Agosto/15 • Edição 73 • Ano VII • Distribuição gratuita
PERIGO VELADO - PARA ESPECIALISTA, CONTATO COM O ÁLCOOL É PORTA DE ENTRADA PARA A DEPENDÊNCIA QUÍMICA
Lição de vida Nas escolas, crianças aprendem a gerir o próprio dinheiro
TEMPO DE PLANEJAR Envelhecimento da população e déficit cada vez maior na previdência exigem novos investimentos para uma terceira idade mais tranquila
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EDITORIAL A ressaca da omissão
Carlos Viana Editor Executivo carlos.viana@voxobjetiva.com.br
“... O povo que conhece o seu Deus se tornará forte e ativo.” (Daniel 11:32)
A Vox Objetiva é uma publicação mensal da Vox Domini Editora Ltda. Rua Tupis, 204, sala 218, Centro, Belo Horizonte - MG CEP: 30190-060
Dois temas são destaque nesta edição de Vox Objetiva. São assuntos que, obrigatoriamente, deveriam estar em destaque na agenda diária de mulheres e homens que discutem o futuro do Brasil. O primeiro deles está expresso na entrevista com o psiquiatra e psicanalista Sérgio Ramos sobre os efeitos do álcool na saúde pública brasileira. Com a experiência de dezenas de casos em consultório, Ramos faz um alerta: o brasileiro começa a beber, em média, aos 13 anos, geralmente influenciado pelos hábitos familiares. A precocidade do país em relação ao álcool é potencializada pelo lobby milionário que investe fortunas em publicidade, aliando diversão e álcool. Agem ainda diretamente na proposição de leis atuando em doações cada vez mais altas para a eleição de representantes no Congresso Nacional. As consequências da falta de uma discussão aprofundada sobre o assunto são nefastas. Todos os anos, R$ bilhões são perdidos com o desequilíbrio na saúde pública e com milhares de mortes associadas aos vícios do álcool, da cocaína e do crack. Estamos diante de uma incoerência: o dinheiro arrecadado em forma de impostos com a venda das bebidas alcoólicas se perde ao longo da cadeia de atendimento público em saúde. Outro assunto que diz respeito diretamente à qualidade de vida dos brasileiros é o futuro das aposentadorias no país. Nos próximos dez anos, o Brasil deve perder a “janela demográfica”, expressão usada por especialistas quando um país tem a maior parte da população em idade ativa e não dependente de políticas de assistência pública. Com o envelhecimento dos brasileiros, a queda na taxa de natalidade e o desemprego, o futuro da Previdência Social se torna incerto. Sem uma resposta competente por parte do Governo Federal que garanta, minimamente, o controle do déficit previdenciário, planejar as aposentadorias se torna uma exigência em especialmente para a nova classe média brasileira – a mais afetada pela perda de rendimento após a finalização das jornadas profissionais.
Editor adjunto: André Martins l Diagramação e arte: Felipe Pereira | Capa: Felipe Pereira l Reportagem: André Martins, Diane Duque, Érica Fernandes, Gisele Almeida, Haydêe Sant’Ana, Tati Barros, Thalvanes Guimarães | Correspondentes: Ilana Rehavia Reino Unido, Gisele Almeida - Suécia | Diretoria Comercial: Solange Viana | Anúncios: comercial@voxobjetiva.com.br / (31) 2514-0990 | Atendimento: jornalismo@voxobjetiva.com.br (31) 2514-0990 | Revisão: Versão Final Tiragem: 30 mil exemplares | voxobjetiva.com.br
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OLHAR BH
Centro Cultural Banco do Brasil BH Foto: Felipe Pereira |5
SUMÁRIO 8
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Felipe Pereira
Reprodução
VERBO
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SÉRGIO DE PAULA RAMOS Psiquiatra analisa cultura do álcool no Brasil e critica interesse econômico do governo em detrimento da saúde pública
SALUTARIS
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METROPOLIS
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APRENDIZADO PARA A VIDA Programa de Educação Financeira orienta crianças a lidar de forma correta com o dinheiro
DE OLHO NO FUTURO O que fazer para aumentar os rendimentos na velhice e não se ver refém da previdência pública?
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Iniciativas gratuitas e ao ar livre atraem os que procuram saúde mais que um corpo perfeito
HORIZONTES
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CAPA
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QUALIDADE DE VIDA
TETO DE VIDRO Polêmico prédio da Fondation Louis Vuitton quebra paradigmas da arquitetura parisiense e divide opiniões
PODIUM
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PAIXÃO SEM LIMITES Torcedoras idosas de Atlético e de Cruzeiro revelam as loucuras e inimizades que fizeram pelo amor aos clubes
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KULTUR
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SE MAOMÉ NÃO VAI ATÉ A MONTANHA,...
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PSICOLOGIA • Maria Angélica Falci
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METEOROLOGIA • Ruibran dos Reis
Grupo de teatro leva arte onde as pessoas estão: nas ruas, praças e nos ônibus
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COMÉRCIO E CULTURA Lojas e estabelecimentos comerciais que contam um pouco da história do Rio de Janeiro entram para o roteiro turístico da cidade
ARTIGOS
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IMOBILIÁRIO • Kênio Pereira STJ inviabiliza condomínios fechados e guaritas em ruas
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JUSTIÇA • Robson Sávio Mídia, violência e dignidade humana E a tal felicidade? Regressão
CRÔNICA • Joanita Gontijo Pshiii, comporte-se!
SAPORIS
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RECEITA – Bufê Bouquet Garni
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VINHOS – Nelton Fagundes
Bruschetta Brie e damasco Degustação às cegas
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Weber Pรกdua
VERBO
VERBO
Precisamos falar sobre o álcool
Psiquiatra chama a atenção para o que ele acredita ser a porta de entrada para a dependência química: o álcool André Martins
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os comerciais de TV, homens engravatados com copos de conhaque e praieiros com garrafas de cerveja consolidam o imaginário popular brasileiro que alia bebidas alcoólicas ao divertimento e ao poder. Com faturamento de R$ 70 bilhões ao ano, a lucrativa indústria cervejeira brasileira - responsável por 80% do mercado de bebidas alcoólicas - surpreende. O problema está quando são colocados na balança o retorno que o governo tem com a arrecadação de impostos e o impacto que o álcool inflige aos cofres públicos: um prejuízo 4,5 vezes maior. Faz 40 anos que o psiquiatra e psicanalista Sérgio de Paula Ramos trava uma luta incessante contra a dependência química. Segundo ele, o poderio da indústria do álcool surge a partir de um trabalho de publicidade perverso. Ramos é membro do Conselho Consultivo da Associação Brasileira de Estudos sobre o Álcool e Outras Drogas. Ele defende a ideia de que o álcool apresenta riscos que as propagandas omitem. O especialista é enfático ao analisar que a dependência do álcool leva ao consumo de substâncias ainda mais nocivas ao organismo. Em entrevista à Vox Objetiva, o psicanalista gaúcho demonstrou ser crítico ao governo. Segundo ele, não há medidas concretas de combate ao álcool além das inicia-
tivas e campanhas de trânsito. Para Ramos, é preciso promover uma reeducação do brasileiro. O que parece inofensivo é, na verdade, uma das fontes dos mais graves problemas sociais do país. O senhor já tem 40 anos de experiência no atendimento a dependentes químicos. Quase sempre, escolhas que são definidoras em nossa vida têm relação com acontecimentos, pessoas, casos marcantes. Foi o que aconteceu com o senhor? Por qual razão se deu a opção por essa especialidade? Recuperar um dependente químico até hoje é um grande desafio para os médicos e demais profissionais de saúde. Uma coisa que me moveu em direção a essa especialidade foi justamente o enfrentamento desse desafio. A outra coisa foi percebida cedo. O meu pai era alcoolista e superou o vício graças a um competente tratamento psiquiátrico. A recuperação que ele teve influenciou muito a minha escolha; muito mais do que o próprio alcoolismo. Pude examinar e perceber intimamente como a vida dele melhorou depois de um tratamento bem-feito. O senhor defende a ideia de que a dependência química inicia por meio do primeiro gole. Qual a relação da primeira experiência com o vício em outros tipos de droga? É uma questão que envol-
ve sobretudo a curiosidade humana? A dependência química é uma situação muito complexa e depende do somatório de vários fatores. Dentre eles, os mais relevantes são a genética, experiências infantis de pouco monitoramento por parte dos pais, a presença de algumas alterações na infância, como o déficit de atenção, a hiperatividade, os transtornos de conduta e, depois, o beber precoce na adolescência e a companhia de amigos usuários. Tudo isso funciona como fatores de risco para o posterior desenvolvimento da dependência química. Então é uma doença multideterminada por diversos fatores possíveis. Por qual razão o álcool continua sendo encarado com certa despreocupação aqui no Brasil, se é a droga de maior impacto social no país? A resposta é muito simples: nós, brasileiros, somos omissos nessa área e seguimos permitindo que a indústria do álcool faça as suas propagandas cada vez mais perversas. Enquanto reinar a propaganda do álcool, seremos todos induzidos a associar álcool a festa e divertimento e não a tragédia e doença. Com que idade o brasileiro começa a ter contato com o álcool? Isso se deve a quais fatores? |9
Weber Pádua
VERBO
Eu acho que o governo, além de perverso, é ignorante. Afinal, ele se ilude com o imposto pago pela indústria do álcool, sem fazer a conta de quanto custa para ele pagar os danos causados pelo álcool
Nas pesquisas anteriores, o resultado foi grave: mostrava que o brasileiro começava a beber, em média, com 15 anos de idade. Na mais recente pesquisa, a constatação foi ainda mais grave porque a idade diminuiu. A pesquisa apontou que essa iniciação acontece aos 13 anos. Então talvez o Brasil seja um dos países em que mais cedo se começa a beber. A situação é muito preocupante porque sabemos que, quanto mais cedo a pessoa experimenta bebida alcoólica, maiores são as chances de ela se transformar em alcoolista. A efeito de ilustração do que estou falando, crianças que bebem antes dos 13 anos de idade têm 48% de chances de se transformarem em alcoolistas. Segundo a veia americana de beber apenas após os 21 anos, pes10 | www.voxobjetiva.com.br
soas que iniciam nessa idade a experimentação do álcool têm 9% de chances de se tornarem alcoolistas. Então veja a diferença: quanto mais cedo, mais perigoso. Por qual razão esse contato é tão precoce no Brasil? A propaganda perversa do álcool vai incutindo nas nossas mentes que beber é normal, que todo mundo bebe, que o filho de 14 anos tem que beber, a festa de 15 anos não existe sem bebida alcoólica,... Nós estamos sendo induzidos a achar que isso é normal e não estamos vendo o preço altíssimo que estamos pagando por isso. A indústria das bebidas alcoólicas tem um poderio inegável aqui
no Brasil. Por qual razão não conseguimos freá-la, como aconteceu com a indústria do tabaco? Esse é um grande desafio, né? A indústria do tabaco não foi freada de um dia para o outro. Foi um processo que envolveu alterações em leis. Há mais de 20 anos, a indústria do álcool está instalada no mundo inteiro. Eu tenho a esperança de não morrer antes de ver proibida a propaganda de bebidas alcoólicas. Mas a indústria do álcool aprendeu com o que aconteceu com a indústria do tabaco e sabe como evitar o mesmo desfecho. Isso dificultou a nossa luta. Na opinião do senhor, como têm sido desenvolvidas as políticas antidrogas aqui no Brasil? De
VERBO forma adequada, deficitária,... O que precisaria ser revisto? Eu diria que a única ação brasileira contra o álcool razoavelmente bem-sucedida é a ação de álcool do trânsito. Essa é uma medida que está dando os primeiros resultados. Mas, salvo juízo, é a única que o governo brasileiro faz. Não vejo, por exemplo, uma política consistente que visa erradicar o consumo de bebidas alcoólicas por parte de menores de 18 anos. Qualquer criança que chegue a um bar consegue, a pedido dos pais, comprar. Nós vemos também nas sextas-feiras à noite adolescentes consumindo bebida alcoólica nas ruas. É uma lógica perversa pensar que o governo se omite e se vende à indústria para depois se comprometer por não conseguir atender de forma adequada aos doentes. Mas é mesmo isso que acontece?
a informação séria para, paulatinamente, ampliar a percepção de que o álcool faz mal para a sociedade. Nós já começamos a perceber que álcool faz mal no trânsito. Agora temos que começar a ampliar essa percepção. A reboque da própria definição do que é lícito e ilícito, surgem os problemas que envolvem a saúde das pessoas. O tratamento dos dependentes químicos para na questão da estrutura do sistema público de saúde. A salvação do dependente está unicamente na iniciativa privada? O sistema de saúde brasileiro como um todo está falido. Ele não atende bem a ninguém. Principalmente, não atende bem nas fases precoces da doença, no momento em que as pessoas precisam ser atendidas. Dependência química não é uma exceção. A chamada luta antimanicomial conseguiu fechar muitos leitos psiquiátricos no país
que agora estão nos fazendo falta. O que a gente mais vê é dependente químico nas ruas, abandonados nas cracolândias, embaixo dos viadutos ou, pior ainda, presos. Então quem deveria estar em hospitais psiquiátricos hoje está preso ou dormindo debaixo de pontes. O Senado Federal discute a legalização da maconha. O que o senhor pensa a respeito disso? Maconha é droga? Eu acho que nós temos uma quantidade suficiente de drogas lícitas com que nos preocupar. Não precisamos legalizar mais nenhuma porque nós não estamos dando conta de enfrentar o que é considerado legal. Eu fico muito preocupado quando se levanta esse debate em relação à legalização da maconha que, se for liberada, certamente vai aumentar o consumo da droga e criar mais problemas para a rede pública de saúde.
