Angola'in - Edição 06

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ANO II · REVISTA Nº06 · ABR / MAI / JUN 2009 350 KWANZAS · 4,50 USD · 3,25 EUROS Economia & Negócios · Sociedade · Turismo

Arquitectura & Construção · Inovação & Desenvolvimento · Luxos · Desporto · Cultura & Lazer · Personalidades

REVISTA Nº06 · ABRIL/ MAIO / JUNHO 2009

o capitalissm 3

identifique o princípios que ema regem um sist de mercado

PLANETA ÁSIA

Asiáticos partem à conquista. Epicentro económico mundial desloca-se. Saiba quais os países mais poderosos do momento

yes we can áfrica A frase que pode mudar o mundo. Obama defende nova estratégia para o continente. Concertação com a China apoia maior autonomia africana

dinheiro de plástico Consegue viver sem VISA? O império que ninguém ousa derrubar é a face do novo capitalismo. A invenção mais eficaz de todos os tempos



COMUNICARE - Portugal J&D - Consultores em Comunicação, Lda. NPC: 508 336 783 | Capital Social: 5.000€ Rua do Senhor, 592 - 1º Frente 4460-417 Sra. da Hora - Portugal Tel. +351 229 544 259 | Fax +351 229 520 369 Email: geral@comunicare.pt www.comunicare.pt Delegação Angola’in Rua Rainha Ginga, Porta 7 Mutamba - Luanda - Angola Contacto: Ludmila Paixão E-mail: pontodevenda@comunicare.pt

in loco revista bimestral nº06 - abr/mai/jun 2009 Direcção Executiva Daniel Mota Gomes · João Braga Tavares Direcção Editorial Manuela Bártolo - mbartolo@comunicare.pt Redacção Patrícia Alves Tavares - ptavares@comunicare.pt Mónica Mendes - mmendes@comunicare.pt Colaborador Especial João Paulo Jardim - jpjardim@comunicare.pt Design Gráfico Bruno Tavares · Patrícia Ferreira design@comunicare.pt Fotografia Ana Rita Rodrigues · Shutterstock Serviços Administrativos e Agenda Maria Sá - agenda@comunicare.pt Revisão Marta Gomes Direcção de Marketing Pedro Posser Brandão Tel. +351 229 544 259 | Fax.+351 229 520 369 E-mail - pbrandao@comunicare.pt Publicidade Tel. +351 229 544 259 | Fax.+351 229 520 369 E-mail - publicidade@comunicare.pt João Tavares - jtavares@comunicare.pt Daniel Gomes - dgomes@comunicare.pt ASSINATURAS - assinaturas@comunicare.pt Envie o seu pedido para: Rua Rainha Ginga, Porta 7 Mutamba - Luanda - Angola Departamento Financeiro Sílvia Coelho Departamento Jurídico Nicolau Vieira Impressão Multitema Distribuição Africana Distribuidora Expresso Luanda - Angola Tiragem 10.000 exemplares — Interdita a reprodução, mesmo que parcial, de textos, fotografias e ilustrações, sob quaisquer meios e para quaisquer fins, inclusive comerciais

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CONQUISTA ASIÁTICA Por entre a tão debatida crise, há um continente que sobressai e que encara as dificuldades do contexto europeu como um negócio, que pode auferir lucros avultados para os asiáticos. As alianças, fusões e aquisições por parte da Ásia revelam que este nicho da economia poderá ser o futuro centro das decisões e gestões mundiais. A entrada em força nos mercados, que anseiam por uma luz ao fundo do túnel, que os tire das dificuldades económicas e financeiras, revela a conquista asiática. Esta edição centra-se sobre esta preponderância, que actualmente é ainda imperceptível, mas que ganhará novos contornos a curto e médio prazo. A Angola’in debruça-se sobre os avanços deste continente e o que pode mudar na economia mundial. Por outro lado, não foram esquecidas as propostas de Barack Obama, cuja linha de actuação externa enfoca o continente africano, num período em que todas as atenções estão voltadas para o presidente norte-americano e o prometido volte-face da crise económica. Quando se aborda o desenvolvimento internacional surgem os chamados ‘calcanhares de Aquiles’, as questões que mancham as relações intercontinentais e que carecem de medidas urgentes. É o caso do tráfico de seres humanos, uma realidade que ultrapassa fronteiras e clama por maior atenção por parte das grandes potências. África está no centro de actuação das redes internacionais, cujas acções têm um impacto comparável ao de tráfico de droga e de armas. Angola

é um dos países na mira dos traficantes, que procuram sobretudo mulheres e crianças. O emprego é uma das principais preocupações da população nacional. Numa altura em que o país está a braços com a reconstrução, nesta edição aborda-se o trabalho desenvolvido na área do recrutamento (incluindo alunos nacionais que estudam no estrangeiro) e os progressos ao nível do ensino superior. O país precisa mais do que nunca do empenho de todos os licenciados, tão procurados pelas empresas, que, por seu lado, também apresentam sinais de crescimento, em que é visível o fomento dos pólos industriais. Contudo, não são apenas os ‘doutores’ que elevam o nome de Angola. Djalma é um desses casos. Joga futebol ao mais alto nível em Portugal e encanta os adeptos com o seu talento na selecção nacional, pois nunca esquece as suas raízes. Num período em que se fala da saúde mundial, a Angola’in debruça-se sobre a maternidade. Nascer em Angola é um dos temas, uma vez que vale a pena reflectir sobre as condições em que a nova geração vem ao mundo. É com uma mensagem de esperança que finalizamos esta edição. A visão de que os serviços de saúde têm sofrido melhorias, cujo sucesso se reflecte numa menor taxa de mortalidade e em crianças mais saudáveis, é um alento para toda a população, que deposita elevadas esperanças nos Homens de amanhã. A Direcção

Contacto Angola - assinaturas@comunicare.pt

1 ANO 17,55 EUROS (10% DESCONTO) 2 ANOS 31,20 EUROS (20% DESCONTO)

Esta revista utiliza papel produzido e impresso por empresa certificada segundo a norma ISO 9001:2000 (Certificação do Sistema de Gestão da Qualidade)

IN LOCO · ANGOLA’IN

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22 IN FOCO

negociar a vida Tem impacto económico idêntico à circulação de armas e droga. O tráfico de seres humanos é uma realidade nos países mais carentes. Angola é uma das rotas, que têm como principal destino a Europa. As mulheres e as crianças são as principais vítimas das redes organizadas. Nesta edição conheça os interesses que estão por detrás de um dos negócios mais rentáveis do século XXI

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40 ECONOMIA & NEGÓCIOS

SOCIEDADE

‘dinheiro de plástico’

o milagre

Actualmente fazem parte do dia-a-dia. Os cartões de débito e crédito são usados em todo o planeta e são um dos novos hábitos de consumo. A VISA é a grande responsável pela globalização deste meio de pagamento. Saiba como se continua a construir o império da marca

Nascimento é sinónimo de vida. O acompanhamento das gestantes e dos recém-nascidos é fulcral para que a nova geração de angolanos possa crescer de forma saudável. Conscientes da sua importância, as mulheres começam a apostar no acompanhamento médico da gravidez. Um passo importante para o futuro do país

ANGOLA IN PRESENTE

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IN LOCO

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INSIDE

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FOTO REPORTAGEM

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EDITORIAL

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MUNDO

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TURISMO

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ECONOMIA & NEGÓCIOS

morte do capitalismo A crise global lançou notícias alarmistas sobre o fim do capitalismo nos moldes em que foi concebido. Mas a ideia é infundada, uma vez que os paradigmas em que este assenta (a propriedade individual, a livre iniciativa, a democracia e o Estado social) não se alteraram, pelo que o sistema não está em causa. Apenas os ‘grandes’ do mundo é que podem mudar. Analise e veja se concorda

36 à conquista de um lugar O progresso traz novos mercados de trabalho, que necessitam de trabalhadores e quadros superiores competentes para conduzirem a economia a bom porto. As agências de emprego são as principais impulsionadoras deste sector, organizando feiras e eventos para atrair e fixar os jovens licenciados no país. Conheça os players do mercado

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SOCIEDADE

flagelo do milénio

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A SIDA é a doença que mais pessoas mata em todo o mundo. Os africanos são os mais afectados. Angola é o país com menor incidência do vírus, embora o número de infectados esteja a aumentar rapidamente

ECONOMIA & NEGÓCIOS

GRANDE ENTREVISTA

“yes we can” áfrica

34 O relacionamento entre África e os EUA é encarado com expectativa. Barack Obama é o primeiro negro a ocupar a Casa Branca e espera-se que dê maior ênfase às políticas bilaterais. Em Angola, o presidente americano tem incentivado a diversificação económica. Um apoio importante no estreitamento de relações entre estas duas nações

tesouro nacional Djalma é o exemplo do sucesso ‘fora de portas’. Filho do exinternacional Abel Campos, o prodígio soma sucessos no mundo do futebol português e sonha levar o nome de Angola para os relvados dos grandes clubes europeus

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ARQUITECTURA & CONSTRUÇÃO

uma questão de saúde

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O saneamento e a higiene são factores essenciais para a promoção da saúde e qualidade de vida. As novas construções reflectem esta preocupação, verificando-se a inclusão dos sistemas de tratamento de águas residuais em todas as províncias. Esta questão é uma prioridade para o Governo, que tem apostado na criação de infra-estruturas, que entrarão em funcionamento ainda este ano

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DESPORTO

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CULTURA & LAZER

a outra face da representação A arte de encarnar uma personagem é o desafio que muitos jovens procuram. Os cursos de teatro ganham anualmente novos talentos, que se esforçam por aprender e montam peças de elevada qualidade, com escassos recursos

PERSONALIDADES

artes que dão luta

artista dos sete ofícios

Tem filosofias antigas, mas não é um desporto tradicional. O judo tem conquistado praticantes e adeptos por todo o país, existindo muitas crianças a optar por esta prática. Os atletas brilham na Europa, onde se distinguem entre os melhores do mundo

Ondjaki publica há oito anos e é conhecido nos quatro cantos do mundo pelo seu talento para a literatura. Contudo, o escritor é uma ‘caixinha de surpresas’ e o seu imenso talento estende-se aos campos do cinema, artes plásticas, representação, sociologia e poesia

INOVAÇÃO & DESENVOLVIMENTO

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ESTILOS

LUXOS

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LIVING

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VINHOS & COMPANHIA

SUMÁRIO · ANGOLA’IN

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editorial

reciclar o capitalismo

mbartolo@comunicare.pt

A actual crise mundial significa o fim do capitalismo? Nesta edição esta é uma pergunta de peso. Será verdadeiramente a esse cenário que estamos a assistir ou o que testemunhamos é mais uma crise de reciclagem do sistema capitalista? Entender a natureza e o sentido da mesma é essencial para quem precisa de lidar com ela e de tomar decisões estratégicas, quer sejam de natureza pessoal, como profissional, empresarial e/ou política. Quem acerta no diagnóstico pode acertar no remédio e vir a beneficiar das consequências das suas escolhas. Quem erra deve arcar com o preço do seu erro e tornar-se-á vítima dele. Ou fará vítimas entre as pessoas que dependem das suas decisões. Certo é que a sociedade ocidental incorporou, nos últimos anos, uma noção linear de desenvolvimento. A definição que temos de progresso social traz subjacente a ideia de que marchamos, inexoravelmente para frente e para cima, rumo a um mundo cada vez melhor e tecnologicamente mais desenvolvido. No entanto, esqueceram-se que o tempo é cíclico. Logo, este gira em forma de espiral fazendo com que as situações se repitam. Por essa razão tão simples, não é possível saber se o capitalismo um dia encontrará o seu fim como sistema económico e social. Até porque, esse mesmo sistema parece encontrar a sua força justamente na capacidade de se reciclar e se auto-reformar, sobrevivendo às sucessivas crises. Os ciclos do capitalismo são ciclos de espasmo e contracção. O primeiro grande ciclo de espasmo ocorreu na segunda metade do século XIX e encerrou-se com a crise de 1929, que marcou o apogeu do capitalismo industrial. O motor dos ciclos de espasmo é o anseio humano por liberdade que, ao encontrar os seus limites, experimenta o desgaste que os engenheiros chamam de “fadiga dos materiais”. O ciclo de contracção que se seguiu à crise de 1929 veio marcado pelo avanço do Estado repressor sobre a liberdade social e de mercado. Duas guerras mundiais deram vazão à reacção totalitária nazista, fascista e comunista. Os dois primeiros derrotados em 1945; o último derrotado em 1989 e 1991, com a queda do Muro de Berlim e o fim da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS). A síntese entre os extremos foi o Welfare State (Estado do Bem Estar Social), que se constituiu nos EUA a partir do New Deal

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de Roosevelt e nos países europeus após a derrota do nazifascismo. A década de 1980 deu início à crise do Estado e ao novo espasmo, sob impulso do processo de globalização impulsionado pela interligação do mundo em redes distribuídas de comunicação em tempo real e de transporte em alta velocidade. O aumento do volume, da complexidade e da velocidade de circulação de riquezas, de informações e de gente pela superfície do planeta, arrombou as fronteiras dos estados nacionais. Libertaram-se novamente as forças sociais e de mercado, dando início a um importante ciclo de crescimento económico, que conduziu inclusive ao nascimento do G-20. A crise actual corresponde ao ciclo de reacção; de contracção, oposto ao espasmo que marcou as duas últimas décadas do século XX. Para entender a sua natureza é preciso abrir a grande angular da história. O foco no curto prazo e em indicadores localizados que, uma vez por outra, provocam euforia nas bolsas de valores induz frequentemente o observador ao erro. A última reunião do G-20 é disso exemplo; quando governos e instituições financeiras mundiais anunciam a libertação de apenas 1/3 dos recursos necessários para tapar o rombo criado pelo delírio dos derivativos. A verdade é que faltavam 2/3. O mundo empobreceu. Mesmo assim, não é o fim do capitalismo na saída do túnel desta crise. Sob a liderança de Obama, os EUA apontam para uma mudança no paradigma energético e no padrão de consumo nas sociedades capitalistas avançadas. Um novo sistema multilateral de regulação e governação da sociedade global está em gestação. Embora os seus contornos ainda estejam indefinidos, a hegemonia dos EUA, inaugurada no período pós-Segunda Guerra Mundial, parece encerrada. Mas, a liderança mundial dos EUA segue de pé, e é Obama quem delineia os contornos da nova agenda. O sistema financeiro e político mundial precisarão de ser depurados da burocracia e da corrupção. O ciclo de revitalização do novo capitalismo já começou. Quem imagina que vivemos o fim da globalização, está errado. O capitalismo do futuro será outro; mas, confirmo, ainda será capitalismo.


EDITORIAL · ANGOLA’IN

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INSIDE

| patrícia alves tavares

PARCERIA DE SUCESSO Portugal recebeu a visita do Chefe de Estado angolano, José Eduardo dos Santos. Os encontros com o Primeiro-Ministro e Presidente da República portugueses serviram para desenvolver o relacionamento bilateral e estabelecer o compromisso de expansão do investimento luso. O Presidente de Angola saiu de Lisboa com a ambição de elevar a nível “estratégico” as “excelentes” relações, deixando a promessa de agilizar a concessão de vistos. Ficou ainda acordada a criação de um novo banco, resultante da parceria entre a petrolífera Sonangol e a Caixa Geral de Depósitos. Durante a visita foram assinados acordos de crédito às exportações portuguesas e ainda um na área de ensino.

REUNIÃO DA INTERPOL EM FRANÇA

ANGOLA PRESIDE COMUNIDADE MÉDICA DA CPLP Carlos Alberto Pinto será durante os próximos três anos o presidente da Organização dos Médicos da Comunidade dos Países da Língua Portuguesa. O Bastonário da Ordem dos Médicos de Angola anunciou que pretende apostar na formação médica continuada e na investigação científica. Carlos Pinto prometeu desenvolver mecanismos que facilitem a livre circulação de médicos entre os países da comunidade e espera que o Centro de Formação Especializada seja uma realidade já no segundo semestre deste ano. O espaço, situado em Cabo Verde, irá funcionar no âmbito das organizações médicas e da promoção das diversas especialidades médicas.

A conferência do Comité Executivo da Organização Internacional da Policia Criminal (Interpol), que decorreu em Lion (França), contou com a presença do director angolano de Investigação Criminal, Eduardo Cerqueira. O responsável, que é um dos representantes africanos na reunião, precisou que o grupo se concentrou no plano OASIS, que prevê o reforço dos gabinetes da Interpol em África, com o objectivo de dar resposta eficiente às necessidades de intercâmbio de informação operativa. Questões relacionadas com a segurança mundial no século XXI foram debatidas, bem como a estratégia do organismo em relação à formação e relacionamento com as entidades mundiais.

MAIS PROFESSORES

EXPOSIÇÃO EM PARIS No âmbito da Semana Africana da Unesco, o país apresenta uma exposição subordinada ao tema “África na sua dinâmica Cultural e Desportiva”. A participação de Angola no evento, que decorre em Paris, pode ser visionada entre 25 e 29 de Maio. A mostra vai apresentar artigos de artesanato e fotografias da selecção nacional de andebol sénior feminina, campeã africana da modalidade; fotos dos Palancas Negras no Mundial de 2006 e um poster de José Sayovo, campeão paralímpico em 2005. A iniciativa pretende destacar a criatividade dos africanos e promover a sua actuação no desporto.

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O Governo português vai mandar duas centenas de professores para o país africano, para leccionarem português e reforçar o ensino secundário. O plano é financiado em 5,4 milhões de euros pelo Fundo da Língua Portuguesa. O projecto “Saber Mais” abrange as províncias do Cuanza Sul, Benguela, Namibe, Moxico e Cunene. A coordenação e execução do programa está a cargo do Ministério de Educação de Angola e do Instituto Português de Apoio ao Desenvolvimento (IPAD).



INSIDE

| patrícia alves tavares

BOLSAS EM INGLATERRA As bolsas de estudos atribuídas pelo Ministério das Relações Exteriores do Reino Unido, à luz do Programa Chevening têm beneficiado em larga medida os estudantes angolanos. O projecto concedeu nos últimos 25 anos bolsas a 30 mil alunos, oriundos de 130 países em desenvolvimento. Angola beneficia do programa desde 1985. Este plano tem-se mostrado uma mais-valia para o país, que ganhou quadros superiores com conhecimentos aprofundados, tornando-se agentes catalizadores do desenvolvimento social e económico.

INVESTIMENTO ITALIANO São muitos os países que têm investido no país africano. Agora é a vez de Itália, que após uma visita de 24 horas a Angola, mostrou interesse em participar com as suas empresas nas áreas determinantes da economia. “Desejamos promover visitas de empresas italianas a Angola para avaliar a participação em sectores-chave da economia angolana, em particular nas infra-estruturas, na construção de casas sociais e no sector agrícola, onde Itália está disponível para financiar projectos a decidir em conjunto”, adiantou Franco Frattini, ministro dos Negócios Estrangeiros italiano.

ÁFRICA CENTRAL NO COPAX Os peritos de diversos países integrantes do Conselho de Paz e Segurança de África Central (COPAX) reuniram-se pela terceira vez para abordar as problemáticas da região. O encontro decorreu na sede do ministério congolês dos Negócios Estrangeiros e da Francofonia e contou com a presença dos peritos de Angola, Camarões, Congo, Gabão, Guiné-Equatorial, RD Congo, República Centro- Africana, S. Tomé e Príncipe e Tchade. Os participantes apreciaram as recomendações relacionadas com a segurança do Golfo da Guiné e mostraram-se a favor de uma sinergia entre a Comissão do Golfo da Guiné e a Comunidade Económica de Desenvolvimento dos Estados da África Ocidental (CEDEAO). Entre outras questões, abordou-se a implementação de um programa de luta contra a circulação de armas ligeiras e de pequeno porte e a revisão do protocolo da COPAX, de forma a acompanhar a melhorar a estrutura de paz e segurança da União Africana.

TAAG QUER VOLTAR À EUROPA A transportadora aérea angolana encontra-se a realizar “os trabalhos de casa” para voltar a voar no espaço aéreo europeu. A notícia foi confirmada em Abril, altura em que foram divulgadas as transportadoras que constam na lista “negra” e na qual se inclui a companhia nacional. Contudo, apesar do mau ranking, a Comissão Europeia realça os “progressos significativos” alcançados pela TAAG, situação corroborada pela porta-voz do Instituto Nacional de Aviação Civil (INAVIC), Síria de Castro, que explicou que as actividades decorrem de forma reforçada, contando com o apoio de consultores internacionais (na maioria europeus e norte-americanos). As áreas da segurança operacional, da navegabilidade aérea e da legislação já sofreram melhorias.

FÓRUM MUNDIAL DE ÁGUAS A quinta edição do Fórum Mundial de Águas abordou o tema “Águas Partilhadas, Oportunidades Partilhadas” e decorreu em Istambul (Turquia), onde os participantes trocaram ideias e traçaram estratégias para a problemática da água, enquanto recurso fundamental e escasso. O secretário de Estado das Águas, Luís Filipe participou nas reuniões e avançou à imprensa que durante o fórum foram analisados vários processos, em que intervêm os diferentes responsáveis pelo sector das águas, representantes do Governo, chefes de Estado, ministros e representantes da sociedade civil e associações ambientais. O encontro destinou-se à partilha de experiências e elaboração de estratégias comuns acerca da distribuição equitativa (em quantidade e qualidade) por todos os continentes.

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INSIDE

| patrícia alves tavares

LEGISLAÇÃO SOBRE VISTOS EM DISCUSSÃO Há uma necessidade de alterar as leis sobre a atribuição de vistos. Quem o refere é a cônsul-geral de Angola em Lisboa, Cecília Baptista. A responsável afirma ser urgente mudar a legislação no seu país, no sentido de instituir os vistos de entrada múltipla. “Enquanto a lei não for alterada, o Consulado não pode adiantar-se e emitir vistos múltiplos. Gostaríamos que assim fosse já”, revelou, salientando que tem abordado esta questão na correspondência que mantém com a tutela em Luanda, apelando ainda à necessidade de mudar a Lei de Imigração. Também o presidente José Eduardo dos Santos concorda com esta alteração, que facilitará o trabalho dos consulados e de quem viaja.

ORÇAMENTO PREVÊ RESPOSTA À CRISE

CRISE AFECTA SECTOR DE DIAMANTES

Entre Maio e Junho, será submetido à Assembleia Nacional o Orçamento Geral de Estado (OGE) revisto para o ano em curso, para fazer face à crise financeira internacional. O Governo vai fazer inicialmente um balanço da sua actividade geral relativa ao ano de 2008, depois do qual fará a apresentação e discussão do orçamento revisto para 2009, já tendo em conta os pressupostos novos que se terá em consideração para a nossa economia”, sublinhou o ministro da Economia, Manuel Júnior. Embora esteja previsto um “abrandamento” da economia angolana, o governante salientou que o país irá continuar a crescer. Neste contexto, será possível dar continuidade às políticas de combate à pobreza, reabilitação das infra-estruturas e fomento da actividade empresarial.

O Primeiro-Ministro angolano, António Kassoma revelou que o mercado dos diamantes é a área que mais se recente dos efeitos da crise financeira e económica internacional. O preço de comercialização sofreu uma quebra de mais de 40%. Entretanto, o Governo anunciou que está a intervir na compra das produções de diamantes de pequenas dimensões, enquanto os preços estiverem em baixa, com o intuito de permitir a continuidade destas empresas. António Kassoma salientou ainda a necessidade de diversificar a economia, através da introdução da vertente agro-industrial, para que esta continue com os mesmos índices de crescimento e de empregabilidade. Com esta medida, a par da implementação dos projectos do sector social, espera-se assegurar a estabilidade macro-económica.

UNITEL ALARGA ROAMING AO MÓNACO E A TAIWAN DIREITOS HUMANOS MERECEM ATENÇÃO O presidente José Eduardo dos Santos exprimiu ao Papa Bento XVI, aquando a sua visita oficial a Angola, que vai continuar empenhado em construir uma sociedade baseada “no respeito pelos direitos humanos, na democracia e na justiça social”. O chefe de Estado agradeceu ao Chefe do Vaticano as palavras de “apreço, de alento, de esperança e de encorajamento”. O governante realçou que foi “emocionante” assistir a todas as manifestações de “fé, de devoção e de calor humano”, expressas pela população.

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A companhia angolana de telecomunicações – Unitel - acaba de alargar o serviço de roaming ao Mónaco e a Taiwan, elevando para 118 o número de países abrangidos pelo serviço de chamadas no estrangeiro. Os acordos agora alcançados permitem que os clientes da empresa efectuem e recebam chamadas nestes países como se estivessem em Angola. Paralelamente, os utilizadores do Mónaco ou de Taiwan passam a usufruir de roaming em Angola. Este serviço tem cobertura nos cinco continentes, abrangendo as principais cidades do Mundo, com base em acordos efectuados com 220 operadoras.


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MUNDO

| patrícia alves tavares

onu

Washington apoia direitos dos homossexuais

eua

Governador proíbe a pena de morte O estado norte-americano Novo México é, a partir de Março, a décima região a não aplicar a pena capital e a segunda a proibi-la, desde que foi reinstaurada nos Estados Unidos pelo Supremo Tribunal, em 1976. O governador da província, Bill Richardson assinou a lei que anula a pena de morte no seu estado. Defensor da pena capital, o democrata revelou que “foi a decisão mais difícil da minha [sua] carreira política”. “Independentemente da minha opinião pessoal sobre a pena de morte, não tenho actualmente confiança no sistema de justiça criminal para deixar que seja o árbitro final quando se trata de decidir quem vive e morre pelos seus crimes”, acrescentou, defendendo que o sistema “não pode equivocar-se nunca”. Recorde-se que nos últimos anos mais de 130 detidos no corredor da morte foram exonerados. A pena capital será substituída por prisão perpétua, sem direito a liberdade condicional.

Está para breve a divulgação do apoio do Executivo americano à declaração das Nações Unidas sobre os direitos dos homossexuais. A administração de Obama vai comunicar aos franceses a sua decisão. O documento foi apresentado pela França, em Dezembro de 2008, aquando o sexagésimo aniversário da Declaração Universal dos Direitos do Homem. O diploma reafirma “o princípio da não discriminação que exige que os direitos do Homem se apliquem da mesma maneira a todo o ser Humano, independentemente da sua orientação sexual ou da identidade do género” e apela à despenalização mundial da homossexualidade. A petição, que não tem o carácter vinculativo de uma resolução, foi defendida por todos os países da União Europeia. Ao contrário da administração de Bush (que se mostrou contra o processo), Obama vai apoiar o documento.

união europeia rússia

Proibida caça às focas bebés O Ministro das Reservas Naturais russo, Yuri Trutnev, proibiu a caça de focas bebés no seu país. A decisão foi tomada em Março. O Executivo classificou a prática de “massacre”, defendendo que este é um passo essencial para a preservação e “protecção da biodiversidade na Federação Russa”. A medida era há muito esperada, desde a altura em que o primeiro-ministro Vladimir Putin considerou a actividade como sendo sangrenta e assegurou que iria tomar medidas para manter os postos de trabalho de quem vive desta indústria. A pele das focas é procurada para o fabrico de casacos e a carne é usada na alimentação dos habitantes da costa do Oceano Árctico. Os protestos dos russos faziam-se sentir desde o início do ano. O Canadá, Noruega e Gronelândia continuam a permitir o abate da espécie.

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Durão Barroso anuncia candidatura O actual presidente da União Europeia foi confirmado como o candidato oficial do PPE (Federação Europeia dos Partidos Conservadores/ Democratas Cristãos) para liderar a comunidade por mais cinco anos. A decisão foi unânime entre os chefes dos governos que integram o PPE (França, Alemanha, Itália, Bélgica, Holanda, Luxemburgo, Polónia, Malta e Roménia) e comunicada após o final do habitual encontro que antecede as cimeiras de líderes da UE. Caso o partido alcance a vitória nas eleições de Junho, Durão Barroso dará início ao seu segundo mandato a 1 de Novembro.


antárctida

brasil

Dióxido de carbono

Homicídios diminuem

Investigadores norte-americanos sugerem que o aumento da concentração de dióxido de carbono (CO2) na atmosfera, no final da última era glaciar contribuiu para o aquecimento que o planeta viveu nesse altura. De acordo com os cientistas, nos últimos 40 anos, ocorreram no Oceano Antárctico alterações semelhantes às que se passaram na última era, pelo que o resultado pode consistir na libertação de mais CO2 na atmosfera. Este é um novo factor a ser considerado enquanto causa do aquecimento global.

Apesar do aumento em 22,4% dos homicídios associados a roubo, o número total de assassinatos sofreu uma redução, no Rio de Janeiro. Segundo o Instituto de Segurança Pública (ISP), houve uma diminuição de 6,8%, em 2008, comparando com igual período em 2007. Ao nível da saúde, o número de casos de suspeitas de dengue desceu ao nível dos 91%.

paris

Retratos de Andy Warhol em exposição A mais completa exposição de retratos do rei da pop art está em exibição até 13 de Julho, no Grand Palais, em Paris. A mostra das obras do guru americano conta com 146 peças, uma vez que o coleccionador Pierre Bergé mandou retirar os quatro quadros do seu excompanheiro, o falecido designer de moda Yves Saint Laurent. Bergé considerou que os retratos não faziam jus à figura do grande costureiro, alegando que este é mais que um ícone do glamour e da moda. O Grande Mundo de Andy Warhol está distribuído por dez salas temáticas (Glamour, Screen Tests, Mão, Dollars, Ícones e Auto-retratos) e faz uma retrospectiva dos seus trabalhos, a partir do momento em que, em 1962, o artista transformou o rosto de Marilyn Monroe numa fórmula que revolucionou a estética do retrato e se tornou num ícone em todo o mundo.

espanha

Militares retiram do Kosovo A ministra da Defesa espanhola, Carme Chacón anunciou que as tropas enviadas para o Kosovo serão retiradas até ao final do Verão. A notícia foi divulgada durante a visita ao contingente espanhol da força multinacional da OTAN. Recorde-se que Madrid não reconheceu a independência deste território.

índia

Nano é o carro mais barato do mundo O grupo indiano Tata lançou o automóvel mais barato do mundo. O veículo, apresentado em Março, destina-se às classes médias emergentes e vai custar cerca de 1460 euros. Na Europa, deverá ser lançado em 2010/11, pelo preço de 5.000 euros, devido à necessidade de introdução de equipamentos impostos pelas normas de segurança.

MUNDO · ANGOLA’IN

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MUNDO

| patrícia alves tavares

fraude

tecnologia

Novidades no caso Madoff

Internet comemora uma década

O gestor norte-americano acusado de fraude de 64,8 mil milhões de dólares, Bernard Madoff tem assistido à liquidação dos seus bens. Até ao presente foram recuperados mais de mil milhões de dólares. De acordo com o advogado do responsável pela liquidação, foram localizados 75 milhões de dólares numa conta bancária em Gibraltar, pelo que contribuiu para aumentar o valor recuperado. Recentemente, foi requerida uma procuração para se adquirir poder sobre as operações internacionais de Madoff. O exgestor está em prisão efectiva, após ter-se declarado culpado de todas as acusações que lhe foram imputadas.

Foi em 1989 que a ferramenta informática deixou de ser um instrumento exclusivo dos militares e de algumas instituições e deu os primeiros passos enquanto meio de troca de informações. Actualmente, a Internet faz parte do mundo e da vida da maioria das pessoas, sobretudo dos jovens. Instrumento de trabalho ou lazer, esta ferramenta de baixo custo é o formato preferido pela população para estabelecer contactos e trocar dados.

ocde

Previsões pouco animadoras A OCDE, à semelhança do Banco Mundial e do Fundo Monetário Internacional, prevê uma contracção económica mundial para 2009. “É muito provável que a economia mundial caia”, afirmou Angel Gurria, director da organização. Contudo, a China deverá ser a única a crescer entre seis e sete por cento. O sector económico deverá contrair-se entre 0,5 e 1 por cento a nível mundial, com particular destaque para os Estados Unidos (2,6 %) e Japão (5,8%), onde há “risco elevado de deflação”. Na Zona Euro a queda pode rondar os 3,2%.

bernanke

Fed opõe-se a “spreads” mais altos O presidente da Reserva Federal, Ben Bernanke revelou que o organismo está empenhado em contrariar a tendência da banca para alargar “os spreads do crédito”, que são considerados entraves aos esforços desenvolvidos no âmbito da entrada de capital na economia, depois da Fed reduzir a principal taxa de juro para perto de zero. A entidade anunciou que decidiu comprar 1,15 biliões de dólares da dívida pública e privada, com o intuito de “melhorar as condições nos mercados de crédito privado”. O responsável referiu ainda que o banco central norte-americano está a tentar responder à crise financeira das últimas sete décadas, através da revitalização da economia. Para tal, já se comprometeram a comprar 300 mil milhões de dólares de títulos de dívida estruturados associados a hipotecas e através do aumento das seus compras de todo o tipo de dívida privada em 100 mil milhões de dólares.

união europeia

Linha de crédito de emergência Cinquenta milhões de euros será o valor estimado para a linha de crédito, que se destina a ajudar os Estados-membros com maiores dificuldades financeiras. A UE prevê assim duplicar o valor desta linha, bem como aumentar as contribuições para o Fundo Monetário Internacional.

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MUNDO · ANGOLA’IN

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IN FOCO

| manuela bártolo

Negociar a vida

namento jurídico de cada país acomode áreas O tráfico de seres humanos é, na actualidade, República Centro-Africana e Chade. Países em de carácter político, legislativo e administrativo uma realidade com um impacto económico que o poder central não desempenha as suque promovam uma efectiva abordagem mulcomparável com o tráfico de armas e de droas funções provocando um vazio que conduz tifacetada das suas diversas dimensões, com ga. Uma criminalidade que gera por ano cerca à debilidade das instituições nacionais, afecuma cooperação multidisciplinar entre os dide 10 mil milhões de dólares e abrange uma ta a autoridade dos organismos de soberaversos agentes envolvidos. diversidade de problemas e realidades como nia e contribui para que os serviços públicos a migração, o crime organizado, a exnão funcionem e as infra-estrutuploração sexual e laboral, as assimeras básicas não se desenvolvam ou Uma das rotas preferidas pelos trias endémicas entre os países mais continuem arruinadas. Muitos dos traficantes é o Zaire, assim como duas desenvolvidos e os mais carenciados, governos africanos garantem defioutras províncias de Angola questões de género e direitos hucientemente a segurança aos cidaCabinda e Uíge manos. Apesar de ser um fenómedãos, uma vez que as forças armadas no abrangente, existem grupos que e as polícias se encontram frequenÁFRICA NA ROTA DO TRÁFICO apresentam uma maior vulnerabilidade a tortemente sobredimensionadas, mal equipadas A expansão da criminalidade africana, fundanarem-se vítimas de tráfico, como é o caso das e sem recursos. Factores de instabilidade que da em tráficos ilegais, tem vindo a assumir mulheres, em virtude de uma crescente femifogem ao controlo político e que dá espaço a expressão global. As máfias do continente nização da pobreza que propiciam situações de que milícias e grupos armados tomem de ascomeçam a criar, cada vez mais, organizações exploração sexual e laboral, e as crianças. Até salto várias regiões de numerosos países afrilogísticas complexas para o comércio ilícito de há pouco tempo, os Estados adoptavam mecanos. Quando existem conflitos é natural seres humanos, armas, drogas e recursos nadidas essencialmente de carácter repressivo e que a autoridade exercida sobre os territórios turais. Grupos que procuram transformar as desenvolviam políticas de imigração, quando se torne ainda mais difícil de exercer, o que dá fraquezas dos Estados nas suas próprias forse abordavam estas questões. No entanto, a origem ao crescimento de actividades ilegais, ças, vivendo clandestinamente perante a inéradopção de políticas meramente punitivas em desde a extorsão de dinheiro às populações cia dos governos. Neste âmbito, África, uma relação a esta problemática tem sido substituem troca de segurança, aos entraves à circudas regiões do globo mais instáveis e pobres, ída por uma abordagem integrada numa perslaão e trocas comerciais. Dentro deste cenário, reúne um conjunto de Estados na sua maiopectiva de disseminar os direitos humanos. É é relativamente fácil assegurar que determiria frágeis ou até mesmo próximos da falência importante existir uma harmonização entre a nados passageiros e bagagens não sejam reinstitucional. O Relatório de Desenvolvimento vertente repressiva do combate e a prevenção vistadas ou garantir a aterragem de aviões e Humano 2007/2008 do UNDP, programa das e inclusão das vítimas. Razão pela qual, têm a atracagem de navios para cargas e descarNações Unidas, classifica como países mais sido implementados novos instrumentos ao gas de pessoas e mercadorias com o objectivo pobres do mundo a Serra Leoa, Burquina-Fanível do desenvolvimento de políticas e estrade manter regular o fluxo de tráficos ilegais. so, Guiné-Bissau, Níger, Mali, Moçambique, tégias entre os Estados, de forma a que o ordeActualmente, os grupos armadas dedicam-se

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Em 34% dos países africanos, o tráfico tem como destino a Europa e em 26% o Médio Oriente e países árabes. O tráfico no interior das fronteiras nacionais é um fenómeno muito comum - em cada 10 países africanos há 8 onde é praticado

ao contrabando de recursos naturais, armas, drogas e pessoas, em rotas definidas e facilitadas pelos fracos controlos fronteiriços. Com as actividades terrestres e marítimas a serem deficientemente fiscalizadas, as transacções ilegais estão a tornar-se uma crescente ameça à estabilidade regional e internacional. As estruturas de soberania de numerosos Estados africanos estão a tornar-se desta forma vulneráveis à expansão do trágico protagonizado por grupos internacionais de criminalidade organizada. «É uma ameaça que precisa de ser enfrentada rapidamente para conter o crime organizado, a lavagem de dinheiro e a corrupção, e para prevenir o alastramento do uso de drogas no continente africano. Isso pode gerar turbulências sociais em países que já enfrentam tantas outras tragédias», alerta o italiano Antonio Costa, director do UNODC, escritório das Nações Unidas contra drogas e crimes.

