Vox 75

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Outubro/15 • Edição 75 • Ano VIII • Distribuição gratuita

SOTAQUE BRAZUCA O ala-armador Leandrinho e o cobiçado troféu da NBA, conquistado pelo Warriors

O maior torneio do basquete mundial vai começar. De olho na NBA, brasileiros querem repetir bons resultados e chegar com força total às Olimpíadas do Rio

BELEZA HELÊNICA Por quê, mesmo em crise, a Grécia continua sendo um destino imperdível na Europa?

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PRIMEIROS PASSOS - O ESTÍMULO AO EMPREENDEDORISMO EM ÁREAS CARENTES DA CAPITAL


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EDITORIAL O preço das incertezas Nada é pior para um país do que um tempo de incertezas contínuo e que se prolongue sem previsão de término ou de acordo entre os líderes da nação. A inexistência de cenários positivos é o princípio de uma falência institucional. Arrastados em meio a um turbilhão de vaidades políticas e de luta pela sobrevivência dos mandatos mergulhados em escândalos de corrupção, os brasileiros pagam a conta da recessão.

Carlos Viana Editor Executivo carlos.viana@voxobjetiva.com.br

“... O povo que conhece o seu Deus se tornará forte e ativo.” (Daniel 11:32)

A Vox Objetiva é uma publicação mensal da Vox Domini Editora Ltda. Rua Tupis, 204, sala 218, Centro, Belo Horizonte - MG CEP: 30190-060

Sem políticas de incentivo industrial nem melhoras na qualidade da educação pública, perdemos 18 posições no ranking mundial de competitividade. Como consequência, o Brasil deve ser cada vez mais preterido nos investimentos internacionais e na geração de postos de trabalho e de riqueza. O desemprego deve crescer e vamos enfrentar uma piora desnecessária na qualidade de vida. Desnecessária, porque a crise é interna, resultante de decisões erradas, do descontrole das contas públicas e da paralisia política que envolve a disputa entre Dilma Rousseff e o Congresso. Enquanto a economia mundial deve crescer entre 2% e 3% este ano, o Banco Central prevê uma redução perto de 2,5% no PIB. O cenário recessivo que colocaria em desequilíbrio qualquer economia desenvolvida, para nós torna mais difícil superar os grandes desafios ainda não vencidos na área social e no combate à pobreza. É urgente que os políticos brasileiros entrem em acordo e que a indefinição econômica dos últimos meses seja substituída o mais rápido possível por propostas que ajudem a retomar o desenvolvimento econômico. Os erros cometidos no primeiro mandato de Dilma devem ser investigados e corrigidos. Seria muito bom que campanhas políticas baseadas em omissões e mentiras fossem classificadas como “crimes eleitorais”. Assim não se repetiriam em qualquer tempo. A crise brasileira é resultado da falta de credibilidade política - fruto amargo da nossa incompetência.

Editor adjunto: André Martins l Diagramação e arte: Felipe Pereira | Capa: Getty Images l Reportagem: André Martins, Érica Fernandes, Gisele Almeida, Haydêe Sant’Ana, Leo Pinheiro, Miriane Barbosa, Tati Barros | Correspondentes: Gisele Almeida - Estocolmo | Diretoria Comercial: Solange Viana | Anúncios: comercial@voxobjetiva.com.br / (31) 2514-0990 | Atendimento: jornalismo@voxobjetiva.com.br (31) 2514-0990 | Revisão: Versão Final l voxobjetiva.com.br

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OLHAR BH

O eclipse lunar Foto: Camila Mendes |5


SUMÁRIO 17

Divulgação / C&A

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Felipe Pereira

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Miriane Barbosa

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Felipe Pereira

VERBO

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ROBSON SÁVIO Cientista social lança livro que disseca a estrutura da Segurança Pública no Brasil

SALUTARIS

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METROPOLIS

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DEDURAGEM

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EMPREENDEDORISMO NO MORRO

A delação premiada é a melhor alternativa para chegar à verdade nas investigações?

População de aglomerados recebe capacitação para abrir o próprio negócio

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GINÁSTICA NO CIRCO Quando se exercitar passa a ser uma fonte de prazer e ludicidade

ARTERIS

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PEQUENOS E ESTILOSOS Crianças movimentam a indústria da moda kids ao trocar brinquedos por roupas e assessórios

CAPA

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Os brasileiros no maior torneio de basquete do mundo


Gisele Almeida

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Getty Images

Cidade Olimpica/Divulgação

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I Hate Flash

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HORIZONTES

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METEOROLOGIA • Ruibran dos Reis

GRÉCIA

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IMOBILIÁRIO • Kênio Pereira

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PSICOLOGIA • Maria Angélica Falci

A suntuosidade arquitetônica e as praias paradisíacas de um país em conflito

KULTUR

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FOI SHOW! O que reservam as próximas edições do maior festival de música do mundo: o Rock in Rio?

ARTIGOS

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JUSTIÇA • Robson Sávio O engodo das prisões

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A influência do El Niño nas guerras civis

O dever de devolver o dinheiro do comprador

O castelo protetor

CRÔNICA • Joanita Gontijo Qual é a cara da sua vitória?

SAPORIS

RECEITA – Buffet Pizza diMaio Pizza de maracujá

VINHOS – Nelton Fagundes Vinhos rosés: a cor da primavera

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VERBO

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De quem é a responsabilidade? Manifestações, a busca pela segurança pessoal e patrimonial, a justiça sendo feita pela própria sociedade. A insatisfação com o poder público leva cidadãos a ações desesperadas em busca de justiça e proteção Haydêe Sant’Ana Fotos de Felipe Pereira iante do medo e da violência que assolam o país, muros altos, câmeras e cercas elétricas são artifícios de segurança privada muito requisitados. Quando a violência ataca desprevenidamente, atitudes radicais de fazer justiça com as próprias mãos têm sido práticas recorrentes. Num país em que o Estado não consegue garantir a segurança pública e não a trata como prioridade, uma pergunta se torna pertinente: Quem comanda a segurança pública no Brasil? Professor, pesquisador e coordenador do Núcleo de Estudos Sociopolíticos (Nesp) da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC), Robson Sávio Reis Souza tem uma extensa trajetória marcada por experiências na área de políticas públicas; política, direitos humanos e movimentos sociais e eclesiais. As observações ao longo de anos foram condensadas no livro “Quem comanda a segurança pública no Brasil”, recentemente lançado pela Editora Letramento. Em entrevista exclusiva à Vox Objetiva, Souza, que também é associado do Fórum Brasileiro de Segurança Pública e conselheiro titular do Conselho Estadual dos Direitos Humanos de Minas, trata de aspectos analisados na obra que é o primeiro estudo dedicado à política nacional

de segurança pública no Brasil democrático. No Brasil há uma transferência de responsabilidade na área da segurança do Estado para a sociedade? Em relação à segurança pública, nós temos uma série de problemas crônicos: altos indicadores de crime, baixa eficiência dos sistemas de segurança pública - Ministério Público, polícias, Sistema Judiciário, Sistema Penitenciário. Ao mesmo tempo, nós temos uma indústria de segurança privada que tenta suprir as deficiências da política de segurança pública que são oferecidas de forma diferenciada pelo Estado. Os índices de homicídios e mortes são muito maiores entre os jovens pobres e negros do que, por exemplo, entre pessoas da classe média e ricos. Enquanto a classe média demanda segurança pública para melhorar um pouco a proteção ao patrimônio, os pobres precisam da segurança para garantir a vida. A classe média e os ricos entendem que segurança privada é colocar muros, fazer seguros, que isso vai resolver o problema da segurança pública. E isso não resolve. Por outro lado, os pobres, os que mais precisam do Estado para garantir a segurança, são mais vítimas desse modelo, porque a ação policial nos aglomerados urbanos é marcada pela violência e discricionariedade. Então há uma tendência de o Esta-

do - e isso ocorre nos três níveis de governo - não assumir as responsabilidades. Existe um jogo de empurra na responsabilização pela segurança entre municípios, estados e o governo federal? Sim. A União empurra para os estados, e os estados empurram para os municípios e vice-versa. E há outros dois complicadores: a segurança pública se relaciona com a efetividade da justiça brasileira, e a nossa justiça é muito seletiva e lenta. Existe uma demanda na sociedade por mais segurança, mas a forma de ação é muito discricionária. As pessoas acham que mais segurança significa mais polícias, mais prisões e mais repressão. O problema da segurança pública demanda uma série de ações do Poder Público, não somente ação policial. Existe uma negligência ou um desinteresse em criar um sistema que garanta a segurança pública no país? Nós temos uma estrutura de segurança pública no Brasil que não muda. É um modelo eminentemente policial, voltado para a repressão e não prevenção do crime. Os governos não têm coragem nem determinação para reformar a política de segurança pública. Depois os legisladores do Congresso Nacional, das Assembleias


VERBO estaduais e das Câmaras Municipais, que poderiam atuar modificando as legislações, sempre atendem a pressões populistas que querem mais prisões, armamentos, policiais em vez de estruturar uma política de segurança. Dentre os presos no Brasil, 70% são jovens na faixa etária de 18 a 45 anos, pequenos usuários de drogas, microtraficantes e pessoas que cometem crimes contra o patrimônio. Não são necessariamente pessoas perigosas. Nós somos a quarta maior população prisional. Além disso, as corporações policiais têm grandes associações que fazem lobby no Congresso e não permitem que reformas estruturais sejam feitas. As corporações são poderosíssimas, principalmente os setores do oficialato das polícias militares e dos delegados da Polícia Civil hierarquicamente superiores: eles não querem mudanças, apesar de as bases, as praças e as polícias militares e os agentes da Civil desejarem mudanças porque esse modelo é muito ruim para as bases, mas é muito bom para as cúpulas. A sociedade está acostumada a combater violência com mais violência. Em vez de pensar a segurança como um direito, como tem o da saúde e o da educação, pensa que a segurança é um problema de polícia. Quando se fala em melhorar a segurança pública, todos se contentam com a ideia de mais viaturas, mais polícias e mais prisões - é por isso também que a nossa mídia conservadora clama. No entanto, quanto mais aumenta o número de prisões, de policiais, de armamento, mais aumenta a criminalidade. Muitos países mudaram a forma de punição, adotando medidas de suplício para reduzir as prisões. Isso poderia ser implantado no Brasil? A Inglaterra e os outros países começaram a investir numa política de prevenção da criminalidade e apostar em penas e medidas al10 | www.voxobjetiva.com.br

ternativas para as pessoas que não oferecem risco social. Os presos lá são indivíduos que realmente oferecem perigo. E mesmo assim, o Estado investe muito na reinserção social dos presos. O Brasil faz justamente o contrário: investe pouco na prevenção, aumenta o sistema prisional, cria uma criminalidade que comanda o crime de dentro das prisões e o sistema prisional é cada vez mais dispendioso. A questão é esta: o sistema prisional é jogar dinheiro numa política que não funciona. Se nós queremos resolver, é preciso reformar. No Brasil está tramitando um projeto na Câmara dos Deputados para permitir o armamento. Liberar o porte seria solução? Eu tenho um colega do Instituto de

Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) chamado Daniel Cerqueira que fez uma pesquisa em todos os países sobre a questão do armamento. E o resultado é: mais armas, mais crimes. Primeiro, no Brasil, existem cerca de 16 milhões de armas sem nenhum tipo de controle. Ao contrário do que as pessoas pensam primeiro: a arma não é nenhum tipo de segurança. A chance de uma pessoa armada ser vítima num assalto é quatro vezes maior do que se ela não estiver armada. Até de um policial ser mais vítima, dependendo do tipo de crime, a chance aumenta, ou seja, arma não é fator de proteção. E mais do que isso, alguma coisa em torno de 40% dos cerca de 55 mil crimes no Brasil são chamados de motivação fútil, isto é, uma briga no trânsito ou uma briga no vizinho ou uma briga entre marido e mulher


VERBO

Nós temos uma estrutura de segurança no Brasil que não muda. É um modelo eminentemente voltado para a repressão e não prevenção do crime

que acaba virando homicídio porque as pessoas têm uma arma. Seu livro faz um apanhado do governo FHC e do governo Lula sobre as mudanças na segurança pública. Em qual dos governos observa-se um significativo avanço em melhoria na área? Avanços aconteceram em ambos os governos, mas não houve reformas estruturais. Ajustes foram feitos. É claro que se não tivessem sido feitos, a situação poderia ser pior, mas não resolveu o problema da segurança. Se há uma mudança, é de perspectiva. O antropólogo e ex-secretário nacional de segurança pública, Luiz Eduardo Soares, expõe isso no prefácio do meu livro. Saímos de um modelo militar, havia resquícios disso no governo Fernando Henrique Cardoso, e passamos para um modelo mais civil, isto é, a política passa a ser geren-

ciada menos por um viés das forças armadas para um viés de participação dos civis. Já no governo Lula, o sistema passa de um viés mais civil para um conceito mais cidadão, com mais participação popular na política. Então houve uma mudança, digamos, de orientação. Não obstante, como essas mudanças não atuaram na reforma do modelo principalmente policial e prisional, essas pequenas alterações não redundaram em grandes modificações, em diminuição das taxas de crimes e no aumento da efetividade de segurança pública. O governo Dilma acompanha a linha dos governos anteriores? O governo Dilma mantém, mais ou menos, o padrão anterior. Ele é um governo que não teve nenhuma modificação substantiva, mas que também não desconstruiu esses dois padrões. O Ministro da Justiça José Eduardo Cardoso declarou que o governo federal vai enviar uma proposta de emenda constituição reformando o artigo 144. Se isso for feito, haverá uma mudança estrutural porque, desde a Constituição de 1988, é mantido o modelo da segurança pública como dever do Estado e dividindo as atribuições. A lógica dos governos de esquerda é muito parecida com a dos governos de direita: não mexer com a segurança pública. O governo Dilma repete um pouco essa ação titubeante e cambiante dos governadores e dos presidentes, sinal que querem modificar, mas na hora de agir, chama a polícia, como aconteceu na Copa das Confederações. Muitas pessoas falam na unificação das polícias como solução para o combate à violência. O que você acha dessa estratégia? Eu não creio na unificação das polícias como elas existem hoje. São duas instituições totalmente diferentes, de tamanhos diferentes, que

foram pensadas para agir de formas próprias. Uma investiga; a outra faz a polícia de repressão e prevenção e oferece para a Justiça o resultado do trabalho. As duas disputam institucionalmente quem tem mais poder, mas não conseguem integrar as atividades. Elas têm concepções de segurança pública totalmente diferentes. O que se discute é um modelo de polícia, não de unificar as polícias, mas o que chamamos de polícia de ciclo completo. Seria uma polícia de base metropolitana que atuaria em crimes contra a vida e outra que atuaria em crimes contra o patrimônio. Mas cada polícia faria todo o trabalho policial: investigação, repressão e prevenção, dando mais agilidade ao trabalho policial, com menos competição e mais efetividade para a justiça agir. Pedidos de intervenção militar, linchamentos por todo o Brasil,... Como você interpreta isso? São pedidos desesperados por segurança? O linchamento está relacionado com o total descrédito das pessoas com o Estado, o Poder Público e a Justiça. O Estado, o Legislativo e a nossa ordem social não inspiram crédito nas pessoas. Isso tem que ser restabelecido. Quem pede a ditadura militar é quem sempre teve seus interesses protegidos não como direito, mas como privilégios e querem mantê-los. Então não há nenhum sentido de democracia; é um absurdo tão grande que até as Forças Armadas têm dito e reiterado que eles não vão interferir na ordem democrática. Nos últimos anos, casos que chocaram a população, como casos de chacina, o casal Nardoni, entre outros, o Poder Público, em vez de reformar o modelo atual, dá respostas pontuais e demagógicas. O problema é que a sociedade acredita que mais leis duras, mais prisões resolvem e, com o tempo, as pessoas se esquecem daquilo. Só quando acontece outro problema é que vai ter outra demanda. | 11


