Novembro/15 • Edição 76 • Ano VII • Distribuição gratuita
Terra em transe
Conflito na Síria dá origem à maior onda migratória desde a Segunda Guerra. Estocolmo abriga milhares, e Belo Horizonte é casa de uma centena de refugiados
NEW YORK, NEW YORK - A BIG APPLE APRECIADA DO TOPO
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EDITORIAL Repensando a relação com as cidades A Vox Objetiva destaca nesta edição duas reportagens especiais sobre a necessidade urgente de repensarmos nossas cidades, a melhoria de nossas relações sociais e o equilíbrio ambiental. A revista traz uma entrevista com o jornalista mineiro Fabrício Marques, que resgata, no livro “Uma cidade se inventa”, o conceito de que os centros urbanos não são resultado apenas de construções altas ou baixas. Cidades, grandes ou pequenas, permitem a renovação das artes, o surgimento de culturas, comportamentos e visões de mundo alternativas construídas nos encontros de pessoas em ruas e avenidas. O que chamamos de vida pública. Cidades não são, e nunca deveriam ter sido, apenas concreto.
Carlos Viana Editor Executivo carlos.viana@voxobjetiva.com.br
“... O povo que conhece o seu Deus se tornará forte e ativo.” (Daniel 11:32)
A Vox Objetiva é uma publicação mensal da Vox Domini Editora Ltda. Rua Tupis, 204, sala 218, Centro, Belo Horizonte - MG CEP: 30190-060
Em outra abordagem sobre o mesmo tema, a jornalista Haydêe Sant’Ana mostra a determinação dos arquitetos contemporâneos em oferecer aos construtores edificações que se enquadrem em certificados de sustentabilidade, permitindo o equilíbrio entre qualidade de vida, meio ambiente e recursos renováveis de energia. O cerne de toda a discussão que envolve as cidades passa por retomar o princípio de que elas são as maiores invenções da humanidade para facilitar o relacionamento entre pessoas e o desenvolvimento das civilizações. Aqui surge o desafio para os brasileiros. Enquanto as experiências internacionais nos mostram que conceitos de sustentabilidade e de redução de danos não podem mais ser ignorados, em nossos aglomerados, formais ou informais, persiste a desigualdade econômica e a ocupação irregular de áreas destinadas à preservação. Diante de um aquecimento global e da escassez mais constante no fornecimento de água às populações, ainda tratamos nossos rios e córregos como esgotos a céu aberto. Mantemos baixos os investimentos socioambientais, mas, por outro lado, gastamos cada vez mais com doenças e patologias cuja origem está na poluição e no estresse diário de nosso cotidiano em desequilíbrio. Geração de riquezas e planejamento de novas áreas habitáveis devem se transformar em conceitos fundamentais nos projetos de políticas públicas e na administração de nossos municípios. Essa tomada de consciência dos governantes só virá por meio de uma cobrança social e da elaboração de leis mais rígidas de planejamento, uso e ocupação do solo e da troca de informações sobre resultados positivos implantados Brasil afora. Erramos no passado e no presente. Não podemos mais desperdiçar um tempo cada vez mais curto e precioso para a tomada de decisões.
Editor adjunto: André Martins l Diagramação e arte: Felipe Pereira | Capa: UNRWA l Chamada Minas Trend: Bernardo Silva l Reportagem: André Martins, Érica Fernandes, Gisele Almeida, Haydêe Sant’Ana, Leo Pinheiro, Tati Barros, Thalvanes Guimarães | Correspondentes: Gisele Almeida - Estocolmo | Diretoria Comercial: Solange Viana | Anúncios: comercial@voxobjetiva. com.br / (31) 2514-0990 | Atendimento: jornalismo@voxobjetiva.com.br (31) 2514-0990 | Revisão: Versão Final l voxobjetiva.com.br
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OLHAR BH
Igreja de São José Foto: Felipe Pereira |5
SUMÁRIO Felipe Pereira
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Divulgação
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Divulgação
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Felipe Pereira
40 João Marcos Rosa
VERBO
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FABRÍCIO MARQUES Jornalista Mineiro Lança Livro Que Redescobre Belo Horizonte Pelo Olhar De Seus Autores
SALUTARIS
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METROPOLIS
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CONSTRUÇÕES SUSTENTÁVEIS Escassez De Recursos Naturais Redefine Trabalho De Arquitetos E Construtores
PORTAS ABERTAS O que a Europa e o Brasil têm feito para acolher os refugiados sírios?
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Problemas cardíacos em crianças e jovens indicam necessidade imediata de mudança nos hábitos
VANGUARDA
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CAPA
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PRECOCE
CRIATIVAS E ÚTEIS Invenções mineiras propõem soluções simples a problemas cotidianos
PODIUM
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POPULARIDADE Torcedores de Atlético e Cruzeiro querem saber: qual é o time do povo em Minas?
Gisele Almeida
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Cidade Olimpica/Divulgação
Felipe Pereira
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HORIZONTES
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VISÃO PRIVILEGIADA Os locais estratégicos para curtir a incrível Nova Iorque do topo
KULTUR
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PASSEIO PELA HISTÓRIA Escritora desvenda a história, as curiosidades e os causos do Rio de Janeiro dos anos 20
Divulgação/ Babélica Urbe
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Fuja do corretor antiético
METEOROLOGIA • Ruibran dos Reis O futuro do planeta Terra
PSICOLOGIA • Maria Angélica Falci Pais atentos, filhos confiantes
CRÔNICA • Joanita Gontijo Você não é o oxigênio do mundo
SAPORIS
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RECEITA – Enoteca Decanter
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VINHOS – Nelton Fagundes
ARTIGOS IMOBILIÁRIO • Kênio Pereira
JUSTIÇA • Robson Sávio Outro olhar sobre a juventude
Salmão com molho de shimeji e purê de mandioquinha Tecnologia no mundo dos vinhos
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VERBO
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VERBO
A BEAGÁ DOS AUTORES Com “Uma cidade se inventa”, jornalista Fabrício Marques tece o emaranhado afetivo que liga autores a Belo Horizonte Texto de André Martins Fotos de João Marcos Rosa la não tem mais que 117 anos. Comparada a capitais como Salvador, São Paulo e Rio de Janeiro, Belo Horizonte é uma jovem cidade. A despeito da “pouca” idade, a cidade tem muita história para contar. No quesito “arte”, destaca-se a metrópole que, ao fim do século XIX, era o signo da modernidade no Brasil. Dança, música e literatura fazem parte do cotidiano belo-horizontino há tempos. Desde o nascimento de “Belô”, em 1897, a cidade aparecia na literatura e em crônicas do português Alfredo Camarate. Quem revela isso é o jornalista Fabrício Marques, autor de “Uma cidade se inventa”, livro que conta a história de Beagá por meio da percepção de seus autores. “Decidi redigir esse livro ao observar que Belo Horizonte é uma cidade que tem uma ligação profunda com a literatura, mas não havia, até então, um livro que falasse sobre como os escritores viam a cidade”, revela. Formado em Jornalismo pela Universidade Federal de Juiz de Fora e doutor em Estudos Literários pela Universidade Federal de Minas Gerais, Fabrício decidiu vir para Belo Horizonte em 1992. Na capital mineira trabalhou em veículos de comunicação, como Suplemento Literário e Diário da Tarde. Atuou também como professor universitário no Uni-BH, na Fumec, no Izabela Hendrix, na Ufop, dentre outras instituições. Hoje
é jornalista na Assembleia Legislativa de Minas Gerais. Como escritor, Fabrício lançou nove livros. Por “A fera incompletude” o mineiro, de Manhuaçu, recebeu uma indicação ao principal prêmio literário do país, o Jabuti. Para redigir “Uma cidade se inventa”, Fabrício pesquisou mais de 300 obras e entrevistou cerca de 80 autores. Da ideia até o lançamento do trabalho, em outubro, passaram-se mais de nove anos. O resultado do acurado processo de pesquisa é um livro que descortina a história da literatura em Belo Horizonte, lançando luz sobre a trajetória dos autores que aqui atuaram, as histórias que vivenciaram e os locais pelos quais transitaram ao longo de sete décadas. Além da diagramação atraente e que facilita a leitura, o livro conta com fotos do amigo de Fabrício, fotógrafo da National Geographic João Marcos Rosa. Seu novo livro tem como matéria-prima algo imaterial e fugaz: a memória. Uma memória afetiva. Como foi a experiência? A memória é também uma forma de ficção. Ela é traiçoeira e é uma construção. É como aquela música do Legião Urbana fala: ‘O futuro não é mais como era antigamente’. O passado também não é. Então o passado está sempre em construção, porque ele está sempre baseado na memória, e uma memória que é sempre falha.
Esse livro é curioso porque ele se baseia em várias memórias. Quer dizer, eu entrevistei cerca de 80 escritores e especialistas e me baseei na memória deles para tentar fazer uma soma de várias memórias. Na verdade, também é uma memória parcial porque obviamente faltaram os escritores que eu não tive a oportunidade de entrevistar. Trabalhar com a memória é sempre complexo, porque você tem que saber sempre que ela é parcial. Você precisa sempre de muitos pontos de vista, algo que se aprende no jornalismo. E o livro, eu faço questão de dizer, é baseado em uma pesquisa literária, mas é um livro-reportagem. Quer dizer: ele tem um fundamento jornalístico, de você ouvir várias fontes, de pesquisar em vários locais. Então nessa luta com a memória, eu usei de algumas estratégias jornalísticas para minimizar os danos, vamos dizer assim. Como foi fazer essa costura de autores e locais pelos quais eles transitavam ao longo desses 70 anos? Há alguma história que tenha feito você pensar ‘Isso vai ser muito legal de contar!’? Pensei muito na estrutura do livro. Se ficasse só falando dos lugares que são importantes para os escritores, o livro ia ficar chato. Especialmente para quem não mora aqui. E aí uma estratégia narrativa que eu pensei foi incluir histórias
VERBO go’, que se passa em Belo Horizonte. Há também um livro mais recente do Marcus Freitas, que é um professor da UFMG, que se chama ‘Peixe morto’ e que trata de um crime que aconteceu lá na Lagoa da Pampulha. Então estou citando histórias que aconteceram com os escritores, como o Fernando Sabino, e histórias ficcionais que envolvem Beagá. É importante também falar uma coisa: no meu livro é possível notar a ausência de autores importantes, como o Bartolomeu Campos de Queirós. O Bartolomeu é um autor importantíssimo, mas ele não está presente por não falar de Belo Horizonte na obra dele. O meu critério foi escolher autores que falam de Belo Horizonte. Sobre esse rito de passagem, envolvendo o Drummond, tinha toda uma questão da transgressão, certo?
dos escritores. E há histórias fantásticas. Histórias que foram criadas, de ficção, e histórias reais. Em 2006, conversando com o José Bento de Sales, falecido há alguns anos, ele me contou que em 2004 encontrou com o Fernando Sabino andando sozinho na Praça da Liberdade e o perguntou o que ele estava fazendo. Aí o Sabino respondeu que estava refazendo o caminho da saudade, passeando naquela região que era muito importante para ele. Poucos meses depois o Sabino morreu. Essa é uma história cotidiana; não é uma história fantástica. Mas ela mostra essa relação do escritor com a geografia da cidade. O livro traz histórias de autores conhecidos, como o Sabino, mas também de um Manoel Lobato, um cronista que publicou mais de 3 mil crônicas. Ele tem um livro de memórias chamado ‘Cartas na mesa’, em 10 | www.voxobjetiva.com.br
que conta que uma vez se surpreendeu com o filho, que devia ter uns 10 anos de idade, saindo de casa, no bairro Sagrada Família. Aí, o Manoel falou assim: ‘Onde você vai, menino?’. E o filho respondeu: ‘Ah, eu tô indo ali fechar o portão para eu não fugir’ (Risos). Essa história já é quase que uma crônica. Um contador de histórias muito bom é o Humberto Werneck. Ele me contou que o Viaduto Santa Tereza foi utilizado como um rito de passagem. Carlos Drummond de Andrade e integrantes de outras gerações, como a do Fernando Sabino, escalaram os arcos do viaduto. O Humberto falou que, quando chegou a vez dele, ele não ‘teve peito’. Então tem a geração dos que subiram e a dos que não subiram. Hoje essa história de subir os arcos fica um pouco caricatural. Tem um livro do Darcy Ribeiro que se chama ‘Migo’, como se fosse ‘comi-
Sim, sim. O Otto Lara Resende falava que a Belo Horizonte dos anos 40 era uma cidade ‘lerda e acolhedora’ (Risos). Uma cidade paradona, pacata. O capítulo que fala dos anos 40 se chama exatamente ‘No limite do sonho dourado’ porque, a partir dos anos 50, a cidade começa a crescer muito e passa a perder esse aspecto mais de residência, de interior, de província. Ela não deixa de ter essas características, mas vai virando uma metrópole, uma cidade mais complexa e com mais problemas: especulação imobiliária, problemas sociais,... tudo isso vai crescendo em progressão geométrica. Quais as peculiaridades que nunca deixaram de existir nesta cidade? Eu penso que uma coisa comum em todo esse tempo é que Belo Horizonte, desde o seu nascimento, teve escritores. É diferente de outras cidades que desenvolveram a literatura depois. Mesmo antes de 1897, quando a cidade foi inaugurada, já havia um cronista português que se
VERBO chamava Alfredo Camarate. Ele fazia crônicas sobre a construção de Beagá. Toda cidade tem atrativos. E eu acho que o aspecto que esse livro tenta mostrar é o seguinte: tão importante quanto estudar a história da literatura e dos escritores, é estudar a geografia: a geografia territorial, a relação dos escritores com os locais em si e uma geografia das pessoas. Belo Horizonte sempre teve grupos que eram muito fortes artisticamente. Grupos sempre existem, mas nem sempre eles têm tanto poder individual. Às vezes, o grupo só fica forte com a soma de seus integrantes. E os grupos literários de Belo Horizonte tinham, e eventualmente têm, essa característica. Depois de Drummond e seus amigos, tem a geração dos chamados vintanistas, que é a geração que nasceu nos anos 20 - Fernando Sabino, Hélio Pellegrino, Otto Lara Resende, Paulo Mendes Campos -, depois a geração do Complemento, em seguida à do Suplemento Literário,... Em todas essas gerações, em maior ou menor grau, existia essa geografia de pessoas; essa paisagem humana muito forte.
Você mapeia os locais e pontos de encontro dos autores. Para você, quais são os locais mais importantes em Beagá? Para mim, a redação do Suplemento Literário, na Imprensa Oficial, na avenida Augusto de Lima, tem um valor afetivo grande. É um local cuja história sempre me fascinou desde jovem e no qual eu tive a oportunidade de trabalhar em dois momentos. Outro local é a Pampulha, região onde moro há oito anos. Gosto muito de ir à Lagoa. E o terceiro local de que gosto muito é a Lagoinha, região histórica que revelou um dos maiores escritores do Brasil, o Wander Piroli. Trabalhei por 13 anos como professor no Uni-BH. Então é uma região especial. Claro que essa Lagoinha não é mais a mesma, porque em meados dos anos 80 a Praça Vaz de Melo foi destruída e houve a construção daquele complexo. Então é outra Lagoinha. Mas por ser a Lagoinha do Wander Piroli é importante pra mim. Gosto de fazer um passeio cotidiano e um passeio imaginativo por esses locais, pensando no que
Tão importante quanto estudar a história da literatura e dos escritores é estudar a geografia. A geografia territorial (...) e a geografia das pessoas
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que ‘Itabira é apenas um retrato na parede’,.. e ele nunca mais voltou a Itabira. Em ‘O mundo acabou’, o Alberto Villas trata de coisas que acabaram no mundo, não só em Belo Horizonte, mas ele fala do ponto de vista de Beagá. Entendo que os escritores que criticam amam a cidade e a querem bem.
os escritores que por esses locais transitaram pensavam.
pessoas precisam saber que ali eles se encontravam.