Educação infantil é o ponto? Eu acho que nós temos que trabalhar com educação em todos os níveis. Quando você vê, por exemplo, um pai conivente quando se depara com o filho menor de idade bêbado, quem tem que ser educado é o pai. Então educação funciona? Funciona, desde que seja em todos os níveis. Este é o caminho: a educação,
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Eu acho que o governo, além de perverso, é ignorante. Ele se ilude com o imposto pago pela indústria do álcool, sem fazer a conta de quanto custa para ele pagar os danos causados pelo álcool. Se você somar tudo o que é recolhido em imposto e o que é gasto com o álcool em termos de tratamento, aposentadoria, acidentes de trânsito, violência, homicídios, suicídios, etc., vai dar um prejuízo de 4,5 vezes superior à arrecadação com os impostos sobre a bebida. Então nem essa conta fizeram direito.
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METROPOLIS
Programa de Educação Financeira nas escolas conscientiza alunos sobre a importância de saber poupar e usar o dinheiro de forma inteligente Texto de Haydêe Sant’Ana Fotos de Felipe Pereira
uem nunca comprou algo por impulso e se arrependeu? Para economistas, a resposta de uma simples pergunta pode evitar os descontroles seguidos de arrependimentos: “Eu realmente preciso disso?”. Por que é prática comprar coisas que muitas vezes não são úteis? Nem todo mundo consegue ter uma resposta objetiva diante dessa questão. A verdade é que as propagandas têm grande poder de influência sobre o homem. A sociedade capitalista é marcada pelo consumismo exagerado. A necessidade de ter se torna maior que qualquer coisa. A quantidade de bens materiais acaba por reger o padrão de vida sonhado pelos ci12 | www.voxobjetiva.com.br
dadãos. Sonhos, como ter o novo modelo de celular, aparelho eletrônico, o carro do ano, são vendidos aos cada vez mais ávidos pelo consumo. Se antes a palavra economizar constava apenas no dicionário de alguns, poupar virou regra fundamental para milhões de brasileiros, principalmente em períodos de intensa crise financeira e falta de recursos naturais como atualmente. Economizar água, energia, trocar as compras do mês pelas semanais e pechinchar se tornaram hábitos rotineiros. Nem os pequenos novos consumidores ficam de fora quando o assunto é gerir de forma cuida-
dosa o dinheiro. Alunos do ensino fundamental de Belo Horizonte aprendem, desde cedo, a ser consumidores conscientes com o programa de educação financeira nas escolas. Por enquanto, a iniciativa está presente apenas na rede privada, mas a expectativa é de que o programa seja implantado na rede pública de ensino, no segundo semestre de 2015. Criada em 2008 pelo educador e terapeuta financeiro Reinaldo Domingos, a Diagnosticar, Sonhar, Orçar, Poupar - Educação Financeira (DSOP) é uma organização responsável por difundir essas ideias no Brasil e no mundo. Anualmente mais de 1,5 mil escolas recebem a capacitação pelo pro-
METROPOLIS grama. A metodologia é baseada em quatro pilares: Diagnosticar, Sonhar, Orçar e Poupar. Seis eixos norteiam o trabalho: Família, Diversidade, Sustentabilidade, Empreendedorismo, Autonomia e Cidadania. Em vez de utilizar cálculos, planilhas, contas complexas, o conteúdo do programa busca moldar o comportamento, os hábitos e os costumes das crianças. “Primeiro nós as ensinamos a diagnosticar, orientamos para onde está indo o dinheiro e aonde os recursos devem ir. Trabalhamos os sonhos das crianças e estimulamos a leitura do livro ‘O menino do dinheiro’, de minha autoria. Depois as crianças aprendem a fazer cofrinhos e a guardar o dinheiro para a realização de três sonhos ao mesmo tempo”, explica Domingos.
definir, argumentar, discutir e transformar. “Cada professor sabe, de acordo com a série, quais habilidades e competências devem ser construídas no aluno para que ele entenda o que foi dado. Do vocabulário da educação financeira, nós buscamos os valores para que os alunos se conscientizem”, explica a coordenadora do ICJ, Paula Moura. As aulas sobre educação financeira se refletem diretamente no comportamento dos alunos, como revela a professora do 5º ano do Ensino Fundamental I, Maria Goretti Ferreira. E as mudanças são visíveis. “Antes eles voltavam do recreio com as mãos cheias de balas. Hoje você não percebe isso
mais. Você vê que essa cultura da bala acabou. Eles mesmos me dizem: ‘Professora, como a gente estudou, temos que pensar nisso, na quantidade que compramos’”, revela a docente. Um exemplo dessa mudança é a aluna do 5° ano do Ensino Fundamental I, Alanis Souza, de 10 anos. O costume de gastar dinheiro com doces já não existe mais, como conta a menina. “Quando somos pequenos, gastamos muito com doces. Eu gastava com isso. Agora estou economizando o meu dinheiro. Meus pais já perceberam. Maria Goretti já sinaliza os frutos do trabalho desenvolvido no ICJ: “Antes eles voltavam do recreio com as mãos cheias de balas. Hoje você não percebe isso mais”
O programa mostra às crianças de forma didática e lúdica que realizar é tão possível quanto sonhar. Para Domingos, o trabalho com educação financeira representa uma “quebra de paradigma”. “É um modelo mental diferente do que existiu até hoje. Assim, quando a criança se torna um adulto, um jovem trabalhador, ela automaticamente começa a pensar no sonho. Então ela não vai consumir 100% do salário líquido do emprego. Ela vai pegar 50% para os sonhos de curto, médio e longo prazos”, detalha. No Colégio Instituto Coração de Jesus (ICJ), um dos mais tradicionais de Belo Horizonte, a educação financeira está no cronograma dos alunos do Ensino Fundamental I e do Ensino Médio desde 2013. A matéria tem caráter interdisciplinar e trabalha com a aprendizagem significativa. Os instrumentos didáticos são livros e materiais sugeridos pelos profissionais de educação. A metodologia prevê sete etapas para a construção do conhecimento: sentir, perceber, compreender, | 13
METROPOLIS
Quanto antes aprendermos educação financeira, melhor vai ser o nosso futuro Theo Barbosa, aluno do ICJ
Eu não quebro meu porquinho por nada. Toda vez que penso em quebrar, paro e penso duas vezes se preciso do dinheiro naquele momento”.
Outra mudança que a professora relata com orgulho é a consciência que os alunos adquirem com relação aos sonhos. Os três sonhos são trabalhados simultaneamente para criar na criança o
hábito do planejamento e a noção de percepção do tempo necessário para as realizações. “Um dia, conversando com as crianças sobre educação financeira na sala, escutei um aluno comentando que pediu à mãe que fizesse uma poupança para ele desde os 7 anos porque está preocupado com a faculdade”, lembra Maria Goretti. No Ensino Médio, o conteúdo proposto é apresentado com o tema ‘empreendedorismo’. No final do ano, os alunos participam de uma feira no colégio em que eles apresentam um modelo de negócio com custo próprio elaborado por eles. A finalidade do projeto não é criar jovens empreendedores, mas desenvolver as habilidades deles, como
Se a gente economizar, podemos realizar muitos sonhos João Marcos de Almeida, aluno do ICJ 14 | www.voxobjetiva.com.br
METROPOLIS
destaca a coordenadora pedagógica do Ensino Médio do ICJ, Rosa Simões. “O objetivo é que esse conhecimento seja colocado em prática. Nós trabalhamos os valores com eles, mas colocamos um pouco mais de conteúdo para enriquecer o processo. Os valores na educação financeira são primordiais”, enfatiza. Outra escola da capital que adotou a educação financeira na grade escolar foi o Colégio Batista Mineiro. Há 16 anos, a escola desenvolve com os alunos do 4° ano do Ensino Fundamental I o projeto ‘Criança Cidadã’. Os alunos aprendem sobre temas variados, como Higiene Corporal, Consumo, Bullying, Solidariedade, Ajuda, etc. Há quatro anos, o ‘Criança Cidadã’ inclui a educação financeira. A coordenadora pedagógica Mônica Dias destaca a importân-
cia da aprendizagem nessa fase. “Nós achamos importante que a criança aprenda, desde cedo, a gastar de forma adequada o próprio dinheiro. Trabalhamos os temas ligados à participação da cidadania. Começamos com o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA)”. Alunos do 4° ano do Ensino Fundamental I, João Marcos de Almeida e Theo Barbosa Pereira, ambos de 9 anos, revelam que tinham o hábito de poupar. Com o projeto, a prática se consolidou. “Eu poupava mais ou menos. Quando podia, colocava o dinheiro em uma caixinha. Eu usava minha mesada”, conta João Marcos. “Eu fazia a mesma coisa”, revela o colega Theo. Inspirados no personagem do livro ‘O menino do dinheiro’, também utilizado no Colégio Batista, os garotos juntam dinheiro para a realização de seus sonhos: com-
prar aparelhos eletrônicos. Um Ipad, no caso de João Marcos, e um Playstation 4, sonho de consumo de Theo. Como encerramento das atividades do programa, o colégio promove o Congresso Criança Cidadã no mês de outubro. Durante uma semana, os alunos participam de palestras, mesas-redondas, seminários e oficinas com a finalidade de aprofundar os conhecimentos ensinados na sala de aula. Os pais também participam das atividades. Da leitura do livro e dos conceitos aprendidos na sala de aula, os meninos guardam uma lição que João Marcos sabe de cor e salteado: “Se a gente economizar, podemos realizar muitos sonhos”. “Quanto antes aprendermos educação financeira, melhor vai ser o nosso futuro”, arremata Theo. | 15
ARTIGO
Kênio Pereira Imobiliário
STJ inviabiliza condomínios fechados e guaritas em ruas Há 11 anos venho alertando sobre a possível desvalorização de lotes e casas vendidos como se compusessem “condomínios fechados”. Em alguns casos, esses imóveis não passam de loteamentos comuns. Eles cobram taxas que poderiam ser consideradas indevidas. Foi o que aconteceu em março deste ano quando o Superior Tribunal de Justiça (STJ) decidiu e orientou todos os Tribunais Estaduais e Federais que somente quem assinou o Estatuto da Associação é obrigado a pagar o rateio de despesas.
ninguém é obrigado a se associar e que somente o associado é obrigado a pagar as despesas.
Como eu disse em vários artigos, muitos condomínios fechados são regidos por um estatuto registrado unicamente no Cartório de Registro Civil de Pessoas Jurídicas. O estatuto foi elaborado por um pequeno grupo de proprietários, mesmo contra a vontade de parte expressiva de outros donos de terrenos no loteamento. Esse modelo precário de condomínio corre risco de ser extinto, pois não tem como combater a inadimplência. Caso fosse condomínio, teria uma convenção registrada no Cartório de Registro de Imóveis, conforme prevê a lei federal que regulamenta os registros públicos.
O loteador precisa se resguardar no ato da construção do empreendimento. A existência da associação deve constar no contrato de compra e venda e na matrícula do imóvel. Se não tomar essas providências, o loteador pode responder civilmente por ter vendido lotes como se fossem integrantes de um condomínio e até ser condenado numa ação de indenização.
A decisão do STJ deixa claro que quem não entrou na associação que “dirige” o condomínio fechado, mesmo sendo beneficiário, pode se recusar a pagar a quota de rateio. Em alguns casos, isso pode ser injusto para quem lutou para implantar serviços e segurança que valorizaram o “loteamento fechado”. Se não tiver recursos, o imóvel volta a ser um loteamento comum. Antes dessa decisão de março de 2015, o STJ entendia como devida a taxa, já que valorizava os imóveis que se beneficiavam dos serviços. Agora o STJ não entende mais assim. A instância faz valer a lei que diz que 16 | www.voxobjetiva.com.br
Os fundamentos utilizados pelos ministros do STJ também podem ser utilizados pelos proprietários de apartamentos e de casas em ruas que têm vigias e cancelas de controle de acesso. Eles não são mais obrigados a arcar com nenhuma taxa por esses serviços. Somente os moradores que tiverem interesse ou que buscarem se associar serão obrigados apagar.
Com certeza, essa decisão joga por terra a constituição amadora de supostos “condomínios fechados”. Por outro lado, valoriza os empreendimentos que prestigiam uma assessoria jurídica especializada. Afinal, se forem bem regulamentados e seguirem as orientações divulgadas neste espaço por anos, os condomínios continuam a ter controle de acesso, vigilância e tranquilidade que tornam o local mais tranquilo, seguro e desejável de morar.
