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1.0_INTRODUÇÃO

Durante minha trajetória acadêmica investiguei meus interesses no âmbito da arquitetura e do urbanismo. Das experiências que colhi, aquelas que mais me atentavam quase sempre envolviam o contato com a natureza, técnicas construtivas naturais e a consciência de todas as fases do processo construtivo de maneira íntima do processo. A partir daí me surgiram duas questões:

Por que o contato com a natureza sempre me atraiu? Por que sempre me identifiquei com trabalhos executados manualmente?

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Para tentar responder tais perguntas, procurei compreender melhor a história de meus antepassados indígenas. Minha bisavó materna, Jacira era filha de pai indígena e, segundo a antropóloga Miriam Martins Alvares, muito provavelmente pertencente ao grupo étnico dos Boruns (Krenáks). Infelizmente consegui coletar poucas informações sobre ela.

Figura 1 Bizavó Jacira Maia Carvalhar Fonte:autor

Entretanto, depois dessa constatação, comecei a estudar mais sobre esses povos e conversando com a Miriam, bem como lendo revistas de antropologia. Assim, percebi que minha vontade de trabalhar manualmente com os materiais e de estar em contato mais íntimo com a natureza, estava muito provavelmente relacionado com essas origens. Os povos originários possuem uma visão de mundo e uma postura de atuação diante da realidade bastante distinta do pensamento e cultura ocidental. Umas dessas diferenças é a sua relação com a natureza, de maneira que não existe a separação do indivíduo com a natureza, mas sim uma relação mais íntima de construção em comunhão com o espaço onde se habita. Outra distinção do pensamento ocidental que me chamou atenção é da produção manual de seus espaços e utensílios, estes carregados de originalidade e identidade. Deste modo, percebi que essas questões sutis são pouco abordadas no campo da arquitetura e urbanismo. Durante a graduação, somos ensinados a desenvolver habilidades ligadas à concepção do objeto arquitetônico. Entretanto somos pouco instigados a investigar nossas capacidades e habilidades manuais. Assim, diante de tais ponderações, sentia a necessidade de experimentar a materialidade das minhas ideias e concepções. Somado a essa inquietação, existia

ainda a volumosa carga horária de trabalho exigida para tais processos de concepção projetual e, muitas vezes, sem qualquer reflexão a respeito do porquê estávamos produzindo aquilo. Assim, dada essa distância entre a ideia e sua materialização, o processo de concepção na arquitetura parecia muitas vezes alienante.

A partir daí, comecei a buscar caminhos que poderiam me conduzir a uma concepção de arquitetura mais independente e, consequentemente, menos

alienada, e que me levasse a trabalhar manualmente com materiais naturais. Assim, como forma de sistematizar minha investigação, dividido aqui minha trajetória em cinco etapas. São elas: Vivência Colômbia(1), Projeto(2), Prática(3), Levantamento e pesquisa de campo (4) e Entrevistas(5). As três primeiras etapas foram experiências que precederam a realização dessa monografia, sendo as duas últimas etapas realizadas durante a realização da mesma.

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