Você citou a descaracterização da Lagoinha. Acredita que Beagá seja uma cidade que preserva minimamente a memória?
O poder público, tanto o municipal quanto o estadual, podia criar esse roteiro. Em Belo Horizonte existem essas histórias se encontrando. Na música, tem o Clube da Esquina; na dança, tem o Grupo Corpo, e o Klauss Vianna, citado no livro e pertencente à geração do Complemento. E tem toda essa riqueza da literatura. São vários diálogos acontecendo aqui ao mesmo tempo. E eu acho que isso está um pouco abandonado. Precisava ter um olhar mais profundo do poder público para manter essa riqueza, que é simbólica, mas é material. Há os lugares que devem ser preservados.
A forma como eu fechei o livro faz uma crítica sobre isso. O último capítulo, ‘De Canudos a metrópole’, começa justamente falando sobre a Casa Guimarães Rosa que está abandonada e foi vendida para a iniciativa privada. A gente não sabe o que vai acontecer com ela. O Guimarães Rosa é um dos escritores mais importantes da língua portuguesa. Ali poderia ser feito o museu Guimarães Rosa. Eu nem abordei isso no livro, não usei a palavra turismo, mas eu acho que há um potencial turístico desses locais em Belo Horizonte. Poderia ser feito um roteiro literário para as pessoas que vêm de fora. Tem muita gente interessada nisso, em conhecer onde o Drummond gostava de passear, onde ele morou, onde o Guimarães Rosa morou, onde os autores se encontravam. Tudo bem: o Bar do Ponto, onde o Drummond se encontrava com o Pedro Nava, não existe mais. Hoje o local é o Othon Palace, na Afonso Pena com Bahia. Mas as
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Muitos autores falam que não reconhecem mais Belo Horizonte. Exemplo do Humberto Werneck e Alberto Villas. A cidade perdeu o encanto? Outro autor que fala sobre isso é o Silviano Santiago. Ele critica muito a cidade. Outros também criticam. O Ivan Ângelo, um dos meus entrevistados, disse que o meu livro aborda da fundação à afundação da cidade. Bem parecido com o Drummond quando fala
Essa Belo Horizonte do passado não existe mais. Mas, evidentemente, a cidade, assim como as pessoas, envelhece. Agora ela pode escolher envelhecer com dignidade e saúde ou envelhecer desleixadamente. Se ela for cuidada e se cuidar, vai viver bem, bonita. Não precisa colocar botox. A cidade tem que ter as rugas; tem que ter as marcas do tempo, mas ela pode respirar bem e ser respirada. O seu livro liquida essa história ou há coisas que, ao longo do processo, você viu potencialidade para desdobrar em outro projeto? O meu livro avança até as novas gerações. Ele foi publicado em 2015 e fala de autores de 2015. Então a coisa está quente. Eu fiquei com medo, quando estava escrevendo, que quando passasse dos anos 80 ia diminuir a produção. No entanto, há uma produção e existe muita coisa boa. Hoje há muitos bons autores. Eles estão produzindo na cidade, falam sobre a cidade. Isso está no meu livro, mas é algo que poderia ser aprofundado: falar sobre essa produção, a relação dessa nova geração de escritores com a cidade,... E o livro tem dois capítulos que falam de antes dos anos 40. No entanto, eu começo a pesquisa mesmo depois da década de 40. Então poderia haver ‘Uma cidade se inventa 2’ falando sobre o início da cidade até aquele momento. Mas o livro ia ficar muito grande. Ele ficou com 350 páginas. Se eu fizesse isso, iria ter o dobro.
ARTIGO
Kênio Pereira Imobiliário
Fuja do corretor antiético Com o objetivo de gerar segurança para o proprietário do imóvel e para os pretendentes à compra ou à locação, o legislador criou, em 1978, a Lei nº 6.530, que regulamenta a profissão de corretor de imóveis. Regras básicas foram estabelecidas. Dentre elas, o art. 20, que prevê – Ao Corretor de Imóveis e à pessoa jurídica inscritos nos órgãos de que trata a presente lei é vedado: [...] III – anunciar publicamente proposta de transação a que não esteja autorizado por meio do documento escrito. Essa proibição consta também do art. 5º do Decreto nº 81.871/78. A finalidade é evitar confusão provocada pelo excesso de placas de diversas imobiliárias no mesmo imóvel. Essa irregularidade favorece a ação de estelionatários que assinam contratos de venda ou de locação como se fossem representantes do proprietário, mas depois desaparecem com os valores recebidos do inquilino ou do comprador. Quando uma pessoa autoriza um corretor de imóveis a representá-la numa transação, espera-se que esse profissional seja sério e que tenha uma conduta ilibada, pois ele atua como se fosse um procurador, já que pode comprometer o locador ou o vendedor, caso cometa algum ato irregular. Cabe ao proprietário do imóvel entregar o imóvel somente a um intermediário para efetuar a venda ou a locação, pois o corretor que respeita as leis e o Código de Ética não aceita trabalhar sem exclusividade, vez que tem compromisso de prestar um serviço personalizado, em respeito ao Código de Ética, que determina: art. 4º “Cumpre ao Corretor de Imóveis, em relação aos clientes: [...] VI – zelar pela sua competência exclusiva na orientação técnica do negócio, reservando ao cliente a decisão do que lhe interessar pessoalmente”.
Para inibir atos irregulares de alguns inconsequentes, que não têm condições de representar um proprietário, o Código de Ética proíbe o corretor, no art. 6º, de “angariar serviços de forma a desprestigiar outro profissional ocasionando prejuízos morais ou materiais; desviar cliente de outro corretor e praticar concorrência desleal”. Para que o proprietário e todos que vierem a negociar a venda ou a locação possam saber a quem responsabilizar por alguma falha, o Código de Ética estabeleceu no art. 6°, inciso XVI, a proibição do corretor de “aceitar incumbência de transação sem contatar o Corretor de Imóveis, com quem tenha que colaborar ou substituir”. Além disso, em 2002 foi introduzido no Código Civil o art. 723 que estimulou a relação de exclusividade na prestação do serviço de intermediação ao aumentar a responsabilidade do corretor. O proprietário que analisar criteriosamente quem elege para representá-lo de forma exclusiva não terá problemas. Entretanto, quando o proprietário não se importa em deixar a intermediação do negócio com uma imobiliária antiética, que denigre o concorrente colocando várias placas no mesmo imóvel de forma a desvalorizá-lo, perde a condição de cobrar do “corretor” uma conduta digna e honrada.
Kênio Pereira Presidente da Comissão de Direito Imobiliário da OAB-MG keniopereira@caixaimobiliaria.com.br | 13
Divulgação
METROPOLIS
NA ONDA
VERDE Escassez de água e de energia força indústria da construção civil a aliar potencial de reaproveitamento a economia em projetos sustentáveis Haydêe Sant’Ana
o passear pelas grandes cidades, é possível se deparar com construções que mais se assemelham a obras de arte. Elas destoam da paisagem habitual dos centros urbanos. Com foco na sustentabilidade, design diferenciado, eficiência e qualidade, essas edificações se definem como exemplos da arquitetura sustentável. A arquitetura verde, como também é conhecida, busca diminuir os impactos ambientais e economizar os recursos naturais. Além disso, há uma preocupação com o uso de materiais que sejam certificados como ecologicamente corretos ou recicláveis. Nos projetos sustentáveis, o uso da água e da energia é pensado para promover uma melhor utilização e economia. O arquiteto Alexandre Nagazawa destaca algumas das facetas desse novo momento da construção civil. “Preza-se pela utilização pelo reúso da água pluvial, muros verdes, espelhos d’água que melhoram a umidificação dos ambientes, vidros que protegem da insolação dos raios ultravioletas e que melhoram o desempenho técnico”, destaca.
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Em relação ao consumo de energia, a disponibilização das janelas conforme a orientação do sol e a direção do vento garante um ambiente iluminado e fresco durante o dia. Outra estratégia simples é o uso de vidros duplos que aproveitam a luz solar ao mesmo tempo que servem como excelentes isolantes térmicos. O arquiteto Gustavo Penna, observa que as preocupações com a agenda ambiental entraram na pauta da construção civil recentemente. “Agora esse tema está mais recorrente porque é algo urgente. Se não tomarmos alguma atitude, frearmos um pouco essa ocupação caóti-
ca, vamos sofrer com a escassez dos recursos naturais, tão necessários à vida. É uma pena que só nos movemos quando somos obrigados”, opina. Os empreendimentos que seguem os padrões de sustentabilidade são avaliados pela Organização Green BuildingCouncil, nos Estados Unidos, responsável pelo selo internacional Leadership in Energy and Environmental Design (LEED). De acordo com a organização Green BuildingCouncil, o Brasil ocupa o terceiro lugar no ranking dos países com o maior número de empreendimentos certificados, perdendo apenas
METROPOLIS
para os Estados Unidos e a China. Por aqui, há 248 prédios certificados e mais de 988 em processo de certificação. BH MAIS SUSTENTÁVEL Na capital mineira, o primeiro edifício a receber a certificação LEED na categoria Gold foi a Fundação Forluminas de Seguridade Social (Forluz). Com 58 mil metros quadrados, 30 andares e capacidade para abrigar até 2,85 mil pessoas, o edifício se impõe como símbolo da arquitetura moderna no bairro Santo Agostinho.
Para o arquiteto, mais do que um assunto em pauta, a sustentabilidade sempre foi algo intrínseco às próprias cidades. “As cidades são lugares onde o sistema viário não enfrenta a topografia, mas se molda a ela. A cidade é onde você pode caminhar com segurança e prazer, onde o trabalho fica perto da sua casa. São cidades misturadas, não cidades segregadas, onde se tem uma área especial para moradia, outra para escritórios, diferente do comércio e do lazer. A cidade é uma coisa viva”, conclui. Assim como a Forluz, o edifício Veredas Empresarial e o Jardim Casa Mall são destaques em sustentabilidade. O primeiro é um empreendimento comercial do grupo Engenharia e Planejamento e Obras (EPO), projetado pela Bloc Arquitetura e Empreendimentos. Localizado no bairro Estoril, em uma região próxima à Serra do Curral, a implantação da edificação seguiu as diretrizes para a preservação do bem natural e adotou estratégias para minimizar o impacto da edificação sobre o entorno. Nagazawa explica como ocorreu a implantação do empreendimento.
“Buscamos respeitar a paisagem, gerando impacto visual reduzido aliado a terraços jardins, à medida que o prédio vai se escalonando e acompanhando o perfil natural do terreno”. A estrutura do edifício se abre em visadas de 360°, o que possibilita um olhar diferenciado a quem está no exterior do prédio. Além disso, a abertura de uma imensa escadaria, um tipo de ‘praça vertical’ que acompanha os patamares do terreno, forma áreas de lazer e de descanso. Formado por três blocos, o Jardim Casa Mall, localizado no Bairro Jardim Canadá, em Nova Lima, é referência como um empreendimento comercial em estruturação. Planejado para abrigar lojas, objetos de decoração e de design, a arquitetura da construção formada por um conjunto de brises que cobre o edifício chama a atenção. Utilizado para barrar os raios solares e melhorar o desempenho técnico da edificação, o uso dos brises conferiu um aspecto escultórico ao design do empreendimento, o que melhorou inclusive a percepção que as pessoas tinham do lugar. “É muito bom ver o poder que a arquitetura tem para
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Projetado pela Gustavo Penna Arquiteto e Associados e de autoria dos arquitetos Gustavo Penna e Alexandre Bragança, o prédio tem ventilação noturna para resfriamento da estrutura, controle automático de iluminação e sistema de aproveitamento da água da chuva. Essas técnicas garantem uma economia de 19% de energia e 40% de água. Além disso, o edifício conta um sistema de automação que controla o tráfego dos elevadores até o sistema de irrigação. “Criamos um edifício verde com a utilização de sistemas especiais para as esquadrias, vidros e brises-soleil, uso da água de chuva e do lençol freático, e o emprego de células foto-
voltaicas para a cogeração de energia”, explica Penna.
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É muito bom ver o poder que a arquitetura tem de conseguir mudar a percepção das pessoas de determinado local
Alexandre Nagazawa, arquiteto
conseguir mudar a percepção das pessoas de determinado local. As pessoas param, olham e acham bonito. Isso é muito gratificante”, expõe Nagazawa. Conciliar sustentabilidade com eficiência, design e beleza não é uma
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Da mesma forma que o design não se sustenta só pela beleza, o projeto de iluminação deve considerar a decoração e a distribuição do mobiliário e do adorno. Designer de interiores e fotógrafa, Priscila Prado explica que todos os detalhes são previamente pensados. “Existe todo um propósito por trás da iluminação, pensando em ajustar coisas distintas, iluminar uma parede com uma textura ou um quadro. Primeiramente pensamos no layout do local, o que vai ser inserido ou permanecer no local; alguma peça do cliente, às vezes”, explica. Na escolha da iluminação adequada para cada ambiente, a designer enfatiza a importância do uso da luz natural e analisa o uso recorrente do Light Emitter Diode LED (Diodo Emissor de Luz), que alia durabilidade e economia, segundo Priscila. “O LED é a melhor invenção, pois é uma lâmpada pequena, que ilumina muito e pode ser usada em todo tipo de ambiente. Ela tem todas as cores, é supereconômica e é dimerizável também. Em projetos na área urbana ou na rural há grande utilização, pois é uma energia eficiente e muito boa. Ela pode substituir todas as lâmpadas”, conclui a designer de interiores. Apesar de encarecer um pouco obra, a adoção das práticas sustentáveis garante benefícios em longo prazo, como a longevidade do imóvel e os menores custos de manutenção. “Hoje os empreendedores têm uma preocupação com o meio ambiente, o futuro e os recursos. Eles colocam isso como uma estratégia de venda, e todo mundo ganha.
Ele ganha com a diferenciação do produto; nós, porque trabalhamos com uma questão que é do cerne da arquitetura, e o consumidor, porque recebe um benefício operacional, redução de custos, de condomínio, de luz, de água. São várias as questões que melhoram o desempenho”, conclui Nagazawa.
O LED é a melhor invenção, pois é uma lâmpada pequena, que ilumina muito e pode ser usada em todo tipo de ambiente Priscila Prado, designer de interiores
Arquivo pessoal
Felipe Cecilio
tarefa fácil. No entanto, a escolha do design do projeto passa pela questão da viabilidade, da sustentabilidade. Um design bonito por si só não se justifica. É preciso ter uma aplicação prática. “O design pela forma não é o legal, o correto. Obrigatoriamente um bom design passa pela viabilidade. Ele tem que ser capaz de sustentar a produção e ser bonito”, define Nagazawa.
