Por que o teatro estuda o teatro com teatro? O que é a dramaturgia na dança? Por que a dramaturgia estuda a dramaturgia com dramaturgia? As palavras dançam? Onde se estuda a palavra? Quando eu digo que danço, já estou dançando? Quando a escrita é dança? A dramaturgia se faz na presença ou na ausência? Quando escrever é dançar? Dramaturgia é palavra? Quando a dança é escrita? Movimento é palavra? Quando dançar é escrever? Memória é palavra? Qual a estrutura da palavra que eu leio? Espaço é palavra? Qual a estrutura da palavra que eu ouço? Tempo é palavra? Qual a estrutura da palavra dentro de mim? Palavra é tempo? Que movimento tem a palavra? Palavra é espaço? Qual o corpo da palavra? Palavra é memória? Qual o corpo do som da palavra? Palavra é movimento? Será que quando elas não estão sendo vistas, as palavras dançam? Palavra é dramaturgia? Imaginar uma dança é dançar duas vezes? Como você criou essa dramaturgia? Como viver em uma sociedade que não sabe lidar com os seus fracassos coletivamente? Ausência constrói presença? Não seria a ficção a única forma de salvar o mundo? E a presença constrói ausência? Quando a dança faz o pensamento dançar? Como a dança marca o tempo e o espaço? Quando o pensamento faz o pensamento dançar? As imagens estão: a) na sua voz? b) no espaço? c) na minha cabeça? Quanto espaço a palavra ocupa? Quem dança aqui: você ou eu? Quanto espaço o espaço ocupa? Onde está a dança? Quando a dança termina? Se este texto fosse publicado, ainda assim ele seria dança? Quando a palavra termina? O que se move? Em que momento dança e palavra são a mesma coisa? O que se move em mim quando eu me lembro de algo? Em que momento dança e palavra não são a mesma coisa? A palavra ocupa e abre espaço? Em que momento dança e palavra não podem ser a mesma coisa? Que perguntas são essas? Existe teatro sem teto? Eu só danço com o meu corpo? Onde nasce uma pergunta? Sinapse é dança? O silêncio é uma pergunta? Não pode responder? Quem foi que colocou a flor no palco? Foi você que colocou a flor? Quem foi que colocou a flor? Por que a gente separa dança de teatro? Dramaturgia de espaço? Texto de palavra? Imagem de todo o resto? Por que a gente separa as coisas? Como explicar esse espetáculo pra alguém? Por que a gente usa a palavra espetáculo? Qual outra palavra a gente poderia usar? O “porque” de fazer arte é junto ou separado? Por que a palavra sobrevive? Por que a imaginação é livre? A imaginação é livre? No que a memória sobrevive? Sempre a memória sobrevive? A memória é ficção? A memória nos engana? A dança é uma memória? Por que há aplauso? Por que não o aplauso? O que é aplauso? Quando a dança acaba? A dança acaba? O que me conduz a imaginar? Se eu paro de imaginar, eu paro de imaginar? Em que medida eu faço parte da sua memória? Como eu entro pra sua memória? A memória é minha ou sua? No escuro eu consigo ver? O infinito é escuro? Você dança no escuro? Barulho ocupa espaço? Barulho pode ser música? Som é presença? Você responde mentalmente as perguntas? Qual é a próxima pergunta? Seria essa? Um dia as perguntas acabam? Memória
é mentira ou criação? Uma coisa anula a outra? Não sei, será? Por que precisamos de respostas? O desejo de uma pergunta é ser respondida? Quem é que pode responder essas perguntas? Quem é que não pode? Alguém se arriscaria a responder essas perguntas? É preciso poder para responder? É preciso falar para responder? Poder é poder? O que é poder? O que é luz? E o choro? O que? E o choro? O que? Como? Eu posso falar? Posso responder? Eu posso morar dentro do seu movimento? Ocupa eu? Vamos ocupar? Vamos? Quando você se move, você pode me mover? O que era a chuva? Você dançou quando estava tudo escuro? Como você se aquece pra fazer essa peça? Você gosta do seu nome? Por que o escuro em algumas de suas criações? O que você muda nas apresentações? Esse trabalho tem alguma ligação com o espírito encarnado Erê? A dramaturgia mudou muito desde a estreia? Por que a seleção dessas memórias? A dramaturgia está escrita em palavras? Por que você começou a trabalhar sobre a memória? Como é receber várias perguntas e não poder responder? Quais eram as expectativas de vocês quando vocês entraram ali na sala de teatro? Falta alguma coisa à pergunta? Toda vez que você chama gente até aqui, você inventa uma coisa nova? Quais eram as suas expectativas em relações às nossas perguntas? Será que memória é inventar? Eu consigo te ver no palco? Ela não está no palco o tempo todo? Ela não estava na plateia? É preciso estar para estar? Seria possível prolongar essa experiência por umas três horas ou quatro? Seria possível prolongar essa experiência por uma vida inteira? Essa experiência só acontece dentro de espaços como esse? Por que espaços como esse possibilitam essa experiência? É preciso um espaço para acontecer algo? As palavras podem invadir os corpos? Falando de produção, o custo desta experiência, em correlação a uma experiência mais, digamos, comercial, seria equivalente ao tempo e ocupação do espaço e dos recursos necessários técnicos? O caminho é longo? Para dançar precisa ter música? Para ter música é preciso ter música? Por que estamos fazendo perguntas? Alguém tem mais perguntas? A arte será eterna? O que vai ficar dessa experiência: mais respostas ou mais perguntas? Quando o Temer sair, a gente ainda vai falar “Fora Temer”? Quando o Temer sair, esse espetáculo vai ser o mesmo? Falar e fazer é a mesma coisa? Temer vai sair? Lula vai ser preso? E se alguém fosse lá no palco no meio do acontecimento e tirasse aquela fita crepe? O prédio cairia? Por que ninguém foi lá tirar aquela fita crepe? Você está arrependido? O movimento voltaria? Por que a gente respeita limites? A gente respeita limites? Tem alguma coisa embaixo daquela fita crepe? Terminamos? Sim? Como fazer uma pergunta que não existe para respostas? Existe resposta pra alguma pergunta? Tem pergunta? Dança comigo? O que? Uma angústia pode ser o resultado disso tudo? Dancem? Dancem? Dancem? Dancem? texto coletivo criado a partir de entre ver, de denise stutz (14 de dezembro de 2016) ESCRITA-AÇÃO // mostra hífen de pesquisa-cena