ISSN 1647-3574
ano ii · revista nº07 · jul /ago 2009 350 kwanzas · 4,50 usd · 3,25 euros Economia & Negócios · Sociedade · Turismo
Arquitectura & Construção · Inovação & Desenvolvimento · Luxos · Desporto · Cultura & Lazer · Personalidades
REVISTA Nº07 · JULHO / AGOSTO 2009
Ciberguerra Uma nova geração de armas online permite sabotar centrais eléctricas, telecomunicações, sistemas de aviação ou congelar mercados financeiros de outros países. Num mundo onde já não se aplicam as regras dos conflitos tradicionais conheça a nova realidade
o chanceler do progresso BDA é o grande impulsionador do sector privado no continente. Em cada dólar investido consegue, através de leasing, angariar 3 a 4 dólares suplementares. Um exemplo de determinação
bastonário da ordem dos arquitectos Em Grande Entrevista, António Gameiro tece o retrato do país. Comentários inéditos daquele que é uma das grandes figuras da sociedade. Temas de interesse nacional à lupa em discurso directo
NOVOS EXECUTIVOS Descubra as 6 diferenças que podem fazer de si um Líder do Futuro
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ALDEIA GLOBAL A aldeia global de Marshall Mcluhan está em constante mutação e os seus efeitos nas sociedades modernas têm consequências que ultrapassam as previsões da famosa obra do sociólogo, “O meio é a mensagem”. De facto, a globalização converteu o planeta numa aldeia, cuja comunicação em rede é o meio privilegiado por todos os escalões da sociedade, desde o utilizador doméstico aos líderes mundiais. As novas tecnologias assumem-se como principais difusores de informação, mas nem todas as funcionalidades da Internet são vantajosas para os Estados. A edição 7 da Angola’in explora os perigos das ligações em rede e das trocas via electrónica de informações cruciais para a segurança das nações. Os piratas informáticos são capazes de penetrar nas redes mais improváveis, que a priori se encontram protegidos pelos padrões mais elevadas de segurança. As últimas notícias apontam que nem sistemas como a CIA (EUA) estão a salvo da acção dos hackers. A ciberguerra é o tema de capa, que pretende chamar a atenção para a importância das novas tecnologias, enquanto instrumentos de defesa e promoção da segurança interna de cada potência económica, uma vez que o ataque a um dos pontos cruciais da economia mundial pode estar à distância de um click. Hoje em dia, uma manifestação ou até um acção terrorista podem ser planeadas, agendadas e difundidas via Web. Daí, muitos especialistas assegurarem que a Terceira Guerra Mundial poderá ter origem na Internet.
Porém, nem tudo são más notícias. Em tempos de crise, em que as empresas, mesmo as mais sólidas, se vêm afectadas pelas oscilações dos principais mercados internacionais, a Angola’in revela algumas dicas importantes para liderar e alcançar o êxito. Esta edição apresenta as palavras-chave do sucesso, para que o seu negócio se adapte à modernidade e às novas exigências do mercado. António Gameiro, bastonário da Ordem dos Arquitectos, é o grande entrevistado. Num momento, em que o país atravessa uma fase de reconstrução e reestruturação profunda do território, o representante máximo dos arquitectos aborda os desafios que a região enfrenta, as principais necessidades de Luanda e o tema da especulação imobiliária, que preocupa compradores e vendedores. A destruição do património arquitectónico para dar lugar a empreendimentos modernos merece especial destaque, com António Gameiro a manifestar-se publicamente contra a aniquilação da história e identidade do seu povo, defendendo a harmonia entre o passado e o futuro. Aliás, esta questão serviu de mote para eleger algumas das maravilhas de Angola. O Cristo Rei, a Igreja de Nazaré, o Monumento da Independência, a Fortaleza de S. Pedro da Barra, o Museu das Forças Armadas, o Monumento da Batalha do Kifandongo e as Ruínas de Massangeno são os eleitos.
A Direcção
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IN LOCO · ANGOLA’IN
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58 GRANDE ENTREVISTA
a análise dos arquitectos António Gameiro, bastonário da Ordem dos Arquitectos, faz o balanço da reconstrução nacional e aponta os principais problemas territoriais de Angola. O ordenamento, o planeamento das cidades e o sobrelotamento de Luanda são algumas das questões que merecem especial destaque para o dirigente. Gameiro aproveita para se manifestar acerca da polémica gerada em volta da demolição do património nacional
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ECONOMIA & NEGÓCIOS
ARQUITECTURA & CONSTRUÇÃO
o chanceler do progresso
actualidade vs tradição
É a força motriz do crescimento africano e o principal motor do desenvolvimento e dos investimentos no continente. Encarado como o ‘driver’ para o sector privado, o Banco Africano de Desenvolvimento é o principal organismo multilateral do mundo, que tem apostado no progresso regional de África
A modernidade é visível em cada esquina. Os shoppings, os hotéis, os empreendimentos habitacionais e os espaços de negócios são a imagem de um país renovado e actual. Contudo, a harmonia entre o progresso e os edifícios históricos é urgente e fundamental. Descubra os monumentos que representam as maravilhas angolanas
ANGOLA IN PRESENTE
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IN LOCO
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INSIDE
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EDITORIAL
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MUNDO
6 | ANGOLA’IN · SUMÁRIO
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FOTO REPORTAGEM
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ECONOMIA & NEGÓCIOS
rumo ao sucesso A crise internacional tem batido à porta da maioria das empresas. Nesta edição, descubra os pontos-chave para alcançar o êxito. Os especialistas em gestão e finanças revelam os segredos e dicas importantes para moldar o seu negócio às exigências dos novos tempos e apontam conselhos importantes para os novos gestores se adaptarem aos desafios da modernidade e dos mercados actuais
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SOCIEDADE
a arte de negociar A par do petróleo, da construção civil e da agricultura, o sector do comércio foi dos mais activos da economia angolana. O desenvolvimento deste mercado é uma alternativa viável para incrementar o consumo interno e reduzir as importações. O Governo implementou medidas, que permitam a auto-suficiência alimentar e a aposta no ramo das exportações
50 sangue, precisa-se! Os progressos ao nível da recolha sanguínea mereceram o louvor da OMS, mas não satisfazem as carências nacionais. As ONG’s apelam à colaboração dos dadores de sangue voluntários para suprir as necessidades e alcançar a segurança
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22 IN FOCO
a ameaça da ciberguerra TURISMO
As novas tecnologias são uma ferramenta indispensável nas sociedades actuais. São responsáveis por aproximar povos distantes. Os meios informáticos são imprescindíveis, mas escondem muitos perigos. Os hackers estão cada vez mais especializados e a destruição de um Estado pode estar à distância de um click. Saiba quais os riscos ocultos da Internet
cultura oriental e sabores exóticos Nesta edição, o Japão é o destino de destaque, que o transporta para tradições milenares, costumes únicos e paisagens idílicas. O país dos samurais e budistas oferece uma panóplia de actividades. Se prefere cenários deslumbrantes, com sol e mar, o Chile é a opção. A pequena região é um mundo de possibilidades, onde encontrará praias, desertos e montanhas
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INOVAÇÃO & DESENVOLVIMENTO
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genéricos ou de marca?
diversidade linguística
Na altura de comprar um fármaco, surge uma questão pertinente. Quais as diferenças entre um medicamento patenteado e os produtos genéricos? Os últimos, defendem os médicos, apresentam a mesma qualidade que os de marca, mas a preço inferior. Compreenda as vantagens e desvantagens das embalagens ‘brancas’
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O idioma oficial é o Português. No entanto, os dialectos fazem parte do dia-a-dia da maioria da população. Em áreas remotas, estas linguagens dominam e são mais praticadas que a língua nacional. Conheça as formas linguísticas que ainda sobrevivem
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DESPORTO
CULTURA & LAZER
PERSONALIDADES
venus e serena williams
jorge gumbe, artista plástico
São negras e elevam o ténis africano ao mais alto nível. A modalidade, outrora acessível apenas aos brancos e elites, perdeu exclusividade e rendeu-se ao talento dos afro-descendentes, que impõem a sua soberania nos courts. As irmãs Williams são os rostos desta geração
É um dos ícones do mundo das artes. A sua vasta obra não se resume à pintura. Gumbe divide o seu tempo entre Angola, Portugal e Reino Unido. O vencedor do Prémio Nacional de Cultura e Arte do Governo de Angola revela os seus projectos e analisa o panorama artístico nacional
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LUXOS
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LIVING
ESTILOS
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VINHOS & COMPANHIA SUMÁRIO · ANGOLA’IN
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editorial
atchimmm....é só um espirro...! CENÁRIO DE PANDEMIA DA GRIPE AFECTA LÍDERES MUNDIAIS
mbartolo@comunicare.pt
10 | ANGOLA’IN · EDITORIAL
Nos últimos meses, algo se propagou em todo o munAlguns países da Ásia, os da África Subsaariana e cerdo muito mais depressa do que o vírus H1N1/Gripe A: tos grupos populacionais da América Latina serão os as dúvidas, as incógnitas de todo o tipo. Uma delas é mais afectados. A América do Sul é considerada a resaber se o mundo está preparado para uma pandemia. gião geográfica mais desigual do mundo, alguns paíEm geral, o que poderá acontecer é óbvio: os países rises deram ou podem dar uma resposta rápida e eficaz cos encaram melhor este problema. No entanto, o caa uma situação como a vivida, enquanto outros se so do México e, em menor medida, por enquanto, de encontram completamente desprotegidos. Mesmo algumas economias poderosas assim, poucos governos divulda Ásia, evidenciam que é pregaram as suas reservas de anciso melhorar muito a cultura A organização Médicos Sem tivirais. A América Central, pela sanitária nas áreas de maior Fronteiras (MSF) pediu que sua proximidade com o Méxidesigualdade, como é o case dê ênfase às pessoas que co, teme o futuro. Na Nicaráso do continente africano. Os gua, onde 60% da população já sofrem alguma doença países em desenvolvimento não tem acesso a água potável desnutrição, malária -, pois e muitas famílias vivem isolanão contam com um sistema de saúde capaz de enfrentar serão as primeiras afectadas das, os alarmes soaram desde a pandemia. No último mês, o primeiro momento. O país é o jornal “The Wall Street Jourum claro exemplo de como o nal” afirmou que, em termos materiais, o Reino Univírus pode ser devastador se chegar a lugares pobres. do é um dos países melhor preparados para enfrentar Em relação a África, é o continente mais vulnerável. este problema. Em conjunto, conta com antivirais suPor isso alguns países têm vindo a tomar medidas ficientes para tratar 33 milhões de pessoas, 54% da preventivas radicais. O Egipto, por exemplo, mandou população. A França também conta com reservas para sacrificar todos os porcos, uma decisão que acarretou atender a uma percentagem semelhante da populagraves distúrbios em cidades como o Cairo. O gabineção. A ministra da Saúde espanhola, Trinidad Jiménez, te regional africano da Organização Mundial de Saúconfirmou que a Espanha tem uma provisão de 10 mide (OMS) conta com aproximadamente um milhão de lhões de antivirais. Na Ásia, é o Japão, com uma retratamentos, embora se dê por certo que, caso cheserva de medicamentos suficiente para tratar 24% da gue o vírus, será preciso recorrer às reservas dos papopulação, o país que encabeça a lista. Mesmo assim, íses mais desenvolvidos. A organização Médicos Sem os especialistas consultados crêem que se a virulênFronteiras (MSF) pediu que se dê ênfase às pessoas cia do vírus for maior, inclusive os sistemas sanitários que já sofrem alguma doença – desnutrição, malária dos países mais desenvolvidos poderiam ser insufi-, pois seriam as primeiras afectadas. Que o vírus socientes e ineficazes. A questão não é, portanto, quem fra mutação e tenha uma virulência maior é o pior cetem mais ou menos antivirais. A Índia, por exemplo, nário possível. Razão pela qual, não é momento para poderia ter uma capacidade económica suficiente para previsões. É preciso trabalhar com diversos cenários, enfrentar a pandemia, mas carece de infraestruturas mas com precaução e evitando especulações é a menpara atender os seus milhões de cidadãos. sagem que se exige.
EDITORIAL · ANGOLA’IN
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INSIDE
| patrícia alves tavares
MOEDA ÚNIC ÚNICA A Comunidade Comunidad Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO) promete lançar, até 2020, única. O roteiro para o programa que define a estratégia global foi aprovado recentea moeda únic mente numa reunião do Conselho de Convergência dos Ministros e Governadores da Zona MoneAfricana (ZMAO) que agrupa 15 países-membros da CEDEAO. Prevê-se que a União tária Oeste Af desta comunidade seja lançada em 2020 com a criação do Banco Central da CEDEAO Monetária de e a colocação em circulação da moeda única, alguns anos após a fundação da União Monetária da ZMAO. Esta região, integrada pela Gâmbia, Gana, Guiné-Conakry, Nigéria e Serra Leoa, lançar a sua União Monetária em 2015, ou mesmo antes, com a instalação também tenciona lanç do seu Banco Central e a introdução da sua moeda comum, o ECO. O lançamento da ZMAO vai assim o da União Económica e Monetária Oeste Africana (UEMOA), que agrupa oito completar ass África Ocidental que têm em comum o franco, CFA. A UEMOA, criada em 1994, posEstados da Áf membros o Benin, o Burkina Faso, a Côte d’Ivoire, o Mali, o Níger, o Senegal, o Togo e sui como mem Guiné-Bissau. Dois países membros da CEDEAO, designadamente a Libéria e Cabo Verde, não a Guiné-Bissa membros de nenhuma das duas uniões monetárias. Entretanto, o Conselho são actualmente actualme dee Convergência d Convergên instou estes países a juntar-se a, pelo menos, uma das zonas monetárias oeste-africanas e ao Programa de Cooperação Monetária da CEDEAO. Todos os Estados-membros manter as políticas fiscais e monetárias apropriadas e a aplicação rigorosa das políticas devem mante estruturais e institucionais no quadro do Mecanismo de Controlo Multilateral, a fim de instalar convergência e uma união monetária duradouras. uma convergê
CÓDIGO PENAL PODE MUDAR O apelo surgiu pela voz do Ministro do Interior, Roberto Monteiro “Ngongo”, que defende a alteração do documento, vigente desde 1886. De acordo com o governante é “necessário alterar o código penal”, pois actualmente existem “crimes que podem ser convertidos em multas” ou “em trabalho social para a comunidade”. Recorde-se que o presidente angolano decretou uma amnistia, em que as penas de prisão maior que não ultrapassem os 12 anos serão indultadas, bem como as penas correccionais aplicadas aos cidadãos condenados que tenham cumprido pena de prisão maior até 31 de Março de 2009.
LUANDA ACOLHE PORSEG A empresa portuguesa, líder na produção de portas técnicas vai avançar com a criação de uma unidade de produção em Angola, ainda este ano. A notícia foi avançada pelo director financeiro da Porseg, Nuno Espergueiro, que revelou que a nova fábrica implica um investimento de cinco milhões de dólares (3,8 milhões de euros). O projecto conta com a parceria do grupo Pinto Basto e deverá começar a laborar no segundo semestre de 2010, estando prevista a criação de uma unidade fabril, equipamentos sociais e a construção de habitação para os trabalhadores.
PROJECTO “CRESCER ANGOLANO” A ministra da Justiça, Guilhermina Prata, anunciou a criação do projecto “Nascer Angolano”. O intuito é promover o registo imediato das crianças, logo após o nascimento. O plano pretende criar mecanismos que assegurem o registo e em simultâneo simplifiquem e desburocratizem o processo, oferecendo aos cidadãos meios simples para o cumprimento de formalidades essenciais à salvaguarda de direitos fundamentais. O mesmo tem ainda como objectivo identificar precocemente a desprotecção social dos pais.
‘MAJI YETO’ SUPRE CARÊNCIAS A Oleoga, empresa de capitais lusoangolanos, prepara-se para lançar no mercado a marca de azeite “Maji Yeto” com o objectivo de suprir as necessidades dos consumidores angolanos. Assim, serão colocados à venda cerca de 600 mil litros por mês, cujo produto, produzido pela empresa de origem alentejana, será fabricado a partir essencialmente da azeitona “galega”. A sociedade pretende exportar um quarto do azeite extra virgem produzido para o Brasil e para a África do Sul e ainda uma pequena quantidade para o mercado português.
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INSIDE
EMPREENDEDORISMO Capital acolhe primeiro Centro de Empreendedorismo do país. O objectivo é formar os cidadãos, de forma a que estes possam desenvolver as suas capacidades intra e inter empreendedoras, bem como formentar uma bolsa de ideias que permita apoiar os utentes na caracterização do negócio que prentedem criar. Facilitar a elaboração e concretização dos planos de negócios dos empreendedores e promover a transição das micro e pequenas empresas do mercado informal é outras das metas a atingir. A aposta na formação também será uma realidade.
ESCOM E OPWAY PARCEIRAS Os dois grupos, que actuam no mercado da África Subsariana, anunciaram que vão formar uma empresa conjunta, com o intuito de actuarem nas áreas da construção e das obras públicas, ao nível da referida região. A futura Escom Opway African Contractors deverá atingir um volume de negócios superior a 500 milhões de dólares, nos próximos três anos. Com esta parceria, as duas entidades vão actuar através das marcas Opway Angola e Opway Congo. No caso de Angola, o grupo ESCOM mantém a sua actividade desde 1991.
PORTO DE CABINDA COM NOVA ‘CARA’ O cais da histórica estrutura comercial foi totalmente renovado, apresentando uma área de 45 mil metros quadrados e uma capacidade de atracagem de cinco navios em simultâneo. A nova infra-estrutura portuária permitirá a movimentação de um milhão de toneladas de carga contentorizada/ano. O projecto, avaliado em mais de 50 milhões de dólares, faz parte de um programa conjunto do Governo provincial, do Porto de Cabinda e do Ministério dos Transportes.