ARTIGO
Robson Sávio Justiça
outro olhar sobre a juventude De acordo com a Organização Mundial de Saúde, as mortes por causas externas correspondem a grande parcela de óbitos em, praticamente, todos os países. Essas causas ocupam sempre a segunda ou terceira colocação. Porém a sua distribuição quanto ao tipo de causa é diversa. No Brasil, o total de mortes por causas externas provocou no país cerca de 2 milhões de mortes de 1980 a 2000 — o equivalente à população de Brasília. Porém, o problema da violência não se limita aos homicídios: milhares de pessoas perdem suas vidas no Brasil por outras causas, como acidentes de trânsito e suicídios. No caso dos jovens, maiores vítimas da violência, outros fatores de vitimização e risco juvenil estão relacionados ao enorme número de armas disponíveis (e sem controle estatal) nas mãos desse segmento e o adensamento do tráfico de drogas (motivando disputas sangrentas entre gangues), principalmente nas periferias das grandes cidades. Esses elementos associados contribuem para o aumento da morte dos jovens e respondem por altas taxas de letalidade da população. Há em nosso país, infelizmente, um genocídio da juventude negra, dado que esse segmento étnico-racial é o alvo preferencial da violência letal. As políticas sociais e, dentre elas, as ações de segurança pública, principalmente as voltadas para a prevenção à criminalidade juvenil, não podem continuar a ratificar o preconceito que rotula os jovens como sendo um problema, pois se eles são os principais autores da violência (devido a uma série de desvantagens socioeconômicas), são também as principais vítimas. Sem romantismos, é necessário articular os programas e as políticas públicas focados nos adolescentes e nos jovens, com
o objetivo de ouvir esses sujeitos, entender suas angústias e transformar suas reivindicações em demandas legítimas. É preciso entender que não há somente um modelo e uma forma de vivência da juventude. Na verdade, existem juventudes que vivem e labutam dentro de contextos sociais dos mais diversos. Outra ação necessária é dar conta de que as novas configurações do mundo, da sociedade, das famílias supõem novos contratos sociais mais flexíveis e baseados na negociação, na compreensão, no diálogo, na valorização da diversidade e não mais na imposição de normas ditadas pelos adultos. Existe uma reflexão de que é possível construir outro olhar sobre os jovens e as juventudes e reconhecer a importância de articular instituições públicas e sociais para dividir as angústias e as responsabilidades pelo crescimento sadio dos jovens. Para isso, é preciso ter a consciência das funções e dos limites das instituições, possibilitando a construção de políticas e ações de conjunto para garantir maior proteção às crianças, aos adolescentes e aos jovens. Assim sendo, pensar na política pública de promoção à cidadania juvenil, baseada nos pressupostos dos direitos desse segmento populacional, implica restituir direitos à grande parcela da população (notadamente os mais pobres e, dentre esses, os jovens empobrecidos - maiores vítimas da criminalidade violenta) constrangida e amedrontada com o avassalador incremento da violência nos últimos anos.
Robson Sávio Reis Souza Filósofo, cientista social e autor do livro “Quem comanda a segurança pública no Brasil? robsonsavio@yahoo.com.br
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CAPA
ESTENDENDO A MÃO Milhões de pessoas deixam a Síria e enfrentam uma longa jornada em busca da sobrevivência. Distante da Suécia, imbatível no auxílio aos exilados na Europa, Belo Horizonte abriu as portas a uma centena de refugiados sírios desde o início dos conflitos
ui baleado nas manifestações, mas tive sorte: não acertaram o coração. A bala atravessou o meu peito e saiu do corpo”. Para Khaled Al Khader, a cicatriz e a perda de familiares e de amigos são algumas das lembranças da Síria que ele deixou para trás. Ex-estudante de Direito, o jovem de 26 anos chegou à Suécia em 2012, tendo sido um dos primeiros beneficiados pela mudança na imigração sueca, que passou a autorizar a residência permanente no país aos refugiados sírios. “Meu maior medo era o de ter que voltar ao fim dos três anos, período que o governo sueco concedia asilo. E voltar não era uma opção! Não sei o que aconteceria comigo”, comenta o jovem que foi militante nos protestos e decidiu deixar o país ainda no início dos conflitos, depois que o primo, um médico que atendia os feridos, foi brutalmente assassinado no hospital onde trabalhava.
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Desde a Segunda Guerra, não se via no mundo um trânsito tão grande de refugiados
UNRWA
Gisele Almeida, de Estocolmo André Martins
Em outubro, o governo sueco voltou atrás e decidiu conceder a residência permanente apenas àqueles que comprovarem estar ativos no mercado de trabalho. A medida tem por objetivo conter o crescimento de pedidos de asilo ao país escandinavo e evitar a criação de um contingente dependente de auxílio público. Dados da Organização das Nações Unidas (ONU) apontam a Suécia, a Alemanha, os Estados Unidos, a Turquia e a Itália como os principais países receptores de refugiados sírios. Juntos eles têm recebido 60% dos novos pedidos de asilo. Na Europa, Suécia e Alemanha se destacam entre os países que concedem autorização de
residência a quem foge da Síria. De acordo com o Migrationsverket (Departamento de Imigração Sueco), o país já recebeu mais de 75 mil pedidos de asilo nos últimos anos. O relatório do Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (Acnur) aponta que, levando em conta o tamanho da população, a Suécia é o país com o maior número de requerentes de asilo per capita. Foram, em média, 24,4 requerentes por mil habitantes ao longo dos últimos cinco anos. O Primeiro-Ministro da Suécia, Stefan Lövfen, afirma que o país vai continuar aceitando refugiados, mas de-
CAPA setembro de 2014, 2.206 casos tinham sido analisados. Os dados não levam em consideração os pedidos de asilo de haitianos. Sensível ao drama dos sírios que, amedrontados, têm deixado tudo para trás, o Conare estendeu o prazo para a concessão de visto especial para imigrantes sírios por mais dois anos. O processo tem se tornado cada vez mais simplificado, assim como acontece para a expedição de documentos de identidade civil e carteira de trabalho, fundamentais para a construção de uma vida longe da terra natal. Mesmo com os esforços do governo brasileiro, a política de auxílio do país não é o que se pode chamar de exemplar. Sem um programa específico que atenda os refugiados em todas as necessidades, o governo encontrou no Bolsa Família uma alternativa para atender esse público. De acordo com o Ministério do Desenvolvimento Social e de Combate à Fome, em julho, cerca de 400 imigrantes sírios foram cadastrados no programa. Não se sabe, no entanto, qual é o valor recebido por eles.
fende que os demais países da Europa também façam sua parte. “Caso contrário, pode ser necessário exigir uma indenização à União Europeia”, disse Lövfen ao jornal sueco Expressen. “É hora de trazer essa discussão à tona, pois não podemos ter apenas alguns prestando solidariedade”, completou. BRASIL Por aqui, os refugiados sírios já são a maioria dentre as pessoas que deixam seus países por problemas políticos, sociais e até mesmo econômicos. Segundo dados do Ministério da Justiça, dos 8,53 mil refugiados que escolheram o Brasil como segundo lar, 2.097 são sírios. As instabilidades
no país governado pelo presidente Bashar al-Assad contribuiu para que o número de refugiados por aqui mais do que dobrasse. O governo brasileiro entende como urgente a situação dos sírios e está fazendo investimentos. Segundo o relatório ‘Tendências Globais’, divulgado em 2014 pela Acnur, nos últimos cinco anos o Comitê Nacional para Refugiados (Conare) vem conseguindo dar celeridade às solicitações recebidas. Se em 2010 o comitê foi capaz de processar apenas 323 solicitações de permanência, em 2013, o número saltou para 6.067 pedidos concluídos e 1.585 encaminhados para o Conselho Nacional de Imigração (CNIg). Até
Recentemente uma linha de crédito de R$ 15 milhões foi aberta pelo governo brasileiro para ampliar o atendimento aos refugiados. Os recursos serão usados para aumentar a rede de abrigamento, assistência jurídica, social e psicológica, além de aulas de português, necessárias para a inserção dos refugiados no mercado de trabalho. FOGO CRUZADO Em março de 2011, adolescentes foram presos e torturados por escreverem citações revolucionárias no muro de uma escola na cidade de Deraa, no Sul da Síria. O episódio, ligado à chamada Primavera Árabe, gerou uma série de manifestações antiditadura que foram duramente reprimidas pelo governo. Desde então, cogita-se
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De acordo com Dilma, a solução para o conflito deve ser encontrada em uma discussão entre as principais potências. “Nós somos contra grupos terroristas, como o Estado Islâmico, e não acreditamos que apenas invadir e bombardear um país resolverá tudo. Não está resolvendo, como temos visto”, afirmou.
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que o conflito tenha dizimado mais de 90 mil pessoas. A Síria é governada por Bashar Al-Assad desde julho de 2000. Ele é o sucessor do pai, Hafez Al-Assad, que presidiu o país por 30 anos, período em que foi proibida a criação de partidos de oposição e a participação de qualquer candidato opositor em uma eleição. Em 2013, a ONU classificou o conflito na Síria como guerra civil e denunciou casos de crimes de guerra cometidos pelo governo de Assad, incluindo uso de armas químicas. A presença de grupos extremistas do Estado Islâmico (EI), que já dominam enormes extensões no Norte e no Leste da Síria, agrava a situação. Em setembro, a Rússia, aliada de Assad, iniciou ataques ao país justificando os atos como uma proteção contra o EI. A decisão gerou insatisfação por parte da Casa Branca e da União Europeia, uma vez que os aviões russos estão atingindo territórios não dominadas pelo EI. Em visita à Suécia, em outubro, a presidente Dilma Rousseff criticou a atuação da Rússia na Síria. “Não
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vemos soluções adequadas com invasão e destruição de Estados Nacionais. Os conflitos têm que ser resolvidos de forma predominantemente diplomática. A intervenção russa é justificada pela luta contra o EI, mas eu não acredito em uma solução militar no conflito sírio”, afirmou.
A intervenção da Rússia fez aumentar o número de refugiados que se arriscam na jornada até a Europa. De acordo com dados da Acnur, mais de 420 mil pedidos de asilo foram registrados em países europeus desde 2011. A organização também afirma que os refugiados que chegaram recentemente não foram inscritos. Mais de 11 milhões de pessoas foram obrigadas a se deslocar de suas casas, mas a maioria ainda permanece na Síria, em locais distantes das zonas de conflitos. Mais de 4 milhões fugiram para os países vizinhos e para o Norte da África. Mais de 1
André Martins
Voluntários auxiliam os refugiados sírios na estação central de Estocolmo
milhão de sírios pediram asilo no Líbano, país onde se concentra o maior número de refugiados. Desde a Segunda Guerra Mundial, o mundo não presencia uma onda migratória como a que tem acontecido.
Gisele Almeida
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CONTRAPONTO Para o cônsul da Síria em Belo Horizonte, Emir Cadar, há vários aspectos que devem ser observados no conflito. Para ele, a motivação da guerra é religiosa, tendo em vista que é a minoria muçulmana, alauíta, que hoje governa o país. Ainda segundo o cônsul, a guerra teria sido “incrementada” pelos Estados Unidos. “Na verdade, os americanos ambicionam dominar o Oriente. Os Estados Unidos têm uma relação muito próxima a Israel, que depende deles. A Síria é um perigo constante para Israel porque, dentro do cenário político daquela região, a Síria é o país mais for-
Eu acredito que os países que estão por trás desse conflito estejam pensando em uma forma de acabar com a guerra
Emir Cadar, cônsul da Síria
te sob todos os aspectos. A economia e o exército eram muito fortes. E isso incomodava os EUA em função de Israel. Então eles incrementaram essa guerra para tirar o Bashar “, opina. A intervenção da Rússia é um suporte, acredita Cadar. Ao combater o Estado Islâmico e os rebeldes, a Rússia teria proporcionado um “equilíbrio de forças”. Na opinião do cônsul, a guerra civil, que dura cerca de quatro anos e meio, deve ter um desfecho em breve devido à constante tensão envolvendo Washington e Moscou em território sírio. “Acredito que os países que estão por trás desse conflito estejam pensando em uma forma de acabar com a guerra. Às vezes não termina em um mês ou dois meses, mas começa a ter uma luz no fim do túnel. Eu acho que tirar o Bashar não é a solução porque a Rússia não deixa ele sair agora. Eu acho que eles vão negociar a saída dele, fazer uma eleição para daqui a um ano, dois e eleger outra pessoa. Essa é a saída da guerra”, finaliza o cônsul que teme que a queda do presidente leve a Síria a se tornar uma “terra de ninguém”.
ESPERANÇA Na estação central de Estocolmo, voluntários, membros da Cruz Vermelha e funcionários do Migrationsverket trabalham 24 horas por dia para receber aqueles que chegam ao país em busca de uma nova vida. No local, os refugiados recebem água, lanches, roupas de inverno e até mesmo brinquedos. Eles também recebem informações de como proceder no processo de legalização no país e ajuda médica, quando necessária. Além do respaldo garantido pelo governo da Suécia, a solidariedade dos cidadãos tem sido componente importante no acolhimento das pessoas que pedem asilo no país. A Igreja de Santa Clara, localizada na região central de Estocolmo, é uma das instituições que abrigam refugiados temporariamente. Todas as noites, cerca de 30 pessoas dormem no local. “Os refugiados chegam necessitados de comida, casa, roupas, mas o que eles mais precisam
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CAPA é de calor humano. Eles precisam de afeto e amor”, comenta Per Svensson, aposentado que doa algumas das suas noites trabalhando como voluntário para dar assistência e apoio aos que se dirigem ao local. A crise na Síria e o crescente aumento de refugiados na Suécia é assunto constante na mídia do país. Reuniões sobre o tema têm lugar em prefeituras como sinal do envolvimento da população em busca de resoluções que sejam viáveis para
Eles sobreviveram a uma guerra e a uma viagem cheia de obstáculos. Agora apresentam o semblante da esperança. “Hoje começaremos todos juntos uma nova vida”, comenta Amar, enquanto se aquece tomando café e sorrindo para a irmã que demonstrava encantamento com os brinquedos que acabara de receber. VIDA NOVA Na capital mineira, a Arquidiocese de Belo Horizonte é a instituição que Felipe Cecilio
todos. Um dos grandes desafios para a Suécia no momento é a falta de moradia para abrigar os asilados.
A Igreja Sagrado Coração de Jesus é o ponto de encontro dos refugiados sírios que chegam a Belo Horizonte
Recepcionada pelos voluntários na estação central, a família de Amar, de 18 anos, sente-se aliviada. Ao lado dos pais, de um primo e da irmã, de 2 anos, ele fez um longa viagem. A família esteve em trânsito por mais de um mês até chegarem à sonhada Suécia. “Quando estávamos no mar, achávamos que não iríamos sobreviver. Estávamos preparados para o pior. É um milagre termos chegado todos bem”, revela.
tem organizado a recepção aos sírios e dado condições para eles reestruturarem a vida por aqui. Desde 2011, cerca de 90 pessoas chegaram à cidade procurando apagar as memórias que a guerra deixou. Grande parte dos refugiados são jovens de 19 a 27 anos que interromperam as carreiras profissionais e deixaram as famílias em um país que se tornou um verdadeiro barril de pólvora.