CANDONGA HUMANA O tráfico de seres humanos é o mais recente «business» das redes criminosas que actuam na África Ocidental. As rotas do tráfico de pessoas envolvem o Benim, Costa do Marfim, Gabão, Gana, Mali, Nigéria, Togo, Camarões, Burquina-Faso, Guiné e Níger. São os grupos criminosos nigerianos que administram o tráfico de seres humanos. Esta máfia é capaz de actuar não somente na África Ocidental, mas também na África do Sul e na Europa, onde criaram uma organização logística complexa. Os traficantes ganham em média entre 10 a 20 mil dólares por criança e 12 a 50 mil dólares por cada mulher vítima do tráfico. As mulheres podem ir para o mercado da prostituição na Europa e as crianças serem enviadas para plantações locais. A OIT, agência das Nações Unidas para o Trabalho, estima que, a cada ano, 250 mil crianças são vítimas do tráfico no âmbito da África Ocidental. Segundo o Parlamento Europeu, até o futebol está a ser usado como mecanismo para o tráfico de seres humanos para a União Europeia e tem como vítimas jovens pobres de África, atraídos por promessas de contratos milionários. A denúncia é baseada em informações da associação Culture Foot Solidaire. «Esses falsos agentes oferecem-se para providenciar transporte e contratos na Europa a adolescentes que crêem que poderão ter bons resultados no futebol europeu e serem vendidos a algum clube por uma boa soma de dinheiro», explica Jean-Claude Mb-

voumin, representante da associação. «Muitas equipas europeias admitem receber frequentemente ofertas de traficantes que tentam vender, como se fossem mercadorias, adolescentes de 13, 14 anos.» Para burlar as regras da FIFA - Federação Internacional de Futebol - os agentes mentem sobre a idade do jogador nos documentos oficiais. Metade dos países africanos encara o tráfico de seres humanos como um problema grave, especialmente no que diz respeito às mulheres e às crianças, revela um relatório do Innocenti Research Centre, centro de investigação da UNICEF. Não existem estimativas fiáveis sobre o verdadeiro número de vítimas do tráfico, mas o número de países que reportam tráfico de crianças é o dobro dos que reportam tráfico de mulheres. «Para pôr fim a este negócio escandaloso, precisamos de dirigentes corajosos que criminalizem o tráfico de crianças em todas as suas formas», alerta Carol Bellamy, directora executiva da UNICEF. Em 34 por cento dos países africanos, o tráfico tem como destino a Europa e em 26 por cento o Médio Oriente e países árabes. As causas do tráfico são muito variadas e diferem de país para país, com o tráfico a ocorrer quando o ambiente que protege a criança entra em colapso devido a factores como conflitos, dificuldades económicas ou práticas discriminatórias. Algumas atitudes e práticas tradicionais como o casamento precoce e a falta de registo de nascimento aumentam ainda mais a vulnerabilidade das crianças e das mulheres. A pobreza pode criar uma situação de desespero para muitas mulheres e crianças, tornando-as alvos fáceis para a manipulação. Outros factores importantes são a exploração sexual e económica, nomeadamente a procura por mão-de-obra barata para trabalho doméstico e agrícola. A procura de crianças-soldados no quadro de conflitos, para a adopção ilegal e o tráfico de órgãos têm também algum peso e devem ser objecto de mais investigação, afirma o estudo da UNICEF.

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IN FOCO das comunidades, que as forças da ordem não sejam corruptas e existam sistemas de controlo eficazes para identificar as comunidades em risco. Uma série de iniciativas regionais, de acordos de cooperação entre países e políticas nacionais contra o tráfico são exemplo de esforços em curso para reforçar a luta contra o tráfico em África.

Urgente é fazer com que os países que servem de rota ao tráfico de seres humanos na África Central concertem posições, de forma a accionarem os meios mais convenientes para travar este crime organizado

CRIANÇAS DESPROTEGIDAS Metade dos países africanos encaram o tráfico de seres humanos como um problema grave, especialmente no que diz respeito às mulheres e às crianças. Não existem estimativas fiáveis sobre o verdadeiro número de vítimas do tráfico, mas o número de países que reportam tráfico de crianças é o dobro dos que reportam tráfico de mulheres. Segundo a UNICEF “o tráfico é uma das piores formas de violação de direitos da criança praticada à face da terra”. Razão pela qual, “para pôr fim a este negócio escandaloso são necessários dirigentes corajosos que criminalizem o tráfico de crianças em todas as suas formas. A ausência de medidas nesse sentido é também uma forma de maltratar as crianças”, alerta um dos últimos relatórios da organização. O documento que estuda informações recolhidas em 53 países africanos e analisa os padrões, as causas mais profundas do tráfico, bem como as práticas e as medidas eficazes tomadas a nível nacional e regional. Não foi possível reunir dados de cinco países. O tráfico não se confina ao espaço do continente africano. Em 34% dos países africanos, o tráfico tem como destino a Europa e em 26% o Médio Oriente e países árabes. O tráfico no interior das fronteiras nacionais é um fenómeno muito comum – em cada 10 países africanos há 8 onde é praticado. As causas mais profundas do tráfico são muito variadas e diferem frequentemente de país para país. Foi possível observar os seguintes fenómenos: o tráfico ocorre quando o ambiente que protege a criança entra em colapso devido a

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factores como conflitos, dificuldades económicas ou práticas discriminatórias. Algumas atitudes e práticas tradicionais, o casamento precoce e a falta de um registo de nascimento aumentam ainda mais a vulnerabilidade das crianças e das mulheres. A falta do registo de nascimento - logo, a impossibilidade de provar uma identidade nacional – torna a identificação das vítimas extremamente difícil. A pobreza pode criar uma situação de desespero para muitas mulheres e crianças, tornando-as alvos fáceis para a manipulação. Outros factores importantes são a exploração sexual e económica, nomeadamente a procura por mão-de-obra barata para trabalho doméstico e agrícola. A procura por crianças-soldado no quadro de conflitos; a procura relacionada com a adopção e o tráfico de órgãos têm também algum peso e devem ser objecto de mais investigação, afirma este estudo da UNICEF. A abordagem da organização ao problema do tráfico infantil baseia-se em análises aprofundadas sobre o contexto em que ocorre. As actividades podem variar de país para pais ou entre regiões. “As crianças só ficarão a salvo do tráfico quando viverem num ambiente que as proteja desta inadmissível violação dos seus direitos”, explicam. Um ambiente protector inclui os seguintes elementos: escolarização, leis inequívocas que penalizem seriamente os autores da exploração infantil, governos verdadeiramente empenhados na luta contra o tráfico, comunidades cientes dos perigos que as crianças enfrentam. E supõe-se ainda que os media participem nos esforços de sensibilização

ANGOLA NA MIRA Este problema tem também vindo a afectar, cada vez mais, angolanos. As autoridades começam a suspeitar e, por isso, estão já a investigar a existência de uma rede transfronteiriça entre o país e as repúblicas Democrática do Congo e do Congo-Brazzaville. Têm sido publicadas várias denúncias divulgadas por entidades governamentais angolanas, igrejas e ONG’s, como resultado de investigações que conduziram à descoberta de casos relacionados com o fenómeno. Os traficantes de seres humanos têm tido como alvos principais famílias em estado de pobreza extrema, com necessidades de vária ordem, encontrando no seio delas facilidades para as suas actividades criminosas. Uma das rotas preferidas pelos traficantes é o Zaire, assim como duas outras províncias de Angola – Cabinda e Uíge. A situação começa a ficar de tal modo alarmante, que as autoridades querem encontrar soluções rápidas para que o problema não atinja proporções maiores. Uma das medidas mais urgentes é fazer com que os países que servem de rota ao tráfico de seres humanos na África Central concertem posições, com o objectivo de accionarem os meios mais convenientes para travar este crime organizado. A par destas medidas, é igualmente importante que o legislador angolano comece a considerar a possibilidade de se aprovar legislação que estabeleça duras penalidades para aqueles que traficam pessoas. Passos de gigante para as autoridades do país, que começam a ter em sua posse dados que atestam a existência no país do fenómeno do tráfico. Em colaboração com outros Estados, Angola procura actualmente neutralizar as redes transfronteiriças, procurando travar um dos graves problemas no mundo. Uma situação complexa, cuja dimensão tem justificado a colaboração estreita entre países, até porque o tráfico é transversal, atinge várias nações. A comunidade internacional já admitiu que não se trata apenas de um problema que se esgota dentro de fronteiras de um determinado território, mas que se projecta para diversos Estados de um mesmo continente ou de outros continentes. A sua gravidade tem conduzido muitos países a produzirem


legislação que penaliza severamente os que estejam envolvidos na prática de utilização de pessoas para exploração sexual e trabalho forçado, depois de terem sido retiradas ilegalmente dos seus países de origem para serem levadas para outros Estados. No caso angolano, as autoridades não possuem ainda dados estatísticos que permitam com exactidão ter a percepção das mulheres e crianças envolvidas, apesar de existirem informações que comprovam o tráfico tridimensional de seres humanos. A invasão silenciosa do país por elementos de diversas origens, processada a partir da RDC e do Congo Brazzaville, utiliza como principais rotas as províncias angolanas do Zaire, Cabinda e Uíge. O Governo tem tomado medidas serveras para pôr fim a esta situação que fere a dignidade humana e conduz a tribunal todos os que insistem nesta prática. CEDEAO ADOPTA POLÍTICA COMUM Os ministros encarregues das questões relativas ao tráfico de seres humanos no espaço da Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO) adoptaram recentemente uma política destinada a dotar

a região de um instrumento jurídico comum para a protecção e assistência às vítimas desta prática. O novo instrumento jurídico, um documento de 28 páginas, visa instaurar e manter um ambiente agradável e favorável que ofereça às vítimas acesso equitativo às infraestruturas que facilitarão a sua integração e permitir-lhes-ão tornar-se membros activos da sua sociedade. A política engaja os Estados membros a facilitar o restabelecimento das vítimas do tráfico de homens e das piores formas de trabalho das crianças no seu máximo de utilidade nos domínios físico, psicológico, social, profissional, e um bem-estar económico através dum programa de assistência duradouro, sublinha o comunicado entregue à PANA. De acordo com a nota, trata-se de um instrumento global para a protecção das pessoas vítimas do tráfico ao dar-lhes uma assistência que lhes fornecerá mecanismos apropriados para a sua integração nas suas diferentes comunidades. Os 12 principais domínios de intervenção seleccionados pela política são relativos às estratégias de acolhimento, à identificação, ao alojamento, à saúde, à assistência, à busca de parentes, ao regresso, ao repatriamento,

TÉCNICAS DE RECRUTAMENTO O recrutamento é o primeiro elo na cadeia do tráfico humano. Trata-se de enganar ou simplesmente forçar o indivíduo, levando-o para o mundo da escravatura do século XXI. Os recrutadores fazem o primeiro contacto com a vítima. Usam promessas falsas e conquistam a confiança das vítimas. Aparentemente são pessoas normais e de confiança. Podem ser mulheres, antigas vítimas de tráfico humano; empregados de falsas agências de emprego/ estudo/ viagens/ modelos; vizinhos; amigos, namorados e familiares; colegas da escola. É tudo uma questão de dinheiro. Por isso, até a pessoa que menos esperamos pode recrutar vítimas. Os recrutadores são criativos quando se trata de mentir às suas vítimas. Prometem mundos e fundos, um emprego melhor ou boas oportunidades de estudo no estrangeiro ou mesmo no próprio país. Podem oferecer ajuda financeira ou documentos para viajar. Por vezes, colocam anúncios de agências ou empresas falsas a oferecer oportunidades únicas. Até já chegaram ao ponto de abrir “stands” em feiras universitárias. Podem conhecer as mulheres num bar ou café e dizer-lhes que sabem de várias oportunidades de ganhar dinheiro no estrangeiro. Os métodos usados incluem conhecimentos privados (relacionamentos, amizades, novos amigos); anúncios nos jornais de agências falsas; anúncios na Internet. Os traficantes utilizam vários engodos para persuadir as vítimas, sejam trabalho, estudo ou viagens. Alguns exemplos das oportunidades oferecidas: trabalho doméstico; emprego na indústria hoteleira; trabalho como “au pair”; manequim; área de entretenimento; trabalho na construção civil, fábricas e na agricultura; cursos; casamento; turismo; trabalho na indústria do sexo. Contrariamente ao que se possa pensar, as mulheres que pretendem trabalhar na indústria do sexo podem ser traficadas. Embora concordem em fazer sexo por dinheiro, elas não concordam em ser mantidas como escravas, a receber pouco ou nenhum dinheiro

à integração, à responsabilização, ao acompanhamento, à manutenção e à anulação dos contratos das vítimas. Nesta política figuram igualmente medidas preventivas, os direitos e as responsabilidades das vítimas e o papel dos diferentes actores, dos quais o Governo, a sociedade civil, o sector privado estruturado, os outros países, os doadores de fundos, as comunidades locais, a imprensa e os particulares. A Política Regional de Protecção e Assistência às Vítimas do Tráfico dos Seres Humanos na África Ocidental é a resposta dos Estados da sub-região face aos desafios levantados por este flagelo. Em 2001, a sub-região adoptou um plano de acção para combater o tráfico de seres humanos, acompanhado em 2006 da adopção de um plano de acção conjunto com a Comunidade Económica dos Estados da África Central (CEEAC) com a preocupação de unir os seus esforços na luta contra este tráfico nas duas regiões. No mesmo ano, um acordo de cooperação multilateral na luta contra o tráfico dos seres humanos, sobretudo das mulheres e das crianças na África Ocidental e Central, foi assinado e uma unidade de luta contra o tráfico foi criada pela Comissão da CEDEAO.


ECONOMIA & NEGÓCIOS

| manuela bártolo

planeta ásia

Os asiáticos olham para os europeus como pontes para os mercados e daí a procura de alianças, de fusões e de aquisições

TSUNAMI ASIÁTICO O mundo actual está a passar por uma importante etapa de transição. A frase é repetida diariamente, sem que com isso se perceba, muitas vezes, o que está prestes a mudar. No entanto, urge saber que a próxima fase provavelmente deslocará o centro da economia mundial do oceano Atlântico para a Ásia. Ela mudará a composição da produção e do comércio mundial, a maneira pela qual o mundo utiliza os recursos e a constituição das populações da Europa e dos EUA. É quase certo que criará graves tensões com as economias que hoje lideram o mundo, à medida que estas forem sendo desafiadas na sua predominância económica global. Hoje os EUA e a Europa representam cerca de dois quintos da produção económica global, que soma USD 40 triliões. Até 2025, o número global total poderá aumentar 2 ½ vezes, indo a USD 100 triliões. A China e a Índia deverão representar perto de dois quintos desse número. A China, com um PIB de USD 25 triliões em 2025, medido em termos da paridade do seu poder aquisitivo, provavelmente será a maior economia do mundo, seguida pelos EUA com USD 20 triliões e a Índia, em terceiro, com aproximadamente USD 13 triliões. Essas projeções estão baseadas nas taxas de crescimento de longo prazo; não está além da capacidade da China crescer a uma taxa de 6% ao ano durante os próximos 25 anos (ela tem crescido a uma taxa

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maior nos últimos anos). Depois de apresentar uma taxa de crescimento anémica de 3,5 % ao ano por mais de três décadas após a independência, a Índia ainda precisa fazer muito para conseguir se emparelhar. Serviços de saúde e sectores como as novas tecnologia da informação contribuirão em pelo menos um ponto percentual para elevar a taxa de crescimento da Índia. Contudo, tendo populações acima de um bilião de pessoas cada, esses dois países criarão

Taipei World Trade Center - Taiwan/China

turbulências à medida que as suas economias forem acelerando. As economias dos tigres do Leste asiático avançaram de forma rápida, mas imperceptível. As economias-elefante da Ásia, em contraste, causarão comoção global assim que começarem a disparar. A sua dimensão é que as colocará à frente das outras economias. E os seus tamanhos é que exercerão um efeito palpável sobre a economia global. Uma taxa de crescimento de 6% ao ano sustentada durante


Hong Kong - China

É erróneo o olhar ocidental que se limita ao “offshoring” de serviços de baixo valor… Hoje, a Ásia é um local de testes em diversas areas, sobretudo em Investigação & Desenvolvimento… A fórmula do sucesso consiste no custo baixo do talento asiático para serviços de alto valor acrescentado 25 anos elevará o crescimento global de menos de 3% ao ano, durante os últimos 25 anos, para mais de 3,5% nos próximos 25. A maioria desse aumento virá da indústria; por muito tempo, a composição da produção mundial esteve em mudança, à medida que as economias dos EUA, Europa e Japão avançavam na direcção do sector de serviços e se afastavam da agricultura e da produção industrial como principais componentes do PIB. A produção mundial estava-se a tornar mais leve, consumindo menos insumos materiais. Isso mudará assim que a China e a Índia assumirem a liderança. Pela primeira vez na história, duas das três maiores economias também estarão entre os países mais pobres em termos da incidência de pobreza absoluta. China e Índia terão uma população conjunta de cerca de 3 biliões de pessoas até 2025, 500 milhões das quais ainda viverão abaixo da linha de pobreza. Elas necessitarão de imensas quantidades de comida e de outros itens essenciais. Para atender às suas necessidades, ambos deverão continuar a enfatizar a indústria e a agricultura. Assim, a produção mundial começará a ficar mais pesada. As consequências para o aquecimento global podem ser devastadoras. É por isso que a comunidade internacional deve assegurar que a China e a Índia utilizarão os recursos responsavelmente. Também ocorrerão grandes mudanças demográficas. Com as suas economias em crescimento acelerado, China e Índia irão dispor de recursos para investir na educação e ensino de milhões de cidadãos. Assim, terão um suprimento suficientemente grande de pessoas com as qualificações exigidas pelos sectores baseados em conhecimento dos EUA e Europa. Enquanto isso, o Japão e a Europa começarão a sentir um decréscimo das suas populações. Isso criará uma demanda generalizada por trabalhadores especializados vindos do exterior, que China e Índia terão condições de fornecer em abundância. O que estamos prestes a testemunhar, portanto, não é simplesmente mais um período de emparelhamento. Assim que as economias-elefante começarem a avançar rapidamente, redefinirão a economia mundial que conhecemos.

curiosidade A Ásia é o maior continente da Terra, com 8,6% da superfície planetária (ou29,5% das terras emersas). Parte oriental da Eurásia, a Ásia é também o continente mais populoso, com mais de 60% da população mundial. Localizada principalmente nos hemisférios oriental e setentrional, a Ásia costuma ser definida como a porção da Eurafrásia (o conjunto África-Ásia-Europa) que se encontra a Leste do Mar Vermelho, o canal do Suez e montes Urais, e ao Sul do Cáucaso e dos mares Cáspio e Negro. É banhada a Leste pelo Oceano Pacífico (mar da China Meridional, mar da China Oriental, mar Amarelo, mar do Japão, mar de Okhotsk e mar de Bering), a Sul pelo Oceano Índico (golfo de Áden, mar Arábico e golfo de Bengala) e a Norte pelo Oceano Ártico. É composto por 49 países: Afeganistão, Arábia Saudita, Arménia, Azerbeijão, Bahrein, Bangladesh, Brunei, Butão, Camboja, Cazaquistão, República Popular da China, Chipre, Coreia do Norte, Coreia do Sul, Egipto, Emirados Árabes Unidos, Filipinas, Geórgia, Iémen, Índia, Indonésia, Irão, Iraque, Israel, Japão, Jordânia, Kuwait, Laos, Líbano, Malásia, Maldivas, Mianmar, Mongólia, Nepal, Omã, Paquistão, Qatar, Quirguistão, Rússia, Singapura, Síria, Sri Lanka, Tadjiquistão, Tailândia, Timor-Leste, Turquemenistão, Turquia, Uzbesquistão e Vietname

O ASSALTO FINAL Os grupos económicos e as start-ups tecnológicas da Ásia estão numa nova vaga de internacionalização. A palavra de ordem é “go global” e os alvos não são só os países do Terceiro Mundo - mas os mercados da OCDE. China e Índia levam a dianteira. E, paradoxalmente, a face da liderança começa inclusive a mudar para caras ocidentais à frente de marcas asiáticas de referência. Um conjunto vasto de empresas chinesas, estatais e privadas, assumiu a directiva oficial do “go global”. A lógica da exportação chinesa para o contentor já não entusiasma, apesar de ser a imagem de marca que os ocidentais retêm ainda hoje. A globalização tornou-se a palavra de ordem para as empresas chinesas que aspiram passar de campeões nacionais a jogadores globais. E, por isso, é natural que passem a mostrar a sua ambição global. Os ocidentais, por exemplo, dão-se, cada vez mais, conta que não há apenas um sentido - o da deslocalização das empresas europeias e norte-americanas para a Ásia, paraíso do fabrico barato

É na base do “dumping social” que os países em vias de desenvolvimento beneficiam de uma posição favorável, mas indigna, face aos países mais ricos, pois passam por cima de alguns direitos humanos básicos

de mercadorias. Há a direcção inversa: os asiáticos olham para os europeus como pontes para os mercados e daí a procura de alianças, de fusões e de aquisições. Também é erróneo o olhar ocidental que se limita ao “offshoring” de serviços de baixo valor. Hoje, a Ásia é um local de testes em diversas áreas das novas gerações de telecomunicações e uma região importante para a própria Investigação & Desenvolvimento em geral. A combinação ganhadora define-se numa fórmula: custo baixo do talento asiático para serviços de alto valor acrescentado. ECONOMIA & NEGÓCIOS · ANGOLA’IN

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sabia que... A China, com um PIB de USD 25 triliões em 2025, medido em termos da paridade do seu poder aqu isitivo, provavelmente será a maior economia do mundo, seguida pelos EU A com USD 20 triliões e a Índia, em terceiro, com aproximadamente USD 13 triliões.

‘DUMPING SOCIAL’ SELVAGEM Muitos arautos da “consciência social” têm vindo a público expor a indignidade do “dumping social” nos países em vias de desenvolvimento (PVD). Quando um PVD exporta determinado produto com grande competitividade, e quando esta vantagem assenta no aproveitamento de trabalho infantil ou no espezinhamento de garantias fundamentais dos trabalhadores, tal situação enquadra-se no que se convencionou chamar “dumping social”. Estes países fazem tábua rasa de certas garantias do ser humano que são o património genético de qualquer civilização. Só porque passam, muitas vezes, por cima dessas garantias é que estão em condições de beneficiar de uma competitividade acrescida no mercado internacional. Logo, são têm sido frequentemente acusados de fazer concorrência desleal com os países mais avançados, onde aquelas garantias sociais são respeitadas. Os PVD são culpados de resvalar para o “dumping social”, aproveitam-se de uma batota indigna que os favorece no comércio internacional. Para estes infractores de uma ética mundial unidimensional, o problema está na negligência de um catálogo mínimo de direitos que ultrapassa a esfera do trabalhador e repousa na pessoa humana. Acham que é impensável que nos alvores do século XXI certos países se possam aproveitar de trabalho infantil. Consideram indignas as condições de trabalho a que os trabalhadores destes países se expõem. Fazendo parte das conquistas inalienáveis dos trabalhadores, representando um capital inquebrantável dos padrões civilizacionais, tais garantias deviam-se estender a todo o mundo. Seria um sinal inequívoco de civili-

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dade, um sinal bem claro de um mundo mais justo para com o ser humano enquanto agente produtivo. No entanto, até hoje boa parte do mundo tenta perceber se estes arrufos contra o “dumping social” são genuínos ou se as pessoas actualmente se agarram a um putativo dever de consciência para denunciar tais situações, fazendo-o de forma desinteressada. Ou ainda se são motivadas por outros interesses que se escondem neste pretexto. O que é igualmente indigno. No primeiro caso, temos os líricos que acreditam piamente que a justiça social se pode estender num manto uniforme aos quatro cantos do planeta. Independentemente dos diferentes hábitos, das diferentes condições estruturais, sabendo que ambas as realidades se movem contra a possibilidade de se ter nos países asiáticos e africanos a mesma bitola de justiça social que é empregue no mundo ocidental. Num mundo tão diverso, com uma acentuada diferença de costumes sociais, é intrigante como se pode ter a ambição de estender padrões uniformes a to-

do o mundo. Como se a bitola pela qual se rege o ocidente fosse necessariamente aplicada noutras paragens, mesmo quando a idiossincrasia destes locais é suficiente para negar a aplicação desses padrões. É a tendência etnocêntrica que domina o mundo contemporâneo, um dos seus grandes males. Para além desta cegueira, muitos dos defensores da eticidade mundial agarram-se a interesses próprios para erguer o dedo acusador contra o “dumping social”. Porque, afinal, é na base do “dumping social” que os PVD beneficiam de uma posição favorável a expensas dos países mais ricos. Falta saber até que ponto são genuínas as lamúrias de tantos quantos protestam contra o “dumping social”. Será porque manifestam uma honesta preocupação pelo desrespeito de garantias essenciais do ser humano? Ou apenas porque o “dumping social” penaliza a economia nacional? Aqui vem à superfície, muitas vezes, uma inconfessada hipocrisia que atenta contra a ambição de quem patrocina uma consciência social uniforme.

Pela primeira vez na História, duas das três maiores economias também estarão entre os países mais pobres em termos da incidência de pobreza absoluta. China e Índia terão uma população conjunta de cerca de 3 biliões de pessoas até 2025, 500 milhões das quais ainda viverão abaixo da linha de pobreza


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morte do capitalismo? o capitalismo “está aí para ficar” Ram Charan, indiano, guru mundial de Gestão

Analistas mundiais esperam por um reforço da regulação, mas o sistema não está em perigo. As notícias que davam conta da morte do capitalismo na sequência da crise global que tem vindo a alastrar ao planeta como um fogo incontinente têm-se revelado não apenas prematuras, como infundadas. O sistema - que o génio humano criou de improviso ao mesmo tempo que inventava a máquina a vapor - está saudável como um mancebo, a carregar as baterias para o próximo par de décadas e, quando muito, a precisar de uns retoques na regulação. Não é fácil encontrar um economista que saia da órbita deste registo, e mesmo aqueles que de algum modo acordaram o fantasma de Karl Marx da sua campa londrina, tê-lo-ão feito mais por desfastio - ou porque o empirismo da coisa tinha graça - que propriamente por convencimento. O capitalismo “está aí para ficar”, disse recentemente um dos maiores gurus mundiais da gestão, o indiano Ram Charan. “Apesar dos seus excessos”, salientou. Excessos? Talvez antes crises de crescimento, uma vez que tudo isto não é mais do que uma forma do próprio sistema incorporar as novidades que a sua vitalidade vai criando nas bolsas de inovação (aliás, historicamente incontroláveis). Mas, contrapõem os que anunciam a

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morte do capitalismo, os Estados intervieram com radicalismo, nomeadamente nacionalizando empresas - com destaque para o sector financeiro. E então? Desde a sua génese, o capitalismo assentou sempre (e defendeu quando isso estava em causa) em Estados fortes e interventivos. Razão pela qual, vários economistas continuam a defender a ideia de que o Estado deve voltar a ser forte nas funções que lhe competem, designadamente na regulação da economia, na regulação financeira e na educação, entre outros sectores. Alertam por isso para a importância de uma regulação que esteja à altura do desenvolvimento da economia e que o Estado saiba fazer cumprir. Quanto ao restante, tudo na mesma: os paradigmas em que o capitalismo se baseia - a propriedade individual, a livre iniciativa, a democracia e o Estado social - não sofreram qualquer alteração, pelo que o sistema [capitalista] não está em causa, mesmo que o mercado, afinal, não chegue para equilibrar todas as forças que lhe dão vida. O capitalismo, no que tem de matricial (propriedade privada dos meios de produção; relação salarial como relação de trabalho fundamental; regulação pelo mercado; lucro como principal motivação para o investimento), não mudou, afirmam os grandes analistas. No

entanto, encontra uma clara necessidade de reorientação: não se sairá dela [da crise actual] sem modificações. A mais importante residirá sem dúvida na componente regulatória da actividade financeira: obrigações de maior transparência, exigência acrescida de rácios que protejam credores e accionistas minoritários, muito provavelmente, recuo acentuado nos privilégios garantidos por instituições como as ‘off-shores’ ou o segredo bancário, anunciam. Segundo essa linha de raciocíno, o capitalismo não morreu porque não dá sinais de estar em coma nem em regime de respiração assistida. Ao contrário, está em fase de crescimento e de agregação daquilo em que ele próprio, o capitalismo, transformou o mercado. Mas resta ainda uma incógnita: que resposta da sociedade civil à crise global? É o que no futuro se verá.

Os paradigmas em que o capitalismo se baseia - a propriedade individual, a livre iniciativa, a democracia e o Estado social - não sofreram qualquer alteração, pelo que o sistema [capitalista] não está em causa, mesmo que o mercado, afinal, não chegue para equilibrar todas as forças que lhe dão vida


ECONOMIA MULTIPOLAR A crise tem vindo a fazer emergir um mundo multipolar. Senão vejamos: o que é feito do antigo mundo do G8? A centralidade da recente cimeira dos G20 é um facto novo. Traduz uma mudança de fundo não só na economia mundial mas também na cena internacional, a “ascensão do resto”, na expressão do americano Fareed Zakaria. A eclosão da crise financeira foi o acelerador. O G20 foi montado em 1999 após a crise económica asiática. Tratava-se de um fórum mais alargado do que o G7 (depois G8, com a Rússia), mas com um papel acessório. Com a crise financeira, deu um salto de qualidade: o G20 de Washington, em Novembro, já reuniu chefes de Estado e de governo, em vez de ministros das Finanças. No entanto, o vazio de poder nos EUA, no fim do mandato de Bush, reduziu o seu alcance, embora tivesse feito um diagnóstico das origens da crise, proposto medidas e agendado a recente cimeira de Londres. O relevo desta cimeira decorre em parte do apelo de Barack Obama a que os líderes dos 20 adoptassem uma “acção audaz, global e coordenada”, não apenas em relação à recuperação imediata, mas também em direcção a “uma nova era económica” que previna crises como a actual. A cimeira pode até ter desiludido, mas já produziu um efeito: a marginalização do G8, clube exclusivo dos antigos “grandes”, todos ocidentais à excepção do Japão, e a afirmação dos países “emergentes”. É a constatação de duas realidades. A China, a Índia ou o Brasil, as três economias que mais rapidamente cresceram nos últimos anos, estão fora do G8. A segunda é mais pesada: a crise mundial, iniciada na América, só pode vir a ser resolvida na base de uma estreita cooperação entre os EUA e a China. Há muito que os economistas falam na emergência de novas potências e, sobretudo, no movimento de transferência dos centros de riqueza e poder do Ocidente para a Ásia. Esta tendência foi travada pela crise asiática de 1997 e obscurecida pela ilusão de um mundo unipolar sob hegemonia dos Estados Unidos. Este foi um dos grandes temas do debate americano durante o segundo mandato de George W. Bush. A última manifestação foi o relatório de prospectiva dos serviços secretos americanos publicado em Novembro passado - Global Trends 2025, a Transformed World - onde se constata: apesar

Continuará Wall Street a ser a capital financeira do mundo? de os Estados Unidos permanecerem a principal potência, a dominação americana será severamente reduzida e será acelerada a erosão da supremacia americana “nas áreas política, económica e, possivelmente, cultural”. A crise forçou o debate sobre os grandes símbolos da dominação americana. Continuará Wall Street a ser a capital financeira do mundo? Qual o destino do dólar? Conservarão os EUA o domínio nas tecnologias de ponta e nas indústrias culturais? O jornalista Fareed Zakaria popularizou a expressão “a ascensão do resto” (The Rise of the Rest): é inevitável uma redistribuição do poder em todas as dimensões, industrial, financeira e cultural, que limitará a dominação americana e conduzirá a um sistema multipolar. Não se trata propriamente de retomar as ideias de George Kennedy sobre a “A Ascensão e Queda das Grandes Potências” (1987), mas de constatar a emergência de novas. O Global Trends 2025 sublinha exactamente a ascensão de uma nova “ordem global multipolar”, em que potências como a China e a Índia superarão economicamente a maioria dos velhos membros do G8. Os EUA sabem que se o seu poderio assentou numa economia pujante, as futuras potências económicas não se limitarão a ser ricas mas desejarão também ser “poderosas”. Um geopolítico americano, Parag Khanna, antevê um mundo organizado em torno de “Três Grandes”, EUA, China e União Europeia, mas em que dezenas de países, do Sueste Asiático à América Latina, passando pela Turquia, ajudarão “a moldar a globalização”.

NOVA ERA AMERICANA A nova administração americana foi colocada perante um desafio: ou os EUA aceitam e tentam moldar o novo mundo multipolar, reconhecendo os limites do seu poderio, ou correm o risco de lançar o caos na ordem internacional. A crise não deixou alternativa a Obama, que assumiu a realidade para recuperar a iniciativa, o que em princípio lhe concede uma posição de vantagem. O mesmo fez a China. Não tem alternativa à cooperação com os Estados Unidos. Mas tomou nota da nova realidade, da rápida subida do seu estatuto, passando a tratar com Washington de igual para igual, do futuro do dólar à redistribuição do poder no FMI. Os grandes perdedores serão seguramente as economias com menos capacidade de adaptação. A Rússia é o exemplo do mais provável desastre. As economias capitalistas “centrais” estão já a debater a sua “reconversão”. A começar pelos EUA. Também a maioria das economias asiáticas, duramente flageladas, parecem ter condições para “sair por cima”. A China prepara-se para acelerar uma viragem, já esboçada, mas travada pela primazia absoluta da exportação: alargar intensivamente o mercado interno e reforçar a aposta numa produção industrial de elevada tecnologia. Visto da Europa, o crescimento asiático parece essencialmente fundado nas exportações, diz o especialista francês Jean-Raphael Chaponnière. Mas a ênfase neste aspecto “oculta o essencial: o crescimento asiático assenta muito mais na procura doméstica”. É cedo para conhecer a saída da crise. Mas, ao

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“acelerar a viragem para a Ásia, a crise será o parto de um mundo multipolar”, conclui. Dois dos autores do Global Trends, Mathew Burrows e Jennifer Harris, sublinham, por outra via, o mesmo aspecto. “A própria globalização será transformada pela crise financeira.” A China é obrigada a voltar-se para o seu imenso mercado interno, o que, entre outros efeitos, provocará o crescimento e o reforço do papel das suas classes médias. ASCENSÃO DO RESTO Se, graças à crise financeira, o G20 destronou o G8, já “a ascensão do resto” na ordem política fia mais fino. O Ministro dos Negócios Estrangeiros britânico, David Miliband, quis convidar para uma reunião paralela à cimeira os 15 do Conselho de Segurança da ONU, a fim de discutirem a proposta do seu alargamento

a 21 membros, lançada pelo Brasil, Alemanha, Japão e Índia. A China e os EUA disseram que não. “Os chineses mataram [a proposta] e os americanos não foram muito positivos”, disse um diplomata do Conselho de Segurança. Motivo pelo qual se espera com grande expectativo o desenrolar dos próximos acontecimentos.

A cimeira do G20 pode até ter desiludido, mas já produziu um efeito: a marginalização do G8, clube exclusivo dos antigos “grandes”, todos ocidentais à excepção do Japão, e a afirmação dos países “emergentes”

o que é o capitalismo?

Um sistema de mercado baseado em vários princípios, entre eles: • Propriedade privada dos meios de produção. As pessoas, individualmente ou reunidas em sociedade, são donas dos meios de produção. A transformação das forças de trabalho em mercadoria. Quem não é dono dos meios de produção é obrigado a trabalhar em troca de um salário; • Acumulação do capital. Em princípio, o dono do capital quer produzir pelo menor custo e vender pelo maior preço possível. O lucro é a diferença entre o custo de produção e o preço de venda do produto. Para diminuir os custos, procura pagar o mínimo possível pelas matérias-primas, salários e outros meios de produção. A definição dos preços é feita pelo mercado, com base na oferta e na procura, isto é, na disputa de interesses entre quem quer comprar e quem quer vender produtos e serviços. No capitalismo, é o mercado que orienta a economia. • A livre concorrência. A concorrência é a competição na venda dos bens e serviços. Na prática, a concorrência em que todos são igualmente livres para produzir, comprar, vender, fixar preços, etc, não existe. Isto porque o mercado é dominado por grandes organizações, que expandem cada vez mais a sua área de actuação através de fusões, incorporações e outros modos de ampliar negócios, eliminando pequenos e médios concorrentes.

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| manuela bártolo

yes we can áfrica Com pompa e circunstância, Barack Obama foi empossado o 44º presidente dos EUA. Um momento inédito por ser o primeiro negro americano a assumir os destinos da mais poderosa nação do planeta. No entanto, quem sabe quais os planos que o mesmo tem para África, continente onde tem radicadas as suas raízes familiares? Americanos de todas as raças e idades têm manifestado uma genuína satisfação e um profundo orgulho por esta conquista, que não é mais do que o reflexo do progresso que fizeram como nação, assente na sua própria diversidade. O mundo tem, desde então, partilhado a emoção de um acto que parece ter aberto novas perspectivas. O slogan “Yes we can” transcendeu as fronteiras americanas e passou a ser pertença de todos aqueles que, na comunidade internacional, acreditam nele como uma força motriz. O Obama, negro americano, já faz parte da história. O Obama, presidente, tem um caminho para percorrer e uma história para escrever, cujo sucesso dependerá da sua capacidade de liderar e das circunstâncias envolventes. O facto de Obama ser filho de pai queniano, criou naturalmente expectativas sem precedentes sobre os benefícios que a África poderá lograr da sua administração. Enquanto, os governantes esperam maior cooperação, os governados, sobretudo aqueles que vivem em países onde persiste a ditadura, esperam do seu Governo a promoção do respeito pela vida, dos direitos humanos e da utilização responsável dos recursos naturais. No entanto, a verdade é que Obama foi eleito para promover e defender os interesses do povo americano, que obviamente nem sempre serão coincidentes com os interesses dos povos africanos. Assume a liderança do país num período de crise económica internacional com uma gravidade particular para o mercado de emprego e num momento em que a luta contra o terrorismo e as guerras do Iraque e Afeganistão continuam a ocupar as atenções do Executivo. Uma realidade que ditará uma hierarquia de prioridades que poderá relegar as expectativas dos governados no continente africano para segundo plano.