Fabio Rodrigues Pozzebom / Agência Brasil

METROPOLIS

ABERTA A NEGOCIAÇÕES Juristas analisam a delação premiada, o instrumento investigativo que usa os criminosos para fazer justiça André Martins

expressão é diferente e anda às voltas nos noticiários de TV, jornais e revistas do Brasil. A delação premiada, muito comentada nas investigações da Operação Lava Jato, da Polícia Federal, é um artifício jurídico que prevê benefícios a coautores de crimes dispostos a revelar informações que levem a outros autores de um processo criminal. A diminuição da pena, de um a dois ter-

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ços, ou até mesmo o perdão judicial pode ser concedido a quem decida cooperar com a Justiça. O vice-presidente do Instituto dos Advogados de Minas Gerais (IAMG), Felipe Martins Pinto, explica que existem várias situações em que a delação pode ser empregada, mas é a respeito da Lei de Organizações Criminosas (12.850/13) que existem mais detalhes. “Nesse caso, a

delação pode ser usada para identificar os demais coautores e partícipes da organização criminosa e as infrações penais por eles praticadas; revelar a estrutura hierárquica e a divisão de tarefas da organização criminosa; prevenir as infrações penais decorrentes das atividades da organização criminosa; recuperar total ou parcialmente o produto ou o proveito das infrações penais praticadas pela


METROPOLIS

Pivôs do escândalo, Youssef e Costa participam de acareação na CPI da Petrobras

organização criminosa e localizar o paradeiro da vítima com a sua integridade física preservada”, esmiúça.

tras, a Lei dos Juizados Especiais (Lei 9.099/95) inovou ao prever institutos como a transação penal (acordo entre suposto autor do fato e Ministério Público) que também trabalham com a ideia de Justiça Penal negociada. E assim o instituto se difundiu por leis extravagantes até a publicação da lei que trata da

de cavalheiros’ no crime organizado dos poderosos, envolvendo políticos, empreiteiras, empresários, financistas e altos funcionários públicos”, aponta. Não fosse a possibilidade da delação premiada, as investigações da Operação Lava Jato poderiam estar

Por meio de delatores, o maior esquema de corrupção do país descoberto até o momento tem sido paulatinamente desmantelado. Até o momento, mais de 20 pessoas aceitaram os termos da delação premiada e depuseram na Justiça Federal. Desde 17 de março de 2014, a PF investiga políticos e empreiteiras envolvidos em um desvio bilionário na maior empresa brasileira, a Petrobras. A primeira de muitas delações da Lava Jato foi homologada pelo juiz federal Sérgio Moro em 24 de setembro de 2014 e envolvia Luccas Pace Júnior, subordinado de uma suposta doleira. Pace foi acusado de crimes financeiros, lavagem de dinheiro e associação criminosa. Após a homologação da delação de Pace, seguiram-se as de duas peças-chave das investigações: a do ex-diretor de abastecimento da Petrobras, Paulo Roberto Costa, e a do doleiro Alberto Youssef, considerado o chefe do esquema. A possibilidade da Justiça colaborativa ou negociada tem origem na Justiça Americana. Segundo Pinto, acordos de cooperação dessa natureza têm sido cada vez mais utilizados por lá, vindo a influenciar no Direito Processual Penal brasileiro. “No Brasil, a promulgação da Lei de Crimes Hediondos (Lei 8.072/90) previa um tipo de delação premiada, com redução de pena para o participante ou associado que denunciasse à autoridade a quadrilha ou o bando, possibilitando seu desmantelamento. Dentre ou-

Para o desembargador Wanderlei Salgado de Paiva, a delação premiada contribuiu para agilizar as investigações da Lava Jato

colaboração premiada nas organizações criminosas citadas”, detalha. O jurista e presidente do Instituto Avança Brasil, Luiz Flávio Gomes, considera o momento, em que a delação se “encontra” com a operação Lava Jato, um marco na Justiça do país. “Assim foi rompido o ‘acordo

atrasadas. É nisso que acredita o desembargador Wanderlei Salgado de Paiva. Na opinião do magistrado, a delação é uma alternativa que, embora polêmica, é legítima. “Quando o Ministério Público (MP) e a PF oferecem a delação premiada, é porque há alguma prova que envolva o potencial delator. Hoje os advogados também têm cooperado com isso. Sabendo-se que o cliente pode ser beneficiado ao entregar alguém, leva-o ao MP, à PF, o juiz

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METROPOLIS

toma por termo e depois homologa essa delação premiada. Então eu acho que é um instrumento jurídico válido e que veio para ajudar a desarticular essas organizações criminosas”, opina Paiva. Um dos princípios da delação premiada é que os delatores decidam, por espontânea vontade, contribuir com informações que favoreçam as investigações. É nesse ponto que reside uma das polêmicas no emprego dela pela Justiça, já que, no caso da Lava Jato, diversas pessoas foram presas sem sequer serem denunciadas, como expõe o professor de Direito Penal da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC-MG), Leonardo Costa Bandeira. “Não me parece que quem esteja submetido a uma prisão tenha condições de prestar um depoimento voluntário. Há uma pressão psicológica; há uma coação por parte do Estado. Se a gente pegar exemplos dessa operação Lava Jato, nós vamos ver, inclusive, pessoas que foram presas equivocadamente. Há também pessoas que foram presas e não foram sequer denunciadas. Então isso é muito grave”, opina. Para Bandeira, a delação premiada não é a melhor ferramenta para obter a verdade dos fatos. Ele entende que há um conflito ético na utilização desse instrumento nas investigações. “A delação premiada se baseia numa traição. Um indiví-

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duo, que é partícipe em uma organização criminosa, aponta pessoas envolvidas como ele para ter algum benefício. Há um problema ético de o Estado lançar mão desse instrumento. Não há também um limite; não tem como controlar. Na possibilidade de ter um benefício, o investigado pode ser tentado a falar algo que eventualmente não seja procedente. Então eu tenho reser-

Na visão do vice-presidente do IAMG, Felipe Martins Pinto, a autonomia dos órgãos investigativos é um dos principais fatores que têm dado novos contornos à Justiça brasileira

vas quanto à questão ética relativa a esse instituto”, esclarece. Em agosto, quando participou de um seminário na Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), em São Paulo, o juiz Sérgio Moro defendeu a delação premiada, rejeitada em muitos escritórios de advocacia por ser considerada antiética. Segundo ele, a delação pressupõe uma traição, mas uma traição entre

criminosos. O magistrado também ressaltou a necessidade de as provas serem consolidadas e estarem em consonância com os autos do processo. Na opinião de Gomes, a delação premiada pode representar um novo paradigma para as investigações no Brasil. “A soma da delação premiada, do rompimento do silêncio da máfia, da produção rápida das provas e a atuação de Sérgio Moro está fazendo com que a Justiça ande muito mais velozmente. Pela primeira vez na nossa história, todos esses fatores estão se combinando”, analisa Gomes. Não é a mesma opinião que tem Pinto. Para ele, não são propriamente os mecanismos utilizados nas investigações que têm tornado os processos judiciais no Brasil mais céleres. Para o jurista, esse novo cenário é reflexo de um longo processo. Ele cita o fortalecimento e a autonomia dos órgãos policiais e do Ministério Público, bem como a incorporação da tecnologia e da infraestrutura a essas instituições como fatores que contribuem para tornar a Justiça mais efetiva. “Além disso, nas últimas décadas, houve mudanças significativas nas legislações do Brasil, que também passaram a tratar, com maior rigor, os crimes de colarinho branco, como a lavagem de dinheiro, os crimes financeiros e a corrupção”, finaliza.


ARTIGO

Robson Sávio Justiça

O engodo das prisões Nas últimas décadas observamos uma grande expansão do sistema prisional no Brasil. O crescimento da população de presos em 20 anos foi de 450%. Considerando-se os países com maior população prisional, nessas duas décadas os Estados Unidos aumentaram em 77% o número de presos, a China, 31% e a Rússia, 17%. Não obstante o aumento no número dos presos, as taxas de crimes violentos no Brasil continuam elevadíssimas, e as condições insalubres e geradoras de violência no sistema prisional não foram superadas. Atribui-se a essa situação a criação da maior organização criminosa da atualidade: o Primeiro Comando da Capital (PCC). Ademais, a reincidência criminal continua em patamares também altíssimos. Prende-se muito; prende-se mal; gasta-se muito dinheiro público, e os resultados são insatisfatórios. Examinando detidamente a situação brasileira, além obviamente do aumento da criminalidade violenta a partir da década de 80, três fatores alimentam a expansão prisional: o tradicionalismo penal/punitivo; a ineficiência na reinserção social do condenado, gerando a reincidência, e os presos provisórios. Esses três grandes fatores, imbricados, alimentam a expansão e a reprodução de um sistema prisional, congregando os aspectos mais amplos da cultura punitiva brasileira: “mais sensível” aos atos delitivos cometidos por pessoas pertencentes a grupos ou classes sociais em situação de desvantagem socioeconômica. Os investimentos na ampliação do número de vagas prisionais geralmente se baseiam em argumentos relacionados com problemas de aumento da criminalidade e da impunidade dos agressores, bem como os gerados pela superlotação de cadeias e por rebeliões e fugas. A situação prisional brasileira, além de produzir uma pressão sobre o próprio sistema, reper-

cutindo numa expansão desmedida da estrutura prisional, torna-o perverso, basicamente punitivo e incapaz de promover aos condenados a possibilidade de retorno ao convívio em sociedade. Outro revés decorrente da ineficiência para a reabilitação dos condenados é justamente o de tornar a criminalidade um problema crônico, gerando ônus social de todas as ordens e em ritmo crescente como uma bola de neve. De modo geral, a pena prisional tem produzido muito mais um efeito punitivo de destruição da integridade do indivíduo condenado, devido às péssimas condições e às inadequações do tratamento dado aos presos, do que correcional para reconciliar a sua relação com o corpo social mais amplo. A punição deve cumprir um papel reconciliador entre sociedade e pessoa presa e, para isso, tratamentos coerentes com os princípios da Lei de Execução Penal e da Declaração Universal dos Direitos Humanos são fundamentais. É necessário também que a sociedade e a opinião pública percebam como legítimo o tratamento humanitário aos presos. Isso depende da participação da comunidade na realidade prisional, condição necessária para derrubar mitos, estereótipos e preconceitos e outras representações sociais estigmatizantes relacionadas à imagem do preso.

Robson Sávio Reis Souza Filósofo e cientista social robsonsavio@yahoo.com.br

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ARTIGO

Ruibran dos Reis Meteorologia

A influência do El Niño nas guerras civis Estudo publicado em 2001, na revista Nature, mostrava que em anos de ocorrência do fenômeno El Niño, a ocorrência de guerras civis quase duplica em mais de 90 países tropicais. As fortes correntes de ar ascendentes e descendentes que cortam a nossa atmosfera durante o El Niño normalmente intensificam as secas e as chuvas em determinadas regiões do planeta. Diante de fenômenos climáticos severos, os governantes têm mais dificuldades para impor a lei. Pode-se citar a influência da conexão entre violência e El Niño em países como El Salvador, Filipinas e Uganda, que tiveram conflitos em 1972; Angola, Haiti e Mianmar, em 1991; e Congo, Eritreia e Ruanda, em 1997.

Segundo a pesquisadora do Serviço Meteorológico da Alemanha (DWD), Lydia Gates, o El Niño continua sendo uma anomalia na região equatorial, mas uma anomalia de larga escala que abrange uma parte ampla da circunferência do globo. Eventos que começam no oceano e se conectam à atmosfera são transmitidos a longas distâncias por padrões de ondas e anomalias.

... está previsto para os meses de primavera e verão no Hemisfério Sul de 2015 o El Niño mais intenso dos últimos 65 anos

O fenômeno El Niño ocorre quando as temperaturas da água do oceano Pacífico, na costa do Peru e do Equador, ficam ligeiramente acima da média histórica. O nome El Niño é dado a esse fenômeno em alusão ao menino Jesus, pois o fenômeno tem sua maior intensidade no final do mês de dezembro. Atualmente o fenômeno está ganhando força e, segundo alguns pesquisadores americanos, está previsto para os meses de primavera e verão no Hemisfério Sul de 2015 o El Niño mais intenso dos últimos 65 anos. Os últimos El Niño que tiveram forte intensidade ocorreram nos períodos 19821983 e 1997-1998.