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A serviço da Igreja em Belo Horizonte há 12 anos, o padre sírio George Rateb Massis tem uma opinião contundente sobre a situação na Síria. “Eu acredito que o que está acontecendo na minha terra não seja obra dos sírios. Infelizmente o território está sendo emprestado para realizar um projeto manipulado internacionalmente. E quem está perdendo é a Síria. Já foi comprovado que mais de 80 nacionalidades estão guerreando no país, em nome de jihadistas, de grupos armados, de terroristas; pessoas agindo pela atividade, pelo resultado. Acho que as pessoas começam a perceber que o que está acontecendo lá seja muito mais do que está sendo propagado”, acredita. A ajuda oferecida pela Igreja em BH começou em 2011. Os dois primeiros refugiados que desembarcaram na capital mineira foram abrigados em uma casa paroquial, mas, com a vinda de outras pessoas, a instituição alugou um apartamento no qual os refugiados se abrigavam até adquirir tato com a realidade brasileira, com o português e até poderem viver por conta própria. Atualmente 16 imóveis são ocupados pelo grupo que cresce a cada dia. A Igreja dá um suporte financeiro sempre que necessário, além de orientar sobre a retirada de documentos, providenciar o contato dos estrangeiros com a língua portuguesa e buscar oportunidades profissionais para eles. A sociedade belo-horizontina também tem se envolvido como pode, ora doando roupas, alimentos, ora força de trabalho. Quem tem empreendido viagem rumo a Belo Horizonte, a países da Europa e a outros cantos do mundo em busca de paz, muitas vezes, chega a seus destinos sem condições financeiras de reestruturar a vida de forma autônoma. Para essas pessoas, as privações de hoje em dia não lembram em nada a realidade vivenciada na Síria antes da guerra. O casal Nadeen Zakour e Alaa Kassab chegou a Belo Horizonte há seis meses. Professora de canto, Nadeen está desempregada. O marido, que é
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Eles estão trabalhando e ganhando pouco, mas por meio do trabalho dá para eles começarem uma vida. Isso também mostra a eles que a vida dá valor àqueles que lutam Felipe Cecilio
George Rateb Massis, padre
advogado, se ocupa como vigia na Igreja de São José. “Quando penso na Síria, lembro de meus amigos, minha família que ficou para trás. Gosto de pensar que um dia iremos voltar e retomar a nossa vida”, comenta esperançosa Nadeen.
graças à internet, mantém contato com a família diariamente. “Eles me dizem que a situação não está muito boa, mas a Síria vai ficar forte de novo. Quero voltar para o meu país”, revela o tecnólogo em informática que hoje trabalha em uma padaria.
Flayeh Flatch desembarcou na capital mineira com o irmão em maio de 2014. Aos poucos, a dificuldade com a língua vai deixando de ser um problema. Em português, Flayeh conta que,
Padre George conta que apesar das dificuldades, os refugiados têm demonstrado gratidão à vida e pelas oportunidades que eles têm recebido em um país culturalmente estranho
para a realidade síria. “A minha alegria no fim do dia é quando eles chegam com uma página de novas palavras para serem traduzidas, cheios de histórias e novidades. Isso tudo dá a eles alegria e os encaixa na sociedade. Eles estão trabalhando e ganhando pouco, mas por meio do trabalho dá para eles começarem uma vida. Isso também mostra a eles que a vida dá valor àqueles que lutam”, finaliza o padre.
TV Assembleia 20 anos
A gente não mede esforços para estar junto de você. A Assembleia de Minas está presente em todo o Estado. Só neste ano, as comissões de deputados já percorreram mais de 60 mil quilômetros, fiscalizando ações, promovendo debates e escutando a opinião dos mineiros. E, mesmo quando a Assembleia não vai até a sua cidade, você pode acompanhar e participar de tudo o que acontece aqui, através do Portal e da TV Assembleia. A emissora, que está comemorando 20 anos, transmite as atividades parlamentares ao vivo e oferece uma programação exclusiva, com notícias, eventos, debates e conteúdo educativo, 24 horas por dia. As nossas portas estão sempre abertas para você.
Assista à TV Assembleia, pelo canal da sua cidade ou pelo portal: www.almg.gov.br/tv
ALMG
Timóteo
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CEDO DEMAIS Derrame, pressão alta, trombose - males comuns na terceira idade, tornam-se dramas também para jovens e crianças Texto de Érica Fernandes Fotos de Felipe Pereira 24 | www.voxobjetiva.com.br
festa com os amigos passava da meia-noite. Típicos das ‘baladas’, drogas, bebidas alcoólicas e energéticos eram substâncias consumidas sem moderação pelos convidados. Na ocasião, o vendedor Tiago Jaime, de 26 anos, resolveu extravasar. Sozinho, ele consumiu uma garrafa de uísque, 20 latas de energético e várias garrafas de cerveja, além de outras bebidas alcoólicas. A combinação excessiva elevou os batimentos cardíacos a 140 por minuto, o dobro do que deveria. Efeitos típicos da overdose de álcool, dores no peito e tonturas apareceram rapidamente. “Tive a sensação de que meu coração ia explodir. Chorei de dor. Imaginei que não fosse sobreviver. Foi a sensação mais intensa da minha vida”, lembra. Ao perceber os sintomas, a esposa de Tiago não teve dúvidas de que o marido estava sofrendo um infarto. Tiago, então, foi levado às pressas para o hospital. Os médicos eram enfáticos ao dizer que, caso o atendimento não fosse feito às pressas, o jovem vendedor poderia não ter resistido. Nos últimos anos, casos como o de Tiago, infarto antes dos 30 anos de idade, tornaram-se cada vez mais comuns. Em maio, dois jogadores belgas, Tim Nicot, de 23 anos, e Gregory Mertens,
de 24 anos, infartaram durante uma partida de futebol. Os incidentes aconteceram com intervalo inferior a 15 dias. Gregory morreu. No Brasil, episódios similares fazem parte da história do esporte. O ex-zagueiro Serginho, do São Caetano, morreu uma hora depois de sofrer uma parada cardiorrespiratória durante o jogo contra o São Paulo, em 2004. Outros jogadores, como o goleiro Doni, do Botafogo, e o atacante Everton Costa, do Santos, penduraram as chuteiras prematuramente devido ao risco cardíaco. O cardiologista e presidente do Comitê de Miocardiopatias da Sociedade Mineira de Cardiologia, Estêvão Lanna, afirma que nos últimos cinco anos, o índice de doenças do coração cresceu de forma vertiginosa entre o público jovem e infantil. “Só nas últimas três semanas, atendi a três pacientes com doenças cardiovasculares, sendo que o mais velho tinha 33 anos. Um deles veio a óbito”, conta. Um dos motivos do aumento do número de casos entre a parcela jovem da população é o estilo de vida que as pessoas têm adotado. CAUSAS Considerado ‘o mal do século’, o estresse é apontado pelo cardiologista
SALUTARIS como um dos fatores preponderantes para as doenças do coração. Em um mundo extremamente competitivo, 24 horas não são o bastante para o número de tarefas que as pessoas se propõem a cumprir no dia. Além disso, o cenário econômico intensificou o sentimento de competitividade. “A crise, sem muitas perspectivas de solução, leva o jovem a fazer dezenas de cursos e especializações para não correr o risco de ser demitido. Além disso, ele tem o futebol, a namorada e os compromissos extras na agenda. Nessa direção, a saúde fica para trás”, elucida. Toda essa agitação promove o aumento da pressão, a arritmia cardíaca e outros males. A má alimentação vem na sequência dos vilões do coração. As comidas rápidas (fast foods), o excesso de sal presente nos alimentos e a gordura compõem a alimentação irregular da maioria dos brasileiros. “Todo jovem adora um churrasco no final de semana, que combinado à bebida alcoólica, formam uma bomba relógio para o coração. O excesso de sal colabora para a pressão alta, e a gordura, para o entupimento das artérias. Sem contar os malefícios do álcool”, detalha.
O indivíduo que frequenta academia quer ter a mesma forma dos lutadores e de outros atletas. Como é praticamente impossível atingir aquele padrão, acabam recorrendo aos anabolizantes
Estêvão Lanna, cardiologista
A falta de exercício físico também é outro perigo. Breno Renato Gentil, de 29 anos, é um exemplo típico. Sedentário e avesso a vegetais e frutas no cardápio, o técnico de áudio tem histórico familiar de problemas cardíacos, tanto por parte de mãe quanto de pai. Relutante em alterar os hábitos, Breno sofreu um ataque cardíaco em janeiro deste ano. Após o incidente, e sob as advertências médicas, ele resolveu mudar drasticamente a rotina. Passou a se alimentar de forma mais saudável e a praticar natação periodicamente. Os problemas de ordem cardíaca não surgem apenas com a ausência dos exer-
cícios físicos. Segundo dados da Sociedade Brasileira de Cardiologia, uma em cada 500 pessoas tem anormalidade congênita. Para dar uma ideia, em Belo Horizonte, cerca de 6 mil pessoas têm a doença. No entanto, a maioria desconhece o problema. Nesse sentido, a prática intensa e incorreta de exercícios sem o acompanhamento profissional pode provocar a morte súbita nos doentes. As pesquisas mostram que a cardiomiopatia hipertrófica, doença congênita do miocárdio, é a maior causa de morte repentina de jovens. Outro fator que preocupa os cardiologistas é o uso indiscriminado de anabolizantes. A substância acelera o metabolismo, podendo causar fibroses que impactam a irrigação no órgão. O corpo escultural passou a ser um tipo de fixação. “O indivíduo que frequenta a academia quer ter a mesma forma dos lutadores e de outros atletas. Como é praticamente impossível atingir aquele padrão, acabam recorrendo aos anabolizantes”, esclarece Lanna. Já nas mulheres adultas, são comuns a trombose venosa e a embolia pulmonar, atreladas ao uso do anticoncepcional. De acordo com Lanna, as estatísticas revelam que 3% a 5% das mulheres podem ter alterações genéticas relacionadas à coagulação, e algumas combinações de anticoncepcional levam a esses proApós sofrer um infarto aos 28 anos, Breno alterou a alimentação e o estilo de vida | 25
SALUTARIS Lanna ressalta a necessidade de conhecer as doenças e seus sintomas para evitar complicações
respiratórias são exemplos de Doenças Crônicas Não Transmissíveis (DCNT) que podem ter como causa a obesidade”, explica a nutricionista que atua como coordenadora Estadual de Alimentação e Nutrição do estado de Minas Gerais, Joyce Mara Xavier. As doenças citadas pela especialista são consideradas um grave problema de saúde pública, já que são responsáveis por 63% das mortes no mundo, segundo estimativas da Organização Mundial de Saúde (OMS). A nutricionista alerta também para a obesidade manifestada na infância que, na maioria dos casos, é prolongada por toda a vida adulta, resultando numa série de malefícios. blemas, principalmente se combinadas ao tabagismo. As drogas e a automedicação estão na lista de causadores de doenças cardiovasculares no público de faixa etária
Como prevenir? Faça exercícios apropriados para a idade e o condicionamento físico
Evite comer alimentos que são inimigos do coração Faça avaliação médica periódica
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Não fume nem use drogas
Evite a ingestão de bebidas alcoólicas
até 30 anos. No entanto, um dos maiores perigos é o desconhecimento das doenças. “Quem é jovem nunca acha que vai infartar. Por isso, quando os sintomas surgem, não tomam medidas necessárias para antever as sequelas”, alerta o cardiologista. Lanna orienta que quanto antes for identificado o quadro de infarto, maiores as chances de a pessoa não apresentar sequela. “Infarto é uma obstrução da circulação. Se a artéria fica entupida, tudo que está depois fica sem circulação. Quanto mais tardio o atendimento, mais regiões do corpo são afetadas”, esmiúça o especialista. MENORES ACIMA DO PESO Embora jovens sejam precoces quanto às doenças cardíacas, eles não são únicos. Crianças e adolescentes têm sofrido o mesmo dilema. A transição nutricional que o país está vivendo, com queda nos casos de desnutrição e aumento nas taxas da obesidade, tem ocorrido também entre o público infantil, refletindo diretamente no aumento das doenças crônicas. “O câncer, o diabetes, as doenças cardiovasculares e
Quem sai à frente como um dos principais responsáveis pelos altos índices de sobrepeso entre as crianças é a família. De acordo com Joyce, a ausência dos pais dentro de casa, provocada pela rotina de trabalho, tornou as crianças independentes, inclusive para as refeições. “A criança acaba ficando livre para escolher o próprio alimento e geralmente as opções não são nada saudáveis”, esclarece. A inserção da tecnologia no lazer, proporcionando a inatividade física e a má alimentação, também contribui para uma geração com problemas na balança. Dona de lanchonete, Daisylaine Neves sabe muito bem o que é isso. A filha Ana Júlia, com 5 anos, já enfrenta excesso de peso ocasionado pela alimentação desregrada. Para evitar que a criança tenha pressão alta antes da hora, os médicos pediram à Daisylaine que a dieta alimentar da filha seja alterada com urgência. “Ela passa muito tempo na frente da televisão e adora comer hambúrgueres. Também acho que ela se alimentava mais do que o normal por causa da ansiedade”, relata. Seguindo orientações médicas, a mãe da menina acrescentou frutas e verduras no cardápio da filha, além de proibir idas à lanchonete da família.
ARTIGO
Maria Angélica Falci Psicologia
Pais atentos, filhos confiantes Construímos nossa consciência de mundo e de nós mesmos a partir do contato e do convívio com o outro. Aí se inclui a família. Essa construção tem duas divisões muito significativas: a biológica e a ambiental. A primeira organiza nossos padrões comportamentais inatos, aprendidos. É sabida a importância química e hormonal para que possamos atingir a maturação. Já a formação do caráter e das atitudes é influenciada pelo ambiente em que uma pessoa cresce. Em um tempo determinado, a personalidade ganha forma e perguntas como, ‘Como sou?’, ‘Como sinto?’, ‘Como me posiciono diante da vida e das pessoas?’ podem ser respondidas.
negativos têm maior capacidade emocional para lidar com frustrações e, por isso, tendem a alcançar resultados satisfatórios.
Em síntese, basta sempre tentar responder à seguinte pergunta: ‘Como é o formato desse ambiente relacional e formador de pessoas?
O mais importante nesse contexto é a avaliação, sempre que possível, da qualidade dos relacionamentos. Em síntese, basta sempre tentar responder à seguinte pergunta: ‘Como é o formato desse ambiente relacional e formador de pessoas?’ Muitas vezes, recebemos perguntas que remetem a erros e culpas. Sabemos que quanto antes uma família se organizar, menor será a incidência de transtornos no ambiente. Quanto mais cedo forem feitos os ajustes necessários, maiores são as possibilidades de acerto.
A saúde ou o adoecimento desse ambiente é um bom indicador para projetar a qualidade de vida e a saúde emocional das pessoas que estão submetidas a ele. Não existe um ambiente em condições totais de satisfação. Viver em família ou em grupo pressupõe o surgimento de conflitos pela natural diferença de opiniões, concepções e construções sobre a vida. Mas é possível falar sobre ambientes diferenciais na formação positiva da personalidade.
Espera-se maturidade dos pais, não o contrário. A inversão de papéis na constelação familiar pode dar origem a problemas mais graves. O ideal é que os filhos não queimem etapas e aprendam a lidar com os sentimentos para que, no mundo externo, estejam mais preparados e fortes emocionalmente. Mas, como colocado, isso depende especialmente do comportamento dos responsáveis. Portanto, aos pais, uma dica: estejam sempre atentos!
Pais que estão atentos às próprias atitudes e aos bons estímulos podem ajudar de forma eficaz na construção psicológica dos filhos. Esse é um fator fundamental para que as crianças se tornem adultos mais seguros, autoconfiantes e preparados para enfrentar os obstáculos que terão pela frente. Crianças que não fixam muitos rótulos
Psicóloga clínica e especialista em Saúde Mental angelfalci@hotmail.com
Maria Angélica Falci
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SAPORIS
Salmão com molho de shimeji e purê de mandioquinha Enoteca Decanter 6 Porções
INGREDIENTES
PREPARO
200 g de filé de salmão 200 g de purê de mandioquinha 100 g de shimeji 3 dentes de alho amassados 1 colher de sopa de cebola picadinha 150 ml de azeite extravirgem Sal a gosto
Tempere o salmão com um pouco de azeite e grelhe na frigideira antiaderente. Em outra panela, aqueça o purê na mesma frigideira que grelhou o salmão, junte a cebola, o alho e azeite. Deixe dourar e acrescente o shimeji temperado a gosto. Para finalizar, coloque o purê no prato, o salmão sobre o purê e regue com shimeji. Decore e sirva.