Kênio Pereira Presidente da Comissão de Direito Imobiliário da OAB-MG keniopereira@caixaimobiliaria.com.br
CAPA
Estratégia de vida Plano de aposentadoria público ou privado? Poupança ou investimentos? O que fazer para ter um benefício justo e qualidade de vida na “melhor idade”? Haydêe Sant’Ana e André Martins população idosa. No último censo, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) reiterou a constatação de que o brasileiro está vivendo mais. No país, homens e mulheres vivem, em média, 74,9 anos. Em 2012, a expectativa de vida média era de 74,6 anos. Já em 2003, os brasileiros viviam até os 71,3 anos em média. O aumento do número de idosos impacta o sistema previdenciário público. Mesmo tendo nove pessoas em idade ativa para cada aposentado, o Brasil registrou, em 2014, um déficit previdenciário de R$ 51 bilhões. Para 2015, a previsão é ainda mais preocupante: um rombo de R$ 60 bilhões. Para o futuro, as previsões não são as mais animadoras já que, em 2030, o Brasil terá cinco trabalhadores para cada aposentado. Em 2060, a proporção deve ser de dois ou três para um.
trabalho ocupa espaço central na vida cotidiana. É a partir dele que o homem consegue seu sustento e leva ao extremo a própria capacidade intelectual. Depois de muitos anos de esforço e dedicação a uma atividade laboral, a tão sonhada aposentadoria é encarada como uma recompensa. No entanto, man-
ter o padrão de vida da idade ativa é um feito quase impossível para a maioria das pessoas. A frustração de viver com uma aposentadoria de valor inferior aos rendimentos de antes é vivenciada por muitos brasileiros. A redução dos ganhos conversa diretamente com o crescimento da
Diante disso e de um penoso corte de gastos, o governo aprovou uma medida provisória para dar sobrevida à previdência pública e fazer com que as pessoas prolonguem o tempo produtivo. A fórmula 85/95, chamada de Regra Progressiva, leva em conta as variáveis idade e tempo de contribuição para possibilitar as aposentadorias. A conta é simples: somados idade e tempo de contribuição, as mulheres devem atingir 85 pontos, enquanto os homens de| 17
CAPA
Fachada de uma das unidades da Previdência Social de Belo Horizonte. Os funcionários estão em greve
mas, em linhas gerais, ela aponta que, quanto mais cedo a pessoa se aposenta, tendo por isso maior expectativa de vida, maior será o fator previdenciário, ou seja, maior será o desconto na aposentadoria. A regra inversa também é válida. Quanto mais tarde a pessoa se aposentar, menor será a sua expectativa de vida e maior será o seu benefício. Dessa forma, o fator previdenciário tinha impacto para quem pretendia se aposentar por idade.
Felipe Pereira
Para Santos, a nova regra ameniza o efeito da antiga. “Longe de ser a ideal ou justa, a regra 85/95 ameniza os efeitos redutores que as regras antigas, em alguns casos, impunham às aposentadorias por tempo de contribuição”, analisa.
vem chegar a 95 pontos. Se a soma atingir a pontuação necessária, o segurado pode se aposentar e receber o benefício integral, sem a aplicação do fator previdenciário. Para o contador e especialista em Finanças Thiago Santos, a medida adotada pelo governo serve mais como um contraponto ao fim do fator previdenciário proposto pelo Congresso. “Se o fator previdenciário tivesse sido abandonado, como era a expectativa inicial da sociedade, bastaria que o trabalhador atingisse o tempo mínimo de contribuição (30 anos para mulheres e 18 | www.voxobjetiva.com.br
35 anos para homens), independentemente da sua idade, para que pudesse se aposentar recebendo o valor integral. A nova regra busca, assim como o fator previdenciário vinha fazendo, postergar o pagamento de benefícios integrais”, conclui. Criado em 1999, no governo de Fernando Henrique, o fator previdenciário se baseia na idade do trabalhador, expectativa de sobrevida e uma alíquota fixa de 0,31 (referente ao 0,11 de contribuição do segurado e 0,20 da contribuição do empregador). A fórmula pode assustar,
A nova regra é chamada progressiva justamente por não ser estática. A partir de 2016, vai ser acrescentado um ponto a cada dois anos, e a partir de 2022, vale a fórmula 90/100. Considerando a escala crescente de pontos, Santos observa que a nova regra favorece quem tem condições ideais para se aposentar agora. “Os trabalhadores mais jovens, que provavelmente completam o tempo mínimo de contribuição após 2022, praticamente não serão beneficiados pela nova regra. Um homem que começou a trabalhar e a contribuir com 25 anos de idade vai cumprir a carência de 35 anos de contribuição aos 60 anos, em 2045. A soma da idade mais o tempo de contribuição (60+35=95), no entanto, não atinge a pontuação requerida pela regra 90/100. Para se aposentar sem a aplicação do fator previdenciário, ele teria que obter mais 5 pontos, aposentando-se então com 63 anos, quando atinge 38 anos de contribuição (63+38=101 pontos)”, esmiúça.
CAPA
O arquiteto Walison Barbosa, de 26 anos, optou, há dois, por um plano de previdência privada. Ao longo de 30 anos, ele vai investir R$ 300 mensais. “Eu optei pela previdência privada pelo investimento inicial e o retorno. Se hoje eu recebo R$ 2 mil, daqui a 30 anos vou receber o equivalente a R$ 2 mil. Isso foi um dos motivos que mais me levaram a fazer o plano. Ele vai possibilitar a manutenção do padrão de vida que tenho hoje”, entende.
cobradas pela empresa. No mercado, há vários planos que oferecem mundos e fundos, mas estão longe de ser um bom negócio. O professor e palestrante na área de Inteligência Financeira Fernando Agra adverte sobre a confiabilidade dos planos. “A previdência privada não leva em conta a inflação futura nem garante que o que foi prometido seja cumprido. Só em casos de planos empresariais, nos quais a própria empresa contribui com a aposentadoria do funcionário, ela costuma compensar”, enfatiza. Para o professor, os maiores beneficiados pela previdência privada no Brasil são os bancos. A opção por gerir o próprio dinheiro aparece como alternativa segura, mas requer muita pesquisa
e, principalmente, disciplina. Adaptar-se a viver com menos pode ser o grande trunfo de quem quer ter conforto e qualidade de vida quando o ritmo do corpo baixar. “A dica é começar a poupar o quanto antes. Mesmo que a pessoa ganhe pouco, é interessante guardar uma porcentagem. Ao criar esse hábito, a pessoa que passa a ganhar mais vai estar acostumada a viver com 80% do salário. É um hábito muito saudável financeiramente falando”, opina o Ph.D em business, professor da Fundação Getúlio Vargas e colunista da Folha de S. Paulo, Samy Dana.
O arquiteto Walison Barbosa optou por um plano de previdência privada para prolongar o padrão de vida que tem hoje
Felipe Pereira
Para quem acredita que apostar todas as fichas na previdência pública não é o melhor negócio, a alternativa é recorrer aos planos de previdência privada. Eles são considerados mais atrativos do ponto de vista do retorno financeiro. A título de comparação, o valor máximo de benefício concedido pelo Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) é R$ 4,159 mil. E isso independe se o segurado tinha um salário de R$ 5 mil ou de R$ 10 mil. Nos planos privados, o contribuinte pode escolher o valor da contribuição e a periodicidade do pagamento.
Walison não vê vantagens na previdência pública. “Como autônomo, se for contribuir para receber mais que um salário-mínimo, teria que pagar muito mais. E para receber um salário-mínimo na previdência social, precisaria pagar o mesmo que pago na previdência privada”, enfatiza. Além disso, a questão do envelhecimento precoce da população é outro fator considerado desanimador pelo arquiteto. “A previdência social é falida; ela não se paga. Com a previsão de a população brasileira envelhecer a cada ano, essa situação vai ficar muito pior”, acredita. Antes de optar por um plano de previdência privada, o contribuinte deve buscar informações e estar ciente das taxas administrativas | 19
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Mas com uma poupança rendendo pouco, quais as opções que sobram para fazer com que o dinheiro guardado renda e possa contribuir para dar robustez aos ganhos, ao se aposentar? O investimento no Tesouro Direto é o mais interessante. Desenvolvido em parceria com a Bolsa de Mercadorias e Futuros (BM&F) e a Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa), o Tesouro Direto corresponde aos títulos públicos. “Os títulos são interessantes porque você pode fazer um aporte mensal de R$ 30 a R$ 1 milhão. Você pode inclusive investir R$ 30 uma vez. Então é muito democrático”, afirma. Existem dois tipos de títulos: os pré-fixados e os pós-fixados. Os pré-fixados são aqueles em que é possível saber sobre a taxa de retorno quando o investidor adqui-
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Os títulos são interessantes porque você pode fazer um aporte mensal de R$ 30 a R$ 1 milhão. Você pode inclusive investir R$ 30 uma vez. Então é muito democrático
re os títulos: as Letras do Tesouro Nacional (LTNs) e as Notas do Tesouro Nacional Série-F (NTN-F). Nos pós-fixados, os títulos mais conhecidos são as Letras Financeiras do Tesouro (LFT), ligados à taxa Selic, para os quais a renumeração acompanha a variação da inflação no país. (Veja o infográfico). Para Dana, os títulos cujos rendimentos variam de acordo com o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que é o mesmo que a inflação, são os mais atraentes para quem pretende começar a investir. “Existem títulos que pagam 6,5% mais o índice da inflação. Esse tipo de título é interessante porque ele assegura o poder de compra do investidor. O risco desse título, além do calote que é muito baixo, é que se você vender antes do vencimento, ele pode oscilar muito. Então esse título é para aquele dinheiro que você não vai mexer muito, de longo prazo”, aponta o especialista. Para quem pode fazer um aporte financeiro maior, mas não quer deixar o dinheiro ocioso e jogado às traças em uma conta de poupança, a estratégia pode ser o investimento no setor imobiliário. Mas essa decisão requer análise. “Esse investimento vai depender do que será pago por ele. Suponhamos que o indivíduo tenha gasto R$ 300 mil na compra de um imóvel. É preciso analisar quanto esse imóvel vai gerar de aluguel. O rendimento mensal do título público está mais de 1% acima dos ganhos com o aluguel. Um por cento de R$ 300 mil dá R$ 3 mil. Então, se o retorno com o aluguel for mais atrativo do que o dos outros investimentos, pode compensar mais investir em imóveis. Mas não é isso que acontece hoje”, explica Dana.
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ARTIGO
Robson Sávio Justiça
Mídia, violência e dignidade humana O episódio transmitido ao vivo por emissoras de TV, no qual um policial troca tiros com assaltantes em fuga e, depois de render os infratores, atira neles, reascende o debate sobre os excessos cometidos em ações policiais e os limites éticos da cobertura jornalística. No estado democrático de direito, todos devem agir dentro dos limites legais. No caso de ação policial, há regras claras de atuação nesse tipo de ocorrência. Um policial que atira a esmo pode ferir ou matar inocentes (que, eventualmente, estejam transitando numa rua). Isso pode ocorrer com meu pai, minha mãe, meu filho. Seria bom se pensássemos assim, dado que falar da dignidade do outro parece algo irrelevante na nossa cultura da vingança e do ódio. Ainda resta um grande caminho a ser percorrido pela efetividade da cidadania em nosso país. Aqui o preconceito, a luta pela igualdade racial, as discriminações religiosas e sexuais e tantos outros dilemas sociais ainda não fazem parte da pauta da grande mídia. Por outro lado, a superexposição de vários tipos de crimes associada a preconceitos, sentimentos de vingança e desinformação acerca dos fenômenos da violência provoca a banalização dos valores humanos. A forma e o conteúdo de exposição dos vários tipos de violência pela mídia devem ser questionados pelos cidadãos. Obviamente, não estamos tratando aqui de nenhum tipo de censura. Pelo contrário. Defendemos uma interlocução cada vez mais consistente de profissionais da comunicação, pesquisadores do tema e operadores da segurança pública com a sociedade. É desejável que a divulgação e a apuração das informações sobre estatísticas criminais, por exemplo, sejam rigorosamente avaliadas. Quem produz a notícia deve levar em 22 | www.voxobjetiva.com.br
conta a subnotificação de vários tipos de ocorrência; os interesses políticos que envolvem a divulgação das notícias; os vieses – nem sempre evidentes, mas sempre presentes –, em análises feitas por operadores e especialistas. O papel da imprensa na discussão sobre os dilemas da violência é de fundamental importância para o aprimoramento das políticas públicas nessa área. A cobertura do fenômeno da violência pode oferecer aos cidadãos soluções que suplantam o medo, o ódio, a sensação de impotência e de descrédito das instituições, quando o problema é tratado com responsabilidade e sem sensacionalismo. A mídia pode apresentar práticas viáveis de superação do medo e da impotência diante do fenômeno da violência difusa. Com isso, pode criar condições de mobilização social e comunitárias fundamentais para o incremento da coesão social e da superação do medo e da apatia social em relação à insegurança pública, principalmente à criminalidade urbana. Além dos crimes, que recheiam os noticiários na mídia, diversas formas de violência que afrontam cotidianamente os direitos humanos são naturalizadas em nossa sociedade. Aqui também a mídia tem um papel relevante, podendo fomentar uma discussão sobre essas violências historicamente escamoteadas na sociedade: violências contra crianças, mulheres, negros, homossexuais, minorias étnicas, dentre tantas outras.
