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3.5_A QUESTÃO DA PROFISSIONALIZAÇÃO
Figura 56 - Pedágio, departamento de Risaralda
A questão da profissionalização está ligada a qualificação de mão de obra para trabalhar com o bambu como: arquitetos, engenheiros e bambuzeiros.. A falta de pessoas que saibam trabalhar com o material é um dos principais entraves comentados pelos profissionais da área. Na Colômbia pude conhecer o Sena, correspondente ao nosso Senai aqui no Brasil e (sobre o qual Fabiana Carvalho comenta no trecho da entrevista abaixo) outros centros de pesquisa e investigação da utilização do bambu como o CIBAM (Centro de Investigação do bambu e da Madeira).Instituições similares a essas no país não existem . Existem alguns locais que dão cursos curtos sobre a construção com bambu além de algumas universidades que desenvolvem pesquisas sobre o tema. Porém essa pesquisa/ensino ainda é pequena para se pensar um desenvolvimento maior de uma cultura construtiva com o bambu no país.
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“Outro ponto que eu senti que lá tem é o curso profissionalizante. Alguns cursos profissionalizantes, no Sena que equivale a nosso Senai isso eu achei fundamental, que cria mão de obra especializada então pra gente arquiteto que projeta é muitas vezes eu sinto que a gente precisa ,está numa obra convencional a gente faz o projeto a gente tem nossa equipe de mão de obra ,já especializada mais na construção convencional ,mas se a gente precisa contratar um cara pra ,sei lá ,pra mexer na elétrica ,mexer na hidráulica a gente consegue contratar , na construção com bambu não .Tem um grupo ali
formado mas é um grupo que não está tão coeso. Não é uma equipe que a gente consegue enquanto arquiteto manter. Uma equipe sempre, porque não é sempre que tem trabalho. Então você acaba fazendo uma coisa, mas quando surge o projeto você fica meio sem ter mão de obra pra contratar e por não ter um ensino no profissionalizante eu acho que se deixa uma base muito fraca pra profissionalizar realmente a construção e eu vi essa diferença lá. De tipo fulano fechou uma obra e que os encaixes vão ter muitas bocas de peixe e ai você consegue contratar especialistas em boca de peixe. Você viu isso lá? Não sei se você viu? Muito arquitetos e engenheiros falavam isso. Cara genial sabe aqui isso né. A gente fica cassando quem já fez cursos. Quem já aprendeu a técnica, mas não tem um órgão que regulamenta. Então eu acho que a profissionalização é um passo importante pra construção de bambu aqui no Brasil vingar.” (FABIANA CARVALHO ,ENTREVISTA AO AUTOR)
“O que se entende por cadeia produtiva no Brasil é um histórico de relações com matérias e possibilidades muito negativo. Nós não podemos através do bambu, imitar as cadeias produtivas que existem porque elas já começam assim como um equívoco que é a acumulação de bens em vez da distribuição de bens. Então quando eu penso na popularização do uso do bambu eu penso em associações cooperativas e mesmo quando que as pessoas possam trabalhar no desenvolvimento individual.Eu penso na autonomia e não do sistema de um patrão que domina um mercado. Domina a tecnologia e coloca vários empregados ganhando salário mínimo ao seu serviço. Nós temos que mudar o padrão. Nós temos que mudar o padrão de salário mínimo para salário justo. Nós temos que mudar o padrão de patrão empregado para autônomos satisfeitos entendeu? Então tudo isso é uma mudança de conceito. O Brasil precisa muito de uma mudança de conceito e é muito importante que essa mudança de conceito seja feita através da educação através do entender da história política do país entendeu? Porque está tudo relacionado né.Todo o sistema produtivo, comercial e econômico no Brasil tá atrelado a questões políticas e o que nós desejamos não é o desatrelamento, mas um aprofundamento nas relações políticas que gere consciência e uma postura de autonomia e cooperação.” (LÚCIO VENTANIA, ENTREVISTA AO AUTOR)
“Na Colômbia, ainda é muito tímido eu to falando um avanço mais grosso né A grosso modo como, por exemplo monocultura de bambu pra fazer esse processo de industrialização pra colocar no mercado em grandes volumes. Isso ai é completamente negativo transformar o o bambu como num eucalipto em uma outra matéria prima . .O bambu não é pra ser siderurgizada .O bambu é pra ser um elemento pra que o homem do campo faça seu usufruto e realente ele venha cumprir o papel de sustentabilidade que é uma lacuna mesmo no pais .Não precisa imitar o sistema produtivo ,econômico que ele é muito bruto ,é isso que eu quero dizer. Nós não precisamos fazer isso com bambu.”
(LÚCIO VENTANIA, ENTREVISTA AO AUTOR) Por fim, para finalizar o tema do contexto da produção da arquitetura de bambu coloco duas falas do bambuzeiro Lúcio Ventania sobre o tema e que são importantes para uma análise crítica da questão. Antes de se desenvolver uma cadeia produtiva é necessário pensar qual tipo de relações estarão envolvidas nesse processo de produção. As cadeias produtivas de outros materiais, por muitas vezes, estabelecem relações de exploração entre os trabalhadores e desse modo, como colocado por Lúcio Ventania, não seria interessante que o bambu seguisse pelo
mesmo caminho. Na segunda fala o bambuzeiro destaca a importância de não transformar o bambu e mais um material “siderurgizado”. A planta deve servir à população e não virar mais um material que irá entrar em uma cadeia produtiva exploratória como acontece com outros materiais convencionais.
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Figura 57 - Pico nevado Santa Isabel Colômbia Fonte: Autor