Divulgação
30 Minutos
SAPORIS
Harmonização Harmonização para o Salmão com molho de shimeji e purê de mandioquinha Nelton Fagundes, Enoteca Decanter Uma dupla interessante, com texturas exóticas. Os traços marcantes do molho shimeji, com toques de cheio, ancorado pela textura macia do purê pedem um vinho branco exótico, com notas marcantes e intensas. O Colomé Torrontes proporciona uma explosão de aromas e muita intensidade no nariz, sem falar de um perfume de frutas frescas e jambo que fica por um longo tempo na boca. Se temos uma harmonia exótica, aí está ela.
Tecnologia no mundo dos vinhos Nelton Fagundes Sommelier da Enoteca Decanter BH Os aplicativos sobre a área enóloga, assim como a gastronômica, estão em alta. Eles são uma boa opção para quem deseja escolher um vinho adequado. É preciso que se diga, no entanto, que essas ferramentas, por mais informações que tragam, não substituem a dica de um bom
sommelier, pois é ele quem detém informações que são muito mais sólidas do que muitas fontes de informação da grande rede. A probabilidade de comprar um vinho que se enquadre no seu paladar amplia com a experiência e o conhecimento do profissional.
Quando o assunto é vinho, é fato que a informação vem sendo difunda. Entretanto, grande parte das pessoas sabe bem pouco sobre o assunto. Isso acontece por vários motivos: pouco interesse em vinhos, preços, degustações, cursos e a falta de uma pessoa próxima que seja referência no assunto. Por isso, um aplicativo é algo que, a princípio, vem muito a calhar. Primeiramente não tenho nada contra algo que, com certeza, veio para somar. Geralmente o que torna chato algo que é interessante é a falta de compreensão. Precisamos entender a real finalidade de certos aplicativos. Os de vinho, por exemplo, funcionam muito bem e podem informar sobre uvas, preços, onde comprar e outros detalhes. Entretanto, é importante lembrar que se trata de um facilitador e não de uma verdade absoluta. O mesmo ocorre quando um paciente vai ao médico com um diagnóstico prévio adquirido na internet. Isso só piora e dificulta a consulta. O que precisamos esclarecer é: em um restaurante, com profissionais qualificados, o sommelier vai conhecer bem o vinho e indicá-lo da forma correta, adequando-o ao seu estilo. Por questão de bom senso, em vez de consultar seu aplicativo preferido, peça a opinião do profissional que está ao seu lado na loja ou restaurante favorito. A internet é uma grande aliada, mas temos que ter cautela para, inclusive, não perdermos as dicas que só os profissionais que trabalham e degustam vinhos podem nos passar. Nada substitui o faro de verdadeiros “garimpeiros”. Muitas vezes, um bom profissional pode surpreender você com vinhos que, mesmo não tendo notas altas nos aplicativos, vão encantar o seu paladar como nenhum outro!
VANGUARDA Julianne Schaerb
MAIS DO QUE IDEIAS, SOLUÇÕES Invenções mineiras têm aplicações práticas para o dia a dia e podem ajudar a salvar vidas Texto de Haydêe Sant’Ana Fotos de Felipe Pereira
uando o assunto são invenções e novas tecnologias, EUA, Japão e alguns países europeus se destacam por suas memoráveis contribuições. A lâmpada elétrica, de Thomas Edison, o automóvel de motor a quatro tempos, de Siegfried Markus, e o primeiro computador desenvolvido há 65 anos pelos americanos John Eckert e John Mauchly estão entre 30 | www.voxobjetiva.com.br
as invenções que redefiniram a vida do homem na Terra. Mas,... e as invenções brasileiras? Onde ficam nessa história? Para os brasileiros, invenção é sinônimo de polêmica desde a criação do avião. Ainda existem muitas dúvidas se o veículo teria sido criado pelos irmãos americanos Wright ou por Santos Dumont. De
acordo com a Associação Nacional de Inventores (ANI), o mineiro foi o grande responsável pelo surgimento do avião. Foi Santos Dumont que projetou e construiu os primeiros balões dirigíveis com motor a gasolina, vindo a ser mundialmente conhecido pela conquista do Prêmio Deutsch, em 1901, quando contornou a Torre Eiffel com o dirigível n°6.
VANGUARDA
Bina, cartão telefônico, balão, discagem a cobrar, radiografia, urna eletrônica. Todas estas são coisas comumente usadas em nosso cotidiano. O que muita gente não sabe é que todas elas são criações legitimamente brasileiras. Além dessas, muitas inovações são desenvolvidas e testadas em faculdades, universidades, laboratórios e institutos de pesquisa. É uma pena que nem tudo que é produzido chega ao conhecimento público. Para uma invenção se transformar em um produto de utilidade pública e ser comercializada, um longo processo se desenrola. Testes e experimentações são necessários para avaliação, aprimoramento e validação das qualidades da invenção. Depois disso, o registro do invento é fundamental para garantir ao autor a proteção e o direito exclusivo sobre a exploração dele. Existem duas formas de proteção às invenções: o modelo de utilidade e a patente.
institutos de pesquisa nem a universidades do país. “Atendemos muitos ‘inventores’ que são pessoas comuns – gente como a gente –, que inventam algo a partir de uma necessidade. Atendo pedreiros autodidatas que inventam coisas maravilhosas, mesmo sem terem instrução”, afirma.
as regras do Instituto Nacional de Pesquisas Industriais (INPI). Se você não sabe fazer o relatório nem entrar com o pedido da patente, você pode contratar uma firma para fazer o projeto e acompanhar o pedido, mas isso não sai por menos de R$ 5 mil, em média. Então é trabalhoso”, desabafa.
Engenheiro civil sanitarista aposentado pela Companhia de Saneamento de Minas Gerais (Copasa), Ciro Amaral é dono de mais de 20 patentes na área de construção civil - a maioria com enfoque em saneamento básico e soluções sustentáveis. Ele observa que uma das grandes dificuldades que os inventores enfrentam para conseguir a patente do produto são os custos. “Normalmente o inventor é um cara pobre. Ele não tem dinheiro para ficar custeando. Você tem que fazer um relatório bem-feito de acordo com
O inventor revela como começou a trabalhar com a criatividade. “A minha primeira patente foi uma torneira de filtro com dupla finalidade. Eu observava as torneiras de geladeiras que você empurra o acionador e ela abre. Então eu pensei em criar uma torneira que tivesse a dupla finalidade: empurrar e girar”, explica. Em 1996, Ciro fundou uma empresa especializada na fabricação de artefatos em concreto pré-moldado e prestadora de consultoria na área
Divulgação / Artefacil
Apesar das dificuldades enfrentadas pelos inventores autônomos, como a burocracia, a falta de incentivos e de recursos, segundo dados da ANI, 60% dos produtos nacionais idealizados foram desenvolvidos por pessoas sem ligação com empresas nem institutos de pesquisa. A ANI auxilia os inventores independentes que têm uma ideia a patentear e ofertar o projeto ao mercado objetivando venda ou licenciamento de tecnologia. O presidente da ANI, Carlos Mazzei, explica que a associação tem a capacidade de assessorar os inventores. “Hoje temos uma grande estrutura. São mais de 50 pessoas que atuam direta e indiretamente auxiliando o inventor em todas as áreas”, conta. O presidente revela também que a associação recebe muitas pessoas que não estão necessariamente ligadas aos O engenheiro civil aposentado Ciro Amaral tem uma empresa dedicada à criação de artefatos em concreto pré-moldado | 31
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VANGUARDA
hidrossanitária - para desenvolver as patentes dos próprios produtos. Um dos artefatos considerados carro-chefe da empresa é o separador de sólidos, água e óleo (SAO), utilizado em postos de gasolina, oficinas mecânicas, lava a jatos e estacionamentos. Ciro explica que a eficiência da caixa se deve à criação de um dispositivo que retém micropartículas de óleo da água. “Separar o óleo puro da água é fácil. Qualquer caixa separa. Agora as micropartículas que são oriundas da lavagem de carro são muito difíceis de retirar. Então eu criei um dispositivo que retém as micropartículas no meu sistema. Além disso, ele atende às exigências dos órgãos ambientais, pois proporciona uma concentração de resíduos menor que a permitida por lei após o tratamento”, explica. A quantidade prevista pelo Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama) é de 20 mg de óleo por litro de água. As análises nas caixas que têm o separador de sólidos, água e óleo da empresa registram índices entre 8 mg e 15 mg.
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Outra peça desenvolvida pela empresa com aplicação prática é utilizada em vias públicas. Trata-se de anéis extensores que promovem a elevação dos tampões de rua. “Eu acho que é o meu principal invento, o que traz mais benefícios para o povo. Com os anéis, você alteia os tampões; com o recapeamento ele fica perfeito, sem nenhum desnível. Evita remendos e previne acidentes causados por tampas rebaixadas, soltas”, argumenta. Esse tipo de procedimento vem sendo adotado nas vias públicas em vários trechos da capital, de cidades da Região Metropolitana, como Betim, e em alguns municípios do Interior.
da dengue. Com baixa densidade, o tijolinho flutua na água. Ao ter contato com a radiação solar, o objeto impede o desenvolvimento da fase larvária do mosquito.
DOS LABORATÓRIOS PARA O MERCADO
Coordenador do projeto, o químico Jadson Belchior relata que, antes de ser utilizado no projeto da dengue, o dispositivo era usado em uma pesquisa envolvendo o petróleo. “O tijolinho era utilizado num projeto do petróleo por ter uma densidade menor que a da água. Como a dengue é uma doença de origem larvária, forma-se o ovo, a larva eclode e sobe à superfície da água. Nós percebemos que se criássemos uma barreira na superfície, poderíamos dificultar a sobrevivência da larva”, detalha.
Na faculdade de Química da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), um grupo de pesquisa formado por oito pessoas, entre alunos, professores, doutores e pós--doutores, criou um tipo de tijolinho capaz de combater as larvas do mosquito Aedes Aegypti, transmissor
Para que a larva surja, é necessário um ambiente com condições favoráveis, com água limpa, material orgânico e oxigênio. Tratado quimicamente para ser uma barreira tóxica para larva, o tijolo impede o desenvolvimento. “Nós desenvolvemos um material catalítico
Não temos apoio. A metodologia está pronta, pode salvar vidas, mas o que não está colaborando é o lado burocrático, o poder público. Ninguém do governo, do Ministério da Saúde, entrou em contato com a gente ainda
Jadson Belchior, químico
na superfície do tijolo que reage com a água na presença de luz e mata as larvas, criando assim uma região tóxica para elas. Embora seja tóxico para as larvas do mosquito, o material não faz mal à saúde humana, sendo, inclusive, possível ingerir um copo de água no qual flutue um tijolinho”, garante Belchior. Além de enfraquecer as larvas do Aedes Aegypti até matá-las, o tijolo serve para o combate a outras doenças também transmitidas por mosquitos, como a febre Zika, a febre Chikungunya, a febre amarela - essas duas transmitidas pelo mesmo mosquito. Com baixo custo de produção, aproximadamente R$ 4, e uma durabilidade em torno de cinco meses, segundo testes realizados em laboratório, o tijolo é um elemento eficaz e barato para ser produzido no nível de consumo pela população. Outro produto desenvolvido pelo grupo de pesquisa do professor é uma man-
ta flexível, de tecido sintético, que apresenta as mesmas propriedades químicas do tijolo. A vantagem da manta é que ela se adapta à superfície em que é colocada, adquirindo assim um novo formato. A manta é ideal para ser utilizada em calhas e superfícies maiores onde a utilização do tijolo é inviável. Toda a pesquisa foi financiada pela empresa mineira Vértica Serviços e Tecnologia Eireli, que detém os direitos de exploração do produto. Mesmo com a relevância da pesquisa para a área de saúde, a tecnologia ainda não foi aprovada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). A dengue é uma das doenças que mais matam no Brasil e, no primeiro quadrimestre de 2015, registrou crescimento de casos de 234,2% em comparação com o mesmo período do ano passado. O Brasil tem um novo caso de dengue a cada cinco minutos, o que reflete um quadro de epidemia. A Região Sudeste é a que registra o maior número de casos, com 489.636 registros, sendo 575,3 para cada 100 mil habitantes. São Paulo é o estado com maior foco de ocorrência da doença. São 401.564 casos da doença - 911,9 para cada 100 mil habitantes. Diante do quadro crítico, investimentos e a viabilização dos produtos como o tijolinho e a manta são urgentes e necessários para o uso popular. No entanto, falta interesse governamental em disponibilizar a tecnologia. “Não temos apoio. A metodologia está pronta, pode salvar vidas, mas o que não está colaborando é o lado burocrático, o poder público. Ninguém do governo, do Ministério da Saúde, entrou em contato com a gente ainda”, revela Belchior. Enquanto o governo não manifesta interesse em tornar a metodologia acessível para a população, a equipe do professor trabalha na terceira fase do projeto, que promete dar origem a mais duas patentes complementares ao processo. A previsão é de que fiquem prontas no início de 2016.
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ARTIGO
Ruibran dos Reis Meteorologia
O futuro do planeta Terra Entre os dias 30 de novembro e 11 de dezembro, o futuro do nosso planeta estará sendo discutido na Conferência das Partes (COP 21), em Paris. Espera-se que o encontro reúna representantes governamentais de mais de 190 países. Em 1988, a Organização das Nações Unidas (ONU) criou o Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC) atualmente composto por mais de 2,5 mil cientistas de diferentes países. O IPCC utiliza das COPs para discutir anualmente as mudanças climáticas.
A preocupação com os impactos no meio ambiente causados pelas atividades humanas fez com que o papa Francisco escrevesse uma encíclica sobre a preservação ambiental. Encíclicas são circulares papais dirigidas a bispos de todo o mundo (e, como resultado, aos fiéis) informando a posição da Igreja Católica sobre determinados assuntos. Com base em relatórios científicos, Francisco afirmou que se não forem tomadas medidas para frear o aquecimento global, o volume de água potável vai reduzir, a agricultura será prejudicada e plantas e animais vão ser extintos.
(...) o clima da Terra está mudando mais rápido do que era esperado, e os efeitos das mudanças climáticas se fazem sentir em todos os continentes
Em 1997, foi realizada a COP3, na cidade de Kyoto, Japão. A reunião acabou dando origem ao famoso Protocolo de Kyoto. Na ocasião ficou estabelecida uma redução de 5,2% dos gases de efeito estufa emitidos em 1990 pelos países a partir de 2008. O Protocolo de Kyoto entrou em vigor no dia 16 de fevereiro de 2005, após a Rússia ratificar o compromisso.
Infelizmente, China e Estados Unidos, que hoje emitem mais de 50% dos gases de efeito estufa do mundo, não ratificaram o protocolo. Assim, apesar dos esforços de alguns países na diminuição da emissão, o IPCC mostrou, no relatório de 2014, que o clima da Terra está mudando muito mais rapidamente do que
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era esperado, e os efeitos das mudanças climáticas já se fazem sentir em todos os continentes.
Reuniões foram realizadas em diferentes países ao longo do ano como preparação para a COP 21. O encontro deve originar um novo acordo, com alto grau de comprometimento dos governantes, para uma proposta de diminuição significativa da emissão dos gases de efeito estufa a partir de 2020.