Robson Sávio Reis Souza Filósofo e cientista social robsonsavio@yahoo.com.br
SALUTARIS
VIDA LEVE Atividades físicas e academias ao ar livre são iniciativas gratuitas que vêm atraindo quem procura mais qualidade de vida que um corpo esculpido Texto de Diane Duque Fotos de Felipe Pereira
“corpão malhado”, definido por uma série de exercícios físicos e pela alimentação equilibrada, é o sonho de muitos. No inverno pode até ser mais fácil esconder o corpo fora de forma, mas no verão isso é quase impossível. E é nessa época do ano que o desejo pelo “corpinho sarado” entra na lista de prioridades de muita gente. Nesses tempos em que o estresse e a ansiedade dominam, ir à academia ou fazer alguma atividade física passou a ser prática não apenas daqueles que desejam um corpo perfeito. Caminhar, fazer yoga, lutas livres, e ir à academia são atividades também daqueles que procuram, pura e simplesmente, a saúde física e mental. Já está comprovado cientificamente que se exercitar ajuda a melhorar o ânimo, a autoestima e a combater a ansiedade e o estresse. É crescente o número de pessoas que buscam academias e praças com equipamentos para atividade física. O Projeto Yoga nos Parques é um exemplo. Desde 2012, a iniciativa promove | 23
usuários controlaram a pressão arterial, 91%, a glicemia e 93% perderam peso. Com o hábito saudável, 13% deixaram de tomar medicamentos, 87% diminuíram a dosagem e 81% diminuíram a frequência dos remédios. O programa também constatou um aumento no interesse de homens por serviços de saúde. Mas as mulheres ainda representam a maior parte dos usuários: 73% dos cadastrados. Os idosos têm grande presença: correspondem a 41% do público. Em seguida vêm os adultos de 46 a 59 anos, que são 32% dos inscritos.
aulas de yoga gratuitamente em parques de Belo Horizonte, nas manhãs de domingo. Outra opção são as academias em praças públicas. Os belo-horizontinos têm aproveitado essas iniciativas e lotado as academias de rua. O percentual de esportistas na capital mineira está acima de 35%, que é a média nacional. A informação é o resultado de uma pesquisa feita em 2014 pela Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel). Os dados foram apresentados em julho pelo ministro da Saúde, Arthur Chioro, em Brasília. Foram ouvidas 40.853 pessoas em todo o país.
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No Rio de Janeiro, os calçadões das praias são os locais preferidos para a prática de atividades físicas. E a Cidade Maravilhosa oferece alternativas. Há seis anos, o Programa Academia Carioca da Saúde oferece opções gratuitas para quem quer se exercitar. Nesse período, mais de 72 mil pessoas de 178 unidades de Atenção Primária à saúde foram favorecidas. A meta para 2016 é alcançar 100 mil participantes. Dos inscritos no programa carioca, 82% são hipertensos, 37%, diabéticos e 64% têm excesso de peso. Com a prática regular de exercícios, 97% dos
A costureira Mônica Regina Castro, de 49 anos, frequenta as atividades há dois anos e confessa que sentiu as mudanças na pele. “Minha amiga me chamou para ir malhar, mas demorei uns seis meses para aceitar. Quando comecei a ver os resultados dela, fiquei entusiasmada e decidi começar. Foi a melhor coisa que aconteceu na minha vida. Perdi cinco quilos e tudo melhorou. As dores no corpo sumiram, o ânimo melhorou e mudei minha alimentação. Minha filha fala que sou outra pessoa”, comemora. Para quem não tem tempo de participar dessas atividades ou de ir à academia, a caminhada é uma ótima opção e tem ganhado novos adeptos. Dentre os que praticam esportes, 33,7% fazem caminhada. O dado é resultado de um levantamento do Ministério da Saúde e de um estudo do
SALUTARIS Núcleo de Pesquisas Epidemiológicas em Nutrição e Saúde da Universidade de São Paulo (USP). CONTANDO CARNEIRINHOS Além dos benefícios dos exercícios físicos e da boa alimentação, a redução do estresse e da ansiedade passam também por uma boa noite de sono. Um ditado chinês diz que ‘uma noite maldormida nunca é recuperada’. Por essa perspectiva, seria difícil imaginar o quanto se perde em qualidade de vida. Poucas horas de sono estão relacionadas a diversos problemas de saúde, como alterações de humor, comprometimento da memória, da atenção e da concentração, cansaço, apatia, queda do sistema imune e até mesmo desenvolvimento de diabetes e de doenças cardíacas.
níveis de serotonina no cérebro, diminuindo a atividade do organismo e contribuindo com o relaxamento do corpo”, explica a nutricionista do Hospital Metropolitano Lapa, em São Paulo, Carla Mariano. “Também é importante consumir alimentos ricos em melatonina, um hormônio importante para estimular o repouso”, garante a especialista. O OUTRO LADO DA MOEDA Mesmo com uma boa alimentação e noites bem-dormidas, muitas pessoas ainda precisam entender que praticar exercício é a palavra de ordem. Dados do Ministério do Esporte mostram que 45,9% dos brasileiros de 15 a 74 anos estão sedentários. O percentual totaliza cerca de 67 milhões de pessoas no país que não praticam nenhum esporte nem atividade física. Foram considerados
sedentários aqueles que declararam não ter praticado esportes nem alguma atividade física no tempo livre. Feita em 2013, a pesquisa foi divulgada em julho deste ano e levou em consideração 8.902 entrevistas. A maior fatia de sedentários está na Região Sudeste: 54,4% da população. Os motivos alegados pelos participantes da pesquisa foram falta de tempo (58,8%), problemas de saúde (9,5%) e preguiça ou falta de interesse (11,8%). De acordo com o Ministério, quase 90% dos brasileiros abandonam a prática esportiva e se tornam sedentários até os 34 anos. De acordo com o cardiologista do Hospital do Coração e da Sociedade Brasileira de Cardiologia, Nabil Ghorayeb, 30 minutos diários de caminhada são necessários para que um indivíduo não seja considerado sedentário.
A fase de sono profundo é fundamental para que o organismo se recupere adequadamente. Um estudo inglês mostrou que o aumento na qualidade do sono diminui a ocorrência de depressão. A maioria dos problemas para dormir, no entanto, é temporária e está relacionada ao estilo de vida, que requer mudanças. A qualidade de vida é diretamente afetada pelas noites maldormidas. Essa é a conclusão de um levantamento feito pela Sociedade Brasileira de Sono. Os brasileiros com dificuldade de dormir atingem 53,9% da população. E 43% deles continuam cansados durante o dia. As causas da insônia variam de fatores ambientais a genéticos. A afirmação é da coordenadora do Departamento Científico de Sono da Academia Brasileira de Neurologia (ABN), Rosana Souza Cardoso Alves.
Opinião geral As pessoas que não praticam têm consciência dos riscos da vida sedentária?
Para quem tem esse problema, a alimentação adequada pode ajudar. “Se você tem dificuldades de manter uma frequência do sono, é preciso consumir alimentos ricos em triptofano. Esse aminoácido regula os | 25
ARTIGO
Maria Angélica Falci Psicologia
E a tal felicidade? Sabemos que não existe fórmula ‘mágica’ para alcançar a felicidade. Mas componentes bem-ajustados auxiliam a boa construção de si e do modo particular de ver e sentir a vida. A construção dos sentimentos, os registros vivenciais bem-armazenados, os estímulos positivos desde a infância e a organização química hormonal contribuem para isso. Somos seres individuais e únicos. Similaridades entre histórias de vida e momentos vivenciados podem até existir, mas cada um vivencia suas dores e conquistas de forma singular. Muitas vezes, refletimos sobre a razão de muitas pessoas passarem por momentos conturbados na vida e ainda assim conseguirem demonstrar paz e felicidade. Da mesma forma, demonstramos curiosidade de saber a razão que leva alguns a se entregarem tão facilmente, diante de situações menos difíceis.
Para alguns casos, faz-se necessário um bom processo terapêutico, eventualmente medicações, quando há desorganização química cerebral. Quando existe certo conformismo diante da situação vivenciada, mais difícil é o processo de recuperação. A partir daí, surge a possibilidade de desenvolver alguns transtornos de ordem psiquiátrica.
...precisamos compreender que não constituímos sozinhos e que ocupamos lugares passíveis de alterações. O ser é um processo dinâmico
Quero falar aqui sobre o lugar ocupado, que vejo sempre como possibilidades de ser e estar, de realizar e mudar. Ainda que uma pessoa não conte com os estímulos, a presença da família e o afeto adequado, é possível mudar de lugar. A essa pessoa é permitido sobressair e dar um revés à própria história. Para esse entendimento, precisamos compreender que não constituímos sozinhos e que ocupamos lugares passíveis de alterações. O ser é um processo dinâmico. Estar perto de pessoas com valores e um bom olhar sobre a vida inspira e motiva os que são obrigados a transpor obstáculos. É importante para o indivíduo com viés fortemente negativo se aproximar daqueles que fornecem alegria, positividade e 26 | www.voxobjetiva.com.br
têm aquele brilho nos olhos que saltita e refrigera a alma.
Em artigo, o estudioso do comportamento humano Paul Dolan aponta: “cidadãos felizes são mais produtivos, mais saudáveis, mais fortes, mais sociáveis, ajudam mais os outros e vivem até seis anos mais que os infelizes”. Essa é uma opinião da qual eu partilho.
Acompanho a pesquisa que baseou a fala de Dolan há alguns anos. São comprovações muito reais de que vale a pena retirar as pedras da mochila vivencial e subir com mais leveza a montanha que leva ao desenvolvimento pessoal. A tal felicidade? Bem, ela caminha com a estabilidade, principalmente quando ativamos o maior número de áreas positivas possível. O filme ‘Divertida Mente’ exemplifica muito bem essas ilhas que vamos construindo ao longo da vida. Vale a pena assistir e refletir.
Maria Angélica Falci Psicóloga clínica e especialista em Saúde Mental angelfalci@hotmail.com
Até outubro, quem passar por Belo Horizonte vai poder apreciar toda a variedade de sabores da culinária brasileira. Na maior competição já realizada entre bares da capital mineira, chamada Bairro a Bairro, estabelecimentos duelam entre si para ver quem oferece os melhores pratos de acordo com o regulamento da competição. Bares de cada regional da cidade vão apresentar pratos elaborados especialmente para a disputa. O Bairro em Bairro vai funcionar como uma peneira para o tradicional Festival Bar em Bar, promovido nacionalmente pela Associação de Bares e Restaurantes (Abrasel) desde 2007. Eleitos por um júri popular, os três melhores bares de cada regional estão confirmados na disputa nacional, que este ano acontece de 5 a 22 de novembro. Além de proporcionar novas experiências gastronômicas, o Bairro em Bairro prioriza uma cartela saborosa e economicamente viável para o público. O valor dos petiscos varia de R$ 12 a R$ 35. Os pratos servem, no mínimo, duas pessoas. Nas próximas edições da Vox Objetiva, você confere as relações dos bares participantes.
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Bairro em Bairro Calendário Bairro em Bairro Regional Pampulha (de 18 de julho a 15 de agosto) Pratos com tema da Região Norte do Brasil Regional Norte (de 15 de agosto a 15 de setembro) Pratos com tema da Região Nordeste do Brasil Regional Nordeste (de 1º a 30 de setembro) Pratos com tema da Região Nordeste do Brasil Regional Noroeste (de 1º a 30 de setembro) Pratos com tema da Região Sudeste do Brasil Regional Leste (de 15 de setembro a 15 de outubro) Pratos com tema da Região Sudeste do Brasil
Regionais Centro-Sul e Barreiro (15 de setembro a 15 de outubro) Pratos com tema da Região Sul do Brasil Regional Oeste (de 15 de setembro a 15 de outubro) Pratos com tema da Região Centro-Oeste do Brasil
Bares Participantes da Regional Pampulha Petisqueira Pampulha Butecão do Leão Bar e Boi Bar Du João Degraus Espaço Gastroculinário Chef Penninha Bistrô 9 Barril 211 Restaurante Siri Pizzaria 68
Venha conhecer o Siri Peixes, Frutos Do Mar E Carnes
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SAPORIS
Bruschetta Brie e damasco Receita do Bufê Bouquet Garni 45 Minutos
8 unidades de Brusquetta
INGREDIENTES
PREPARO
1 ciabatta grande Queijo Brie Geleia de damasco
Corte a ciabatta em rodelas transversais, coloque sobre elas fatias de queijo Brie e leve ao forno a 200 graus por cerca de 4 minutos, até o queijo aquecer. Retire e decore por cima com uma colher de geleia de damasco. Coloque em um prato e decore o com alface-crespa e roxa.