COOPERAÇÃO COM O CONGO O Primeiro-Ministro da República Democrática do Congo, Adolphe Muzito deslocouse a Angola, com o intuito de reunir com o seu homólogo António Paulo Kassoma. Os dois governantes estiveram em conversações em privado, com o intuito de abordar questões relativas à cooperação entre os dois países. A visita de Estado visou a consolidação das boas relações e o aprofundamento da parceria económica e política.
MÉDICO CANDIDATA-SE À PRESIDÊNCIA Combate à corrupção, à pobreza “extrema” e ao subdesenvolvimento são as propostas apresentadas pelo novo candidato às eleições presidenciais. Vasco Cristóvão, antigo militar das extintas FAPLA (Forças Armadas Populares de Angola), é médico e lecciona saúde comunitária na Faculdade de Medicina da Universidade Agostinho Neto. O professor de 47 anos explicou à imprensa que a sua candidatura está relacionada com a necessidade de apostar na evolução e modernização do país. “Angola não tem desenvolvimento. Tem crescimento porque vende mais petróleo”, justificou. O médico junta-se aos três candidatos, que já formalizaram a intenção de concorrer à presidência. São eles: o economista Vicente Pinto de Andrade, a empresária Luisete Macedo e João Kambwela. As eleições ainda não têm data agendada.
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N’GOLA APRESENTA CERVEJA PRETA A fábrica de cerveja, sedeada em Luanda (Huíla), lançou o seu mais recente produto. Desde 20 de Abril e sob o slogan “Esta preta é mesmo boa”, a nova cerveja está a ser comercializada em diversos pontos de revenda, como restaurantes e similares. A nova aposta tem um sabor mais adocicado e deve ser consumida no tempo mais frio, pois não necessita de estar tão gelada como a mais clara. A empresa N’gola conquistou nos últimos dois anos duas medalhas de ouro, atribuídas pelos grandes centros cervejeiros da Europa, que analisam a candidatura de diversas marcas, incluindo as mais produzidas mundialmente.
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INSIDE ISRAEL APOSTA NA COOPERAÇÃO O embaixador israelita Sangui Karni revelou que o Ministério das Relações Exteriores do país do Médio-Oriente está empenhado em consolidar e incrementar o relacionamento com Angola, no âmbito da política no continente africano. As entidades estão empenhadas em ajudar no processo de reconstrução nacional, considerando o país angolano como uma prioridade no relacionamento externo. Israel tem apostado na cooperação ao nível das áreas dos diamantes, da educação, da saúde, da agricultura e da tecnologia. O embaixador relembrou que a parceria entre os dois países tem sido frutífera e tem dinamizado os sectores público e privado.
AUTARQUIAS EM TRÊS ANOS O país poderá ter autarquias já em 2012. Quem o refere é o Ministro da Administração do Território, Virgílio de Fontes Pereira, que preferiu não entrar em pormenores, ressalvando que actualmente a prioridade consiste na aprovação da nova Constituição (prevista para este ano). O governante explicou que o Executivo está a apostar num processo faseado de concentração de competências, encontrando-se empenhado no processo de consolidação da estrutura do Estado, especialmente ao nível de infra-estruturas. “Neste momento, a autarquização constitui um sonho”, pelo que se efectuaram progressos na “desconcentração de competências até à província, ao mesmo tempo que vamos iniciar o processo piloto de descentralização financeira nos municípios”, rematou.
CISA NASCE EM LUANDA O Centro de Investigação em Saúde em Angola (CISA) foi apresentado pelo ministro titular da pasta, José Van-Dúnem, que garantiu que o projecto oferece um avanço ao nível da pesquisa nacional e é fruto da cooperação entre os governos de Angola, Portugal e da Fundação “Calouste Gulbenkian”. A infra-estrutura permitirá melhorar a formação dos recursos humanos e aumentar a capacidade e qualidade da assistência nas unidades públicas. O novo centro de pesquisa está localizado na região do Dande.
UNEP DISCUTE AMBIENTE A XXV assembleia do Conselho de Administração do Programa das Nações Unidas para o Ambiente (UNEP) contou com a presença de Angola, que se fez representar pela Ministra do Ambiente, Fátima Jardim. A reunião, que decorreu em Nairobi (Quénia), analisou o projecto de elaboração de legislação adequada sobre a responsabilização e a criação de medidas de resposta e indemnizações por danos causados pelas actividades perigosas contra o ambiente. O documento em discussão permitirá regulamentar a legislação interna de cada Estado membro, que terá a actuação em termos de danos ambientais facilitada. O projecto será bastante útil para as economias em desenvolvimento ou em transacção.
PIB EM BAIXA O FMI (Fundo Monetário Internacional) prevê uma contracção do PIB (Produto Interno Bruto) angolano na ordem dos 3,6 por cento para o corrente ano. Esta estimativa está aquém da taxa de crescimento registada em 2008, que rondava os 14,8 por cento. Contudo, as expectativas para 2010 são bastante optimistas. O fundo internacional prevê a retoma do ciclo de crescimento que se tem registado nos últimos anos, apontando-se uma evolução do PIB na ordem dos 9,3 por cento, enquanto que em relação à Balança de Transacções Correntes o ano de 2009 registará valores negativos (-8,1 por cento), que retomarão a trajectória positiva em 2010 (0,1 por cento). De acordo com o documento, a economia mundial continuará a regredir durante este ano, registando uma quebra de cerca de 1,3 por cento, situação que não se verificava desde a Segunda Guerra Mundial.
MOÇAMBIQUE É O NOVO PARCEIRO TURÍSTICO Pedro Mutindi (Angola) e Fernando Sumbula Júnior (Moçambique) assinaram um memorando de acções conjuntas na área do turismo, que englobam os sectores da formação, ordenamento e cadastro das zonas turísticas. Os acordos são resultado da política de aproximação entre os dois países, que têm historicamente fortes laços de amizade. Os dois ministérios do Turismo deram início à preparação destes documentos em 2007, altura em que uma equipa técnica angolana se deslocou ao país homólogo.
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MUNDO
| patrícia alves tavares
coreia do norte
Produção nuclear retomada Um dia após a ONU impor sanções pelo recente lançamento de um foguete de longo alcance, a Coreia do Norte reiniciou o processo de extracção de plutónio da principal fábrica. O país voltou a processar barras de combustível nuclear na central de Yongbyon, a norte da capital, como forma de rejeição às “forças hostis”. O reactor da unidade estava inactivo desde 2007, altura em que os membros de Pyongyang chegaram a acordo e o regime comunista se comprometeu a desmantelar a infra-estrutura em troca de ajudas económicas. Desta forma, o Governo coreano inicia o rearmamento nuclear, desrespeitando as normas da ONU e a resolução 1718, aprovada em 2006.
eua
Dois bancos encerram Actualmente são 27 o total de instituições bancárias que fecharam portas nos Estados Unidos, em 2009. O número é superior ao registado no último ano. Recentemente, foi a vez do American Southern Bank (Estado da Geórgia) e do Michigan Heritage Bank abrirem falência e se juntarem ao ‘grupo negro’. Por sua vez, o Seguro Federal de Depósitos dos EUA garantiu que irá assegurar os depósitos dos clientes destas duas unidades até um valor máximo de 250 mil dólares por conta.
Gestor acusado de fraude O norte-americano James Nicholson foi formalmente indiciado por fraude de 150 milhões de dólares, através do recurso a um esquema de transacções fraudulentas de acções. O gestor de 42 anos foi descoberto após ter sido conhecido o caso de Bernard Madoff. O responsável pela empresa Westgate Capital Management anunciava aos clientes que a entidade disporia de activos que valiam entre 600 e 900 milhões de dólares, quando na realidade o verdadeiro valor era inferior. Para agravar a situação, os investidores confiavam o dinheiro a pensarem que as contas eram auditadas por uma entidade independente, algo que não se verificava.
NASA
Crise afecta regresso à Lua A agência espacial norte-americana não tem dinheiro suficiente para cumprir o programa Constelação, que deveria enviar astronautas para a Lua em 2020. Quando for lançado o orçamento final será possível confirmar esta informação, que, ao que tudo indica, adiará o regresso do Homem ao satélite da Terra. O projecto foi estruturado em 2004, onde se previa uma derrapagem orçamental de 25 por cento. Contudo, um estudo do mesmo ano do Gabinete de Orçamentos concluiu que o programa estipulado até 2025 deverá ultrapassar em mais de 50 por cento o inicialmente previsto. Mike Griffith, ex-administrador da NASA culpa a Casa Branca e a administração de Bush pelo adiamento, devido aos cortes na verba prometida para este projecto.
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sri lanka
ONU envia acção humanitária As vítimas do conflito entre as forças do Governo do Sri Lanka e os rebeldes vão receber assistência. Quem garantiu foi o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, que já ordenou o envio de uma equipa humanitária, uma vez que as agências unem esforços para reunir mantimentos e dar apoio a mais de 80 mil desabrigados. O organismo internacional tem apelado aos rebeldes tamis para que entreguem as armas e se rendam, libertando os civis. Por outro lado, pediu ao Governo cingalês que disponibilize mais terra e edifícios públicos para os desalojados e que faça sair rapidamente os civis presos na área de combate.
bolívia e paraguai
Contencioso com fim à vista
fmi e banco mundial
Crise é “catástrofe humana” A crise económica mundial transformou-se numa “catástrofe humana e num desastre” para os países em desenvolvimento, argumentam os técnicos do Banco Mundial e do FMI, que à saída de uma reunião em Washington anunciaram que a “crise já fez baixar à pobreza extrema 50 milhões de pessoas, sobretudo mulheres e crianças”. Por seu lado, os chefes de Estado e de Governo do G20 (conjunto dos países mais ricos e dos emergentes) comprometeram-se em Londres, em Abril passado, a aumentar os recursos das instituições financeiras internacionais em mais de 1.100 milhões de dólares. Entretanto, o presidente do Banco Mundial, Robert Zoellick afirmou que ainda não é possível prever uma data para o fim da crise, situação que provavelmente impedirá que se atinjam os objectivos do milénio nos prazos previstos. Os oito objectivos aprovados em 2000 pelos líderes mundiais para reduzir a pobreza até 2015 incluem o retrocesso das grandes pandemias, da mortalidade infantil e do analfabetismo, promovendo a igualdade dos sexos, a melhoria da saúde materna e a protecção do ambiente.
Os dois países americanos Bolívia e Paraguai chegaram a acordo quanto aos limites territoriais, após setenta e quatro anos em conflito. Durante a mortífera guerra que envolveu as duas regiões, La Paz e Assunção disputaram o Chaço Boreal, cruzado pelo rio Paraguai, essencial para ambas as economias. Com a chegada da paz em 1938, a área foi dividida, mas os países continuavam sem saber onde começavam e acabavam exactamente. Após um longo processo de aproximação desencadeado pelo antigo ministro argentino dos Negócios Estrangeiros, Carlos Saavedra Lamas, a Bolívia e o Paraguai passam a limitar-se por uma fronteira de 700 quilómetros, entre o vértice do rio Pilcomayo até ao formado pelos rios Negro e Paraguai.
áfrica do sul
ANC vence sem maioria ciência
Sistema Gliese tem novo planeta É o primeiro planeta encontrado fora do Sistema Solar e cuja massa é apenas duas vezes maior que a Terra. Uma equipa internacional de astrónomos fez a descoberta com um espectrógrafo e um telescópio de 3,6 metros de diâmetro do Observatório Europeu do Sul (ESO), situado em La Silla, no Chile. Segundo os investigadores, este é o exoplaneta com menos massa jamais detectado (apenas 1,9 vezes a massa da Terra) e será provavelmente muito rochoso.
g7
Recuperação ainda em 2009 Os países do G7 acreditam que se assistirá à retoma da economia mundial ainda este ano, mesmo que os riscos subsistam. Os sete mais ricos do mundo comprometeram-se a tomar “todas as medidas necessárias” para que seja possível regressar ao panorama de crescimento, evitando as restrições ao comércio internacional, bem como efectuando injecções de “capital nas instituições financeiras”. O comunicado apresentado pelo grupo revela que “os dados recentes sugerem que o ritmo de declínio das nossas economias abrandou e que certos sinais de estabilização começam a aparecer”.
O Congresso Nacional Africano (ANC) foi o grande vencedor das eleições gerais, com 65,9 por cento dos votos. Assim, o líder do partido, Jacob Zuma assegurou a presidência da África do Sul, mas sem alcançar a desejada maioria de dois terços. Embora tenha ficado abaixo dos 70 por cento, obtidos em 2004, a ANC conseguiu assumir uma ampla vantagem sobre o seu principal rival, o partido da Aliança Democrática, que apenas arrecadou 16.68 por cento dos votos. Em último, ficaram os militantes do Congresso do Povo, com 7,42 por cento. Desta forma, o partido que se mantém no poder desde o fim do regime do apartheid reuniu as condições necessárias para eleger Zuma como presidente, numa cerimónia que decorreu a 6 de Maio, já com o novo parlamento em funções. Em 23 milhões de eleitores inscritos, registou-se uma taxa de participação de 77,3 por cento.
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MUNDO
china egipto
Arqueólogos procuram Cleópatra Segundo o Conselho Superior de Antiguidades Egípcias, a investigação de três anos do templo de Tasposiris Magna, construído em honra da deusa Ísis pode ser o local onde se encontram as ossadas de Cleópatra e de Marco António. Uma equipa de arqueólogos descobriu 27 túmulos e dez múmias de nobres e o radar usado aponta para três possíveis locais para a localização dos restos mortais de duas figuras míticas da história romana. O grupo de investigadores vai dar início às escavações onde acredita estarem os corpos do casal lendário.
tecnologia
Maior combate a ciber-ataques Viviane Reding, comissária europeia para a Sociedade de Informação e dos Media, apelou para que os Estados-membros estejam mais atentos à questão dos ciber-ataques, pedindo mais empenho e coordenação entre os países, para que tomem medidas eficazes de protecção às redes electrónicas europeias. A comissária alerta para a importância das infra-estruturas de informação, que são responsáveis por controlar a distribuição de energia, de água, dos sistemas financeiros, entre outros e que são vulneráveis a falhas na segurança e a problemas técnicos. “Uma interrupção nos serviços de Internet na Europa ou nos EUA com a duração de um mês significaria perdas económicas de pelo menos 150 mil milhões de euros”, lembrou Viviane Reding. Com dados a apontarem para uma probabilidade de dez a 20 por cento de ataques de larga escala nos próximos dez anos a redes de informação europeia, é prioritário agir de forma a proteger estes mecanismos. Os representantes discutem uma estratégia e a comissária reclama um alto representante europeu para o sector.
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Encontrado antepassado do T-Rex É mais um passo na constituição da linha evolutiva dos mais famoso dinossauro carnívoro. Nos estratos geológicos, localizados perto da cidade chinesa de Jiayuguan, foi descoberto um fóssil, que corresponde ao Xiongguanlong Baimoensis, que era mais pequeno e viveu milhões de anos antes do Tyrannosaurus rex. O novo fóssil completa a ligação que faltava entre o grupo de dinossauros mais antigo e aquele que viveu dez milhões de anos depois. A espécie encontrada revela novas características que se encontram na anatomia do T-rex, como a caixa craniana, que é mais pequena e mais larga, uma estrutura vertebral mais alargada e dentes incisivos modificados.
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IN FOCO
| manuela bártolo
CIBERGUERRA
A ‘bomba atómica’ da era moderna Da mesma forma que no passado a bomba atómica mudou a guerra e as estratégias de dissuasão, uma nova corrida internacional começou a desenvolver verdadeiras armas cibernéticas e os consecutivos sistemas para proteger-se delas A questão actual é saber a legitimidade do uso de um tipo de arma e de guerra desigual, dissimulada e que pode pôr em risco bens e serviços essenciais, afectando a segurança e vida de milhões de pessoas
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As novas Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC) permitem, hoje, uma nova forma de guerra, com armas ainda mais assustadoras do que as armas nucleares ou o terrorismo – a ciberguerra. Uma nova geração de armas online, que permitem, por exemplo, sabotar e encerrar centrais eléctricas, redes de telecomunicações, sistemas de aviação ou congelar
mercados financeiros de outros países. Nos EUA, desde a presidência de G.W. Bush, com algumas experiências efectuadas no Iraque e no Irão, debate-se sobre a possibilidade de desenvolver esse tipo de armas online, com efeito defensivo, na tentativa de construir melhores defesas contra esses ataques e criar a dita nova geração de armas online. As inovações mais
sabia que… Se um único grande banco americano fosse atacado com sucesso, o impacto teria uma magnitude maior sobre a economia global do que modernas que estão a ser estudadas permitiriam a um programador do Pentágono entrar subrepticiamente num servidor russo ou chinês, por exemplo, e destruir um botnet (programa potencialmente destrutivo usado para infectar computadores de uma vasta rede, que pode ser controlado clandestinamente) antes deste software nocivo poder ser libertado nos EUA. Os serviços secretos poderiam também activar um código malicioso que é secretamente incorporado em chips de computador durante o seu fabrico, permitindo aos Estados Unidos controlar os computadores dos inimigos por acesso remoto activado sobre a internet. Este, claro, é precisamente o tipo de ataque que os responsáveis receiam poder ser lançado contra alvos norte-americanos através de chips ou computadores fabricados na China. Exemplos de desconfiança e espionagem idênticos aos que as tropas dos EUA no Iraque fizeram quando quiseram atrair membros da Al Qaeda para uma armadilha, entrando nos computadores do grupo e modificando a informação que os dirigia ao alvo de armas americanas. Ou, quando Bush ordenou novas maneiras de desacelerar o programa nuclear do Irão, em 2008, aprovando um programa experimental secreto, embora de resultados incertos, para entrar nos computadores de Teerão. Os episódios de utilização destes recursos têm vindo a amontoar-se.