Ruibran dos Reis Diretor Regional do Climatempo e professor da PUC Minas ruibrandosreis@gmail.com
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2016
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inverno de contrastes Texto de Tati Barros Fotos de Bernardo Silva
A assimetria, o mix de estampas geométricas, a predominância do branco: a 17ª edição da semana de moda mineira antecipa as tendências do Outono - Inverno 2016 O Minas Trend manteve a tradição e abriu o calendário da moda brasileira no início de outubro. Nas passarelas e no salão de negócios, o evento antecipou as coleções para o Outono-Inverno 2016. Para quem não pôde conferir de perto as apostas das grifes, a Vox Objetiva selecionou as principais tendências que prometem ganhar as ruas e um espaço no seu closet, por que não?!, na próxima temporada. Confira:
Branco total O desfile de abertura do Minas Trend deu o tom do inverno 2016. E para quem pensa que o clássico preto vai continuar reinando, pode começar a rever os conceitos. Isso porque a próxima temporada vai chegar com toda a suavidade do branco. O tom pode parecer uma escolha pouco convencional para a estação, mas a verdade é que ele combina superbem com o inverno brasileiro de altas temperaturas. Vale apostar em sobreposições de branco e compor um look que foge totalmente do óbvio.
Mix de estampas Se você é do tipo que não abre mão das produções monocromáticas no inverno, chegou a hora de ousar. O inverno 2016 promete ser dominado pelas estampas multicoloridas. Como a estação pede, a dica é apostar na sobreposição para compor os looks invernais. Para não errar na combinação do mix de prints, a sugestão é escolher estampas com cores em comum, criando um visual mais harmonioso, como propôs a marca Anne Est Folle.
Marrom na moda-festa O marrom é uma cor comumente ligada ao Outono-Inverno. Mas já considerou usar a tonalidade em uma festa especial? No Minas Trend, essa proposta apareceu no desfile da Vivaz, que se inspirou nas amazonas, ninfas e no universo dos haras para criar sua coleção. A ideia é ousada, mas pode ser uma opção interessante para quem deseja sair do óbvio em um casamento no campo, por exemplo. Para arrematar a produção, o azul-turquesa é indicado, além de ser uma das apostas no salão de negócios do MW.
Smoking O inverno 2016 chega com um encontro contrastante e que resulta em um visual poderoso: a androgenia do guarda-roupa masculino com a sensualidade do closet feminino. De que forma? Trazendo o smoking eternizado por Yves Saint Laurent, em veludo e jac-quard e transparência. Esse foi o fio condutor da coleção da elegante Mabel Magalhães, que criou para o seu inverno conjuntinhos e blazers que carregam essa inspiração. O visual esbanja personalidade.
Assimetria Essa foi outra tendência que apareceu com força nesta edição do Minas Trend. E aqui valem diferentes ideias. Os recortes assimétricos aparecem para conferir uma sensualidade que foge do óbvio, mesmo na estação mais fria do ano. Outro detalhe que segue essa proposta é a barra irregular, que foi destaque no desfile da Faven e confere um visual moderno e sofisticado, ideal para a mulher contemporânea.
Leveza O inverno tropical pede tecidos leves que combinem com os termômetros da estação no Brasil. E essa proposta apareceu no Minas Trend. A grife Llas fez uma coleção que tem como protagonistas as cambraias de algodão, os cetins, as telinhas vazadas e o linho. Essas escolhas trazem leveza e fluidez. Reforçando a ideia, a marca criou saias e vestidos flutuantes, sempre em cores claras e suaves.
Geometria Se o inverno 2016 for resumido a uma estampa, dá para garantir que ela será geométrica. O print ganhou as passarelas e o salão de negócios, reforçando a pegada setentista que começou a aparecer na última temporada e mostra força nesta edição. O print está presente tanto no clássico P&B quanto pôde ser visto na apresentação de Lucas Magalhães, como em coloridos vibrantes, proposta da Faven. E para quem não tem medo de ousar, vale apostar em combinações de diversas geometrias na mesma produção e investir, sem medo, nesta proposta moderna que valoriza a silhueta feminina.
Jeans revisitado O jeans é o clássico indispensável no closet, em todas as estações. Mas no inverno 2016 ele aparece revisitado e com ares de sofisticação. O denin que se viu no desfile da grife Fabiana Milazzo chega à moda-festa em bordados primorosos, já característicos da marca. A ideia é investir nos opostos, como é o caso do despojado jeans sendo usado em peças bem-elaboradas, perfeitos para uma ocasião especial. Vai ser interessante ver essa proposta chegar às festas da vida real.
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Preto e branco
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O atemporal P&B foi destaque na coleção comercial do estilista Lino Villaventura, que estreou na passarela do Minas Trend. A dupla aparece em estampas, com outras cores pontuais, e em combinações de chemises brancas, arrematadas com meia-calça bicolor. Essa é uma prova de que o clássico sempre tem vez.
Alfaiataria A Plural trouxe para o seu inverno uma coleção pautada pela alfaiataria de uma maneira bem renovada. O encontro com o sportwear, proporções oversizes, tecidos mais leves e sobreposições monocromáticas caracteriza essa proposta que confere uma elegância sem complicação.
Marcando presença
Lê Turano, Camila Queiroz, Consuelo Blocke, Isabela Fiorentino, Maria Joana
Saiba quem esteve lá e como se apresentaram algumas das personalidades que prestigiaram o Minas Trend
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A blogueira Consuelo Blocker veio diretamente de Florença, na Itália, para cobrir as semanas de moda brasileiras. E para o desfile de abertura do Minas Trend, a filha de Costanza Pascolato escolheu um vestido mídi com estampa floral da grife Mabel Magalhães.
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Isabela Fiorentino foi convidada pela Infinita para conferir as apostas da grife para o inverno 2016. O look escolhido pela apresentadora foi a combinação de saia mídi com uma blusa ombro a ombro - um dos hits desta Primavera - Verão.
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A atriz global Maria Joana veio a Minas especialmente para o desfile da Vivaz, que abriu o line-up do MW. Para a apresentação, ela apostou no colete alongado, mais uma forte tendência para o verão 2016.
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Para conferir o último dia de desfiles do Minas Trend, a blogueira Lê Turano apostou em dois hits do verão 2016: macacão com recortes estratégicos e colete. O look branco total, como foi apontado, é tendência para o próximo inverno.
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Além de desfilar para a grife Fabiana Milazzo, a atriz Camila Queiroz foi convidada especial da LN Deluxe para o lançamento do inverno 2016 no salão de negócios. A bela escolheu um vestido mídi azul-bebê da marca.
Minas Trend apresentou as apostas O para o inverno 2016, mas as altas temperaturas atuais relembram, a todo momento, que não apenas vivemos nos trópicos como estamos experimentando o que nos reserva a próxima estação. Por isso, o que se viu nas produções de quem passou pelo Expominas durante o evento foram algumas tendências de Primavera - Verão. Pensando nisso, selecionamos os principais itens desfilados pelos profissionais que foram cobrir e trabalhar na semana de moda mineira.
Texto de Tati Barros Fotos de Gabi Nave
Os corredores do Minas Trend revelaram os hits do verão 2016 que já conquistaram as fashionistas
Colete Um truque de stylist prático para quem deseja deixar a produção básica mais interessante e com informação de moda é apostar em uma terceira peça. E nesta temporada, o item eleito pelas fashionistas foi o colete. O modelo oversize foi quase um uniforme entre as pessoas que passaram pelo salão de negócios do Minas Trend. Prova de como a peça reinou é que foi a escolha da atriz e consultora de moda Karen Brusttolin para assistir ao desfile da Vivaz.
Pantacout Essa é, sem dúvida, a tendência mais polêmica desta temporada. A calça, que também pode ser vista como uma bermuda mais alongada, é o típico modelo que costuma causar estranheza entre as brasileiras. Isso devido ao comprimento que varia entre abaixo do joelho e acima da canela e ao shape mais largo. No MW, a pantacout mostrou que já conquistou as fashionistas, como a blogueira Ana Magalhães, e tem todo o potencial para ganhar as ruas de vez. Para o verão, a aposta é nos modelos estampados e de tecidos mais leves e fluidos. Vale arrematar com tops, saltos ou rasteiras, dependendo da silhueta e da ocasião.
Tênis branco Conforto é a palavra da vez para os pés. Isso porque nenhum calçado esteve mais presente nos looks do Minas Trend do que o tênis branco. O item é o que se pode chamar de “básico fashion”, ou seja, aquela peça indispensável do closet. O tênis branco combina com diferentes produções, confere informação de moda ao visual e é ideal para ocasiões em que um sapato confortável é fundamental, como a maratona que é uma semana de moda. E um exemplo de como o tênis branco é versátil é esse look que a produtora de moda e fotógrafa Ana Luiza Trentini compôs. Fugiu do óbvio e esbanjou estilo.
Ombro a ombro Como foi dito, elementos dos 70 estão de volta com força total. E o decote ombro a ombro é um dos itens que prometem ser hit neste verão. O detalhe, também chamado de off the shoulder, traz uma sensualidade velada, além de ser romântico e superfeminino. Para quem adora o mood boho, essa também é uma escolha acertada. Um truque de stylist valioso é fazer como a modelo Alícia Kuczmann e apostar em saia com leve volume para equilibrar a silhueta. Invista!
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A 17º edição do Minas Trend foi um sucesso. Mais uma vez, o evento atraiu milhares de visitantes, contribuindo para o fortalecimento de todo o setor. Tudo isso, graças à força e ao talento dos profissionais que fazem da moda um grande negócio.
Foto: Zé Takahashi – Agência Fotosite
O DINAMISMO DA INDÚSTRIA DA MODA ESTÁ NA FORÇA DE QUEM FAZ.
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PODIUM Bruno Cantini
Julianne Schaerb
VipComm
A Felipe Cecilio
O TIME DO POVO Torcedores rivais em Minas medem forças em nova disputa: qual é o time mais popular do estado? Thalvanes Vinícius m 1894, o brasileiro Charles Miller voltava da Inglaterra com duas bolas, dois uniformes, uma agulha e uma bomba de ar na bagagem. Depois do sucesso com a bola dos pés na terra da rainha, Miller ficou decepcionado quando descobriu que no Brasil não se sabia ainda o que era futebol. Ele resolveu, então, catequizar os companheiros. Depois disso, haja
história - e coração - para tanto grito de gol. O esporte inglês ganhou conotações brasileiras com Pelé, Garrincha, Zico, Romário, Ronaldo, dentre tantos outros. Em Minas Gerais, estudantes, em 1908, e imigrantes italianos, em 1921, criaram os times que se tornaram as duas maiores instituições esportivas do
estado. Atlético e Cruzeiro começam, de fato, a se enfrentar como principais rivais a partir da década de 60, quando o Cruzeiro derrubou o melhor time do mundo, o Santos de Pelé, numa final histórica na Taça Brasil, em 1966. Até então, o clube celeste não dividia o posto de protagonista com o Atlético. “Em 1959, quando fui jogar no Cruzei| 51
PODIUM
A disputa por essa primazia e por essa representação na comunidade, esse reconhecimento social e cultural, é a grande competição que se joga fora das quatro linhas, especialmente em regiões onde a rivalidade é muito forte, como em Minas
Maurício Murad, sociólogo
ro, o clube era a quinta força em Minas. Fomos tricampeões do estadual e tivemos um time fantástico em 1966, que deixou um nome muito bom. Assim o clube iniciou uma ascensão muito forte”, explica Procópio Cardoso, ex-jogador e treinador, com 641 partidas pelo Galo e pela Raposa nas duas funções.
tico sempre foi o time da elite mineira, enquanto o Cruzeiro foi um clube formado por operários e imigrantes, e que, por isso, enaltece mais as origens do time celeste. O vazamento do áudio foi o estopim para uma longa discussão entre os rivais sobre quem é o verdadeiro time do povo em Minas. Argumentos de torcedores de ambos times não faltam na discussão que permanece nas redes sociais, em blogs e sites. Embasados em números, experiências, histórias e emoções, diversos formadores de opinião apresentam os porquês de o time do povo ser Atlético ou Cruzeiro. No futebol, no qual o torcedor vive praticamente num mundo paralelo, o espaço mais desejado dos estádios não é o dos camarotes, mas onde mais se canta, pula e vibra. A partir dessas peculiaridades, o professor e sociólogo Maurício Murad diz que a disputa pelo título de “time do povo” se dá pelo interesse em ter uma identidade coletiva que reforce a simbologia do futebol, que é o mais popular dos esportes. “A disputa por essa primazia e por essa representação na comunidade, esse reconhecimento social e cultural, é a grande competição que se joga fora
das quatro linhas, especialmente em regiões onde a rivalidade é muito forte, como em Minas”, afirma o especialista. A parte alvinegra se sustenta pela força e mística da ‘massa’. A blogueira atleticana Elen Campos acredita que ambos os clubes tenham na história a participação de gente pobre e trabalhadora. Por outro lado, ela afirma que o Galo consolidou a expressão ‘massa’ como sinônimo de torcida popular há décadas de forma espontânea, não por uso de hashtags. “Alguns times evocam mais esse sentimento social, de pertencimento de grupo, que outros. Em Minas, o Atlético soube construir espontaneamente essa narrativa de ‘força da massa’”, afirma. Elen destaca que houve uma época em que a torcida do Cruzeiro ridicularizava o Atlético por cobrar apenas R$ 5 da entrada no estádio. “O problema é que recentemente o Galo ganhou dois títulos importantes seguidos. E então, o grande trunfo cruzeirense (os títulos) caiu por terra. Se o Atlético agora é a soma de torcida massiva e títulos importantes, o Cruzeiro não pode se dar ao luxo de ficar com apenas a segunda parte.
Com o acirramento da rivalidade entre os times, várias disputas foram surgindo: quem tem os melhores jogadores, os principais títulos, a maior torcida, a camisa mais bonita ou a melhor estrutura? Recentemente uma nova discussão ganhou as mídias sociais dos torcedores de ambos os clubes: qual é o time do povo em Minas? A polêmica começou quando um áudio do aplicativo do Whatsapp do vice-presidente de futebol do Cruzeiro, Bruno Vicintin, vazou entre os torcedores. No material, ele dizia que o Atlé-
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Rodnei Costa
PODIUM
Bruno Cantini
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engajamento para tornar o futebol um evento mais popular. Na Alemanha existe a obrigação de que os clubes reservem uma cota popular de ingressos. Se a discussão caminhar nesse sentido, aí, sim, teremos algum impacto na vida dos torcedores”.
A rivalidade continua, com cada um buscando as forças e tentando diminuir as fraquezas”, argumenta. Para Elen, a torcida atleticana é vista, até pelos registros da imprensa, como a mais fanática e apaixonada. “O mesmo não se costuma notar nas imagens captadas da torcida azul, salvo exceções. Claro que estou generalizando, mas essa é a imagem geral que nós temos ao pensar nos típicos torcedores atleticanos e nos cruzeirenses”, explica. O historiador cruzeirense João Henrique Castro entende que a polêmica é pautada por impressões diferentes sobre a história do futebol e sobre a realidade dos clubes. “Pela perspectiva cruzeirense, é uma consequência natural da campanha que nomeia a loja Maior de Minas e do fato de 95% das pesquisas comprovarem que a maior torcida do estado é a do Cruzeiro. Pela ótica atleticana, tem um vínculo muito maior ao passado, quando até a década de 80 havia mais torcedores”, pondera. João argumenta que a discussão é infrutífera, já que a origem do futebol no Brasil está diretamente ligada às elites e que apenas com o decorrer do tempo o esporte se tornou realmente popular.