Ruibran dos Reis

31 8685-3955 • 31 9920-8787

adrianomrsouza@gmail.com 16 | www.voxobjetiva.com.br

Diretor Regional do Climatempo e professor da PUC Minas ruibrandosreis@gmail.com


METROPOLIS

NEGÓCIOS DO MORRO Projeto social estimula o aperfeiçoamento dos serviços de 60 empreendedores de comunidades carentes de Belo Horizonte Érica Fernandes Fotos de Felipe Pereira m tempo de crise, em que a taxa de desemprego tem crescido, encontrar trabalho não é uma das tarefas mais fáceis. Para quem reside na periferia, a questão é mais complexa, uma vez que muitas empresas e a própria sociedade continuam a associar os morros à criminalidade. Alguns moradores de regiões periféricas afirmam que as entrevistas de emprego vão muito bem até o momento em que precisam apresentar o comprovante de residência. “Uma das grandes dificuldades das comunidades são os problemas de baixa autoestima e rejeição provocados pela sociedade e pelo histórico familiar”, pondera a coordena-

dora de projetos sociais da Organização Não Governamental (ONG) “Inconformados”, Mayra de Souza.

Mayra, que é pós-graduada em Gestão Empresarial com Ênfase em Responsabilidade Social.

Diante desse desafio, uma das soluções é tornar os aglomerados lugares autossustentáveis e com economias locais relevantes. Para isso, a ONG firmou parceria com o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) e resolveram unir forças para a criação do projeto “Empreendedorismo no Morro”. “Sabemos nos relacionar na comunidade, enquanto o Sebrae entende de negócios. Com essas competências, decidimos trabalhar em rede, focados no mesmo propósito”, explica

O objetivo da ação é atender 60 empreendimentos localizados em algumas das maiores comunidades de Belo Horizonte. A Pedreira Prado Lopes, o Morro das Pedras, o Taquaril/Alto Vera Cruz e o Aglomerado da Serra estão entre os contemplados. De acordo com a analista do Sebrae, Márcia Machado, outro importante objetivo do projeto é “levar aos participantes um novo pensamento a respeito do negócio cuja remodelação ocorra de forma criativa e de acordo com a necessidade do cliente”, detalha.


METROPOLIS

Aprendi muito sobre o tratamento com o público. Antes as pessoas chegavam à minha loja e ficava em pé, esperando o carro ficar pronto Sérgio de Souza, pequeno empresário

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Para tornar o ideal mencionado pela analista mais que um sonho escrito em uma folha de papel, a iniciativa oferece curso de capacitação técnica com dois meses de duração. A ideia é que, após a conclusão das aulas, consultores do Sebrae possam acompanhar os cinco empreendedores de destaque de cada região. “O projeto precisa gerar transformação e, para alcançar esse fim, é necessário tempo. Com apenas dois meses, a mentalidade não será mudada. É preciso acompanhar esses trabalhos para ver se os empreendedores têm colocado em prática o que aprenderam em sala”, concorda Mayra. REMODELANDO O NEGÓCIO Nascido e criado na comunidade Pedreira Prado Lopes, Sérgio de Souza, dono da oficina de amortecedores que leva o próprio nome, é um dos participantes que têm levado a sério os princípios que aprenderam

durante o curso entre os meses de julho e setembro. No empreendimento dele, os clientes têm direito a cafezinho, biscoito e um lugar confortável para sentar. “Aprendi muito sobre o tratamento com o público. Antes as pessoas chegavam à minha loja e ficava em pé, esperando o carro ficar pronto”, conta com a segurança de quem participou assiduamente do treinamento. A esposa do empresário, Joyce de Souza também trabalha no negócio. Ela afirma que os clientes já têm notado e elogiado as mudanças. Mayra explica que a grade curricular do projeto foi escolhida e adaptada especialmente para a dinâmica econômica e social das comunidades. A coordenadora esclarece que as práticas culturais nos morros são bem distintas de um comércio fora daquela realidade. “Nas comunidades é muito comum o pro-


METROPOLIS cedimento do ‘Fio do bigode’, que é quando o cliente vai ao estabelecimento, e o dono anota em um caderninho a dívida para depois o comprador retornar e efetuar o pagamento”, exemplifica. O Pós-Doutor em Ciências Ambientais e PhD em Gestão Armindo Teodósio aponta a informalidade e a baixa qualidade de produtos e serviços como outras particularidades do cenário econômico das comunidades. Teodósio pondera que projetos como o “Empreendedorismo no Morro” podem dinamizar processos de geração de trabalho e renda. Para ele, essa iniciativa mantém recursos financeiros em circulação na comunidade ou atrai recursos externos. Foi o que aconteceu com o negócio da decoradora de festas Magna Doridina. Ela ganhou três clientes após colocar em prática conceitos sobre marketing comercial abstraídos ao longo do curso. “Percebi a importância da divulgação do meu trabalho. Então decidi criar uma página no facebook mostrando os eventos que realizamos. As pessoas começaram a ver o que a gente cria e muita gente passou a nos procurar”, comenta a moradora do Morro das Pedras.

FALTA INVESTIMENTO Ao ser questionado sobre a necessidade de mais projetos como esse em comunidades, Teodósio explica que o maior problema não é a falta de iniciativas que promovam o empreendedorismo social, mas a falta de apoio e de investimento de empresas privadas, pessoas físicas e do poder público. “É preciso mais incentivo, não só em termos de recursos financeiros, mas de compartilhamento de recursos humanos, tecnológicos, logísticos, informacionais e de conhecimento”, opina. O mecânico Sérgio é um dos exemplos de moradores que tinham interesse de participar de cursos profissionalizantes, mas até então não tinha encontrado oportunidade. Com a recente conclusão do treinamento, ele pretende reproduzir com os adolescentes da vizinhança o que aprendeu no projeto. “Meu desejo é que, no futuro, eu possa ter menores aprendizes na minha oficina. Queria atender às pessoas da comunidade para dar oportunidade a elas de crescerem na vida”, projeta. Segundo Teodósio, no Brasil há excelentes projetos sociais que têm revelado virtudes culturais e cívicas nas comunidades de periferia. Como exemplo, ele cita a

Central Única de Favelas (CUF), com desenvolvimento de atividades físicas e culturais, a organização Asmare, atuante na área de reciclagem, o Cais, que promove a inclusão da pessoa com deficiência, e o Salão do Encontro em Betim, que proporciona a geração de trabalho artesanal e renda. Existem projetos sociais de sobra, mas enquanto não chegam os recursos que poderiam ampliar o poder de pólvora dessas iniciativas, pessoas como Mayra, que abandonou o emprego para se dedicar voluntariamente a projetos sociais, vêm persistido na crença no potencial que as comunidades guardam.

É preciso mais incentivo, não só em termos de compartilhamento de recursos financeiros, mas de compartilhamento de recursos humanos, tecnológicos, logísticos, informacionais e de conhecimento Armindo Teodósio, PhD em Gestão

Plantão 24 horas Av. do Contorno, 10.368 Barro Preto

(31) 9389-7920 (31) 2535-9977 (31) 9823-6590

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ARTIGO

Kênio Pereira Imobiliário

O dever de devolver o dinheiro do comprador Algumas construtoras criam empecilhos para devolver o dinheiro aos clientes que rescindem o contrato de promessa de compra e venda de um imóvel por culpa delas. Essa atitude abusiva motivou o Superior Tribunal de Justiça (STJ) a editar a Súmula 543, que determina: “Na hipótese de resolução de contrato de promessa de compra e venda de imóvel submetido ao Código de Defesa do Consumidor, deve ocorrer a imediata restituição das parcelas pagas pelo promitente comprador - integralmente, em caso de culpa exclusiva do promitente vendedor/construtor ou parcialmente, caso tenha sido o comprador quem deu causa ao desfazimento”. A súmula decorreu do fato de existir centenas de processos judiciais provocados pelo ato abusivo do construtor que descumpre o contrato, como não entregar a unidade no prazo ajustado ou desviar os recursos da obra e se recusar a devolver o valor pago ao comprador que solicita a rescisão do negócio. Além de o construtor descumprir a lei ao deixar de devolver o valor pago, em vários casos, insiste em descontar do crédito do comprador a multa que às vezes representava até 50% de todo o valor que foi quitado. Na realidade, quem tem direito a receber a multa rescisória que, em geral, corresponde a 10% do valor do bem, é o comprador, pois ele é a parte prejudicada pelo inadimplemento do construtor que motivou a rescisão. Os preceitos da Súmula 543 são aplicáveis na venda de lotes de condomínios fechados, quando o empreendedor deixa de instalar os equipamentos e de realizar as obras (clube, quadras, campo de golf) no prazo que prometeu, gerando assim, a frustração do comprador e a desvalorização do terreno.

20 | www.voxobjetiva.com.br

O comprador não tem que sofrer o prejuízo decorrente do loteamento que fracassou nem esperar anos para que isso seja viabilizado. É direito dele rescindir o contrato e exigir a multa contratual, bem como a devolução de tudo o que pagou de uma vez e corrigido. Diante de centenas de processos judiciais que demonstram a má-fé das construtoras e loteadoras, o STF sumulou a situação para uniformizar o entendimento em todos os tribunais do país. A medida vai resultar na maior celeridade no julgamento desses processos. Assim fica evidente a nulidade da cláusula contratual inserida pela construtora de que a devolução do valor ao comprador será em várias parcelas. A devolução deve ser realizada de uma vez, com a aplicação da correção monetária e, caso ocorra a recusa, mesmo após a construtora ser notificada, o crédito deve ser acrescido de juro de 1% ao mês até o efetivo pagamento. Somente se o comprador for o responsável pela rescisão, por ter descumprido o contrato ou por ter arrependido, é que o construtor pode descontar a multa contratual que, por sua vez, não pode ser abusiva.

Kênio Pereira Presidente da Comissão de Direito Imobiliário da OAB-MG keniopereira@caixaimobiliaria.com.br


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SALUTARIS

HOJE É DIA DE CIRCO? É SIM SENHOR! Escolas de circo atraem adeptos que buscam opções diante das atividades físicas convencionais Miriane Barbosa esde tenra idade, o circo ocupa lugar de destaque no imaginário de muitas pessoas. É bem provável que, entre uma recordação e outra, você se lembre de um dia em que esteve animado com a notícia da chegada de um circo à cidade. Seria hora de fazer um passeio em família, impressionar-se com os trapezistas, rir dos palhaços e até observar a exuberância de animais selvagens, que hoje não são mais permitidos nas apresentações. A magia do circo encanta e atrai. Antes restrito às famílias que passavam o ofício de geração a geração, o circo se popularizou, alcançando pessoas cujas histórias

não se entrelaçam às tradições circenses. Por meio de escolas de circo, ficou mais fácil se aproximar ainda mais desse universo de encantamento. É possível aprender e praticar as atividades circenses mesmo sem a pretensão de se tornar um artista. Em Belo Horizonte existem duas escolas voltadas para as atividades: a Trupetralha e o Spasso Escola de Circo. O fundador do Spasso, Rogério Sette Câmara, decidiu abrir o negócio para manter vivo o sonho de levar alegria e plasticidade ao público. A ginástica surgiu depois, como forma de aumentar os rendimentos e manter a escola.

“Os cursos de formação de artistas de circo nunca conseguiram bancar a escola. Então abrimos espaço para pessoas que viam nas atividades circenses uma forma de lazer e de saúde”, conta. O aspecto lúdico e encantador do circo desfaz a ideia de que a ginástica circense, diferentemente da musculação e de outras atividades, seja algo a ser executado por obrigação. “Trabalhamos o condicionamento físico, a força e a resistência com alegria e prazer de nos exercitar. Você está malhando, e nem percebe”, ressalta o professor Felipe Kascher. O público que frequenta as escolas é o mais variado possível. | 21


METROPOLIS opina. As atividades do circo exigem, na maioria das vezes, um grande controle do corpo e de pequenos movimentos. É o que revela a fisioterapeuta Alessandra Barbosa. “Os exercícios favorecem a melhora da consciência corporal e promovem um fortalecimento muscular, diferentemente do que acontece por meio das atividades de musculação”, esclarece. Em uma aula que dura de uma hora e meia a duas horas, é possível eliminar de 400 a 850 calorias. “O aluno mais avançado vai ter um gasto calórico maior. E o interessante é que, como é muito lúdico, você nem vê o tempo passar”, conta o fundador da Trupetralha, Jailton Persan.

Felipe Pereira

Já tentei fazer várias outras atividades, mas nenhuma oferece um conhecimento corporal que o circo me proporcionou

Felipe Zago, praticante da ginástica circense 22 | www.voxobjetiva.com.br

Os mais novos começam entre 3 e 4 anos. Já os alunos mais velhos têm cerca de 60 anos. “A oportunidade de pessoas de todas as idades praticarem atividades sem ter que ‘fugir’ com o circo foi alterando a visão delas sobre nosso ofício”, afirma Sette Câmara. Crianças e adultos acabam encontrando diversão ao mesmo tempo em que exercitam o corpo. Há quem descubra nas aulas mais que uma fonte de prazer. Felipe Zago, de 22 anos, começou a fazer aulas de circo aos 14 anos e, aos 17, decidiu que se dedicar à atividade era o que ele queria fazer da vida. “Antes do circo, eu era obeso. Cheguei a perder mais de 20 quilos. Aqui eu melhorei a autoestima e a confiança. Já tentei fazer várias atividades, mas nenhuma oferece um conhecimento corporal que o circo me proporcionou”,

Os alunos começam pelas atividades mais básicas, feitas no solo, como saltos, bananeiras e paradas de mãos, que são a base da acrobacia circense. “Uma cambalhota, por mais simples que seja, é feita passo a passo até que os alunos entendam o movimento”, explica Kascher. Também para subir no tecido, o aprendizado começa no chão. “O aluno aprende deitado a subir no tecido, como na aula de surf, onde começamos a treinar fora do mar”, exemplifica o professor. Resistência, força e flexibilidade são os três elementos mais importantes para a prática das atividades circenses. Elas vão sendo trabalhadas aos poucos, de acordo com o ritmo de cada aluno. Como o curso é livre, o aluno pode optar por seguir a atividade que mais gosta, como o trapézio, as acrobacias de solo, o tecido ou a lira. Persan chama a atenção para uma mudança na postura das pessoas que buscam nas atividades físicas mais do que movimentos


METROPOLIS repetitivos e mecânicos. “Considero o que fazemos como um ‘trabalho físico inteligente’, pois não é só um músculo trabalhando e você assistindo a uma televisão. O público está começando a descobrir e exigir mais das atividades físicas”, evidencia. Os diretores das escolas circenses concordam que a maioria dos alunos que chega às escolas tem o objetivo de emagrecer ou de fugir das atividades físicas convencionais. Com o tempo, os alunos vão percebendo que as atividades desenvolvidas vão muito além do estímulo físico. “O pré-requisito aqui é não ter medo de ser feliz. Ao enfrentar os medos, os alunos trabalham o lado psicológico e assim vão desenvolvendo habilidades. Alguns têm medo de altura por um trauma de infância e acabam trabalhando também esse lado”, ilustra Persan. Sofia de Moura matriculou o filho Nicolas, de 8 anos, na escola de circo há dez meses. A intenção era que o menino melhorasse a coordenação motora. Nicolas tinha tentado praticar outras atividades, mas não gostou de nenhuma até se encantar com o circo. “O Nicolas melhorou o comportamento e a concentração na escola e está se socializando mais com os colegas. A coordenação motora, então,... melhorou consideravelmente”, relata.