Os computadores estão a tornar-se vitais nos conflitos mundiais, não só na espionagem e nas acções militares, mas também para filtrar a informação que chega às pessoas No entanto, a questão que se coloca é a de saber até que ponto será legítimo o uso de um tipo de arma e de guerra assustadoramente desigual, tentacularmente dissimulada e que pode pôr em risco, de modo avassalador, bens e serviços essenciais e assim afectar a segurança e vida de milhões de pessoas, quando não minar, totalitariamente, a liberdade individual de um vasto número de cidadãos do mundo. A guerra, como actividade humana, também deve ter regras eticamente determinadas. Depois da prisão sem julgamento e da tortura em Guantanamo de Bush, os EUA de Obama enfrentam agora uma nova problemática, com contor-
os atentados de 11 de Setembro em Nova Iorque?
nos éticos altamente complexos, sobre a sua política de defesa. Até ao momento, o máximo que se sabe é que o Pentágono encomendou a fornecedores militares o desenvolvimento de uma réplica secreta da internet do futuro. O objectivo é simular o que seria necessário para os adversários fecharem as fábricas de energia, as telecomunicações ou os sistemas de aviação de outros países. A estratégia norte-americana consiste, para já, em criar melhores defesas contra esses ataques, assim como uma nova geração de armas online. Em declarações recentes, oficiais militares e de inteligência, assim como especialistas externos, descreveram um enorme aumento na sofisticação das capacidades de guerra cibernética americana. Actualmente, no entanto, não há uma ampla permissão para as forças americanas entrarem na ciberguerra.
Num mundo onde já não se aplicam as regras dos conflitos convencionais, os EUA estão na vanguarda de uma nova dimensão - a ciberguerra NORTE-AMERICANOS NA DIANTEIRA Espera-se que o novo presidente dos EUA, Barack Obama venha a propor, dentro em breve, um esforço defensivo melhor estruturado e mais alargado, o que inclui um suporte extra avaliado em 17 mil milhões de dólares (13 mil milhões de euros) para um programa de cinco anos, aprovado pelo Congresso em 2008, que põe fim à guerra burocrática para definição de uma política nacional contra ciberataques. Um anúncio official inesperado, uma vez que não é previsível que o presidente faça grandes revelações sobre as capacidades ofensivas norte-americanas,
nas quais os serviços secretos do país têm gasto milhões de dólares. Nos últimos meses, vários responsáveis militares e de inteligência, bem como especialistas externos descrevem um grande aumento na sofisticação das capacidades de defesas dos EUA contra a ciberguerra. Muitos dos aspectos desta aposta norte-americana para desenvolver ciberarmas e definir o seu uso adequado são confidenciais, facto que faz com que muitos responsáveis se recusem falar publicamente do assunto. A própria Casa Branca tem recusado diversos pedidos de entrevista sobre o tema e nem sequer clarifica a posição de Obama – se é a favor ou contra o recurso a ciberarmas pelos norte-americanos. Claro que a ciberguerra não é considerada tão mortífera como uma guerra atómica, nem igualmente visível ou dramática. Porém, em Maio de 2007, Mike McConnell, ex-director dos serviços secretos, informou Bush sobre a ameaça de uma forma inequívoca. Um só ataque bem sucedido a um grande banco ‘teria um impacto na economia global maior que o 11 de Setembro’. Segundo McConnell, “a capacidade de ameaçar as reservas monetárias norte-americanas é o equivalente actual de uma bomba atómica”. Os cenários desenvolvidos no ano passado para Obama por McConnell e o seu coordenador para a cibersegurança, Melissa Hathaway, foram mais longe. Incluíam diversas vulnerabilidades incluindo um ataque a Wall Street e uma operação para deitar abaixo a rede eléctrica nacional. E eram na sua maioria extrapolações de ataques já tentados no passado. As autoridades militares dos EUA temem que as leis e as regras dos conflitos armados não sejam aplicadas no cibermundo, onde os alvos mais vulneráveis são civis. “A Rússia e a China têm muitos hackers nacionalistas”, lembra uma fonte militar.
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IN FOCO AVANÇO DA CENSURA A ciberguerra envolve limites à informação. Na web, a censura avança em força, mas há meios para a contornar. O governo iraniano, por exemplo, censura, mais do que qualquer outro, o que os seus cidadãos podem ler online, recorrendo a uma tecnologia específica para bloquear milhões de sites da internet com notícias, comentários, vídeos, música e, até há pouco tempo, o Facebook e o Youtube. Em sites muito populares que oferecem downloads gratuitos de software surgiu, em Julho de 2008, um programa informático que permite aos iranianos esquivarem-se às limitações censórias do governo. Os primeiros a descobrir o alçapão foram estudantes universitários, que passaram a notícia através de emails e partilha de ficheiros. No fim do Outono, mais de 400 mil iranianos navegavam na web sem censura. O software foi criado por peritos informáticos chineses, voluntários do Falun Gong, o movimento espiritual que o governo da República Popular suprimiu em 1999. Os peritos mantêm uma série de computadores em centros de dados pelo mundo inteiro para reencaminhar os pedidos dos utilizadores da web de modo a contornar os firewalls dos censores. A internet já não é apenas um canal essencial para comércio, entretenimento e informação: tornou-se também o palco do controlo estatal e da rebelião contra ele. Os computadores estão a tornar-se cada vez mais vitais nos conflitos mundiais, não só na espionagem e nas acções militares, mas também para determinar que informação chega às pessoas no planeta. Existem mais de 20 países a usar sistemas sofisticados para bloquear e filtrar conteúdos da internet, revela a organização Repórteres Sem Fronteiras, grupo sedeado em Paris que promove a liberdade de imprensa. Embora os sistemas de filtragem mais agressivos tenham sido instalados por governos autoritários, como o de Irão, China, Paquistão, Arábia Saudita e Síria, algumas democracias ocidentais começaram também a filtrar conteúdos como a pornografia infantil e material de natureza sexual. Uma amálgama heterogénea de activistas políticos e religiosos, defensores das liberdades civis, empresários da internet, diplomatas, militares e agentes de serviços de segurança está agora a combater a crescente censura da internet. Os criadores do software usado pelos iranianos pertencem ao Global Internet Freedom Consortium, cuja base está sobretudo nos Estados Unidos e tem estreitos laços com o Falun Gong. O consórcio é um dos muitos grupos que estão a desenvolver sistemas para tornar possível o acesso à internet aberta. Neste jogo do
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Uma nova geração de armas online permite sabotar e encerrar centrais eléctricas, redes de telecomunicações, sistemas de aviação ou congelar mercados financeiros de outros países
gato e do rato, o gato contra-ataca. O sistema chinês, por exemplo, que os opositores designam por a Grande Muralha da China, é em parte construído com tecnologias ocidentais.
A internet já não é apenas um canal essencial para comércio, entretenimento e informação. Tornou-se também o palco do controlo estatal e da rebelião contra ele Razão pela qual, hoje o governo chinês emprega mais de 40 000 censores em dezenas de centros regionais e centenas de milhares de estudantes recebem dinheiro para inundar a internet com mensagens do governo para afogar a intervenção dos dissidentes. Isto não quer dizer que a China bloqueie o acesso à maioria dos sites da internet: grande parte do material existente na web está disponível
aos chineses e sem censura. Os censores do governo censuram sobretudo grupos considerados inimigos do Estado. O bloqueio deste de grupos com esta nomeação é, cada vez mais, insidioso porque a tecnologia de filtro tornouse bastante sofisticada. Os governos podem bloquear palavras ou expressões sem que os utilizadores se dêem conta de que as suas pesquisas na internet estão a ser censuradas. Quem apoia os opositores da censura critica os sistemas geridos pelo governo, declarando-os o equivalente digital do Muro de Berlim. Também vêem no combate anticensura um poderoso instrumento político. Todas as semanas, a internet da China recebe 10 milhões de mensagens de correio electrónico e 70 milhões de mensagens instantâneas do consórcio. Mas, ao contrário do correio não solicitado (o spam), as mensagens oferecem software para contornar os sistemas governamentais que bloqueiam o acesso a sites da web de grupos da oposição.
ECONOMIA & NEGÓCIOS
| manuela bártolo
banco africano de desenvolvimento
o chanceler do progresso É do conhecimento geral que o desenvolvimento do sector privado é driver de sustentabilidade, força de crescimento económico e redução da pobreza nos países. Este é, portanto, um dos principais objectivos do Banco Africano de Desenvolvimento (BAD). Uma instituição que está fortemente empenhada no estabelecimento de parcerias com empresas para o crescimento do sector privado no continente. Criado em 1964, este é hoje um dos maiores bancos multilaterais do mundo. Enquanto organismo para a promoção do progresso económico e social que tem como metas a luta contra a pobreza, a melhoria das condições de vida da população e a mobilização de recursos para o desenvolvimento económico e social dos seus países membros regionais, o BAD mobiliza recursos destinados a financiar projectos e programas de crescimento. Deste modo, uma das suas grandes estratégias é a promoção do investimento de capitais públicos e privados em projectos e programas que possam contribuir para o desenvolvimento económico e social em África, entre os quais é de destacar programas e estudos no âmbito do sector agrícola, da saúde, dos transportes, das telecomunicações e, como é referido em cima, do sector privado. A sua intervenção acontece ainda em sectores como o dos recursos hídricos ou o da luta contra a Sida. O seu papel tem, por esses fac-
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tores, sido preponderante no continente africano, tornando-se um exemplo gratificante para os seus congéneres mundiais.
O acesso limitado a serviços financeiros continua a ser um dos grandes obstáculos para as empresas africanas MAIOR COMPETITIVIDADE As empresas africanas podem tornar-se mais competitivas, caso os governos de África e os seus parceiros internacionais agilizem o acesso ao financiamento, resistam a pressões para levantar barreiras ao comércio, tornem mais eficientes as infra-estruturas, melhorem os serviços de saúde e de educação e consolidem as suas instituições. Estas são algumas das conclusões a que o relatório The Africa Competitiveness Report 2009, (Relatório sobre a Competitividade em África 2009), faz alusão. Um trabalho elaborado em conjunto por três instituições – o Fórum Económico Mundial, o Banco Africano de Desenvolvimento (BAD) e o Banco Mundial (BM), em que é salientado o facto do acesso limitado a serviços financeiros continuar a ser um dos grandes obstáculos para as empresas africanas. No entanto, as infra-estruturas subdesenvolvidas, os serviços limitados de saúde e educativos e as
débeis estruturas institucionais são também factores que tornam estes países menos competitivos no mercado global. O relatório aponta ainda para uma série de histórias de sucesso na região, que são exemplos do que os países podem fazer para melhorar o clima de negócios. Para que todos atinjam um novo patamar de desenvolvimento, o documento salienta a importância da adopção de uma visão integrada dos desafios políticos que as nações enfrentam na construção de uma base para um crescimento e prosperidade sustentáveis. O mesmo destaca dois temas políticos de curto prazo e três a mais longo prazo, para melhorar a competitividade das economias africanas. Os dois temas de curto prazo são: o aumento do acesso ao financiamento através de políticas que favoreçam o mercado e a manutenção dos mercados abertos ao comércio. Os sistemas financeiros de África têm vindo a crescer e a aprofundar-se em anos recentes, mas a presente crise global ameaça inverter esta tendência e minar os progressos iniciados. Torna-se agora ainda mais importante reforçar as estruturas necessárias para estabelecer sistemas financeiros sólidos, eficientes e abrangentes. Em resposta à crise económica global estão a surgir forças proteccionistas. Mas essas medidas só terão como resultado diminuir a procura e cercear o crescimento. Os líderes africanos devem resistir
a saber… O BAD é um banco de desenvolvimento multinacional composto por 77 membros – 53 países de África e 24 da Europa, América e Ásia. Foi criado em 1964, mas as suas actividades começaram em pleno dois anos depois, 1966, na sua sede em Abidjan, Costa do Marfim. A sua missão é promover o desenvolvimento económico e progresso social dos seus países membros regionais através de empréstimos, investimentos em diversas áreas e assistência técnica O GRUPO BAD É COMPOSTO POR TRÊS INSTITUIÇÕES: - O Banco Africano para o desenvolvimento (BAD); - O Fundo Africano para o Desenvolvimento (FAD); - Trust Fund da Nigéria (NTF) / Fundo Fiduciário da Nigéria O FAD é um financiamento concessional para os países membros regionais que não têm possibilidades de adquirir um financiamento junto do banco nos seus termos específicos. Foi criado em 1972 e entrou em plena actividade a partir de 1974. Conta, principalmente com as quotas dos países membros representantes. De acordo com a sua política de financiamento, este fundo tem como principal objectivo a redução da pobreza nos países beneficiários.
O BAD é, na actualidade, um dos principais bancos multilaterais do mundo
às pressões políticas internas para levantar barreiras comerciais que viriam a tornar ainda mais difícil a recuperação na região. Os três temas a mais longo prazo têm como objectivo ultrapassar o facto das infra-estruturas continuarem a ser um dos principais obstáculos aos negócios em África. Energia e transportes criam os principais estrangulamentos ao crescimento da produtividade e da competitividade no continente. O investimento no melhoramento de infra-estruturas colocaria a África numa trajectória de crescimento e simultaneamente serviria de estímulo fiscal nesta altura crítica. Os ineficientes serviços básicos de educação e saúde prejudicam o potencial produtivo do continente. Esta é talvez a área que carece de mais atenção. A menos que os sistemas educativos e de cuidados de saúde sejam melhorados, as empresas continuarão a ver dificultado o seu acesso ascendente à cadeia de valor e o desenvolvimento económico será prejudicado.