A sua administração vai procurar dar mais ênfase às políticas bilaterais em detrimento de uma “política africana”, acabando gradualmente com a tendência de olhar para África como um grande país subsidiário

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O Governo Obama procurará maior concertação com o governo chinês no que diz respeito às respectivas políticas africanas

NOVA POLÍTICA AMERICANA PARA O CONTINENTE Analistas mundiais garantem estarmos diante de uma ligeira viragem na política americana para o continente africano. No seu discurso de empossamento, Obama disse “…para aqueles que se agarram ao poder através da corrupção, do engano e da eliminação da oposição…estais do lado errado da história…estender-vos-emos ajuda se estiverdes dispostos a abrir a mão (abandonar a governação musculada)”. Os peritos africanos que integram a equipa de Obama, definem os objectivos da sua política de acordo com diferentes metas, sendo as mais importantes a aceleração da integração do continente na economia global, o reforço da paz e da segurança dos Estados africanos e a promoção de relações mais estreitas com governos, instituições e ONG’s comprometidas com a democracia, a boa governação e a redução da pobreza em África. Obama tem conhecimento pessoal da vida no continente, o que cria maior sensibilidade e compreensão dos problemas. Será talvez o primeiro presidente americano em posição de indicar países africanos com as respectivas capitais. A sua administração vai procurar dar mais ênfase ao aprofundamento de políticas bilaterais em detrimento de uma “política africana”, acabando gradualmente com a tendência de olhar para África como um grande país subsidiário. Neste contexto, crê-se que a procura e a oferta ditarão as iniciativas. AFRICOM O combate ao terrorismo será conduzido através do ênfase atribuído ao combate à pobreza e à promoção da estabilidade política, em sincronia com programas do AFRICOM. Este organismo, bem como as suas actividades, será objecto de maior consulta com os países africanos a fim de elevar o diálogo sobre segurança colectiva e objectivos a alcançar no quadro da paz, segurança e estabilidade. A administração Obama tem também a intenção de transferir o commando do AFRICOM para território americano, tornando-o independente do EUCOM. O seu Governo procurará maior concertação com o governo chinês no que diz respeito às respectivas políticas africanas. O objectivo é o de cultivar a complementaridade no quadro de uma “competição saudável”. De acordo com alguns dos exemplos divulgados pela sua administração são vários os

ticas de negócios que não facilitam cidadãos nacionais, tão pouco facilitam investidores estrangeiros, criando uma situação de apatia internacional. Por seu turno, países que tiverem governos transparentes, sociedades capazes de respeitar todos os seus cidadãos e oferecerlhes igualdade de oportunidades, estarão em melhores condições de explorar os benefícios da globalização, integrar a economia global e influenciar políticas de cooperação mutuamente benéficas que tão bem caracterizam o século XXI. Nesse sentido, o empossamento histórico de Obama, em si só, não fará milagres, pois não será suficiente para trazer benefícios à cooperação bilateral com países africanos que não se adaptarem política e economicamente aos novos tempos.

países-alvo da atenção americana. No Sudão a estratégia é aumentar a pressão sobre o Governo de Khartoum no sentido de parar o conflito e permitir a evolução da força da paz da ONU. Na República Democrática do Congo, apoiar a força de manutenção da paz da ONU, MONUC e impor metas mensuráveis ao processo “tripartido +” (DRC, Rwanda, Burrundi e Uganda) de forma a garantir o progresso e a segurança. No Zimbabwe, exigir que o acordo de partilha de poder se altere tão rápido quanto possível de um governo controlado por Mugabe para um que reflicta as eleições de 29 de Março. Exigir ainda que Mugabe permita a reabertura das actividades das ONG’s para socorrer os milhões de cidadãos com bens alimentares e medicamentosos. Repletos de intenções, estes enunciados reflectem maior equilíbrio político, o que seria construtivo para o continente se forem, efectivamente, aplicados. Contudo, como todas as anteriores administrações, está irá cedo descobrir que nem sempre os ideais convergem com os seus interesses. A prossecução de uns ou de outros, em dadas circunstâncias, determinará a diferença entre este Governo e os outros. Do lado africano, os líderes têm a oportunidade de proceder a reformas democráticas e a implementar políticas inclusivas de desenvolvimento sócio-económico, não para impressionar outrém, mas para dinamizar as economias dos seus países, no interesse dos seus respectivos povos. Finalmente poderão assimilar que políticas de investimento e prá-

EUA EM ANGOLA A presença americana no país tem-se notado em vários sectores. O auxílio na desconcentração do Poder Central de Luanda para as províncias e para os municípios tem sido disso exemplo, uma vez que um dos principais objectivos é ajudar as autoridades angolanas a diversificar a sua economia, priorizando a agricultura na produção de banana, batata e café. De facto, a administração americana destacada tem procurado viabilizar uma importante injecção de crédito para o sector agrícola, bem como demonstra em continuar a ajudar no sector da desminagem. Os representantes no país acreditam que o desenvolvimento de Angola vem com o investimento externo e interno em sectores não petrolíferos e do gás. Uma ideia a que Obama já fez também alusão. O presidente traçou para o país um programa para captação de capitais que permitam a aquisição de sementes que vão impulsionar pequenas e médias empresas agrícolas para Angola. No campo político, o objectivo é fortalecer as instituições parlamentares, encorajar a existência de um sistema judicial independente, uma comunicação social isenta e uma sociedade civil forte. No domínio da segurança, os Estados Unidos reconhecem o papel estratégico de Angola na preservação da paz e da segurança na parte Central e Sul do continente africano. O país possui um dos melhores exércitos de África e estas forças armadas podem jogar um papel importante na pacificação do continente.

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| patrícia alves tavares

à conquista de um lugar O crescimento económico traz novas necessidades e lança um importante desafio à população: desenvolver mão-de-obra de qualidade e capaz de contribuir para a reconstrução do país. A formação é imprescindível e a acção governamental tem contado com o apoio dos investidores internacionais, que fornecem quadros qualificados, responsáveis por implementar a fase inicial dos projectos e por formar os trabalhadores nacionais. Por outro lado, José Eduardo dos Santos acautelou os direitos dos habitantes, ao estabelecer quotas, relativas à contratação de funcionários.

A lei angolana é clara: 70% dos quadros de uma empresa devem ser ocupados por trabalhadores naturais do país, de modo a escoar parte da população em idade activa. Porém, se por um lado a medida obriga os investidores a apostarem na formação de colaboradores nacionais, por outro implica que o Governo crie uma política que vise a escolarização dos habitantes e o fomento de cursos técnico-profissionais, para dotar os futuros funcionários dos conhecimentos fulcrais para ingressarem no mercado de trabalho. Tal tem sido implementado em todas as províncias, em que as acções de formação estão enraizadas e são uma mais-valia, sobretudo para a população jovem, que enfrenta o problema do desemprego e consequente pobreza. É evidente que uma maior escolaridade e a aquisição de conhecimentos específicos sobre determinada área são as ferramentas-base para ingressar no mundo profissional. Com o florescer de novos investimentos, as oportunidades de trabalho são mais que muitas, uma vez que a lei obriga os empresários a contratar cidadãos nacionais. Aliás, este é o caminho para o país assumir o seu próprio destino. Para tal, em muito contribui a acção dos investidores estrangeiros que procuram criar bons incentivos para recrutar os milhares de angolanos que ao longo dos anos saíram da região para fazer no estrangeiro a sua formação superior.

OFERTA CRESCE GRADUALMENTE A reconstrução nacional coloca desafios diários. Através de parcerias e protocolos de cooperação com diversos países, o executivo vai dinamizando cada sector da economia e retirando rentabilidade dos muitos recursos naturais que o país tem para oferecer. A principal carência das novas empreitadas e fábricas consiste na mão-de-obra, uma vez que apenas um terço pode corresponder a profissionais estrangeiros. No sentido de empregar os jovens nacionais, o Governo pretende nacionalizar algumas entidades, 70% dos quadros de uma empresa que têm a seu cargo didevem ser ocupados versas obras públicas. O por trabalhadores naturais do país desejo passa por substi-

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tuir os funcionários estrangeiros pelos nacionais, que crescentemente serão inseridos nos múltiplos ramos de actividade. É o caso do sector da siderurgia, em que a China tem investido e contribuído com capital humano, que inicialmente rondava os 100% e tem vindo a substituir os trabalhadores chineses por angolanos, à medida que estes vão sendo formados e se mostram aptos para prosseguir sozinhos. Por outro lado, as entidades internacionais investidoras procuram inserir os jovens licenciados, que poderão desenvolver uma carreira, atingindo posições de topo. A Chevron Angola, que no ano anterior integrou 280 angolanos como novos empregados e cujo quadro é composto em mais de 80% por mão-de-obra nacional, acredita que


a “única maneira” de cumprir o “compromisso para com a nação é trazer, incorporar, integrar e desenvolver o pessoal nacional, para o bem das empresas e, naturalmente, para o bem do país”. JOVENS QUALIFICADOS REGRESSAM A CASA Portugal tem sido palco de várias feiras de emprego, organizadas com o intuito de recrutar estudantes nacionais, que se encontrem a frequentar uma licenciatura naquele país ou na Europa. São o caso das acções promovidas pela agência de emprego Jobfair. Recentemente, o grupo organizou a 4ª edição da feira de emprego, vocacionada para o recrutamento especializado de jovens quadros africanos. O sucesso deste evento obrigou a que a última edição fosse “dividida por seis fins-de-semana durante Abril e Maio”, explicou João Carlos da Costa, managing partner do grupo. “Este projecto consiste numa parceria anual com multinacionais angolanas ou presentes no país, com necessidades de recrutamento de jovens licenciados ou mesmo quadros angolanos residentes na Europa”, revelou, destacando o facto de contar “com uma base de dados de mais de 3.000 candidatos, naturais de Angola, entre recém-licenciados, jovens quadros ou mesmo quadros seniores a trabalhar em Portugal e na Europa.” A capital portuguesa acolheu ainda o Fórum da Elite International Careers (EIC), que recebeu cerca de 500 jovens, oriundos de mais de 10 países e que têm em comum a vontade de regressar ‘a casa’ e usar as suas qualificações para contribuírem para o crescimento nacional. Em Lisboa, estiveram presentes cerca

EMPENHO EM COLABORAR A afluência dos recém-licenciados a este tipo de certames prova que os quadros qualificados estão motivados para regressar ao país, após a conclusão dos estudos e para colocar as competências adquiridas ao serviço da nação. Wagner Martins, engenheiro civil, deslocou-se de Inglaterra a Lisboa para participar no fórum, organizado pela EIC, com o sonho de voltar a casa com um emprego garantido. “Muitos angolanos voltam e não têm um trabalho fixo. Então, em vez de procurar emprego quando estiver em Angola, prefiro entrar em contacto com as empresas que me interessam aqui e que estejam implementadas em Angola para ver se me facilita a vida quando voltar, porque o meu interesse é regressar”, destacou, confirmando que no final do evento tinha conseguido agendar entrevista na Mota-Engil, Odebrecht, Elecnor e Soapro. Domingas Tavares, de 21 anos e a poucos meses de se formar em Sociologia pela Universidade de Lisboa partilha a mesma determinação em “voltar”. Enquanto pondera se vai concorrer a um mestrado ou bolsa de estudo, prepara-se para Wagner Martins, engenheiro civil, entrar no mundo do tradeslocou-se de Inglaterra a Lisboa balho. O primeiro passo foi dado e a finalista conpara participar no fórum, seguiu suscitar interesse organizado pela EIC, por parte da Odebrecht, com o sonho de voltar a casa Sonils e Halliburton. com um emprego garantido de 50 empresas (angolanas e estrangeiras a operarem no território), que procuravam quadros e recém-licenciados, que correspondam ao perfil exigido. Odebrecht, Chevron Angola, Mota-Engil, Halliburton, Bp Angola, Sonamet, Sonils, Acergy Elecnos e GE Oil and Gás foram algumas das multinacionais que marcaram presença. O fórum cumpriu os objectivos propostos e Miguel Vieira, director-geral do evento explicou que a iniciativa surgiu pelo facto de ser “angolano”, pelo que conhece as “necessidades de capital humano que as entidades têm em Angola, das iniciativas do Governo e das empresas e da motivação para que os estudantes que estão fora voltem”. As áreas mais procuradas para o preenchimento de vagas são todos os ramos da engenharia, infra-estruturas, recursos humanos e área financeira. Na agenda, está definida a organização de dois novos fóruns, ainda este ano, em Luanda (Julho) e na África do Sul (Outubro), enquanto que a Jobfair prepara a 5ª edição da feira de emprego, marcada para 30 e 31 de Outubro.

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“Jovens demonstram uma forte vontade de regressar” João Carlos da Costa - Jobfair Global Search & Associates

A 14ª Feira de Emprego e Formação de Lisboa foi marcada pelas ofertas destinadas a licenciados angolanos. Qual foi o grau de adesão? Mais de dois mil candidatos eram angolanos à procura de emprego no seu país e mais de 85% das cerca de mil ofertas disponíveis foram preenchidas. Que tipo de entidades recorrem à Jobfair? Os nossos parceiros são empresas angolanas, portuguesas ou multinacionais presentes em Angola, com necessidades de recrutar jovens quadros naturais daquele país, para sectores como Petróleo, Minas e Gás, Construção Civil, Consultoria, Banca, Indústria e Serviços. Qual é o perfil do candidato? São jovens (20 a 27 anos), que estudam em Portugal em áreas como Engenharias, Gestão, Informática, Recursos Humanos, Direito, Formação, Contabilidade e Finanças. Demonstram uma forte vontade de regressar ao seu país após a conclusão do curso. Procuram ofertas ligadas à sua área de formação, de preferência em grandes empresas nacionais ou multinacionais de prestígio. Como analisa o mercado de trabalho? Está em grande crescimento não só ao nível económico mas no que se refere aos talentos angolanos, existe uma grande procura de quadros jovens qualificados. Nos últimos anos, existiu um boom ao nível da escolaridade, pelo que a médio longo prazo este crescimento irá traduzir-se numa maior oferta de jovens licenciados ou mesmo com pósgraduações e MBA’s. Há uma tendência para que os gestores estrangeiros sejam substituídos por nacionais? Na minha opinião a estratégia de colocar quadros de topo expatriados nas empresas presentes em Angola é positiva e essencial para o bom desenvolvimento do mercado actual, pois existe uma forte necessidade de quadros de topo com experiência para liderar as organizações. Acredito que esta situação será alterada a médio prazo. Pela minha experiência na área de recrutamento especializado no mercado angolano, a qualidade da nova geração de talentos nacionais faz-me pensar ser possível a sua integração e substituição nos cargos de topo.

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FORMAÇÃO CONFERE NOVAS FERRAMENTAS Comprometendo-se a salvaguardar a mão-de-obra nacional, o Governo lançou um plano de valorização do capital humano, através do desenvolvimento de programas nacionais de formação profissional, sob a alçada do Ministério de Administração Pública, Emprego e Segurança Social (MAPESS). No âmbito da lei do trabalho, que estabelece uma quota de trabalhadores nacionais em cada empresa, independentemente do ramo de actividade, o Executivo está consciente da necessidade de formar a sua mão-de-obra, de modo a dotá-la de conhecimentos especializados e habilitação adequada, para que possa integrar o mercado de trabalho. Recorde-se que a maioria da população activa possui baixa escolaridade (em muitos casos o analfabetismo domina), pelo que os ministérios e entidades privadas estão profundamente empenhadas em formar os seus quadros, para que gradualmente possam integrar na totalidade as vagas das empresas. Estas medidas têm sido bem sucedidas, verificando-se a dinamização de acções de formação um pouco por todas as regiões. São exemplos o município de Uíge, que inaugurou em Abril um centro, onde serão ministrados os cursos de serralharia, agricultura e informática, contando inicialmente com 191 inscritos. O mesmo se verifica em Malanje, em que cerca de 200 jovens frequentam as especialidades de electricidade, serralharia, informática, carpintaria, mecânica e decoração, entre outros. Benguela aposta no ramo da construção civil e Cabinda já lançou os primeiros finalistas no mercado de trabalho. PORTO DE CHEGADA A crise económica mundial tem como principal indicador um aumento exponencial do desemprego, em particular nos países europeus. Sem trabalho e perspectivas de futuro são muitos os emigrantes que rumam a Angola, em busca de uma oportunidade profissional. Portugal tem assistido à maior fuga de habitantes para este país. De acordo com os registos, há mais de 80 mil portugueses a viver na região africana. Os números revelam que a população portuguesa no país quadruplicou em apenas quatro anos. Em 2006, registaram-se 16 mil partidas de Portugal para Angola, enquanto que em 2008, o número ronda os 28 mil. E a tendência é para aumentar. As boas relações económicas entre os dois países contribui para a afluência de profissionais a este mercado, que necessita de bons gestores e indivíduos capazes de formar os activos nacionais, para que estes possam levar a bom porto a árdua tarefa de reconstrução nacional. Contudo, os especialistas alertam que o país “não é uma nova árvore das patacas. É um mercado exigente, que requer muito trabalho e qualidade”.


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| manuela bártolo

‘dinheiro de plástico’ Em qualquer cidade, em qualquer país, com ele é possível comprar um pão ou um avião, pagar taxas públicas, contas, mensalidades, consultas e até recarregar um telemóvel pré-pago. O ‘dinheiro de plástico’ da VISA mudou o hábito de consumo onde quer que o cliente esteja. Os cartões de crédito e de débito não só facilitam a vida dos consumidores, como se transformaram num símbolo de consumo global e a marca VISA é uma das principais responsáveis por isso. Na década de 80 a marca deu início a uma forte campanha para incentivar o cartão de crédito como meio de pagamento. Investimentos em marketing, em novas tecnologias e em patrocínios desportivos e culturais ajudaram a tornar a VISA conhecida e a fixá-la como a preferida dos consumidores A REINVENÇÃO DO DINHEIRO Esteja atento e prepare-se! Está em curso a reinvenção do dinheiro. Não se trata apenas de dizer se o dólar, o euro ou o iene dominarão a cena mundial nos próximos anos. Certamente o balanço de poder entre as principais economias do mundo vai mudar e, resultado dessa evolução, a confiança em cada zona monetária

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sofrerá alterações. Porém há mais mudanças em jogo. Fala-se com força num novo Bretton Woods, especialmente a partir da mobilização europeia. Mas ninguém sabe ainda de onde virão os controladores da nova ordem financeira global. Uma possibilidade, levando em conta as dificuldades geopolíticas para fazer valer um padrão global depois da crise actual, é uma regionalização cada vez mais intensa, a ponto de viabilizar o surgimento e a administração de moedas locais. Uma possibilidade, cada vez mais, realista, sobretudo se pensarmos no dinheiro “peer to peer”, ou seja, P2P, dinheiro que é criado e gerenciado localmente. O fantástico mundo dos cartões de crédito, do dinheiro de plástico, sem lastro, gerou uma montanha de endividamento que afinal desmoronou. A crise, no entanto, não altera o facto de que empresas, governos e, cada vez mais, associações de devedores, empresários e cidadãos passam a criar os seus sistemas de troca, contabilidade e cré-

dito próprios. Muitos acreditam que será uma nova Idade Média, onde cada local, cada região, cada feudo terá autonomia para criar relações de crédito totalmente locais. As portentosas transferências de recursos que os governos dos países centrais têm realizado nos últimos meses e prometem fazer de modo crescente a cada dia, a cada semana, não são apenas esforços para salvar bancos e outras instituições financeiras. É a própria ideia de moedas nacionais e com poder supranacional que está em jogo. A nova economia, no entanto, poderá surgir dessa crise como um sistema muito mais descentralizado de criação de ícones, símbolos da riqueza, sendo a marca VISA um deles. A cada bilião despejado no sistema bancário está em jogo a própria crença da sociedade na autoridade dos bancos centrais. Essa confiança poderia ruir ao ponto de justificar e legitimar bancos “centrais” locais, mas a verdade é que dinheiro continuará sempre a ser sinónimo de VISA.


dados corporativos · ORIGEM: ESTADOS UNIDOS · LANÇAMENTO: 1958 começaram uma operação conjunta sob o nome Uma das grandes inovações continua a ser de National BankAmerio facto do portador do cartão ter a opção de card Incorporated (NBI), pagar as suas dívidas a prazo, a qualquer uma empresa indepenhora e em qualquer lugar dente, precursora da VISA actual. Em 1973, a NBI criou o primeiro sistema de autorização UMA INOVAÇÃO COM HISTÓRIA eletrónico, conhecido como BASE I, e um noA história da marca é indissociável de uma vo centro de processamento de informações das mais importantes inovações na forma foi aberto. Finalmente, comerciantes e usuáde pagamento do século XX: o cartão de parios conseguiam autorizações rápidas e eficagamento ou crédito. Com o desenvolvimento zes em qualquer parte dos Estados Unidos, a desta ferramenta flexível e a massificação da qualquer hora do dia. O sistema de autorização sua utilização, a marca VISA não somente faeletrónico possibilitou uma expansão fantásticilitou a vida das pessoas, como está presenca. Um ano depois, o Bank of America já emitia te em qualquer lugar. Tudo começou em 1958, cartões em 15 países. Ainda em 1974, foi criaquando o Bank of America lançou o cartão de da a Ibanco, uma empresa multinacional, que crédito BankAmericard, nas cores azul, branco englobava os membros do BankAmericard, e dourado, que seriam mais tarde adoptadas destinada a administrar o programa de carpela VISA, para os consumidores da cidade de tões internacionalmente. Entretanto, fora dos Fresno, estado da Califórnia. A grande inovaEstados Unidos, os bancos de alguns países ção era que o portador do cartão tinha a opção recusavam-se a emitir cartões associados ao de pagar a sua dívida a prazo. O êxito foi imeBank of America. Para superar esse obstáculo, diato e o cartão tornou-se o mais conhecido foi necessário procurar uma marca universal, dos Estados Unidos. A partir de 1966, por meio livre de associações com entidades bancárias de acordos com bancos que operavam fora do concorrentes. Em 1976, numa convenção banestado da Califórnia, possibilitou a afiliação de cária realizada em Orlando, na Flórida, o presiestabelecimentos e a emissão de mais cartões. dente da NBI-Ibanco, Dee Ward Hock, anunciou Nesta época, o BankAmericard iniciou um rápioficialmente a mudança do nome da empresa. do crescimento, atingindo quase dois milhões O cartão BankAmericard adoptou uma nova de usuários. Com o crescimento dos cartões de imagem com a marca VISA, mantendo as sucrédito, a maioria dos bancos regionais desisas cores tradicionais - azul, branco e dourado. tiu dos seus programas independentes e assoO nome foi escolhido por ser de fácil pronúnciou-se a um dos dois sistemas. Até que, em cia em qualquer idioma e por não ter nenhu1970, os bancos emissores do BankAmericard

· CRIADOR: BANK OF AMERICA · SEDE MUNDIAL: SAN FRANCISCO, CALIFÓRNIA · PROPRIETÁRIO DA MARCA: VISA INC. · CAPITAL ABERTO: SIM (2008) · CHAIRMAN & CEO: JOSEPH SAUNDERS · PRESIDENTE: JOHN MORRIS · FATURAMENTO: USD 6.26 BILIÕES (2008) · LUCRO: USD 804 MILHÕES (2008) · VALOR DE MERCADO: USD 23.3 BILIÕES (MARÇO/2009) · VALOR DA MARCA: USD 3.33 BILIÕES (2008) · CARTÕES EMITIDOS: + 1.7 BILIÕES · PRESENÇA GLOBAL: + 170 PAÍSES · SEGMENTO: FINANCEIRO · PRINCIPAIS PRODUTOS: CARTÕES DE CRÉDITO E DÉBITO · ÍCONES: O SEU LOGOTIPO · WEBSITE: WWW.VISA.COM

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sabia que... O JPMorgan Chase é o maior banco emissor de cartões VISA. A marca realiza 92 biliões de autorizações de pagamentos por ano, o equivalente a 12.000 por segundo ma relação com banco ou sistema financeiros. O NBI transformou-se em VISA USA e o Ibanco mudou para VISA International Service Association. Sob a liderança de Dee Hock e com a atenção voltada para os seus bancos e instituições financeiras associadas, a VISA obteve rápida expansão. Com o crescimento do número de transacções, um novo sistema tornou-se necessário. Surgiu assim, em 1977, a BASE II, um sistema de intercâmbio que permitiu aos bancos efectuar transacções eletronicamente. Um ano depois, o cartão VISA já era o número 1 nos Estados Unidos. Em 1979 iniciou uma forte campanha junto aos estabelecimentos comerciais com o objectivo de incentivar o cartão de crédito como meio de pagamento. Investimentos em marketing, em novas tecnologias e em patrocínios desportivos e culturais ajudaram a tornar a mar-

A RELAÇÃO COM O DESPORTO Além das tradicionais campanhas publicitárias, a VISA mantém uma forte relação com o mundo desportivo através de patrocínios de grandes eventos ou competições, gerando uma enorme

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ca conhecida e a fixá-la como a preferida dos consumidores e lojistas. Hock foi o responsável pelo lançamento do primeiro sistema eletrónico na transacção com cartão de crédito e criou a primeira rede global de ATM. Nas décadas de 80 e 90, a VISA continuou inovando, sendo responsável pelo lançamento dos primeiros cartões de crédito Premium, Smart, cartões pré-pagos e conquistando mercado em todo o mundo, tornando-se o maior cartão com circulação mundial, sendo aceite em 12 milhões de estabelecimentos. Desde então, mantém-se na liderança entre os meios de pagamento eletrónicos. No mês de Março de 2008 a VISA abriu o seu capital na Bolsa de Valores de Nova Iorque, arrecadando quase USD 18 biliões, o melhor resultado de uma empresa ao fazer oferta inicial de acções (em inglês IPO) na história dos Estados Unidos.

exposição da marca. Essa relação começou em 1988 quando a VISA se tornou patrocinadora oficial dos Jogos Olímpicos. Desde então, a marca está presente tantos nos Jogos Olímpicos de Verão quanto nos de Inverno, com contrato

O nome VISA foi escolhido por ser de fácil pronúncia em qualquer idioma e por não ter nenhuma relação com banco ou sistemas financeiros A MARCA NO MUNDO Actualmente, a VISA, que opera a maior rede de pagamentos eletrónicos do mundo, oferecendo serviços de processamento e plataformas de produtos de pagamento, possui mais de 21.000 instituições financeiras afiliadas, tendo no mercado mais de 1.7 biliões de cartões sob a sua bandeira circulando em 170 países ao redor do mundo. Aceite em mais de 30 milhões de estabelecimentos comerciais, a VISA realiza anualmente mais de 55 biliões de transacções no valor de USD 4.3 triliões. Ainda possui uma rede com mais de 1 milhão de ATM’s (caixas automáticos) nos cinco continentes.

até as Olimpíadas de Londres em 2012. Outro evento desportivo patrocinado pela marca é o Campeonato do Mundo de Rúgbi (Rugby World Cup), que desde 1995 mantém parceria com a VISA. É também patrocinadora oficial da liga profissional de futebol americana, conhecida como NFL. A partir de 2010, a VISA passa a ser patrocinadora oficial do Campeonato do Mundo de Futebol, destornando a Mastercard, antiga parceira da FIFA nessas competições. Também é patrocinadora oficial da Copa Libertadores da América e Copa Sulamericana.


no epicentro da comunicação

NA NOSSA COMPANHIA, NÃO PRECISA DE TEMER AS RÉPLICAS. COMUNICARE, ONDE QUER QUE ESTEJA, ESTAMOS CONSIGO. COMUNICARE - Comunicação e imagem | Rua do Senhor, 592 - 1º Frente | 4460-417 Sra. da Hora - Portugal | T: +351 229 544 259 | F: +351 229 520 369 | E: geral@comunicare.pt ECONOMIA & NEGÓCIOS · ANGOLA’IN

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ECONOMIA & NEGÓCIOS IN(TO) BUSINESS curiosidade Segundo a consultora britânica InterBrand, a marca VISA está avaliada em USD 3.33 biliões, ocupando a 100 posição no ranking das marcas mais valiosas do mundo

a linha do tempo • 1972 - Lançamento de um sistema percussor do VisaNet, possibilitando compreensiva comunicação e processamento de dados com segurança e rapidez. Hoje em dia este sistema é responsável pela afiliação e relacionamento com os estabelecimentos comerciais que aceitam cartões VISA como forma de pagamento; desenvolve e realiza a gestão da plataforma tecnológica de captura e o processamento das transacções com os cartões; além de desenvolver e oferecer serviços de monitorização, captura e processamento de transacções eletrónicas para bandeiras particulares e instituições financeiras. O sistema é capaz de realizar mais de 1.100 transacções por segundo; • 1974 - Introduz a função de débito nos seus cartões revolucionando a forma de pagamento. Na década de 80 passaria a ser conhecido como VISA ELECTRON, estando presente na Ásia, América Latina, América Central, África e Europa, emitindo cerca de 400 milhões de cartões anualmente; • 1977 - Lançamento do VISA CLASSIC, o cartão mais popular e conhecido da marca; • 1979 - Introdução no mercado do VISA TRAVELER’S CHECK (cheque de viagem); • 1981 - Introdução do cartão VISA PREMIERE, que passaria a ser conhecido como VISA GOLD, e se tornaria o cartão de crédito mais conhecido e utilizado do mundo em 1992; • 1983 - Baseada na premissa “Any Time, Anywhere” (A qualquer hora, em qualquer lugar), introduz uma rede de caixas automáticos para levantamentos, proporcionando 24 horas por dia de modernidade aos seus consumidores. Primeiramente, as caixas automáticas estavam localizadas em lugares com grande movimentação de turistas como aeroportos. Não demorou muito para que postos de gasolina, lojas de conveniência e muitos outros estabelecimentos também conquistassem as suas caixas automáticas;

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• 1984 - Introdução do holograma conhecido como DOVE (pomba) em todos os cartões de crédito, geralmente seguido pelos quatro últimos dígitos do número do cartão. O holograma foi introduzido como uma medida de segurança para evitar fraudes e falsificações; • 1986 - Inicia parceria com a PLUS ATM aumentando ainda mais a sua rede de caixas automáticas. A empresa foi totalmente adquirida pela VISA em 1993; • 1995 - Em parceria com a Europay e a Mastercard desenvolveu o sistema de Chip nos cartões de crédito; • 1996 - Lançamento do cartão de débito VISA CASH durante as Olimpíadas de Atlanta, nos Estados Unidos. Este cartão com chip, que funciona como um porta moedas eletrónico, é utilizado em muitos países do mundo; • 1997 - Atinge a impressionante marca de USD 1 trilião em transacções; • 1999 - Conduziu a primeira transacção de um cartão de crédito em Euros. Lançamento dos cartões inteligentes com função de crédito e débito; • 2000 - Lançamento do VISA BUXX, um cartão pré-pago e recarregável destinado para adolescentes com idade a partir de 13 anos. Os responsáveis pela conta do cartão controlam quanto o jovem pode gastar por meio do valor pré-carregado no seu cartão. Aprendendo na prática como administrar o dinheiro que recebe, o jovem é estimulado desde cedo a desenvolver responsabilidade sobre suas finanças pessoais; • 2001 - Lançamento do Verified By VISA, um serviço para aumentar a segurança das compras via Internet, tanto para os compradores quanto para os lojistas virtuais, agregando segurança devido à verificação de mais dados além da senha. Esta verificação é realizada através do banco emissor a partir da solicitação e validação

de informações e que devem ser de conhecimento apenas do titular do cartão. Lançamento do VISA GIFT CARD, um cartão presente prépago utilizado para presentear pessoas queridas. Uma alternativa prática e moderna,uma solução diferente e original; • 2002 - Lançamento do VISA TravelMoney, um cartão pré-pago, recarregável, protegido por senha, que pode ser utilizado em qualquer uma dos mais de 890 mil caixas automáticas da rede Visa/Plus espalhadas pelo mundo. O cartão pode ser carregado na moeda que os bancos emissores oferecerem e efetuar compras nos mais de 14 milhões de estabelecimentos comerciais da rede VISA. Além disso, é possível sacar o dinheiro na moeda local, facilitando o pagamento de pequenas despesas no país que o turista estiver; • 2003 - Lançamento no Brasil do VISA VALE, um cartão de refeição e alimentação, oferecendo aos trabalhadores um serviço de benefícios muito mais prático e seguro; • 2004 - O volume de transações com cartão de débito supera as de crédito; • 2007 - Lançamento em Setembro do VISA PayWave, uma iniciativa global que oferece um conjunto abrangente de ferramentas de tecnologia e aplicativos destinado a permitir o desenvolvimento de produtos e a comercialização de serviços de pagamentos por comunicações móveis.


A CAMPANHA GLOBAL No início de 2009, a VISA apresentou a sua primeira campanha publicitária global, intitulada “Mais pessoas Vão com Visa” (More people GO with Visa), reflectindo a sua evolução para uma companhia unificada e global. A nova campanha permitiu que a marca alinhasse o seu marketing mundial em torno de um só tema, que destaca a superioridade do valor oferecido pelos produtos da VISA em comparação ao cheque e ao dinheiro — incluindo mais segurança, mais controlo e mais conveniência. A campanha está centrada na principal estratégia de crescimento da VISA — migrar os pagamentos realizados por consumidores e empresas em dinheiro e cheque para um método de pagamento eletrónico melhor, ou seja, com cartões VISA. A marca foca o estímulo no uso dos produtos da VISA, ao invés do dinheiro ou cheque, motivo pelo qual a campanha foi idealizada para ajudar a promover o crescimento dos negócios de pagamentos das instituições financeiras clientes da marca. Ao mesmo tempo, oferece-lhes a oportunidade de concentrar os seus esforços de marketing na diferenciação dos seus produtos VISA aos da concorrência e no fortalecimento dos seus relacionamentos com os clientes finais. A campanha também apoia os estabelecimentos comerciais parceiros da VISA ao promover a conveniência de usar pagamentos eletrónicos em categorias de comércios-chave. O marketing é ao mesmo tempo otpimista e um retrato da realidade actual, em que as pessoas querem viver o momento, mas dentro das suas possibilidades. Reconhece que, mesmo em tempos de incerteza, as pessoas querem seguir adiante, e destaca que a VISA oferece inúmeros produtos de pagamento e ferramentas de educação e gestão financeira esclarecedoras para ajudá-las nesse sentido.

O marketing é ao mesmo tempo otpimista e um retrato da realidade actual, em que as pessoas querem viver o momento, mas dentro das suas possibilidades

A SEGURANÇA Todos os cartões da VISA seguem normas rígidas de segurança 1. Chip (opcional) para aumentar a segurança dos cartões e transações efectuadas; 2. Número do cartão contendo 16 algarismos agrupados em quatro unidades e começando com o número 4. É impresso em alto relevo no cartão; 3. Pomba (Dove) impressa no cartão que só aparece diante da luz ultravioleta; 4. Holograma tridimensional da Pomba (Dove) como mais um elemento de segurança do cartão; 5. Logotipo da Visa; 6. A letra V como elemento de segurança; 7. A data de expiração do cartão; 8. O nome do proprietário do cartão escrito em alto relevo; 9. Primeiros quatro dígitos do número do cartão impressos; 10. Um número de segurança, chamado de CVV2, composto por 3 algarismos; 11. Local de assinatura do proprietário do cartão

os slogans

More people GO with Visa. (2009) Life takes visa. (2006) It’s everywhere you want to be. (1985) Visa. Love every day. (Europa) Wherever it takes you, the future takes Visa. Could be cheap. Could be expensive. Visa. All you need.

A EVOLUÇÃO VISUAL O primeiro logotipo da VISA com as suas tradicionais cores azul e dourado, escolhidas para representar o céu azulado e as montanhas da Califórnia, surgiu em 1976. Em 2005 o tradicional logotipo passou por uma enorme reformulação visual ganhando ares modernos. Os cartões de crédito também foram reformulados ao longo dos tempos.

Life takes__blank__. Life takes Visa. All It Takes. Enjoy life’s opportunities.

Os cartões de crédito e de débito não só facilitam a vida dos consumidores, como se transformaram num símbolo de consumo global ECONOMIA & NEGÓCIOS · ANGOLA’IN

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| patrícia alves tavares

O milagre da vida Detentor da segunda taxa de fertilidade mais elevada do mundo, o país é uma das regiões africanas com maior número de nascimentos, ocupando a oitava posição no ranking mundial. Com uma média de 44 nados por mil habitantes, questiona-se o nível de desenvolvimento do sector obstetrício e neonatal, em que o grau de mortalidade infantil é ainda um factor preocupante. No momento em que a Organização Mundial de Saúde (OMS) revela que, algures no planeta, a cada minuto morre uma mulher por causa das complicações na gravidez, faz-se o balanço das condições em que ocorre o parto das gestantes e quais os avanços, em termos de cuidados de saúde da mãe e do recém-nascido.