GELEIA DE DAMASCO ARTESANAL PREPARO (GELEIA DE DAMASCO) Coloque o damasco, a água e o açúcar em uma panela e deixe cozinhar até derreter o açúcar. Deixe esfriar um pouco e bata tudo no liquidificar grosseiramente. Não há necessidade de que a geleia fique fina. Coloque numa tigela e acrescente a salsinha e o Cury. Sirva com a Bruschetta de Brie, panquecas ou torradas.
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300 g de damasco 2 xícaras de chá de açúcar 2 xícaras de chá de água 1 colher de sobremesa de Cury amarelo 1 colher de sopa de salsinha
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SAPORIS
Harmonização Bruschetta Brie e damasco Nelton Fagundes, Enoteca Decanter Uma combinação clássica. A textura crocante do pão, o queijo Brie e o exótico doce do damasco combinam com o vinho Torrontes Colome, de Salta, na Argentina. Trata-se de um branco extremamente fresco, leve e vivaz, com uma intensidade aromática incrível, criando um equilíbrio único e com final sedutor. Por incrível que pareça, nessa dupla, o que vai mais nos emocionar é o perfil aromático de ambos.
Degustação às cegas Nelton Fagundes Sommelier da Enoteca Decanter BH Uma das coisas que mais gosto de fazer é provar vinhos às cegas, ou seja, beber uma taça e só saber qual é o rótulo após fazer as minhas observações. Essa é uma forma interessante de experimentar o vinho porque degustador não sofre a influência do rótulo e fica à mercê somente do seu paladar para provar a bebida e definir ou explicar o que está dentro da taça. É muito comum que as pessoas não iniciadas nesse universo achem que esse tipo de degustação é puro chu-
te. Porém, logo que participam de alguma degustação, elas mudam de opinião. Montar uma degustação às cegas é bem simples: basta ter alguém para conduzir ou organizar e pessoas interessadas em aprender sobre os vinhos servidos. Você deve escolher alguns rótulos e providenciar os serviços em uma sequência aleatória. É interessante provar vinhos semelhantes ou totalmente diferentes uns dos outros. Pode parecer mentira, mas isso faz
toda a diferença. Experimente provar um Pinot Noir perto de um Cabernet Sauvignon, ou mesmo um Chianti com um Malbec, da Argentina, ou talvez um Torrontés ao lado de um Chardonnay. Essas experiências são tão marcantes que dão um nó na cabeça. Talvez nenhuma bebida tenha tanta magia, energia e possa nos emocionar ao ponto de ficarmos vidrados em aprender e conhecer tudo sobre ela, provando-a de todas as formas. Degustar vinhos sem saber o rótulo é algo bem complicado para alguns, principalmente se a pessoa não for iniciada no assunto. Contudo, um dos maiores exercícios de humildade no universo dos vinhos é a prova às cegas. Só assim é possível que o profissional realmente perceba se é ou não um bom degustador. É comum ter dificuldades no início, mas quanto mais se degusta, mais fácil fica a brincadeira. Degustar nada mais é do que beber com atenção usando todos os seus sentidos. Se eu não pratico essa arte, como serei um bom degustador? Ao provar vinhos, é importante ficar atento aos detalhes, como cor, aromas e sutilezas. Em alguns casos, esses aspectos são sutis e, em outros, bem nítidos. Se não houver dedicação e atenção, esses ricos detalhes vão passar despercebidos. Deixo algumas sugestões preciosas para você fazer a própria degustação às cegas: - Níveis de taninos: Pinot Noir François Labet, da França x Tannat Bouza, do Uruguai. - Vinhos duros e vinhos macios: Chianti Rubizzo Rocca Macìe, da Itália x Malbec Black Label Las Moras, da Argentina. - Vinhos com a mesma uva feitos em países diferentes: Cabernet Sauvignon Reserva Terroir Terranoble, do Chile x Cabernet Sauvignon Painter Bridge, dos Estados Unidos. | 29
ARTERIS
Charme e elegância
BIKER “A bota biker tem inspiração no calçado usado por motoqueiros. De cano curto, esse tipo de bota tem detalhes, como tachas e fivelas. Por isso, compõe um estilo mais rocker”.
Confira cinco peças must que não podem faltar no guarda-roupa, nesta temporada Tati Barros e existe um item fashion instantaneamente ligado ao inverno, esse artigo é a bota. O calçado é a primeira peça a sair dos armários assim que as temperaturas começam a cair. Acompanhadas de meias, sobretudos e peças de tricô, o calçado é um dos responsáveis por trazer o ar de elegância tão característico da estação. A cada temporada, a moda se renova trazendo modelos de botas que se tornam tendência e logo ganham as vitrines. Neste inverno, a over the knee (acima do joelho) conquistou as mulheres mais antenadas e se tornou protagonista nas produções das passarelas e nas ruas. É preciso pontuar, no entanto, que a bota não precisa dar o ar da graça apenas no inverno. Há diversas opções que são bem-vindas nos looks diários, durante todo o ano. Basta saber combinar! Se você quer investir numa bota que combine com o seu estilo, confira as dicas da consultora de moda Aninha Miranda. Se, diante de tantas opções, você ainda estiver em dúvida em relação a qual modelo escolher, fique atenta à principal dica. De acordo com Tânia Gomes, proprietária da loja on-line 33e34, para acertar é só apostar em itens confortáveis e que possam durar mais do que a estação. “No Brasil, de modo geral, temos invernos curtos. Se você compra uma bota com uma pegada muito ‘fashion’, pode deixar de usar no ano seguinte e se arrepender”, indica. Por isso, a sugestão é começar por modelos mais básicos e só depois investir nos mais diferenciados e marcantes, como as coloridas e com aplicações.
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OVER THE KNEE “Muito usada pelas blogueiras de moda. Essa bota é longa e cobre os joelhos. É um modelo sexy, muito feminino e fica linda com calça skinny, legging e vestidos curtos. Não é uma bota democrática por ser mais adequada para mulheres baixas e de pernas grossas. Mas existem alguns truques que facilitam na hora de usá-la: se a meia-calça for da cor da bota, há a sensação de alongamento da perna e a silhueta não fica cortada. Se a calça for da cor da bota ou semelhante, cria-se uma ilusão de que o corpo é mais esguio”.
ARTERIS
COTURNO COUNTRY “As botas country são baseadas nos modelos utilizados pelos cowboys. Têm cano e salto médios, bico levemente mais afinado e costumam ter alguns detalhes mais marcantes. Pode ser usada com calça, short e saia jeans. É perfeita para ocasiões, como eventos, exposições, leilões e festas juninas. Essas botas formam uma dupla perfeita com camisas xadrezes. Se a intenção é fugir do visual country, basta combiná-la com vestidos românticos e criar uma produção mais feminina”.
“O coturno é uma bota inspirada no sapato usado por soldados de guerra. Ela tem um cano médio, solado mais grosseiro e é amarrada com cadarço. Por ter salto baixo, esse modelo é bem confortável e garante um toque de rebeldia ao look. É preciso ter personalidade e estilo próprio para usá-lo. Para quebrar o ar pesado e grosseiro desse modelo de bota, a dica é alterná-lo com peças delicadas, vestidos românticos, com tecidos leves, com detalhes em renda ou com babados. O coturno também pode ser usado com calça skinny, legging e shorts destroyeds. A bota é perfeita para compor looks no estilo militar, já que tem tudo a ver com a proposta e incorpora bem o visual grunge dos anos 80 num estilo mais rock’n’roll. Por isso, é uma bota interessante para ir a um show ou a um festival de música”.
ANKLE BOOTS MONTARIA “Este modelo é um dos mais usados pelas mulheres. É bem democrático e fácil de combinar. Como o próprio nome diz, esse tipo de bota é inspirado no calçado usado pelos praticantes de hipismo. Características: cano mais alto e salto baixo. A bota montaria fica perfeita em uma produção com legging, calça skinny e vestidos”.
“As botas de cano baixo também estão na moda. Mesmo sendo considerado um curinga, esse modelo favorece quem tem pernas mais finas. A bota pode ser usada com saias, calças justas ou curtas. Com ou sem salto, essas botas são versáteis e combinam com diversos looks para várias ocasiões”.
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PODIUM futebol tem um peso diferente na vida de cada pessoa. No Brasil, mesmo o esporte sendo o mais popular, existe o grupo dos que não torcem por time nenhum. Curiosamente, segundo pesquisas, esse conjunto é mais numeroso do que a torcida do Flamengo, a maior do país. Por outro lado, outros vivem o esporte de forma tão intensa que mais parecem jogadores em vez de torcedores. Para esse tipo de torcedor, cabe bem a definição do sentimento tricolor do escritor Nelson Rodrigues: “Não é uma questão de gosto nem de opção, mas um acontecimento de fundo metafísico; um arranjo cósmico do qual não se pode - nem se deseja - fugir”. Na verdade, a descrição de Nelson cabe a todos os torcedores fanáticos, não importando o time para o qual torcem. O Brasil tem nesse esporte um símbolo de identidade. A herança da habilidade no futebol começou por volta de 1910, quando a bola corria apenas nos pés da elite. Mas, já nessa época, o esporte era capaz de atrair as atenções gerais graças a craques como Arthur Friedenreich. Na década de 30, Getúlio Vargas utilizou o amor do público em benefício próprio. Profissionalizou o jogo, e assim começaram a surgir vitórias.
FANATISMO NA ALMA Uma longa jornada para a Argentina, inimizades e intrigas. As histórias das idosas apaixonadas pelo Cruzeiro e pelo Atlético Texto de Thalvanes Guimarães Fotos de Felipe Pereira 32 | www.voxobjetiva.com.br
Se nos êxitos da seleção brasileira o povo via uma vitória da pátria, no relacionamento com os clubes há mais particularidades e menos argumentos racionais. Para algumas pessoas, a paixão pelo time se tornou um tipo de caminho, de destino. É o caso da senhora Maria Salomé da Silva, de 81 anos, torcedora fanática do Cruzeiro. Mesmo com idade suficiente para se aposentar, ela ainda não se deu ao luxo de parar de trabalhar. “Tenho a impressão de que parar não vai me fazer bem. Eu amo a minha rotina”, afirma com felicidade genuína. Salomé tem a honra de trabalhar no lugar que mais ama; é auxiliar de limpeza na sede do Cruzeiro, local que cuida como a própria casa.
Quando o time enfrentou o River Plate, nas quartas de final da Libertadores, na Argentina, Salomé viajou de ônibus com uma torcida organizada. “Foi uma viagem muito agradável. Cheguei ao estádio, e a torcida do Cruzeiro gritava o meu nome, e pessoas queriam tirar fotos. Na hora do gol, fui subindo e descendo as escadas, como se fosse um tobogã. Todos começavam a me abraçar, beijar e ficavam me tratando com carinho. É uma alegria que não tem como explicar,” conta emocionada. Quando os argentinos tripudiavam a octogenária, Dona Salomé relembra que colocava tudo no devido lugar, gritando: “segunda divisão, segunda divisão”, em referência à queda do River Plate em 2011. A paixão de Salomé pelo Cruzeiro vem da década de 60, quando ela morava numa fazenda em Bom Despacho, Interior de Minas Gerais. Nessa época, ela acompanhava dois times que jogavam em um campo da cidade. A disputa se dava entre o time dos solteiros e o dos casados. Entusiasmada, ela sempre torcia para o time dos solteiros, no qual jogava o que viria a ser o futuro marido. O uniforme do time era azul e branco, as cores que sempre vestiam a mãe de Salomé. Aos 25 anos, com a mudança para a capital, a senhora “renovou de vida”. “Eu nunca pude imaginar, quando vivia na fazenda, que um dia teria uma vida como essa. Graças a Deus, com o Cruzeiro, eu passei de um mundo para o outro. Não existe tristeza na minha vida. Alguns dizem que sou doida por causa da minha paixão pelo Cruzeiro, mas isso é a minha felicidade!”. Desde que começou a acompanhar o time, Salomé revela que faltou a apenas 18 jogos. Dezesseis deles no Mineirão, um no Independência e outro na Arena do Jacaré, em Sete Lagoas. Até mesmo um câncer no útero e as recomendações médicas de repouso não a impediram de acompanhar o time de pertinho. “Médico tem umas
bobagens,... quem sabe das coisas é a gente e Deus”, opina. Ao contar a sua história de vida, Salomé se emociona, não por recordar situações adversas, mas por lembrar como tem sido feliz. “Eu não quero ter dinheiro. A minha vida é ótima. Só queria ter mais uma vida, porque uma só é pouco. Se alguém me oferecer dinheiro para eu parar de ir aos jogos do Cruzeiro, eu não aceito. Tem o Deus do céu. O da Terra é o Cruzeiro”.
Enquanto Dona Salomé lamentou a eliminação do Cruzeiro na Libertadores 2015 em casa, após a goleada do River Plate, Dulcinéia Paulino, conhecida como Dudu Galo Doido, tirou um peso das costas. Com 68 anos e superantenada nas redes sociais, ela chama a atenção pelo perfil diferente do que é comum para as pessoas da idade dela. Dudu tem 41 tatuagens, 21 delas são relacionadas ao time alvinegro. “ Quando o Cruzeiro está bem, fica ruim para dormir, porque arrumam uma gritaria”, reclama.