Em resposta à crise económica global estão a surgir forças proteccionistas. Mas essas medidas só terão como resultado diminuir a procura e cercear o crescimento
O Trust Fund da Nigéria foi criado pelo Governo da Nigéria em 1976 para assistir os países membros do grupo mais carenciados. Está sob gestão do BAD, prevê financiamento com taxas de juro a 4%, pagamento em 25 anos com 5 anos de isenção
São necessários mais exemplos de boa governação e de uma liderança forte e com visão. Um clima institucional forte e transparente é o que mais tem contribuído para o sucesso das economias mais competitivas de África. Muito tem sido feito nos últimos anos para melhorar estas estruturas, mas em muitas zonas da região é necessário tornar as instituições mais abertas aos negócios, para estimular a competitividade. Este factor é agora particularmente importante, porque a actual crise económica global ameaça fazer retroceder as reformas de governação. “O Africa Competitiveness Report deste ano é a segunda iniciativa das três organizações para colocar o continente num contexto internacional mais alargado e fazer luz sobre aspectos importantes do desenvolvimento na região, tão particularmente críticos nesta época de crise global”, diz Klaus Schwab, Fundador e Presidente Executivo do Fórum Económico Mundial. “O investimento em infra-estruturas numa óptica regional ajudaria a amortecer o impacto da crise e a posicionar África de modo a tirar partido da retoma da economia global, quando se verificar”, comentou Obiageli Katryn Ezekwesili, vice-presidente para a Região África do BM em Washington D.C. “Os países que colherão os maiores benefícios e limitarão o impacto adverso da crise serão aqueles que sustentam as reformas, consolidam a gover-
nação, modernizam os mercados de capitais e fazem os investimentos necessários para tirar partido da enorme capacidade de recursos e criatividade da sua gente”. “Para nós, a questão mais crítica nesta fase é como estabelecer um equilíbrio entre uma reacção à crise a curto prazo mantendo ao mesmo tempo um enfoque nas questões a longo prazo, chave para sustentar o crescimento em África, como o desenvolvimento de infra-estruturas, e uma força de trabalho qualificada, bem como a integração económica”, referiu Donald Kaberuka, presidente do BAD. Para além de avaliações de competitividade e custo de fazer negócios no continente, o relatório inclui
tome nota… iveness O Africa Competit iderado um Report 2009 é cons para os documento valioso , estrategas decisores políticos cios e outros do mundo dos negó ressados, intervenientes inte itura bem como uma le todos os indispensável para na região que têm interesses
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ECONOMIA & NEGÓCIOS ACTIVIDADES POR SECTORES 2009 - 2011
PROJEC ÍES DE INVESTIMENTO 2008 - 2011
100%
6.000
ua million
5.000 80% 4.000 60% 3.000 40% 2.000 20% 1.000
0
0% 2009 infrastructure
2010
governance
2011
industry and finance
total 2009-2011 education
2008
agriculture
social
INVESTIMENTOS PAêSES AFRICANOS EM INFRA-ESTRUTURAS % investimento / pib
fonte: resultados preliminares aicd 2008
adb private lending
2009
2010
adb public lending
adf loan
2011
adf grant
NECESSIDADES INVESTIMENTO EM INFRA-ESTRUTURAS NA çFRICA SUB-SAHARIANA NOS PRîXIMOS 10 ANOS fonte: resultados preliminares aicd 2008
12%
10%
CAPEX 8%
OPEX
US $ MILHÕES/ANO
% PIB
US $ MILHÕES/ANO
% PIB
6%
t. informação
0.8
0.1
1.1
0.2
4%
irrigação
0.7
0.2
-
-
2%
energia
23.2
4.2
19.4
2.4
transporte
10.7
1.7
9.6
1.5
2.7
0.4
7.3
1.2
38.1
6.6
37.4
5.3
namibia
cape verde
south africa
ghana
malawi
mozambique
benin
ethiopia
lesotho
kenya
senegal
zambia
chad
uganda
tanzania
niger
nigeria
capital
madagascar
current
cameroon
rwanda
c. d’ivoire
0%
águas e saneamento total
tir em alguns projectos, retiraram-se devido à americanos investidos por esta instituição também uma análise sobre a profundidade e crise. Em Março passado, esta entidade insem infra-estruturas dos instrumentos de insofisticação dos mercados financeiros regiotaurou um Fundo de Liquidez de Emergência tegração regional em África, permitem monais, as medidas eficazes que as economias de um capital de 1, 5 mil milhões de dólares bilizar entre 4,5 mil milhões a 6 mil milhões relativamente mais pequenas do continente americanos. O BAD adoptou ainda uma iniciade dólares americanos suplementares, que têm introduzido para promover a sua competiva de financiamento do comércio num vavêm aumentar o que foi investido. Segundo o titividade e a medida em que os países africalor de um bilião de dólares americanos para mesmo responsável, estes fundos continuam nos têm implementado factores para facilitar colmatar as desistências de algumas instia ser insuficientes, já que as estimativas pao comércio transfronteiras. Estão também tuições financeiras dos projectos em execura as necessidades de África em investimento incluídos no relatório perfis detalhados de ção em África. Dentro deste quadro, competitividade e clima de investimento, fornecendo assim um O BAD investe USD 1,5 mil milhões/ano em uma outra medida foi implemensumário dos motores de compe- instituições e operações de integração regio- tada, em princípios de Maio, e que titividade em cada um dos países nal para infra-estruturas básicas. Em cada consistiu na mobilização de 15 mil abrangidos pelo relatório. dólar investido consegue, através de leasing, milhões de dólares americanos para ajudar África a ultrapassar esta fase levantar 3 a 4 dólares suplementares de crise financeira. Lamine Manneh INVESTIMENTO EM POTÊNCIA indicou que, tendo em conta o custo O BAD investe anualmente cerexorbitante dos projectos de infra-estruturas a nível das infra-estruturas, efectuadas pelo ca de 1,5 mil milhões de dólares americanos básicas, o BAD criou um programa intitulado Consórcio Africano para as infra-estruturas, em instituições e operações de integração “Facilidade de Preparação de Projecto de Innos próximos 10 anos, atingem entre 40 e regional no continente para infra-estruturas fra-estrutura”, através do qual o banco con80 mil milhões de dólares americanos desbásicas. De acordo com o responsável do Decede, em colaboração com os seus parceiros tinados ao desenvolvimento das infra-estrupartamento de Ligação e Parceria com as Cobilaterais e multilaterais, facilidades com a turas básicas no continente. O perito do BAD munidades Económias Regionais em África concessão sob forma de doações de recursos afi rma que estas enormes necessidades em da instituição bancária, Lamine Manneh, em aos países para financiar a preparação dos investimentos foram agravadas pela actual cada dólar investido o banco consegue, atraprojectos de infra-estruturas. crise fi nanceira mundial, indicando que alvés de leasing, levantar três a quatro dólares guns parceiros fi nanceiros que deviam invessuplementares. Os 1,5 mil milhões de dólares
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no epicentro da comunicação
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| manuela bártolo
líderes do futuro
A IMPORTÂNCIA DE SE SER UM LÍDER A expressão que caracteriza os líderes do futuro é “self-starter”. É o executivo que tem iniciativa, orientação permanente para os resultados, capacidade de influir de forma efectiva em processos de decisão e que tem ainda o dom de ser extremamente motivado. O chamado selfstarter tem uma enorme força de vontade, tenacidade e perseverança. É aquele que aceita os desafios e procura sempre as melhores alternativas para executar as suas tarefas. Os líderes do futuro não são, por isso, líderes que esperam. Têm em si um espírito proactivo, precursor e instinto peremptório. Têm a capacidade de permanentemente inspirar a sua equipa, obtendo resultados para o accionista no curto prazo, mas gerindo com uma visão em mente, assegurando a sustentabilidade a médio e longo prazos. Não há espaço para aversão à mudança. Sabe lidar com diferentes cenários, equipas e mercados. No livro O Líder do Futuro, o guru da gestão Peter Drucker deita por terra a teoria de que um indivíduo já nasce líder. E esta investigação confirma que o é talhado no dia-a-dia. A autonomia faz parte das características dos novos gestores. Os líderes são incentivados a tomar decisões, assumir responsabilidade e a ter capacidade de se auto-avaliarem. Os homens tenderão a actuar como se fossem conselheiros. No futuro, pessoas que não forem coaches não serão promovidas. Gestores que forem coaches serão a regra. Marcará a nova forma de gerir a actuação em equipas multidisciplinares e com quem discutem estratégias. Isso dará ao líder uma visão global e não só a que os submissos lhe transmitem. Ter uma mente estreita não faz parte da lista de características dos dirigentes promissores. Aliás, o género técnico, que não sai do trilho preestabelecido e estilo workholic está fora de moda. Os mais atentos já se aperceberam que é preciso ser mais zen. Não se trata de nada esotérico, mas puro bom senso na gestão do tempo e das atitudes. O que conta é ter mais tempo para dedicar às pessoas.
Os líderes terão de ter mais espírito de missionário e menos de mercenário
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GESTORES COMUNICATIVOS E COOPERANTES Os homens e mulheres que mandarão, no futuro, nas organizações serão de fácil acesso e partilharão a informação com as equipas, quer em reuniões, quer informalmente. Razão pela qual, o líder do futuro deverá comunicar com persuasão, comportar-se com honra, respeitar os outros e saber actuar, ao mesmo tempo que gera confiança, certeza, optimismo e convicção, de forma a criar um compromisso. Difícil? Sim. Mas não impossível. É preciso ter uma mente muito aberta, respeitar os valores e ter noção do que a vida custa. No futuro, tenderão a ser valorizados os profissionais interessados por áreas que vão além do trabalho, como as artes e que mantenham hobbies. Tudo isso enriquece o ser humano e com uma mente estimulada é mais fácil analisar qualquer assunto, encarando-o com um todo. Confirma-se também que quem consegue equilibrar carreira e família é mais feliz, está mais realizado e apresenta melhores resultados. São estas pessoas que as empresas tenderão a caçar. Hoje os jovens já manifestam preocupação em ter tempo para a sua vida
UM SONHO DE LÍDER A consultora Korn/Ferry International diz que as seguintes competências são essenciais ao líderes do futuro › Iniciativa É a capacidade de influir de forma efectiva na decisão, ser extremamente motivado, o chamado self-starter, ter grande força de vontade , tenacidade e perseverança. Quem tem iniciativa e aceita desafios, depois de fazer a avaliação dos riscos, e procura sempre novas e melhores alternativas para executar as tarefas, sem perder a orientação permanente para os resultad os; › Capacidade Intelectual Argumentar com lógica e ser capaz de correlacionar factores e problemas complexos; › Competência Funcional Domínio da função, expansão do conhecimento e o reconhecimento de oportunidades. Quem tem esta competência mantém um foco permanente na actualização; › Competência organizacional É a capacidade de observar, definir e adaptar prioridades, resolver problemas e implementar soluções e de ter uma postura construtiva em relação à mudança; › Produtividade e estabilidade Saber administrar o tempo, manterse focado no problema e não se deixar levar por assuntos secundários. Um profissional de alta produtividade preocupa-se em dar feedback sobre iniciativas anteriores, é resistente ao stress e possui a capacidade de actuar em situações críticas, sem perder a vitalidade e a estabilidade emocional; › Compatibilidade com os outros Esta área pode ser entendida como a inteligência emocional. Sabe interagir com superiores, pares e subordin ados, estabelece relações construtivas e duradouras. Tem capacidade de comunicação, inspira, tem carisma e ainda sabe usar a intuição.
pessoal e para a sua futura família. Nota-se que os interesses não estão só concentrados no emprego, mas também no desporto e na intervenção social. Quando todos são muito bons é a inteligência emocional que faz a diferença. Hoje já há candidatos a lugares de liderança que são preteridos por falta de soft skills, por não terem inteligência emocional, de interacção e de liderança, não serem bons ouvintes ou não saberem ler sinais de equipa e de mercado. “Os líderes terão de ter mais espírito de missionário e menos de mercenário”, explica Fernando Neves de Almeida, managing partner da Boyden. Razão pela qual, algumas escolas de Gestão já se estão a adaptar ao novo paradigma e está preocupada com disciplinas que tratam, por exemplo, o impacto da felicidade no trabalho.
O futuro vai requerer talento para gerir com originalidade ADEPTOS DA MUDANÇA Não lutar contra o inevitável é a lição a retirar da crise financeira que o mundo vive e que irá
relembrar mais tarde. Nos últimos anos criouse uma economia muito virtual, que revelou todas as suas fraquezas, e faltou uma regulação forte e eficaz. Por essa razão, os líderes do futuro terão de estar preparados para lidar com Estados mais interventivos e com reguladores mais fortes. Da crise, emerge a necessidade de um melhor aproveitamento das equipas, a necessidade de fazer diferente e de pensar em como gerar dinheiro, uma vez que a liquidez será nos próximos tempos o bem mais escasso e mais valorizado em todas as empresas. Liderar organizações é um jogo cada vez mais rápido e arriscado. Terá mais oportunidades de ganhar este desafio enquanto gestor se colaborar com o sucesso da mudança; se conseguir entender como será a empresa no futuro e se conseguir mostrar aos seus accionistas e aos seus colaboradores como as suas habilidades podem ser úteis; e ainda se souber manter as equipas tranquilas e o trabalho sem derrapagens no tempo e no custo. Mas isso não basta. Ainda será necessário compreender que as prioridades da empresa mudam em momentos complexos. Aos líderes do futuro será exigido gerir à vista.
Informação já não é poder, mas, sim, utilizar e seleccionar O futuro vai requerer talento para gerir com originalidade, uma via nunca experimentada. Precisará de obstinação mental e força de carácter. A salvação dos gestores passará por adaptar as ideias de acordo com a situação em que se está a viver e a trabalhar. É preciso ser humilde para reaprender; ter vontade de aprender, perceber as diferentes realidades e não dar nada como garantido são factores chaves para ser um líder do amanhã. Com esta crise aprendemos que o que não sabemos tem mais importância do que aquilo que já sabemos. O que os gestores precisam de fazer é reduzir o que não sabem e o seu respectivo impacto, aceitando o grau de incerteza em que lideram e aceitando ser postos à prova, porque só daí advém a segurança. A capacidade analítica também é condição para o sucesso. Hoje todos temos acesso a milhões de dados, sobretudo através da internet. No futuro serão mais ainda. Será elogiada a habilidade de separar o trigo do joio e perceber o que é realmente importante para o seu negócio. Com-
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pilar a informação é fácil. Difícil é seleccionar, colocar os dados em perspectiva e, a partir daí, retirar novas tendências e padrões de comportamento que podem ser úteis para decidir que caminho a empresa que lidera vai escolher. Informação já não é poder, mas, sim, utilizar e seleccionar. Os novos líderes devem mobilizar os recursos e a informação que não estão a utilizar dentro da sua própria empresa e criar um organismo de informação e inteligência dentro da organização. É necessária uma gestão com base na verdade. Já não vai ser possível ocultar informações da maneira como foi feito até aqui e isso exige uma nova forma de trabalhar. A informação aliada ao avanço das tecnologias vai ter um impacto cada vez maior na vida dos executivos, pois permitirá tomadas de posição rápidas sobre os mais variados assuntos e a integração das tecnologias Web, telefónica, rádio e de comunicações móveis está a criar um mundo always on, always connected, everyone to everyone, everything to everything (sempre ligado, sempre conectado, todos para todos, tudo para tudo). Uma frase que espelha a importância do gestor estar preparado para ficar sempre on.
O trio do futuro passa por: lucro, pessoas e ambiente Executivos sustentáveis! Sabe o que isso é? Ter consciência socioambiental será obrigatório nos tempos mais próximos. Podemos arriscar que hoje dificilmente é vetada uma candidatura a um emprego de topo por falta de envolvimento do candidato neste assunto. Muito se diz, mas ainda pouco se faz. É sempre vista como uma disciplina do futuro. Porém a maioria dos recrutadores acredita que o tema já é importante e que poderá ser um factor de exclusão de vários candidatos no futuro. Desenvolver negócios sustentáveis será a responsabilidade de todos os executivos sem excepção. O novo tema indissociável da liderança é realmente o desenvolvimento sustentado, o que significa ter uma estratégia. O futuro não passa por tomar decisões meramente tácticas e instrumentais, com vista apenas à remuneração do accionista e para se reflectir no seu bónus. As feridas provocadas ao ambiente não serão toleradas doravante. Por exemplo, numa política de deslocalização da produção isso terá de ser particularmente tido em conta. O trio do futuro passa por: lucro, pessoas e ambiente. Os líderes globais elegem o tema das alterações climáticas como a principal preocupação por volta de 2030, revela um estudo do Fórum Económico Mundial
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de Davos. De acordo com os dados revelados, 59% dos jovens que serão líderes globais de futuro consideram que o aquecimento global será o tema chave em 2030, seguido da problemática da delapidação dos recursos, que preocupa 37% dos inquiridos. O estudo revela que sete em cada dez participantes acredita que as nações perderão poder, mas continuarão a ser determinantes para resolver os problemas globais, enquanto 86% pensam que as empresas e os indivíduos terão protagonismo crescente neste tipo de temas. Não é só o perfil do executivo e as suas preocupações que mudarão com o passar dos anos. Também as fontes onde as empresas passarão a ir buscar os novos talentos tenderão a alterar-se. No último meio século houve consenso sobre o tipo de lugares onde se iam buscar líderes eficientes, como as empresas General Electric, IBM, Procter, Mckinsey, e as universidades de Harvard e Wharton. O novo campeonato passa por encontrar, por vezes em lugares não convencionais, seres humanos com competências para liderar. As pessoas invisíveis na organização têm de se tornar visíveis. Como diz Kant ‘tenha a coragem de se servir da sua própria inteligência’. NOVOS MERCADOS, NOVOS TALENTOS Os gestores que vão liderar as grandes empresas terão de estar ainda preparados para trabalhar em novos e improváveis países. Fazer uma carreira numa organização deslocalizada ou em mercados emergentes tornar-se-á banal no futuro. No novo paradigma, a economia vai ter de se adaptar aos novos desafios, uma vez que a deslocalização será cada vez mais
acentuada dos centros de produção para os mercados emergentes. Por outro lado, há que ter em conta as novas energias que podem vir a traduzir-se numa revolução industrial, com um alcance ainda imprevisível. E ainda o incontornável papel que os BRIC (Brasil, Rússia, Índia e China) irão ter na economia global. Uma questão pertinente, que ainda não se consegue prever, pois como dizia o famoso filósofo Sócrates ‘cada pessoa cria a sua verdade de acordo com os seus interesses’ e isso reflecte o que se vive hoje no mundo empresarial e, sobretudo, na realidade financeira. Daí, o maior problema dos líderes actuais foi que a determinada altura deixaram de experimentar a partir da perspectiva do não saber. No futuro, não podem, nem devem correr esse risco. SER O NÚMERO 1 Para as centenas de líderes e de jovens de elevado potencial que existem actualmente, um conselho: é fundamental o auto-conhecimento, pois é aí que vai estar a nova forma de pensar. Desta forma, pode-se evoluir de um pensamento mais táctico para um estratégico, aquilo que as empresas exigem, uma vez que uma táctica sem estratégia não é sustentável. No futuro, os executivos vão ter de aprender a questionar-se. Assumir o que os outros nos transmitem, não reflectindo por conta própria e ignorando a dúvida é um comportamento que não pode permanecer. É preciso testar o risco da perda, mesmo que a nível pessoal. Toda esta mudança mental exige décadas, mas é um inevitável upgrade (evolução) que é preciso fazer na maneira de pensar dos mais jovens que querem ser o futuro líder das empresas.
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genes do sucesso OS 4 “É’S” PARA VENCER Ouvimos falar com frequência deste conceito. Mas, na verdade, do que se trata a “mentalidade global”? Primeiro, precisa de desvendar o segredo guardado por alguns dos maiores gestores da actualidade e conhecer os quatro “és” da liderança global, ou seja, as qualidades essenciais para o sucesso neste novo mundo sem fronteiras. O primeiro “é” surge da palavra empatia. No moderno contexto empresarial significa muito mais do que compaixão. Traduz na essência a necessidade de conhecer suficientemente bem as outras culturas para mostrar conscientemente respeito pelos seus valores e tradições. No mundo global, é importante dignificar aquilo que os diferentes países valorizam. O segundo “é” diz respeito à “experimentação”, o que representa a ausên-
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cia de medo por parte de um líder para explorar novas ideias, produtos e mercados, mesmo quando as recompensas não são imediatas. O “é” seguinte aplica-se a “exemplo”: à medida que as empresas se tornam mais dispersas e distantes, os líderes deparam-se, mais frequentemente, com o difícil desafio de construir uma cultura organizacional com valores partilhados. Facto que faz com que os novos líderes precisem de se impor como modelos a seguir. Nesse sentido, precisam de incorporar os comportamentos que as suas empresas esperam de todos os colaboradores. Lembrese: as acções falam mais alto do que as palavras. Finalmente, o quarto “é” deriva, mais uma vez, da crescente competitividade do mercado global – “entusiasmo” – ou mais especificamente “entusiasmo para ganhar”. Os
líderes do futuro precisam de assumir atitudes diferentes e radicais, pois sem desejo e vontade de vencer não se pode competir no mundo actual. Nos negócios algumas qualidades de liderança são imutáveis, no entanto o território empresarial expandiu-se para novas áreas e, com ele, também as exigências para uma boa liderança.