“Apesar das iniciativas para evitar que as mulheres faleçam ao dar à luz, muitas vidas são perdidas. São quase 529.000 mortes por ano por causas associadas à gravidez”, revelou a subdirectora de saúde familiar e comunitária da OMS, Daisy Mafubelu, salientando que esta situação significa mais de 10 milhões de vidas perdidas numa geração. O factor mais preocupante diz respeito às economias emergentes, cujas habitantes são as que enfrentam maiores dificuldades no momento considerado por muitos como o mais importante da vida de uma mulher. Por outro lado, as previsões da Unicef para o corrente ano ditam o risco máximo para as grávidas e para os recém-nascidos nos países em desenvolvimento, pois o número de mortes maternas é 300 vezes superior nestas áreas do globo. O documento, intitulado “A situação mundial da infância 2009” é conclusivo: as probabilidades de a mulher morrer no parto ou devido a complicações na gravidez é altíssima, afectando sobretudo raparigas com idades entre os 15 e os 19 anos, enquanto que uma criança nascida numa região menos evoluída tem quase 14 vezes mais probabilidades de falecer durante o primeiro mês de vida. A agência apela à união de esforços para colmatar o défice de sobrevivência materna e neonatal nestes países. Recorde-se que na Ásia e em África, as elevadas taxas de fertilidade, a falta de profissionais com formação adequada e a debilidade e mau funcionamento dos sistemas de saúde têm consequências catastróficas e inaceitáveis para muitas mulheres jovens. As autoridades mundiais salientam os progressos que muitas regiões africanas sofreram nesta matéria, mas deixam o aviso de que apesar da melhoria nas taxas de sobrevi-

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vência infantil, ainda há um longo caminho a percorrer, uma vez que estes progressos não são tão visíveis no caso da mortalidade materna. Um dos países em que se registou um bom avanço nos cuidados de saúde materna e infantil foi precisamente Angola, em que o número de nados mortos desceu de 258 para 158, no período de 1990 a 2007. Contudo, o país ainda consta da lista das dez regiões em que o risco de morte materna é o mais elevado. NASCER EM ANGOLA Os últimos dados salientam que mais de metade dos 13,2 milhões de angolanos são crianças, em que a taxa de fertilidade é de 7,2 filhos por mulher e a taxa anual de crescimento da população é de 2,9%. A taxa de nascimento, em 2008, aponta para os 44,09 nascimentos por mil habitantes, tendo-se verificado um decréscimo de 0,94% em relação a igual período no ano anterior. As maternidades começam a instalar-se um pouco por todo o país, o que significa um passo decisivo para salvar milhares de vidas. O parto, assistido por profissionais especializados e em serviços que oferecem as condições necessárias para acompanhar as grávidas e os recém-nascidos, é uma mais valia para todas as jovens. Esta situação é uma realidade crescente, verificando-se uma maior afluência das parturientes às unidades de saúde. Por outro lado, as infra-estruturas estão dotadas dos utensílios essenciais para socorrer as pacientes, tendo-se verificando uma evolução gradual na aquisição de novos equipamentos e inauguração de especialidades fulcrais para o acompanhamento das gestantes. A formação de pessoal especializado e a chegada de médicos e obstetras de outros países tem sido uma mais valia e decisivo para a evolução do sector.

sabia que... Para que as crianças tenham acesso aos cuidados básicos de saúde é imprescindível que disponham de cédula pessoal. Em 2001, apenas de 29% dos jovens eram registados à nascença, o que significava que quase 70% não tinha acesso à cidadania e aos direitos a ela inerentes. Assim, o Governo, em colaboração com a Unicef, realizou duas campanhas nacionais de registo gratuito de crianças em todos o país (1998 e 2001-2004), o que se traduziu em mais de quatro milhões de meninos e meninas que ganharam uma identidade


COMPLICAÇÕES NO PARTO: AS RAZÕES Ainda de acordo com os relatórios da OMS, as principais razões da mortalidade nas parturientes estão relacionadas com hemorragias, infecções, abortos feitos em más condições (68.000 por ano), a hipertensão e a obstrução do trabalho de parto. A entidade vai mais longe ao afirmar que “nos países em desenvolvimento, especialmente na África Subsaariana, não houve progressos para o cumprimento dos Objectivos do Milénio da ONU”. Nestes países, registam-se em média 920 óbitos por 100.000 bebés. Tal está directamente relacionado com o facto de nestas regiões o número de partos realizados por pessoas capacitadas rondar os 34%. Esta razão, associada às condições precárias e de pobreza, faz da maternidade, especialmente em África, uma tarefa audaciosa, que comporta inúmeros riscos para a mãe e para o bebé. DRAMA: MORTALIDADE INFANTIL É um dos principais desafios que se impõem ao Ministério da Saúde e ao Governo de José Eduardo dos Santos. Os números revelam um panorama nacional assustador. Apesar de um ligeiro decréscimo entre 2007 e 2008, a taxa de mortalidade infantil regista 182.31 mortes em cada mil nascimentos, colocando o país no topo do ranking mundial. Em segundo lugar está a Serra Leoa, seguindo-se o Afeganistão. A malária é a principal causa de mortalidade em crianças com menos de cinco anos. A má nutrição é outra consequência, bem como as doenças respiratórias agudas e doenças diarreicas. No caso dos recém-nascidos, o número de nados-mortos e de bebés que perdem a vida nas primeiras semanas é elevado e muitas vezes apontado como consequência de complicações no parto e ineficácia de cuidados profissionais neonatais.

Na maioria dos casos, a mortalidade da mãe e posteriormente do bebé estão interligadas. As estatísticas veiculam que, desde o início da década, o número de grávidas que morrem enquanto dão à luz é das mais altas de mundo, numa média de 1700 por 100.000 partos. PROGRESSOS NAS UNIDADES DE SAÚDE Os números são a imagem de um país em crescimento e em renovação, consciente da necessidade de disponibilizar cuidados primários e essenciais para as futuras mães, que carregam no ventre a geração do futuro. Por outro lado, é evidente uma mudança das mentalidades, em que as mulheres estão mais conscientes da urgência de vigiar a gravidez e de recorrer a unidades de saúde, com profissionais capazes de garantir as melhores condições para a gestante e para o recém-nascido durante e após o parto. No Moxico, a maternidade provincial atendeu só no mês de Fevereiro 329 parturientes, onde se registaram nove nados mortos. A unidade realizou nesse período 20 cesarianas e atendeu 579 pacientes, em que se detectaram antecipadamente ameaças de aborto, infecções urinárias, paludismo e hemorragias pós-parto. O corpo clínico com 13 médicos especializados em ginecologia, obstetrícia, clínica geral e um anestesista, oriundos da Rússia, Coreia, Vietname,

Cuba e Angola. Outro caso de destaque pelos resultados positivos é a maternidade de Ondjiva (Cunene), que em três meses assistiu 595 partos. Porém, com uma média de 16 nadosmortos, registou-se um decréscimo de 81 partos em relação ao período anterior. A unidade, que conta com 24 funcionárias (enfermeiras e parteiras), procedeu ainda a 66 cesarianas, devido a complicações de vária ordem. A questão da saúde materna e neonatal é uma preocupação para o Presidente da República, que no último ano capacitou de Serviços de Emergência Médica a maternidade Lucrécia Paím e o Hospital do Prenda, em Luanda. Aliás, o Chefe de Estado mostrou-se satisfeito ao conhecer os avanços concretizados na unidade de saúde materna, que dispõe de tratamentos de inseminação artificial e de exames de DNA, que antes de 2008 eram realizados no estrangeiro. O espaço possui ainda salas de obstetrícia, de partos, de urgência, serviços de genética, anatomia patológica e cirurgia de vídeo laparoscópia. O serviço público de apoio às futuras mamãs integra ainda serviços gratuitos de despiste do cancro do colo do útero e de patologia da mama. Por seu lado, o Hospital do Prenda está inserido no projecto de avaliação e certificação da Gestão da Qualidade Hospitalar (CQH), revelando melhorias significativas ao nível do atendimento dos utentes.

maternidade em números: Taxa de nascimento: 44,09 nascimentos/ 1000 habitantes Natalidade Mundial: Ranking mundial: oitava posição (em primeiro lugar encontra-se a Nigéria) Taxa de mortalidade infantil: total: 182,31 mortes/ 1000 nascimentos homens: 194.38 mortes/ 1000 nascimentos · mulheres: 169.64 mortes/ 1000 nascimentos

Expectativa de vida no nascimento: população total: 37,92 anos · homens: 36,99 anos · mulheres: 38,9 anos Ranking mundial: 220ª posição

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Meia centena de bebés de mães seropositivas A cidade de Malange registou durante o último ano o nascimento de mais de recémnascidos de mães seropositivas. Embora 14 crianças estejam infectadas com o vírus HIV/ SIDA, as restantes fazem a terapia retroviral. O facto positivo está no facto de todas estas gestantes terem procedido ao tratamento durante a gravidez e de ter sido cumprido o protocolo durante o parto, o que demonstra uma maior consciencialização da doença. As crianças serão acompanhadas durante ano e meio e as probabilidades de não terem contraído o vírus são elevadas

DESAFIOS E EXPECTATIVAS Os exemplos anteriores demonstram que, embora haja muito trabalho a desenvolver (a todos os níveis), o país tem progredido ao nível de cuidados de saúde, em particular nesta área vital. Numa região em que a expectativa de vida no nascimento é de 37,92 anos, o principal desafio que se coloca ao Executivo está relacionado com a questão da mortalidade infantil, em que é urgente criar medidas de combate, de forma a abandonar a liderança deste quadro. O relatório de acção para 2009, divulgado pela Unicef, recomenda a disponibilização de sistemas de saúde, que integrem a continuidade da prestação de cuidados em casa, na comunidade, em postos de atendimento móveis e estabelecimentos/ infra-estruturas de saúde. No que concerne a cuidados continuados, a agência internacional aconselha a criação de um modelo de cuidados de saúde primários, que abranjam cada estádio da saúde da mãe, do recém-nascido e da criança. “Salvar a vida das mães e dos seus bebés recém-nascidos requer mais do que uma intervenção médica,” defende Ann Veneman, da Unicef. “Educar as raparigas é crucial para a melhoria da saúde materna e neonatal e é também um benefício para as famílias e sociedades”, finalizou.

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o perigo da automedicação O médico-ginecologista e obstreta Francisco Quinto, director clínico da Maternidade Lucrécia Paím, afirmou recentemente que a má utilização de medicamentos é muito frequente em mulheres dos 15 aos 30 anos, que recorrem à unidade com ameaças de aborto ou em estado grave, por terem usado comprimidos para interromper a gravidez entre os dois e os seis meses de gestação. A maioria das pacientes revelou ter-se automedicado, por aconselhamento de familiares e vizinhos. A problemática está no facto de os medicamentos serem vendidos sem receita médica. Esta atitude pode ter como consequências a infertilidade ou, em ultima instância, a morte


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| patrícia alves tavares

Flagelo do milénio É responsável por ceifar milhares de vidas. A SIDA preocupa a sociedade mundial, que ao longo dos anos luta e espera por uma vacina que possa pôr termo ao que muitos apelidam de ‘epidemia do século XXI’. África está no topo dos continentes mais atingidos, concentrando dois terços dos infectados. Michel Sidibé, responsável do Programa das Nações Unidas sobre o VIH/ SIDA (Onusida) acredita que a doença pode constituir uma “oportunidade” para mudar a sociedade, “para falar de questões difíceis, como a educação sexual, homofobia e, em geral, os Direitos Humanos”. Em Abril assinalou-se o Dia Mundial da Saúde e África continua a destacar-se pelas piores razões. Por cada pessoa que inicia o tratamento, quatro a seis outras ficam infectadas com o vírus da SIDA, revelou recentemente o relatório do Banco Mundial - “Sida em África: Plano de Acção 2007-2011”. O continente perdeu 25 milhões de vidas humanas desde 1981. A doença paira sobre a região, em que as organizações governamentais, não governamentais e humanitárias fazem o possível para travar a sua difusão. O Banco Mundial apela para que se continuem a desenvolver “esforços de prevenção para atrasar e inverter a taxa de novas infecções com o vírus”. Até finais de 2007, estimava-se que 50% dos seropositivos em todo o mundo eram do sexo feminino e que a África Subsaariana ocupava a maior parcela do globo, com 59% da população infectada. As raparigas, com idades entre os 15 e os 25 anos, são seis vezes mais susceptíveis de contrair a doença do que os rapazes da mesma faixa etária, sendo a principal causa de morte prematura neste grupo. Facto preocupante é a existência de mais de nove milhões de doentes que necessitam de tratamento e apenas 2,99 milhões (31%) são medicados.

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REALIDADE NACIONAL Curiosamente, Angola esteve ‘protegido’ durante muitos anos, registando um número de casos abaixo da média do continente. Isto porque durante o período da guerra, a escassa circulação de pessoas evitou a difusão da doença em larga escala. Porém, nos últimos anos o número de infectados cresceu e especialistas consideram que estão reunidos todos os factores de risco, ou seja, uma população jovem, com pouca escolaridade, altos índices de pobreza e a segunda taxa de fertilidade mais alta a nível mundial. De facto, a acção das organizações faz-se sentir por todas as regiões e os rastreios são uma realidade em muitas cidades, onde constantemente são detectados novos casos. A LUTA DAS ONG’S Cabe às instituições governamentais e não governamentais criar medidas de apoio e combate à proliferação da epidemia. Sabe-se que

mais de um quarto das instituições que tratam os doentes de SIDA existentes no país são de cariz religioso. A Cruz Vermelha, instalada na região desde 1978, actua na vertente da erradicação do VIH/SIDA. O projecto tem como meta capacitar os enfermeiros, reduzir o número de seropositivos, promover actividades de sensibilização (palestras, combate ao estigma, workshops e campanhas publicitárias) e melhorar a saúde pública. A Unicef intervém, desde 1976, em cooperação com o Governo, para satisfazer os direitos das mulheres e crianças. Em 2008, a agência mundial espera ter sido capaz de prevenir a propagação da doença, de forma a manter a taxa de seroprevalência do VIH/ SIDA abaixo dos 10% e de prestar cuidados aos infectados. A lista de instituições e profissionais que trabalham abnegadamente em prol do flagelo é interminável. A Rede Angolana das Organizações de Serviços de SIDA (ANASO) é a mais conhecida pelo

23% dos jovens angolanos confirma ter tido dois ou mais parceiros em três meses, apenas 55% usou preservativo com o último parceiro e só 9% admite estar em risco elevado de contrair o vírus


Os jovens com menos de 25 anos são o grupo de risco onde a prevenção é mais urgente trabalho desenvolvido junto das ONG’s nacionais, auxiliando a todos os níveis e realizando seminários, para formar e informar os activistas e elementos das múltiplas entidades. OS MAIS AFECTADOS Os jovens com menos de 25 anos são o grupo de risco onde a prevenção é mais urgente. Mundialmente, este grupo etário detém metade dos casos de novos infectados. E Angola não foge à regra. Os menores de 24 anos constituem 70% dos habitantes e as condutas reveladas por um estudo da Unicef são preocupantes: 23% dos inquiridos confirmaram ter tido dois ou mais parceiros em três meses, em que apenas 55% usou preservativo com o último parceiro e só 9% admitiu estar em risco elevado de contrair o vírus. O primeiro caso detectado no país data de 1988. O número real de casos não é conhecido. No entanto, quem actua no terreno lembra que existem outras questões que merecem destaque, como o caso das crianças órfãs, que abruptamente perderam os pais por causa da SIDA. As previsões apontam para que em 2010, o número de órfãos se eleve para os 331,000. Outra actuação consiste na detecção de grávidas infectadas e o rastreio dos recém-nascidos. Apenas no Moxico, no primeiro trimestre de 2009, foram diagnosticados nove novos casos de VIH/ SIDA em gestantes, que estão a ser tratadas no sentido de prevenirem o contágio da criança. PREVENIR As polémicas declarações do Papa Bento XVI aquando a visita aos Camarões e a Angola deixaram as organizações que trabalham no

local receosas de que tais afirmações deitem por terra o trabalho desenvolvido nos últimos anos, numa altura em que as Nações Unidas adiantam que a epidemia estabilizou no continente. O Sumo Pontífice declarou que o preservativo não é solução e que “agrava” o problema da SIDA, deixando as entidades médicas estupefactas, pois este é o método mais aconselhado pelas organizações que actuam na região africana, considerando-o essencial para travar o flagelo, em países onde a SIDA é transmitida primordialmente pelo acto sexual. Todavia, o maior problema das ONGs é a falta de meios financeiros. A prevenção consiste em criar centros de educação, fomentar o uso do preservativo e criar infra-estruturas de testagem e aconselhamento. Tal é comum no mundo ocidental, mas em África isto é dispendioso e sem apoios é difícil implementar estas técnicas, pelo que muitos ainda esperam estes instrumentos, fulcrais para mudar comportamentos e travar a propagação do vírus. A necessidade de angariar fundos tem levado as Nações Unidas a apelarem ao contributo dos países desenvolvidos, com o intuito de obter quatro biliões de dólares para o período de 2008-2012. No caso de Angola, a ONG britânica Oxfam vai disponibilizar 20 mil dólares a serem distribuídos pela AALSIDA, Enxame de Abelhas, UNDESCA, AAS, Cruz Vermelha de Angola, CAPDC, MER e COFASED. É uma boa notícia, pois há muito por fazer, desde as infraestruturas à carência de técnicos especializados. Mas, os progressos são evidentes, já que os centros de testagem e aconselhamento estão a ser implementados gradualmente.

O QUE É O VIH/SIDA? É a expressão usada para designar o Síndroma de Imunodeficiência Adquirida. É uma doença provocada por um vírus, que destrói as células sanguíneas, responsáveis pela defesa do organismo. O infectado (seropositivo) fica mais sensível a outras doenças e sem tratamento adequado pode morrer. Esta síndrome não tem cura.

estatísticas

DADOS MUNDIAIS (estimativas) População infectada em 2007 33 milhões Crianças infectadas em 2007 2 milhões Novos casos infectados com o HIV/SIDA em 2007 2,7 milhões Mortes com SIDA 2 milhões ÁFRICA SUBSARIANA População infectada em 2007 22 milhões Mortes com SIDA 1,5 milhões Órfãos por causa da SIDA 11,6 milhões ANGOLA População infectada 190,000 Mulheres com SIDA 110,000 Crianças com SIDA 17,000 Mortes com SIDA 11,000 Órfãos por causa da SIDA 50,000 Fonte: UNAIDS/WHOO, Julho de 2008 (dados relativos a 2007)

QUAIS SÃO OS SINTOMAS? A fase aguda manifesta-se até quatro semanas após o contágio. Muitos têm sintomas semelhantes aos da gripe, outros podem perder peso e, ocasionalmente, ficar sem mobilidade nos braços e pernas. Todos recuperam desta fase, vivendo um período sem sintomas, que pode prolongar-se por anos. Com tratamento adequado, os seropositivos nunca chegam à fase sintomática, em que surgem sinais da doença, como cansaço fora do habitual e perda de peso. Na última fase surgem infecções e tumores e designa-se por SIDA. COMO DIAGNOSTICAR? A doença é detectada a partir de análise sanguíneas, cujos testes de despiste devem ser repetidos três meses após a primeira análise. COMO EVITAR O CONTÁGIO? O vírus é transmitido através do sangue, sémen, fluídos vaginais e leite materno.

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| manuela bártolo

Exilados em casa Veteranos de guerra. O processo de paz trouxe inevitavelmente a necessidade de uma reflexão sobre a situação da reintegração sócio-profissional e económica dos ex-combatentes.

Um dos principais desafios do Governo, que assumiu a implementação, gestão e execução política, administrativa e técnica do Programa Geral de Desmobilização e Reintegração (PGDR), é precisamente monitorar um plano tão complexo num país extenso e pluri-cultural como Angola. O seu franco desenvolvimento tem resultado num aumento do número de oportunidades e melhoria dos cuidados de saúde, educação, estradas e outras infraestruturas que influenciam positivamente o processo de reintegração dos ex-militares. No entanto, ainda permanecem muitos desafios, como a necessidade de aperfeiçoar e adequar o Sistema de Informação para Gestão (SIG) e o seu acesso a todos os actores envolvidos no processo. Importa também fortalecer

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a colaboração e coordenação com outras instituições e programas do Governo. Uma das apostas actuais é a modernização agrícola para sustentabilidade do desenvolvimento agro-industrial dos projectos dos ex-militares e o incremento dos esforços de atendimento aos denominados grupos vulneráveis, como são disso exemplo os ex-combatentes portadores de deficiência. O Executivo pretende ainda continuar a promover as iniciativas dos beneficiários direccionadas para o associativismo/cooperativismo, bem como melhorar e simplificar o processo de aprovação e de processamento de projectos, sobretudo daqueles que optaram pelo meio urbano. A estratégia inicial do PGDR, que priorizou o desenvolvimento de projectos agro-pecuários

no meio rural, tem vindo a altera-se gradualmente, de forma a adaptar-se à realidade urbana actual. Algumas das actividades de formação e capacitação sócio-profissional na base do reconhecimento das competências profissionais adquiridas no contexto da guerra por uma grande maioria de ex-militares estão hoje mais direccionadas para aqueles que povoam o mercado urbano. Este êxodo geográfico torna, por isso, urgente novas estratégias para iniciativas de desenvolvimento de actividades geradoras de rendimento através de programas adaptados ao meio urbano, como o micro-crédito. O Governo tem ainda desenvolvido acções de assistência paralela nas diversas comunidades para evitar potenciais focos de tensão nas áreas de reassentamen-


to. O facto de uma grande percentagem dos ex-militares continuar inserida nas comunidades que eles mesmo escolheram tem sido um forte indicador de que a sociedade está a saber acolhê-los segundo um espírito de consolidação da paz e reconciliação nacional. A geração de rendimento para o seu auto-sustento, assim como o ingresso de menores no sistema de ensino, alfabetização de adultos e assistência de saúde, através da construção e reabilitação de escolas e postos médicos tem contribuído substancialmente para uma maior qualidade de vida desses cidadãos. MAIOR ESTABILIDADE SOCIAL Os programas de Desarmamento, Desmobilização e Reintegração (DDR) de ex-combatentes têm sido cruciais para estabilizar situações de pós-guerra. Tirar as armas das mãos dos ex-combatentes e proporcionar-lhes opções viáveis de educação, formação profissional e emprego tornaram-se acções essenciais para o controlo do crime, da violência e também da proliferação de armas pequenas que causam devastação, impedindo o estabelecimento da paz em sociedades consideradas ainda vulneráveis. Ter ex-combatentes, frustrados e frequentemente desempregados, é uma ameaça real ao processo de transição para a normalidade e o desenvolvimento do país, envolvendo-se em crimes e com grupos violentos de oposição política. A paz duradoura depende, na maioria das vezes, da conclusão bem sucedida de três etapas dos programas DDR.

1.

A redução do número de armas em circulação é o primeiro passo no processo de diminuição da violência armada em sociedades, como a angolana, que tem estado gradualmente a ultrapassar situações de conflito. O desarmamento consiste no recolhimento de armas pequenas e leves dentro de uma zona de conflito. Este processo requer a colabora-

ção dos ex-combatentes para que eles de facto entreguem as suas armas. O desenvolvimento de programas de coletas inclui o armazenamento e destruição de armas para mantêlas fora do alcance da sociedade;

2.

A segunda fase da desmobilização é o processo em que as partes envolvidas no conflito começam a desmobilizar as suas estruturas militares, com o retorno à sociedade civil dos seus combatentes. Durante esta fase, o número de pessoas no comando militar, incluindo os oficiais, forças paramilitares e forças de oposição precisa ser reduzido de maneira significativa. Neste processo, são registrados ex-combatentes e é-lhes oferecida assistência para garantir as suas necessidades básicas imediatas, como alimentação e transporte de regresso às suas comunidades;

3.

A reintegração permite que os excombatentes e as suas famílias se adaptem à vida civil sócio-económica. Por natureza, esse processo social, económico e psicológico é complexo e demorado. Normalmente envolve uma forma de compensar, capacitar e desenvolver projectos de geração de renda para os ex-combatentes. A longo prazo, a reintegração também depende do processo de democratização, desenvolvimento económico nos níveis locais e nacionais, além da formação de uma sociedade civil independente, sendo esse o processo porque Angola passa actualmente. IMORTALIZAR OS HERÓIS Atribuir especial atenção a todos os angolanos que deram o melhor de si em prol dos ideais independentistas e da afirmação de Angola na arena internacional é um dos grandes objectivos do Governo neste mandato. O Executivo quer igualar a história mundial, que oferece à humanidade nomes que jamais se apagam e que ficam registados para sempre em letras de ouro e na memória das pessoas. Angola tem nomes como os de Agostinho Neto, fundador da nação e primeiro presidente do país, Mendes de Carvalho, Amadeu Amorim, Beto Van-Dúnem, entre outros, que pelo seu sentido patriótico nunca deverão ser esquecidos. Segundo fontes do Governo, os esforços encetados servem como justo reconhecimento pelo papel desempenhado pelos nacionalistas angolanos durante a luta de libertação nacional, bem como de garantia que as futuras gerações saberão sempre identificar os sacrifícios que os seus antepassados envolvidos na luta contra o regime colonial português fizeram. Paralelamente a esses actos, está também o reconhecimento de símbolos como a bandeira e o hino nacional, fruto mais uma vez do sacrifício e sentido patriótico dos inúmeros heróis nacionais.

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| manuela bártolo

CRIME SOB AMEAÇA

O 100º lugar conquistado no ranking mundial dos países mais pacíficos do mundo é motivo de orgulho para a população e para a governação de José Eduardo dos Santos. A nação, de acordo com os dados de 2008, subiu 12 lugares em relação ao ano anterior. O estudo, efectuado pelo Instituto de Economia e Paz da Austrália e pela Economist Intelligence Unit, aponta o fim da guerra, a estabilidade política e as eleições como factores da evolução positiva. “A vinda do Papa Bento XVI a Angola é um sinal de que somos um país com segurança, estabilidade e bom para se viver”. As declarações são do vice-ministro das Finanças, Manuel Neto, e revelam o clima de paz e confiança que se vive por toda a região. Por outro lado, os dados divulgados acerca dos níveis de segurança também reforçam esta atitude. O Global Peace Índex avaliou o risco terrorista e o nível de criminalidade, incluindo o número de presos, de polícias e de militares por mil habitantes, não esquecendo o relacionamento com os países vizinhos. Contudo, há uma questão preocupante. Com os dados a apontarem para uma média de 16,8 milhões de habitantes, em 2008 (esperam-se 24 milhões para 2020), o contexto demográfico causa apreensão, uma vez que o crescimento populacional, aliado ao aumento da imigração e consequente pobreza, pode conduzir a uma escalada da violência e da criminalidade.

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POLÍCIA NACIONAL Comemorou recentemente três décadas de existência. O organismo é actualmente uma força robusta e eficiente. A modernização do país contribuiu decisivamente para o desenvolvimento dos mecanismos de defesa da população, pelo que nos últimos anos estas forças equiparam-se com tecnologias próprias. Foram criadas quatro divisões em Luanda, que integram cerca de 20 esquadras policiais, em que cada uma está dotada com três viaturas. No que concerne às instalações existentes, procedeu-se à reabilitação e ampliação da maioria dos espaços, que gradualmente têm sido dotados de meios de comunicação modernos e informatizados. No âmbito da reabilitação da força nacional, desenvolveram-se unidades específicas de apoio aos habitantes. Foram o caso da Brigada Moto da Unidade Operativa de Luanda (prevenção e combate à criminalidade violenta), da Brigada Escolar

(apoio nas escolas), da Brigada de Helicópteros (ajuda no combate ao crime), da Brigada Moto Especial da PIR (ligada ao terrorismo), da Brigada Canina e da Brigada Electrónica. Nos últimos anos, o organismo policial apostou na reestruturação dos órgãos de Investigação Criminal, em que o sector automóvel foi o mais visado, através da informatização do controlo dos condutores, veículos e a implementação de mecanismos que permitam detectar a falsificação de documentos. O sector recebeu mais de 300 viaturas e uma série de equipamentos (meios de locomoção, fardas e armamento), que permitem corresponder às necessidades das esquadras. CRIME VISTO À LUPA Todas as entidades admitem que os progressos da Polícia Nacional foram decisivos para a consolidação da paz. No entanto, à semelhança do que acontece um pouco por todo o


mundo, a criminalidade tem crescido, deixando a sociedade cada vez mais apreensiva. No Cunene, no primeiro trimestre de 2009 foram registados 286 crimes, em que foram detidas mais de duas centenas de cidadãos de origem diversa. No caso da região de Kuando Kubango, no último ano registou 1358 crimes, o que significa um acréscimo de 254 delitos em relação a 2007. Também no Uíge, em 2008, a polícia desmantelou 25 grupos que se dedicavam à prática de vários crimes nos municípios da província. A Polícia de Guarda de Fronteira também tem notado um aumento no número de indivíduos que tentam atravessar ilegalmente a fronteira. Desde o início do ano foram detidos 136 cidadãos na linha que separa Angola da Namíbia. FORMAÇÃO PORTUGUESA Portugal tem sido um parceiro decisivo no âmbito da segurança nacional. Só entre 2006 e 2007, a Guarda Nacional Republicana (GNR) ministrou em Luanda cursos de formação a 329 elementos da Polícia Nacional de Angola. Os 17 profissionais portugueses prestaram formação em áreas como a manutenção da ordem pública, a investigação criminal e de crimes de drogas. O mesmo protocolo permitiu a 35 elementos das forças nacionais participarem numa acção sob o tema “Justiça Disciplinar”, levada a cabo por dois representantes da Inspecção Geral da Administração Interna da República Portuguesa. A nível interno, a Polícia Nacional formou no último ano seis mil homens na especialidade de Ordem Pública e 2500 para a Protecção de Fronteiras. A polícia fiscal ganhou noventa novos colaboradores e área de Técnica e Táctica de Investigação Criminal conta com mais 182 elementos. Para os profissionais interessados em seguir uma especialização ao nível da licenciatura, a guarda nacional atribuiu 96 bolsas de estudo. FORÇAS DO NOVO MILÉNIO O principal objectivo da polícia do século XXI baseia-se no desarmamento da população. A tarefa está a ser desenvolvida por todo o país e tem gerado um impacto positivo entre os habitantes, que apoiam a medida criada pelo Governo, que tem apostado no reforço do sentimento de segurança. Até ao momento foram já recolhidas mais de 55 mil armas de fogo. “Sentimos uma redução do número de armas que proliferam no país, fundamentalmente na capital do país. Mesmo os homicídios e as agressões feitas ultimamente são mais com armas brancas”, frisou o coman-

condução com novas regras O novo Código da Estrada entrou em vigor em Abril e a Policia de Trânsito tem-se desdobrado em acções de informação e sensibilização, com o intuito de que os automobilistas cumpram as novas regras. O comandante-geral da Policia Nacional de Luanda partilha a opinião de que é fundamental a elaboração de um plano estratégico nacional de prevenção de segurança rodoviária. O desenvolvimento económico potencia um crescimento do número de carros. Porém, recorde-se que a condução faz mais de 1600 mortos por ano. Portanto, o aumento de veículos na estrada “representa um forte potencial de agravamento do risco de acidentes rodoviários, se não for devidamente acompanhado de medidas estruturantes, concertadas e eficazes para a promoção da segurança e da prevenção de sinistros”

dante-geral da Polícia Nacional, Paulo de Almeida. Concebido para ser aplicado em dois anos, o programa tem sido um sucesso. Outra das preocupações assenta na modernização da base de dados dos órgãos de defesa e segurança. A informatização do sistema exige investimentos que permitirão fazer o rastreio e estimativas sobre a posse ilegal de armas. No último trimestre, o Ministro da Defesa, Kundy Paihama, deslocou-se à Roménia para estabelecer parcerias no âmbito da actuação policial, com o intuito de dinamizar as forças de segurança nacionais. O novo protocolo permitirá desenvolver o sistema de planificação e controlo das forças armadas, de gestão dos recursos humanos, de medicina militar, entre outros.

CAN: PREOCUPAÇÕES ACRESCIDAS É o principal teste que se impõe à Polícia Nacional. Os responsáveis estão confiantes e garantem estar preparados para agir com profissionalismo e eficiência durante o evento desportivo, revelando possuir os meios e infra-estruturas necessárias. Aliás, estão já em curso acções de formação de formadores para assegurar o grande evento. As forças estão confiantes de que vão garantir a tranquilidade pública e o normal funcionamento das instalações. Para tal, alguns agentes estão a ser formados para servirem de intérpretes das línguas inglesa e francesa, durante o CAN. O certame será assegurado por 30 mil agentes, 12 mil dos quais especializados em policiamento desportivo.

polícia económica As infracções registadas por esta brigada têm sofrido um acréscimo na província do Moxico. A direcção de Inspecção e Investigação das Actividades Económicas detectou no último mês 35 transgressões contravencionais, em apenas sete dias, tendo ocorrido em estabelecimentos comerciais e mercados paralelos da cidade do Luena, Luau e Alto-Zambeze. Os delitos mais comuns consistem na ausência de boletim de sanidade, de nota de aquisição, de afixação de preço, de pagamento de impostos e de contrato de trabalho SOCIEDADE · ANGOLA’IN

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SOCIEDADE

| patrícia alves tavares

numa unidade de ensino pública, mas esta não tem capacidade para atender à procura, apesar de em cada ano existir um aumento do número de vagas”. A elevada afluência está relacionada com as condições de mercado, em que uma licenciatura ou um grau superior de habilitações é meio caminho para alcançar um emprego estável e bem remunerado, essencial para a saída da pobreza, em que muitos estudantes estão mergulhados. Se por um lado, para as empresas os qualificados não chegam para ocupar as vagas disponíveis, para os recém-licenciados, o tempo dispendido nas universidades significa uma saída profissional assegurada.

Estudantes preferem cursos superiores, cuja inserção no mercado de trabalho é mais facilitada e onde os ganhos são igualmente maiores

Diplomas que valem ouro “Para que um país se desenvolva tem de formar 70.000 técnicos superiores por ano”, citou recentemente Suzanete Costa, vicereitora da Universidade Agostinho Neto (UAN), tendo por base o diploma da UNESCO. De facto, a população universitária aumentou nos últimos anos. Porém, ainda não atingiu os valores impostos pela agência especializada da ONU.

Uma licenciatura ou um grau superior de habilitações é meio caminho para alcançar um emprego estável e bem remunerado Em 2008, o número de estudantes atingiu os 40.000, estando ainda longe do mínimo interposto. Os dados podem ainda não ser os desejáveis, mas o Governo tem-se mostrado empenhado em criar condições para formar e albergar todos os jovens que lutam por con-

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quistar uma vaga no curso dos seus sonhos. No caso da instituição pública - a UAN -, o último balanço indica que a faculdade tem 8.904 vagas para o corrente ano lectivo, ao nível das 17 unidades orgânicas, espalhadas por 12 das 18 províncias. Deste modo, o índice de acesso à esta instituição de ensino superior passará de 52 mil para 60 mil estudantes. Contudo, o acréscimo de quase duas mil vagas em relação ao ano anterior não é suficiente para colmatar o crescente interesse. O reitor João Teta reconhece que “é grande a procura de uma vaga

UAN FRAGMENTADA Em média, cada aluno disputa com oito colegas a colocação no curso da sua preferência. Em Luanda estão inscritas 44.107 pessoas para os reduzidos 3.629 lugares. O curso de Medicina é o mais procurado. Face às exigências dos novos tempos e do mercado de trabalho, a histórica UAN deu lugar a seis novos estabelecimentos, inseridos nas sete novas regiões académicas. A decisão foi aprovada em Conselho de Ministros, em Fevereiro, e tem a finalidade de adequar o ensino aos objectivos estratégicos de desenvolvimento económico, social e tecnológico. A criação de novas instituições públicas consiste na promoção de unidades orgânicas da universidade para instituições autónomas e na criação de raiz de outras de âmbito regional e provincial. As novas faculdades são a Universidade 11 de Novembro, Universidade José Eduardo dos Santos, Universidade Mandume, Universidade Kimpa Vita, Universidade Lwegi e Universidade Katiavala. INFRA-ESTRUTURAS CONFEREM QUALIDADE Actualmente, assiste-se à saída dos primeiros mestres das instituições nacionais e a uma acção governamental decisiva ao nível de equipamentos e material. A Universidade Independente de Angola é o caso mais recente e que exemplifica a importância de criar condições para que as faculdades possam promover um ensino de qualidade. O novo edifício, de cinco pisos, foi inaugurado em Março e, segundo Adão Nascimento, secretário de Estado do Ensino Superior, a obra é “valiosa” para a qualidade do ensino e para a orientação/ promoção permanente do mérito, da excelência e inova-


ção. Orçado em 12 milhões de dólares, o novo edifício (que alberga os cursos de Direito, Ciências da Comunicação, Gestão e Marketing e Engenharias) contém 34 salas de aula, com capacidade para 70 estudantes, nove laboratórios, três anfiteatros e outros serviços de apoio.

Governo despendeu 83 milhões de kwanzas para financiar bolsas de estudo a estudantes com elevado aproveitamento escolar e situação de dificuldade económica APOIOS ESTATAIS De acordo com a Universidade Católica de Angola (UCAN), os estudantes preferem cursos superiores, cuja inserção no mercado de trabalho é mais facilitada e onde os ganhos são igualmente maiores. O reitor da instituição, Dom Damião Franklin considera que o país necessita de profissionais de toda a estampa e não só de economistas e gestores. As escolhas são compreensíveis, uma vez que grande parte dos alunos procura uma profissão que compense o avultado investimento económico efectuado durante a licenciatura. Para alargar o ensino aos mais carenciados, o Executivo tem vindo, desde 2008, a apostar na atribuição de apoios financeiros, com o intuito de democratizar a escolaridade a todas as famílias. Só no ano passado, o Governo despendeu 83 milhões de kwanzas para financiar bolsas de estudo para estudantes com elevado aproveitamento escolar e situação de dificuldade económica. Além dos bolseiros internos, o Estado tem apoiado alunos carenciados que se encontram a fazer mestrados, doutoramentos e especializações no estrangeiro. A maioria dos licenciados opta pelas faculdades europeias e americanas. A nível interno, para este ano o Estado disponibilizou três mil bolsas.