No entanto, ele utiliza dados publicados no blog Teoria dos Jogos, referência sobre pesquisas de torcida, para traçar diferenças nos perfis das torcidas rivais. “Conforme vai se distanciando da pirâmide social, a torcida do Cruzeiro ganha em representatividade, enquanto a do Atlético tem percentuais mais expressivos no número de torcedores nas classes A e B”, explica o historiador. Para João, a discussão não tem tantos impactos reais. Ele observa que poucas pessoas entendem que por critérios socioeconômicos, o futebol veta a presença de parcela significativa da população nos estádios, em jogos do Cruzeiro e do Atlético. “Acho que falta mais
Em jogos decisivos, aumentam as dificuldades para que os torcedores de baixa renda possam ir aos estádios. Na final da Copa do Brasil, no ano passado, em que o Galo e a Raposa se enfrentaram, no primeiro jogo, o preço do ingresso foi de R$ 200 a RS 700, com venda exclusiva para sócios. No jogo no Mineirão, o preço dos ingressos chegou até R$ 1 mil, sendo que o mais barato custava R$ 140, mas apenas para torcedores associados. Com a modernização das arenas e a necessidade de os times faturarem cada vez mais, e assim ganharem em competitividade, o povo fica apenas no discurso? Maurício Murad concorda que seja possível o risco de uma elitização ainda maior, mas que, pela força e representação simbólica do futebol, o esporte pode resistir às modernidades. “Como dizia o mineiríssimo Carlos Drummond de Andrade – que adorava futebol, era vascaíno e praticou o esporte jogando futebol de areia em Copacabana, ‘como ficou chato ser moderno, eu quero ser mesmo é eterno, e ser eterno é se abrir para as novidades sem perder as identidades’”, relembra.
HORIZONTES
Julianne Schaerb
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HORIZONTES
NAS ALTURAS DA BIG APPLE Os locais para avistar e se encantar ainda mais pela irresistível Nova Iorque Gisele Almeida
e existe uma cidade que traduz o significado do sonho americano, onde é possível realizar tudo o que se deseja, esse lugar é Nova Iorque. Objeto de inspiração para filmes, músicas e peças de teatros, a cidade cosmopolita está presente na vida de tantos cidadãos que chega a ser estranha a sensação de familiaridade ao andar pelas ruas - mesmo pisando lá pela primeira vez. Nova Iorque ocupa um dos primeiros lugares na lista do Councilon Tall Buildings and Urban Habitat (CTBUH) como uma das cidades com a maior quantidade de arranha-céus no mundo. É quase impossível se ver nessa grandiosa selva de pedra sem se sentir forçado a olhar para o alto a fim de não perder nenhum detalhe. E é das alturas que temos as mais agradáveis experiências da paisagem nova-iorquina. Há diversos lugares com a promessa de proporcionar as melhores vistas para a cidade. São inúmeras opções para todos os estilos e bolsos. Certamente a seu modo, cada uma delas proporciona um ângulo único da Big Apple. Blogueiros especialistas no tema viagem e membros da Rede Brasileira de Blogueiros de Viagens (RBBV) indicam que, para obter as melhores vistas, é importante escolher o horário adequado para visitar cada um desses locais. SOB OS RAIOS DE SOL O One World Trade Center, edifício inaugurado recentemente na região da
baixa Manhattan, carrega nas estruturas de aço a missão de ocupar o lugar das ilustres Torres Gêmeas. Em 11 de setembro de 2001, quando o mundo parou para observar o maior ataque terrorista da história dos Estados Unidos, a promessa da reconstrução do local foi feita pelo prefeito da cidade, Rudy Giuliani, após 12 horas dos atentados. “Vamos reconstruir. E não apenas isso: vamos voltar mais fortes do que éramos. Vamos fazer o edifício mais resistente que já existiu”, prometeu o prefeito sob o olhar atento da imprensa internacional. A partir daí, uma competição em nível mundial foi iniciada. Arquitetos renomados de vários cantos do mundo enviaram ousadas propostas e, após cinco anos de discussões, o design final da torre foi aprovado. O projeto escolhido foi do arquiteto americano David Childs, conhecido por obras como o World Wilde Plaza, na 8ª Avenida, e o terminal de desembarque do Aeroporto Internacional John F. Kennedy (JFK), em Nova Iorque. David Childs assistiu de camarote à colisão dos aviões com as Torres Gêmeas. No fatídico 11 de setembro, ele trabalhava no escritório que dá vista para os edifícios. “Eu me lembro que um jovem rapaz veio até mim com lágrimas nos olhos perguntando se as Torres iriam cair. Eu prontamente disse que não. Se elas não tivessem sido derrubadas com o impacto da colisão, elas não iriam cair”, comentou ele em entrevista para o Documentário Oficial do One World Trade Center. O arquiteto se referia ao fato de que, até então, nunca na história da constru-
ção um edifício com estrutura de aço teria desabado por motivos de incêndio. Mas o inesperado aconteceu e o mundo testemunhou a queda das Twins Towers. Com 104 andares e mais de 540 metros de altura, o One World Trade Center, também conhecido como a Freedon Tower (Torre da Liberdade), marca o renascimento de Downtown Manhattan. Apresentando uma combinação inovadora de arquitetura, segurança e sustentabilidade, o novo prédio passa a ser o endereço de escritórios mais cobiçados do mundo e do Observatório aberto ao público onde se pode contem-
Já visitei 15 países e estive em importantes monumentos. Mas estar no OWTC é uma sensação incrível: pela história que ele representa e pela possibilidade de ter Nova Iorque quase toda diante dos seus olhos
Thaís Towersey, blogueira | 55
HORIZONTES
A impressionante One World Trade Center substituiu as Torres Gêmeas, abatidas em 2001. A vista no alto de seus 102 andares é de tirar o fôlego
A analista de sistemas Rafaela Machado, que escreve relatos de suas aventuras no blog ‘Viajando sem Medo’, também compartilha esse sentimento. “Entrar no ultramoderno elevador da Freedon Tower, ver o filme que remonta à história de revitalização do lugar e em poucos minutos chegar ao 102º do prédio é uma das experiências mais marcantes dessa visita”, indica a blogueira.
Gisele Almeida
Para a estudante de Direito Thaís Towersey, autora do blog de viagens ‘Guia Mundo Afora’, poucos passeios no mundo superam o espetáculo que é visitar o One World Trade Center em uma tarde ensolarada. “Já visitei 15 países e estive em importantes monumentos. Mas estar no OWTC é uma sensação incrível: pela história que ele representa e pela possibilidade de ter Nova Iorque quase toda diante dos seus olhos”, relata. A blogueira explica que em um dia claro é possível apreciar vários ícones da cidade, como o Empire State Building, a Estátua da Liberdade e a Brooklyn Bridge.
plar uma das mais deslumbrantes vistas da cidade. O OWTC já ocupa o topo da lista de lugares imperdíveis para os viajantes que passam pela cidade. Quanto ao horário ideal para visitá-lo, à luz do dia é sugestão unânime dos blogueiros de viagens. A bióloga Thelma Alves, fundadora do blog ‘De Casa para o Mundo’, conta ter participado da inauguração do edifí-
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cio. “Tive o privilégio de estar em Nova Iorque no dia em que o OWTC foi aberto ao público. Muitas das pessoas presentes nesse dia estiveram envolvidas no processo de reconstrução do local ou eram familiares das vítimas dos atentados. Era notável o sentimento de dever cumprido ao ver aquela região completamente revitalizada”, comenta. Para Thelma, um dos momentos inesquecíveis foi ver de perto a exaltação do patriotismo americano.
Outra visita ideal para um dia de sol é a Estátua da Liberdade. Quem recomenda o passeio é a especialista em Marketing Internacional, Marina Vidigal Brandileone, autora do blog ‘Ideias na Mala’. “Pegar o barco que faz o percurso que liga Manhattan a Liberty Island, região onde fica localizada a famosa estátua, e ver Manhattan diminuindo ao passo que vemos e a estátua aumentando é muito interessante. Ao chegar à estátua, vários edifícios se destacam de longe, como o próprio One World Trade Center, bem mais alto do que os outros prédios da cidade”, conta. A HORA DE OURO No intuito de juntar os bairros de Brooklyn e Manhattan, o engenheiro
HORIZONTES
O fim de tarde na Brooklyn Bridge reserva uma das vistas mais inesquecíveis de Nova Iorque, como garantem os visitantes
Gisele Almeida
e uma delicada escultura que simboliza os galhos secos das árvores no inverno, a decoração sofisticada e aconchegante se torna um atrativo à parte.
alemão Jonh Augustus Roebling, pioneiro no design e na construção de pontes suspensas de aço, propôs o audacioso projeto de uma gigantesca ponte sobre o East River. Com 1825 metros de comprimento e 26 metros de altura, a Brooklyn Bridge é hoje um símbolo da inovação tecnológica e do progresso americano. A ponte demorou 14 anos para ser construída e tem no histórico dezenas de mortes, inclusive a do próprio idealizador que sofreu um acidente ainda na fase inicial da construção. A ponte foi erguida por mais de 600 trabalhadores, demandou diversas pesquisas para desenvolvimento de tecnologias que possibilitassem a execução da obra e milhões de dólares - dados que remontam a importância histórica do local que se tornou, desde a inauguração, um dos passeios obrigatórios em Nova Iorque. Para o engenheiro de sistemas Daniel Kifarkis, coautor do blog ‘Viajar pela Europa’, a Brooklyn Bridge é um pro-
grama imperdível. “Já estive na cidade por três vezes. Caminhar sobre a ponte é um dos passeios que eu repito sempre. O pôr do sol de é inigualável”, indica. De acordo com Daniel, caminhar no sentido do Brooklyn para Manhattan favorece a experiência. “Estar na ponte ao fim da tarde e admirar o sol desaparecendo atrás dos imponentes edifícios famosos e, no mesmo compasso, presenciar as luzes da cidade se acender quase que automaticamente é uma das maneiras mais genuínas de contemplar a convivência harmônica entre natureza e arquitetura em Nova Iorque”, explica. AS LUZES DA CIDADE O cinema nos faz sonhar com os encantos da noite nova-iorquina representados naquelas cenas típicas de jantares românticos com vistas deslumbrantes. O restaurante Asiate é um daqueles espaços com localização privilegiada que permite a realização desse devaneio. Com uma enorme parede expondo mais de 3 mil garrafas de vinho
No 33º andar do Hotel Mandarin Oriental, o Asiate oferece sabores da cozinha americana moderna com interpretações sofisticadas de pratos tradicionais. É uma experiência para degustar com todos os sentidos! A combinação exótica de sabores, o aroma dos vinhos cuidadosamente selecionados e uma vista panorâmica é experiência digna de cena de filme. No entanto, para apreciar esse visual cinematográfico é necessário preparar a carteira. O menu degustação com harmonização de vinhos fica em torno de US$ 500 por casal. Para a jornalista Renata Rocha, embaixadora do turismo no Rio de Janeiro e autora do ‘You must Go’, blog de viagens dedicado ao segmento de experiências de luxo, foi no Restaurante Asiate que ela teve um dos melhores jantares na cidade. “A comida é excelente, e o serviço, impecável e sempre atento. O que mais me chamou a atenção foi a decoração de extremo bom gosto e a vista deslumbrante para o Central Park e Upper West Side. Não à toa, o Asiate foi considerado pelo guia Zagat, o restaurante com melhor ambiente de Nova York”, ressalta a jornalista. Na baixa Manhattan, o elegante Terrace Club do World Center Hotel é outra escolha certa para uma noite memorável na capital do mundo. “Além de vinhos e cervejas, o local oferece coquetéis exclusivos que podem ser saboreados com vistas espetaculares. Nesse ambiente, o próprio One World Trade Center será o plano de fundo”, finaliza Kifaris, que confessa que ter ‘vistas deslumbrantes’ é um pré-requisito para a definição de seus roteiros de viagem.
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KULTUR
RIO, AVANT-GARDE Livro sobre o Rio nos anos 20 revela as inovações que garantiram o ineditismo do povo carioca naquela época Leo Pinheiro
Divulgação/ Babélica Urbe
uando Ruy Castro foi convidado para fazer a orelha do livro ‘Babélica Urbe’, que versa sobre o Rio de Janeiro dos anos 20, observou: “A cidade não precisou esperar aquela década para ser modernista”. Antes do governador 58 | www.voxobjetiva.com.br
de São Paulo, Washington Luís, trazer artistas cariocas para a Semana de Arte Moderna em 1922, cronistas como Álvaro Moreyra, Théo-Filho, Ribeiro Couto já descreviam o Rio, àquela época capital do Brasil, como um lugar à frente do tempo. A arquiteta e pesquisadora da Escola de Belas Artes da
Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Jane Santucci, resgata, por meio do olhar desses cronistas, aspectos da cidade no primeiro grande momento de afirmação cultural e urbanística. Foi, por exemplo, no dia 7 de setembro de 1922, durante a Exposição Interna-
KULTUR
cional do Centenário da Independência do Brasil, inaugurada pelo Presidente Epitácio Pessoa, que a transmissão de rádio estreou no país. Simultaneamente foi testada pela primeira vez a iluminação elétrica em profusão num espaço público, no Centro do Rio. A iluminação elétrica tinha sido instalada antes. Primeiro nas residências e, em 1906, na Avenida Rio Branco. Mas era novidade, além dos postes, funcionarem os holofotes que varriam com luz as fachadas, as ruas, o céu e até as águas da baía. Como se dizia na época: “o Rio entrou na era da cidade-luz”, explica a autora.
ao olharmos o Rio de Janeiro dos anos 20 estamos diante de uma metrópole. Não só em seu sentido conceitual, mas como a capital do país com ruas e avenidas onde circulavam milhares de automóveis e várias linhas de bonde, um centro comercial e financeiro com bancos e companhias de navegação, hotéis internacionais, cinemas, teatros, cassinos, e vários jornais diários. A urbe não devia nada às imagens cosmopolitas de qualquer lugar do mundo. É uma verdadeira babélica urbe”, descreve Jane.
A data foi marcada por uma série de outros ineditismos. Nunca antes na história do país, tínhamos recebido tantos chefes de Estado e figuras proeminentes da política internacional. Vieram à Exposição Internacional os Presidentes de Portugal, da Argentina e do Uruguai; embaixadores dos Estados Unidos, da Inglaterra, da França, da Itália, da Espanha, da Alemanha, da Noruega, do México, do Chile, do Peru, da China e do Japão; jornalistas de todo o mundo e milhares de marinheiros dos navios estrangeiros ancorados no Cais do Porto.