O professor do meu filho me sugeriu fazer circo e aqui estou há três anos. O meu filho parou e eu continuei”, conta. Assim como muita gente, o objetivo inicial de Cláudia era praticar uma atividade física, mas o circo acabou transformando a vida da advogada. Por causa dele, ela começou a fazer curso de teatro e a atuar voluntariamente como palhaço de hospital. “Fui me envolvendo, e uma coisa foi puxando a outra. Além do exercício que trabalha o corpo, o circo trabalha a alma, me revigora, me reenergiza”, revela. “À medida que você trabalha, consegue vencer medos e superar as dificuldades. Você se apaixona por essa coisa. Vou feliz todos os dias para o circo porque quero ir. Isso me motiva. E a consequência do divertimento e do prazer é o meu preparo físico”, arremata.

À medida que você trabalha, consegue vencer medos e superar as dificuldades. Você se apaixona por essa coisa. Vou feliz todos os dias para o circo... Cláudia Resende, advogada

Lucas Bois

PAIXÃO PARA A VIDA Enquanto uns procuram o circo, outros se apaixonam por ele, por acaso. A advogada Cláudia Resende, de 50 anos, encontrou o circo durante as férias do filho. Ela decidiu matriculá-lo por ser uma atividade diferente. “Eu malhava em uma academia e ia para a aula parecendo um boi que caminha para o abatedouro. Era como se tivesse uma obrigação a cumprir. | 23


ARTIGO

Maria Angélica Falci Psicologia

O castelo protetor Está caindo por terra a ideia de que filhos de pais separados são sinônimo de “problema”. Na verdade, os problemas surgem como consequência de ambientes tensos e geradores de adoecimentos. E esse cenário geralmente se forma quando pais imaturos convertem seus problemas e inadequações para o íntimo dos filhos. Nascemos com forte demanda de proteção e de amor. Construímos esse pilar com os cuidados que recebemos no seio familiar. Os pais precisam entender que uma criança em formação não tem estrutura emocional para participar ativamente das questões do mundo adulto. A criança tem um mundo fantasioso e mágico, necessário para a sua construção. A idealização é um forte conteúdo para suplantar os momentos difíceis. É como um castelo protetor. Posteriormente, com a maturação, a realidade vem mais intensa e clara. Quando uma realidade pesada atinge o subjetivo das pessoas em plena formação, ou seja, quando o castelo vai se tornando ruínas, muitas vezes identificamos transtornos de ordem psíquica. Para os pais que decidiram viver separados, é preciso entender que alguns passos são cruciais para a evolução dos filhos. O mais importante é sair do próprio sofrimento (egocentrismo) e enxergar que os filhos estão atentos a tudo. E, além disso, são seres humanos que também sofrem. Algumas coisas devem ser sempre observadas. É fundamental para a saúde emocional dos filhos que os pais evitem brigas públicas, a rejeição à família do parceiro ou do ex-cônjuge e a desconstrução das figuras paterna ou materna por meio de ataques. Outro comportamento que deve ser evitado é que os filhos sejam usados como mensageiros dos pais em conflito. É indesejável também que 24 | www.voxobjetiva.com.br

os pais tentem ‘comprar’ os filhos com bens materiais. Os comportamentos inadequados dos pais podem eclodir em uma personalidade sofrida, melancólica e até mesmo depressiva nos filhos. Uma dica a nunca ser esquecida: filhos em formação psicofisiológica precisam dos limites e de cuidados dos pais, e isso independe da história e das escolhas do casal. Em famílias unidas ou marcadas pelo rompimento, é extremamente necessário que os pais busquem a maturidade para compreender a evolução e a responsabilidade de ter um filho. A segurança não é adquirida unicamente por meio da presença do pai ou da mãe. É preciso estar presente e dialogar. Isso faz toda a diferença para a estruturação emocional da criança. Não deixe de ser o castelo dos seus filhos em hipótese nenhuma. É muito triste quando uma pessoa cresce com sentimentos de divisão. Portanto, mesmo que os pais sejam separados e não consigam conviver, é importante lutar para que os filhos abstraiam a realidade de forma não danosa. O amor e o cuidado dos pais fazem muita diferença para quando os filhos se tornarem adultos. A redução dos traumas os torna livres para seguirem os próprios caminhos e não ser relutantes na decisão por constituir família. Caso contrário, eles podem ver a relação conjugal e a familiar como lugar de sofrimentos e dores.

Maria Angélica Falci Psicóloga clínica e especialista em Saúde Mental angelfalci@hotmail.com


Bairro em Bairro Até outubro, quem passar por Belo Horizonte vai poder apreciar toda a variedade de sabores da culinária brasileira. Na maior competição já realizada entre bares da capital mineira, chamada Bairro em Bairro, estabelecimentos duelam entre si para ver quem oferece os melhores pratos de acordo com o regulamento da competição. Bares de cada regional da cidade vão apresentar pratos elaborados especialmente para a disputa. O Bairro em Bairro vai funcionar como uma peneira para o tradicional Festival Bar em Bar, promovido nacionalmente pela Associação de Bares e Restaurantes (Abrasel) desde 2007. Eleitos por um júri popular, os três melhores bares de cada regional estão confirmados na disputa nacional, que este ano acontece de 5 a 22 de novembro.

Centro Sul e Barreiro (Pratos com tema da Região Sul do Brasil) O Audaz Cervejaria Seu Romão O Boiadeiro Paracone Avenida Brasil Celeiro de Minas

Oeste (Pratos com tema da Região Centro-Oeste do Brasil) Escanteio Bar e Espetinhos Rima dos Sabores Agosto Butiquim Biritiss

Leste (Pratos com tema da Região Sudeste do Brasil) Cantina do Sorriso Paracone Niquelina

E já foram definidos os vencedores da Regional Pampulha. São eles:

Butecão do Leão Bar e Boi Pestisqueira Pampulha

Christoph Reher

Além de proporcionar novas experiências gastronômicas, o Bairro em Bairro prioriza uma cartela saborosa e economicamente viável para o público. O valor dos petiscos varia de R$ 12 a R$ 35. Os pratos servem, no mínimo, duas pessoas. Ao lado, você confere a relação dos bares que estão na briga e oferecem pratos até o dia 15 de outubro nas regionais Leste, Oeste, Centro-Sul e Barreiro.

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SAPORIS

Pizza de maracujá Buffet Pizza diMaio 6 Porções

INGREDIENTES

PREPARO

1 disco de pizza de 30 cm 1 colher de sopa de molho de tomate 200 g de muçarela ralada 30 g de alho desidratado em flocos 50 g de cebola fatiada Orégano a gosto 100 g de calda ou geleia de maracujá (é importante que tenha sementes)

Coloque o disco de pizza em uma forma furada para assar por igual. Espalhe o molho como se estivesse pintando a massa com um pincel ou uma colher. Adicione a muçarela e espalhe por igual. Depois coloque a calda e acrescente a cebola. Calce uma luva e leve ao forno pré-aquecido a 220ºC por cerca de dois minutos. Coloque o orégano após retirar a pizza e sinta a diferença de aroma. Saboreie a pizza com um fio de azeite extravirgem. Bom apetite!

Divulgação

30 Minutos


SAPORIS

Harmonização Pizza de maracujá

Os estilos vão de mais elegantes a sutis, como os feitos de maceração curta com pouca concentração de cor. A eles damos o nome de casca de cebola roxa, pois têm um caráter muito particular e grande riqueza no paladar. Os mais representativos são os vinhos da região de Provence. Eles são mais concentrados, com maceração mais longa e maior concentração de fruta; têm também uma cor mais acentuada, lembrando um vinho tinto bem leve ou “clarete”, como dizem os franceses.

Nelton Fagundes, Enoteca Decanter

Divulgação

Uma pizza de grande ousadia. No mínimo, provocante. A leve tendência agridoce com o perfume e a acidez do maracujá pedem um vinho branco com muito frescor e alta carga aromática. O toque inigualável de maracujá no nariz vai finalizar como ninguém com o Sauvignon Blanc Expresíon Reserve 2013 - Villard Casa Blanca, do Chile.

Vinhos rosés: da cor da primavera Nelton Fagundes Sommelier da Enoteca Decanter BH É comum ouvir pessoas dizendo que não gostam de vinhos rosés. Na minha opinião, isso ocorre pela falta de conhecimento de alguns consumidores ou pelo antigo estigma de que a bebida não revela grandes vinhos. Os rosés são vinhos que se adaptam perfeitamente às nossas mesas e ao nosso clima. Eles podem ser consumidos durante o dia, acompanhados de frutos do mar, pratos de pouca estrutura ou, simplesmente, para alegrar uma boa conversa.

gião de Champagne, ou de uma rápida maceração delicada (contato do líquido com as cascas da uva), como ocorre na região de Provence, na França.

Se, no inverno, os indicados são os rótulos tintos e com mais corpo, no período de calor, a bebida em sua forma mais leve se destaca. Eles devem ser servidos em temperaturas mais baixas, entre 6º C e 10º C, ao contrário dos tintos, que no inverno são servidos entre 14º C e 18º C. A elaboração do vinho rosé é simples e pode ser feita de várias formas: da mistura de vinho branco e tinto, como em alguns casos dos vinhos da re-

Sempre procuro orientar com coerência os meus clientes sobre o momento ideal de consumo de um vinho rosé. O mercado de vinhos está mudando, e os consumidores estão mais conscientes e exigentes. Para quem tem resistência aos rosés, aconselho dedicar um tempinho para obter informações e características dessa bebida. O ideal é sempre degustar sem restrição nem pré-conceitos, pois, ao afirmar que não aprecia determinado tipo de vinho, você pode deixar de conhecer bebidas maravilhosas e dos mais diferentes estilos. Os vinhos rosés estão voltando à tona. A bebida estourou na Europa, e a tendência chegou aos quatro cantos do mundo, motivando um grande consumo. O Brasil não pode ficar de fora dessa redescoberta. E a palavra é esta mesmo: redescoberta. Não devemos dizer que é moda, porque moda passa, e os rosés vieram para ficar. Nesses últimos três anos, os vinhos rosés ganharam muita força e estão presentes nas cartas de vinhos de grandes restaurantes. Na mídia, ganharam tanto destaque que fomos brindados com a abertura do mercado para esses rótulos. | 27


contemporâneo. “Criamos uma moda que valoriza a infância e a inocência das crianças. Mais do que roupa, procuramos produzir um estilo de vida; fornecendo ao nosso exigente público o que eles buscam: exclusividade e sofisticação”, destacam. Outra empresária que está atenta aos desejos desse míni,, porém expressivo, público, a empresária Giulia Nagamine. Ela resolveu investir no mercado e trouxe para a capital mineira a franquia da loja infantil Monnalisa. A grife tem mais de 50 lojas e 55 córneres fora do país, como Harrolds, Galeries Lafayette, La Rinascente, dentre outras.

Divulgação / C&A

MINICONSUMIDORES Mercado de vestuário infantil se beneficia do poder de compra (ou de escolha) de crianças Tati Barros

Outubro, mês das crianças. Presente? Brinquedo. Certo? Não necessariamente! Foi-se o tempo em que bonecas, carrinhos eletrônicos e jogos reinavam absolutos como preferência de presentes para os pequenos. Cada vez mais conscientes do que desejam consumir e ligadas ao universo da moda, as crianças têm escolhido roupas e acessórios como substitutos dos brinquedos pelos quais, cedo ou tarde, vão se desinteressar.

produz roupas para meninos e meninas de zero a 12 anos e está presente em 24 estados brasileiros. Em 2014, a Luluzinha abriu sua unidade no valorizado bairro de Lourdes, na capital mineira. Para as empresárias, a grife se baseia em criar roupas que prezem pelo universo lúdico infantil, sem deixar de lado o design

Arquivo pessoal

Para dar uma ideia, dados da Associação Brasileira da Indústria Têxtil (Abit) revelam que as vendas do segmento infantil de roupas e acessórios cresce em torno de 6%, enquanto a indústria têxtil em geral vive um momento de retração de 0,9%. Em 2013, apenas o setor de vestuário infantil lucrou R$ 16 bilhões em roupas e acessórios. Os empresários estão mais que ligados aos números e ao comportamento dessa nova geração. Produzindo cerca de 500 mil peças por ano, a Luluzinha Kids é um exemplo de marca de sucesso que apostou nos miniconsumidores. A grife fundada pelas irmãs Luciana e Vanessa Aquino 28 | www.voxobjetiva.com.br

Giulia é proprietária de duas lojas no Brasil, em Belo Horizonte e Curitiba, e da Loja de Barcelona. Contando com a ajuda de colaboradores locais, a empresária coordena as três operações, bem como a expansão da marca no Brasil, de Paris. Segundo Giulia, o impacto que a loja e as roupas causam nas crianças e nos pais foi a principal motivação para que ela decidisse investir nesse lucrativo negócio. “Temos diversos produtos e preços variados e podemos atender todos para o dia a dia ou para ocasiões especiais”, explica. A Monnalisa vende roupas que vão de zero a 14 anos e trabalha com peças atemporais, românticas e modelos que acompanham as tendências internacionais.