Em 2012 cada província deverá possuir uma universidade pública

2012 É A META João Martins Tojo, consultor sénior da consultora KPMG, anunciou recentemente que “o número de angolanos que saem anualmente das universidades com os seus estudos terminados não corresponde ainda às necessidades do mercado e este é um assunto vital”. “Confiamos, porém, que esta carência esteja já bastante debelada no prazo de cinco ou seis anos”, frisou num artigo editado num suplemento publicado em Lisboa pelo Diário Económico. Preocupado com a situação, o Governo tem vindo a acelerar a aprovação de núcleos académicos em todo o país. O prazo limite determinado pelo Executivo fixa-se em 2012, altura em que cada província deverá possuir uma faculdade pública. De facto, a reorganização da malha universitária prevê a criação de novas instituições. “A rede de ensino superior inclui os estabelecimentos já existentes, bem como as novas unidades que surgirão ao longo dos tempos, à medida em que o Governo for disponibilizando os recursos para a criação das condições de infra-estruturas académicas, sociais, recrutamento e formação do corpo docente e outros serviços para o bom funcionamento das instituições”, ressalvou Adão Nascimento. O empresário concorda com a medida, pois “embora haja muitos angolanos qualificados, simplesmente não os há em número suficiente devido à expansão do mercado “.

A UAN foi pioneira na introdução do ensino virtual ao nível superior

curiosidades

ão em vigor, o ensino • No Sistema de Educaç cinco anos, repartido de o superior tem duraçã por dois níveis; ar, o nível superior es• No sistema a implement e Pós-graduação; ção tá repartido em Gradua r é possível após erio sup ino • O ingresso no ens 12 (na sequência de 11 anos de escolaridade ou ou técnico) um curso médio normal

ENSINO À DISTÂNCIA A UAN foi pioneira na introdução do ensino virtual ao nível superior. O projecto dá pelo nome CEAD-UAN e incorpora os Institutos Superiores de Ciências da Educação e a Faculdade de Ciências. O sistema tem semelhanças com o método de ensino presencial, em que os alunos são submetidos a provas de avaliação escritas e orais. Esta alternativa procura assim responder às dificuldades que muitos estudantes angolanos enfrentavam para concluir os estudos, pois eram obrigados a conciliar as aulas com o emprego. A necessidade de deslocações também é minimizada. Venâncio Costa, director do novo modelo, recordou que o projecto demorou seis a anos a ser concebido e que a implementação está a ser realizada de forma faseada. Recorrendo a plataformas de informática (de acesso gratuito à Internet) e e-learning, o CEAD-UAN conta com o apoio das parcerias efectuadas com Espanha, Portugal, Brasil e EUA.

uan à lupa • 1323 docentes, é o número de professores que dão resposta aos 52 mil alunos, ou seja, mais 25 que a média recomendada internacionalmente; • 8904 é o número de vagas disponíveis para o ano lectivo de 2009 • 5 mil licenciados formaram-se na universidade entre 1975 e 2002 • Até 2007 surgiram 7107 técnicos superiores • 2 mil é o número de licenciados que chegarão ao mercado este ano

ensino superior em números • 15 mil técnicos superiores, entre licenciados e mestres oriundos do ensino público, ingressaram no mercado de trabalho, após 1975 • 2012 é a meta para instituir o ensino superior em todas as províncias • 7 novas regiões académicas surgem este ano

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GRANDE ENTREVISTA

| patrícia alves tavares

“desporto é vida”

Com apenas 21 anos, Djalma figura na tabela dos 10 melhores marcadores da época da Bwin Liga portuguesa, com seis golos em 20 jogos. O menino prodígio do Marítimo é novato nesta competição, mas revela qualidades inquestionáveis para crescer e construir uma carreira no mundo do futebol. Cobiçado pelos clubes grandes de Portugal, como o SL Benfica e o FC Porto, o atacante angolano é uma das revelações da temporada 2008/09. A jovem estrela traz no sangue o talento do pai, o ex-benfiquista Abel Campos. A Angola’in assistiu ao último jogo dos verdes e vermelhos e conversou com o craque, que fez o balanço da promissora carreira, falou da terra natal, das expectativas na selecção e revelou o desejo de um dia voltar a morar em Luanda. “O país vai estar aberto para o mundo”

Aliás, essa exposição é um dos principais objectivos. Acha que isso está a ser conseguido?

Cabe a Angola organizar o Campeonato Africano das Nações (CAN). Como analisa o trabalho realizado?

Por enquanto estamos a crescer pouco a pouco. Angola vem de uma situação que todas as pessoas conhecem, mas é um país em crescimento, que tem muito para dar.

Tenho acompanhado tudo pelo site da CAN, observo os estádios desenvolvidos e acho que o país vai ganhar muito com esta competição. Vai evoluir bastante e creio que vai corresponder ao desafio. Temos pessoas competentes para isso e que têm capacidades.

Quais serão os principais benefícios para o país? Acredito que será sobretudo ao nível das infra-estruturas. Claro que Angola cresce e ganha muito com isto a todos os níveis. É bom para o país acolher o CAN, pois vai estar aberto para o mundo e vai desenvolver-se.

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“Sempre ao lado do futebol” É fundamental para um território apostar no desporto? Sim. Acho que o desporto é saúde, logo é vida.

A modalidade tem evoluído? Tem crescido. Eu vejo que o basquetebol também tem uma grande dimensão no país, tal como o voleibol.

E em termos de formação...Há um bom trabalho a esse nível? Eu acho que estão a ser criadas estruturas para podermos ter uma melhor formação. Isso acontece cada vez mais e faz sentido, porque como sempre digo: Angola cresce e as coisas nascem pequenas e vão evoluindo. Aliás, temos vários programas didácticos, que são igualmente formas de instruir a população, sobretudo a mais jovem.

E o futebol o que significa para os angolanos?

Instrução é educação?

É uma paixão. Cada vez que lá vou, vejo que o povo, por diversas necessidades que tenha, está sempre ao lado do futebol.

Também, bem como a disciplina. Penso que é bom para todos os jovens de Angola terem bons profissionais no comando.


Como analisa o campeonato angolano? Tem melhorado cada vez mais. Vejo pelos dados de mercado, que estão completamente inflacionados. Chegam a parecer valores europeus. Sem dúvida que está a evoluir e os treinadores estrangeiros trazem alguma qualidade.

Quais as diferenças do futebol angolano em relação ao europeu ou brasileiro? Apresenta show de bola e tem trabalho táctico. O rigor táctico na Europa é complicado, mais difícil de adaptar. Contudo, com a chegada de treinadores europeus a Angola está a ser feito um trabalho exemplar, no sentido em que têm tentado incutir essa prática e esse rigor nos jogadores angolanos.

“Selecção está motivada” Em relação à formação nacional, como analisa o trabalho desenvolvido? Ainda está a crescer. Falo por mim que tenho poucas participações ainda e como somos atletas de vários continentes, é um pouco complicado conseguir concentrar a equipa em tão curto espaço de tempo, pois temos muitas viagens e rotinas diferentes. Com trabalho e tempo vai ser possível.

As expectativas para a prestação da selecção no CAN são altas? São boas. Temos tido maus resultados, como todos sabem, mas vamos ter um tempo de preparação e isso vai melhorar a coesão da equipa. É complicado, mas estamos motivados.

O facto de haver jogadores em vários pontos do mundo é um dos obstáculos?

conseguir corresponder às expectativas. Tem características suficientes para isso.

“Se é o que tu queres, vais conseguir”

“Disciplina, seriedade e trabalho”

E no seu caso, qual foi o caminho que percorreu até chegar ao Marítimo?

Angola pode ser considerada um Brasil em termos de pequenos prodígios? Sim, claro que o Brasil está muito mais avançado mas nós temos tempo e estamos a evoluir rápido.

Que obstáculos os jovens podem enfrentar para chegarem aos relvados internacionais? Se existirem mais profissionais a dirigir as grandes infra-estruturas, os jovens terão menores dificuldades e será melhor para eles, pois cria-se uma disciplina e seriedade no trabalho, o que é fundamental. O desporto é trabalho.

Disciplina e trabalho são princípios fundamentais para se ser um bom desportista? Sem dúvida. Os jovens e os angolanos gostam de muita coisa e é preciso seriedade e dedicação naquilo que se faz.

Que dicas daria aos mais novos que desejam jogar futebol?

Fiz uma formação no clube de Loures e posteriormente tive uma passagem rápida pelos juniores do Alverca. No primeiro ano de profissional ingressei no Marítimo, no qual estou até agora, pelo terceiro ano consecutivo. Inicialmente estive na equipa B e mais tarde consegui ganhar o meu espaço no grupo principal.

É filho de Abel Campos, ex-jogador do Benfica. Esse factor foi relevante na escolha da profissão? Não me influenciou porque tenho gosto pelo que faço e o meu pai “nunca se meteu” na minha vida profissional. Deixou-me seguir o meu caminho e disse-me sempre “se é o que tu queres, vai à procura e vais conseguir”.

Portanto, já tinha essa vocação. Com que idade despertou o ‘bichinho da bola’? Foi com 11 anos, altura em que comecei a jogar nas formações.

O seu pai dá-lhe conselhos?

Aconselho a não desistirem dos sonhos e a lutarem ao máximo por eles, sempre com dedicação.

Ele acompanha o meu trabalho, mas não é muito interveniente. Apenas nas questões mais fundamentais. Claro que o meu pai alerta-me sempre para alguns perigos.

Falamos da aprendizagem dos jovens...E a formação dos técnicos?

Que características fazem de si um atleta de distinção?

Está a ser feito um bom trabalho. Por exemplo, temos casos claros como o do Santana e do Manucho que conseguiram singrar, que saíram do futebol angolano para bons campeonatos. É sinal da qualidade da formação.

Não sou um jogador assim tão diferente. Sou um bocado mais rápido que os outros. Tenho alguma velocidade que é talvez a característica mais notável e que o meu pai também já tinha. Mas estou sempre a aprender.

Sim, tem-se tentado unir o mais rapidamente a selecção. Só que não é fácil, pois estamos em campeonatos diferentes. Contudo, vamos trabalhar para fazer um bom CAN.

E há coesão a esse nível? Há coesão, há um grupo, sem dúvida. Somos todos da mesma nação e todos sentem isso. Creio que com um trabalho mais intenso e com mais tempo vamos conseguir formar uma equipa muito forte.

Considera que o campeonato do mundo da África do Sul vai tornar o continente mais visível aos olhos do mundo? É igualmente relevante para Angola? É marcante para Angola e para o continente. Para África é muito importante até porque é o primeiro mundial organizado neste território e, com certeza, que o país anfitrião vai

talento genético O ditado ‘filho de peixe sabe nadar’ aplica-se na perfeição ao médio do Marítimo. Djalma é filho de Abel Campos, antigo internacional angolano, que brilhou nos relvados portugueses e era conhecido em campo pela velocidade e agilidade. Abel Campos jogou pelo SL Benfica nos finais da década de 80, após ter-se destacado no Petro de Luanda. Actuava como médio-ala e actuou ao lado de figuras como Chalana e Diamantino. O filho é presença assídua no plantel da selecção comandada por Mabi de Almeida

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GRANDE ENTREVISTA Herda-se estas características ou como diz um poeta português é “90% de trabalho e 10% de inspiração”? Herda-se, mas é sobretudo 90% de trabalho porque há fases complicadas e há que saber superá-las para conseguir chegar até aqui.

Qual foi a fase mais complicada? Fiquei um ano sem jogar quando tinha 17 anos. Não arranjava colocação em nenhum clube e pensei em desistir. Porém, procurei a oportunidade, falei com os meus colegas e consegui um lugar numa equipa.

Considera-se um homem de sorte ou um homem de luta? Um pouco dos dois. Enquanto angolano sou uma pessoa luta. Podemos não ter tanta sorte, mas lutamos para obtê-la. E acho que quem batalha consegue alcançar a sorte. Para quem não o faz é mais difícil.

“Ainda não recebi nenhuma proposta”

ficha técnica Nome: Djalma Braume Manuel Abel Campos · Idade: 21 anos · Altura: 1,75 cm · Peso: 72 kg Clube: Club Sport Marítimo · Posição: Médio · Camisola: 17 · Clubes: Loures, Alverca, Marítimo

raio x Como olha para o futuro próximo? Encaro de forma natural porque quero trabalhar e ainda não cheguei ao pico do meu sonho, que é chegar aos grandes clubes. Tanto pode ser uma equipa portuguesa, como os gigantes europeus.

Sonhava com alguma equipa quando era pequeno? Barcelona pela mística e porque fui habituado a ver os jogos. É um clube que sempre teve um futebol mais apelativo, mais de espectáculo, parecido com o angolano que gosta de fintar e driblar.

Um livro: Bíblia · Uma música: Do For Love do 2 Pack · Estilo musical: kizomba e hip-hop Um filme: “À procura da felicidade” · Um destino: Angola · Um restaurante: Chinês Um prato angolano: Calulu · Uma paixão: a mãe · Um jogador: Thierry Henry Um treinador: Sebastião Lazaroni · Momento mais importante da carreira:Primeiro golo Segunda paixão: Playstation · Jogo preferido: Pro Evolution Um clube angolano: Petro de Luanda · Um jogador angolano: Love Cabungula

Por enquanto, o meu objectivo não passa pelo meu país, não é a meta principal. O futuro passa mais pela Europa. Mas não sabemos as voltas que a vida dá. Claro, que penso um dia morar em Angola.

fra-estruturas normais e às vezes queixamonos, quando lá cheguei vi um desnível social muito grande. Então houve um choque, mas actualmente está a crescer e acredito que isso vá desaparecer.

Ainda tem raízes naquele território?

Sente que o país está a fervilhar de progresso?

Thierry Henry. Acho que já não consigo alcançá-lo (risos) mas gosto da sua forma de jogar.

Sim, tenho. Não conheço muito de Angola, porque saí de lá com três anos e só regressei aos 18. Mas vou voltar em breve para o CAN.

Que características da sua personalidade destaca e são importantes para um desportista?

Os angolanos são muito cristãos. A fé em Deus ajuda a superar as dificuldades?

Tem que ser ambicioso e tem que ser forte, para saber superar os problemas e nunca desistir.

Sim, acredito plenamente e tenho fé. Dizem que fé é o que está escrito, é acreditar sem ver e eu tenho muita fé.

Tem algum ídolo?

A próxima época passa pelo Marítimo? Não posso adiantar factos porque não há nada. Vi nos jornais o interesse de vários clubes, mas ainda não recebi propostas concretas. Para já, tenho pela frente mais uma época no Marítimo.

“É importante ter liberdade de expressão”

Sim. A última vez que fui à capital foi há cerca de um ano e vi diferenças, pois regressei no intervalo de dois anos. Claro que temos uma série de situações que complicam, mas trabalha-se agora e depois tira-se os lucros.

É da opinião que a juventude, mesmo estando fora, deve ajudar a nação? Sem dúvida. Nós crescemos fora, podemos ter outra cultura, mas conhecemos os nossos problemas em Angola e então temos que ajudar nesse sentido, incutindo sempre disciplina e seriedade.

“Penso morar em Angola”

Saiu de Luanda com três anos e só regressou por volta dos 18. O que sentiu quando conheceu a sua terra?

Como vê as presidenciais deste ano? É um processo democrático relevante?

Gostava de algum dia voltar à terra natal e jogar num clube da região?

Conheci a realidade de perto porque uma coisa é o que vemos na televisão e outra é estarmos em Angola. Impressionou-me. Tendo em conta o que vejo em Portugal, que possui in-

É importante. É essencial para um país que este seja democrático e que as pessoas tenham liberdade de expressão e possam decidir o que querem para a sua nação.

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NO FIM DO MUNDO Deambulo pelo fim do mundo. Numa experiência a solo, sinto que o deserto quer engolir-me. Recuo, avanço, avanço, recuo… Entre o medo e a excitação vivo encontros com horizontes infinitos, assisto ao movimento do sol e aos céus cambiantes. Contemplo uma terra que se faz ao Atlântico numa relação sem obstáculos, embalados pelo vento. Curoca, Arco, Tombua e tantos outros. Nomes… Quebrando a monotonia, são sinónimos da surpresa de encontrar presença humana ou vestígios da mesma no meio desta aridez imensa. Primeiro uma casinha abandonada, depois uma linha férrea e o barco do pescador. E os sorrisos. E o espanto! O espanto do cruzamento com esta cara pálida em terras alheias tirando fotografias. “Aqui! Aqui!” Gritam alegremente e fazendo poses, imploram por aparecer numa fotografia que os levará longe!

texto + fotografias - Ana Rita Rodrigues - www.lightfragments.com

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TURISMO

| mónica mendes

a caminho da índia País de pedras preciosas, de sedas magníficas, de templos e palácios exuberantes, de especiarias exóticas, da dança do ventre, dos elefantes, das cores intensas, do incenso e da intimidade da alma. Terra de tradições milenares e grande diversidade cultural, este é o místico destino que temos para descobrir este mês. Venha conhecer uma das civilizações mais antigas do mundo : a Índia.

Um país surpreendente, centrado no continente asiático, o segundo mais populoso e o sétimo maior do mundo – esta é a Índia – que ainda abriga uma enorme diferença étnica que é naturalmente percebida em todos os detalhes. Esta bela nação, mística e exótica, é encantadora e desafiadora, por isso, para desfrutá-la, é preciso esquecer o pensamento lógico e deixar-se envolver pelas suas cores e crenças. A diversidade de culturas, rituais e modos de vida milenares está presente em tudo, tanto nas grandes cidades, quanto nas pequenas aldeias do interior. Dos luxuosos palácios e monumentos do Antigo Império, aos seus diferentes tipos de santuários ecológicos, o país fascina o mundo com seu jeito particular de ser. Na verdade, o mosaico histórico e cultural da Índia é único. A civilização indiana é uma mistura de correntes islâmicas e ocidentais. Os monumentos, esculturas e pinturas do país são testemunhas da procura nacional pela harmonia e pela diversidade que se reflectem como um todo na cultura nacional. Por outro lado, até as características geográficas da Índia são tão variadas, quanto coloridas. Os Himalaias inspiram a natureza humana em alturas divinas, oferecendo também oportunidades de lazer e uma ampla gama de locais para praticar desportos de aventura. Algumas das praias na Índia são consideradas como as melhores do mundo, com uma irresistível combinação de sol, areia e mar, oferecendo um lugar perfeito para quem está à procura de férias. A riqueza dos ecossistemas existentes no país, consistindo de reservas em biosferas nacionais, recifes de coral, desertos, montanhas e florestas, assim como a flora e fauna existentes, são uma excelente oportunidade para quem quer optar pelo turismo ecológico. LOCAIS A NÃO PERDER

A rica herança arquitectónica da Índia é um dos pontos a não perder para quem visita este país. Aqui podemos apreciar a combinação de técnicas arquitectónicas Hindus, Budistas, Muçulmanas, Mongóis, Britânicas, Francesas, Gregas, Romanas, Dinamarquesas e Portuguesas. É como ter um resumo da arquitectura mundial num só lugar. A Índia é também um museu aberto. A UNESCO tem declarado 16 monumentos como Património da Humanidade. É a maior concentração de patrimónios declarados num único país. O mais conhecido, é sem dúvida o Taj Mahal (ver caixa de texto). Este monumento fica próximo de Deli, em Agra, e foi recentemente anunciado como uma das Novas Sete Maravilhas do Mundo Moderno. Em Deli, uma das cidades mais antigas do mundo, podemos sentir uma grande combinação de cores e sons. Aqui é obrigatório visitar a parte velha da cidade apreciando assim costumes ancestrais do povo indiano e ainda a parte de Nova Deli onde existem alguns locais fantásticos como

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o monumento Qutub Minar (o minarete de tijolo mais alto do mundo); tumba de Humayun ayun (construção idealizada pela esposa do imperaperador Mongol); India Gate (memorial de guerra, uerra, que lembra o Arco do Triunfo em Paris); área do Parlamento; Red Fort (símbolo do Império pério Mughal, construído em 1648); Memorial al de Gandhi (a maior mesquita da Índia) e o imenso enso bazar Chandni Chowk. PRECIOSIDADES ARQUITECTÓNICAS A VISITAR ITAR

Tal como já realçamos anteriormente, a riqueza ueza arquitectónica deste país asiático é de tal grandeza que estas poucas páginas não são suficientes para a descrever. No entanto, deixamos amos aqui algumas sugestões de cidades e monuonumentos, não tão mediáticos como o Taj Mahal, ahal, mas imensamente bonitos e deslumbrantes, ntes, que valem a pena serem observados de perto. erto. Comecemos por Fatehpur Sikri. Esta é uma cidade indiana abandonada com aproximadamente 500 anos, e que permanece em óptimo estado de conservação. Fatehpur Sikri foi construída no século XVI em estilo indoislâmico. Apenas catorze anos depois da sua construção ela foi abandonada por falta de água. Em 1568, o Imperador Akbar não tinha herdeiros que o substituíssem e foi à procura de ajuda mística, com Shaikh Salim Chisti, que morava na vila de Sikri. A profecia do santo confirmou-se e nasceu o primeiro dos três sucessores do imperador. Assim, Akbar, que era um grande construtor, planejou uma cidade que serviria de apoio à capital do império, Agra, e escolheu que ficasse próxima de Sikri. A cidade foi matematicamente construída, em granito vermelho e permanece totalmente preservada. Um pouco mais distante está Jodhpur, a “Cidade Azul”, que fica situada sobre uma imensa colina e onde quase todas as casas e lojas têm a fachada pintada de azul, dando-lhe um

A ÍÍndia di é um país í que congrega inúmeros i ú festivais f ti i e feiras, f i revelando o seu peculiar artesanato e belos objectos artísticos que representam o místico estilo de vida da sua sociedade. É por isso mesmo que este é um destino considerado como um verdadeiro paraíso para quem aprecia arte. Aqui podemos encontrar admiráveis peças esculpidas em madeira, caixas de lembranças pintadas a mão, estátuas em mármore e latão. Os bazares, barracas e mercados são verdadeiras tentações, com as suas sedas, bijuterias, tapetes, porcelana, antiguidades, prataria e pedras preciosas

ar encantador. Um dos melhores passeios é caminhar pelo centro da cidade para apreciar a bela arquitectura e conhecer as diversas opções de entretenimento e alimentação. Jaipur é a cidade que se segue. Foi fundada em 1728 e é conhecida como a cidade rosa. Em 1876, o seu marajá mandou pintá-la dessa cor, para a visita do príncipe de Gales. Desde então a cidade é regularmente pintada. No final de Março, as procissões de elefantes anunciam a Holi, a festa da Primavera Na cidade, homens desfilam de turbante e mulheres desfilam trajando sáris de cores cintilantes e

coloridas. A cidade é sede da cultura dos Rajastanis (uma etnia de guerreiros). O Palácio dos Ventos é uma das melhores atracções locais, com centenas de minúsculas janelas, que foram propositadamente projectadas para que as mulheres do harém espreitassem as ruas sem serem vistas. Outra visita obrigatória é o Forte Amber, antiga capital de estado, onde se pode subir até ao topo da colina no dorso de um elefante. Hampi (também conhecida por Cidade da Vitória) era a capital do Império Vijayanagara de 1336 a 1565, ocupa uma área de cerca de

ONDE FICAR A Índia é também conhecida pelos hotéis luxuosos que possui. São atracções à parte, não só pelo luxo mas também pelos rituais nos quais os hóspedes são recepcionados por mulheres elegantes, vestidas com roupas tradicionais representando a cerimónia “Aarti”, onde o tradicional ponto de tinta vermelha (Tikka) é colocado na testa de cada pessoa. O primeiro hotel de luxo na Índia foi o Oberoi Rajvilas, inaugurado em 1997 na província de Jaipur. Movido pelo sucesso do Rajvilas, o grupo Oberoi Hotels construiu outras vilas pelo país. O Amarvilas, em Agra, fica a menos de dois quilómetros do Taj Mahal, o Udaivilas, em Udaipur, à beira do Lago Pichola, faz o hóspede sentir-se um verdadeiro marajá desde a chegada. Para além do Oberoi, podemos optar pelo Amanresorts, uma das maiores cadeias de hotéis de luxo no mundo. A Aman construiu o Amanbagh em Alwar, numa área que pertencia a um verdadeiro marajá; o hotel tem 40 quartos com área de quase 100 metros quadrados, e está localizado nas proximidades de um santuário ecológico, onde vivem tigres e panteras. Por outro lado pode sempre optar por um daqueles palacetes rústicos do século passado que resolveram também disputar um espaço do mercado. O maior exemplo é o Devi Garh Fort Palace que conseguiu combinar uma moderna decoração minimalista com a imponente arquitectura do século XVIII. E para completar, temos ainda o Four Seasons Mumbai (Mumbai, antiga Bombaim, é a capital financeira da Índia), inaugurado em 2008, apresenta o costumeiro padrão cinco estrelas da rede Four Seasons aliado a uma gama de serviços voltados principalmente para homens de negócios; por exemplo, hóspedes podem alugar um dos BMW série 7 para se movimentarem com conforto pelo conturbado trânsito indiano. TURISMO · ANGOLA’IN

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TURISMO 26 quilómetros quadrados no vale do Tungabhadra, em Karnataka, Índia. Foi declarada Património Mundial da UNESCO em 1986. Visitada já no século XV por italianos e persas, foi no século XVI visitada pelos portugueses Duarte Barbosa, Domingo Paes (este viajante português, que viveu em Hampi durante dois anos, descreve o monarca da altura - Krishnadeva Raya - como perfeito em todas as coisas) e Fernão Nunes. Todos eles deixaram relatos da grandiosidade e beleza de Hampi. No início do século XVI, um viajante persa - Abdur Razzak - deixou escrito que “a cidade era de tal modo grandiosa que os seus olhos nunca tinham visto nada parecido e que não tinha conhecimento de existir no mundo lugar como este”. No “coração” de Hampi existem cerca de 350 templos. Existem também fortificações, um vasto e muito elaborado sistema de irrigação, esculturas, pinturas, estábulos, palácios, jardins, mercados, etc. Hampi é composto pelo “Centro Sagrado” (onde se localizam, entre outros, os templos de Vitthala, de Virupaksha, de Krishna e de Achyuta Raya, a estátua de Narasimha,...), pelo “Centro Real” (onde ficam o templo de Hazara Rama, o estábulo dos elefantes, os quarteis, o tanque dos degraus, o Palácio da Rainha,...) e os centros suburbanos. Em 1565 os sultões de Decão, alarmados com o crescimento e poder do Império de Vijayanagara, aliaram-se e derrotaram Rama Raya na batalha de Talikota. A capital foi ocupada e o império nunca mais recuperou. Khajuraho é hoje um dos mais populares destinos turísticos na Índia, provavelmente pela presença do maior grupo de templos hindus medievais, famosos pelas suas esculturas eróticas, onde serviu de capital religiosa à dinastia Hindu Rajput dos Chandelas que controlou esta parte da Índia entre o século X e o século XII os quais seriam seguidores do culto tântrico. O conjunto de templos foi construído ao longo de cem anos, desde o ano 950 até ao ano de 1050, dotado de uma área central protegida por uma muralha com oito portões, cada um dos quais com duas palmeiras de ouro. Na época áurea da cidade, contavam-se mais de 80 templos Hindus, dos quais apenas 22 se encontram em estado razoável de conservação, espalhados numa área de cerca de 21 km². São um exemplo da ligação entre a religião e o erotismo, sendo excelentes demonstrações dos estilos arquitectónicos da Índia que ganharam popularidade devido à representação lasciva de alguns aspectos da forma de vida tradicional durante a época medieval naquela região. Viriam a ser redescobertos somente durante o século XX, tendo sofrido bastante com o crescimento das selvas circundantes que causaram prejuízos a alguns dos monumentos. Também este conjunto de monumentos foi classificado pela UNESCO como Património Mundial.

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A MAIOR PROVA DE AMOR DO MUNDO O Taj Mahal é um mausoléu situado em Agra, uma cidade da Índia, e o mais conhecido dos monumentos do país. Encontra-se classificado pela UNESCO como Património da Humanidade. Foi recentemente anunciado como uma das Novas Sete Maravilhas do Mundo Moderno. A obra foi feita entre 1630 e 1652 com a força de cerca de 22 mil homens, trazidos de várias cidades do Oriente, para trabalhar no sumptuoso monumento de mármore branco que o imperador Shah Jahan mandou construir em memória da sua esposa favorita, Aryumand Banu Begam, a quem chamava de Mumtaz Mahal (‘A jóia do palácio’). Ela morreu após dar à luz o 14º filho, tendo o Taj Mahal sido construído sobre o seu túmulo, junto ao rio Yamuna. Assim, o monumento é também conhecido como a maior prova de amor do mundo, contendo inscrições retiradas do Corão. É incrustado com pedras semipreciosas, tais como o lápis-lazúli, entre outras. A sua cúpula é costurada com fios de ouro. O edifício é flanqueado por duas mesquitas e cercado por quatro minaretes. Supõe-se que o imperador pretendesse fazer para ele próprio uma réplica do Taj Mahal original na outra margem do rio, em mármore preto, mas acabou deposto antes do início das obras por um dos seus filhos

INFORMAÇÕES ÚTEIS ÁREA 3.287.782 km² CAPITAL Nova Deli POPULAÇÃO 1,080 bilhão (estimativa 2005) MOEDA Rúpia indiana DATA NACIONAL 26 de janeiro (Proclamação da República); 15 de agosto (Independência); 2 de outubro (aniversário de Gandhi) LOCALIZAÇÃO Centro-sul da Ásia CLIMA Clima tropical na maior parte do país PRINCIPAIS CIDADES Mumbai (ex-Bombaim), Calcutá, Nova Deli; Madras, Bangalore

IDIOMAS Hindi (oficial), inglês e línguas regionais (principais: telugu, bengali, marati, tâmil, urdu, gujarati) RELIGIÃO Hinduísmo 80,3%, islamismo 11% (sunitas 8,2%, xiitas 2,8%), cristianismo 3,8% (católicos 1,7%, protestantes 1,9%, ortodoxos 0,2%), sikhismo 2%, budismo 0,7%, jainismo 0,5%, outras 1,7% (em 1991) ECONOMIA Produtos Agrícolas: algodão em pluma, arroz, chá, castanha de caju, juta, café, cana-de-açúcar, legumes e verduras, trigo, especiarias e feijão. Mineração: minério de ferro, diamante, carvão, asfalto natural. Indústria: alimentícia, siderúrgica (ferro e aço), têxtil, química e medicamentos


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TURISMO

| mónica mendes

charme europeu no caribe De praias paradisíacas a casinos passando pela deliciosa culinária, Saint Martin é uma ilha de luxuosos resorts, acolhedora e ao mesmo tempo agitada pela movimentação turística. Na verdade, esta é a única ilha do Caribe que oferece a cultura de países europeus e a sua própria mesclagem caribenha, sempre com um toque de charme. E por estranho que pareça, neste destino de sonho, pode escolher a parte da ilha de acordo com o tipo de férias que procura. Descubra aqui como. A ilha de St. Martin ou St. Maarten é um destino top no Mundo pelo seu valor, e por proporcionar férias perfeitas, sejam elas românticas, familiares ou turismo de luxo. Apesar de estar situada no Caribe, a ilha é dividida por duas nações diferentes. Cerca de dois terços do seu território é francês, e um terço holandês. Apesar da divisão, não existem fronteiras delimitadas, a não ser por alguns monumentos que mostram ao visitante em qual lado ele se encontra. Mesmo a população pode trabalhar ou viver livremente por todo o território sem restrições. Ou seja: é a reunião do charme europeu com a hospitalidade caribenha. Actualmente, St. Maarten - St. Martin é uma das ilhas mais procuradas do Caribe, inclusive por celebridades do mundo inteiro. Isto porque apesar da sua área reduzida, é impressionante a quantidade de paisagens, cultura e en-

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tretenimento que este paraíso do mar caribe oferece para todos os gostos. Além das praias paradisíacas, é possível encontrar montanhas, trilhas, cidades pitorescas e muitas florestas selvagens. Mas não são apenas belezas naturais que o viajante encontra em St. MaartenSt. Martin. A ilha é considerada completa por quem procura também restaurantes estrelados, vida nocturna agitada e, principalmente, compras livres de impostos. Sem dúvida, é um destino viciante: quem vai a primeira vez, acaba sempre por voltar. LADO HOLANDÊS: AO RITMO DA DIVERSÃO Localizada na porção norte das Antilhas Holandesas, St. Maarten (a parte holandesa da ilha) fica aproximadamente a 240 quilómetros a sudoeste de Porto Rico e 2 horas e 40 minutos de Miami, é conhecida como a ca-

pital gastronómica do Caribe. Com mais de 360 restaurantes e uma rica diversidade étnica, a ilha agrega com mestria a combinação das culinárias holandesa, indonésia, italiana, hindu e da autêntica comida francesa, entre outras. Além disso, abriga 37 praias sensacionais de areia branca, luxuosos resorts, agitada vida nocturna, grande variedade de actividades ao ar livre e intenso estilo de vida náutica. É também um paraíso fiscal livre de impostos, oferecendo excelentes oportunidades de compras em lojas de marcas famosas que se espalham pela capital, Philipsburg. Saint Maarten é uma espécie de Las Vegas no Caribe e, definitivamente, não é lugar para quem procura férias silenciosas. A capital Philisburg parece uma cidade de brinquedo decorada com lojas, restaurantes e toda sorte de diversão quase ininterrupta.


principais atracções p • Pesca em alto mar Pelican Resort and Cassino, Simpson Bay, parte holandesa. Uma das principais atracções da Pe ilha é pode ser aproveitada a bordo dos barcos desse resort. As expedições para pesca em ilh alto mar partem de manhã (das 7h30 às 11h30) ou duram o dia inteiro (7h30 às 15h). Na alta al temporada, reserve com uma semana de antecedência te • Golfe The Mullet Bay Resort, parte holandesa. O único campo de golfe da ilha tem 18 buracos, Th projectado por Joseph Lee pr • Passeio a cavalo Baysite Riding Club. O clube fica na Route Galion Beach e são as cavalgadas na praia justaB mente o destaque. Os preços são por pessoa, por uma ou duas horas m

LADO FRANCÊS: FÉRIAS COM ESTILO A parte francesa da ilha, Saint Martin, reúne, ao mesmo tempo, charme e sofisticação. Na capital da ilha, Marigot, são inúmeras as lojas de marcas famosas como Kenzo, Fendi, Dior e Yves Saint Laurent. Os restaurantes, sempre muito procurados, oferecem o melhor da culinária francesa em pratos elaborados que variam da carne aos frutos do mar. As praias são também um verdadeiro paraíso nesta parte da ilha. A flora e a fauna submarinas são ricas. Por isso, mergulhar é uma actividade bastante comum que guarda respeito pela vida marinha. Todos os que se aventuram sob as águas ou mesmo na praia, preservam o meio ambiente conscientes que não devem afectá-lo com a pesca predatória. Os traços aqui são os mais franceses possíveis, com guardas tipicamente gauleses, óptimos restaurantes e todos os ingredientes para fazer de seu cenário de areias brancas uma verdadeira França nos Trópicos.

• Mergulho Há excelentes condições ao redor de Saint Martin, com mergulhos em corais, naufrágios, H cavernas e até nocturnos e flutuantes. A profundidade varia de seis a 21 metros na parte francesa e de 23 a 38 metros na holandesa. A maioria dos hotéis tem contactos para organizar excursões de mergulhos para pessoas com alguma experiência e também mergulhos com curso para iniciantes. Também é possível tirar o certificado de mergulhador e fazer mergulhos rasos ou com snorkel. Em todos os casos, as águas cristalinas da ilha apresentam condições perfeitas • Caribe Watersports Além do mergulho de cilindro, o snorkel é uma das principais actividades na ilha. O mergulho com máscaras simples e outras diversões de praia estão reunidos no Caribe Watersports, que ainda tem loja de roupas, galeria de arte e quiosque de produtos desportivos, em frente ao Grand-Case Beach Club. A equipa, formada por franceses e americanos, dá informações sobre actividades em toda a ilha e também aluga caiaques • Esqui aquático A maioria dos grandes hotéis em frente às praias da parte francesa oferece estrutura para esqui aquático • Windsurf Os melhores pontos para windsurfe estão na parte leste da ilha, especialmente nas praias de Coconut Grove, Orient e Dawn. Todas ficam no lado francês, onde há uma combinação ideal de vento e águas calmas. A principal operadora é a Tropical Wave, que aluga equipamento por hora e oferece a possibilidade de um instrutor, com custo extra, também cobrado por hora. Na parte holandesa, os visitantes costumam procurar a lagoa Simpson Bay

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ARQUITECTURA & CONSTRUÇÃO

| patrícia alves tavares

Uma questão de saúde “Toda a pessoa tem direito a um nível de vida suficiente para lhe assegurar a si e à sua família a saúde e o bem-estar, principalmente quanto à alimentação, ao vestuário, ao alojamento, à assistência médica e ainda quanto aos serviços sociais necessários...” In Declaração Universal dos Direitos Humanos (artigo 25º)

Água é fonte de vida, é essencial para a sobrevivência do Homem. Contudo, em caso de contaminação, o seu consumo pode surtir o efeito oposto, causando doenças, que podem ser mortais. Cabe ao ser humano garantir a salubridade dos rios e das nascentes e, acima de tudo, evitar a poluição, tratando correctamente as águas residuais. A limpeza é vital para a saúde pública e exige a promoção da higiene a todos os níveis, começando pelos espaços públicos (acumulação de lixo, dejectos e a falta de tratamento das águas significa a poluição deste bem precioso) e culminando na sensibilização e educação das sociedades. Por saneamento entende-se o conjunto de medidas, que visam preservar ou modificar as condições do ambiente com a finalidade de prevenir focos de doenças e promover a saúde. Em pleno século XXI, existem povos que ainda vivem em condições desumanas e não muito diferentes do que acontecia nos inícios da civilização, onde pessoas, animais, parasitas e lixo co-habitavam no mesmo espaço. Tal é inconcebível para os países de primeiro mundo. No entanto, em muitas culturas esta realidade existe, numa altura em que as economias emergentes dão os primeiros passos para alterar situações de degradação higiénica e ambiental, e começam a disponibilizar as primeiras estruturas de saneamento e a cuidar da limpeza das cidades, dos esgotos a céu aberto e a proceder à recolha do lixo e tratamento das águas residuais.