Ter uma visão global e respeitar diferentes valores culturais são características cruciais para aqueles que querem ter sucesso. Assim como ter coragem de inovar em tempos de crise, mesmo que, para isso, tenha de...se despedir
COMO MARCAR A DIFERENÇA Há mais maus dirigentes do que se possa imaginar, mas um bom gestor pode mudar a vida de um profissional. Um bom chefe deve ser íntegro, bom avaliador, saber criticar e recompensar, não ter favoritos e ser um apoio nos momentos maus. Muitas vezes nos questionamos sobre como “gerir” um mau chefe – aqueles que manipulam e confundem os colaboradores. No entanto, sabemos que a diferença entre um bom e um mau líder é que o primeiro pode influenciar positivamente, inspirando tanto profissional, como pessoalmente um colaborador e ajudando-o a vencer os desafios em equipa. Mas o que devemos exigir dele? Em primeiro lugar, é razoável esperar que as suas avaliações de desempenho sejam justas e que marquem a diferença em relação aos seus pares e ambições. Um bom chefe poderá elogiar a equipa para mostrar resultados brilhantes, mas só está a fazer o seu trabalho correctamente se os colaboradores puderem contar com as suas críticas construtivas. Em segundo lugar, deve-se esperar que um líder não abandone a sua equipa nas horas de necessidade. Caso contrário, demonstra que se sente vulnerável na sua própria posição. Por último, é aceitável exigir que o mesmo ofereça recompensas pelo bom desempenho. Qualquer bom chefe sabe o quão é importante é motivar os colaboradores. E muitos bons líderes actuais recusam-se a recorrer ao velho argumento: “Teve um desempenho fantástico, mas isso é a sua obrigação”. É, por isso, igualmente importante ser-se íntegro. É horrível irse trabalhar todos os dias com a dúvida se o seu líder é ético ou se viola os valores e as normas da empresa constantemente.
Questione-se! É errado ter grandes expectativas em relação a um chefe em termos de conhecimento, sabedoria e integridade? SER ÚNICO Alguma sorte, muito suor, investimentos permanentes na carreira e uma dose reforçada de autoconhecimento. Estes são os factores mais importantes que lhe permitem construir o sucesso profissional. Para fazer parte da equipa dos vencedores que se conhecem e tiram o melhor das oportunidades e experiências para abrir novos caminhos, a revista Angola’in publica nesta edição 20 dicas para que esse processo ocorra de uma forma mais ‘consciente’ e ‘consistente’ na sua vida.
1› SEJA ECLÉTICO Especializar-se é importante, mas, para se dar bem, o profissional precisa de ser capaz de lutar em várias frentes. Encare as tarefas diferentes como crescimento e deixe o “isto eu não faço” para quando tiver um cargo mais alto e maior poder de influência e decisão.
2› NÃO SE ACOMODE Se você está há mais de dois anos na mesma função e se mesmo com um bom salário não procura ou ambiciona nenhum progresso profissional, cuidado. Para o mercado, você pode ser visto como uma pessoa acomodada e, por conseguinte, como alguém que não almeja crescimento. Procure colocações, pesquise, compare os seus métodos com os de outros colegas. Essa ‘investigação’ vai-lhe trazer parâmetros mais exactos, mais acertados do que aqueles percebidos no seu próprio ambiente.
3› SEJA ÉTICO É divulgado diariamente nos jornais e na TV: o mercado é corruptível e existem pessoas que fazem qualquer negócio para conseguir o que querem, inclusive desvendar segredos profissionais para a concorrência ou ‘roubar’ clientes e futuros projectos dos parceiros de negócio. Esse tipo de atitude é indesculpável e a reacção do mercado a ela é implacável: provavelmente, as oportunidades irão-se fechar para você, bem como poderá perder amizades. Faça jus à confiança que recebeu e preserve o seu bom nome a qualquer preço.
4› JUNTE-SE À LINHA DE FRENTE Existem basicamente três perfis de pessoas: as que fazem, as que mandam fazer e os denominados ‘engenheiros de obra feita’, que só criticam as acções alheias sem, no entanto, não terem capacidade para fazer melhor. Se você se enquadra neste último, esqueça e mude de estratégia. Seja um agente da mudança. Seja criativo e solidário. Vá atrás, observe mais e critique menos. Seja construtivo e aprenda.
5› CONHEÇA O SEU AMBIENTE Essa atitude ‘investigadora’ é essencial para avaliar com objetividade as suas possibilidades de ascensão e sucesso, próximas e futuras. Seja mais participativo e curioso. Pense, o que faz o colega para ter tanto êxito? O que é que a sua empresa valoriza num profissional? Para quem se destina o produto ou serviço? Esse exercício vai ajudá-lo a identificar melhor o caminho a seguir e a orientar o seu crescimento.
6› INVISTA NA SUA CARREIRA
Conhecimento não ocupa espaço. Estude idiomas, procure cursos, pós-graduação, especializações, reciclagens, workshops. Não espere que a empresa atenda as suas necessidades ou antecipe os seus desejos. Vá à luta. Fale com o seu mentor, mostre os benefícios que esse aperfeiçoamento trará e, se for o caso, invista o seu tempo e talento para obter o resultado desejável. Invista em você mesmo e, se necessário, financie ou negocie esse custo. Mas muito cuidado, não se endivide. Dê o passo de acordo com o tamanho do seu bolso e interesses. Pese tudo com muita objectividade e honestidade.
7› APOSTE EM VOCÊ COMO PESSOA Não há como construir um vencedor se você se vê como um fracasso pessoal. Procure fazer o que gosta, dentro e fora do trabalho. Você vai-se sentir mais feliz e lidará melhor com a frustração e aquele sentimento de improdutividade que às vezes bate. Não desanime: olhe à sua volta e alimente- se dos resultados que colheu, por menores que sejam. 8› INVESTIGUE O MERCADO É preciso ter uma visão abrangente dos rumos que a sua actividade e o mundo estão a tomar, ver o que acontece na sua área de actuação noutros países. É muito comum encontrar pessoas decepcionadas com mercados saturados, que batalham para criar um diferencial quando já deviam estar realizadas. Para evitar decepções, tente conciliar as perspectivas com as suas habilidades e desejos para que a sua carreira lhe traga, além de sucesso e reconhecimento, satisfação pessoal. 9› AVALIE AS MUDANÇAS COM OBJECTIVIDADE Se você é aquele tipo de pessoa que procura garantias para aceitar uma promoção, por exemplo, a sua carreira tende a estagnar. Assuma os riscos das suas decisões, até porque, numa troca de empresa, não há como prever como será a sua adaptação ao ambiente e cultura novos, por melhores que eles sejam. Lembre-se: como na lotaria, só tem chance de ganhar quem aposta. Se for o caso, não tenha medo de trocar ou de trabalhar em tempo integral, no que realmente fará a diferença na sua vida. Saiba avaliar isso com precisão e é bom, em alguns casos, procurar orientação junto de quem você confia ou que realmente está interessado no seu sucesso sua.
10› LEIA MUITO E de tudo. Num mundo globalizado, saber o que acontece à nossa volta é obrigatório. Conhecer com desenvoltura passuntos variados e sobre especificidades da sua área vai contra muitos pontos a seu favor. ECONOMIA & NEGÓCIOS · ANGOLA’IN
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11› SAIBA ‘VENDER-SE’ Um bom marketing pessoal abre muitas portas. É importante que você transmita a importância daquilo que fez e como faz, para si e para o mercado de trabalho, com confiança. Cuidado apenas para não parecer exibido. Seja objetivo ao salientar os seus pontos “positivos”, conquistas e descobertas. O resto será resultado disso.
12› FOCALIZE OS OBJECTIVOS, NÃO OS PROBLEMAS
Quando as coisas se complicarem, concentre-se no resultado e páre de perder tempo justificando os erros ou percalços do processo. Afinal, eles acontecem com a maioria de nós praticamente o tempo todo. Reclamar é reconhecidamente um modo de perder tempo.
13› MANTENHA-SE MOTIVADO E ESTIMULE OS SEUS COLEGAS Um certo desânimo de vez em quando é normal, desde que não se torne regra. Muitas vezes, a insatisfação é provocada por algum processo desgastante que faz o objectivo parecer inexequível. Um conversa competente ajuda e novos desafios resgatam a sua motivação e estimulam toda a equipa a apontar-lhe novos caminhos. 14› FAÇA UMA AUTO-ANÁLISE Os profissionais que minam as suas possibilidades de sucesso geralmente não se conhecem, duvidam da própria capacidade e impedem-na de se afirmar por medo e ansiedade. Se você se sente assim, é o momento de parar e pensar sobre o que a empresa e aqueles que ‘dependem’ da sua atitude esperam de você e acima de tudo, o que você deseja da vida. O auto conhecimento é um processo contínuo, fundamental para construir o sucesso.
15› ESPELHE-SE NOS VENCEDORES O grupo de pessoas que vivem a comentar os insucessos alheios deve ser evitado, bem como aqueles que têm inveja do real sucesso dos outros. Espelhe-se no exemplo das pessoas que, mesmo não ocupando cargos de chefia, agem como vitoriosas e realizam-se a cada conquista. Como resultado disso, ascendem profissionalmente. Pense sempre grande. 16› NÃO FUJA DOS DESAFIOS
Ao deparar com uma tarefa difícil, uma promoção, um novo “pin”, a tendência da maioria das pessoas é fugir da responsabilidade. Que tal um pouco mais de autoconfiança? Se a empresa lhe ofereceu a incumbência é porque acredita na sua capacidade. O mesmo vale para uma nova retomada de decisão, um novo começo: agarre a oportunidade e mostre o que vale.
17› TRACE UM OBJECTIVO DE VIDA Objectivo é aquilo que pode ser quantificado, tem prazo para acontecer, envolve planeamento e escolha. Se você ficar apenas no plano do desejo provavelmente desperdiçará boas oportunidades e não conseguirá direcionar a sua energia e talento. Concentre-se na meta e faça sempre uma reavaliação. Reavalie as suas medições e lembre-se “aquilo que não medimos, não poderemos controlar”.
18› SEJA COMPETITIVO. A FÉ DE QUE TUDO DARÁ CERTO, É FUNDAMENTAL. Profissionais que se desconectam do mercado acabam vinculando o seu sucesso à permanência na empresa onde estão. Pessoas bem sucedidas ‘funcionam’ em qualquer lugar e não acreditam a sua ascensão apenas a uma única estrutura. Tenha sempre novas estruturas funcionais, nunca dependa apenas de uma. Capitalize as suas iniciativas e invista na educação contínua. V.V. Rien dizia: “o aperfeiçoamento é conseqüência do fazer”. Então, não tenha medo, pois essa bagagem ainda terá validade em novas lutas, em outras situações. Essa é uma óptima táctica para praticar a independência e a autoconfiança.
19› CONSTRUA UMA BOA REDE DE CONTACTOS
Se você não quer passar por interesseiro, daqueles que só telefonam quando precisam, mantenha-se em contacto com as pessoas. Família, amigos, conhecidos do trabalho, etc, e são eles que lhe vão trazer novas referências e abrir portas inesperadas.
20› ASSUMA O CONTROLO DA SUA CARREIRA
Quem quer crescer não entrega o destino nas mãos de outra pessoa. A estratégia para dominar o crescimento é juntar à sua atividade o que você quer (deseja) e o que precisa (objectivo) com aquilo que o mercado oferece de melhor. Dominar esse processo significa mais probabilidades de vencer e, principalmente, menos frustração. Mas nunca desista, dê tempo ao tempo.
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risco ou oportunidade Nas empresas modernas o risco não é eliminado, mas sim administrado
as que não têm um processo de garantia de confiabilidade e integridade dos activos críticos através da inspecção com base nos riscos. Diversas questões que devem ser acauteladas e encaradas como prioritárias, enquanto premissa da montagem da gestão de activos. Problemas a que os gestores devem dar foco urgentemente, pois mesmo cientes da existência dos riscos e avessos às perdas, a maioria deles ainda não dá a devida atenção e até desconhecem os recursos das modernas ferramentas de gestão nessa área. Alguns poucos, ausentes de visão holística, aplicam algumas políticas de gestão de risco apenas com o objectivo de obterem certificações de qualidade. Desconhecem que existe uma linguagem adequada e sequer sabem da existência de um instrumento tecnológico adequado. Ao longo dos últimos 15 anos ocorreu um significativo avanço nas ferramentas destinadas à gestão do risco, de tal modo que a extinção de todos riscos apresenta-se hoje como uma composição fantástica e absurda: o risco não é eliminado, mas sim administrado. Temos actualmente a identificação e necessidade de, motivado pela demanda mundial de processos e procedimentos eficazes de governança corporativa, em razão das séries de colapsos e fraudes, abordar a relação entre a adequada gestão ou administração de riscos e o seu ambiente de controlo resultante, fundamentais para uma sólida gestão empresarial.
A gestão de risco não é um assunto novo nas empresas. Pelo menos para as mais conectadas com os aspectos ligados à perenidade dos negócios, importância da marca, relevância da continuidade operacional, impactos relacionados com a QSSM (Qualidade, Saúde, Segurança e Meio Ambiente), entre outros. Mas parece que o mundo da gestão ainda navega um pouco longe destes princípios. Isto porque muitas empresas não têm uma matriz de avaliação de risco para os vários aspectos dos projectos capitais, instalações, unidades e tipos de equipamentos. Não são raras
O risco é definido como “tudo aquilo que desvia do objectivo”. Tal conceito é o que estabelece a ligação da gestão do risco às metas estratégicas de uma empresa GESTÃO DE RISCOS INTEGRADA, TENDÊNCIA OU MODA? Realizar análises de riscos com totalidade significa quebrar alguns paradigmas antigos, um deles a integração dos processos de gestão de riscos. Mas, integrar a gestão de riscos é uma
tendência ou uma moda? Primeiro é importante esclarecer alguns pontos: 1º. ponto - Você entende que a gestão de riscos é um aspecto amplo da gestão empresarial moderna? 2º. ponto - Você entende que a continuidade dos negócios, segurança da informação, gestão das tecnologias da informação, responsabilidade social corporativa, gestão de riscos ambientais, aspectos legais e direito digital são partes do mesmo universo de disciplinas da gestão de risco empresarial moderna? 3º. ponto - Você entende que a gestão moderna é baseada em processos, qualidade e riscos? E que medir é necessário para gerir? Se respondeu sim apenas no 1º. ponto, tudo que escreverei a seguir não terá o menor sentido para você. Se respondeu sim no 1º. e 2º. ponto somente, então o que escreverei fará sentido, porém, não estará completamente claro a sua aplicabilidade. Se respondeu sim nos 3 pontos, então este artigo ser-lhe-á bastante útil. De facto, a gestão de riscos é uma grande tendência, sobretudo o conceito de inteligência de risco, que integra e promove a simbiose entre os vários sistemas de gestão existentes numa organização. Pensando em gestão de riscos apenas, podemos ver a integração e troca de dados, informações e resultados nos vários processos de continuidade de negócios, segurança da informação, etc. Essa troca de informações estratégicas melhora a capacidade de trabalho e operacionalização dos processos, bem como a qualidade de cada um individualmente. Brevemente a segurança da informação trocará resultados das suas análises de riscos com outros processos. Isso fará uma aproximação natural das forças de gestão de riscos, transformando risco em oportunidade, se bem aproveitados os resultados. A integração dos processos de gestão de risco permitem a criação de fórmulas únicas de cálculo de riscos e o entendimento das várias abordagens e nomenclaturas particulares de cada processo, o que trará ganhos de produtividade significativos e um melhor entendimento estratégico pela alta administração das empresas.
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a força do pecado O VALOR DA DIFERENCIAÇÃO O que seria de nós, consumidores, se não existissem marcas? O que seria de nós, se na fase final da tomada de decisão do consumo, não existissem as marcas para nos ajudar? Afinal, para que servem? A resposta a estas perguntas é básica, mas assertiva: são as marcas que realmente geram a segurança no consumo. Quando tomamos decisões por este ou aquele produto ou serviço, são as marcas que equilibram. E agora surge outra dúvida. Mas nem todos têm marcas fortes e nem todos os produtos e/ou serviços excelentes possuem marcas fortes por detrás? Verdade. Quem tem produtos especiais e que possui segurança desta diferenciação de qualificação, é importante que também fortaleçam as marcas ou que criem. Em algum momento, isso pesará na decisão do consumidor. Não há como imaginarmos, no actual mercado, a ausência de marcas. Num período, onde já não se discute mais a qualidade e as características técnicas dos produtos, nós consumidores temos a expectativa de que esta fase já foi ultrapassada e, por isso, são as experiências que nos posi-
cionam e nos levam à um novo patamar de observação e exigência. E são as marcas que muitas vezes criam em nós os reais sentidos e interpretações. Quando compramos carros, computadores, leite, iogurte, escova de dentes, cimento, azulejo, lâmpadas... o que for, são as marcas que exercem a força na tomada de decisão final. Arriscar no novo, nas novas ideias, na tecnologia de ponta, nas novas experiências, nas novas marcas... tomam tempo e, nestas horas, é muito importante que algo realmente forte de diferenciação exista. É importante salientar a importância da criação da marca, do seu investimento e gestão. Imaginem se o iPod, ao invés de ser da Apple, tivesse sido lançado por uma empresa africana de nome também desconhecido? Mudaria a tecnologia? Uma empresa africana não poderia lançar produtos como o IPod? Claro que sim. Mas a marca Apple transforma rapidamente a inovação (neste caso, também diferenciação tecnológica) em desejo de consumo mundial, sendo que o mais importante é que a já nos traz uma série de interpretações e na maioria das vezes, positivas. Marcas são o re-
curiosidade A palavra Apple foi escolhida por três razões: o nome iniciava-se com “A”, portanto apareceria listado à frente da maioria dos concorrentes; ninguém esperaria uma associação de sentidos de uma maçã com computadores, sendo uma aposta no inusitado; e uma maçã está associada a uma vida saudável (“an apple a day keeps the doctor away”). Além do mais, a maçã desenhada com faixas era uma alusão à marca listrada da IBM e o pedaço mordido uma clara referência ao pecado bíblico
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gisto de ADN, uma vez que trazem consigo os atributos e características tão necessárias para o consumo. Quando entramos no campo da atividade do luxo, estas exercem fascínio e seduzem os consumidores. As marcas do luxo são impregnadas de histórias e tradição; e ao final, nós consumidores, compramos histórias e não produtos. Acessamos serviços pela vontade da experiência. Muitas das marcas do luxo despertam o desejo da exclusividade. A gestão de marcas tornou-se por isso um princípio essencial no sucesso empresarial no século XXI. Em períodos de mercados massificados e globalizados, produção excessiva, saturação de mercado para alguns produtos, descontos e tantas outras equações de um mercado altamente competitivo, os consumidores procuram cada vez mais credibilidade, estabilidade e serem surpreendidos. As marcas, quando bem construídas e mantidas, podem fornecer tudo isso, pois não são mais apenas resultados de boas criações de logos. Elas geram compromisso e apresentam características que fazem com o que os consumidores se identifiquem. São as marcas que diferenciam os produtos, havendo estudos que garantem que as empresas que possuem marcas fortes focadas são melhor sucedidas e geralmente o lucro é maior do que as demais no mesmo sestor de atividade. Motivo por que se diz que as marcas fortes ajudam as empresas nos momentos de crise! As marcas neutralizam as percepções dos consumidores.