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PODIUM Conhecida como Dudu Galo Doido, Dulcinéia Paulino coleciona desavenças familiares por causa do Atlético Mineiro
“Eu não senti a morte dele (do marido). Fiquei até feliz porque pude extravasar. Na semana seguinte, eu já comecei a fazer as tatuagens do Atlético. Quando vejo algo bacana relacionado ao clube, vou lá e faço. A última que fiz foi um escudo de 1908, que está ainda cicatrizando”, conta. As histórias de Dudu são contadas com muito carinho e alegria, mas ela mesma reconhece que o fanatismo atrapalha um pouco. “Eu deixei netos fanáticos como eu, mas é triste isso porque a gente sofre muito. Não é algo bom. Passo até mal quando o Atlético perde. Mas eu não consigo mudar. Vou morrer com esta paixão”, acredita.
Para saber se Dudu está feliz, é só procurar saber qual é a fase do Galo. Passeando pelo bairro Buritis, em Belo Horizonte, ela é reconhecida por muitos. Por causa das tatuagens, os carros passam por ela buzinando e pessoas gritam ‘Galô!’. “É uma alegria enorme sair de casa e ser reconhecida por conta do Atlético. Eu tiro foto com eles. Eu vivo o Atlético 24 horas por dia. Tenho mais de 15 cadernos onde recorto imagens de jornais para recordação. Eu durmo e acordo pensando no clube,” relata. A euforia de Dudu com o Galo nem sempre foi possível. Casada com um
cruzeirense, o marido não a deixava sequer falar sobre o arquirrival. Dudu conta que, morando próxima ao Independência, ela ansiava por ver o ônibus do Atlético passando em direção ao estádio. O marido jogava água na festa de Dudu, proibindo-a de ficar na janela. Os anos passavam e a angústia de Dudu aumentava. Ela sabia, no entanto, que um dia se veria, de alguma forma, livre. Um dia, a liberdade abriu asas sobre ela. Após 28 anos de casamento, Dudu ficou viúva. A paixão reprimida pelo Galo se tornou mais forte com o tempo.
Com exceção de uma irmã - com quem ela não conversa há cinco anos por conta de uma briga sobre futebol e um genro, toda a família de Dudu é atleticana. Quando o cruzeirense disse que iria se casar com a filha dela, a senhora protestou e reprovou o matrimônio, mas depois aceitou pelo fato de eles se gostarem e se respeitarem. Quando a filha engravidou, ela disse ao genro que o garoto seria atleticano. Ele duvidou. “Hoje o meu neto é um dos maiores atleticanos do mundo. O quarto dele é todo do Galo,” conta orgulhosa. Por causa do fanatismo, ela também já passou por alguns maus bocados. Não é preciso estar com a camisa do Atlético para saber que Dudu é Galo Doido. As tatuagens falam por ela. Certa vez, no ônibus, um cruzeirense começou a provocá-la. “Não fala do meu Galo!”, exclamou. Ele continuou, e ela usou a sobrinha para agredi-lo. “Ele teve que descer no meio da Avenida Amazonas. O motorista parou o veículo”, conta. Dudu já acertou todos os detalhes com a família para quando ela partir. “Quero ir com a camisa do Galo e com a bandeira enrolada no caixão”, sentenciou.
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ARTIGO
Ruibran dos Reis Meteorologia
Regressão É possível que muitos de nós tenhamos desejado, em algum momento da vida, que o tempo voltasse. Para uns, seria momento de reviver momentos felizes com a família; outros, de começar algo de novo. Alguns, quem sabe?, para pedir perdão a alguém. Infelizmente o tempo não regride. Quando o físico inglês Isaac Newton, em 1666, foi obrigado a deixar a Universidade de Cambridge, em decorrência da peste bubônica, ele escreveu as três leis da física clássica. As leis de Newton valem para prever o futuro e voltar ao passado. É como se, depois de quebrado, você pudesse quebrar um ovo novamente.
ao copo não se trata de um processo espontâneo: é algo irreversível. Não se pode “desquebrar” ovos e copos de vidro porque houve um aumento da desordem do sistema, ou seja, da entropia. Ocorrida a desordem do sistema, existem, segundo a teoria física, bilhões de formas que o objeto poderia adquirir, caso essa viagem temporal fosse possível. Portanto, se pudéssemos voltar ao passado, praticamente seria impos-
sível voltar ao momento desejado para ter contato com as mesmas pessoas e poder repetir momentos vividos. Se você quisesse reviver o seu casamento, ao voltar ao passado, é possível que você se casasse novamente, mas dificilmente seria com a mesma pessoa. Como não podemos voltar ao passado, precisamos viver bem o presente para que o nosso futuro seja somente de lembranças de momentos felizes.
Ruibran dos Reis Diretor Regional do Climatempo e professor da PUC Minas ruibrandosreis@gmail.com
Dúvidas sobre voltar ao passado sempre foram uma discussão entre os cientistas. No entanto, na segunda metade do século XIX, o físico austríaco Ludwig Boltzmann explicou que isso seria impossível. Segundo ele, os corpos têm certa quantidade de entropia e, quando algo acontece, a entropia aumenta. A entropia é uma grandeza termodinâmica que mede o grau de desordem de um sistema. Por exemplo: um copo cair de uma mesa e se quebrar é um processo espontâneo, mas os cacos se juntarem novamente dando forma | 35
HORIZONTES
Telhado de vidro na arquitetura parisiense Arquitetura ousada da Fondation Louis Vuitton atrai turistas, mas divide opiniões de especialistas
Iwan Baan
Gisele Almeida, de Estocolmo
uando o assunto é moda, arte e arquitetura, Paris é sempre referência como vanguarda. Não é à toa que a Fondation Louis Vuitton, edifício inaugurado recentemente na capital francesa, já se tornou alvo de controversas opiniões. Seria um novo marco na arquitetura da cidade ou apenas um capricho do idelizador Bernard Arnault, presidente do grupo Louis Vuitton Henessé Moët? 36 | www.voxobjetiva.com.br
O fato é que o prédio da fundação levanta questões polêmicas em torno de sua excêntrica arquitetura. O jornal inglês The Guardian classificou a construção como “uma bagunça de blocos brancos”, destacando que o edifício revela o perigo de grandes orçamentos. Foi uma sutil provocação ao proprietário, que é o homem mais rico da França e diretor de uma das maiores empresas do setor de produtos de luxo do mundo.
“É um navio, um peixe, um barco à vela, uma nuvem”, comentou o arquiteto curador do Centro Pompidou, Frédéric Migayrou, sobre a forma peculiar do edifício. Essa afirmação foi logo complementada pelo The Guardian: “Ostentando um logotipo LV brilhando na porta da frente, ele também poderia ser uma gigantesca garrafa de perfume da Louis Vuitton quebrada em pedaços”, alfinetou o tabloide.
HORIZONTES
“O uso de novas tecnologias é um dos grandes expoentes da arquitetura contemporânea”, explica a arquiteta Kelly Diniz, mestre pela Universidade de Viçosa. A utilização de softwares avançados é essencial para a criação de formas
materiais ou para a implementação de construções ambientalmente sustentáveis. “Ainda não existe um consenso definido sobre o estilo, mas o fato de não ter características típicas e o apelo sustentável faz com que essas obras se enquadrem no estilo”, esclarece. De acordo com o renomado arquiteto sueco autor do projeto da construção da milionária mansão do astro americano de golfe Tiger Woods, Pontus Lomar, a Fondation
Iwan Baan
O desenho da fundação é de autoria do arquiteto canadense Frank Gehry, dono de ousados projetos, como o museu Guggenheim, em Bilbao, The Dancing Houses, em Praga e The Wall Disney Concert Hall, em Los Angeles. Gehry é conhecido por utilizar nas obras um sofisticado programa de computador desenvolvido primeiramente para uso na indústria espacial.
Rindoff Charriau
Basta alguns passos pela Avenida Mahatma Gandhi para avistar o edifício emergindo grandioso e cintilante entre as árvores do parque. A construção se impõe aos olhos de quem visita a região entre o Bois de Bologne e o Jardin d’Acclimatation. Desde o século XIX, o local é frequentado pelas famílias francesas. Agora faz parte também do roteiro dos turistas em Paris. De acordo com dados da fundação, o local já recebeu mais de 750 mil visitantes.
Bernard Arnault (à direita) e Frank Gehry na inauguração do polêmico prédio da Fondation Louis Vuitton
se enquadra em todos esses requisitos. “Atende tanto em termos de utilização de novas tecnologias quanto em desenvolvimento sustentável”, entende. Para a construção da Fondation Louis Vuitton, foi desenvolvido um Software 3D baseado no programa Computer Aided Three-dimensional Interactive Application (CATIA). A utilização dessa tecnologia foi necessária para que pudessem chegar às formas excêntricas projetadas por Frank Gehry. No total, o edifício tem uma superfície vidrada de 13,5 mil metros quadrados. Foi necessária a criação de uma fornalha específica para possibilitar a construção das curvas ousadas desenhadas pelo arquiteto. “Nosso desejo era um edifício que evoluísse com o passar das horas e com a mudança de luz, de modo a dar uma impressão de efêmero, de mudança contínua”, explica Gehry. Para Lomar, não há dúvidas da genialidade de Gehry. “Um edifí| 37
Gerhard Richter
HORIZONTES
cio de Frank Gehry é sempre um algo-mais. É como um logotipo; é a impressão digital do próprio artista. Apenas algumas pessoas na história podem competir com essa característica. Antonio Gaudí, Zaha Hadid, Oscar Niemeyer e poucos outros nos últimos cem anos”, acredita. Questionado sobre o motivo pelo qual as obras de Frank Gehry geram tantas opiniões divergentes, Pontus Lomar é enfático. “É da natureza de Frank Gehry ser tanto artista quanto arquiteto. Na verdade, ele gostaria de ser um escultor. Muitas vezes, você vai encontrar esculturas em seus edifícios, como no Miami Concert Hall, por exemplo. Dessa forma, ele sempre vai ser alvo de críticas, positivas ou negativas, desde que ele esteja fazendo edifícios do estilo ‘Gehry’”, comenta. “Ele está sempre fazendo os 38 | www.voxobjetiva.com.br
desenhos do jeito inusitado dele e sempre ligados à arte”. Todo empreendedor que deseja implementar novidades na arquitetura de Paris sofre alguma forma de resistência. Discussões sobre construções modernas são um assunto recorrente na capital francesa. “Existe certo receio de que essas obras possam descaracterizar a cidade”, explica a mestre em História da Arte pela Université Paris Quest Nanterre La Défense e residente na capital francesa, Renata Rocha Inforzato. “A própria Torre Eiffel, que hoje é o monumento pago mais visitado do mundo, na época da construção recebeu duras críticas”, comenta. “Foi alvo, inclusive, de uma carta formal que a definia como ‘um esqueleto vergonhoso, uma gigantesca chaminé cuja forma vai desfigurar a harmonia da arquitetura da cidade’”, aponta.
Colocando à parte as críticas sobre a forma exótica, a Fundação Louis Vuitton é um monumento que estende a influência artística e cultural de Paris. O edifício é dedicado à arte moderna e contemporânea. Grande parte do acervo disponível pertence à coleção particular do próprio Bernard Arnault. Ao longo das 11 galerias, estão expostas obras de, por exemplo, Picasso, Edvard Munch e Claude Monet. Além da coleção regular, a fundação tem exposições temporárias de artistas contemporâneos. Não bastasse o rico acervo aberto ao público, a Fundação Louis Vuitton contempla ainda uma vista privilegiada da cidade. Do terraço do esdrúxulo edifício, os visitantes podem admirar a Torre Eiffel, os arranha-céus de La Defénse e a paisagem centenária do próprio Jardin D’Acclimatation.
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KULTUR
UM PALCO CHAMADO RUA Grupo de artistas leva arte e alegria onde o povo está Texto de Érica Fernandes Fotos de Felipe Pereira porta do ônibus se abre e, para o grupo Caras Pintadas, é como se as cortinas de um grande palco fossem abertas. Os artistas adentram o circular com a mesma maestria de atores que se apresentam numa importante casa de espetáculos. No ônibus, eles encontram um público arredio, desconfiado, mas que aos poucos vai entregando sorrisos.
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Enquanto os artistas de rua cantam e tocam música popular brasileira, recitam cordéis sobre política e fazem um show à parte, os passageiros dão boas gargalhadas e cantam com os atores o trecho de uma célebre canção de Dominguinhos: “Que falta eu sinto de um bem, que falta me faz um xodó”.
Durante a breve apresentação da dupla de artistas, a assistente social Sandra de Cássias não conteve o riso. “Ver uma apresentação deles melhora demais o nosso dia. Nunca tive a oportunidade de ir a um teatro, mas eu gosto muito. Assistir a uma apresentação como essa nos relaxa, faz a gente esquecer os problemas e o próprio percurso da viagem”, conta a passageira,
KULTUR O grupo se apresenta dentro do Move, a caminho da Estação Pampulha
o grupo. Além da importância que têm como agentes de cultura, mostrando também um pouco da riqueza musical do Brasil, os atores geram reflexões sobre a política nacional. QUANDO TUDO COMEÇOU
que passa quase quatro horas por dia dentro do coletivo.
tentar democratizar um pouco o teatro”, afirma o ator Max Herbert.
