistado; possibilita ao entrevistador analisar a sua performance quantas vezes forem necessárias. A autora, ainda dá algumas dicas de etiqueta para uso do gravador. Uma delas é “perguntar ao entrevistado se ele se incomoda em ter a entrevista gravada”. Outra dica é utilizar dois gravadores, pois corre-se o risco que um falhe. Neste primeiro capítulo, Thaís Oyama fala também das utilidades do bloco de anotações, bem como do modo de se vestir do repórter. Para a autora, o bloco pode servir como backup no caso de o gravador pifar, além de permitir que se faça anotações de palavras-chave, roteiro para orientar a edição da entrevista, entre outros. Quanto ao modo de se vestir, é preciso tomar cuidado com o que se usa, pois pode causar estranheza no entrevistado, criando uma distância entre ele e o repórter. Ainda no capítulo 1, Thaís Oyama explica como tratar o entrevistado: você, senhor ou Vossa Excelência. Segundo ela, todos os entrevistados devem ser chamados de “senhor”, a menos que eles prefiram “você”. Políticos, também por “senhor” ou então pelo seu cargo. Para finalizar o capítulo, a autora diz que o excesso de formalidade em uma entrevista pessoal não funciona. A entrevista tem de ser uma conversa, ou seja, uma misto de cordialidade e simpatia. Se o repórter se mostra intimidado, a conversa não rende e, portanto, a entrevista não será a melhor que poderia ser.
Partindo para o capítulo 2, intitulado “Durante”, Thaís Oyama aborda dicas e sugestões de como se portar durante a entrevista. Evitar discursar, fazendo perguntas simples é uma das dicas da autora, neste tópico. Para facilitar a compreensão do entrevistado, as questões devem ser as mais diretas possíveis. É preciso também, saber ouvir o entrevistado, e ser curioso. Deve-se prestar atenção na resposta do entrevistado e não se prender a perguntas prontas, as do bloquinho de anotações. Além disso, se o repórter demonstrar curiosidade, acaba estimulando o entrevistado a ter mais liberdade. E outro cuidado: não interromper a fala do entrevistado. Segundo a autora, “é preciso saber a hora de abrir e fechar a boca”. Como conquistar o entrevistado? Thaís Oyama explica que a diferença entre “uma entrevista fria e protocolar de outra surpreendente, emocionante e reveladora” é o grau de confiança que o entrevistado tem no repórter. Ter uma boa reputação, demonstrar conhecimento sobre o assunto, bem como curiosidade em ouvi-lo são peças-chave para conquistar a confiança do entrevistado. E diante de uma declaração polêmica, o repórter deve fazer “cara de paisagem”. Em relação as perguntas “delicadas”, é preciso saber faze-las. Deve-se tomar cuidado com o tom da questão e a maneira como o repórter se dirige ao entrevistado. A perguntas devem ser feitas, sem proibição, mas de modo correto, mesmo que se pense que tal assunto incomode o entrevistado. Para Thaís Oyama, o repórter deve “matar seu ego”, para libertar sua curiosidade e tornar-se um melhor entrevistador. Já no terceiro capítulo, nomeado “Depois”, a autora de “A Arte de Entrevistar Bem”, fala da edição da entrevista: como escolher os destaques, o que jogar fora e a organização do texto. Podemos mudar quase tudo, desde que isso não altere o que o entrevistado quis dizer. Thaís Oyama diz que entrevistados bem articulados e inteligentes poupam o tempo dos repórteres na edição da entrevista. O contrário é verdadeiro. Entrevistados com raciocínio difuso ou dificuldade na organização das ideias costumam dar mais trabalho para a edição. A autora, então, explica o método de edição usado por ela: separação de trechos por tema, organização do texto, tornando-o o mais claro, sucinto e objetivo possível. E para os pedidos impossíveis dos entrevistados, o repórter necessita de “jogo de cintura”.
No capítulo seguinte, “Outras Mídias, o quarto da obra, ela fala das diferenças entre entrevistas para impresso, das para rádio e TV. Cita dicas do jornalista Carlos Tramontina, que trabalhou como repórter, editor-chefe e apresentador de diversos programas e telejornais. Dentre elas: evitar o “branco”; não ser “enrolado”, fazer perguntas incômodas; colaborar para a edição e não estourar o tempo são os destaques das sugestões para entrevistas de TV, dadas por Tramontina. Em entrevistas para rádio, Thaís Oyama listou dicas de Milton Jung, escritor do livro “Jornalismo de Rádio”, e de Heródoto Barbeiro, gerente de jornalismo da Rádio CBN. Algumas delas: checar o nome correto do entrevistado e a forma de pronuncia-lo; não colocar o entrevistado no ar antes de avisa-lo; não repetir sons como “hãhã”, “mmm” ou “ahh”. No capítulo 5, intitulado “Entrevistas difíceis, como lidar”, a autora dá dicas de como lidar com entrevistados de perfis diferentes. Caracteriza as situações que podem ocorrer de acordo com a personalidade do entrevistado: o hostil, o prolixo, o evasivo, o disperso, o mil vezes entrevistado, o fragilizado, o que não tem jeito, criminosos, acusados e suspeitos. No capítulo 6, nomeado “Um estilo para chamar de seu”, Thaís Oyama fala dos estilos de quatro renomados jornalistas. Oriana Fallaci, jornalista e escritora italiana, tinha um método bem particular de entrevistar “poderosos”, ela era “provocadora”. Passava por cima de diversas regras do jornalismo, mais falava do que ouvia em uma entrevista. Já o jornalista americano Roger Martin era “ansioso, acostumado a perguntar tudo que lhe vem à cabeça. “Rottweiller”, é assim que Thaís Oyama se refere a apresentador do programa Newsnight da BBC, Jeremy Paxman, devido ao tom de grosseria que marcam as suas entrevistas. E por fim, cita Gay Talese, o “tímido”, jornalista e escritor, que apesar de tímido utilizava paciência, perseverança e curiosidade em suas entrevistas. E para finalizar, no último capítulo, o assunto é como transformar uma entrevista em um desastre. A autora aborda alguns exemplos de entrevistas mal sucedidas, como com a feita pelo jornalista Policarpo Júnior, que acabou golpeado por um porta-lápis de acrílico nas costas pelo deputado Nobel Moura (PSB), após a primeira e única pergunta que fez, de forma incorreta. Para, Policarpo, é fundamental estudar o personagem antes de fazer a abordagem. Ainda, segundo ele, deve-se começar a entrevista pelo que menos interessa, numa espécie de pirâmide ao contrário. E assim, encerra-se a obra “A arte de entrevistar bem”.