“Estávamos a par de tudo que acontecia em Nova Iorque e Pa-
Em 1920, a visita do Rei Alberto da Bélgica e de sua comitiva gerou polêmica entre os cariocas. As críticas às ‘obras de maquiagem’ promovidas por políticos para esconder as mazelas da cidade e ressaltar apenas as qualidades, deu origem ao ditado popular “obras para o Rei ver”. Para a escritora, episódios como esse mostram que os nascimentos da classe média e de uma ‘elite intelectual’ em oposição às oligarquias que dominavam a chamada República Velha influenciaria de forma definitiva o contexto cultural da cidade assim como o resto do país. “Seja na cultura, no urbanismo, na moda, seja nos costumes,
quitetura, os bondes, as luzes elétricas e os automóveis”, completa. CENTRO DA CIDADE E PRAÇA MAUÁ A pesquisadora destaca que todas essas novidades fizeram crescer a intimidade do carioca com o Centro da cidade fora do horário comercial, despertando a vocação democrática que o Rio de Janeiro tem até os dias atuais. A região fervia nos finais de semana, quando reunia nas ruas pessoas de toda parte em busca de diversão – que havia para todos os gostos e bolsos. À noite, o movimento prosseguia com um público ávido por diversões que lotava os
Divulgação/ Babélica Urbe
Área central do Rio de Janeiro, atual avenida Rio Branco
ris! Cada vapor que atracava no porto trazia na bagagem as últimas fitas de Hollywood, discos de jazz, fonógrafos, modas e revistas ilustradas. A avenida Rio Branco completava duas décadas. Com a maioridade, perdia os ares provincianos e ganhava os primeiros arranha-céus, despertando a curiosidade de cariocas e turistas brasileiros, fascinados com a ar-
cinemas da avenida, os bares da Galeria Cruzeiro e se estendia para os teatros e cabarés da Praça Tiradentes e Lapa. Um dos símbolos daquele novo Rio antigo era a Praça Mauá. Criada em 1910 para abrir os braços aos viajantes que desembarcavam na cidade, o velho ancoradouro foi reformado e recebeu status de porto. E foi nos anos 20 que o local exerceu maior sedução sobre cariocas e turistas. “A Praça lotava não só de pessoas que iam se despedir ou receber parentes e amigos, mas | 59
Prefeitura do Rio/ Beth Santos
Prestes a receber as Olimpíadas de 2016, o Rio passa por uma grande reestruturação da região portuária
daqueles que iam para ver de perto as celebridades que chegavam ao, até então, maior porto do país”, conta a escritora. Em 1929, o lugar abriu espaço para mais um ícone da modernidade: o prédio do Jornal A Noite. Com 22 andares debruçados sobre a Baía de Guanabara, o edifício foi o primeiro arranha-céu da América Latina. Para erguê-lo, os construtores usaram uma tecnologia inédita na época: o concreto armado. Tombado desde 2013 pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), o prédio, com 102 metros de altura, destacou-se numa época em que as construções na avenida Central chegavam a no máximo oito pavimentos. Do alto do terraço, os visitantes contemplavam de um mirante um ângulo amplo e diferenciado da então despoluída Baía de Guanabara. 60 | www.voxobjetiva.com.br
Um fenômeno dessa época foi a explosão de cartões-postais que tinham o Centro do Rio como tema. O turista, principalmente de outras regiões do país, ao chegar à cidade, encantava-se de tal forma com aquela modernidade que optava por enviar aos familiares imagens de ruas e avenidas, em vez de registros das já famosas praias de Copacabana e do Flamengo. RIO CONTEMPORÂNEO Depois de anos de deterioração, a região que foi o coração do Rio na década de 20 começa a renascer. Recentemente inaugurada, depois de quatro anos fechada para obras do Porto Maravilha, a Praça Mauá foi escolhida um século depois como o símbolo da segunda grande revitalização urbanística do Rio de Janeiro. Seis vezes maior, hoje o local tem 25 mil metros quadrados no lugar dos 4 mil da configuração original. Além disso, saiu da sombra do Elevado Perimetral, voltando a ser um dos pontos mais importantes e movimentados da cidade.
De acordo com Jane, a revitalização da Praça Mauá e da avenida Rio Branco, assim como a inauguração do Museu do Amanhã, que deve ficar pronto até o final do ano, resgata a importância histórica do Centro do Rio. “A inauguração da praça hoje vai mudar a imagem antiga do local, que pertencia praticamente na totalidade aos automóveis, e agora vai permitir que os pedestres voltem a ocupá-la. É uma integração do Centro com o restante da cidade, pois recupera um ponto fundamental e histórico do sistema viário do Centro do Rio: a ligação entre o Porto e a Praia do Flamengo feita pela avenida Rio Branco”. A pesquisadora enfatiza que restaurar o Centro é muito mais do que dar novas vias à população. A obra recupera os caminhos históricos da cidade e devolve ao Rio um lugar antes evitado pelos cariocas e turistas devido à violência e ao abandono. “É preciso olhar com carinho para o centro porque
uma cidade sem Centro é uma cidade sem alma”, finaliza a autora.
CAUSOS DOS 20 Além dos muitos ineditismos, nas páginas dessa história figuram acontecimentos, no mínimo, curiosos. Confira! O PREFEITO E O DELEGADO Em 1917, o Prefeito Amaro Cavalcanti baixou um decreto regulamentando o uso do banho de mar. “O banho só será permitido de 2 de abril a 30 de novembro, das 6h às 9h, e das 16h às 18h. De 1º de dezembro a 31 de março, das 5h às 8h, e das 17h às 19h. Nos domingos e feriados haverá uma tolerância de mais uma hora em cada período”. Sobre os trajes de banho, a medida era ainda mais rígida: nas palavras do alcaide “Deveria guardar a compostura”. “Não permitir o trânsito de banhistas nas ruas que dão acesso às praias, sem uso de roupão ou paletós suficientemente longos, os quais deverão ser fechados ou abotoados e que só poderão ser retirados nas praias”. Aos infratores, multa e prisão. Com o passar dos anos, o policiamento deu lugar a certo afrouxamento de vigilância, intensificando-se novamente, no verão de 1923 para 1924, quando o delegado do 6º Distrito, atendendo às queixas da liga conservadora, regulamentou o trajes e um “código de posturas praianas”. O delegado colocou os guardas-civis com metro na mão e um apito na boca. O metro era para conferir as medidas do traje de banho, e o apito, para tocar a cada irregularidade que surgisse.
Prefeitura do Rio/ Beth Santos
tarem à prática da natação. Nesse embate, o maiô o foi vencedor. OS JANGADEIROS, ORSON WELLES E A FALSA IPANEMA A Rua Jangadeiros, em Ipanema, ganhou esse nome na década de 20 por ser o porto de chegada de jangadeiros que migravam do Nordeste brasileiro – sobretudo do Ceará. Anos mais tarde, o ator e diretor de Cinema Orson Welles veio ao Brasil para filmar a saga de quatro pescadores que saíram
de jangada, sem bússola nem carta náutica, do Ceará em direção ao Rio de Janeiro, para reivindicar seus direitos trabalhistas diretamente com o presidente Getúlio Vargas. Porém, um acidente fatal de um dos jangadeiros na Barra da Tijuca (locação da falsa Ipanema) interrompeu as filmagens, e a película nunca foi concluída. Hoje repleta de prédios, a orla de Ipanema dos anos 20 impressionava pelas poucas construções e pelo movimento
Divulgação/ Babélica Urbe
Depois de muito alarido, a polícia abandonou seu posto de vigilância. Em 1926, os trajes de banho diminuíram ainda mais para se adap| 61
KULTUR
IPANEMA E A BOSSA-NOVÍSSIMA
CURIOSIDADES
DA URBE
Paralamas retirados, rodas modificadas, suspensões rebaixadas... Embora se pense que o tuning seja um fenômeno recente, a personalização de carros e motos foi iniciada nos Estados Unidos logo após à Segunda Guerra Mundial. E meio século depois estava amplamente difundida na Europa e no Japão, onde a modalidade conquista cada vez mais adeptos. Porém, muito antes disso, no início da década de 20, jovens cariocas já preparavam o visual e a
mecânica dos primeiros automóveis importados para o Brasil para torná-los mais agradáveis aos seus gostos e chegarem a lugares, até então, inóspitos, ainda sem asfalto. Possantes como o Ford modelo T, com carroceria modificada (tipo baquet, aliviada e bem esportiva) e rodas ‘disco’ em vez das originais com raios de madeira são reflexo do comportamento dos playboys daquela época. A fotografia foi tirada entre 1921 e 1925, na praia de Ipanema.
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Arquiteta e professora da Escola de Belas Artes da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Jane Santucci é considerada uma das maiores autoridades do país na área de História e Cultura Urbana com ênfase em Rio de Janeiro. Ela é autora dos livros ‘Os Pavilhões do Passeio Público’ e ‘Cidade Rebelde’. - A ideia de escrever ‘Babélica Urbe’ – expressão tomada emprestada do escritor Théo-Filho – nasceu durante o trabalho de pesquisas de seu primeiro livro, ‘Os Pavilhões do Passeio Público’, quando a arquiteta teve o primeiro contato com autores, como Benjamim Costallat e Álvaro Moreyra. - Voraz colecionador de arte – especialmente art déco, período que abrange o início da década de 20 até os anos 40 –, o novelista Aguinaldo Silva cedeu fotos de seu acervo particular que serviram para ilustrar várias das 285 páginas do livro.
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CRÍTICA
LE PETIT PRINCE
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Atemporal e repleto de significados, livro clássico de Antoine Saint-Exupéry ganha versão para o cinema Haydêe Sant’Ana Os números falam por si. Terceiro livro mais vendido no mundo. Traduzido para mais de 220 línguas. No Brasil, 8 milhões de exemplares vendidos. “O Pequeno Príncipe”, de Antoine Saint-Exupéry, é um fenômeno mundial desde a sua publicação em 1943. A história clássica acaba de ganhar uma roupagem cinematográfica. Assim como o livro, o filme tem encantado adultos e crianças pela simplicidade e ingenuidade com que trabalha temas como o amor e a amizade. Na versão adaptada para o cinema, a história do pequeno príncipe é contada por um velhinho a uma garotinha que vive sob a vigilância de uma mãe controladora e obsessiva em impor rígidos horários de estudos à menina. Cansada da rotina, a garotinha encontra na amizade do vizinho idoso uma fuga para o tédio cotidiano. Nos encontros à tarde, após a escola, a menina tem contato com a história de um pequeno príncipe que vivia em um asteroide em companhia de uma rosa. Diferentemente de buscar reproduzir a obra na íntegra, a animação do diretor Mark Osborne procura transmitir a essência da história por meio da adaptação. No filme, a vida da menina se mistura à história do livro fazendo a garota imergir no universo para encontrar o pequeno príncipe, que na animação já é adul-
to e se mostra indiferente ao mundo lúdico da fantasia e dos sonhos.
temas que são naturais e próprios do ser humano é fantástica.
Considerando a realidade das relações humanas, cada vez mais midiatizadas e intermediadas pelas novas tecnologias, a temática do filme é bem atual por mostrar a importância da valorização dos laços verdadeiros de amizade, de buscar o próximo e de cultivar as pessoas. A leveza e a simplicidade com que o filme aborda
“O Pequeno Príncipe” é agora uma obra duplamente primorosa, que serve de lição para crianças, jovens e adultos de todo o mundo. O livro, agora também a animação, devem ser apreciados principalmente quando nos esquecermos de que a vida é feita de imaginação e sentimentos, e o que realmente importa é invisível aos olhos.
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TERRA BRASILIS • AGENDA
Bar em bar
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Bar é sinônimo de descontração, encontro de amigos, curtição e música boa. Na capital dos bares, o evento Bar em bar, realizado nacionalmente pela Abrasel, faz a alegria dos mineiros com deliciosos pratos e tira-gostos. O evento faz parte do calendário gastronômico da cidade. Diversos bares da cidade De 5 a 22 de novembro barembar.com.br
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Com oito balões ancorados na Praça da Nova Pampulha, Marco Zero e Parque Ecológico, o Balonismo BH 360° oferece passeios diferenciados. Os voos noturnos, conhecidos como Night Glow, são um espetáculo com direito à combustão de chamas à luz da lua. Imperdível! Orla da Lagoa da Pampulha Entrada gratuira 21 de novembro, de 18h às 21h bh360.com.br
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Diário de Bitita A peça apresenta memórias de infância da escritora mineira Carolina Maria de Jesus, que sobreviveu como catadora na cidade de São Paulo até começar a ter os escritos descobertos e publicados. A escritora é um dos ícones da chamada ‘literatura marginal’ no Brasil. Teatro Municipal de Uberlândia Dia 18 de novembro, às 20h, e 19, às 14h e 20h Entrada gratuita Outras informações no telefone (34) 3235.1568
KULTUR
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Pearl Jam Uma das bandas de maior sucesso do mundo, o Pearl Jam se apresenta no Brasil pela terceira vez. Essa será a primeira passagem do grupo por Belo Horizonte. Sucessos consagrados, como ‘Betterman’ e ‘Daughter’, devem compor o setlist, bem como músicas inéditas da banda. Estádio Mineirão 20 de novembro, às 20h30 R$ 600 (inteira)
9° Festival Internacional de Quadrinhos Maior evento de quadrinhos da América Latina, o Festival Internacional de Quadrinhos (FIQ) promete agitar o feriadão da Proclamação da República. Em 2015, o grande homenageado do FIQ é o quadrinista Antônio Cedraz, pai da Turma do Xaxado, sucesso publicado por mais de dez anos no Jornal A Tarde. Serraria Souza Pinto De 11 a 15 de novembro Entrada gratuita fiqbh.com.br
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CRÔNICA
Joanita Gontijo Comportamento
Você não é o oxigênio do mundo Não foi exatamente uma surpresa quando minha empregada doméstica me avisou que sairia do emprego. O futuro estava na minha bola de cristal, mas como uma vidente que prevê a própria morte, ignorei a tragédia até o último instante. Quem tem filhos e trabalha nove horas por dia, como eu, entende que não há drama no que eu digo. Descrevo a realidade nua e crua dos problemas que eu acreditava ter dali para frente. Como os filhos mais novos iriam se virar no almoço? Que tempo eu teria para lavar, passar e faxinar? Haveria colaboração espontânea ou as súplicas diárias por ajuda seriam mais uma função exaustiva na minha longa lista? Talvez procurar outra funcionária? Nenhum cenário parecia favorável. E então chegou a segunda-feira. Arrumei a mesa do café da manhã e deixei as comidas prontas sobre o fogão. Meus filhos de 12 e de 14 anos só teriam que fazer os pratos e esquentá-los no micro-ondas. De longe, eu torcia para que eles não trocassem o arroz, o feijão, a carne e a salada pelos biscoitos da despensa. Ao contrário do que eu temia, tudo correu bem. Na falta de alguém que fizesse, meus filhos se tornaram proativos. Eu me organizei com as tarefas reservando algumas noites para o trabalho em casa e outras de completa e inegociável folga. As previsões para o futuro estavam erradas, e eu consegui viver sem uma ajudante todos os dias em casa. Eis que na segunda semana da nova vivência, enquanto eu lavava algumas roupas, meu celular caiu num balde cheio de água. O resgate foi rápido, usei meu
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secador de cabelo para amenizar o estrago e o aparelho passou a noite na lata de arroz (dizem que funciona...). Tudo em vão. O diagnóstico: pane geral. A desoxidação levaria quatro dias. Como costuma acontecer com a maioria das pessoas que passa por isso, superadas as primeiras horas de ansiedade, descobri um prazer enorme por estar desconectada. Mas não foi apenas isso. Temia não ser encontrada pelos filhos e pelos meus pais quando eles precisassem de mim. Cadê minha borracha? Não vai dar tempo de acabar o trabalho de inglês! Filha, remarca o médico para semana que vem? Não era possível me encontrar a qualquer hora. O mundo a minha volta teve que esperar pelo meu tempo e minha disponibilidade. Os problemas da manhã não chegavam na minha caixa postal. E à noite, quando eu me fazia presente, as “urgências” de antes não existiam mais: tinham sido resolvidas por outras pessoas ou apenas se dissolveram no tempo, esse sábio professor que nos ensina a confiar nele quando não há solução. Saber que você não depende de ninguém para sobreviver é reconfortante, mas descobrir que você também não é imprescindível é libertador.
Joanita Gontijo Jornalista e autora do livro “70 dias ao lado dela” joanitagontijo@yahoo.com.br
Obras para a despOluiçãO da lagOa da pampulha. Um resgate à beleza original da mais famosa atração tUrística de bH.
belo Horizonte me recebeu de braços abertos. e eu também abracei essa cidade. a receptividade das pessoas. a beleza dos lugares. o encanto da Pampulha. c e s a r c i e lo
a belo Horizonte que recebeu cesar cielo de braços abertos reúne inúmeras atrações que encantam milhares de turistas todos os anos. como a Pampulha, que está vivendo um momento de grande transformação. a Prefeitura de belo Horizonte tem trabalhado muito pela despoluição da lagoa. as obras de desassoreamento já foram concluídas e novas etapas para a despoluição completa estão em andamento. assim, o conjunto moderno da Pampulha, que é candidato a Patrimônio cultural da Humanidade, será um orgulho ainda maior para todos nós.
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