ARTERIS Divulgação / DBZ

Para Pietra, o principal fator para esse interesse precoce é a influência que causa na filha. “Acredito que isso tenha a ver com o fato de eu me interessar por moda e sempre vesti-la com looks que acompanham tendências. Quando vamos sair, a Bia pede para vestirmos looks parecidos. Tenho certeza de que, quando crescer, ela vai ser igual a mim”, acredita. E incentivo é o que não falta. A modelo diz não ter ideia de quanto gasta por mês em roupas para a filha e revela ter perdido as contas de quantos vestidos e pares de sapatos a pequena tem. “A paixão por sapatos parte de mim, e ela tem uma verdadeira coleção de modelos da Melissa”, conta.

TAL MÃE, TAL FILHA Apostando nessa preferência por se vestirem parecido, marcas têm investido em coleções no estilo “tal mãe, tal filha”. A Melissa lançou, recentemente, a coleção “Mel Dreamed by Melissa”, com os mesmos modelos adultos, na versão infantil. Os calçados são voltados para as meninas de 6 a 10 anos e estão disponíveis nas numerações 26 a 33. A empresária destaca também as diferenças de comportamento de consumo entre o consumidor brasileiro e o europeu. “Percebemos que, no Brasil, diferentemente da Europa, as crianças participam mais da compra. Elas têm o hábito de ir à loja com as mães e atuam na escolha das peças. Na Europa, as mães compram mais sozinhas. As crianças no Brasil, desde cedo, atuam principalmente no quesito de conforto, opinando na hora da compra”, compara. E não é exagero de Giulia quando ela diz que, desde muito novas, as crianças já opinam sobre o que comprar e vestir. Prova disso é a pequena Beatriz Resende que, com apenas 2 anos e meio, já chama atenção pelo gosto por roupas e sapatos. Segundo a mãe, a estudante e modelo Pietra Resende, Bia já escolhe as produções e sabe combinar sapatos e acessórios para cabelo. “Quando escolho o look, ela dá a opinião dela e sempre sabe o que quer quando vamos fazer compras. É bem nítido esse interesse. Percebo que ela é mais vaidosa do que as coleguinhas”, conta.

Em sua terceira parceria com a rede de fast fashion C&A, a estilista Isabela Capeto lançou, no início de setembro, uma coleção para toda a família. Com referência na botânica, a designer desenvolveu 125 peças para mulheres, meninas, meninos e até recém-nascidos. A moda mineira, como não poderia deixar de ser, também segue essa tendência. Há quatro coleções, a grife DBZ, especializada em jeans e moda casual, lança a linha DBZinha, dedicada às filhas de suas clientes. “Essa foi uma demanda de mercado, já que as crianças pediam para se vestir como a mãe. Fazemos uma reprodução idêntica em miniatura da calça elasfit, nossa calça patenteada de cós de elástico, adaptada para o público infantil”, explica a gerente de produto da DBZ, Pollyanna Buzetti. Para se adequar a esse público, a grife procura estampas que não sejam tão sérias nem muito adultas para ressaltar as particularidades dessas exigentes miniclientes. | 29


CAPA

VAI COMEÇAR A FESTA! 70ª temporada da mais importante liga de basquete do mundo, a NBA, vai contar com nove brasileiros. E dois deles são de Minas Gerais

o dia 27 de outubro começa a temporada 2015-2016 da NBA. O mais famoso campeonato de basquete do mundo é considerado também um dos mais equilibrados e difíceis do mundo, além de contar com o maior número de estrelas internacionais. Neste ano, a liga vai contar com a participação de nove jogadores nascidos no Brasil - um marco em toda a história da NBA. O ala-armador Leandro Barbosa é um deles. Recordista de participações no torneio dentre todos os 16 brasileiros que passaram pelo basquete profissional norte-americano desde Rolando Ferreira, em 1988, no Portland Trailblazers, Leandrinho é também, de todos os compatriotas, o que jogou em mais times: nada menos que em seis. Barbosa já foi eleito o melhor sexto jogador da liga e, durante a greve da NBA, em 2011, voltou a jogar no Brasil, recebendo tratamento de estrela e salário milionário (mais até do que de alguns jogadores norte-americanos e europeus) no Flamengo. Por outro lado, ele passou por dramas. Teve um grande histórico de sérias contusões. Em 2013 rompeu os ligamentos do joelho, jogando pelo Celtics. Em seguida, foi negociado com o Wizards, mas sequer entrou em quadra devido a novos problemas médicos. De volta ao seu primeiro time, o Phoenix Suns, em 2014, ele fraturou a mão esquerda. Após a última contusão séria, teve a carreira decretada como encerrada por torcedores e jornalistas. Mas, enfim, deu a volta por cima ao ser contratado pelo salário mínimo da liga, pelo Warriors. Atual campeão, o seu time estreia em casa, na Oracle Arena, contra o New Orleans Pelicans –


CAPA justamente time que queria levar Leandrinho embora de Oakland, Califórnia. As boas atuações do jogador nos play-offs (finais do torneio) da temporada passada despertaram a atenção dos adversários. Porém, o principal motivo do interesse do Pelicans foi o fato de que o auxiliar técnico do Warriors até o meio deste ano e amigo pessoal do brasileiro desde 2003, Alvin Gentry, assumiu o comando da franquia de New Orleans. “O Golden State Warriors foi onde conquistei o título mais importante da minha vida. Por isso, decidi renovar e dar continuidade a essa trajetória vencedora ao lado desse grupo de jogadores incrível”, revelou Barbosa em entrevista exclusiva à Vox Objetiva. DUPLA MINEIRA Com pretensões mais modestas, os dois mais novos ‘brazucas’ na NBA ainda vivem a fase do deslumbramento por jogarem em duas das franquias mais tradicionais dos Estados Unidos. A partir deste ano, o pivô Cristiano Felício terá a responsabilidade de envergar o uniforme que já foi usado pelo lendário Michael Jordan, no Chicago Bulls. O armador Raul Neto vai jogar pelo igualmente famoso Utah Jazz, da dupla de ouro olímpico, em 1992, John Stockton e Karl Malone. Felício e Raulzinho guardam outras importantes semelhanças. Ambos são nascidos em Minas Gerais, têm 23 anos e, apesar da pouca idade, carregam bastante experiência na bagagem. O primeiro foi campeão Estadual, Brasileiro, Sul-Americano e Mundial pelo Flamengo; o outro jogou quatro anos em uma das ligas mais competitivas do mundo: a espanhola.

Raulzinho, no entanto, não disfarça a surpresa com a superioridade da NBA. “Ainda não consegui ver tudo. Passei apenas alguns dias durante a Summer League, nos Estados Unidos, entre Utah e Los Angeles. Mas é um mundo bem diferente, sem dúvidas. Estou gostando muito! Tudo é novo e impressionante: estrutura, organização,... Estou muito feliz por essa oportunidade e espero poder me adaptar bem o mais rápido possível. Acho que a principal diferença, em quadra, é a velocidade e o jogo físico, porque na Europa é mais cadenciado”.

OS BRASILEIROS QUE JOGARAM PELA NBA

Nos dias que passou nos Estados Unidos, o armador belo-horizontino teve a oportunidade de se encontrar com alguns de seus ídolos na NBA (Matthew Delavedova, Kyle Korver, e Andre Drommond) em uma academia em Santa Barbara que é referência para atletas de muitas modalidades. “Todos foram muito simpáticos. Conversei um pouco mais com o Delly, por causa do Anderson, mas foram encontros rápidos”, relata com desinibição. Tanto quanto Raul assume o espanto, Felício demonstra ansiedade. Nascido em Pouso Alegre, o gigante de 2,11 metros já se acostumou a se apresentar para multidões de torcedores rubro-negros (Flamengo e Chicago têm as mesmas cores no uniforme), mas ainda não consegue vislumbrar a reação da torcida norte-americana. “Ainda não sei como vai ser isso, mas sei que os fãs dos Bulls são muito apaixonados, muito exigentes, e estou ansioso para me encontrar com eles”, diz mais tímido que o colega de seleção brasileira. “Parece um sonho. O Chicago é um dos times mais tradicionais e vencedores da NBA. E não é preciso falar sobre Michael Jordan... | 31


CAPA Getty Images

Fiquei muito feliz quando recebi o convite! Jogar pelos Bulls, sem dúvida, é algo que torna a realização desse sonho ainda mais especial”, completa. BRIGA NAS ALTURAS Quem brigará na parte de cima da tabela (literalmente) é Anderson Varejão do Cleveland Cavaliers. Vice-campeão da NBA em duas oportunidades (2007- 2008 e 2014-2015), o Wild Thing (Coisa Selvagem) viu Leandrinho derrotá-lo do lugar mais difícil da quadra, o banco de reservas. Ao romper o tendão de Aquiles do pé esquerdo na vitória de sua equipe sobre o Minnesota Timberwolves ainda na temporada regular, Varejão ficou sem chances de voltar para os play-offs – após cinco anos de ausência de seu time na fase mais importante da competição. Considerado por boa parte dos fãs como o jogador mais caris32 | www.voxobjetiva.com.br

mático de toda a liga, Varejão não se abate e se diz confiante no ano esportivo que vai começar. “Estou me recuperando. Clinicamente, em relação à lesão, está praticamente zerado. Continuo tratando, trabalhando com fisioterapia, musculação e parte física, para recuperar condicionamento e força. Tenho trabalhado duro, me dedicando ao máximo para voltar bem e ter uma base boa para a temporada. Não tenho ainda condições de jogo, mas não tenho pressa, a temporada começa em outubro e só vou estar em quadra quando estiver bem e liberado pelos médicos”, afirma com paciência. O pivô do Cavs lamenta as contusões de alguns importantes companheiros de equipe e afirma que este foi o fator de desequilíbrio a favor dos adversários na hora decisiva, mas acredita que com todos recuperados, o time dele e do astro LeBron James pode levar o título inédito para o estado


CAPA

Acho que a principal diferença, em quadra, é a velocidade e o jogo físico, porque na Europa é mais cadenciado

a final de conferência mais eletrizante dos últimos anos entre o seu atual time e o Cavaliers. Já falando como um Hawk, ele faz corrente pelos companheiros de time e de país. “Espero que a gente possa voltar à final do Leste. E torço para que os outros brasileiros tenham sucesso, pois levam o nome do nosso país”. Porém, quando questionado sobre uma disputa pelo título da Conferência Leste com Varejão, ele é cauteloso. “Difícil falar sobre ‘briga’ no garrafão, mais ainda sobre uma final hipotética, prefiro esperar porque temos muitas franquias fortes e um ano inteiro pela frente. Mas,

sem dúvidas, ter brasileiros nas finais de conferência e nas finais da NBA novamente seria sensacional. Que isso aconteça e que o Atlanta esteja lá”, torce. Outros quatro brasileiros completam a lista: Marcelinho Huertas sai do Barcelona, da Espanha, para o Los Angeles Lakers, o experiente Nenê Hilário continua defendendo o Washington Wizards, Bruno Caboclo e Lucas Bebê seguem buscando espaço no Toronto Raptors. Pivô do Atlanta Hawks, Splitter comemora a forte presença brasileira nas quadras da NBA

Rauzinho, armador do Utah Jazz

de Ohio. “Acho que o Cleveland vai forte, mais uma vez, para a próxima temporada. Mostramos o potencial do nosso grupo no ano passado e, mesmo diante de tantos problemas de lesão, eu, Love e Kyrie nos machucamos em momentos importantes do campeonato, chegamos à final e podíamos ter sido campeões. É uma competição longa, extremamente equilibrada e onde há sete, oito, dez equipes em condições de disputar e conquistar o título. Espero que nosso time possa jogar bem, deixar em quadra tudo o que tem e que possamos ter um bom ano. Nosso objetivo, claro, como de todos, é o título. Mas o caminho é longo”, pondera. Quem tem tudo para impedi-lo é novo pivô do Atlanta Hawks, Tiago Splitter. Primeiro brasileiro a sentir o gostinho de levantar o troféu da NBA, em 2013-2014, quando jogava pelo San Antonio Spurs, Splitter ficou de fora dos play-offs do último campeonato e viu pela tevê

Getty Images

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CAPA

Wander Roberto / NBA Netshoes

ABRE ASPAS

A popularidade do basquete é maior do que nunca, e o Global Games Rio 2015 é parte do nosso compromisso com o crescimento do basquete. Estamos orgulhosos por trazer esse tipo de experiência para o Brasil pelo terceiro ano consecutivo e de ter a honra de enfrentar um dos melhores times do Brasil

Adam Silver Comissário da NBA

O Brasil tem sido um mercado enorme para o Orlando Magic, e essa viagem vai contribuir para a parceria que temos cultivado, especialmente em relação ao segmento de turismo e o nosso trabalho local. Ficamos muito felizes em receber o Flamengo no ano passado, no Amway Center, e vimos a paixão dos fãs brasileiros que assistiram ao jogo

Alex Martins CEO do Orlando Magic

O basquete vive um momento muito bom no Brasil. A modalidade vem evoluindo e se desenvolvendo, recuperando o seu espaço graças à organização e aos bons resultados internacionais da Seleção Brasileira e dos clubes

Arnon de Mello Neto Diretor Executivo da NBA Brasil 34 | www.voxobjetiva.com.br

BATE-PAPO COM LEANDRINHO


CAPA Como está a preparação para o campeonato de 20152016 da NBA? O caminho para o bi será mais fácil ou mais difícil do que a conquista do título da temporada passada? Está indo muito bem. Creio que seja ainda mais difícil, mas assim como no início da temporada passada, estamos novamente confiantes e preparados para fazermos uma grande temporada. Vai começar tudo de novo e vamos lutar até o fim por esse bicampeonato. O New Orleans Pelicans lhe ofereceu um contrato mais rentável e mais duradouro. Por que optou por renovar com o Warriors, que lhe ofereceu apenas mais um ano de vínculo? Foi o time que me abriu as portas em um momento que precisava receber esse voto de confiança. Foi onde me reencontrei e onde conquistei o título mais importante da minha vida. Por isso, decidi renovar e dar continuidade a essa trajetória vencedora ao lado desse grupo de jogadores incrível. Você é o brasileiro com mais participações na NBA, já foi eleito o melhor 6º jogador, foi campeão de conferência e nacional. Mesmo com a vasta experiência, você pode dizer que aprendeu alguma coisa com o Stephen Curry? Aprendi muito. E continuo aprendendo. Ele é um craque, um jogador totalmente diferenciado. Fora das quadras, é um cara do bem, respeitoso, gente boa e uma pessoa da qual todos gostam. E em quadra, é o jogador espetacular que todos

conhecem. Sem dúvidas, um dos grandes responsáveis pelo nosso sucesso recente.

jogou pela equipe por causa de uma lesão no joelho esquerdo).