dados corporativos · Origem: Estados Unidos · Fundação: 1 de abril de 1976 · Fundador: Steve Jobs, Steve Wozniak e Ronald Wayne · Sede mundial: Cupertino, Califórnia (1 Infinity Loop) · Proprietário da marca: Apple Inc. · Capital aberto: Sim (1979) · CEO: Steve Jobs (afastado por motivos de saúde) · CEO interino: Tim Cook · Facturação: USD 32.47 biliões (2008)
Em época de crise, as pessoas deixam de comprar alguns produtos (comodities) Porém, procuram sempre a referência, nunca o comoditie. Neste caso, a Microsoft tornou-se o comoditie e a Apple a líder
· Lucro: USD 4.83 bilIões (2008) · Valor de mercado: USD 73.3 biliões (janeiro/2009) · Valor da marca: USD 13.72 biliões (2008) · Lojas: 247 (Apple Stores) · Presença global: + 120 países · Segmento: Eletrónico · Principais produtos: iPod, iPhone, iTunes, Quicktime, iMac e Macbook · Ícones: Steve Jobs, Macintosh, criatividade e design, a maçã, Apple store New York · Slogan: Think Different (Pensar diferente) · Website: www.apple.com
O seu público alvo são pessoas de gosto refinado, capaz de gastar mais dinheiro num produto que oferece mais status e que acredita que a garantia da loja e o suporte valem o preço O QUE FAZ UMA GRANDE MARCA? Para criar uma grande marca é preciso primeiro saber criar um conceito que emita uma sensação de excelência em relação ao seu produto. Mas o complicado é que só isso não basta! Não basta fazer uma marca apelativa se o produto não corresponder em qualidade. Acima de tudo, o produto tem de ser óptimo para ser um sucesso. E de preferência algo novo. Ora a última grande revolução a que o mundo assistiu foi no sector da informática e da comunicação. Como exemplo clássico cito a Apple. A vitória de Steve Jobs foi ter criado um conceito ‘inovador’ como marca. A Apple é jovem e clássica ao mesmo tempo. Ela causa desejo. Há dez anos atrás não passava de uma fabricante de computadores combalida. Com prejuízos seguidos, o seu principal produto, o Macintosh, era vendido apenas a designers ou viciados em tecnologia. Ao longo de uma década, passou de antiquada/fora de moda para a dianteira do mercado. De uma empresa que vendia apenas para um nicho de clientes, para fabricante de produtos de massa. De
marca enfraquecida a ícone de modernidade e sucesso. Isto porque a Apple não procurou lançar um produto, mas o produto. Hoje em dia ela influencia milhares de pessoas no mundo através de uma identidade forte e bem definida. Com a sua marca ela consegue dar mais significado às pessoas que trabalham nela e transmitir esse sentimento aos seus clientes. Ela cria legiões de fanáticos, une comunidades inteiras em torno de um conceito: o da maça mordida. Razão pela qual, deixou há muito de ser apenas uma fabricante de computadores. Hoje ela é sentimento, um modo de vida. Não tem somente consumidores, mas sim seguidores. Foi eleita uma das marcas mais influentes do mundo. Um verdadeiro ícone que se tornou um exemplo de como tirar o melhor proveito da concorrência. O seu público alvo são pessoas de gosto refinado, que é capaz de gastar mais dinheiro num produto que oferece mais status e que acredita que a garantia da loja e o suporte valem o preço. É um público de classe A, moderno e
atento às inovações teconológicas. Os estudos de branding dizem que se uma empresa trabalha todo o potencial da sua marca, ela estará a plantar valores positivos e isso irá acarretar uma liderança de segmento e, obviamente, maior lucratividade. Mas como será que isso se aplica na realidade? Não existe momento mais oportuno do que um momento de crise como o que vivemos actualmente para testar uma empresa e todos os seus pontos positivos e negativos. É exactamente neste momento que se testa a força da Microsoft e da Apple e das suas duas marcas. A Apple é uma marca que tem vindo a ser trabalhada durante muitos anos. A este trabalho de marca, adiciona-se o lançamento de produtos como Iphone, Ipod, IMac e Macbooks. Além disso, a marca também é trabalhada onde quer que a empresa esteja através das suas lojas, um factor importante a seu favor. Agora pensemos na rival Microsoft. Fez o milagre de criar um sistema operacional que funciona em todo o tipo de computador. Dominou durante anos o segmento de mercado de computadores pessoais e da internet. Ganhou milhões de adeptos que adoram competir com o seu sistema. Pessoas que foram apelidadas de hackers, crackers, spammers, entre outros nomes. Responsáveis por espalhar os denominados virus, spams, Trojans, craks e adivinhe-se qual o sistema que ajuda a disseminar essa praga? A Apple soube combater este ponto fraco e torná-lo uma vantagem a ser favor, transmitindo a ideia de que é inexpugnável.
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1976-1998
1999
ACTUAL
a evolução visual 1975
ÍCONE DO DESEJO Alguém poderia imaginar que uma maçã colorida se tornaria rapidamente famosa em todo o mundo? Com certeza que não. Em matéria de maçã como símbolo, a do fabricante de computadores Apple talvez seja apenas comparável à de Adão e Eva. Mas o facto é que, quando se fala em símbolo e quando este é uma maçã, o que hoje nos vem imediatamente à cabeça é a marca Apple. Esta traduz aos usuários toda a imagem da criatividade, inovação, design e originalidade. Razão pela qual, Steven Paul Jobs, seu fundador, se tornou o exemplo de sonho de qualquer profissional de marketing. Ele personifica como poucos os conceitos de audácia e genialidade. Considerado uma espécie de pop-star corporativo do mundo dos negócios, foi o ‘pai do Macintosh’, computador revolucionário que preconizou todos os futuros PCs depois de 1984. Quando em 1996, depois de um período onde passou por outras empresas, retornou à Apple, que estava numa situação financeira frágil, conseguiu aumentar as vendas significativamente. O segredo? O lançamento de inovações como o iMac, iPod e o iPhone. Para se ter uma ideia do que Steve Jobs é capaz de fazer, basta assistir ou acompanhar as palestras emblemáticas (Keynotes) anuais, que ele comanda na MacWorld (feira oficial da Apple), quando divulga as suas tão esperadas ideias. Tais apresentações são marcadas pela sua maneira de se apresentar, sempre de camisa preta, jeans e tênis New Balance modelo 991. Tudo muito ‘cool’ como dizem os americanos. A Apple não seria a mesma sem Steve Jobs. Em 2006, a Walt Disney comprou a Pixar e tornou Steve Jobs o maior acionista individual da empresa, onde ocupa também o cargo de conselheiro executivo. A rivalidade dele com Bill Gates, presidente e dono da Microsoft, já é elemento cultural do sector.
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O logotipo original da Apple, desenhado por Ron Wayne, mostrava Isaac Newton debaixo de uma árvore de maçãs. Devido à complexidade e dificuldade de ser reproduzido em vários tamanhos, Steve Jobs contratou Rob Janoff, em 1976, para redesenhar o logotipo. O resultado foi o surgimento do famoso logotipo representado por uma maçã colorida com uma mordida, relacionando a marca com a história bíblica de Adão e Eva. Em 1999, o logotipo assumiu várias cores para acompanhar as cores do iMac. O logotipo atual adoptou uma cor cinza cromada,, p passando uma imagem de tecnologia g g e sobriedade
Hoje a Apple é sentimento, um modo de vida. Não tem somente consumidores, mas sim seguidores e porr isso foi eleita uma das marcas mais influentes do mundo ERA UMA VEZ… Tudo começou quando os engenheiros Steven Wozniak e Steve Jobs, que tinham sido colegas de turma na faculdade, vislumbraram a possibilidade de desenvolver e comercializar computadores pessoais. Ambos eram interessados em eletrónica. Após a graduação, continuaram amigos e em contacto directo, trabalhando em empresas localizadas no Vale do Silício. Jobs trabalhava na Atari e Wozniack na Hewllet-Pachard. Jobs com a sua grande visão futurista insistia que ambos, mais Ron Wayne, deveriam tentar vender computadores pessoais. A ideia era desenvolver um microcomputador que pudesse ser menor e bem mais acessível que os modelos desenvolvidos pela lendária PARC. Essa ideia e união resultou no nascimento da Apple Computer Company em Abril de 1976. O capital inicial da empresa, com sede na garagem da casa dos pais de Steve Jobs, era originário da venda de uma Kombi e de uma calculadora HP. A palavra Apple foi escolhida por três razões: o nome iniciava-se com “A”, portanto apareceria listado na frente da maioria dos concorrentes; ninguém esperaria uma associação de senti-
dos de uma maçã com computadores, sendo uma aposta no inusitado; e uma maçã está associada à uma vida saudável (“an apple a day keeps the doctor away”). Além do mais, a maçã desenhada com faixas era uma alusão à marca listrada da IBM e o pedaço mordido uma clara referência ao pecado bíblico. Steve Jobs, não queria somente vencer a concorrência no segmento dos computadores pessoais, mas sim mudar uma sociedade, criar uma nova perspectiva de vida para uma nova geração que estava por vir. A recém-fundada empresa, resolveu então colocar no mercado o computador baptizado de Apple I, criado e desenvolvido por Wozniack. Porém, o mercado não levou o Apple I, vendido por USD 666.66, a sério e os computadores só começaram a ser alvo de interesse em 1977, quando o Apple II foi apresentado numa feira de informática. Foi o primeiro computador a ter o CPU feito de plástico e com designers gráficos coloridos, tendo sido considerada uma máquina impressionante. Em meados de 1978, o lançamento do Apple Disk II, o floppy drive mais barato da época, fizeram as vendas da empresa dis-
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histórico dos produtos apple
números Segundo a consultora britânica InterBrand, somente a marca Apple está avaliada em mais de USD 13.72 biliões, sendo por isso uma das mais valiosas do mundo. A empresa também ocupa a posição de número 103 no ranking da revista FORTUNE 500 (empresas de maior facturação no mercado americano)
pararem. Com o aumento das vendas, veio também um aumento significativo da empresa e pôr volta de 1980, quando o Apple III foi lançado, começaram a vender os seus computadores para o exterior. No desejo de dar continuidade à revolução que iniciou, Jobs cometeu o que talvez tenha sido o seu primeiro erro: mandou os seus projectistas eliminarem a ventoinha do Apple III, o que resultou na necessidade de substituir milhares de unidades danificadas por superaquecimento. Três anos mais tarde, seria lançada uma versão revista do Apple III, mas a imagem da máquina já tinha sido irremediavelmente arranhada pela falha do projecto do modelo anterior. Em 1981, a situação começou-se a complicar. Primeiro, o mercado ficou saturado, dificultando as vendas. Depois, Wozniack sofreu um acidente aéreo ficando ausente da empresa e Steve Jobs assumiu o controlo. Para complicar o fracasso do computador Lisa. Era o início de uma
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grande crise, que culminaria com a saída, e depois volta em 1996, de Steve Jobs da empresa. Nem o estrondoso lançamento do Macintosh em 1984 foi capaz de contê-la. Em meados da década de 90, quase à beira da falência, a Apple começaria a lançar dezenas de produtos e programas, dentre eles o iMac, o iBook e mais recentemente o iPod, que revolucionariam o mundo dos computadores e acabariam com as inúmeras crises por qual a empresa passou. Durante toda sua história, a Apple sempre foi pioneira ao lançar produtos revolucionários como a impressora laser PostScript; o Desktop Publishing; a Universal Serial Bus, popularmente conhecida como entrada USB que substituiu diversas outras, tornando-se um padrão mundial, e actualmente usada em Pen Drives e MP3 Players; os primeiros laptops com mouse de série e teclados externos (série PowerBook 100, introduzidos em 1991); o abandono do leitor de disquetes (iMac original, introduzido em 1998); o primeiro computador disponível comercialmente a basear-se principalmente no USB para a conexão de periféricos (iMac original, introduzido em 1998); e o primeiro laptop com monitor de tela larga (PowerBook G4, introduzido em 2000). Em Junho de 2005, Steve Jobs surpreendeu o mundo da informática ao anunciar que a Apple iria trocar os processadores PowerPC dos seus computadores por processadores da marca Intel. Os primeiros modelos de Macintosh equipados com chips da Intel apareceram à venda no começo do ano seguinte: o MacBook Pro e
o iMac, ambos equipados com o processador Intel Core Duo. A frase de campanha comercial para os novos modelos, bastante provocativa, era: “O que um chip Intel faria dentro de um Mac? Muito mais do que já fez em qualquer PC”. Com o lançamento de dois novos produtos, o Apple TV e o iPhone, durante a MacWorld 2007, a Apple anunciou a mudança do seu nome de Apple Computers Inc. para Apple Inc. Esta mudança ocorreu principalmente pelo novo posicionamento de mercado que a empresa passou a adoptar. Com estes dois novos produtos, juntamente com o iPod e os seus computadores, a Apple passou a actuar não somente no mercado de computadores, mas também no mercado de eletrónicos.
A marca utilizou génios criativos que ainda hoje servem de inspiração, como Albert Einstein, Martin Luther King, Picasso ou Muhammad Ali, para demonstrar às pessoas que ter um Macintosh é ser-se diferente, logo melhor A MARCA NO MUNDO A mais criativa e inovadora empresa do mundo está presente em mais de 100 países, contando com mais de 200 lojas próprias, localizadas na sua maioria nos Estados Unidos, além das unidades que detém na Inglaterra,
sabia que… Canadá, Japão e Itália. A sua facturação ascende os USD 32.5 biliões. O sucesso da marca pode ser traduzido em números: o iTunes, com mais de 4 milhões de títulos musicais, 250 filmes, 350 programas de TV e mais de 100.000 podcasts, já vendeu mais de 6 biliões de músicas, mais de 60 milhões de programas de TV e 1.5 milhões de filmes, desde o seu lançamento; o iPod, que detém cerca de 70% do mercado, já vendeu mais de 130 milhões de unidades desde a sua introdução no mercado; as vendas nas 247 Apple Stores, onde já passaram quase 195 milhões de pessoas, chegam aos USD 6 biliões anuais. Motivo para se afirmar: a Apple nunca foi tão rica e poderosa. Quando iniciou na década de 70 a revolução dos computadores pessoais, tinha estado durante os últimos anos a perder grande parte desse mercado. Com uma série de produtos inovadores e campanhas publicitárias geniais, a empresa começou a recuperar parte do mercado que havia perdido. Em Setembro de 1997, durante a pré-estreia do filme “Toy Story”, foi apresentada a campanha Think Different (Pensar Diferente). Com peças impressas, publicidade externa e um anúncio comercial de um minuto, a campanha celebrava figuras históricas que mudaram o mundo por pensarem de maneira diferente como Albert Einstein, Mahatma Gandhi, Martin Luther King, Jr., Pablo Picasso, Maria Callas, Thomas Edson, Miles Davis, Jim Henson, Ted Turner, John Lenon & Yoko Ono, Frank Sinatra e Muhammad Ali, entre outros, procurou demonstrar porque é que as pessoas deveriam ter um Macintosh. Uma homenagem a génios criativos que nos servem de inspiração hoje e que despoletou o império que é hoje a marca.
Embora actualmente a Apple ainda detenha exíguos 3.2% do mercado mundial de computadores, vários analistas dizem que o seu actual sistema operacional - MAC OS X - representa, pela primeira vez, uma ameaça real ao poderoso Windows da Microsoft
A marca passa imagem de criatividade, inovação, design e originalidade ANO DE AFIRMAÇÃO 2008 foi um ano de afirmação da marca no mercado a todos os níveis. A apresentação em Janeiro do MAC BOOK AIR, o mais delgado, leve e irresistível computador portátil da história, com apenas 1.9 centímetros de espessura, pesando 1.36 quilos e tela de 13,3 polegadas, marcou o ano informático. O novo laptop, que conta ainda com uma câmara embutida iSight e não incluiu leitor ou gravador de CD ou DVD, mostrando que a Apple aposta na transmissão de dados sem fio, veio revolucionar ainda mais o sector. O produto foi apresentado na Macworld por Steve Jobs que fez questão de tirá-lo de
dentro de um envelope ofício para reforçar as suas proporções. O lançamento, em Junho, da nova geração de iPhone chamada 3G fez igualmente parar o mundo. O iPhone 3G é mais fino e maior, além de ser vendido nas cores brancas e pretas. Nele também foi implantado alguns novos aplicativos, como o GPS e ferramentas para adeptos dos blogues. O aparelho começou a ser vendido no dia 11 de Julho em 22 países ao preço de USD 199 para o modelo com 8 GB de memória, o equivalente a um terço do preço inicial da versão anterior.