ÉPOCA DE MUDANÇA Até ao século XVII, as iniciativas destas civilizações não sofreram melhorias, podendo mesmo falar-se em regressão, ao nível da questão sanitária. Os primeiros trabalhos relevantes de drenagem e evacuação das “águas pestilentas” surge apenas entre os séculos XIV e XVIII, em algumas cidades da Europa. Só no século XIX, a questão da higiene e salubridade pública ganha alguma importância, incutindo-se a necessidade do banho e da drenagem das águas residuais. A capital francesa foi a primeira a desenvolver este tipo de infraestruturas, de forma a abranger o território na totalidade. No século XX, nascem as ETAR (Estações de Tratamento de Águas Residuais) e o saneamento torna-se uma questão ambiental e de relevância para as sociedades e entidades governamentais.

PRIMÓRDIOS DO SANEAMENTO Os primeiros centros urbanos a produzirem sistemas de drenagem de águas residuais datam de há mais de 5.000 anos. Mas durante 4.800 anos pouco se desenvolveu a nível global, pois estas infra-estruturas não eram consideradas necessárias para o desenvolvimento dos núcleos urbanos. Apenas nos últimos 150 anos, as sociedades entenderam a importância do saneamento básico e a partir de então, o sector tem progredido, em grande parte devido aos problemas e desafios impostos pelo crescimento populacional em torno

QUESTÃO DE SAÚDE Segundo uma pesquisa divulgada pela UNICEF, a ausência de higiene mata milhões de crianças em todo o mundo. A falta de condições e instalações sanitárias adequadas afecta sobretudo as raparigas. “A falta de educação e orientação na infância, somada à falta de casas de banho produz um impacto negativo na saúde destas mulheres quando adultas”, esclarece o documento. A directora executiva da UNICEF, Carol Bellamy revelou que “dois biliões e 400 milhões de pessoas, quase metade da humanidade, estão condenadas a condições de vida quase medievais por causa da

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das zonas litorais, pelo progresso industrial e pelo agravamento das condições ambientais, em particular no que respeita à qualidade das águas. Coube à civilização Hindu a criação do método de drenagem de escorrências das vias, que data de 3000 AC e merece destaque pela atenção e cuidado aplicado neste tipo de infra-estrutura. Existem também registos de que a Civilização Mesopotâmica, em 2500 AC planeou e construiu, nas cidades de Ur e Babilónia sistemas de saneamento, que recolhiam as águas da superfície e faziam o seu encaminhamento para os colectores.


Doenças provoc adas pela ausência de saneamento: Um

deficiente tratamen to das águas residu ais e dos esgotos conduz inevitavelm ente ao consumo de água contaminada por dejectos humanos, animais e químicos, o que po de originar doenças mor tais. Estes são alguns ex emplos: - Diarreia - Tripanossomíase - Tracoma - Esquistossomos e - Leptospirose - Micoses - Malária - Papeira - Febre Tifóide - Dengue - Cólera - Hepatites (e outra s doenças parasitár ias)

sujidade e da falta de casas de banho condignas”. As crianças são as mais afectadas, em que anualmente quase dois milhões perdem a vida devido a diarreia (causada pela carência de saneamento). Este problema é um ciclo vicioso, uma vez que a ausência de higiene conduz à contaminação dos rios e lençóis de água, tornando-a imprópria para o uso domestico. O deficit de fornecimento de água potável e saneamento facilita a difusão de doenças como a diarreia, cólera, hepatite e malária, consideradas umas das principais causas da mortalidade infantil e de internamento hospitalar. ANGOLA E O SANEAMENTO A consciencialização da necessidade de tratar as matérias residuais não difere da evolução mundial. Porém, o país sofreu um retrocesso devido à guerra civil. Durante esse período as escassas infra-estruturas existentes foram completamente destruídas, deixando metade da população sem acesso a água potável. No início do século XXI, apenas 40% das famílias das zonas rurais tinham acesso a fonte segura. Na área urbana, o panorama era melhor, em que 70% da população obtinha água potável e 56% a instalações sanitárias. Actualmente, os níveis de investimento no saneamento e distribuição deste bem em condições para uso doméstico são animadores. O sector é encarado como uma das prioridades pelas entidades governamentais, num período em que se assiste a uma dinamização da economia e da qualidade de vida dos habitantes.

O QUE É O SANEAMENTO BÁSICO? É uma actividade económica, que consiste no abastecimento de água potável encanada e sua colecta, no tratamento do esgoto e no controlo de pragas e outros agentes patogénicos, com o intuito de salvaguardar a saúde das comunidades. É essencial para a comunidade, uma vez que estes possuem uma necessidade imperiosa destes meios, dada a sua importância para a saúde e meio ambiente.

CIDADES DO SÉCULO XXI O saneamento não tem sido esquecido nos projectos de reconstrução nacional. Aliás, é uma das premissas incluídas nas obras de requalificação e construção da malha urbana. As novas cidades e bairros são planeados ao pormenor e a questão sanitária tem sido gradualmente incluída. As redes estão a ser montadas e as habitações e instituições em construção já incluem o saneamento básico. A saúde pública é uma das preocupações do ministério da Energia e Águas. O titular da pasta, Botelho de Vasconcelos considera mesmo urgente a constituição de empresas provinciais e municipais de distribuição do bem, que possam apresentar projectos de saneamento básico. Segundo o responsável, “os problemas decorrentes da falta de um sistema eficaz de colecta, tratamento e deposição final das águas residuais são agravados quando não existe fornecimento de água”. Por isso, está previsto para este ano o arranque dos sistemas de abastecimentos e fornecimento da matéria ampliados e renovados nas localidades de Caxito, Malanje, Huambo, Catete, Huíge e N’dalatando, abrangendo cerca de 650 mil pessoas. A institucionalização do sector tem actualmente fulcral importância para o país, prevendo-se que em 2009 entrem em funcionamento grande parte das infra-estruturas desenvolvidas para este objectivo, altura em que se definirão as competências dos diferentes organismos.

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BOAS NOTÍCIAS “Angola encontra-se entre os países que, em 16 anos, fizeram os mais rápidos progressos nas condições de saneamento da sua população”. Esta é a conclusão do relatório divulgado no ano anterior, pelo Programa de Monitorização Conjunta para o Abastecimento de Água Potável e Saneamento (uma iniciativa da Organização Mundial de Saúde –OMS e UNICEF). O estudo analisou ainda o transporte de água potável quando ela não se encontra perto das habitações. De facto, a acção dos ministérios nacionais indica que o saneamento básico tem abrangido gradualmente um maior número de cidades, tendo-se assistido no último ano a obras de inserção das infra-estruturas em localidades como Luanda, Ganda, Cazenga e Menongue. PREVENÇÃO DÁ ‘FRUTOS’ A saúde e as condições de habitabilidade estão inter-relacionados. Cientes disso, as entidades de Luanda acreditam que a edificação de um milhão de casas em quatro anos será uma mais-valia para o nível de vida dos habitantes. O projecto não esquece as condições sanitárias e de saneamento básico, que serão uma realidade para as

“Os problemas com que nos deparamos hoje, não podem ser resolvidos com o mesmo pensamento que, em primeira instância, ajudou a criar esses problemas”. Albert Einstein

sabia que... famílias que adquirirem as futuras casas. Aliás, uma das premissas do desenvolvimento urbanístico consiste na ampliação e construção de sistemas de captação, tratamento e distribuição de água potável, bem como a reparação das redes já existentes. Por outro lado, nas zonas rurais prevê-se a construção das mesmas infraestruturas, com recurso a sistemas compactos, dimensionados à população e agregados aos locais de armazenamento. Os sistemas de esgotos e de tratamento de dejectos também não foram esquecidos, pelo que sofrerão melhorias. Tais medidas são fundamentais. Recorde-se que segundo a OMS, cada dólar gasto na melhoria do sector gera um benefício económico de sete dólares. Por outro lado, a ONU revela que 42 mil pessoas morrem todas as semanas, devido a doenças relacionadas com a ausência de saneamento e baixa qualidade deste bem vital.

Peste Negra é fruto da falta de higiene: A epidemia que no século XIV matou cerca de um terço da população europeia teve como origem a falta de higiene, no qual se incluiu a ausência de tratamento das águas residuais. Nos navios oriundos do Oriente chegaram milhares de ratos, que encontravam nas cidades o ambiente favorável à sua proliferação, ou seja, condições precárias de higiene, em que os esgotos corriam a céu aberto e o lixo acumulava-se na rua. Os roedores transportavam uma bactéria mortal, a Pasteurella Pestis, que se alimentavam do sangue e se transmitia ao Homem através das pulgas.

REVOLUÇÃO INDUSTRIAL Foi nos primórdios do urbanismo, que se colocou pela primeira vez a necessidade de planear e estruturar as cidades, tendo em atenção factores como os arruamentos, a limpeza e o saneamento. Com a industrialização das cidades, registou-se a maior afluência de camponeses aos meios urbanos, em busca de trabalho e melhores condições de vida. As concentrações humanas rapidamente deram lugar a subúrbios, onde a população repartia espaços exíguos, sem as mínimas condições de higiene e habitabilidade, o que exigiu a implementação de regras e a intervenção dos poderes públicos. Alojar, cuidar da saúde, do abastecimento de água e da energia e da segurança dos cidadãos pedia investimentos e planificação do funcionamento dos serviços comuns. Assim, as novas cidades assistiram à construção de bairros sociais, à organização de serviços que se ocupam da rede de canalizações e da circulação de pessoas e mercadorias, que garantiam a limpeza urbana e prevenção sanitária e criminal. As condições de vida foram evoluindo e, ao longo dos tempos, a necessidade de habitar em meios limpos tornou-se numa preocupação crescente.

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| patrícia alves tavares

Pilar da construção É a peça-chave da requalificação nacional. As infra-estruturas são o espelho de um país renovado e em crescimento. Ao abordar a temática da construção civil, há que focar um sector que é crucial para o bom funcionamento da economia. As empresas de produção dos materiais aplicados nas obras têm elevada importância. Nesta edição, a Angola’in faz o retrato desta actividade, que se desenvolve à medida que se dinamizam as obras públicas. O ramo da construção civil depende exclusivamente do sub-sector dos materiais de construção, que é crucial para abastecer os empreiteiros. Ambos agem de ‘mãos dadas’, dependendo um do outro para sobreviver. Doravante, a acção governamental espera conseguir impulsionar a actividade um pouco por todas as províncias. O ministro das Obras Públicas, Higino Carneiro está atento a este nicho de mercado e às suas carências. O titular da pasta admitiu no final de 2008, que o aumento da produção nacional de materiais de construção civil era uma das prioridades do ministério. A medida tem surtido efeito e o número de fábricas tem crescido substancialmente, prevendo-se que com este passo seja possível minorar a falta de produto no mercado e contribuir para a redução dos custos. A aposta do Ministério da Indústria visa a criação de iniciativas que deverão proporcionar o aparecimento de novas fábricas. Por outro lado, espera-se estimular o sector

privado, algo que tem sucedido, sendo visível o investimento que as empresas particulares têm efectuado. O fervilhar de novas indústrias é decisivo no âmbito das exportações e importações. Segundo os empresários do ramo, brevemente, o país poderá tornar-se menos dependente do exterior a este nível. A instalação de diversas fábricas de tintas, gesso, cimento, alumínio e mosaico cria as condições de produção suficientes para que a nação passe de importador a exportador. Segundo o director comercial da empresa de máquinas e ferramentas FERMAT, Fernando Simões defende que ao laborar internamente será possível diminuir drasticamente o volume de exportações no sector, o que contribuirá para o desenvolvimento da economia e consequente redução dos preços na construção. Também o Ministério das Obras Públicas tem fomentado a actividade, ao promover acções de formação e seminários, com o intuito de incentivar o emprego.

A instalação de diversas fábricas de tintas, gesso, cimento, alumínio e mosaico cria as condições de produção suficientes para que a nação passe de importador a exportador

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PRODUZIR INTERNAMENTE EQUIPAMENTOS Empenhados em desenvolver um pólo industrial de referência, os empresários nacionais e estrangeiros pretendem investir mais de 87 milhões de dólares, só na província de Huambo. Esta quantia destina-se a reabilitar e construir novas unidades fabris locais. Um dos sectores que tem merecido especial destaque, devido às extremas carências dos empreiteiros, é a vertente dos equipamentos de construção civil. O gestor da Cimex (empresa de Comércio, Importação e Exportação de Materiais de Construção Civil), Humberto Borges é um dos defensores da reabertura e criação das fábricas dedicadas a esta produção, para que os preços se tornem competitivos. O empresário acredita que para fomentar a actividade é determinante que se proceda à extracção das matérias-primas existentes no país, de forma a cortar nas custos de importação. Isto porque os produtos fabricados localmente apresentam boa qualidade, o que significa um progresso neste ramo. O administrador da Sociedade Técnica Hidráulica ‘Cimianto’ dá o mesmo parecer. Ao estender mais unidades pelo território serão resolvidos muitos dos atrasos do desalfandegamento e será possível dar resposta à constante procura dos trabalhadores.


AS CIMENTEIRAS Na província de Huambo, a abertura de 11 novos pólos vai criar 707 postos de trabalho. Para a direcção das indústrias da região, as cerâmicas de tijolos e telhas são as que detêm maiores ofertas em termos de emprego. Sendo um mercado em crescente expansão, o ministro da Indústria, Joaquim David, anunciou este ano que está prevista a criação de pelo menos mais três fábricas de cimento, que entrarão em funcionamento em 2011/ 2012. A capacidade de produção será superior aos actuais índices e deverá colmatar as necessidades do mercado nacional. Este responsável afirmou que com o eclodir de novas unidades, os preços deverão baixar, a médio e longo prazo. A Secil Lobito é uma das várias empresas que prevêem aumentar a produção para o ano corrente. O crescimento permitirá à entidade manufacturar em média 360 mil toneladas.

Joaquim David afirmou que, com o eclodir de novas unidades de cimento, os preços deverão baixar, a médio e longo prazo

TELHAS PROLIFERAM Este ano, Huíla recebeu uma notícia que pode alterar o panorama industrial local. O grupo “Lunguembia Trading” anunciou que vai investir oito milhões de dólares na construção de duas linhas de produção de tijolos, blocos e telhas. É o relançar de um sector, que antes da independência era um dos mais produtivos de África, com cerca de 276 cerâmicas. De facto, estes materiais são os que detêm maior procura e onde o desenvolvimento tem sido mais eficaz. Exemplo disso é a fábrica “Telha Azul SA”, localizada no Cacuaco e responsável por desenvolver 30 mil telhas por dia. A empresa tem como meta reduzir a importação do material, sendo capaz de oferecer produtos de qualidade, concebidos no país e rápidos na entrega. As indústrias de tijolo têm igualmente sofrido um forte impulso. São o caso de Catumbela e Caxito, que desde Março possuem duas unidades (elevando para o quatro o número de fábricas naquelas regiões), responsáveis por empregar boa parte da população local. A capacidade de produção oscila entre os 12 mil tijolos e as 3200 telhas diárias. A nível nacional, a Unicerâmica assegurou que em 2009 vai construir 14 espaços para o fabrico de tijolos, telhas, azulejos, mosaicos e louça sanitária. As novas fábricas elevam a produção de tijolo para mais de 12 milhões por mês.

INOVAÇÃO: GESSO É uma industria recente. A primeira fábrica de gesso do país foi inaugurada em Março deste ano, no Kwanza Sul. Com capacidade para produzir 13 mil toneladas/ mês, a unidade produz blocos de gesso, placas, gesso para fundição, para revestimentos e cerâmicas. A empresa aproveita desta forma as potencialidades da província em termos de recursos naturais e abre caminho ao desenvolvimento de um novo sector, que irá reduzir as importações desta matéria e tornar os preços mais competitivos. É um importante contributo para a economia, cujo relançamento do ramo do gesso e da geologia contribuirá decisivamente para o fomento do emprego e da produção interna.

de. Em Benguela, decorrem desde Abril cursos de desenho, topografia, urbanismo, gestão e execução de obras, entre outros. O Governo, por seu lado, oficializou no início do ano, a criação do Centro de Formação Profissional de Construção Civil (CENFOC), que albergará a formação nos níveis II, III e IV e promoverá a aprendizagem dos alunos, dotando-os de conhecimentos técnicos e de valores deontológicos, inserindo-os posteriormente no mercado de trabalho. Em alguns municípios, os futuros trabalhadores da construção civil estão a receber kits de auto-construção, compostos por diversos materiais, para fomentar o autoemprego em jovens, com idades entre os 18

A primeira fábrica de gesso do país foi inaugurada em Março deste ano, no Kwanza Sul

CAPACITAR E FORMAR A grande aposta do ministério das obras públicas dirige-se aos jovens que desejam trabalhar na construção civil. No último ano têm sido desenvolvidos cursos e centros de formação, que instruem os futuros profissionais e os dotam de ferramentas para exercer a activida-

e os 25 anos. Enquadrado no programa “Angola Jovem”, a iniciativa pretende incentivar os mais novos a criarem o seu próprio negócio ou a optarem por cursos de formação, para de futuro integrarem as empresas de construção civil ou de produção de materiais destinados a esse fim.

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| manuela bártolo

‘Descentralizar é palavra de ordem’

mais indústria

É consensual que para um desenvolvimento industrial intenso e ordenado se deve apostar na criação de estruturas de tipo centralizado em regiões mais favoráveis e aptas. Ciente dessa necessidade, o Governo angolano tem vindo a fomentar a criação de mais e melhores Pólos de Desenvolvimento Industrial (PDI). Ganhar autonomia e uma visão de longo prazo do investimento são factores a ter em conta, sobretudo para um dos países mais promissores de África. Os agentes empresariais clamam por mais oportunidades para um maior crescimento do mercado nacional, que tem vindo a ganhar peso no comércio externo, mas que tem ainda de ultrapassar sérios entraves como a falta de uma indústria diversificada e moderna. Sendo este um mercado, cada vez mais, apetecível e atractivo, importa ao país dispor de planos estruturantes capazes de fazer a diferença. Senão vejamos, o sector alimentar, uma das áreas onde se sente mais o atraso, necessita urgentemente de acções que fomentem o seu desenvolvimento, como a construção de redes de irrigação ou a intervenção directa do Governo no apoio à pecuária e à cultura de cereais. Áreas prioritárias de expansão delineadas pelo Executivo, que seguem o exemplo do sector da energia, actualmente em ebulição com o petróleo, mas que também tem previsto a construção de novas barragens e de exploração de jazidas de gás localizadas no Soyo. A organização de mega-eventos é outra das razões subjacentes à necessidade de impulsionar uma melhor indústria. Os recursos requeridos na preparação do Campeonato Africano das Nações – CAN 2010 -, que implica a construção de quatro estádios de futebol, é por si só um exemplo do quanto o país está a crescer, sendo a área da construção o exemplo mais evidente. Hoje Angola precisa que se construam estradas, caminhos-de-ferro, portos marítimos e aeroportos, mas também carece de condições para ter a sua própria produção, estando menos dependente da importação, inclusive de matérias-primas de que o próprio país dispõe. O investimento estatal tem sido particularmente forte na reabilitação de infra-estruturas e isso sente-se no número de obras entregues às diferentes construtoras a operar em Angola, nomeadamente portuguesas, chinesas e brasileiras. Razão pela qual é importante para o país preparar todos os passos e pesar bem cada decisão.

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INVESTIMENTO PRIVADO IMPULSIONA INDÚSTRIA Todos os meses chegam aos organismos governamentais competentes centenas de propostas de investimento privado em várias áreas de actividade, com destaque para as da metalomecânica e indústria alimentar. Projectos que acima de tudo são importantes porque permitem a criação de emprego, fundamentais nos dias que correm. A maior dos projectos destinam-se a Luanda, devido à situação favorável que a capital do país apresenta em relação às outras províncias. Posteriormente, surge Benguela. As duas reúnem actualmente as melhores condições, mas o objectivo do Governo é criar um equilíbrio entre as províncias em termos de desenvolvimento industrial. O grande entrave à prosecução desta estratégia têm sido precisamente as condições locais de cada região. Além dos problemas de água e energia, as vias de acesso a determinadas localidades ainda não oferecem as melhores condições. Factores impeditivos que o Executivo está a procurar solucionar, até porque sabe que, enquanto não forem resolvidas essas questões, é extremamente difícil convencer os empresários a investir numa província longínqua, onde não estejam asseguradas sequer condições para levar equipamentos.


Três exemplos de Pólos de Desenvolvimento Industrial 1. Pólo de Desenvolvimento Industrial do Fútila (PDIF) - Segundo o estudo de viabilidade económica, o PDIF deverá localizar-se 25 quilómetros a Norte da cidade de Cabinda, na planície do Malongo, abrangendo uma área de 2.345 hectares. A sua implementação plena deverá prolongar-se por 10 a 15 anos e será levada a cabo em três fases; 2. Pólo Industrial de Viana/Luanda (PIV) - Tem consignada uma área global de 6.000 hectares e a sua construção será repartida por quatro fases, dispondo já de um estudo técnico que possibilitou o estabelecimento das especificações de base da respectiva infra-estrutura. No âmbito deste projecto está prevista a construção de um porto seco com 20 hectares (terminal de contentores), como uma extensão natural do porto comercial de Luanda; 3. Pólo de Desenvolvimento Industrial da Catumbela (PDIC) - De acordo com o estudo de viabilidade económico-financeira realizado em 2001/2002, prevê-se que o PDIC abarque 2.107,7 hectares, distribuídos por duas localizações distintas, mas próximas, devendo ser concretizado em duas fases num prazo total de nove anos

Razão pela qual, é desejo do Governo assegurar que a industrialização do país não se limite a três pólos industriais (Viana, Catumbela e Fútila), pois é sua obrigação erguer, em cada província, uma zona industrial. Segundo fonte do ministério, caso não seja possível promover um pólo de desenvolvimento, é importante criar pelo menos uma nova zona, pela qual o investidor pode optar. Para o efeito, estão previstos incentivos ao investimento, procurando desta forma ultrapassar o forte declínio a que

sabia que... Só 50% dos pólos industriais (Viana, Fútila e Catumbela) podem proporcionar 146 mil postos de trabalho, além dos empregos indirectos. Ou seja, 50% do espaço dos pólos vão albergar 7303 empresas, empregando cada, na pior das hipóteses, uma média de 20 postos de trabalho.

o sector industrial esteve sujeito durante os anos de Guerra. Se em 1974 o sector participava com 21%, com 125 mil trabalhadores, hoje a participação é inferior à dessa época (4% das unidades sob controlo do Ministério da Indústria), com 18 mil funcionários. No entanto, a tendência do sector é mesmo crescer, pois se em 2001 teve um crescimento de 8%, em 2006 já foi de 30,8%. O país está a procurar dirimir os problemas que teve na década de 90, quando a indústria perdeu a utilização da sua capacidade na ordem de 93%, ficando apenas com cerca de 7% de capacidade. Por outro lado, assiste-se também ao surgimento de mais unidades, ao mesmo tempo que se reabilitam outras indústrias ligeiras, como a EKA, a Nocal e a Cuca, onde ocorreram nos últimos anos investimentos de expansão. NOVA ESTRATÉGIA Segundo o ministro da Indústria, Joaquim David, as negociações entre o Governo e os principais financiadores para a implantação de pólos industriais no país, nos sectores da agricultura, petroquímica e materiais de construção civil, estão em fase de conclusão. “Pensamos nas indústrias ligadas à agricultura, como as de transformação de madeira, devido às necessidade do país no ramo

de construção civil, assim como nas de petroquímica, de metais e siderúrgicas”, afirmou recentemente. O Programa Executivo do governo, na área da indústria, prevê a implementação de pólos industriais em várias regiões, que terão como base de sustentação a produção de matérias-primas locais, de que o país dispõe em abundância. O desenvolvimento da indústria nacional, através do fomento de pólos industriais, como estratégia governamental, visa a substituição gradual de muitos produtos que Angola importa, actualmente, mas que o país pode produzir. A iniciativa também visa criar empregos directos e indirectos, melhorar as condições de vida da população e reduzir as assimetrias regionais. Para a sustentabilidade do programa serão formados e capacitados quadros nacionais em vários sectores da economia.

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INOVAÇÃO & DESENVOLVIMENTO BREVES

| patrícia alves tavares

Biotecnologia é solução Orlando da Mata, vice-ministro da Ciência e Tecnologia considera que os conhecimentos sobre esta matéria podem ser determinantes para solucionar problemáticas relacionadas com a pobreza, a fome, o desemprego, a saúde pública e o ambiente. “A implementação de projectos cujo foco é o desenvolvimento da biotecnologia em Angola deve ser criada a partir do desenvolvimento sustentável da nossa biodiversidade, dando ênfase aos processos e troca de conhecimentos tecnológicos inovadores”, defendeu o titular da pasta, explicando que para cumprir esta meta, o ministério pretende estabelecer alianças estratégicas entre a biotecnologia e as áreas da saúde, da agropecuária, da indústria e do ambiente. A ideia consiste em desenvolver uma indústria, detentora de infra-estruturas e legislação, que possibilitem a criação de medicamentos a partir de recursos naturais, energias, biomassas e biocombustíveis. O intuito baseia-se na concretização de parcerias público privadas com instituições do ensino superior e de investigação científica e tecnológica.

“Internet nas escolas”

Investigadores, precisam-se Preocupado com o nível de desenvolvimento na área da investigação, o Ministério da Ciência e Tecnologia está empenhado em formar e capacitar os quadros que laboram nesta área. Considerando a falta de recursos humanos em determinadas áreas de estudo, os governantes estão a estreitar uma parceria com a República de Cuba, no sentido de fomentar o intercâmbio de conhecimentos nos ramos da saúde, segurança alimentar e biotecnologia. Aliás, está agendado para breve o destacamento de investigadores nacionais para pólos e centros científicos em terras de Fidel Castro, para efectuarem pesquisas e desenvolvimentos nos vários domínios. Recorde-se que o número de especialistas nos laboratórios de pesquisa do ministério ainda é reduzido.

O acesso de todas as crianças à Internet é o novo projecto que o Governo colocou recentemente em marcha. A iniciativa é fruto de uma parceria Institucional entre a CNTI, o Governo da Província de Luanda, a Angola Telecom e o Instituto Nacional de Telecomunicações e vai beneficiar 50 escolas de Luanda e três de cada uma das restantes províncias. O coordenador do projecto “Internet nas escolas”, António de Carvalho salienta a importância desta ferramenta para a aprendizagem e desenvolvimento intelectual dos mais novos. O objectivo do Ministério das telecomunicações e Tecnologias de Informação consiste em ligar todas as escolas ao meio virtual, de modo a que os alunos tenham ao seu dispor uma ferramenta crucial para o seu processo de formação. A meta para o futuro é levar esta iniciativa a todas as escolas nacionais. Os custos do projecto, que ainda se encontra na fase experimental, estão ao encargo do ministério.

Aproveitar os ventos favoráveis A notícia foi veiculada pelo vice-ministro da Energia, João Baptista Borges, que referiu que o país poderá tornar-se produtor de energia eólica nos próximos tempos. Para tal, contará com a colaboração de especialistas holandeses. É o primeiro passo numa parceria entre os dois países, com vista a desenvolver e modernizar o sector energético nacional. Detentora de uma vasta experiência e domínio na área da produção de energia através da força do vento, a Holanda vai apoiar os estudos técnicos, de avaliação dos terrenos e da qualidade da matéria-prima, de forma a escolher o método mais eficaz para aproveitar este recurso natural. O responsável angolano salientou ainda, durante o encontro com a ministra dos Assuntos Económicos do Reino dos Países Baixos (Maria Hoeven), os progressos desenvolvidos em matéria de distribuição da energia eléctrica, prevendo que até 2012 todas as zonas urbanas terão electricidade, enquanto que as regiões peri-urbanas chegarão aos 60% e as rurais aos 30%.

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DESPORTO

| patrícia alves tavares

Artes que dão luta Detentor de uma longa história, o judo não é uma modalidade tradicional. A inconfundível filosofia faz desta técnica japonesa algo mais que um desporto: é um estado de espírito e um modo único de encarar a vida. Os atletas florescem um pouco por toda a região e destacam-se a nível nacional pela qualidade e pelos prémios conquistados. O talento é reconhecido fora de portas, onde os judocas se distinguem entre os melhores do mundo.

O ano terminou da melhor forma para os adeptos do judo. O encerramento da última época foi abrilhantado pelo torneio entre os antigos praticantes do Clube Desportivo da Terra Nova, em Luanda. Com o intuito de reunir os veteranos da modalidade, a prova contou com a participação dos antigos campeões nacionais das múltiplas categorias e dos ex-internacionais da selecção. O encontro, que não tinha fins competitivos, visou incentivar e apelar a um maior empenho por parte dos actuais praticantes, bem como para captar novos alunos. Aliás, esta tarefa tem sido concretizada com êxito. O judo conta com muitos atletas, cujos triunfos são relevantes para a modalidade e para o país, numa altura em que se registam casos de sucesso internacional, no qual o valor nacional tem sido demonstrado nos tapetes europeus, onde, em diversas ocasiões, os judocas têm sido soberanos. MODALIDADE FERVILHA NAS PROVÍNCIAS Os atletas da modalidade crescem a um ritmo galopante. O judo começa a atrair jovens, que

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optam por este desporto ao invés do tradicional futebol ou basquetebol. São inúmeros os clubes e associações que promovem a prática da actividade e que unem esforços para massificar uma vertente, em que muitos atletas se destacam pela qualidade e pelo número de medalhas que conquistam nos campeonatos nacionais e regionais. Recorde-se o desempenho das selecções de seniores (ambos os sexos), que no ano anterior conquistaram sete medalhas de ouro nos campeonatos da zona VI do Conselho Superior dos Desportos em África (CSSA). O Uíge é uma das províncias em que o judo é uma aposta ganha. Durante o balanço da actividade desportiva de 2008, os responsáveis pela área enalteceram o trabalho dos atletas, cuja participação no Campeonato Nacional de Judo e Lutas arrecadou duas medalhas de prata, uma de bronze e uma taça de terceiro lugar. Aliás, de acordo com João Kindoki, responsável pela pasta, estas conquistas foram os principais ganhos para a região. Por outro lado, as equipas luandenses do Interclube e do Santos F. Clube foram as

campeãs nacionais em seniores, em 2008. Já a nível individual, o judoca Ângelo António foi soberano nos 73 kg. Edivaldo Patrício foi o grande vencedor na categoria de 60kg e Eduardo Salgueiro foi o melhor nos 66kg. A grande surpresa do último ano foi Patrick Edgar, pois conseguiu destronar o consagrado Denis Silva (antigo detentor do título) na categoria de mais de 100 kg. ARTE MARCIAL JAPONESA O Judo foi fundado em 1882 por Jigoro Kano, que nesse ano abriu o primeiro centro de formação. Oriunda do Japão, esta arte marcial tem como objectivos o fortalecimento da mente, do físico e do espírito de forma integrada, enquanto permite o desenvolvimento das técnicas de defesa pessoal. No final do século XIX, a modalidade foi considerada desporto oficial no país de origem. A roupa usada é o keikogi (kimono), sempre acompanhado do cinturão. Com milhares de praticantes por todo o mundo, não existe uma data precisa acerca da introdução do judo no nosso país. Contudo, em


provando que pode levar o país a bom porto ao nível das competições internacionais. Apesar de terminar a fase final na primeira posição, o judoca, que luta na categoria de 74 Kg, perdeu contra o russo Ivan Andrey (Universidade MGU), num combate de quatro minutos. O detentor da medalha de prata encontra-se a estudar na Rússia. Contudo, já avançou que um dos seus objectivos passa por defender as cores da selecção, algo que pretende conciliar com os estudos. “Estarei disponível para representar meu país”, adiantou, recordando as dificuldades que enfrentou quando cheAbraão Dias dedica-se ao desporto há mais de gou à terra dos czares. “Os atletas europeus e os russos em particular, são muito fortes, três décadas, sendo considerado um dos melhores têm muitas horas de treino e são bem dotatreinadores da Alemanha, o que lhe valeu o sexto dos tecnicamente. É muito diferente da nossa lugar no ranking mundial de judocas veteranos realidade, mas aos poucos vou-me adaptando”, explicou, assegurando que “estudar e fazer desporto é difícil, pois às vezes ficamos muito tempo sem treinar, porque temos que nos aplicar mais nas aulas. Mas o nosso renBRILHA NOS TAPETES INTERNACIONAIS ral e corporal saudável. A Europa é sem dúvida dimento desportivo também influência o esum exemplo, pois 75% das crianças iniciam-se Abraão Dias vive na Alemanha e foi dos poucolar”. A jovem promessa do judo começou a na modalidade com apenas 5 anos de idade. O cos judocas angolanos a colocar o seu país no ganhar destaque em Portugal, onde conquismestre já se mostrou disponível e interessado mais alto escalão, ao atingir o 5º Dan do Cintou troféus no campeonato universitário local em contribuir para a massificação e desenvolturão Preto. O atleta fez história em Março de ao serviço do Clube de Judo e da Universidavimento da actividade na sua terra natal. 2008, após ser aprovado no exame no Centro de de Lisboa. Harrison Medide Treino da Selecção Federal de Judo da Alena deu os primeiros passos na manha, no qual o quadro de júris europeus, “Estarei disponível para representar modalidade no Clube Yoshida, chefiado por Dieter Brums (membro da Cona Terra Nova (Rangel). Enmissão Europeia) lhe atribuiu o mais elevado o meu país” Harrison Medina quanto luta por um lugar na grau. O judoca conseguiu igualar o feito alcanselecção, o atleta tem já noçado por Fernando de Matos (antigo presidenvos combates agendados ao serviço da unite da Federação Angolana de Judo), que foi o PROMESSA DO JUDO versidade onde se encontra a estudar. primeiro angolano a conquistar a mesma quaTem apenas 25 anos, mas já deu provas das lificação. Abraão Dias dedica-se ao desporto suas capacidades e do talento para as artes há mais de três décadas, sendo considerado marciais. Harrison Medina, mais conhecido Índio conquistou em Janeiro o segundo lugar um dos melhores treinadores da Alemanha, o por Índio, estudante da Universidade Patrice do campeonato universitário da Rússia, proque lhe valeu o sexto lugar no ranking mundial Lumumba conquistou em Janeiro o segundo vando que pode levar o país a bom porto ao de judocas veteranos. Possuidor de reconhelugar do campeonato universitário da Rússia, nível das competições internacionais cida experiência, o atleta soma à sua participação nos Jogos Olímpicos de Seúl, o sétimo lugar no Campeonato do Mundo, que decorreu em França. Porém, o orgulho nacional centrase na sexta posição alcançada em 2007, durante a participação na prova mundial que teve lugar em Bruxelas (Bélgica). O judoca sobressaiu ainda na Alemanha pela capacidade de, durante dois anos, conseguir levar a equipa Beuler Judo Club, de Bonn, à Liga nacional, a mais forte do mundo. Findo esse período, a formação abandonou o referido campeonato, devido à falta de recursos financeiros. A respeito da modalidade, Abraão Dias é peremptório ao destacar as qualidades deste desporto que, segundo o atleta, ajuda os praticantes a manterem uma postura psico-mo1988, a participação nos Jogos Olímpicos de Verão em Seúl contou com a primeira equipa, que, no panorama geral, obteve bons resultados. O galardoado Abraão Dias classificou-se em 20º lugar, enquanto que a melhor posição foi alcançada por Lotuala N’Dombassy, que na categoria de 71kg ficou no nono lugar. Seguiram-se Moisés Torres (95kg) em 12º e Hélder Carvalho (mais de 95kg) em 13º. O país voltou a levar atletas da modalidade aos Jogos Olímpicos de 1992 e de 2004.