No par ou ímpar, quem você escolheria para o seu time: LeBron James ou Stephen Curry?

Foi complicado. É horrível você não poder fazer o que ama e o que melhor sabe na vida. Mas felizmente, com a ajuda dos profissionais envolvidos na minha recuperação, consegui dar a volta por cima e hoje sou campeão da NBA.

Stephen Curry! Em 12 temporadas qual foi jogador mais difícil de ser marcado? Olha, são muitos... Tive a felicidade de poder atuar contra craques de diferentes gerações. Mas o LeBron é um cara muito diferente, muito forte, inteligente. O Kobe também era incrível e quase impossível de marcar. Absurdamente técnico, dinâmico. Vou ficar em cima do muro nessa... Antes de defender o Golden State Warriors, você passou por Phoenix Suns, Toronto Raptors, Indiana Pacers e Boston Celtics. Qual foi a equipe na qual você mais gostou de jogar? O Phoenix talvez tenha sido a experiência mais marcante da minha vida, pelo tempo que durou, por ser o lugar onde eu me sinto em casa. Mas cada um desses períodos teve sua importância na minha vida. Toronto foi uma experiência absurdamente incrível: viver naquela cidade maravilhosa, jogar com jogadores top de linha, fora todos aprendizados que levarei para o resto da vida. Sente-se frustrado por não ter conseguido atuar no Washington Wizards? (Leandrinho foi contratado pela equipe da capital norte-americana em 2013, mas nunca

Por mais quanto tempo você pretende jogar na liga norte-americana? Não sei, vamos ver! Ainda tenho alguma lenha para queimar. (Risos) Mas prefiro dar tempo ao tempo e ir vivendo etapa por etapa. Espero poder ainda jogar por algumas temporadas em alto nível. Após esse tempo você pretende continuar nos Estados Unidos como assistente técnico, voltar a jogar no Brasil ou se aposentar do basquete e trabalhar em outra área? Realmente não sei. Tenho algumas ideias, alguns planos, mas ainda depende muito do que está por vir. Ano que vem será muito importante para a sua carreira, pois você será uma das estrelas da seleção brasileira nos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro. Sinceramente, qual é o seu desejo maior: conquistar uma medalha olímpica ou o título de bicampeão da NBA? Quero conquistar uma medalha olímpica e ser bicampeão da NBA. Sei que posso sonhar com essas duas conquistas e já estou trabalhando duro para chegar até essas realizações. Vou fazer de tudo para fechar 2016 com esses sonhos realizados. | 35


HORIZONTES

ENCANTOS DE UMA TERRA EM TRANSE Mesmo ao dissabor do turbulento momento político-econômico, a Grécia continua fazendo parte de um roteiro turístico indispensável na Europa Texto e fotos de Gisele Almeida, de Atenas e Creta

s gregos têm uma forma muito particular de celebrar a vida. Não se admire se um grupo animado de nativos começar a cantar e a dançar a caminho de Atenas para quebrar a monotonia do voo. Não importa se o país enfrenta uma de suas maiores crises econômicas: para eles, há sempre algum motivo para ser feliz. Em setembro, o primeiro-ministro grego, Alexis Tsipras, venceu as eleições legislativas no país um mês depois de ter apresentado a própria demissão. O motivo da renúncia foi o desentendimento entre ele e 40 deputados do Syriza, partido resultante da coalizão da Esquerda Radical Grega. Os deputados votaram contra o acordo para um novo programa de resgate financeiro apresentado pela União Europeia. Na raiz da crise grega está uma dívida de mais de 320 bilhões de euros que o país não tem condições de pagar ao bloco. Nos meses de junho e julho, aconteceram nas ruas do país uma série de manifestações contrárias às medidas de austeridade impostas pela Troika - entidade forma36 | www.voxobjetiva.com.br

da pela Comissão Europeia, pelo Banco Central Europeu (BCE) e pelo Fundo Monetário Internacional (FMI). A Troika é responsável pelas negociações com os países que solicitam um pedido de resgate financeiro e está à frente do mais recente plano. Os protestos ocuparam os noticiários internacionais e, no dia 7 de julho, os cidadãos gregos votaram pelo “Não” às condições impostas em troca de uma nova ajuda financeira por parte do bloco. A resposta dos gregos nas urnas colocava em xeque a permanência do país na União Europeia. Anteriormente contrário às exigências impostas pela Troika, o então primeiro-ministro optou por aceitar o novo acordo proposto e um novo plano de resgate foi iniciado. Essa mudança de atitude levou a um desentendimento entre ele e o próprio partido, Syriza. O PhD em Economia pela Stockholm School of Economics e economista do Banco Central da Suécia Rafael Rezende explica que não há perspectivas para reverter o declínio econômico grego. “Pior do que isso: as forças políticas parecem estar simplesmente prepa-

radas para acatar as demandas dos credores internacionais”, comenta. Para o especialista, a postura antiausteridade do povo, votada no referendo de julho, foi ignorada, e as pesquisas sugerem que, mesmo com o Syriza no poder, uma coalizão pró-resgate imposta pela União Europeia seja realizada no país. “Ao aceitar esse acordo, a Grécia vai ter de fazer uma série de reformas no sistema tributário, de pensões e no Judiciário, além de flexibilizar o mercado de trabalho e privatizar diversos ativos do Estado”, explica. Apesar da instável situação econômica e das tensões que marcam o cenário político do país, o turismo parece não sentir as instabilidades. De acordo com dados do Ministério do Turismo, o número de visitantes do país continua em franco crescimento. “Se verificarmos os dados estatísticos dos primeiros seis meses de 2015, em termos de chegadas de visitantes estrangeiros ao Aeroporto Internacional de Atenas, vemos um aumento impressionante de 29% comparado com o mesmo período no ano passado”, comenta a gerente de Marketing


KULTUR

de Atenas, Maria Papadopoulou. As belezas naturais e os preços convidativos podem ser a resposta para o contínuo crescimento do número turistas que procuram a Grécia como destino de férias. A doutoranda em Fisioterapia pela Universidade de Estocolmo, Viviane Straatman, visitou Atenas em julho. Para a turista brasileira, o transporte público e a alimentação têm um preço acessível no país. “A Grécia se torna um lugar bem atrativo, uma vez que encontramos produtos por preços mais em

conta do que no resto da Europa. As belíssimas praias e a riqueza cultural também fazem parte de pontos que elevam o interesse dos viajantes pelo país”, opina. ATENAS Para quem pretende visitar a Grécia, um bom ponto de partida é a capital Atenas, uma metrópole de mais 4 milhões de habitantes localizada na parte Continental do país. Além de apresentar tesouros históricos, arqueológicos e culturais, a cidade é vizinha de paisagens capazes de encantar

Ainda que rodeado por estruturas metálicas para garantir a sustentação dos pilares, o Parthenon continua imponente

até mesmo os olhos mais exigentes. Atenas presenciou um substancial crescimento demográfico no século XIX, quando se tornou a capital do país. Atualmente a paisagem urbana vive lado a lado com a arquitetura milenar grega. Um interessante encontro entre a modernidade e a história, por lá é | 37


HORIZONTES possível assistir a um espetáculo no teatro de Dionísio, visitar o Liceu de Aristóteles e passear pelos caminhos onde andaram os deuses gregos. O próprio metrô da cidade é uma mistura de avanços tecnológicos com a história do país. Em 2004, foram inauguradas duas linhas que, além de minimizarem o caótico tráfego local, tornaram-se novos pontos de interesse para os visitantes. As estações passaram a exibir uma série de objetos arqueológicos encontrados nas escavações durante o período das obras das linhas. Andar de transporte público em Atenas também se

Do alto da Acrópoles, é possível ter uma vista privilegiada da capital grega

tornou um interessante passeio cultural. ACRÓPOLES Acrópoles é o nome dado ao ponto mais alto de uma cidade grega. Na antiguidade, esses picos eram utilizados como base de proteção. De lá, o exército vigiava as cidades para prevenir a chegada de invasores. Era também no alto onde se construíam os templos em homenagens aos deuses da mitologia grega. Na acrópole de Atenas, o turista pode visitar o imponente Pathernon, o templo construído para abrigar a gigante Athena, de cerca

de 11 metros de altura, feita em ouro e marfim. A estátua não resistiu ao tempo, mas existem algumas cópias que comprovam a sua existência. Uma delas, considerada a representação mais fiel, está exposta no Museu Nacional da Grécia. A guia turística do projeto “My Athens”, Theodora Kaphou, conta que a estátua de Athena tinha lugar de destaque, tendo sido colocada sobre uma piscina de azeite de oliva. “A ideia era de que os raios de sol refletissem no azeite e iluminassem a estátua, conferindo a ela um brilho extra para reforçar a expressão da grandiosidade e do poder da deusa”, conta. Do Parthenon restam as pilastras e outros objetos rodeados por andaimes que garantem a conservação. Ainda assim é um imponente monumento a ser visitado não apenas pela riqueza arquitetônica. É do alto da Acrópoles que se tem uma das mais impressionantes vistas para cidade. CRETA Uma viagem à Grécia não estaria completa sem uma visita a algumas das ilhas do país. Habitada desde a pré-história, a ilha de Creta mantém seu caráter bucólico. Parece que somos transportados de realidade. Visitar Creta é um verdadeiro retiro; um recanto onde pode-se experimentar uma vida sem o barulho do trânsito nem a perturbação das atualizações das redes sociais nos dispositivos eletrônicos. Pontualmente é possível encontrar wi-fi nos restaurantes e em outros estabelecimentos, mas o encanto da ilha é justamente se desconectar e se dar ao luxo de aproveitar a natureza acompanhado por um bom vinho e pela simples e deliciosa comida grega.


HORIZONTES Um dos pratos mais apreciados por lá é a famosa salada grega, preparada com tomate, azeitonas, pepino e queijo feta, levando azeite e orégano como temperos. À primeira vista parece muito simples, mas os ingredientes frescos, produzidos na própria ilha, conferem a ela um sabor inigualável. Você vai esquecer que já experimentou qualquer um desses ingredientes. A experiência gastronômica em Creta se torna mais incomparável, caso o visitante participe de um jantar dançante: música ao vivo, dança folclórica e os bailarinos convidando você a fazer parte do show. Em poucos minutos, o menor dos restaurantes se torna uma animada pista de dança, um dos momentos mais inesquecíveis da viagem. BALOS LAGOON A Lagoa de Balos pode ser considerada o maior tesouro da ilha de Creta. As rochas no limite do mar fazem com que essa bela praia tenha a aparência de uma lagoa. O que a torna uma atração imperdível é a incomparável tonalidade azul-turquesa da água e a calmaria que dá a ela um aspecto de piscina natural. Chama atenção ainda a areia fina, que em alguns lugares apresenta uma exótica cor rosada devido às conchas esmagadas. De acordo com dados da Empresa Cretan Daily Cruises, que opera os ferrys com destino a Balos, durante os meses do verão europeu, cerca de 1,5 mil turistas visitam Balos e a Ilha Gramvousa todos os dias. A porta-voz da empresa, Aristea Nikolakaki, explica que esse ano foi notada uma pequena redução de passageiros durante o mês de maio, mas nada muito significativo. Para ela, o mais difícil para os cidadãos gregos é ter de lidar com as incertezas da economia e política do país. “A crise grega é um fato que temos de lidar em nosso dia a dia, e isso é muito doloroso para nós que ficamos sem perspectivas de melhorias. Graças a Deus, por causa da

beleza da nossa terra, o clima maravilhoso e a hospitalidade do nosso povo, o setor do turismo ainda está de pé, e esta é a nossa motivação para melhorar nossos serviços e razão suficiente para acreditar que dias melhores virão”, ressalta.

Se Atenas tem o poder de encantar pelo peso histórico, Creta reserva belezas naturais e uma gastronomia inesquecível


HORIZONTES

DESAFIO NAS ALTURAS Mont Blanc, Aconcágua, Everest,... as experiências do brasileiro acostumado a ver o mundo do topo André Martins Fotos cedidas por Trekking Everest 2015 m altitudes muito elevadas, sobreviver pode ser uma questão de sorte. No topo de muitas montanhas, há quem encontre um tipo de redenção ao atingir um objetivo. Mas há também quem se surpreenda com situações que podem custar a vida. Para conquistar as alturas, não basta se entregar à força impulsiva dos sonhos. É preciso estar pronto para enfrentar desafios extremos. As temperaturas podem ser inferiores aos 30 graus negativos. Tempestades de neve, deslizamentos, avalanches e o vento gelado que corta e queima são fenômenos corriqueiros nesses ambientes.