As Apple Store têm um design moderno, limpo, espaçoso e inovador, onde os consumidores podem saber tudo sobre Macinstosh e iPod. Em 2004, a empresa inaugura uma unidade em Londres, a primeira loja no continente europeu. No entanto, a loja mais espectacular foi inaugurada em Maio de 2006 na famosa 5ª Avenida, bem no coração de Nova Iorque. Como toda a criação da empresa, o espaço, que custou cerca de USD 9 milhões, tem um visual inovador. À entrada apresenta um cubo de vidro de quase 10 metros de altura, decorado com a imagem prateada da maçã, o que lhe rendeu o apelido de “Cubo de Stebe Jobs”. Inteiramente desenvolvida no subterrâneo de Manhattan (mais de dois mil m2 construídos no subsolo), oferece mais de 100 computadores Macintosh e 200 iPods para serem experimentados antes da compra, bem como a maior diversidade de acessórios presentes em todas as suas lojas no mundo. Com cerca de 300 funcionários, a loja possui também a maior equipa de atendimento, com Mac Specialists, Mac Geniuses e Mac Creatives para oferecer suporte pessoal, orientação e trabalho em projectos criativos gratuitamente a qualquer hora do dia ou da noite, já que a loja funciona 24 horas por dia. O sucesso das Apple Store espalhouse, marcando presença em países como o Canadá, Japão ou Itália
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O PODER DE NEGOCIAR
Motor do crescimento económico e da qualidade de vida, o comércio é crucial e envolve todos os sectores financeiros e sociais. Os hipermercados são uma realidade e vão ganhando terreno em relação aos mercados de rua. Por outro lado, o Estado pretende reduzir a dependência das importações de alimentos e contribuir para uma eficaz segurança alimentar das famílias. A criação de um sistema de compra de excedentes de produção das empresas agrícolas é um dos compromissos. Nos últimos 30 anos, o sector sofreu múltiplas metamorfoses e ganhos, culminando numa estrutura moderna. “Ao longo desse tempo, o comércio sempre foi um elemento fundamental na unidade nacional. É o comércio que, ao longo de todas as vicissitudes que Angola viveu, nunca sucumbiu, sempre exerceu bem o seu papel, quer económico ou financeiro, quer social”. A opinião é do Director Nacional do Comércio (DNCI), Gomes Cardoso, que sustentou que com a entrada no novo milénio, estão a ser concebidos os três pilares fundamentais da actividade: a solidificação das infra-estruturas institucionais e comerciais, a aposta na formação e a profissionalização dos comerciantes. A evolução das condições em que os produtos são conservados e vendidos reflecte-se no comportamento dos compradores, verifi-
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cando-se um acréscimo da qualidade de vida e de consumo das famílias. O ministério que tutela esta pasta fez saber recentemente que possui uma estratégia de formação e informação da população, com o intuito de accionar os instrumentos legais da política comercial, que já está estabelecida. Aliás, o Governo tem adoptado mecanismos de segurança contra práticas desleais, de modo a proteger a saúde pública e a defender os direitos e interesses dos consumidores. DESTAQUE EM 2008 A par do ramo petrolífero, da construção civil e da agricultura, o sector do comércio foi dos mais activos da economia angolana. O resultado respeita ao ano anterior e tem como justificação o licenciamento de 4.180 estabelecimentos comerciais e a prestação
de serviços mercantis públicos e privados de grande e pequena dimensão. A expansão do Presild (Programa de Reestruturação do Sistema de Logística e de Abastecimento de Bens Essenciais à População) deu maior visibilidade a este nicho económico, devido à implementação dos supermercados ‘Nosso Super’, à construção de mercados municipais e ao apoio ao comércio rural. Por outro lado, os incentivos conferidos aos produtores, nomeadamente agrícolas impulsionou o ramo, pois foi garantido o escoamento da produção agrícola para os grandes centros de consumo. A reconstrução nacional também foi decisiva. Afinal, a criação de novas vias de comunicação e recuperação das debilitadas facilitou a deslocação de pessoas e mercadorias, tendo aproximado as aldeias dos centros urbanos.
BENEFÍCIOS DO COMÉRCIO RURAL O Programa de Desenvolvimento Rural e Combate à Pobreza melhorou a qualidade de vida das populações. Entre as diversas medidas está a criação de dois centros de comércio rural. Esta é de facto uma das principais apostas do Ministério do Comércio não só para dinamizar a agricultura, mas também os negócios de retalho e solidificar a “marca” de Angola. Recorde-se que o referido projecto prevê a criação de um milhão e 790 mil empresas familiares, em todo o país, no período de 2009 a 2012. O orçamento estimado aponta um gasto de 216 milhões de Kwanzas nos próximos três anos. Já a ministra Idalina Valente revelou que o programa tem como propósito a reabilitação de todas as lojas no meio rural, esperando criar sinergias para resolver os problemas comerciais e colocar à disposição da agro-indústria produtos alimentares. O projecto terá uma implementação faseada, contemplando numa primeira fase as províncias de Uíge, Malange, Kwanza Sul, Huambo, Bié, Benguela, Huíla e Cunene, que foram escolhidas inicialmente devido às suas potencialidades. Os executores do plano são os importadores, grossistas, retalhistas e instituições bancárias. GROSSISTAS CRESCEM EM DOIS ANOS O mercado grossista também sofrerá altera-ções nos próximos anos, pelo que será reor-ganizado e estruturado em Plataformas dee Logística e Distribuição (Clods). Até 2011, dee acordo com os dados fornecidos pelo coorde-nador da comissão instaladora da rede ‘Nossoo Super’, Gomes Cardoso, serão construídos novee centros de logística e distribuição e um merca-do abastecedor nas províncias de Luanda, Ma-lange, Benguela, Huambo, Bié, Huíla, Kwanzaa Sul, Lunda Sul, Uíge e Cunene. Este incorporaa ainda novos entrepostos comerciais e hiper-mercados grossistas, centros de conservação e armazenamento. No total, surgirão 30 mil va-gas de trabalho, bem como espaços baseadoss no urbanismo comercial, em que será discipli-nada a implantação dos estabelecimentos. CUSTO OU QUALIDADE? Muitas famílias ainda recorrem ao chamadoo ‘comércio informal’, que é condição de sobre-vivência para muitos cidadãos. No entanto,, apesar dos efeitos nefastos para a economiaa (desobrigação fiscal, lixo, falta de segurança e qualidade), os mercados de rua continuam a ser procurados, devido aos baixos preços dos produtos. A venda de alimentos estragados, mal conservados e expostos ao sol e à poeira são razões que têm conduzido muitos con-
sumidores aos supermercados, que apesar de mais dispendiosos, proporcionam outra qualidade e higiene. Devido a campanhas de sensibilização, os habitantes começam a valorizar a qualidade em detrimento do preço. “CLIENTE TEM SEMPRE RAZÃO” Segundo o artigo quarto da Lei do Consumidor em vigor no país, o consumidor tem direito à qualidade dos bens e serviços, à informação e divulgação sobre o consumo adequado dos bens e serviços, à protecção dos interesses económicos e contra a publicidade enganosa e abusiva. O cliente tem ainda direito à efectiva prevenção e reparação dos danos patrimoniais e morais, individuais, homogéneos, colectivos e difusos, bem como à protecção jurídica, administrativa, técnica e à facilitação da defesa dos seus direitos em juízo. Estas são as premissas que levaram à criação do Instituto Nacional de Defesa do Consumidor (INADEC), representado nas 18 províncias e que tem como principal objectivo fazer cumprir as normas veiculadas pela lei. PREVENIR, EDUCAR, FISCALIZAR Desenvolvido para controlar e aplicar a política de defesa dos direitos dos consumidores, o INADEC foi criado pelo Ministério do Comércio para proteger, defender e ajudar o comprador, informando-o sobre os seus direitos. “Esperamos que o INADEC consolide a criação de uma linha de orientação uniforme e metodol oollóg ógic ica, a, metodológica, com uma função prioritariamente pr reevventiva preventiva
: NOVIDADE ENTO M LICENCIA ONLINE modernização,
da À luz do quadro ão e desburocratizaç simplificação, ento am po do licenci redução do tem mercial, a da actividade co espaço no seu DNCI criou um ste ncretização de website para co s ár , os empres io objectivo. Assim o ci ar o seu negó podem legaliz a e rápida, od de forma cóm de um click a tudo à distânci
e pedagógica, permitindo que a mensagem chegue ao consumidor sem nenhuma distorção, atingindo os fins preconizados pelo Estado que são os da segurança e do bem-estar social”, ressalva a ministra Idalina Valente. O órgão apresenta ainda uma função pedagógica que, de acordo com o vice-ministro do Comércio, Gomes Cardoso, deve ser educativa, preventiva e didáctica, no sentido de consciencializar o consumidor do seu papel na salvaguarda da saúde e segurança da população. A entidade, que se encontra em fase de reestruturação, tem apreendido e destruído grande quantidade de produtos falsificados, com prazos de validade expirados ou impróprios para consumo humano. A garantia é dada pela directora do INADEC, Elsa Barber, que tem apelado para que os consumidores estejam mais atentos na hora da compra e para que os comerciantes assumam a sua responsabilidade social, social, não vendendo produtos deteriorados. so
legislação protege ‘o que é nosso’ “Mais valia” foi o termo usado pela ministra do Comércio “Mais-valia” Comércio, Idalina Valente Valente, relativa relativamente à intenção governamental de definir uma legislação que proteja a “marca” Angola, salvaguardando a origem dos produtos nacionais, no caso das exportações. Segundo a responsável, o aspecto da força de vontade, perseverança, benevolência e simplicidade dos angolanos são elementos positivos para a criação e estabelecimento da marca, que poderá projectar as empresas no mercado internacional
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O GIGANTE A DNCI atribui-lhe a Chave de Ouro por ter criado em apenas dois anos a maior e melhor rede comercial a retalho, a nível nacional. Trata-se da cadeia de supermercados ‘Nosso Super’, que fechou o último ano com 27 lojas, que abrangem regiões desde Cabinda ao Cunene. Em 2008, inauguraram o primeiro centro de distribuição da rede, em Luanda/ Viana. Com uma facturação de mais de 139 milhões de USD, o grupo atendeu 10.707.600 clientes em 2007. Inseridos no quadro do escoamento e valorização da produção nacional, cerca de 28,5 por cento dos produtos comercializados são de origem angolana. Estas superfícies foram igualmente responsáveis por criar sete mil postos de trabalho
lojas de retalho até 2011 O projecto tem como meta a criação de dez mil estabelecimentos comerciais a retalho num prazo de dois anos, que serão distribuídos por todo o país, no sentido de aproximar os produtos das populações. Numa primeira fase, serão desenvolvidas 164 lojas em todos os municípios, num investimento avaliado em 45 milhões de dólares. Os novos estabelecimentos vão gerar 88 mil empregos. Pretendendo desenvolver uma rede comercial organizada, esta acção vai colocar ao dispor das populações produtos conservados, a baixo preço e próximos das localidades. No caso de Bié, este ano vão nascer mais duas lojas, que se juntam às cinco existentes e permitem a troca de produtos entre os camponeses e a empresa responsável pelo projecto, a “Nexiwa Lda”.
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CASOS DE SUCESSO Inúmeras superfícies comerciais têm surgido, propondo um conceito inovador em relação às tradicionais feiras de rua, em que a qualidade e o correcto aprovisionamento dos alimentos são o slogan mais eficaz. Instalado em Angola desde 1996, o Jumbo, pertencente ao grupo francês Auchan, é uma dos grandes hipermercados nacionais. Em período de crescimento, conta com 312 funcionários e pretende atingir este ano um volume de negócios de 22 milhões de USD, de forma a ultrapassar os 92 milhões de dólares, conquistados em 2007. A previsão é sustentada pelas acções desenvolvidas ao nível de espaços de venda e de melhoria dos equipamentos que têm sido implementados. Porém, a cadeia de supermercados mais conhecida em todo o território e que é caso único de sucesso é o ‘Nosso Super’. Apenas em 2008 bateu o record de construir e inaugurar 17 lojas. Desde 2007, o espaço vendeu bens a mais de dez milhões de clientes, que recorreram aos 28 espaços distribuídos pelas 18 províncias. Quem dá os primeiros passos na área do comércio grosso e a retalho é o grupo César & Filhos. Recentemente inaugurou o Interpark,
um hipermercado com duas áreas de serviço (uma para atender consumidores e outra de venda a grosso aos retalhistas). É o maior do género em Luanda e emprega 480 pessoas. A Casa dos Frescos também é muito requisitada, especialmente na procura de produtos lácteos e dos chamados ‘frescos’. MAIS LOJAS DE PROXIMIDADE Vinte e cinco novas lojas da rede ‘Poupa Lá’ abrirão portas ao longo deste ano, no âmbito do Presild. Actualmente, dois estabelecimentos já se encontram a funcionar, como é o caso da loja instalada em Luanda (Benfica), que possui uma área de 250 metros quadrados de exposição e venda, câmaras frigoríficas e cerca de 400 variedades de produtos. Apenas este espaço deu emprego a 28 cidadãos. Numa primeira fase, as lojas ‘Poupa Lá’ serão construídas nos municípios da capital. Para 2009, o programa governamental para o sector comercial dá continuidade ao trabalho desenvolvido até este ponto, estando na agenda a inauguração de novos mercados e supermercados, dois centros de distribuição e consolidação do comércio rural e das infra-estruturas e redes de distribuição de bens.
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Solo que dá ‘frutos’ É um recurso natural com múltiplas possibilidades. O país possui uma vocação agrícola que é urgente revitalizar. A agricultura representa actualmente apenas oito por cento do PIB, mas tem potencialidades para se tornar numa alternativa rentável à quase total dependência da exploração do petróleo e dos diamantes. Imprescindível para combater a fome, a terra é essencial para garantir a auto-suficiência e dinamizar as exportações. O café está no topo das culturas, seguindo-se a canade-açúcar, o milho, a borracha e o amendoim Como diz um ditado, o solo angolano é “chão que tem muitas uvas para dar”. A fertilidade das terras recoloca a necessidade de explorar as capacidades agrícolas, algo que já foi feito com sucesso no passado. A proximidade dos rios contribui para as qualidades deste recurso natural, que tem merecido injecções de capital, com o intuito de elevar a produtividade, de modo a permitir o abastecimento do mercado interno (através do apoio à agricultura familiar e de uma revolução tecnológica e comercial). Actualmente, o café está no topo das culturas, seguindo-se a cana-de-açúcar, o milho, a borracha e o amendoim. Angola conta ainda com excelentes áreas de pasto, pelo que está nos planos governamentais a expansão do mercado agro-pecuário. Os cereais, as frutas, os produtos hortícolas e o peixe dominam a
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dieta alimentar e são procurados em todas as regiões. Desta forma, o Executivo de José Eduardo dos Santos tem desenvolvido projectos nesta área, apostando em determinados sectores, que garantam a auto-suficiência do consumo interno. Os números revelam que serão aplicados 79 mil milhões de kwanzas em pólos agro-industriais e 350 milhões de dólares em créditos agrícolas, para produzirem 18 milhões de toneladas de alimentos (67 milhões de toneladas em agro-pecuária e 12 mil toneladas de sementes) e formarem 30 quadros de alto nível. A partir deste ano, o Governo vai investir 300 milhões de dólares em programas de fomento agrícola por todo o país, numa acção que estende até 2012 e visa combater a fome e a pobreza. “É necessário anualmente aumentarmos a área cultivável, desbravando e abrindo novas áreas”, sustentou o ministro da Agricultura, a respeito do Programa Executivo do Sector Agrário para 2009, em que se espera um aumento da produção e da produtividade.
79 mil milhões de kwanzas em pólos agro-industriais e 350 milhões de dólares em créditos agrícolas, para produzirem 18 milhões de toneladas de alimentos (67 milhões de toneladas em agro-pecuária e 12 mil toneladas de sementes) é a aposta do Governo REVITALIZAR SECTOR É o produto mais cultivado e um pilar determinante na diversificação da economia. Até 1975, o café constituía o grosso das exportações. O ministro da Agricultura, Afonso Canga, acredita que esta cultura ocupará a médio prazo um lugar significativo na exportação de produtos agrícolas. Este revelou que o processo de revitalização abrange três objectivos relacionados com a investigação científica, assistência técnica e a extensão rural, não
esquecendo o lado comercial. “Não pode haver agricultura sustentável e uma economia próspera sem uma base técnica e tecnologia sólida”, frisou o ministro. Já o presidente do Fundo de Desenvolvimento de Café em Angola confirmou que o programa governamental abrange o desenvolvimento da produção nas áreas cafeícolas do país. As entidades contam igualmente com a experiência brasileira, nomeadamente da Embrapa, na reestruturação do sector, que visa essencialmente os agricultores familiares.
a criação de novas. Outra das potencialidades da cana-de-açúcar respeita ao seu aproveitamento enquanto energia renovável. A Companhia de Bioenergia de Angola (BIOCOM) pretende implementar, até 2012, uma usina produtora de açúcar, etanol e bioelectricidade em Malanje, com o objectivo de reduzir as importações da matéria e o consumo de combustíveis fósseis.