Tanto o motorista quanto a trocadora da linha 5250 partilham do mesmo sentimento de Sandra. Entre risos, a funcionária do MOVE segue viagem organizando o dinheiro do caixa, mas com os ouvidos bem atentos à oratória dos rapazes. Enquanto isso, com bom humor, o motorista deixa escapar comentários da peça que já assistiu em outras viagens.
“Todo artista tem que ir onde o povo está. É hora de acordar para a vida, para a rua, meu povo! E nós somos o despertador...”, esse é o lema que rege
Criado em 2008, o Caras Pintadas surgiu em Sorocaba (SP) com três integrantes. Inicialmente as apresentações aconteciam em praças, restaurantes, bares e festas com uma equipe fixa e outra itinerante. “Viajamos pelo Brasil durante um ano e meio apresentando o espetáculo ‘Meu Cordel da Amizade’. Íamos de carona, escutando histórias das pessoas e contando a nossa”, lembra um dos fundadores do grupo, Rodrigo Ferraz. Com o passar do tempo, o Caras Pintadas ganhou novos integrantes e passou a atuar de forma fixa em Belo Horizonte e no Rio de Janeiro. Nesses sete anos de estrada, o grupo já teve o trabalho reconhecido por algumas premiações. Anderson Martins
Levar arte para pessoas como Sandra e tantos outros passageiros que nunca foram ao teatro é o que impulsiona os sete atores do Grupo Caras Pintadas a fazer teatro de rua. “Precisamos ir onde o povo está, e não esperar que eles paguem ingressos para assistir. Os espetáculos da sala de teatro não abrangem todo mundo. São bilheterias caras que não são a realidade da grande maioria da população brasileira. Por isso, procuramos, a partir do nosso trabalho,
Levar arte às ruas e encantar um público sedento por entretenimento de qualidade é a filosofia do grupo | 41
KULTUR levou o prêmio de Melhor Ator no festival ‘Teatro de Rio Espera’. O grupo ganhou também os prêmios de Melhor Espetáculo e Melhor Ator, também para Anderson, do ‘FestRua’, de Contagem. Grande parte da equipe tem formação acadêmica, já se apresentou em espetáculos e foi integrante de trupes. Entretanto, o que eles preferem mesmo é o contato com as ruas. Ferraz explica como as intervenções artísticas chegaram aos ônibus. “Há dois anos, um dos nossos colegas estava a caminho de uma apresentação, quando, no coletivo, um músico começou a cantar. O homem percebeu, pelas roupas, que nosso parceiro era ator e começou a interagir com ele de forma espontânea. Ali eles criaram rimas e piadas, fazendo a alegria dos passageiros. Desde então, resolvemos replicar a ideia”, explica. POR QUE O POVO NÃO VAI AO TEATRO? Assim como os Caras Pintadas procuram democratizar o teatro, iniciativas do governo caminham na mesma direção. A Campanha de Popularização do Teatro e da Dança é um exemplo. Há mais de 40 anos, a iniciativa estimula o público a consumir arte oferecendo ingressos a preços populares ou entradas inteiramente gratuitas. Somente neste ano foram vendidos 350 mil ingressos para centenas de peças da campanha. Não há do que duvidar sobre o ótimo desempenho da campanha. No entanto, ajudar a população a criar o hábito de frequentar espetáculos de teatro não é tarefa fácil. De acordo com a Fundação Municipal de Cultura (FMC), a frequência do público fora do período da campanha quase sempre se mantém. Dos 500 mil ingressos vendidos ao ano, apenas 30% são comprados fora do período promocional. A classe média é a que tem ocupado parte considerável das cadeiras distribuídas nas 35 salas de espetáculos da capital mineira. 42 | www.voxobjetiva.com.br
Para a professora de teatro da Escola de Belas Artes da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e diretora teatral, Mariana Muniz, o preço não é o grande vilão das bilheterias. “A maioria das peças de Belo Horizonte, que ficam em cartaz durante o ano inteiro, tem bilhetes cujo valor integral é R$ 30. É praticamente o mesmo valor do ingresso de cinema. Além disso, o Vale-Cultura, no valor de R$ 50, pode cobrir a despesa daqueles que têm interesse de ir ao teatro, mas não têm condições”, informa. Para o Sindicato dos Produtores de Artes Cênicas (Sinparc), ir ao teatro é uma questão cultural, e falta estímulo suficiente para a população. “É necessário haver mais programas de formação de plateia na infância e na juventude e o apoio da grande mídia na divulgação do teatro”, ressalta o diretor de Artes Cênicas e da Música da FMC, Cássio Pinheiro.
Mariana defende a ideia de que o crescimento de iniciativas como a do grupo Caras Pintadas esteja atrelado ao investimento nos pequenos teatros. “É preciso investir em pequenos teatros que existem em muitos lugares e que já estão em diálogo com a comunidade à qual pertencem. São teatros de grupos e que precisam de investimento para que possam sobreviver de forma digna, exemplo do Cine Horto (do grupo Galpão), no Horto, e da ZAP 18 (da Cia. Zap 18), no bairro Serrano, periferia de BH”, esclarece. É possível que falte investimento e estímulo para levar o grande público aos espetáculos. Mas a avaliar pela resposta que grupos populares têm em ônibus, praças e ruas, uma coisa é certa: o povo ama teatro! Só falta quem possa lhe abrir as cortinas.
TERRA BRASILIS • CRÍTICA
O Conto da Princesa Kaguya Animação japonesa vai fundo na maior curiosidade humana: de onde viemos e para onde vamos? André Martins emorou quase dois anos para que uma das animações mais belas e aguardadas de Isao Takahata chegasse aos cinemas brasileiros. Inspirado no conto japonês “O cortador de bamboo”, “O Conto da Princesa Kaguya” foi anunciado como o último trabalho do Studio Ghibli, responsável por clássicos absolutos, como “Túmulo dos Vagalumes”, “Meu Amigo Totoro” e “A Viagem de Chihiro”. “O Conto da Princesa Kaguya” acompanha a história de uma princesinha encontrada por um agricultor dentro de um talo de bambu. Cercada de crianças e sempre em companhia do amigo Sutemaru, Kaguya cresce feliz envolvida pela simplicidade do campo. Entretanto, a princesa é levada para a
cidade pelos pais. Lá, ela se beneficia de todas as riquezas misteriosas encontradas pelo pai na floresta. O ouro e os tecidos finos são convertidos em uma casa grande e confortável e variados quimonos coloridos. As notícias sobre a riqueza e a beleza inebriante de Kaguya se espalham, atraindo cinco homens que passam a cortejar a jovem, prometendo-lhe os mais incabíveis presentes. A animação de Takahata não é propriamente um filme infantil. A história exige maturidade ao retratar, de forma silenciosa e poética, os conflitos internos da protagonista. Deslocada naquele ambiente luxuoso e privada do contato com os amigos, Kaguya gradualmente se afunda em um poço de tristeza pela imposição de uma vida que ela não
queria. Tudo piora quando a princesa se percebe cada vez mais próxima de um destino irrevogável: o retorno ao plano ao qual, de fato, ela pertencia. Com um desenho de traços delicados e cores suaves e uma trilha sonora inesquecível, a animação é um deleite visual e sonoro. O que mais chama a atenção, no entanto, é a capacidade que a história tem de provocar reflexões sobre imposições sociais, os laços familiares e a existência humana. Certamente, “O Conto da Princesa Kaguya” é um filme marcante e com um peso que há muito não se via entre as obras do gênero de animação. Mais que recomendado, conferir a jornada de Kaguya é essencial!
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Shutterstock
KULTUR
MUITO ALÉM DO CRISTO
Com atrações tradicionais e vivas no cotidiano do Rio, Circuito Cultural do Comércio Centenário entra para o concorrido roteiro turístico da Cidade Maravilhosa Diane Duque ma das sete novas maravilhas do mundo e a atração turística brasileira mais bem-avaliada no mundo pelo “Traveles’ Choice Atrações” – prêmio anual baseado nas avaliações dos usuários do site TripAdvisor. Este é o Cristo Redentor: sem dúvidas, uma referência para o turismo brasileiro. A majestosa imagem do Cristo ocupou a nona colocação do levantamento. Ao todo, 700 atra-
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ções ao redor do mundo foram premiadas. Os vencedores são determinados por meio de um cálculo algorítmico que considera a quantidade e a qualidade das avaliações feitas pelos viajantes ao longo de um ano. “O Cristo Redentor é um grande ícone. Não é só da cidade, mas de todo o Brasil. O reconhecimento do público é sempre mais importante do que prêmios que são julgados por um
pequeno número de pessoas”, afirma o secretário de Turismo do Rio de Janeiro, Antônio Pedro Figueira de Mello. Entretanto, o Cristo Redentor, assim como o estádio do Maracanã, o Pão de Açúcar, a praia de Copacabana e outros pontos turísticos badalados do Rio, não são os únicos lugares que valem a pena conhecer na Cidade Maravilhosa. Uma no-
KULTUR vidade que está sendo incluída no roteiro dos passeios tradicionais é o Circuito Cultural de Comércio Centenário, um complexo de lojas que revelam parte da história da cidade. Desses estabelecimentos, 13 ganharam placas azuis de patrimônio cultural carioca, indicando a pujança histórica. “Um negócio que existe há dez anos é de se admirar. Agora um negócio que consegue resistir por 50 anos, um século, deve ser considerado um patrimônio cultural. A gente precisa valorizar a memória e a atividade econômica ligada a esse local. Isso significa dar sentido para a vida na cidade”, explica o presidente do Instituto Rio Patrimônio da Humanidade, Washington Fajardo. Nos últimos anos, o comércio tradicional da Região Central do Rio e do bairro de Copacabana foi analisado. Entre chapelarias, lojas de cofres, tabacarias, lojas de música, confeitarias, sebos e gráficas, alguns estabelecimentos foram selecionados devido à importância que têm para o cotidiano da cidade. Dentre os locais escolhidos, estão a Leiteria Mineira, a Confeitaria e o Restaurante Cirandinha, a Confeitaria La Marquise, o Ao Bandolim de Ouro, as chapelarias Porto, Alberto e Esmeralda, a Charutaria Syria, a Tabacaria Africana, a Livraria Padrão, a Gráfica Marly e as lojas Cofres Gaglianone e Cofres Americanos. Todos esses notáveis locais se tornaram símbolo cultural do Rio por serem estabelecimentos que contam um pouco da história da cidade e persistem contra as investidas do tempo. A proposta para esse conjunto é a preservação e a adequação deles às mudanças da sociedade e do mercado. Os 13 estabelecimentos escolhidos compõem o novo Circuito do Patrimônio Cultural Carioca. Apesar de ter virado realidade somente em 2015,
o projeto existe desde a década de 90. E desde 2010, o patrimônio carioca é agrupado por temas. Cerca de 190 placas já foram instaladas em toda a cidade. A meta do Instituto Rio Patrimônio da Humanidade (IRPH) é instalar mais 260 até o final do ano para atingir 450 - uma alusão ao aniversário de 450 anos do Rio completados este ano. Os cariocas e os turistas que experimentaram o roteiro do circuito de negócios tradicionais aprovaram a iniciativa. A pedagoga Ione Marinho, 47 anos, levou os dois filhos ao Centro do Rio de Janeiro para respirarem um pouco da centenária história carioca. “Gosto de visitar os museus, o teatro municipal e os centros culturais para enriquecer o lado cultural dos meus filhos. Com esse novo circuito, posso mostrar o passado que ainda está no nosso cotidiano. Um dia desses fui à Leiteria Mineira e adoramos o mingau feito na hora. Sem dúvida, é um lugar diferenciado”, opina. Fundada em 1907, a chapelaria Alberto tinha personalidades como Vinícius de Moraes e o rei Alberto da Bélgica como fregueses. Apesar de o chapéu ter caído em desuso para a maioria dos homens, o comércio continua forte no estabelecimento. Fernanda Araújo é freguesa fiel. Ela vai à loja sempre que precisa comprar presentes para o pai, o avô e os tios. “Eles adoram e, nos almoços de família, disputam para saber quem tem mais chapéus ou quem tem o mais bonito”, revela Fernanda. No Ao Bandolim de Ouro, uma das mais antigas casas de instrumentos do Rio, o cavaquinho ainda é feito artesanalmente. A fabricação começou no fim da década de 20 com fregueses famosos, como Pixinguinha. A loja sobrevive até hoje com estilo e serviço especializado. | 45
KULTUR
Indispensáveis no roteiro Dentre os muitos estabelecimentos selecionados, conheça alguns que precisam estar no seu roteiro.
Gráfica Marly
Cofres Gaglianone
Rua do Livramento, 40, Centro
Rua Teófilo Otoni, 134, Centro
Foi fundada em 1946. O estabelecimento faz impressões em tipográfica, relevo francês, relevo americano e envelopes. Está focada na atuação de produtos artesanais.