Dependendo da montanha que se escala, alguns trechos de inclinações negativas impõem a necessidade de um condicionamento físico extremo. Não é preciso falar sobre o que uma expedição desse tipo representa para o psicológico de alguém... Há 62 anos, o neozelandês Edmund Hillary e o xerpa-nepalês Tenzing Norgay entravam para a história da mais alta montanha do planeta Terra, o Everest. Dos registros de que se tem notícia, eles são os dois primeiros homens a atingir o topo do mundo. De lá para cá, várias outras expedições foram feitas

para esse exótico cenário situado na fronteira entre a China e o Nepal. Em uma perspectiva histórica, o monte tem recebido um número crescente de aventureiros dispostos a dedicar dois meses necessários para chegar ao cume, há impressionantes 8.848 metros acima do nível do mar. A subida requer uma pacienciosa aclimatação. Os alpinistas sobem e descem trechos levando equipamentos, alimentos e se acostumando às temperaturas e à falta de oxigênio. Natural de Ibitinga, Interior do estado de São Paulo, Rodrigo Raineri é um dos brasileiros que de-


HORIZONTES safiaram grandes montanhas no mundo. Só no cume do Everest, ele já esteve em três ocasiões. É o brasileiro que mais atingiu o topo do monte, somando outras duas tentativas. Na primeira subida abortada, Rodrigo chegou a estar a poucos metros do topo. Desistiu devido às condições do tempo. Em uma montanha como o Everest, ele explica, “uma decisão equivocada ou irresponsável pode significar a morte”. Para quem enfrenta a maior montanha do mundo, sempre há a sensação de que é ela quem dá as cartas e determina quem vai atingir ou não o objetivo máximo. Rodrigo é formado em Engenharia pela Unicamp, mas nunca exerceu a profissão. Quando era estudante, ele teve as primeiras experiências de escalada. Subiu o Pico das Agulhas Negras, na divisa de Minas com o Rio de Janeiro, o Mont Blanc, nos alpes franceses, dentre outros montes. E foi assim, de expedição em expedição, que decidiu viver por meio do que as montanhas tinham a oferecer. Pouco depois de se formar, o engenheiro abriu uma empresa de aventuras, treinamentos comportamentais e palestras. Hoje Rodrigo fornece todo o auxílio técnico para quem quer ter uma “modesta” vista de cima de alguma montanha.

ção que podia não ser concedida. O processo se simplificou e, por isso, mais pessoas estão indo em direção ao Everest - algo positivo devido à democratização, mas perigoso, dada a falta de orientação de muitos aventureiros.

Atingir o topo do mundo é o sonho de qualquer alpinista. Mas escalar o mitificado Monte Everest não é para qualquer um, em nenhum dos sentidos - seja ele físico ou financeiro. Atualmente é preciso desembolsar no mínimo US$ 65 mil para tentar a sorte por lá. Sim, sorte. Porque nem sempre é possível chegar ao cume. Rodrigo explica que o acesso à montanha acabou flexibilizado ao longo dos anos. De um tempo para cá, é cobrada uma taxa para liberar o acesso. Antes era necessário aguardar por uma autoriza-

De acordo com Rodrigo, é possível a qualquer pessoa escalar grandes montanhas, desde que seja feita uma preparação consolidada. “É necessário fazer cursos, escaladas em rocha, em gelo, escalar montanhas menores para almejar as maiores”, revela. Disciplinar a cabeça e ter noções de limites também é imprescindível. “É preciso estar preparado para as privações e situações difíceis. Uma decisão errada pode custar a sua vida. Então você tem que começar devagar, aprendendo, fazendo bons cursos, entendendo o seu corpo,

A alegria estampada no rosto do alpinista brasileiro após a conquista do mais alto monte do mundo, o temido Everest

entendendo a natureza, o tamanho do desafio ao qual você se propôs. Você pode e deve sonhar alto, mas é um passo de cada vez”, completa. DIFICULDADES Embora tenha toda uma magia e seja mitificado nos quatro cantos do mundo, o Everest não é o único monte que merece respeito. Nenhuma montanha impôs a Rodrigo tantas dificuldades quanto o mais alto pico das Américas, mais precisamente a temida face sul do monte Aconcágua, incrustado na Cordilheira dos Andes. “Em nível mundial, a escala por essa face é algo pouco feito. Nela há uma parede de três quilômetros, rochas


HORIZONTES podres, acontecem avalanches, é necessário fazer escaladas verticais, de angulações negativas,... é uma escalada muito comprometedora”, conta o aventureiro que encarou o monte em pleno inverno. Nesses muitos anos de experiência subindo montanhas, Rodrigo acumula histórias que o marcaram definitivamente. No livro “No teto do mundo”, de autoria dele e de Diogo Schelp, o alpinista narra, com muitos detalhes, os cenários e sentimentos que o embalaram em algumas expedições. O livro é aberto com uma pequena carta escrita em dezembro de 2001 e

destinada ao filho, Rodrigo, recém-nascido à época. “Para algumas pessoas, desafios são desafios e não importa quais sejam, elas têm de enfrentá-los: a vitória é o enfrentamento, quer saia ileso, quer não”, escreveu em tom melancólico às vésperas de um dia decisivo no Monte Aconcágua. Nenhum mau tempo nem uma jornada abortada, no entanto, foi maior que o mais duro golpe que Rodrigo sofreu praticando aquilo que mais lhe dá prazer. Em 19 de maio de 2006, ele perdeu o amigo Vitor Negrete após os dois terem atingido o topo do Everest sem o

PARA SABER MAIS:

Guardiã de livros há 20 anos, Santitala que as bibliotecas passaram a

> EVEREST Lançado em setembro, o filme narra a tragédia ocorrida em maio de 1996, quando os dois experientes donos de empresas de expedições, Rob Hall e Scott Fischer, e outros seis integrantes de suas equipes morreram após uma terrível tempestade de neve no monte Everest.

> NO TETO DO MUNDO Detalhes das quatro primeiras jornadas de Rodrigo Raineri em direção ao cume do Everest podem ser conferidos no livro "No teto do mundo", lançado em 2011 pela editora Leya.

auxílio de cilindros de oxigênio. Vitor não resistiu ao frio extremo e às dificuldades para respirar na descida. Como havia manifestado o desejo em vida, Negrete foi enterrado na própria montanha por xerpas que auxiliaram os amigos na façanha. Mesmo diante de tantos empecilhos, perigos e das restrições naturais nas alturas, atingir os topos e se desafiar em vias mais que dificultosas, mortais, continuam a fazer parte dos objetivos de vida de muita gente. O que sempre foi dúvida é a razão de homens e mulheres ansiarem pelas montanhas - esses majestosos monumentos de rocha e força magnetizante. Rodrigo titubeia quando é questionado sobre as próprias motivações. “Na verdade, não tem uma resposta. É mais a questão do descobrimento. Nas Grandes Navegações, o que impelia os homens a subirem em barcos e sumirem sem saber onde iam chegar? Por que o homem foi para a Lua? É a busca pelo desconhecido,... é a superação, essa curiosidade que o ser humano tem de conhecer coisas. Além disso, cada um tem a sua motivação interior; cada tomada de decisão é muito pessoal. Depende do momento”, entende. Com a bagagem e a experiência que tem, Rodrigo é conhecido por ser um dos mais técnicos alpinista brasileiros. Ele já perdeu a conta de quantos montes escalou, mas os grandes feitos permanecem vivos na memória. Mesmo tendo chegado onde poucos já estiveram, o alpinista se diz desafiado e projeta mais aventuras. “A gente é movido a desafios. Eu tenho a vontade de descer o Everest voando de parapente, como já fiz no Mont Blanc. Por duas vezes, fui lá para isso, e não deu certo... Enfim.. tenho vontade de um monte de coisas”, conclui com uma curta gargalhada.


CRÍTICA

A que horas ele vem? Revistas internacionais, críticos e até mesmo o público concordam: com “Que horas ela volta?” Brasil nunca esteve, depois de tantos anos, tão próximo do Oscar André Martins Divulgação

Há quem diga que o cinema brasileiro não precise de um Oscar. Mas duas coisas são fato: 1: o país nunca ganhou uma estatueta; e 2: concorrer a uma é um barato! A última vez que um longa autenticamente brasileiro entrou na disputa foi há mais de dez anos, em 2004, com “Cidade de Deus”. Em 2016, o Brasil aparece com grandes chances de quebrar a escrita de ausências e derrotas na festa. Escolhido pelo Ministério da Cultura para representar o país na disputa entre longas em língua não inglesa, “Que horas ela volta?”, de Anna Muylaert, figura como pro-

missor. O filme ganhou o prêmio de melhor atriz, dividido entre as protagonistas Regina Casé e Camila Márdila, no Festival de Sundance, e foi laureado com o prêmio do público no Festival Internacional de Berlim. Desde então, o longa brasileiro vem sendo distribuído mundo afora e recebendo ótimas críticas. “Que horas ela volta?” tem doses cruas de realidade e é justamente por fazer essa costura, às vezes sutil, do universo de empregadas e patrões, que a diretora acerta. Val (Casé) é uma pernambucana que há anos tra-

balha em uma casa de família rica do Morumbi, em São Paulo. Val limpa, lava, estende, coloca mesa, tira mesa, traz e leva. A relação dela com os patrões é sempre respeitosa e com um carinho contido. Fabinho (Michael Joelsas), filho do casal, é para Val um segundo filho. É na cama dela, em um quarto pequeno, abafado e com um amontoado de pertences, que ele, já adolescente, busca refúgio em dias em que o sono insiste em não chegar. A rotina aparentemente simples, não muito diferente da realidade de muitas casas das classes média e alta no Brasil, sofre um revés quando Jéssica (Márdila) fala à mãe do desejo de ir para São Paulo estudar para prestar vestibular. A jovem, privada do contato com a mãe por anos pela distância, é levada para a casa dos patrões e lá as regras não explicitadas, mas estabelecidas, são todas postas à prova. A menina senta à mesa, sugere ficar no quarto de hóspedes, toma o sorvete ‘gourmet’ de Fabinho e se ‘atreve’ a se divertir na piscina da casa. Aparentemente abusada, Jéssica, que sabe de seus direitos e que ao contrário da mãe não aceita ser considerada uma “pessoa de segunda classe”, questiona regras e desestabiliza relações. Casé e Márdila brilham e dividem a tela sem que uma fagocite a performance da outra. Se a apresentadora do Esquenta é dona absoluta do primeiro ato, trazendo nuances de ingenuidade e de uma inteligência única, Márdila brilha dando voz e cara a um Brasil que, antes invisível à ‘granfinagem’, existe, sonha e pode. Se entrar na seleção dos cinco indicados a serem nomeados em janeiro de 2016, “Que horas ela volta?” vai se tornar o quinto filme brasileiro a representar o país na categoria de melhor filme estrangeiro. Vai se juntar a “O pagador de promessas”, “O que é isso companheiro?”, “O quatrilho” e “Central do Brasil”. | 43


KULTUR

A DUBAI, DOHA OU PEQUIM? Com edições confirmadas para os próximos dois anos, Rock in Rio negocia qual será a Cidade do Rock a partir de 2018 Leo Pinheiro Fotos I Hate Flash

poeira da Cidade do Rock mal baixou e o que mais se vê são pessoas se preparando para marcar presença nas futuras edições do maior festival de música do planeta. Segundo a organização, é certo que estão confirmados eventos em Lisboa, em 2016, e Las Vegas e Rio, em 2017. Porém, o sempre visionário Roberto Medina, idealizador e pre-

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sidente do Rock in Rio, adiantou para Vox Objetiva que outras cinco cidades manifestaram interesse em sediar os shows de 2018. Buenos Aires, na Argentina; Bogotá, na Colômbia; Dubai, nos Emirados Árabes Unidos; Doha, no Qatar; e Pequim, na China. As cidades asiáticas levam vantagem devido ao maior poder eco-

nômico. Medina assume que seria fantástico levar o evento para Dubai e demonstra que a capital dos Emirados Árabes Unidos pode ser o ponto de partida do evento no continente. “Do ponto de vista de marca, a gente é a maior rede social do mundo de eventos de música. Eu quero que a marca Rock in Rio esteja fisicamente em todos os continentes. Na Ásia, a gente está conversando com dois países: Emirados Árabes Unidos e Qatar. Nos Emirados Árabes é um projeto diferente, muito mais simbólico, um projeto arquitetônico muito avançado, mas a gente está conversando com calma”, conta o publicitário. Medina revela também que sonha em realizar o evento no país mais populoso do mundo. Mas se o mercado de mais de um bilhão de consumidores e quase US$ 10 trilhões de produto interno bruto é atrativo financeiramente, a política


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interna atrapalha. “Os chineses me procuraram, eu cheguei a ir até a China, mas lá eles têm um problema político. Eles querem que a gente garanta que o artista não fará nenhum pronunciamento político. Isso é impossível. Então a negociação parou aí. Creio que lá na frente isso mude; vai ter que mudar. Daí voltamos a conversar”, planeja. Se o empecilho para a realização – pelo menos nos próximos anos – na China foi ideológico, em nosso continente a questão é puramente econômica. Em dificuldades financeiras, argentinos e colombianos terão que esperar até a próxima década para assistirem ao festival em casa. “Com a Argentina, a gente chegou a caminhar bastante, mas o país tem um problema econômico muito forte. A Argentina é o país que mais conhece a história do Rock in Rio. Cerca de 65% da população conhece e ama o Rock in Rio. Então ele estava pronto. Mas ali você não tem como fazer porque você tem que remeter o di-

nheiro para pagar os artistas, e a economia está bloqueada. Esse é o motivo de não termos realizado o RiR lá ainda “. MENOR E MELHOR Outras novidades que Medina conta são que a Cidade do Rock pode trocar de lugar e que na próxima edição ele poderá reduzir ainda mais o número de ingressos para tornar o evento mais confortável para o público. “Eu já diminuí de 100 mil para 85 mil (ingressos por dia) e quando falo para o meu departamento financeiro em diminuir mais, eles tremem porque querem que eu venda todos os ingressos possíveis. É um problema complexo porque, quando você reduz, impacta no preço do bilhete. Mas eu gostaria de reduzir umas cinco mil pessoas, para desespero de alguns que me abordam na rua e falam :’Você reduziu e eu não comprei ingresso, você devia aumentar. Eu levo bronca dos caras’” (risos), conta. Quanto à mudança de local, o em-

presário despista. “Eu sonho poder fazer o Rock in Rio em um espaço maior para abrigar mais gente, para dar mais espaço e conforto para as pessoas, para a movimentação. Se a gente conseguir ampliar a Cidade do Rock será bom”, vislumbra sem revelar quando e para onde seria a mudança. A Vox Objetiva apurou, no entanto, que há planos para a construção de um espaço definitivo só para o Rock in Rio, com um miniparque de diversão, lojas, praça de alimentação. O local teria que ter o dobro da área do Parque dos Atletas, onde o evento acontece desde 2011. “O ideal para Medina, até por razões emocionais, seria o local que sediou as edições de 1985 e 2001”, diz uma fonte ligada ao dono da festa. Porém,