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DESPORTO

| patrícia alves tavares

“CAN é mais-valia para o sucesso” Filho de portugueses, nasceu em Luanda, mas foi em Portugal que deu os primeiros passos e alcançou o sucesso enquanto jogador de futebol. Pedro Emanuel é o actual capitão do plantel do Futebol Clube do Porto e foi com os azuis e brancos e sob o comando de José Mourinho que somou ao seu palmarés os títulos de Campeão Europeu (2004) e a Taça UEFA (2003).

te possível abandonar os relvados africanos há alguns anos. Todos conhecem a escola hoAngola organiza dentro de poucos meses e alcançar um clube europeu, que lhe poderá landesa e a francesa, que eram essencialmeno CAN. Como analisa o trabalho desendar formação e visibilidade. Vejamos o caso te centros de formação e de exportação. Há volvido? A selecção tem capacidade para do Manucho, que teve a possibilidade de jogar cerca de 10 anos é que essa situação se alteobter uma boa prestação? no Manchester United, devido a um maior corou e se mudou a forma de pensar, o que levou O Campeonato Africano das Nações é uma nhecimento dos campeonatos africanos e ao à situação de muitos clubes neste momento. mais-valia, é meio caminho andado para o sufacto de existirem indivíduos, como cesso. É necessário um trabalho de Carlos Queirós, que começam a dirigirbase para conseguir bons resultados, se a estes países na procura de talenem que é fundamental ter uma boa “Bons jogadores existem em tos. Bons jogadores existem em todo equipa. Isso é primordial. Penso que todo o lado. Muitas das vezes o lado. Muitas das vezes é preciso ené um bom veículo de divulgação, não é preciso encontrá-los.” contrá-los. só do país, mas do continente. O CAN é uma referência, é excelente para apresentar os jogadores. Além disso, Como descreve a situação do fuas infra-estruturas e os clubes vão sair benetebol português e europeu, numa altura Os jogadores africanos têm qualidade? ficiados deste evento. É óptimo para o país ter em que a UEFA pondera aplicar um limiQuais são as principais dificuldades que uma competição desta natureza. te máximo de 25 jogadores por clube? os jovens enfrentam para alcançar os relvados internacionais? A nível do espaço europeu vai ser complicado aplicar essa medida. Eu sempre fui um pouActualmente encara-se com maior abertuNum período em que os clubes africanos co contra a invasão de muitos estrangeiros, ra a compra de atletas que vêm de Angola e apostam nas infra-estruturas e na formaquando muitas das vezes temos jogadores da China. Recordo-me que, há uns anos, cheção de talentos, a crise económica pode nossos com bastante qualidade. Obviamente, gavam a Portugal meia dúzia de jogadores, ser um entrave? sou a favor de atletas estrangeiros que traque maioritariamente actuariam na segunda O objectivo de quem sempre trabalhou na forgam algo novo, que possa melhorar o futebol divisão ou nos campeonatos regionais. Agomação consiste em formar, criar um jogador e do local para onde vão. Em relação ao contexra, por exemplo, vemos um Santana, que foi depois vendê-lo para retirar a rentabilidade de to europeu, penso que a situação reflecte o contratado pelo Vitória de Guimarães para ser todo o investimento que se fez ao longo desse panorama mundial. Portanto, há uma recesum avançado de referência. As próprias menperíodo. Acho que os países africanos só têm são, todos nós temos a noção de que está difítalidades estão a mudar, estão mais abertas, a ganhar em criar essas condições, em fazer cil. O futebol tem que sem dúvida caminhar a não só em relação a África, mas também na esse tipo de formação e em desenvolver uma passos largos, pois em termos futuros muitos China. Há 10 anos ninguém imaginaria ver o escola. Haverá sempre mercado para quem clubes deixarão de existir, uma vez que não há Park Ji-Sung a jogar no Manchester United. tem um jogador jovem, com potencial e que condições para poderem responder a todas as Se o jogador tem qualidade e uma boa escopode ser vendido aos clubes compradores. Aliexigências do mercado. la pode evoluir bastante, sendo perfeitamenás, essa prática era muito comum na Europa

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época e ao longo da competição, acreditamos Nasceu em Luanda. Que memórias guarque vamos conseguir. da? Pondera regressar? Nasci na freguesia do Carmo, em Luanda. Voltamos para Portugal um pouco obrigados, No Mundial de 2006 foi convidado a reporque foi na altura da independência. Eu tipresentar os Palancas Negras. Aceitou o nha três anos. O objectivo dos meus pais era desafio, contudo a UEFA não autorizou. ficar lá. Porém, as condições não estavam reuFoi uma desilusão? nidas. Aquele país continua a ser a paixão da Não se proporcionou representar Angola no minha famíMundial. lia e, aliás, Era algo que “O CAN é uma referência, já prometi desejávaque voltaria. mos. Fui iné excelente para Em princíternacional apresentar os jogadores.” pio, vou no nas camaVerão, altudas jovens ra em que o processo da dupla nacionalidade por Portugal e por isso mesmo quando fiz 21 deverá ficar concluído. Um dos meus desejos anos teria 24 meses para optar, tendo eu dupassa por regressar a Angola para conhecer a pla nacionalidade. Essa lei só entrou em viterra onde nasci. Em 30 anos deve ter mudagor depois de ter completado os 21. Foi pena, do bastante. Espero encontrar uma evolução mas naquele momento da minha carreira opconstante. Das minhas memórias, apenas me tei por jogar nas camadas jovens por Porturecordo da casa e de um cão que tínhamos e gal. Portanto, não fazia sentido representar que era o meu companheiro de brincadeira. A Angola. Mas como o convite me honrou basminha ida a Angola está também relacionatante, voltei a reconsiderar essa possibilidade da com um convite da Casa do Futebol Clube e a acalentar um pouco a ideia de vestir a cado Porto, em Luanda. É uma forma de juntar misola do país em que eu nasci. Mas não foi o útil ao agradável. Por outro lado, há a forte possível. possibilidade de neste momento montar uma garrafeira Wine O’Clock, nessa zona. Projectos para o futuro? Encara a possibilidade de enveredar pela carreira de treinador? Como ingressou no mundo do futebol? Foi muito cedo, porque o meu pai sempre foi Conquistar as competições em que estamos um apaixonado pelo futebol e levava-me aos envolvidos. É logo o primeiro objectivo que se jogos. Por isso, ganhei-lhe o gosto. Ingressei tenta cumprir, a nível de clubes. Tenho semno Boavista com 11 anos, nos infantis. Quando pre vários projectos. Sem dúvida que o futebol cheguei a sénior fui emprestado ao Marco. Ené a minha paixão. Tenho um prazer enorme tretanto, passei pelo Ovarense e pelo Penafiel e regressei ao Boavista. Em 2002, fui para o Futebol Clube do Porto, onde estou há sete anos.

naquilo que faço. Desejava continuar ligado ao futebol. Gosto sempre de evoluir. Lido com jovens todos os dias e sinto que aprendo sempre algo. No momento, tenho outros projectos a nível pessoal, mas não digo que não possa acontecer.

Quais são as expectativas para esta época? Eu falo sempre em termos de equipa. As expectativas são sempre elevadas. Estamos no bom caminho na Taça de Portugal, mantemos o primeiro lugar no campeonato e alcançamos os quartos-de-final da Liga dos Campeões. Portanto, acho que neste momento da época estamos bem lançados. Em relação à Champions, pela experiência que tenho, o FCP tem uma longa tradição que o precede nesta competição. Quando chegamos a esta fase da prova, costumo dizer que o sonho comanda a vida. Temos capacidade e potencial para poder enfrentar qualquer equipa olhos nos olhos. Trabalhamos muito durante esta

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DESPORTO BREVES

| patrícia alves tavares

futebol

Estádios do CAN orçados em USD 600 milhões António Mangueira, director executivo do Comité Organizador do Campeonato Africano de Futebol (COCAN) confirmou que os quatro estádios, actualmente em construção para o evento que decorre em Janeiro de 2010, estão orçados em 600 milhões de dólares. Este valor corresponde apenas aos complexos de Benguela, Luanda, Huíla e Cabinda. Existem ainda 12 campos, que estão a ser reabilitados no sentido de serem usados pelas selecções participantes. Os quatro estádios têm data de inauguração apontada para Novembro. O recinto de Luanda, em Kilamba Kiaxi, é o maior de todos, com capacidade de 50 mil espectadores.

futebol

Reforço dos Palancas é prioritário Os agentes desportivos defendem a necessidade do reforço da equipa técnica da Selecção Nacional de Futebol. No âmbito da preparação do CAN2010, a comissão da Assembleia Nacional da Federação Angolana de Futebol (FAF) concluiu que o actual grupo, liderado por Mabi de Almeida, carece de recursos técnicos e de melhorar os serviços ao nível do órgão reitor da modalidade. Durante o encontro, que reuniu mais de 200 participantes, defendeu-se a descentralização de funções e o alargamento de recursos humanos, nomeadamente de pessoas especializadas, dada a envergadura do evento que Angola irá acolher. Os agentes apelam à necessidade de criação de um perfil do jogador e da aposta no espírito patriótico. Por outro lado, todos concordam que é urgente realizar jogos com equipas de alto nível para testar as capacidades dos Palancas Negras. As directrizes desta reunião serão encaminhadas para a organização do CAN2010.

atletismo

Vencedor da São Silvestre é etíope

futebol

Subida no ranking A selecção nacional subiu precisamente três lugares na tabela de países da Federação Internacional de Futebol Associado (FIFA). Actualmente, os Palancas Negras ocupam a 67ª posição, ficando à frente da África do Sul, Zâmbia e Nova Zelândia. Este é um passo importante para a equipa, numa altura em que se preparam alterações no organismo e se concentram as atenções no CAN2010. A campeã europeia Espanha lidera a tabela, que coloca os Camarões no 14º lugar, assumindo o estatuto de melhor selecção africana.

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O etíope Ibraim Cashu Jeilan e Grace Momany foram os vencedores da 53ª edição da corrida São Silvestre de Luanda. O evento contou com a participação de quase 3500 atletas, nacionais e estrangeiros. Na categoria de masculinos, o vencedor gastou 43 minutos e 38 segundos para percorrer os 15 quilómetros de distancia da prova. Nos femininos, Grace cortou a meta em 48 minutos e 50 segundos. Relativamente à participação angolana, a melhor posição conquistada foi o 10º lugar, por Tiago Baptista (com 45 minutos e 46 segundos). Na categoria feminina, Ernestina Paulino cortou a meta em 4º lugar, com 51 minutos e 12 segundos.



DESPORTO BREVES

| patrícia alves tavares

basquetebol

Afrobasquet 2009 decorre em Agosto

rali

Angola na rota do Dakar A próxima edição do Rali Dakar pode ser disputada em Angola e na Namíbia. Quem adiantou a notícia foi o director do evento, o francês Ettienne Lavigne, que, apesar do sucesso da edição de 2009 (realizada na Argentina e Chile), admitiu a possibilidade de escolher os países africanos para a prova de todo-o-terreno. “Já efectuamos viagens a Angola e Namíbia. É um percurso (pista) que poderá ser activado”, assegurou director, que aproveitou a ocasião para assinalar o êxito da edição deste ano. “Este Dakar foi histórico. Muitos deram-no como morto, mas ressurgiu e transformou-se numa grande corrida. Não foi fácil de organizar”, concluiu.

A 25ª edição do Campeonato Africano das Nações em Basquetebol já tem data agendada. O evento, que decorrerá nas cidades líbias de Tripoli e Benghazi, está marcado para o período de 5 a 15 de Agosto. A decisão foi tomada pelo Bureau Central da FIBA-África, na cidade do Cairo (Egipto), sob a presidência do órgão reitor, Alain Ekra. No encontro foram ainda escolhidas as datas e os locais, onde decorrerão os jogos de apuramento. Das dezasseis selecções que vai disputar o troféu, quatro estão directamente seleccionadas (os três primeiros classificados e a equipa anfitriã). As restantes têm a tarefa de conseguir o apuramento através dos jogos preliminares. Os três primeiros classificados do Afrobasket2009 vão representar o continente no Mundial de 2010, que irá realizar-se na Turquia, entre 28 de Agosto e 12 de Setembro.

desporto

Empresários apostam no desporto Armando da Cruz Neto, governador de Benguela elogiou o papel positivo dos empresários na promoção da prática desportiva. O responsável classificou de gratificante o facto de existirem homens de negócios que incentivam o desporto e consideram-no elemento fundamental para a unidade dos povos. O governador explicou que o desporto “arrasta” consigo várias vantagens, uma vez que patrocina a aproximação de pessoas nos seus pontos de vista e cria uma boa disposição física e psicológica. Armando da Cruz Neto não esqueceu as mais-valias que esta prática acarreta para as áreas do turismo e da economia.

andebol

basquetebol

1º de Agosto é campeão em feminino As “militares” conquistaram a Taça de Angola, em basquetebol sénior feminino. As atletas alcançaram a vitória após derrotarem o Interclube por 50-33, na terceira partida da final disputada no pavilhão I da Cidadela em Luanda. As jogadoras tinham vencido o primeiro encontro, realizado fora de casa, por apenas um ponto de diferença (52-51). Na segunda fase, as “militares” sofreram uma pesada derrota, por 49-68, mas na final conseguiram inverter os resultados e o expressivo resultado ditou a soberania das atletas do 1º de Agosto, que levaram a Taça para casa.

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Selecção feminina tem novo treinador O novo seleccionador nacional da equipa sénior feminina foi apresentado. Paulo Pereira é português e garante que pretende manter os bons resultados que o grupo tem alcançado nos últimos anos. O contrato tem a duração de dois anos e o técnico de 44 anos já adiantou que deseja manter o plantel unido, com o objectivo de revalidar o título de campeão africano e de alcançar um lugar entre as 12 selecções, que vão disputar o campeonato do mundo em Dezembro, na China. “Estou ciente das responsabilidades que passo a assumir agora, mas é necessário que tenhamos um espírito vencedor na família do andebol”, destacou. Paulo Pereira treinou a equipa angolana do Atlético Sport Aviação, em 2008.


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LUXOS | patrícia alves tavares É a homenagem ao lendário 300 SLR, pilotado pelo inglês Stirling Moss, desde 1955. O modelo mais desportivo da Mercedes possui vários elementos desse carro, que fez história nos anos 50. A grande novidade está na ausência de pára-brisas. Em contrapartida, foram instalados pequenos deflectores de ar na frente dos dois passageiros. A frente caracteriza-se por ser longa e terminar em faróis ovulados. O motor é o mesmo 5.5 v8 (oito cilindros em “V”), equipado com o compressor volumétrico dos irmãos Coupé e Roadster, em que o condutor pode atingir um máximo de velocidade de 350 Km/h. A assinatura de Stirling Moss está no painel, sendo que no interior os bancos são revestidos em tecido xadrez.

Lamborghini Estoque

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Mercedes SLR Stirling Moss

O novo modelo da marca italiana apresenta o conceito do coupé de quatro portas, que será produzido e lançado em 2010. Este carro foi concebido para competir com os futuros Porsche Panamera e Aston Martin Rapide. Os traços, que seguem o estilo da marca, são mais conservadores e a viatura mede 5,15 metros de comprimento, possuindo um motor central dianteiro (5.2 V10 de 560 cv do Gallardo LP 560-4), localizado logo atrás do eixo. A linha da cintura é mais baixa que a dos outros Lamborghini, de forma a abrigar os passageiros posteriores. Atrás encontrará pára-lamas resistentes e faróis estreitos e horizontais.

LUXOS · ANGOLA’IN

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LUXOS

Chrysler

300C

Com um motor V6, a Chrysler lança um modelo, cuja novidade é o propulsor 3.5 V6 (seis cilindros em “V”) de 249 c de potência. Esta é uma nova versão de modelos anteriores, em que no interior, o painel de instrumentos foi remodelado e a iluminação da cabine foi alterada. A novidade está no sistema de entretenimento, que inclui um disco de memória de 20 Gb e o navegador por satélite com ecrã “touch screen”. Para muitos, “icónico” é o melhor adjectivo que descreve este modelo.

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NÃO PERCA A OPORTUNIDADE DE SER ÚNICO NOS SEUS NEGÓCIOS, ENCOMENDE JÁ OS VIDROS MAIS MODERNOS DE ANGOLA.

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LUXOS

Triumph

675 Triple Daytona

O modelo já existe e continua a apresentar inúmeros sucessos, sempre que é posto à prova com as Supersport japonesas. As novas alterações como objectivo melhorar o nível de performance desportivo, têm com reforçando as qualidades dinâmicas desta moto na Estrada. Efectuado um acrésc acréscimo de três cavalos, as novas suspensões sobressaem e o peso diminuiu três quilos na traseira e no sistema de escape.

ALPINESTAR

DUCATI

Construída com micro-fibra de alta tecnologia e concebida para combinar peso reduzido e desempenho em níveis avançados de pilotagem, esta bota é extremamente segura, flexível e confortável, possuindo alta performance aerodinâmica.

O estilo é inovador e estas luvas de pele ajustam-se na perfeição. Disponível em dois modelos de cor (vermelho/ branco/ preto ou preto/ branco/ cinzento). A principal característica consiste no aspecto prático e na sensação de conforto que as luvas conferem.

Supertech h camo o

TRIUMPH As 1 suitte

Desenvolvido em parceria com a Alpinestar, este macacão em couro, possui pele flexível nas zonas da cintura e do joelho. A pele detém entre 1.2 e 1.4 mm de grão, possuindo uma linha ajustável a todas as zonas do corpo, facilitando movimentos.

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Mota ard S Sport portt G Glov loveess

ARAI

RX-7 7 Corsair V O novo capacete da Arai representa o que melhor se tem feito em termos de tecnologia. É o melhor da sua classe, concebido para resistir às quedas, revestido com várias densidades diferentes e com uma excelente ergonomia..


LUXOS · ANGOLA’IN

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LUXOS

ASUS N50 Ecrã LCD WXGA de 15,4”, com retroiluminação LED, o N50 inclui uma placa gráfica NV GeForce 9300M GS com 512 Mb de Ram, processador Intel Core 2 Duo 7350 a 2 GHz, 4 Gb de memória e disco SATA com 250 Gb. O portátil possui ainda webcam e gravador de DVD.

PHILIPS LEDLux 42PFL9803 Tecnologia de primeira geração, a Philips apresenta um televisor que utiliza uma variedade de mais de 1000 LEDs atrás do painel, para iluminar a imagem, em que se distinguem a elevada qualidade e o estilo, que cativa os mais sépticos.

PIONEER LX01BD Para os amantes de música, a Pioneer criou com precisão e detalhe este conjunto, que combina a performance de topo com um design fino e contemporâneo. Puro e elegante, não há perdas de qualidade sonora, reproduzindo filmes a 24 fotogramas por segundo.

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BENTLEY EGO A empresa britânica de automóveis lança o primeiro notebook. Fabricado pela Ego Lifestyle, possui uma tela de 12.1 polegadas, partes cromadas e uma capa de couro de alta qualidade. O interior apresenta as habituais funcionalidades de um notebook.

VERTU BLACK AND WHITE DIAMONDS É o novo luxo no mercado dos

LOGITECH Harmony 1100

telemóveis. Disponível das cores preto

Com acabamento em preto, este modelo vai muito além do seu predecessor,

ou vermelho, possui uma câmara com

possuindo a possibilidade de personalizar os controles na touchscreen de 3,5”.

2Mpixels e bluetooth. Vestido com ouro

Controla até 15 dispositivos e tem capacidade de transmissão via RF.

branco e diamantes negros e brancos, possui 428 diamantes brilhantes.

REVO BLOK É a ultima novidade em rádios portáteis. É diferente de qualquer outro sistema de colunas, pois apresenta uma mistura de materiais da mais alta qualidade, tecnologias áudio patenteadas e, em termos acústicos, destaca-se pela alta fidelidade. Reproduz modelos do iPod.

LUXOS · ANGOLA’IN

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LUXOS

panerai

LUMINOR Peça de rara identidade e fidelidade, este relógio distingue-se pelo movimento P.2004, um cronógrafo que possui corda manual, reserva de marcha de oito dias (com indicação linear), um segundo fuso-horário com indicação de dia/noite e um cronógrafo mono-pulsante. Ideal para homens desportistas, é resistente à água até 100 metros.

tag heuer

sinn

tag heuer

Monaco

U2

Mercedes-benz

Edição limitada, este relógio é a

Constituído por aço dos submarinos alemães, este

É o terceiro modelo lançado pela suíça Tag

reprodução do mítico modelo Mónaco,

relógio é à prova de corrosão, sendo ideal para

Heuer em parceria com a Mercedes-Benz.

histórico na marca. Para assinalar os

expedições em mar salgado. É um bom auxiliar

Inspirado nos desportivos da marca de

40 anos de existência, a reedição do

de viagem, pois tem GMT, muito conveniente

automóveis e no respectivo design, traz vários

modelo, clássico e elegante, vem numa

para o caso de estar num país com fuso-horário

suplementos destacando-se pelo logótipo da

embalagem dedicada a Steve McQueen e

diferente. O aparelho é de engenharia alemã

marca e pela exibição de uma escala da alta

é assinada por Jack Heuer.

e funciona até 2000m debaixo de água.

precisão para medições de velocidade.

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ESTILOS

| manuela bártolo

o camaleão Nesta edição falamos-lhes de dois estilos actualmente muito em voga; essenciais a qualquer homem moderno, que qual camaleão se adapta às exigências do momento. Senão conhece fique a saber! O estilo sport é indicado para os mais descontraídos e para aquelas situações que tanto aprecia de relaxe absoluto. Se esse for o caso, comece desde já a apostar num look cool onde sobressaem os calções e as bermudas, as camisas frescas em algodão leve ou gaze e as t-shirts justas com estampados de motivos tribais, étnicos e geométricos. Avança-se e surge o estilo citadino, marcado por tailleurs de cores claras, como cinzas, branco e creme e algumas inovações como o coral, o verde-água e o azul claro, que nesta estação coordenam-se com camisas fluídas ou t-shirts de malha de seda de toque suave e brilhante.

LION OF PORCHES ténis em pele

BUS URBAN WEAR cinto em pele

LION OF PORCHES pólo em algodão

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Micromotivos, riscas ou tons dão cor e carácter ao vestuário masculino

BUS URBAN WEAR camisa em algodão

LION OF PORCHES camisola em algodão

LION OF PORCHES boné 67% poliester 33% algodão

A paleta de cores vai dos tons natureza: castanhos, verdes, caqui, azuis, ocres, vermelho barro, aos tons náuticos, como o azul marinho, azulão, verdes claros e vermelho, terminando nos denominados tons sóbrios - preto, branco e gama de cinzentos. Brilhos acetinados para tecidos e metálicos para acessórios e detalhes, de destacar o tom prata, cobre e latão.

LION OF PORCHES pólo em algodão

ESTILOS · ANGOLA’IN

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ESTILOS

PARTENZA casaco 40% polyamida 45% algodão 15% metal

PARTENZA cachecol em linho

Os tecidos são frescos com toques de robustez ou requinte, algodão, linho, seda, canvas fino, denim, cambraia, cetim e sarja. Os acessórios querem-se adaptados para estes looks tão variados. Cintos finos para tailleurs e largos para calças e calções em denim ou sarja, mas com grandes fivelas fantasia, de design geométrico por exemplo. Lenços, écharpes, kikos e bonés completam o rol de adereços.

LION OF PORCHES calças em algodão

BUS URBAN WEAR calças em algodão

104 | ANGOLA’IN · ESTILOS


Se gosta de arriscar, a moda também dita sucesso para as linhas clássicas conjugadas com um estilo avant-garde, tecno e dandy, que resultam em looks agradáveis, descontraídos e muito atraentes. Fatos frescos, de casacos estruturados e calças direitas, tipo cigarrette, camisolas soltas de malha de algodão e um look desportivo em calções, t-shirt e sweats onde predominam os estampados cool e os brilhos plastificados.

PARTENZA blaser em algodão

Sem dúvida o vestuário indicado para o homem actual, citadino e sensual, que se preocupa com a sua imagem e bem-estar.

LION OF PORCHES blaser em linho

LION OF PORCHES gravata em seda

ESTILOS · ANGOLA’IN

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ESTILOS

| patrícia alves tavares

tommy hilfiger

HILFIGER esta fragrância combina notas de bergamota, limão, madeira de cedro, jasmim e vetiver.

lancôme

Hipnôse Cologne Homme dinâmico e espontâneo, esta fragrância revela toda a masculinidade do homem, sendo ideal para aqueles que gostam de mostrar a sua personalidade. imbuído de mistério, o seu aroma tem a capacidade de cativar todos os olhares. possui uma harmonia de contrastes, em que as notas de âmbar, amíscar, bergamota e menta se confudem, sobressaindo o âmbar aromático.

dolce & gabbana

emporio armani

D&G Masculine

Diamonds for or Men

é a combinação ideal para homens simples e sinceros. apresenta notas de bergamota, folhas de limão, hortelã, madeira de figo, vetiver e almíscar, onde sobressai o aroma cítrico.

é um clássico masculino, ulino, adeirada cuja fragrância amadeirada confere um toque elegante, nte. poderoso e fascinante. é a personificação da cesso realização e do sucesso pessoal. magnético,, possui mota, um aroma de bergamota, dro. cacau, vetiver e cedro.

calvin klein ca

B Be

aramis

Eau de Toilette perfeito para o uso formal, o perfume aramis distingue-se pelo aroma amadeirado refrescante, possuindo notas de couro, bergamota, jasmim, patchouli, almíscar e sândalo.

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ap apreciado pelas mulheres, este pe perfume é uma boa escolha para ho homens inovadores, que gostam de co compartilhar liberdade e expressão. fr fresco e suave, caracteriza-se pe pelas notas de magnólia, pêssego, me menta, lavanda e almíscar branco. so sonhar acordado é uma das es especialidades dessa fragrância, se sendo aconselhável para quem está ha habituado a sensações fortes. este ar aroma transporta-o para lugares in inimagináveis.


LUXOS · ANGOLA’IN

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LIVING

HANDLE É o nome da última criação de Fernando Brizio para a TemaHome. Este prestigiado designer de origem angolana, nascido em Huila, apresenta-nos este inesperado banco forrado a feltro em seis diferentes opções de cor. De personalidade forte, as peças da última colecção da TemaHome são produzidas em edições limitadas e cada peça é assinada e numerada pelo seu autor .

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Apoio profissional A escolha de um profissional de interiores para execução e acompanhamento de um projecto é decisiva no seu resultado e consequentemente definidora da vivência do espaço em questão. Se isto é óbvio e certamente claro a todos, a um nível mais específico podem surgir algumas dúvidas que pretendemos aqui ajudar a esclarecer e, se possível, orientar na selecção do profissional mais adequado a cada situação. Encontramos as nomenclaturas mais variadas, desde decoradores até designers de interiores, arquitectos e as suas derivações, de interiores ou paisagistas. A panóplia de profissionais e o seu nível de habilitações é considerável e por vezes dificulta a tarefa de seleccionar um prestador de serviços para uma área tão sensível e vital que poderá definir a forma de estar do nosso dia a dia. Quando os projectos têm dimensão para tal, o ideal é contratar uma equipa multidisciplinar que deixará os vários profissionais focados na sua área específica de trabalho, mas raras vezes uma obra de interiores comporta uma equipa de grandes dimensões e em poucos países temos a sorte de encontrar boas equipas multidisciplinares que consigam dar respostas com qualidade equiparada a todas as áreas de um projecto. No entanto, regra geral nos projectos de interiores, e considerando que o local de obra já esteja edificado, devemos procurar um profissional especializado nesta vertente. Podemos recorrer a um arquitecto de interiores ou a um designer de interiores. Ambos habilitados a intervir a nível estrutural em caso

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de necessidade e, possuindo características profissionais mais abrangentes, estão também habilitados a fornecer assessoria técnica ao nível de todos os detalhes decorativos. Se o objectivo for apenas a definição de revestimentos, integração de mobiliário e demais complementos, então um decorador terá habilitações suficientes para o efeito. Contudo, convém salientar, sem desmerecer as capacidades de muitos destes profissionais, que por norma as habilitações de um decorador não vão além deste patamar, podendo comprometer a qualidade final do trabalho em causa se as necessidades do cliente forem mais profundas. Agora, definida a especialização de cada área profissional e a suas aptidões elementares, passamos a uma questão mais subjectiva e pessoal. Qual o perfil mais adequado de um profissional? A resposta a esta pergunta pode ser igualmente subjectiva, mas existem alguns parâmetros auxiliares para uma tomada de opção mais eficaz. É comum a escolha de um profissional apenas pelo reconhecimento público do seu estilo, algumas vezes por razões menos válidas, como a afirmação ou a integração social. Porém, se a identificação com o estilo próprio de um profissional de interiores pode ser um factor de peso na sua escolha, a sua versatilidade e capacidade de comunicação e de interpretação dos anseios do cliente, dos seus desejos e necessidades, são factores fundamentais a também ter em conta na altura da sua selecção. (cont. pág. 110) X


B&B ITALIA Reconhecida mundialmente como líder na área da decoração de interiores, esta companhia apresenta uma colecção de prestígio que reflecte o que de melhor conhecemos do chamado “design italiano”. A B&B ITALIA tem uma imagem de marca que dispensa quaisquer apresentações. • António Citterio desenhou em 2008 o Flat.C, um conceito de mobiliário modular com infindáveis aplicações e pensado ao pormenor, de aspecto sóbrio e de carácter depurado, aliando o seu lado funcional a um efeito final sofisticado. • O jarrão de Marcel Wanders, da Gold Collection, em cerâmica recoberta a folha de ouro com 78cm de altura é decerto um ícone de luxo que não passa desapercebido esteja onde estiver WT LIVING · ANGOLA’IN

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LIVING Um bom profissional tem, antes de mais, habilitações técnicas para o efeito. Toma por isso sempre especial cuidado na recolha de informações a diversos níveis que lhe permitirão posteriormente dar resposta aos requisitos dos seus clientes. Mais do que impor o seu estilo, deve ter a elasticidade necessária para conjugar os seus princípios estéticos com o património sociocultural daqueles que o procuram e posteriormente sustentar tecnicamente as suas propostas. Existe sempre uma necessidade inerente de empatia entre ambas as partes, sendo mais provável o sucesso da empreitada quanto maior o grau de envolvimento dos intervenientes no desenrolar do projecto. E se podemos ter uma certeza, é a de que um profissional ausente e distante não é de todo um bom profissional. Estes são apenas alguns parâmetros que se devem ter em mente quando se avalia o profissional a contratar, mas que garantem à partida uma escolha acertada. Concluímos assim que não existem receitas infalíveis, ou procedimentos rígidos, mas que uma boa dose de bom senso, empatia e confiança num trabalho que envolve muito da nossa privacidade são factores preponderantes numa decisão ponderada. João Paulo Jardim - jpjardim@comunicare.pt

LALIQUE Fiel aos temas favoritos do seu fundador René Lalique, a nova colecção “Daydream” presenteia-nos com uma série de objectos sobre a Mulher, a Fauna e a Flora. Alguns deles editados em séries limitadas, como a jarra “Aurora”, na imagem à extrema direita, com apenas 188 exemplares disponíveis. Detentora de uma extrema delicadeza de manufactura, esta jarra demora 6 semanas a ser produzida e passa pelas mãos de 22 artesãos que a esculpem num elaborado processo de fabricação. Verdadeiras peças de coleccionador e acessíveis apenas a poucos eleitos e conhecedores, todas as peças Lalique são de uma beleza sublime e intemporal que eleva estes objectos decorativos a verdadeiras obras de arte.

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ELIZABETH LEITE Nascida na Venezuela em 1982, esta jovem pintora é para nós uma grande promessa no universo das artes plásticas. Tendo como suporte habitual telas de dimensões consideráveis e com o recurso a uma intensidade cromática invulgar, Elizabeth Leite envolve-nos com um traço vibrante e repleto de expressão. Com cenas do quotidiano como tema base central do seu trabalho onde as personagens habitam espaços de ambientes familiares que se desagregam numa espiral de psicadelismo alucinante à medida que somos invadidos pela torrente de emoção que o seu trabalho nos proporciona, como podemos constatar por algumas das suas mais recentes obras que aqui apresentamos. Nomeadamente “A importância da origem”, “A arca de Noé” e o díptico “A ponte e as suas imediações”

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littala Muito mais do que uma marca de design, a Iittala é um conceito de estar na vida que nos chega da longínqua Finlândia. Esta empresa escandinava tem uma gama muito diversificada de produtos que aliam um lado de produção artesanal a outro de elevada exigência tecnológica. Hoje apresentamos algumas das suas criações dedicadas à cozinha. O faqueiro “Citterio 98”, saído das penas de Antonio Citterio e de sico contemGlen O. Low, que é já um clássico porâneo nos seus 11 anos dee existência. Prosseguimos com duas das suas linhas ional e ende trens de cozinha. A tradicional sign de genhosa “Sarpaneva”, com design re as 1960, e a linha “Tools” que cobre uer exigências de escala de qualquer bom garfo. Concluímos com a colecção de porcelanas “Origo” em duas versões de cor e padrão que por si só tornam qualquer refeição num prazer para os sentidos.

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VINHOS & CA. PUBLIREPORTAGEM

sucesso além-fronteiras Enoturismo Quinta do Portal

A Quinta do Portal destacou-se novamente pelo reconhecimento do trabalho de excelência e dedicação em prol da produção vinícola e enoturismo no Douro (Norte de Portugal). A famosa revista norte-americana Forbes considerou a Casa das Pipas “Top Ten Wine Destination of the World”. Uma distinção de louvar na região a visitar. A Casa das Pipas conquistou também o prestigiado prémio “Best of Wine Tourism 2009” na categoria Sustainable Wine Tourism Practices atribuído pela Rede Internacional de Capitais de Grandes Vinhedos. Este prémio surge um ano após ter sido laureado pelo modo de gestão adoptado e que se centrou na protecção e na defesa do meio ambiente. Em que se insere o novo armazém de envelhecimento, desenhado pelo reconhecido arquitecto Siza Vieira, e que constitui mais um pólo de atracção da região, pela sua qualidade e características ímpares. A unidade de enoturismo, inserida na Quinta do Portal, possui doze quartos e uma piscina, numa envolvente informal, mas com muito requinte. Recentemente foi inaugurada também a Casa do Lagar com mais 4 quartos de requinte.

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A CASA-MÃE

A Quinta do Portal dedica-se essencialmente à produção de vinhos DOC Douro, vinhos do Porto e Moscatel. Inserido num ambiente tradicional e familiar, a laureada empresa aposta no conceito de “Boutique Winery”, pelo que tem conquistado o respeito e admiração dos turistas e parceiros, oriundos de todos os continentes e cuja confiança tem sido reforçada pelas distinções (respeitantes à gestão, qualidade dos espaços, dos vinhos e iniciativas) que tem auferido desde a sua fundação. Além dos prémios no Enoturismo os vinhos Quinta do Portal têm sido altamente distinguidos, quer a nível nacional quer internacional. Aliás, a par da produção de vinhos, a Quinta do Portal é conhecida pela arte de bem receber, pois não descura a vertente do turismo enológico, dispondo de todos os serviços para receber os apreciadores desta arte, que podem assim visitar as terras e conhecer os pontos importantes da concepção vinícola, com provas incluídas e sempre acompanhados de especialistas. LAPELA RECHEADA DE ‘MEDALHAS’

A Sociedade Quinta do Portal foi a grande vencedora em 2007, tendo adquirido o prémio de “Empresa do ano”, pela mão da Revista de Vinhos, que durante um ano analisou e avaliou

as várias empresas do ramo. A mesma entidade distinguiu nesse período o vinho Quinta do Portal AURU 2001, com o prémio de “Excelência” e atribuiu o troféu de “O Melhor de Cada Região” aos produtos vinícolas Quinta do Portal AURU 2003 (também altamente apreciado em Angola), Porto Portal 30 Anos e Porto Portal 40 anos. O Porto Portal LBV 2003 foi o vencedor do prémio “Melhor Compra”. Por seu lado, o vinho Quinta do Portal Grande Reserva 2003 foi classificado como um dos 100 melhores vinhos de 2007, pela revista norteamericana Wine Enhusiast (uma das publicações sobre esta matéria mais prestigiada em todo o mundo), que reconheceu a qualidade de excelência a apenas quatro produtos portugueses (dois vinhos do Porto e dois vinhos do Douro). Recorde-se que a marca Quinta do Portal não é novata nesta lista. Já em 2005, tinha conquistado o 27º lugar no ranking de “Melhor Vinho do Ano”, graças ao Portal Porto Vintage 2003. Para a equipa de profissionais da entidade, esta panóplia de prémios é o reconhecimento do trabalho desenvolvido e uma motivação para continuar a inovar e apostar na qualidade acima da média. O Moscatel Reserva 2000 ganhou o concurso Muscat du Monde recentemente.


a quinta do portal possui cinco zonas de excelência, dedicadas ao cultivo da vinha e à produção do néctar de qualidade nacional e internacional: - Quinta da Abelheira - Quinta do Confradeiro - Quinta dos Muros - Quinta do Portal - Quinta das Manuelas (recentemente adquirida)

vinhos do douro e espumantes Cientes de que na região do Douro é possível produzir alguns dos melhores vinhos do mundo, na Quinta do Portal utiliza-se em exclusivo as castas autóctones, que resultam em vinhos de elevada qualidade. Coleccionadores de inúmeros prémios internacionais, esta casta de vinhos é fruto de um processo perfeito, através de cuidadas macerações e fermentações no centro de vinificação e posterior estágio em barricas de carvalho.

Vinhos Tintos

UM ORGULHO

Detentor de uma série de galardões, o vinho Portal Porto Vintage 2003 é provavelmente uma das melhores produções da empresa, que se congratula pelo mérito alcançado por este produto. Para além das três medalhas de Ouro atribuídas aos vinhos Quinta do Portal Grande Reserva 2003, Portal Porto Vintage 2003 e Portal Porto Vintage 2003+, este produto recebeu ainda dois troféus: The Port Trophy e The Vintage Port Trophy. Porém, o momento mais alto é sem dúvida a atribuição da chancela de “Champion Fortified Wine” ao Portal Porto Vintage, em 2006. OBJECTIVO: SER O MELHOR

A meta para 2009 mantém-se. A Quinta do Portal continua a apostar na produção dos melhores vinhos do Douro, Porto e Moscatel, recorrendo ao uso das castas nobres da Região Demarcada do Douro. Para tal, os responsáveis pela empresa reconverteram parte das vinhas e adquiriram recentemente a Quinta das Manuelas. Os mesmos garantem que vão utilizar as principais castas da região, como já é habitual, usando as melhores madeiras de forma a manter a qualidade ímpar dos vinhos tintos. Para os bons resultados, a equipa conta com o enólogo da casa (desde que começou), Paulo Coutinho e uma parceria de há uma década com Pascal Chatonnet, prestigiado enólogo francês. Em re-

lação à produção de vinhos brancos de renome, que possam ser reconhecidos internacionalmente, a missão tem como base utilizar as técnicas de fermentação a frio e em cascos novos de carvalho francês. Quanto aos vinhos de Moscatel, o desafio está na criação de produtos de classe mundial (e estão a consegui-lo pois venceram o concurso Muscta du Monde 2009 em França), recorrendo para isso à uva Moscatel Galego, cultivada nas vinhas a planalto sul de Favaios. Portanto, os desafios para os próximos anos são mais que muitos, pois cabe à Quinta do Portal manter os altos padrões a que os seus parceiros e clientes de vinhos sempre se habituaram e responder às exigências de um mercado em constante desenvolvimento, de modo a conseguirem conquistar mais distinções para os seus vinhos.

› AURU › Colheita › Reserva › Grande Reserva › Varietais

Vinhos Brancos › Branco (recentemente lançado) › Branco seco

Vinhos Espumantes › Bruto › Meio seco › Doce › Tinto

vinhos do porto e moscatel São a combinação perfeita entre tradição e modernidade. A produção destes vinhos fortificados alia as duas técnicas para conceber um produto bastante apreciado tanto pelos consumidores maduros, como pelos mais jovens.