Desde 1934, a loja sempre funcionou no mesmo endereço. A Gaglianone vende, conserta e restaura cofres. A loja atende o público comercial, como hotéis, mercados, casas lotéricas e escritórios.
Asscom
Cofres Americanos Rua Teófilo Otoni, 120, Centro Foi fundada em 1963 e permanece sob a direção da mesma família desde 1965. Entre 1975 e 2005, o estabelecimento chegou a manter uma fábrica com 30 empregados em Duque de Caxias. Atualmente a casa vende pequenos cofres para lojas e residências.
Chapelaria Esmeralda Av. Marechal Floriano, 32, Centro Fundada em 1920 por um imigrante português, a chapelaria continua a ser administrada pela família Carvalho de Faria. Tradicionalmente a loja vende chapéus, boinas e bonés. O fundador Joaquim Carvalho de Faria inaugurou outras lojas pela cidade, sempre com nomes de mulheres. A neta Christiane inovou ao abrir, ao lado da chapelaria, uma loja de vinhos e um pequeno bistrô.
Leiteria Mineira Rua da Ajuda, 35, Loja A, Centro
Livraria Padrão Rua Miguel Couto, 40, Centro Livreiro desde os 15 anos, Seu Alberto abriu a Livraria Padrão em 1973 e trabalhou com importação e edição de livros. É a única livraria na Rua Miguel Couto. No passado, a rua chegou a ter três grandes livrarias.
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O tradicional restaurante da cidade foi criado no início do século passado por um fazendeiro para escoar a produção de leite e de derivados. Dentre os pratos mais tradicionais da leiteria estão o mingau de aveia, o arroz-doce, a coalhada e as torradas Petrópolis. Na época da inauguração, a Leiteria servia café da manhã e almoço e tinha um balcão onde eram vendidos produtos derivados de leite, como queijos e manteigas. Atualmente a casa não vende mais no varejo. No entanto, os derivados de leite continuam no cardápio.
Ao Bandolim de Ouro Av. Marechal Floriano, 52, Centro É uma das lojas de música mais tradicionais do país. Fundada em 1929, o Ao Bandolim de Ouro foi frequentado por músicos, como Pixinguinha, Noel Rosa, Paulinho da Viola e Jorge Aragão. Até hoje a casa ministra aulas de instrumentos e, nas manhãs de sábado, ocorre a tradicional roda de choro. Além da venda de instrumentos e de acessórios musicais, o local comercializa instrumentos de fabricação própria: violões, cavaquinhos e bandolins da marca Do Souto, sobrenome da família proprietária.
Chapelaria Alberto Rua Buenos Aires, 73, Centro A loja chegou ao Rio de Janeiro em 1907. Era uma das chapelarias mais elegantes da cidade, com vitrines de madeira. Foi a primeira loja a ter um letreiro luminoso e veio a abrir filiais. Em 1947, após uma reforma, passou a vender artigos finos para homens. Teve clientes ilustres, como Vinícius de Moraes e o rei Alberto da Bélgica.
Charutaria Syria Rua Senhora dos Passos, 180, Centro A charutaria é comandada por Emne Al Hajes, neta do primeiro proprietário, o imigrante sírio Ali Hajes. Após vender caixas de fósforo na rua, o sírio trouxe a família para o Brasil e abriu a charutaria. Durante reforma, em 2004, foi descoberto um painel publicitário da marca de fósforos Olho, pintado em 1932. Restaurado, o painel permanece na loja, que conta com um pequeno bistrô desde 2007.
Chapelaria Porto Rua Senador Pompeu, 94, Sobrado, Centro
Confeitaria e restaurante Cirandinha Av. Nossa Senhora de Copacabana, 719, Copacabana Inaugurada em 1957 por imigrantes espanhóis,a confeitaria é famosa pelo serviço de chá. Um maître que trabalhou na casa por 40 anos virou proprietário. O cardápio e a decoração originais foram mantidos, e os pratos tradicionais continuam no cardápio.
Confeitaria La Marquise Rua Carvalho de Mendonça, 29, Copacabana Inaugurada em 1950, a confeitaria é administrada pela mesma família de descendentes italianos há 45 anos. Todos os doces são de fabricação própria, e os proprietários são os responsáveis pela cozinha do estabelecimento. Até 1988, a Confeitaria La Marquise era responsável pela produção dos doces servidos no Copacabana Palace.
Os chapéus panamá são a especialidade da loja fundada em 1880. O famoso chapéu de Zé Keti foi confeccionado no estabelecimento. Após comprar a palha do Equador, os fabricantes engomam, passam, dobram e cortam o material e dão forma aos elegantes chapéus. A administração da loja foi assumida por Vanusa, filha do proprietário, Seu Miguel. A partir daí, o local começou a vender produtos para o gênero feminino. Atualmente a loja investe em novas áreas, como roupas masculinas e femininas. A chapelaria produz muitos chapéus para escolas de samba e cultos religiosos. São os únicos chapeleiros da cidade que ainda customizam e consertam chapéus artesanalmente.
Tabacaria Africana Praça XV, 38, Centro Inaugurada em 1846, a loja é administrada por Isaac, neto dos portugueses que compraram a charutaria na década de 20. Com um público predominantemente masculino, a loja teve clientes especiais, como Getúlio Vargas.
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Congresso Nacional de Sexologia
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TERRA BRASILIS • AGENDA
Hiperativo com Paulo Gustavo
Performance Poética
Lucas Domso, Dani Brescianini e o hilário Charles Paraventi se juntam para a apresentação da comédia que tem como plano principal um assunto que desperta a curiosidade de homens e mulheres: o sexo. O congresso que dá nome à peça serve de pretexto para enquetes em que o assunto é abordado. O comportamento sexual, as diferenças de gênero e as relações humanas são tratados no formato de um congresso sério e importante. Será que isso vai dar certo? Com texto gostoso e atuações surpreendentes, a peça tem os ingredientes certos para agradar ao público.
O espetáculo revela os dilemas da vida, as minúcias, as sutilezas e as dificuldades cotidianas. Em um tipo de confessionário diante da plateia, o comediante Paulo Gustavo leva o público ao ataque de risos ao falar sobre aspectos da vida comum, como a forma de administrar medos, a convivência com as pessoas, a vida afetiva na pós-modernidade e muito mais. O ator revela como é complicado se inserir em um mundo cada vez mais excêntrico. Ao mesmo tempo, o artista provoca a plateia a perceber como são engraçadas algumas situações da vida.
Nessa performance, Arnaldo Antunes explora possibilidades rítmicas e da linguagem poética. O cantor fala, berra, canta, entoa e sussurra, acrescentando, com esses recursos vocais, múltiplas sugestões de sentidos que dialogam com os poemas em si. Em algumas peças, Arnaldo sampleia a própria voz ao vivo, sequenciando várias camadas de loops, que se sobrepõem enquanto vão sendo executados. O resultado são ambientes sonoros variados em que a palavra protagoniza a cena em atrito com os sons. Imperdível!
Teatro Bradesco 7 e 8 de agosto, às 21h R$ 60 (inteira) teatrobradescobh.com.br
Grande Teatro do Palácio das Artes 13 de agosto, às 19h e às 21h30 R$ 120 (inteira) fcs.mg.gov.br
Sesc Palladium 26 de agosto, às 20h Entrada franca sescmg.com.br
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TERRA BRASILIS • AGENDA
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R$
Por trecho.
Bibi Ferreira canta Sinatra A cantora e atriz presta uma homenagem a Frank Sinatra no ano do centenário do cantor. Além dos clássicos que marcaram gerações na voz também marcante de Sinatra, Bibi vai apresentar as interpretações dele a canções de Tom Jobim. A cantora estará acompanhada de um quinteto sob a regência do maestro Flávio Mendes, parceiro de décadas da artista, e do mestre de cerimônias do show, Nilson Raman. Teatro Sesiminas 15 de agosto, às 20h, e 16 de agosto, às 19h fiemg.org.br
BETIM R$36,05 (HORÁRIOS ESPECIAIS VIA FIAT)
Por trecho.
WI-FI Divulgação
Erasmo Carlos Sesc Palladium 9 de agosto, às 20h Inteiras a partir de R$ 40 sescmg.com.br
O “Tremendão” sobe ao palco do Palladium para um show inesquecível. Com 50 sólidos anos de carreira, o roqueiro símbolo da Jovem Guarda apresenta o show de promoção do álbum “Gigante Gentil”. O novo trabalho é composto por composições próprias e participações especiais. É uma oportunidade a mais para apreciar um dos maiores cantores brasileiros de todos os tempos.
TEL.
AR
3224 1002
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CRÔNICA
Joanita Gontijo Comportamento
Pshiii, comporte-se! A aprovação no concurso público foi comemorada por toda a família. Ela teria que se mudar de cidade, ficar longe dos pais pela primeira vez na vida, criar círculos de amizade, mas nada disso parecia assustador diante da conquista. Seria promotora de Justiça num município de porte médio no Interior de Minas Gerais. Quinze dias depois, estava de malas prontas para a mudança. A primeira impressão da nova casa foi a melhor possível. As várias praças e os parques convidavam a passeios bucólicos. Os shoppings e o comércio intenso da área central eram a saída perfeita para matar a saudade urbana de quem tinha nascido na capital. O apartamento alugado num prédio com vários vizinhos lhe parecia uma boa oportunidade para não se sentir sozinha. Uma semana... duas... três... e não houve sequer um convite para sair, nada de happy hour com os colegas do trabalho e nenhum número novo na agenda do celular. Beth torcia para que fosse chamada ao menos para a reunião de condomínio... Quem sabe conseguiria, na ocasião, iniciar uma amizade? Não era fácil escalar a muralha que protegia os moradores daquela cidade de forasteiros simpáticos. Beth cumprimentava efusivamente o porteiro do prédio, a secretária, o estagiário e os colegas de trabalho. Quanto mais aprazível e alegre era, mais frias eram as reações. Comentou o fato com a família e os amigos. Alguns já tinham ouvido boatos sobre a falta de hospitalidade por aquelas bandas. Beth decidiu mudar o comportamento. De falante passou a evasiva. De interessada , tornou-se displicente. O olhar, antes agradável, ganhou certa arrogância. E qual 50 | www.voxobjetiva.com.br
não foi a sua surpresa em perceber que aquela postura alterou o clima a sua volta! Como abutres acostumados à carniça e não às frutas frescas, os nativos preferiam sua indiferença a sua consideração. E assim se passaram dois meses, muitos chopes, algumas festas, um pretendente, dois piqueniques na cachoeira e... o mesmo vazio no peito. Beth tinha amigos, mas para isso, teve que abrir mão de sua melhor característica: a espontaneidade. Vivia num teatro de horrores, fazendo-se de antipática pra merecer o respeito alheio. O custo era alto demais e ela decidiu não mais pagar essa conta. Despiu a carcaça da prepotência e deixou seu rosto sorrir, muitas vezes e para todos. As reações foram imediatas. Do vizinho bonitão ao estagiário tresloucado, todos a olhavam como se aquela simpatia fosse um atestado de carência. Beth não se importou. Como uma mãe que ensina bons modos ao filho, ela pretendia mostrar àquela gente que gentileza é o que gera gentileza. Nesse caso, não cabiam castigos nem puxões de orelha. Teria que educar pelo exemplo. E deu certo! Nem todos nem tantos entenderam o recado, mas os que escolheram se alegrar com a alegria de Beth tornaram sua vida mais afável. Somos todos professores e alunos nesse mundo e nas aulas de intolerância. Só nos resta resistir com a nobreza do sorriso.
Joanita Gontijo Jornalista e autora do livro “70 dias ao lado dela” joanitagontijo@yahoo.com.br
O MOVE já melhorou a vida de muita gente. E agora o que vai melhorar é a sua proteção.
Prefeitura MOVE 1 ANO O MOVE de Belo Horizonte está completando 1 ano transportando cerca de meio milhão de passageiros por dia com mais conforto, rapidez e economia. E agora o MOVE vai melhorar também a sua proteção. A Prefeitura está colocando equipes de vigilância 24 horas, sete dias por
semana, em todas as estações do MOVE de BH. Ou seja, mais segurança e tranquilidade para quem usa o transporte na capital. Faça você também a sua parte e cuide do que é de todos nós. Um transporte coletivo com mais conforto, rapidez e segurança. É assim que a gente faz a melhor capital do Brasil.
CONFORTO
RAPIDEZ
ECONOMIA
Antônio Pedrosa
Marcos Aguiar
Marilene Martins Terrinha
Morador do Bairro Etelvina Carneiro
“Pego o MOVE na Estação Vilarinho e gasto em torno de 25 minutos até o Centro. É uma terapia, pois os ônibus são realmente muito confortáveis.”
Morador do Bairro Santa Mônica
“Do Centro até o Santa Mônica, eu gastava 1 hora e 10 minutos. Com a chegada do MOVE, hoje eu gasto meia horinha.”
Para saber mais, ligue 156 ou acesse www.bhtrans.pbh.gov.br
Moradora do Bairro Vitória
“Do Bairro Vitória até a Estação São Gabriel, gasto de 20 a 30 minutos e, da Estação São Gabriel até o Centro, no máximo 20 minutos, e gasto só uma passagem.”
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