Eu sonho poder fazer o Rock in Rio em um espaço maior para abrigar mais gente, para das mais espaço e conforto para as pessoas, para a movimentação

Roberto Medina, idealizados do RiR

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o espaço hoje é a Vila Olímpica do Rio de Janeiro. ROCK IN RIO 2019 Para o Secretário de Turismo do Município do Rio de Janeiro, Antonio Pedro Figueira de Mello, o Parque dos Atletas ainda é o lugar ideal para o Rock in Rio e vai continuar sendo a sede do festival pelo menos até 2019. “Que seja eterno enquanto dure”, diz, parafraseando o poetinha Vinícius de Moraes. Figueira de Mello adiantou que já foi firmado o compromisso para as duas próximas edições na Cidade Maravilhosa. “Já foi assinado o contrato do Rock in Rio 2019. O Medina chegou a pensar em levar o evento para São Paulo, mas ele é nosso; já está garantido! Nós gostamos dos paulistas, mineiros e turistas de todo o Brasil, mas queremos que eles venham para cá em vez de o Rock in Rio ir até a eles. Nós gostamos muito de recebê-los e pretendemos que seja assim por muito tempo”, brinca o Secretário exaltando a boa ocupação hoteleira no período que normalmente seria de baixa temporada. Sobre a expansão do Rock in Rio para o exterior, com shows realizados na Espanha, em Portugal, nos Estados Unidos e, futuramente, na Ásia, Antonio Pedro é enfático: “Adoramos que a marca Rock in Rio seja mais conhecida no mundo! É o nome do Rio de Janeiro acima de tudo. Mas o que quero mesmo é que mais edições aconteçam aqui na cidade”, completa deixando clara uma verdadeira obsessão: lotar o Rio de turistas durante todos os meses do ano. PRÓXIMAS ATRAÇÕES Os ingressos para todos os dias do Rock in Rio 2015 se esgotaram

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em menos de duas horas. Para dar oportunidade àqueles que conseguiram comprar bilhetes para a histórica edição de 30 anos, a organização do evento já disponibilizou a venda de entradas para 2017. A compra será somente pela internet – como já acontece há alguns anos. Além da antecipação na compra de ingressos, os organizadores vão dar aos consumidores que se fidelizarem ao Rock in Rio Club mimos, como fastpass e fila preferencial nos brinquedos. Com o Rock in Rio Card garantido, o público assegura a entrada na Cidade do Rock quase dois anos antes do primeiro show, mas só escolhe o dia que vai depois da divulgação das bandas confirmadas. A equipe de Vox Objetiva conseguiu ‘arrancar’ de Roberto Medina pelo menos duas atrações que ele tem na cabeça. “Em 2017, se Bruce Springsteen quiser, ele vai tocar no Rock in Rio. Mas não depende só de mim. Depende de ele querer, se vai ter agenda,... Este ano eu queria trazer o AC/

DC para comemorar os 30 anos, não consegui. Eles não podiam vir este ano. Só no próximo. Às vezes não coincide porque os caras estão parados ou em turnê”. A respeito das atrações escolhidas para as edições do evento, Medina explica que tudo é pensado para agradar ao público geral. “É lógico que entra o meu gosto, mas é bem pouco. Neste final de semana, eu vou receber o resultado de uma pesquisa sobre o que as pessoas querem, e a estratégia é tentar ver se esses nomes fazem sentido, pensar em quais dias seriam ideais. Eu escuto todo mundo: as gravadoras, a crítica especializada. Mas o Rock in Rio é feito para o público. É ele que tentamos entender”, finaliza o dono da festa. O QUE CONTINUA O show Rio 450 fez o público dançar mesmo debaixo de chuva no Palco Sunset, no último dia de Rock in Rio. A mistura de gente do rock, pop, MPB, funk melody e samba ratificou a força que o es-


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Adam Lambert e Brian May no aguardado show do Queen. Com personalidade, Lambert seguiu um estilo próprio, abrindo mão de imitar o ídolo Fredie Mercury

Baby ‘Consuelo’ do Brasil, que tocaram com o filho Pedro Baby; Al Jarreau, que recebeu Marcos Valle em show de jazz, bossa-nova e uma surpreendente e emocionante versão de ‘Your Song’, de Elton John; do multi-instrumentista e cantor norte-americano Raul Midón; e, é claro, da homenagem à Cássia Eller, com nomes como Nando Reis e Zélia Duncan. O Sunset, segundo Medina, vai continuar sendo um espaço para experimentações de artistas que podem tocar no palco mundo em outras edições, no Brasil e exterior. paço alternativo ao Palco Mundo (o principal) tinha conquistado com o público e a crítica em dias anteriores, com apresentações emblemáticas. Destacaram-se Pepeu Gomes e

A promoção ‘Eu vou casar no Rock in Rio’, que oficializou a união em uma capela na Rock Street de um casal por dia, no estilo das cerimônias de Las Vegas, também fez muito sucesso entre

noivos, famílias e o público. Ela deve ser ampliada na próxima edição. Este ano houve sete casamentos. Em 2017 pode ser o dobro. Aparentemente com menos público do que em edições anteriores, a tenda eletrônica também fica, garantem os organizadores. É uma maneira de contemplar o público jovem e mais festeiro. Utilizavzdos por mais de 70 mil pessoas durante os sete dias de festival, os quatro brinquedos instalados na Cidade do Rock se consolidaram como o segundo maior atrativo do evento. E devem, cada vez mais, receber upgrade da organização. O holandês Xtreme, que faz um movimento de pêndulo ao mesmo tempo que gira, foi a novidade deste ano e, sem dúvida, o que dá mais frio na barriga. A Montanha Russa é cinco vezes maior do que a de 2013 e é importada da Alemanha (a anterior era brasileira); a Roda-Gigante, fabricada na Itália, agora tem um telão no centro e iluminação especial. Porém, o maior diferencial do brinquedo é ter gôndolas para cadeirantes. Golaço no quesito inclusão. Genuinamente brasileira, a tirolesa foi mais uma vez o brinquedo mais concorrido. Patrocinada por uma cervejaria, a atração ofereceu um chope para quem se aventurou a deslizar por impressionantes 205 metros de extensão e 22 metros e meio de altura. Imaginou passar em frente ao seu artista predileto durante uma música que marcou a sua vida e depois tomar um chopinho? Agora só em maio, em Portugal, ou em 2017, 2018, 2019... Sete casais disseram “sim” diante de uma multidão na Cidade do Rock. Em 2017, o número de uniões pode dobrar

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Aventuras de Alice nos país das maravilhas

Bethânia e as palavras

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TERRA BRASILIS • AGENDA

Sandy

Trigésimo quarto espetáculo do grupo mineiro de teatro de bonecos Giramundo, “Aventuras de Alice no país das maravilhas” busca inspiração no texto clássico de Lewis Carrol. A produção conta com 55 bonecos e um ator em cena para contar a história da garotinha que, de repente, se vê envolvida por acontecimentos de um mundo fantástico. Destaque para a trilha sonora do espetáculo composto por John Ulhoa e Fernanda Takai, do Pato Fu.

Com uma coletânea de poesias e textos que misturam literatura e música, Maria Bethânia se apresenta em Inhotim. A apresentação reúne a leitura de poetas de todas as gerações, como Guimarães Rosa, Manuel Bandeira, Cecília Meireles e Sophia de Mello Breyner. Acompanhando os textos, músicas de canções brasileiras e portuguesas como ABC do sertão (Luiz Gonzaga), Romaria (Renato Teixeira) e Dança da Solidão (Paulinho da Viola). Imperdível!

Depois de um longo tempo dedicado ao filho Theo, e a temporada como jurada do programa Super Star, da Rede Globo, Sandy volta aos palcos. É o fim da espera dos fãs conquistados ao longo de mais de 25 anos de carreira. A nova turnê, apelidada por Sandy de “turnê-teaser”, percorre cinco cidades: São Paulo, Rio de Janeiro, Paulínia, Belo Horizonte e Niterói, onde a cantora vai gravar o segundo DVD ao vivo da carreira solo, no Teatro Municipal, nos dias 14 e 15 de novembro.

Teatro Bradesco 16 e 17 de outubro, às 19h, e 18 de outubro, às 16h R$ 20 (inteira) teatrobradescobh.com.br

Inhotim 17 e 18 de outubro, às 15h R$ 200 (inteira) Palco Magic Square inhotim.org.br

Minascentro 23 de outubro, às 21h R$ 170 (inteira) prominasmg.com.br

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TERRA BRASILIS • AGENDA

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Festival Saci No mês das crianças acontece, em Beagá, o Festival de Sociabilização, Arte e Cultura na Infância (Saci). O evento conta com uma programação cultural diversa. Serão shows, atividades, oficinas, brincadeiras, brinquedoteca e muita música para animar a criançada. Alegria e diversão garantida para os pequenos! De 12 a 18 de outubro Entrada gratuita festivalsaci.com.br

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Semana Internacional do Café Sesc Palladium, Teatro Universitário e outros 22 a 30 de outubro R$ 6 (inteira) fetobh.art.br

Evento voltado para o público estudantil, o Festival Estudantil de Teatro (Feto) dá espaço para estudantes de qualquer grau de escolaridade apresentar espetáculos teatrais. O festival busca estimular o gosto do público pelas artes cênicas, atingindo jovens, adultos e crianças. Além das peças teatrais, o festival promove palestras, oficinas e encontros abertos ao público

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CRÔNICA

Joanita Gontijo Comportamento

Qual é a cara da sua vitória? Era um tempo em que ainda chovia... E muito! Por dias seguidos, a água encharcava as encostas de BH e ameaçava famílias inteiras de perderam seus móveis, suas roupas, suas casas. Eram itens precários e insuficientes para que pais e numerosos filhos vivessem com dignidade. Eles não tinham quase nada... E corriam o risco de perder tudo. A contradição ia além das palavras. Colocava sob holofotes as diferenças sociais. Levava para dentro de apartamentos luxuosos a realidade e a dor de uma maioria marginalizada que passava despercebida e invisível no cenário egoísta onde habita a humanidade. Por trás de um desses holofotes estávamos eu e minha equipe de TV cobrindo a ação da prefeitura para retirar de uma área de risco a família de Dona Jandira. Mãe de seis filhos, com idades variando entre 14 e 24 anos, ela apareceu na porta do barracão assim que chegaram os assistentes sociais. Não sei precisar quantos anos ela tinha. O sofrimento deixa marcas no rosto que confundem a passagem do tempo. Ligamos as câmeras para mostrar a casa pendurada no morro e registrar a dor daquela mulher que, de mãos dadas com os dois filhos caçulas, olhava-nos com serenidade. Pelo menos cinco microfones aguardavam que Dona Jandira falasse do grande pesar de deixar a casa. Esperávamos que ela caísse no choro enquanto respondia a perguntas que escancaravam a ferida provocada pela tragédia: - Como a senhora se sente tendo que deixar sua casa? Tem para onde ir? Parentes... Amigos? Dona Jandira respirou fundo e respondeu: - Não vou precisar ir para a casa de ninguém. A prefeitura vai me levar com meus meninos para o abrigo. É melhor, né? Lá a gente fica seguro. Nenhuma lágrima... A ansiedade pelo espetáculo da tristeza alheia aumentava: - Mas, abrigo não é bom, né? A senhora não

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está triste de deixar sua casa e todas as suas coisas? Há quanto tempo mora aqui? - Vixi... Tem uns 20 anos! Tempão! Mas não tô triste não. Essa casa só me deixa boas lembranças. Criei todos os meus filhos aqui. Mesmo morando num lugar violento, nenhum deles mexeu com coisa errada. Nem vício eles têm, acredita? Só tenho motivo para agradecer. A gente vai sair daqui junto e vamos dar um jeito de arrumar outro lugar. Os colegas insistiram, mas eu abaixei o microfone e me dei por satisfeita. Minha matéria não teria lágrimas nem lamentações. A mensagem que aprendi e que inspirou meu texto naquele dia era diferente. O significado do que é ganhar e perder pra mim não fazia nenhum sentido para Dona Jandira. A derrota dela não estava em nada que se sustentava com muito custo à beira daquele abismo de lama. Pouco importava o que a chuva tinha levado. A vitória dela era outra. Quantas vezes, mesmo depois disso, eu me lamentei por não realizar desejos que, na verdade, nem me apeteciam... Ir para Disneylândia com os filhos pequenos, namorar em Paris, escalar o Aconcágua são sonhos legítimos e admiráveis. Mas não são os meus. Desejos não devem ser padronizados, mas vivemos numa sociedade que dita até nossos quereres. Que eu me lembre sempre de Dona Jandira para não perder mais tempo me lastimando por não ter aquilo que nem me interessa. Que eu reconheça minha vitória no meio da multidão. Com certeza, ela terá a minha cara e a de mais ninguém.

Joanita Gontijo Jornalista e autora do livro “70 dias ao lado dela” joanitagontijo@yahoo.com.br


Conjunto Moderno da Pampulha candidato a patrimônio A Pampulha é uma paixão dos belo-horizontinos. cultural da humanidade. E um orgulho para todos os brasileiros. Por isso, a Prefeitura de Belo Horizonte tem trabalhado vamos abraçar essa ideia.

pela revitalização e preservação desse patrimônio. São inúmeras ações para deixar a Pampulha ainda mais encantadora. Agora, ganhamos mais um motivo para nos orgulhar: o Conjunto Moderno da Pampulha é candidato a Patrimônio Cultural da Humanidade pela UNESCO.

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É o mais famoso cartão postal de BH rumo ao reconhecimento mundial. Uma paixão de bh e do brasil para o mundo.

Algumas das obras realizadas pela Prefeitura na Pampulha: Inauguração da nova iluminação da orla • Restauração dos 11 km de ciclovia e pistas • Restauração do patrimônio arquitetônico • Inauguração do Museu Casa Kubitschek • Início da despoluição da lagoa com as obras de desassoreamento.

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Alvará de localização e funcionamento nº 2013155660 - Válido até 12/08/2018.

ANÚNCIO CCBB 12 Entrada: R$ 10 (inteira) e R$ 5 (meia).

Apoio

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