Qual a relação entre o conceito de opinião pública e comunicação estratégica? De forma a compreender a relação existente entre opinião pública e comunicação estratégica, em primeiro lugar, a aluna considera importante conhecer separadamente cada um dos conceitos aqui enunciados. Segundo Augras (1970) citada por Sebastião (2009), “a opinião pública é um fenómeno social dinâmico, existente em relação a um grupo, sendo um dos seus modos de expressão” (p.31), o que indica que esta exprime muito mais do que um conjunto de opiniões, já que estas são influenciadas pelo sistema de um país, pela sua comunidade e também pelos media. Desta forma, de acordo com Sebastião (2009) “no século XIX ocorreu a primeira revolução industrial, surgiu a imprensa e as reivindicações deixaram de representar apenas os interesses de um grupo dominante, abrangendo carácter não só político, mas também social e económico” (p.31). Isto significa que a opinião pública para além de sofrer alterações através do tempo, passou ainda a abranger mais do que a dimensão política, embora continue a ser um elemento fundamental neste âmbito. Neste sentido, a opinião pública que geralmente se encontra associada aos estudos de sondagens e inquéritos, pode também ser vista numa perspetiva segundo a qual a expressão surge a propósito de “múltiplas referências à opinião dos cidadãos em contextos diferenciados, o que leva a uma utilização abrangente da mesma” (Santo, 2006, p.21). Esta transição para a linguagem corrente, traduz-se numa maior e mais fácil propagação do termo. Considera-se, portanto, que “por opinião pública deve entender-se a formulação de um juízo que supõe alguma reflexão e possibilidade de sustentação do ponto de vista da sua fundamentação, por parte dos sujeitos que a emitem” (Santo, 2006, p.47). A opinião é originária de um conjunto restrito de participantes de uma comunidade que partilham publicamente juízos, que consequentemente se denominam de opinião pública. Este termo refere-se, por isso, ao conjunto de considerações feitas pela população, sendo uma expressão que se refere às opiniões generalizadas de assuntos de interesse público apresentados numa determinada comunidade e que muitas vezes se vêm refletidos nos meios de comunicação social. 1 Andreia Catarina Neves
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Na 6.ª Edição do Seminário de Diplomacia para o Século XXI “Comunicação Estratégica e Diplomacia Empresarial (Corporate Diplomacy)”, que ocorreu no Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas, no dia 22 de fevereiro, foi possível perceber a partir da explicação da Professora Doutora Sónia Sebastião, que poder-se-á falar de opiniões públicas e não de opinião pública, já que no seu entender não se pode uniformizar este conceito pois os públicos são cada vez mais fragmentados. Tendo em conta esta perspetiva, Figueiredo e Cervellini (1995) concebem a opinião pública tendo em conta a sua pluralidade, pelo que os autores acreditam que “a opinião pública se expressa através dos grupos organizados, das manifestações mais ou menos espontâneas, das pesquisas, das eleições, dos comícios, das discussões em reuniões sociais, dos meios de comunicação etc.” (p.177). Assim, a opinião pública designa várias coisas, não tendo apenas uma única forma de se manifestar, mas sim diversas. Por sua vez, a comunicação estratégica designa o desenho do futuro desejado para uma determinada organização e os caminhos para tornar esse plano realidade a partir da definição de objetivos, escolhas estratégicas, missão da empresa, entre outros. Deste modo, “enquanto o marketing se preocupa com os clientes efetivos e potenciais da organização, a comunicação atua num nível mais amplo, procurando atingir todos os intervenientes no mercado” (Sebastião, 2009, p.39). Neste sentido, torna-se uma preocupação crescente para a organização reforçar a sua imagem e notoriedade ao público que forma uma opinião em relação à empresa. Por conseguinte, segundo Figueiredo e Cervellini (1995) “ao formarmos uma opinião sobre qualquer assunto, teremos necessariamente que contar com informações produzidas e veiculadas por instituições e não obtidas exclusivamente de nossa experiência individual” (p.177). Para isso, é necessário que a organização comunique com os seus públicos e passe mensagens concordantes com a respetiva missão, para então a população poder formular uma opinião relativamente à empresa. É a partir do posicionamento estratégico que a organização e a sua atuação são reconhecidas pela população e poderá obter uma imagem mais ou menos negativa perante o público. Para isso, há várias decisões estratégicas que são tomadas pela empresa e que incluem o preço, o produto, a distribuição e a comunicação, sendo que estas devem ser tomadas “no tempo-espaço apropriado garantindo a disponibilização e o conhecimento
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do produto, de forma a que o mesmo seja desejado pelos consumidores” (Sebastião, 2009, p.39). Com isto, a opinião pública acaba então por se relacionar com o conceito de comunicação estratégica, na medida em que a primeira diz respeito aos estudos que são conduzidos por parte da organização à população, de forma a produzir um diagnóstico. De acordo com a explicação apresentada pela professora Sónia Sebastião no seminário já referido, se a organização não souber aquilo que o público pensa, então não poderá tomar decisões estratégicas dentro da empresa nem construir mensagens que possam comunicar com a opinião pública. Deste modo, a má utilização dos instrumentos instantâneos de comunicação por parte do estratega de uma determinada empresa poderá causar ruído numa situação de quebra de protocolo, que existe para criar credibilidade e uma imagem uniformizada da organização. O desrespeito constante deste protocolo pode gerar um efeito negativo na sua imagem pública, o que significa que em consequência vai afetar aquilo que a opinião pública pensa. Em suma, sem o conhecimento daquilo que a opinião pública pensa, o trabalho do estratega de comunicação torna-se limitado, já que não consegue ir ao encontro daquilo que o público procura ou pensa relativamente à empresa. Deste modo, se as organizações não souberem o que pensam da sua marca, então não é possível fazer uma comunicação estratégica adequada.
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Referência Bibliográficas: Figueiredo, R., & Cervellini, S. (1995). Contribuições para o conceito de opinião pública. Opinião pública, 3(3), 171-185. Santo, P. (2006). Sociologia política e eleitoral: modelos e explicações de voto. Sebastião, S. (2009). Comunicação Estratégica: as relações públicas. Lisboa: Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas
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