Vinhos do Porto › Vintage Ports › Colheita Ports › Aged Tawny Ports › Late Bottled Vintage Ports › Ruby/ Tawny/ White Ports

Vinhos Moscatel › Moscatel Douro › Moscatel Reserva

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VINHOS & CA.

| patrícia alves tavares

Quinta de São Simão da Aguieira ira Límpido, este vinho de cor ruby intensa, ensa, acompanha na perfeição pratoss de carne, caça e queijos. Possui um tos aroma complexo, com notas de frutos ja, vermelhos e compota de laranja, bem integradas com nuances de or, ervas aromáticas. Quanto ao sabor, so, este caracteriza-se por ser intenso, os, com taninos firmes e bem maduros, que transmitem estrutura num final ve muito frutado e persistente. Deve ºC. ser servido entre os 16 e os 18ºC.

Poeira Fruto do excelente clima que se fez sentir em Setembro de 2006, a Quinta do Poeira produziu este excelente produto, detentor de uma forte complexidade e elegância. Possui a mesma filosofia dos vinhos anteriores, com o mesmo estilo e carácter. Porém, o Poeira 2006 é um vinho mais directo, mais frutado e macio. Apresenta bom volume de boca mas sem perder a frescura característica a todos os produtos da marca.

HERDADE DA RTA COMPORTA Proveniente de uvas colhidas manualmente, este vinho ho tinto de cor granada vivo, apresenta um aroma cheio, em m que se misturam as notas de fruta muito madura, com características errísticas das madeiras em estágio. Detentor de um sabor fino, o,, possui uma boa concentração de fruta, com taninos bem estruturados, tu urados, revelando um final de boca prolongado e complexo. mplexo.

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Leopard’s Leap Cabernet Sauvignon L gnon Desenvolvido na pequena vila vinícola sul africana, Franschhoek, oek, este lhores vinho é produzido a partir das melhores uvas, oriundas das melhores vvinhas de Cape Winelands, onde se produz este esplendoroso néctar. tar. ui Para apreciadores de frutos silvestres, o Leonard’s Leap possui aromas ricos de ameixa e amora, com um toque suave de café e caramelo. É elegantemente estruturado com um final delicado.

YES W WE CAN Oriundo das m melhores zonas da vinha da Herdade de Cadouços, efectuou-se uma escolha manual dos melhores cachos de uvas efectuouem produção pro biológica das castas Touriga Nacional e Syrah. Este v vinho de cor púrpura intensa, apresenta aromas que recordam frutos vermelhos e negros, como framboesas e reco groselhas silvestres com notas de cacau. Deve ser servido gros uma temperatura entre os 16 e 18ºC. Possui um final au elegante e na boca tem boa estrutura e concentração. ele

Tapada do Chaves Oriundo da região alentejana, este néctar de cor granada é fruto do óptimo clima Mediterrânico-Continental, dos verões muito quentes e secos e dos invernos continentais. Possui um aroma complexo a frutos silvestres vermelhos e pretos, com um toque da presença da madeira onde estagiou. Ao provar, persistem os aromas e as especiarias, com notas de madeira.

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VINHOS & CA.

Quinta de Cidrô idrô Cabernet Sauvignon non Touriga T Nacional al Equilibrado por uma excelente acidez, Equ es este produto é um vinho enorme em potência e complexidade. No entanto, é potên simult simultaneamente muito fino e elegante. O est estágio de ano e meio em barricas de carval carvalho francês e americano contribuiu para d domar os seus poderosos taninos. Ap Apresenta-se como um vinho muito profundo, vvinoso, cheio de aromas e sabores a fruto preto, baunilha e chocolate. Deve servir-se à temperatura de cave. É ideal para pratos de carne, pastas e queijos fortes.

Quinta do Vallado Aroma muito concentrado, com notas balsâmicas da madeira de carvalho, fruto de figo, amora e tabaco, este vinho é oriundo de uma combinação perfeita entre as uvas provenientes das vinhas velhas (70%) e das vinhas novas. Apresenta um sabor muito encorpado, carnudo com taninos maduros e redondos. O final é elegante, mineral, muito persistente e complexo.

Esporão Branco Vinho de cor de palha e de aspecto cristalino, este néctar é intenso, complexo e elegante, com bom equilíbrio e persistência na boca. É ideal para acompanhar pratos de bacalhau frito até carnes brancas grelhadas, passando pela elegância do clássico pato com laranja. É a escolha certa para receber elogios. Apresenta um aroma frutado com notas subtis de madeira de carvalho, apontamentos de tangerina, toranja e pêssego. Deve ser servido entre os 10 e os 12ºC.

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Flamingo mingo g ranco Vinho verde branco Jovem e fresco, este vinho de cor citrina é produzido zido num solo particular, que potencia a boa maturação das vinhas. Caracteriza-se pela elevada elegância, leveza e equilíbrio de aromas as penetrantes, em que se destaca o excelente frescor, definição e profundidade.

Flamingo mingo Vinho verde e rosé A boa exposição ao sol e os ventos dominantes contribuem tribuem para riunda de um a criação de uma uva de excelente qualidade, oriunda enta-se num lugar único. O vinho produzido por esta casta apresenta-se ssui notas rosé límpido, frutado e de sabor persistente. Possui alidade. doces e é detentor de agradável qualidade.

Mar Marquês de Marialva Aguardente Vínica Velha Agu Esta agu aguardente de cor âmbar cristalina, apresenta um b bouquett muito it complexo, l onde se destacam as notas de frutos secos, como avelã, noz e figo. Apresenta ainda nuances nua de tosta como tabaco e caixa de charutos. Ao provar, na boca a aguardent aguardente vínica velha é aveludada e complexa, com um final longo e especiado. Deve servir servir-se como digestivo e em balão aquecido.

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VINHOS & CA. À CONVERSA COM… Pedro Almeida Santos, Export Manager da Quinta do Portal

o viajante Uma longa viagem de mil milhas inicia-se com o simples movimento de um pé. De viagens é composta a vida de Pedro Almeida Santos. Um trajecto dedicado, nos últimos anos, aos vinhos, uma paixão que lhe tem permitido conhecer diversos países, entre os quais Angola. Numa conversa franca e inteligente, dons que caracterizam a sua personalidade, fala-nos da sua experiência e sensibilidade para este mundo, que aliás é o seu desde tenra idade. Do Douro vinhateiro parte à conquista, qual explorador ávido de novas paragens. Pelo caminho, a elevação dos vinhos portugueses, que diz ser um dos produtos que melhor representam Portugal internacionalmente.

| manuela bártolo

Fale-nos da sua experiência no mundo vínico... A minha experiência a este nível existe praticamente desde que nasci. Os meus pais têm propriedades no Douro, o que faz com que desde pequeno conheça a região e alie o prazer ao exercício do meu trabalho. O convite para trabalhar na Quinta do Portal, onde estou há seis anos, surgiu depois de ter estado noutras empresas. Actualmente, considero-me uma pessoa de sorte porque faço exactamente aquilo que gosto e o que sempre quis fazer: trabalhar na área da exportação de vinhos. Como classifica o seu trabalho na Quinta do Portal? Trabalhar na Quinta do Portal tem sido um prazer por ser um projecto aliciante, com fortes possibilidades de crescimento, onde tudo está em constante renovação. Além disso, trabalhar com vinhos é aliciante por ser um produto nobre, sobretudo o Vinho do Porto, que representa muito bem o país internacionalmente. A Quinta do Portal exporta para todo o mundo. O que representa para si Angola a nível pessoal e profissional? A nível pessoal, quando lá fui pela primeira vez, no ano 2000, achei que era um país assustador pela situação em que estava e pela pouca liberdade de movimentos que existia na época. Entretanto, penso que tem evoluído de uma forma fabulosa. É um país onde me sinto bem, onde sou sempre bem recebido e onde se nota uma evolução fantástica em apenas 10 anos. O meu desejo é que assim continue. Ao nível profissional, continuo a achar que o mercado angolano é um dos grandes mercados mundiais, com grandes potencialidades de crescimento, sobretudo em sectores como o da construção ou da restauração.

“Angola é neste momento um dos melhores mercados mundiais” Como analisa a relação entre angolanos e portugueses? Está melhor, mas continuo a achar que pode melhorar, pois penso que há ainda algum receio de ambas as partes. Acho que o angolano ainda não vê o português como um amigo, como um investidor, mas que rege a sua relação baseado nos 30 anos de história que unem os dois povos. Julgo existir ainda algum receio de entreajuda, de parceria e de falta de confiança. Uma situação que tende a mudar, caso as relações continuem como nos últimos cinco anos.

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“Não tenho nenhum problema em ir ao Caribe ou ao Queens, como ir ao Roque Santeiro. Consigo estar em todo lado sem medo” Sente isso especialmente no sector dos vinhos? A este nível não tenho tido qualquer tipo de problema, até porque a Quinta do Portal tem clientes portugueses e angolanos, tanto na área da restauração, como dos hotéis ou supermercados, e mantém com todos o mesmo tipo de relação. Não tenho nenhum tipo de problema em ir ao Caribe ou ao Queens, como ir ao Roque Santeiro. Consigo ir a todo lado sem medo. Posso ter algum receio, mas também teria em outro lugar qualquer do Mundo. Angola é um país de apreciadores de vinho? É e começa a ser, pois é um povo que gosta de vinho e que aprecia beber. Penso que por esse motivo se torna, cada vez mais, conhecedor. Começa a existir um maior número de pessoas capazes de reconhecer um bom de um mau vinho e julgo haver muita curiosidade, o que lhes permite evoluir. Como tal, acredito que isso fará com que haja no futuro mais e melhores vinhos em Angola. Qual é a sua bebida preferida e que tipo de vinho recomenda aos nossos leitores? As minhas duas bebidas preferidas são a água e o vinho. No entanto, a minha escolha recai para um bom Vinho do Porto, que a meu ver faz realmente a diferença num momento especial. Em relação aos restantes, recomendo os vinhos do Douro, especialmente o Auro, não só porque está actualmente na moda em Angola, mas porque é realmente um dos melhores, mais procurados e mais difíceis de conseguir no país pela sua qualidade.

ser sempre adequado ao prato e dentro da selecção que é apresentada optar, mediante a variação de preços, por aquele que cada consumidor pode comportar. Acho que é possível fazer isso tanto num restaurante, como em casa. Um bom vinho é apenas para quem tem um poder de compra elevado? Não. Acho que há muitos bons vinhos a bons preços. Tem-se é que procurar e fazer a escolha adequada às posses de cada um. Temo é que no caso de Angola, seja muito difícil porque o vinho está sobrevalorizado. O produto quando é exportado está sujeito a taxas de importação enormes, a meu ver demasiado elevadas, o que faz com que os vinhos apareçam nos supermercados e restaurantes a preços bastante altos.

Defende a ideia de um vinho para cada prato? Sim, com certeza. Nunca se serve o mesmo vinho com pratos diferentes porque acredito que as pessoas devem variar, além de que cada prato tem efectivamente o seu vinho.

E isso acaba por ser um obstáculo ao consumo? Sim, porque o poder de compra do angolano ainda é baixo, apesar de existir no mercado vinhos para todos os preços. Mas obviamente que algum tipo de vinhos como as grandes reservas e os vinhos de topo são mais exclusivos, como aliás acontece em qualquer país do Mundo. Penso é que as taxas de importação demasiado elevadas e talvez os maus ajustes dos restaurantes fazem com que os preços sejam altos.

Porque tipo de critérios se deve reger a escolha? Acho que devem saber primeiro o que vão comer para depois escolher o vinho. O que acontece muitas vezes é que se escolhe o vinho antes de se escolher a comida. Penso que este tem de

Qual a diferença dos vinhos portugueses face à concorrência? As castas que utilizamos têm características únicas. A Touriga Nacional, por exemplo, é uma casta exclusivamente portuguesa, o que faz com que o nosso vinho seja diferenciado

dos demais. O angolano tem o hábito de consumo do vinho português e com certeza que beber um vinho chileno ou sul-africano, com castas diferentes, pode ser uma barreira à compra pela diferença na sua composição e sabor. Até hoje, os vinhos portugueses continuam a ser os mais vendidos em Angola, mas começa realmente a haver uma quota de mercado para vinhos de países que já referi que estão a entrar com muita força. Razão pela qual, defendo mais acções de promoção. Acha que a esse nível Portugal pode fazer melhor? Sim, considero importante termos mais apoio a nível promocional e por isso penso que o país podia fazer mais, apesar dos poucos meios para o fazer porque os apoios financeiros ao nível do Estado têm sido curtos. A exportação de vinhos é das mais importantes para Portugal. Além disso, Angola é um mercado que tem ainda uma margem de crescimento bastante elevada que o nosso país precisa. A Quinta do Portal projecta comercializar para mais províncias? Há outras províncias que se começam a destacar em Angola para além da capital Luanda. Tenciono ir em breve ao Huambo, Lubango, Benguela e Lobito. Pequenos importadores começam a deslocar-se para as províncias, ganhando assim um nicho de mercado, até porque o trabalho em Luanda começa a estar um pouco saturado. É onde nós queremos chegar e posso dizer que estamos preparados para ir a todas essas províncias.

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VINHOS & CA.

| eng.º manuel costa e oliveira - vice-presidente da viniportugal

vinhos portugueses crescem no mercado de angola O MOMENTO PRESENTE DOS VINHOS PORTUGUESES NO PAÍS No final do ano, apesar de os números estatísticos ainda não serem oficiais, já se sabe que os vinhos portugueses continuaram a sua afirmação no mercado angolano, tendo aumentado os níveis de exportação, tanto em volume, como em valor. Como se sabe, já em 2007 Portugal tinha exportado para este mercado mais de 54 milhões de litros de vinho (excluindo os Vinhos do Porto e os Vinhos da Madeira), o que representou qualquer coisa como 46 milhões de euros de volume de negócios. Portanto, no ano anterior de 2008, a expressão desta exportação é ainda mais evidente, confirmando Angola como o principal mercado para os vinhos portugueses. Para o trabalho já realizado e para o muito que ainda temos pela frente, tem contribuído de forma decisiva o interesse e empenhamento do Sr. Embaixador de Portugal em Angola e a dedicação do Dr. Miguel Fontoura, delegado do AICEP neste país. Por outro lado, a fim de melhor levar a cabo toda a sua estratégia, a VINIPORTUGAL contratou a BACK, uma conceituada empresa de comunicação e marketing, que já se encontra a trabalhar no terreno. Perante esta realidade, é evidente que a VINIPORTUGAL – Associação para a Promoção dos Vinhos Portugueses - reforçou a sua estratégia em Angola, pelo que o vice-presidente Costa e Oliveira se deslocou recentemente a este país, tendo ficado decidido: 1. A elaboração de um estudo de mercado, no qual serão identificados os comportamentos do consumidor angolano no que se refere ao

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consumo de vinho, em particular por parte dos mais jovens; 2. A implementação de uma campanha promocional dos vinhos portugueses no mercado angolano, através dos principais órgãos de comunicação social; 3. O convite para que 10 jornalistas angolanos possam visitar Portugal ainda este ano, a fim de conhecerem a nossa realidade vitivinícola. Nesta ocasião, que se deseja possa já decorrer no mês de Junho, estes jornalistas poderão frequentar um curso de iniciação à prova de vinho, conhecer as principais realidades vitivinícolas portuguesas, visitarem o Festival Nacional de Vinho e assistirem ao Concurso Nacional de Vinhos; 4. A realização de provas de vinhos para alunos universitários de cursos relacionados com Agronomia, Marketing e Gestão. Espera-se, desta forma, ainda melhor estruturar a realidade dos vinhos portugueses no mercado angolano, conforme as grandes expectativas da generalidade dos consumidores e dos agentes económicos que se dedicam a esta actividade.

O novo Código da Estrada colocou Angola no topo da modernidade do consumo de vinho 1 DE JULHO DE 2009 O sucesso da primeira prova de vinhos portugueses em Luanda foi de tal monta, que seria impossível não realizar agora a 2ª Prova, que terá lugar, de novo em Luanda, já a 1 de Julho

de 2009. Para tanto, a VINIPORTUGAL conta já com mais de 50 agentes económicos inscritos, aos quais se juntarão muitos dos diversos importadores em acção neste mercado. Desta forma, em particular dirigida a todos os interventores nesta fileira do vinho (importadores, distribuidores, restauração, hotelaria, jornalistas e também consumidores, etc), esta prova servirá para apresentação de um conjunto de novos vinhos para o mercado de Angola e para a consolidação das muitas marcas já existentes. Ao mesmo tempo, será organizado um seminário para abordar a realidade da vitivinicultura portuguesa, da responsabilidade de um conceituado enólogo português, permitindo uma alargada reflexão sobre os vinhos portugueses e as nossas principais regiões. NOVO CÓDIGO DA ESTRADA EM ANGOLA A VINIPORTUGAL saúda, com todo o entusiasmo, o novo Código da Estrada em vigor em Angola e, muito em particular, tudo o que o mesmo estipula no que se refere à taxa de alcoolemia a vigorar, precisamente um nível de 0.6. Parece-nos ser esta uma medida de grande inteligência, a abrir a caminho para que se imponha toda a filosofia do vinho e saúde e para que o vinho seja sempre consumido com moderação e responsabilidade. No seminário que terá lugar a 1 de Julho, como se disse, a VINIPORTUGAL não deixará de abordar este tema, sensibilizando os agentes económicos para esta realidade da moderação e responsabilidade que, agora e com o novo Código da Estrada, colocou Angola no topo da modernidade do consumo de vinho.



VINHOS & CA.

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| manuela bártolo


MISTURA DE SABORES AFRICANOS COM O CAMARÃO ANGOLANO

apresento-vos o meu

Durante as minhas viagens pelo mundo fora conheci muitas culturas e a sua gastronomia típica. Recordando as minhas experiências em África, sugiro uma especialidade de Marrocos, que combina na perfeição os aromas e sabores africanos e que pode conjugar muito bem com o gosto angolano, uma vez que o principal ingrediente desta refeição é o camarão, que como sabem existe em abundância nas águas nacionais. Falo-vos do cuscuz. Este prato nasceu no Maghreb, uma região a norte da África Setentrional (Argélia, Tunísia e Marrocos) e inicialmente era concebido pelos mouros, que usavam o arroz ou sorgo como o elemento base da receita. Porém, não é um “prato típico“ de Marrocos, mas a essência de vários pratos, tendo por suporte a vertente culinária judaica. Facto curioso é que cada um dos três países que desenvolveram esta receita reivindicam-no como prato nacional. Mas só na Argélia existem mais de três mil variações de cuscuz. Certo é que no século XVI introduziu-se o milho americano e este pequeno manjar espalhou-se por todo o mundo. É muito comum encontrarmos variações deste alimento nas regiões a norte do continente africano e na América, sobretudo no Brasil, que adaptou a receita aos seus ingredientes e sabores. O cuscuz sofre as influências culturais de cada região que recria esta especialidade, mas nunca perde o sabor africano. Pode ser servido como entrada ou prato principal. Na confecção da especialidade gastronómica pode diversificar os ingredientes, usando por exemplo frango, galinha, sardinha, linguiça, legumes, protaína de soja, côco ou tapioca. Para os vegetarianos, também existem adaptações de cuscuz. A minha sugestão é o cuscuz de camarão, pois penso que é o que se adapta melhor ao gosto dos países quentes e mais exóticos. Porém, cada cozinheiro pode e deve usar a sua criatividade, pelo que é permitido usar outros temperos, típicos da região onde se encontra e até substituir o camarão por outro peixe e algum tipo de carne da sua preferência.

Ingredientes para 15 pessoas

CUSCUZ DE CAMARÃO . 1 cebola cortada em rodelas . 1 alho picado . azeite q.b . 1 courgette em tiras finas . 1 pimento . caldo de legumes q.b . 1 cenoura cortada em tiras . 1 beringela às rodelas . sal . cominhos . camarões cozidos sem casca . sumo de 1/2 limão . cuscuz

Preparação › Coloque numa frigideira grande o alho, a cebola, a courgette, o pimento, a cenoura e a beringela. Quando os legumes estiverem quase ‘al dente’ junte os camarões, os cominhos, o caldo de legumes e as passas e tempere com sal e limão. Cozinhe em lume brando. Coza o cuscuz em água quente. Sirva os legumes juntamente com os camarões sobre uma camada de cuscuz.

Se desejarem enviar as vossas receitas ou comentários a este ou outros pratos, escrevam para eu@chakall.com

VINHOS & CA. · ANGOLA’IN

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CULTURA & LAZER

| patrícia alves tavares

A outra face da representação “Quem tem a sorte de nascer personagem vivo, pode rir até da morte. Não morre mais... Quem era Sancho Panza? Quem era Dom Abbondio? E, no entanto, vivem eternamente, pois - vivos embriões - tiveram a sorte de encontrar uma matriz fecunda, uma fantasia que soube criá-los e nutri-los, fazê-los viver para a eternidade!” Luigi Pirandello in “Seis Personagens em Busca de Autor”

Quando um personagem nasce, adquire imediatamente tal independência inclusive do seu próprio autor, que pode ser imaginado por todos em tantas outras situações em que o autor não pensou inseri-lo, e às vezes pode adquirir também um significado que o autor jamais sonhou em dar-lhe! Luigi Pirandello in “Seis Personagens em Busca de Autor”

Quarenta e oito anos após a consagração da arte de representar, pelo Instituto Internacional de Teatro (ITI/ UNESCO), o país assiste à proliferação de grupos e festivais, provando que há muitos talentos e ‘aprendizes’ de um dos modos de expressão mais antigos da civilização. O Dia Mundial do Teatro foi comemorado em Março e as associações promoveram debates e peças um pouco por todas as províncias. O teatro entrou em grande força no país, mostrando que tem muito para dar e qualidade para se afirmar no meio artístico. Os actores estão empenhados e contam com a adesão de jovens talentos. Veja-se o caso dos grupos de teatro que ganham terreno no meio académico, em que muitas faculdades se apresentam com espectáculos de alto nível, percorrendo diversos pontos do país. Para o efeito, foi inclusivamente criado o Núcleo Dinamizador de Teatro Universitário de Angola, que recentemente organizou a segunda edi-

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ção do Festival de Teatro Universitário (FETU), o que permitiu a troca de experiências entre participantes, oriundos de estabelecimentos de ensino de diferentes pontos da região. A qualidade das peças e de toda a envolvente cénica têm sido factores decisivos no progresso da representação teatral e na envolvência do público. As pessoas sentem-se mais incentivadas para frequentar o teatro, devido à harmonia entre interpretação, guarda-roupa e iluminação e às temáticas dos conteúdos, que interagem com a assistência e retratam a sua realidade. Para tal progresso, em muito contribuíram os ensinamentos dos especialistas nacionais e a colaboração de grandes nomes do teatro internacional.

MENSAGEM: O PAÍS ACTUAL Os temas das peças de teatro são ecléticos. Contudo, as opiniões e objectivos dos encenadores e actores são convergentes: as histórias devem transmitir uma mensagem acerca da realidade envolvente. Aliás, este foi o mote da última palestra levada a cabo pelo director da Cultura no Uíge, que no âmbito das celebrações do Dia Mundial do Teatro incentivou à reflexão sobre “O papel do teatro e das artes cénicas no processo de desenvolvimento do país e no resgate dos valores culturais e morais”. Actualmente, os produtores estão mais conscientes da responsabilidade social do teatro e apostam na criação de peças que divulguem mensagens positivas e inteligentes sobre a realidade angolana, de forma a reflectir o panorama sócio-económico e as tradições de cada região. Durante o encontro, que decorreu no Uíge, o responsável defendeu uma maior aposta na interligação entre o teatro e outras formas artísticas, como o cinema, a música e a dança, para conferir uma maior qualidade ao género.

Os novos produtores apostam na criação de peças que divulguem mensagens positivas e inteligentes sobre a realidade angolana, de forma a reflectir o panorama sócio-económico e as tradições de cada região


O BERÇO GREGO O teatro surgiu aquando o desenvolvimento do Homem, através das suas necessidades de expressão e entretenimento. A arte de representar como hoje conhecemos nasceu na Grécia antiga, com o “ditirambo” (uma espécie de profissão informal para homenagear o Deus Dionísio (Deus do Vinho)), que mais tarde incluiu um coro, que além de dançar e cantar, contava histórias. Assim, surgiram os primeiros textos teatrais. Inicialmente representava-se nas ruas e só posteriormente surgiram os teatros, devido à necessidade de um espaço próprio.

PAPEL EDUCATIVO O intercâmbio entre público e actores, bem como o crescimento quantitativo e qualitativo da arte de representar tem contribuído para a evolução do espírito criativo dos encenadores e dramaturgos. Os conteúdos são adequados ao público-alvo e as escolas de teatro exibem peças que veiculam mensagens direccionadas à educação e formação da sociedade civil. Este é um dos principais papeis do teatro e que se reflecte na adesão das pessoas que se dirigem às salas com o intuito de aprender algo mais. Afinal, educar e formar uma sociedade são as principais funções

desta arte, em que os actores em cena representam as situações do dia-a-dia, procurando adoptar um papel interventivo e formativo. A exigência do público contribuiu para que nos últimos anos, os actores desenvolvessem e aperfeiçoassem técnicas distintas e géneros de interpretação, como o drama, a tragédia ou a comédia, sempre com mensagens alusivas ao quotidiano. MONSTROS DO TEATRO Os actores fazem a história desta arte. Quando a representação deu os primeiros passos, ainda antes da independência, destacou-se uma geração de talentosos artistas, que brilhavam nos palcos improvisados. Roldão Ferreira e Armando Correia de Azevedo foram os mais aclamados. No mesmo período, distinguiram-se igualmente José Abrantes, António Francisco de Oliveira, Ana Paula Victor, Salvador Freire, David Mendes, Armando Rosa, entre outros. Os actores pós década de 80 Adelino dos Santos Caracol, Pulqueira VanDunem, Africano Cangombe, Avelino Dikota, Correia Domingos, Zulmira, Vitória Soares e Lourenço Mateus Manuel foram recentemente homenageados numa gala promovida pela Associação Angolana de Teatro. O evento aclamou ainda Walter Cristóvão e Agnela Barros pelo contributo para o enriquecimento do teatro e Manuel António Sebastião, director provincial da cultura de Luanda foi considerado o maior responsável pela massificação da técnica.

DIA D PARA O TEATRO NACIONAL Luanda é apontada como o berço do teatro nacional, que deu os primeiros passos nos anos 80, período em que os grupos se encontravam sob a tutela de instituições públicas ou privadas com grande porte, que providenciavam a sobrevivência destas escolas. Porém, os historiadores referem que, à semelhança dos restantes continentes, o teatro em África, e em particular em Angola, existe desde os primórdios da civilização. Já existiam pequenos grupos e apresentações teatrais antes da independência. Em 1977, nasceu a Escola Nacional de Teatro (ENT). Na década de 80, esta técnica foi crescendo timidamente, pautando-se por pequenas associações, que na capital não chegavam a vinte e por um reduzido número de salas, que eram mais que suficientes para albergar a vida cultural. Com o eclodir “O teatro é o primeiro soro que o homem inventou NOVA GERAÇÃO DE TALENTOS da guerra, o sector do cinema para se proteger da doença da angústia” Grande parte dos actores consasofreu um retrocesso, assistingrados iniciaram-se nos grupos do-se à falência da maioria dos Luigi Pirandello in “Seis Personagens em Busca de Autor” teatrais amadores da periferia. espaços, pelo que o teatro saiu Muitos, fruto do seu profissiobeneficiado. A partir de 1992, nalismo e dedicação, alcançaram os palcos inverificou-se uma crescente procura da arte céternacionais. Os participantes da associação nica. O público aderiu entusiasmadamente e Ana Congo, no Cazenga são o exemplo do essurgiu o chamado “mundo do teatro”, que se pírito de trabalho e abnegação, que caractecaracterizou por uma maior motivação por parriza a nova formação de jovens actores. Sem te dos actores e pelo crescimento dos lucros patrocínios, nem sede, o grupo dedica-se a para os proprietários das salas. Esta situação fazer aquilo que melhor sabe, o teatro, com mantém-se até aos dias de hoje, com os muo intuito de consciencializar as comunidades nicípios a acolherem e organizarem eventos a adoptarem uma nova postura para a consoteatrais e com a proliferação de grupos, cujo lidação da paz. O sucesso é tal que os novos número de actores tem crescido exponencialtalentos promovem espectáculos em divermente. A vontade de trabalhar, melhorar e vasos municípios da região. Inicialmente com 12 lorizar a arte é visível, através das sucessivas pessoas, os Ana Congo possuem actualmenfeiras e festivais, que decorrem mensalmente te 22 actores, alguns ainda em formação, que um pouco por todo o país. Porém, as associaensaiam como profissionais e sonham pisar ções continuam a apelar a um maior apoio por os palcos nacionais e internacionais. parte das entidades governamentais e à disponibilização de meios locais.

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CULTURA & LAZER BREVES

| patrícia alves tavares

Henrique Narciso prepara novo filme “A Guerra do Kuduro” será o título do novo filme do realizador “Dito”. Com esta obra cinematográfica, pretende-se fazer uma incursão sobre a problemática do referido estilo musical e da dança nacional. “’A Guerra do Kuduro’ é um filme que espero que tenha o mesmo sucesso que as duas sequelas do “Assaltos em Luanda”. O público pode esperar que gostará do novo filme, pois será produzido a pensar nos angolanos”, explicou. O realizador espera que o filme tenho um êxito semelhante aos anteriores e realça o facto da produção estar vocacionada para o público angolano. A rodagem teve início em Março e “Dito” já avançou que posteriormente irá concentrar-se na produção e realização de uma outra película, que deverá chamar-se “O Homem Branco”. Branco .

Talento infantil apresenta single

Luís Rosa lança novo livro “Uma Maria João e Uns Knunca” é o título da nova obra do escritor Luís Rosa Lopes. Composto por nove contos e editado pela UEA, este é o terceiro livro do autor. Com uma tiragem de mil exemplares, o título retrata cenas quotidianas, como o choque de culturas, os efeitos da guerra e a forma peculiar de como se fala português no país. Recorrendo a jogos de palavras, o escritor pretende transmitir a realidade de Angola e idealiza o futuro da capital, em 2005. Natural de Luanda, Luís Rosa Lopes é um marco na literatura angolana, tendo-se distinguido pelos trabalhos “A Gota d’Água” (1984) e “Mu Ukulu, Ki Juexilé Ku Mayombola” (2005). Com este novo livro, o escritor faz uma reflexão filosófica, tendo como base as teorias discutidas desde meados do século XX, relativas à melhoria do futuro da população.

Artista plástico estreia exposição Sozinho Lopes mostra pela primeira vez as suas obras a título individual. Desde Abril, os apreciadores de arte podem admirar “O 5º Ano”, patente no Salão Internacional de Exposições da União Nacional dos Artistas Plásticos (UNAP), em Luanda. A amostra apresenta mais de 20 obras de pintura, cujo estilo figurativo aborda diversos aspectos da sociedade angolana e procura apelar à valorização da cultura angolana. O artista plástico já participou em várias exposições colectivas, dentro e fora do país, tendo recebido alguns prémios. O tema desta exposição, segundo Sozinho Lopes “representa assim a entrega pela arte, os contactos com artistas que já há algum tempo lidam com a criação, com realce para o pintor e escultor António Gonga, que muito me ajudou a seguir este caminho”. “Dialogo Fechado”, “A dança Bale, expressão cultural II” e “Vozes de outros sons e ritmos” integram o conjunto de pinturas, que foram executadas através das técnicas de óleo e de acrílico sobre tela e da técnica mista.

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É a revelação de 2009, no panorama da música infantil. Joana Flávia tem oito anos e apresentou recentemente em Luanda e Cabinda o seu novo trabalho. O fenómeno estreou-se no mercado com o single “Joana Flávia”, que visa apresentar o trabalho da petiz e promover o seu disco que será lançado brevemente. As letras são da autoria do pai e apresenta quatro faixas musicais, nomeadamente “A Paz”, “Sonho de Crianças”, “Direito de Crianças” e “Obrigado”, cantadas em português. O estilo é uma fusão de vários ritmos de Cabinda e a produtora acredita que a jovem cantora tem um futuro promissor, devido à sua voz e talento cativantes. Joana Flávia nasceu no município de Cabongo (Cabinda) e “começou a cantar aos quatro anos, na escola Missionária S. José sem o consentimento dos pais, participou e venceu o Festival Provincial de Canção Infantil, com seis anos e [actualmente] é aluna da segunda classe”, revelou o progenitor.

Agualusa publica “Barroco Tropical” Desde Maio encontra-se nas livrarias o novo livro do escritor José Eduardo Agualusa. O romance, intitulado “Barroco Tropical” terá uma edição inicial de 20 mil livros destinados ao mercado português. Ainda não existem dados quanto ao número de exemplares para Angola, porém a editora que irá distribuir o romance já está escolhida. Nesta nova obra, o escritor angolano relata uma história que decorre em Luanda num futuro próximo e num período de 24 horas.


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PERSONALIDADES

| patrícia alves tavares

artista dos ‘sete’ ofícios Escritor, poeta, contador de histórias para os mais pequenos, cineasta, sociólogo, artista plástico e apaixonado pelo teatro. Ondjaki é o rosto da recente vaga de escritores da literatura africana de língua portuguesa. Faz parte da nova geração de talentos angolanos, que se destacam pela sua maleabilidade e sucesso nas diferentes áreas do mundo artístico. Com nove obras publicadas, assume-se principalmente como escritor, cujos livros foram traduzidos em diversos países.

Ndalu de Almeida, mais conhecido pelo pseudónimo Ondjaki, nasceu em Luanda, em 1977 e publica há oito anos. Licenciou-se em Sociologia, em Lisboa, mas enveredou pela vertente artística, o que lhe valeu o reconhecimento internacional e uma série de prémios. As suas obras - nove no total - foram traduzidas em diversos idiomas, como francês, inglês, alemão, italiano e espanhol. Escritor de renome em Angola, Portugal, Cabo Verde e S. Tomé e Príncipe, Ondjaki cedo se interessou pela interpretação teatral e pela pintura. Esta última já lhe valeu algumas distinções, tendo exposto os seus trabalhos no Brasil, em Angola e em Portugal. Multifacetado, escreve para cinema e co-realizou um documentário sobre a cidade de Luanda (“Oxalá cresçam Pitangas”, 2006), após uma temporada em Nova Iorque, onde estudou por seis meses na Columbia University (2003/04). Actualmente, garante que possui “duas novas ideias” nessa área, adiantando que serão concretizadas num período de “três a quatro anos”. CURRÍCULO RECHEADO Membro da União dos Escritores Angolanos, colaborou na concretização de antologias internacionais. Aventurou-se no mundo da escrita em 2000, altura em que obteve o segundo lugar no concurso literário “António Jacinto” (Angola) e publicou o seu primeiro livro de poesia, intitulado “Actu Sanguíneu”. No ano seguinte, lançou “Bom Dia Camaradas”, um romance que ficou conhecido pelos contornos de autobiografia ficcionalizada, no qual o autor retratou a infância e a imagem de Angola nos

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Procuro gambozinos de noite sem vontade de os encontrar. no caminho tenho encontrado estrelas teias imperfeitas de uma aranha preguiçosa pessoas-nenhumas. de vez em quando entre duas sombras de nuvem, pressinto-me lá sentado. quero falar com esse de mim que escreve. apaziguar-me através dele. vezes demais, ele não está. Ondjaki In Materiais para a confecção de um espanador de tristezas (Caminho, 2009)

anos 80, incluindo factos verídicos e inúmeras memórias. Em 2007, recebeu uma menção honrosa no Grande Prémio de Conto “Camilo Castelo Branco”, com o livro “Os da minha rua”. Na Etiópia ganhou o galardão “Grinzane for Best African Writer 2008” e foi finalista da distinção “Portugal Telecom”, em 2007, com o romance “Bom Dia Camaradas”. Conquistou igualmente os prémios “Sagrada Esperança” (Angola) e António Paulouro (Portugal) com o livro de contos “E se amanhã o medo”, tendo no último ano publicado “O leão e o coelho saltitão”, destinado ao público infantil. Actualmente, o laureado escritor percorre vários países para apresentar aos leitores a mais recente compilação poética, “Materiais para confecção de um espanador de tristezas”, da editora portuguesa Caminho.

A VISÃO DA TERRA NATAL Ondjaki explica que o país artisticamente “tem crescido muito nos últimos anos”. Defensor de um maior contacto entre as culturas de língua portuguesa, o criador de uma série de obras literárias, poéticas e infantis recorda que a difícil difusão da leitura em África se prende essencialmente com o elevado custo dos livros e com a ausência de hábitos. O escritor apela a um maior diálogo entre os autores. “Angola é sinónimo de Cultura. A nível local existe muito talento em diversas áreas”, argumenta, salientando que, no entanto, falta “uma maior força em termos de produção para se trabalhar a exportação dos artistas”.

obras publicadas • Actu Sanguíneu (poesia, 2000) • Bom Dia Camaradas (romance, 2001) • Momentos De Aqui (contos, 2001) • O Assobiador (novela, 2002) • Há Prendisajens Com O Xão (poesia, 2002) • Ynari: A Menina Das Cinco Tranças (infantil, 2004) • Quantas Madrugadas Tem A Noite (romance, 2004) • E Se Amanhã O Medo (contos, 2005) • Os da minha rua (contos, 2007) • Avó Dezanove e o segredo do soviético (romance, 2008) • O leão e o coelho saltitão (infantil, 2008) • Materiais para confecção de um espanador de tristezas (poesia, 2009)



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REVISTA Nº06 · ABRIL/ MAIO 2009

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PLANETA ÁSIA

Asiáticos partem à conquista. Epicentro económico mundial desloca-se. Saiba quais os países mais poderosos do momento

yes we can áfrica A frase que pode mudar o mundo. Obama defende nova estratégia para o continente. Concertação com a China apoia maior autonomia africana

dinheiro de plástico Consegue viver sem VISA? O império que ninguém ousa derrubar é a face do novo capitalismo. A invenção mais eficaz de todos os tempos


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