Assegurar a auto-suficiência alimentar é uma das prioridades do Governo
“Não pode haver agricultura sustentável e uma economia próspera sem uma base técnica e tecnologia sólida”, Afonso Canga, ministro da Agricultura
ALIMENTO PRIMORDIAL É a base da dieta angolana e, portanto, o Governo pretende alargar de um para dois milhões de hectares a área de cultivo, com o objectivo de produzir mais de 15 milhões de toneladas de cereais, o que abre as portas à exportação de um produto que é escasso no país. A medida prende-se com a necessidade de colmatar o défice alimentar que assola o território angolano. Pedra fundamental no combate à fome, o programa inclui protocolos com empresas privadas e dá apoio aos produtores dos diversos tipos de cereais, desde o arroz ao milho. Desde 2008, está a ser implementado um plano de aumento da produção de milho, de modo a reduzir a importação de sementes, diminuindo o défice de cereais, que se estima em 500 mil toneladas/ ano. RETOMAR A TRADIÇÃO Integrada no plano de actuação do ministério da Agricultura para os próximos quatro anos, a produção do açúcar será implementada nas províncias de Malange e Kwanza-Sul, numa área de 55 mil hectares. Nesta última, à luz do projecto “ProCana”, vão nascer dez mil postos de trabalho, responsáveis por gerir uma plantação de 25 mil hectares, cuja produção pode chegar às 120 toneladas por hectare. A iniciativa conta com o apoio brasileiro, principal produtor mundial e um dos mais avançados tecnologicamente neste domínio. A iniciativa perspectiva o abastecimento do mercado nacional e a exportação, num período em que o Executivo recupera as açucareiras paralisadas e proporciona condições para
CULTURA DE BANANAS A província de Benguela vai acolher o projecto que visa o relançamento da produção de banana em grande escala. O programa será implementado na região do Dombe Grande, onde, no primeiro semestre serão plantadas as bananeiras. O empreendimento, a ser desenvolvido num terreno de três mil hectares, está avaliado em 60 milhões de USD e criará 3.500 postos de trabalho. O ministério prevê produzir banana de qualidade para o mercado local e para exportação, tendo inclusive reconvertido a Açucareira 4 de Fevereiro para o efeito. CHAVE DO FUTURO Apenas no planalto sudoeste existem três milhões de cabeças de gado. Com as medidas de saneamento e o desenvolvimento das técnicas de maneio, a criação de bovinos sofreu uma
forte expansão e é encarada por muitos como uma medida eficaz de diversificação da actividade agrícola. Para este ano, o Governo disponibilizou uma verba de 350 milhões de dólares para impulsionar a agro-pecuária. Kwanza-Sul é a província mais apta para esta técnica. Detentora de terras de boa qualidade e de água em abundância, a região assiste à reconversão da produção agro-pecuária. Recorde-se que esta actividade está intimamente ligada ao projecto social mais importante do país – Aldeia Nova (fomento da produção agrícola e pecuária através da vertente familiar, em que cada família recebe uma habitação, com cerca de 30 hectares de terra para cultivar e cinco a seis cabeças de gado). Também no Kwanza-Norte está a ser implementado um Pólo Agro-Industrial. Estes programas destinam-se a reduzir a curto e médio prazo a importação de carne, leite e ovos. A inseminação artificial para a reprodução animal e o melhoramento das raças nativas também constam das prioridades. SER AUTO-SUFICIENTE Afonso Canga explicou recentemente que o assegurar da auto-suficiência alimentar está dependente do trabalho e dos recursos humanos, naturais e financeiros disponíveis. Para tal, é necessário aumentar a produtividade, reduzir os custos de produção, melhorar a qualidade e preservar o ambiente, através da criação de estruturas sólidas e que suportem o sector. O programa agrário definido pelo Executivo será aplicado até 2013 e prevê auto-suficiência, especialmente no que toca a área dos cereais. Por outro lado, é fundamental apostar na organização do sector e na coordenação nacional entre as diversas entidades produtoras, para que não aconteçam casos que se verificam com alguma regularidade, em que se importam alimentos que são produzidos internamente e ficam inutilizados nos solos.
dieta alimentar angolana • Zona Norte fuba de bombo, peixe seco e fresco, batata doce e rena, carne fresca e seca, feijão, frutas locais • Zona leste fuba de bombo, cereais, peixe seco e fresco, produtos hortícolas • Zona centro fuba de milho, batata doce e rena, peixe seco e fresco, feijão, produtos hortícolas, frutas diversas • Zona sul farinha de massango, milho e massambala, arroz, feijão, carne fresca, peixe seco e fresco, produtos hortícolas
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Gesto que salva vidas Dar sangue é o acto cívico de maior grandeza. Em Angola, os heróis que contribuem para esta causa não ultrapassam os cinco mil. São necessários 100 mil dadores regulares. As autoridades desdobramse em apelos, evocando que um dia pode ser o não dador a carecer de uma transfusão. Actualmente, o país consegue colmatar apenas 25 por cento das necessidades, pelo que seriam precisas mais de 280 mil unidades de produto para atingir os 100 por cento.
“Doar sangue ajuda a salvar vidas. Nada é comparável à sensação de salvar uma vida”. A declaração é do vice-ministro da Saúde, Carlos Alberto Masseca, que aproveitou o Dia Mundial do Dador de Sangue para pedir o contributo de todos, de modo a que seja possível ter quantidades suficientes para fazer face às necessidades. Assim que a meta governamental for atingida, referiu, será possível impedir a morte de recém-nascidos por hemorragia materna, de pessoas com complicações de malária ou anemia e das vítimas de acidentes graves. “Cada um de nós pode estar no lugar dessas pessoas, por isso todos somos poucos para essa árdua tarefa”, reiterou.
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VOLUNTÁRIOS, PROCURAM-SE! “Com os cem mil dadores voluntários por ano, os hospitais teriam sangue suficiente e cada um de nós quando tivesse um familiar a necessitar, não seria teria que estender o braço”, explanou Luzia Dias, directora do Centro Nacional de Sangue. Para atingir as metas nacionais, é fundamental substituir os dadores familiares por outros, pelo que a responsável defende a criação de estratégias para que o número de voluntários aumente significativamente. Assim, os apelos foram redobrados por ocasião das comemorações do dia mundial, que este ano teve como mote “Alcançar 100 por cento de doação de sangue voluntária e não remunerada”. Contudo, médicos e governantes lembram que os dadores são necessários todos os dias, não apenas na data em que se celebra a efeméride. ESFORÇO RECONHECIDO A Organização Mundial de Saúde (OMS) louvou recentemente o papel das autoridades angolanas no que respeita à mobilização em prol da doação de glóbulos vermelhos. O representante da entidade da ONU, Abou Gaye destacou o esforço do ministério, em parti-
cular na organização da iniciativa que ajudou a movimentar a sociedade em torno dos objectivos da OMS. Para o responsável, a dádiva regular de sangue permite implementar a estratégia de cuidados médicos primários, visto que os serviços de saúde disponibilizarão de sangue em quantidades suficientes para satisfazer situações de risco. Recorde-se que cerca de 40 por cento das mortes maternas são causadas por hemorragias, pelo que a oferta de sangue seguro é crucial. Por outro lado, a existência de glóbulos vermelhos em quantidade suficiente é muito útil para evitar óbitos por anemia grave, geralmente associada a casos de paludismo. CATIVAR DADORES Embora exista muito por fazer, o Ministério da Saúde tem elogiado o contributo da Igreja, dos núcleos juvenis e das organizações da sociedade civil, cujo contributo é reconhecido por todos. Estes são os principais dinamizadores das colheitas do líquido precioso, organizando acções de recolha, cedendo espaços e sensibilizando as populações, nomeadamente os mais novos. Luísa Mendes, médica do Centro Nacional de Sangue, convida todos os indiví-
duos saudáveis, a doarem sangue, para salvarem vidas em risco, em qualquer ponto do país. A clínica frisou que é urgente que cada um perceba a importância deste gesto, sendo capaz de afirmar “eu sou a solução!”. Para a responsável, este acto deve ser espontâneo e o dador deve sentir-se confortável e inabalável. Esclareceu ainda que o processo só é concretizado após uma triagem e exames que comprovem que o cidadão reúne as condições para se tornar dador. ACESSO A SANGUE SEGURO O incremento do número de pessoas que cedem parte dos glóbulos vermelhos voluntária e regularmente é a única forma de assegurar o acesso universal a sangue seguro. Luís Sambo, representante da OMS África argumenta que a segurança do líquido precioso é garantida através dos dadores não remunerados, que salvaguardam que este possua qualidade para albergar de forma sustentável e previsível as necessidades de todos os segmentos populacionais. A região carece de dadores para manter a auto-suficiência do Banco de Sangue. Porém, Angola, tal como a maioria dos países africanos, enfrenta elevadas dificuldades ao nível da selecção de voluntários com baixo risco de infecção, visto que se verifica uma elevada prevalência das doenças transmissíveis via transfusão sanguínea. Assim, em 2001, a Região Africana da OMS adoptou uma estratégia regional, no sentido de atestar a qualidade dos glóbulos vermelhos. Ao longo deste período, tem-se registado progressos na área da formulação de políticas, concepção e implementação de estratégias, das quais se destacam o recrutamento de dadores, a colheita e testagem do sangue. A meta interposta pelo organismo máximo de Saúde consiste na adopção de estratagemas por parte dos Governos, com o intuito de se alcançar, em 2012, no mínimo
condições para dar sangue: › Ter entre 18 e 60 anos; › Pesar mais de 50 kg; › Ter doado há mais de 60 dias, no caso dos homens; › Ter doado há mais de 90 dias, no caso das mulheres; › A mulher não pode estar grávida, nem a amamentar e, em caso de aborto ou parto, terá que esperar 3 meses; › Não ter hepatite desde os 10 anos; › Nunca ter tido malária ou visitado regiões de malária nos últimos 6 meses; › Não sofrer de epilepsia; › Não ser diabético; › Não possuir tatuagens recentes (inferior a um ano); › Não receber transfusões de sangue ou hemoderivados nos últimos 10 anos; › Se não teve comportamentos de risco, como não usar preservativos em relações sexuais, ter tido mais de dois parceiros sexuais nos últimos 3 meses ou usar drogas injectáveis
80 por cento do sangue que carecem, a partir da doação voluntária e não remunerada. Mais de metade dos Estados-Membros já atingiu o objectivo. A nível nacional, regista-se uma recolha de 3,2 milhões de unidades de sangue contra os oito milhões necessários. PROMESSA PARA A VIDA Com o intuito de incentivar a população saudável a doar sangue com regularidade e assim alcançar as metas da OMS, o Ministério da Saúde e os seus parceiros estão a planear implantar o “Clube 25”. O projecto consiste num movimento de jovens voluntários, com idades entre os 18 e os 30, que se comprometem a oferecer sangue 25 vezes ao longo da sua vida, substituindo progressivamente a doação
por parte de familiares e amigos do doente, bem como os dadores remunerados. O ministro José Van-Dúnem acredita que com esta iniciativa será mais fácil sensibilizar a população para os benefícios da dádiva de sangue. “Vamos trabalhar todos juntos, para que esta realidade seja possível em Angola, fazendo com que os jovens, com capacidades para o efeito, adiram ao movimento, em várias províncias do país”, esclareceu, lembrando que estes dadores são os que oferecem maior segurança, podendo constituir a base de reservas de sangue nacional. O “Clube 25” foi criado pela Organização Pan-americana de Saúde e pela Cruz Vermelha nos países africanos, com a missão de incentivar os jovens a adoptar um estilo de vida mais saudável e a doar sangue.
casos de sucesso A directora do Centro Nacional de Sangue destaca o papel da Odebrecht e do programa que esta desenvolveu em parceria com a Cruz Vermelha de Angola, intitulado “Sangue Seguro”. A empresa fornece sangue, mediante a contribuição regular dos seus colaboradores, bem como das comunidades em que o grupo opera. A Odebrecht tem sido decisiva em situações de emergência, socorrendo as unidades hospitalares sempre que há a necessidade de um tipo raro de sangue. As autoridades de saúde louvam ainda a colaboração das províncias ao nível de angariação de dadores. No Moxico, a última acção de sensibilização visou os efectivos da Polícia Nacional, que tomaram conhecimento da importância deste gesto, que salva vidas. Já no Namibe, mais de uma centena de jovens, que participaram no “Festijovem” iniciaram uma campanha de doação do precioso líquido, que vai atenuar as carências do Hospital Provincial “Ngola Kimbanda”
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MOSQUITO MORTÍFERO É a principal parasitose tropical e responsável pelas altas taxas de mortalidade, em que os astronómicos custos inviabilizam o crescimento económico. O paludismo, também designado por malária, afecta em grande escala o continente africano, que apesar de liderar as estatísticas mundiais da doença, tem sofrido relevantes progressos na luta contra o flagelo, levando os especialistas a prever a sua quase erradicação, dentro de poucos anos.
O novo relatório da UNICEF avança que África efectuou inúmeros sucessos no combate à malária, devido ao suficiente abastecimento de mosquiteiros impregnados durante o período 2004-08, permitindo cobrir mais de 40 por cento das populações em risco, nos países africanos endémicos. “Estamos, pela primeira vez na história, prestes a fazer da malária uma causa rara de mortes e de invalidez”, declarou An Veneman, directora executiva. Dados da agência Malária Foundation International, referem que o paludismo é um problema de saúde pública que afecta 40 por cento da população mundial, em que os jovens são os mais vulneráveis. Estimativas apontam que a cada 30 segundos, algures no mundo, uma criança morre do vírus. No cômputo das admissões em hospitais africanos, 60 por cento dos casos são malária. ÁFRICA NO CENTRO DO FOCO É um fardo extremamente pesado para as populações dos países atingidos, devido ao impacto e custos. O continente africano é o mais dizimado, estando apenas poupados o norte e África do Sul. Todos os anos são diagnosticados 300 a 500 milhões de casos de paludismo, 90 por cento dos quais na região africana. A maioria tem resolução satisfatória. No entanto, mata cerca de dois milhões de pessoas por ano, em que os mais visados são as crianças com menos de cinco anos.
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NO BOM CAMINHO “Há esperanças, pois muitos países têm desenvolvido esforços consideráveis na luta e temos constatado um pouco por todo o lado uma diminuição exacta da taxa de morbilidade e mortalidade, aliada ao paludismo”, esclareceu recentemente a directora do Instituto de Saúde e de Desenvolvimento (ISED), Anta Tall Dia. Para viabilizar este objectivo, a região conta recentemente com o apoio da entidade internacional de microfinanças PlaNet Finance, que actua no terreno através de uma panóplia de instituições. O organismo comprometeu-se a lutar contra a doença e em relançar os programas de sensibilização e prevenção. Aliás, os africanos contam com ajudas internacionais imprescindíveis no combate ao mosquito sanguinário. O Programa Nacional de Combate à Malária conta com mais de 40 parceiros, que financiam acções específicas.
RISCO MÁXIMO A doença é a principal causa de mortalidade em todo o território nacional. Os países endémicos necessitam de uma soma adicional de 13 biliões de dólares e de um vasto apoio dos respectivos parceiros, argumenta a OMS em Angola. O país está incluído nesse leque. Apenas no último ano, foram registados mais de três milhões de casos, que acabaram em mais de 10 mil óbitos. Com efeito, o país criou o Programa Nacional de Controlo da Malária, em 1989 e comprometeu-se a cumprir as metas da declaração de Abuja, assinada na Nigéria, em 2000, com a finalidade de reduzir a taxa de mortalidade da doença em 50 por cento até 2010 e a sua erradicação total até 2030. A OMS revela que o grande surto do paludismo ocorreu em 2003, logo após o final da guerra, momento em que os casos atingiram o valor mais alto de sempre, com uma taxa de mortalidade de 1,19. Em 2007 a situação voltou a piorar. Contudo, desde 2008 tem vindo a regredir.
À LUPA A doença mortal surg iu há 50 000 anos, sen do que nos últimos mil o crescimento po dez pulacional fez com qu e os insectos de Anophebes explodissem em núme ro, dando origem à epidemia que dizimou de vidas no século XX milhares . África é o berço civ ilizacional e o foco de todos os parasitas. Al quase ém do continente, a América e Ásia tam afectadas pelo mesm bém são o mal. A região medit errânica (sul da Europ sul e oeste american a) e o o erradicaram o mo squito assassino no século XX
e 1. o que é o paludismo e? in como se prev por da ou crónica é causada Esta doença infecciosa agu que e um género Plasmodi protozoários parasitas, do do mosquito Anopheles. ada pic são transmitidos via s por três milhões de pessoa Responsável por matar smo udi pal do vírus da Sida, o ano, taxa semelhante à cones red . Porém o uso de não tem uma vacina eficaz e de os ect s repelentes de ins tra mosquitos, de creme ção ven pre e são eficazes na roupas que cubram a pel
TRABALHO DE EQUIPA Angola e Namíbia uniram esforços e trabalham em conjunto há alguns anos, com o intuito de tornarem as respectivas fronteiras livres de paludismo e de outros vírus. O objectivo consiste em uniformizar as acções, visto que a Namíbia - a par da África do Sul, Botswana e Suazilândia - se encontra em fase de eliminação da doença. Enquanto que Angola, Moçambique, Zâmbia e Zimbabué assistem a um período de controlo, com largas possibilidades de se entrar na fase de pré-eliminação. “Estamos a fazer esforços para tornar a fronteira entre Angola e Namíbia numa zona livre de paludismo”, explicou o ministro da Saúde, José Van-Dúnem. Embora, admita que os países têm velocidades diferentes, o responsável ressalva que as regiões mais avançadas difundem as boas práticas e os exemplos de sucesso. De facto, o país já dispõe de medicamentos altamente eficazes, de maior acesso ao diagnóstico e testagem rápida e de qualidade. GRUPOS DE RISCO Os mais pequenos são os mais atingidos pelo insecto assassino, visto que uma em cada 20 crianças morre da doença, antes de completarem os cinco anos. As grávidas englobam-se no conjunto de pessoas com sistema imunitário mais desprotegido. Elas têm elevadas
q e deve saber: 2. o qu se pela picada das fêmeas - O paludismo transmitenas s, ocorrendo sobretudo de mosquitos Anophele ifeper nas es, rais e, por vez regiões rurais e semi-ru rias das áreas urbanas. actividade durante o pe- Os mosquitos têm maior de ndo-se que o maior risco ríodo da noite, considera . ões itaç hab interior das contaminação ocorre no o tomas inespecíficos com sin nta ese - O doente apr evo o m Co s. sea re e náu dores de cabeça, fadiga, feb res feb e os afri cal íodos de luir da doença, surgem per à morte ir duz con em altas, que pod
probabilidades de contraírem malária e falecerem, bem como de provocarem um impacto negativo no desenvolvimento dos fetos. O custo económico e social do paludismo é um dos principais entraves ao desenvolvimento africano. A erradicação da doença é dificultada pelo facto de possuírem todas as condições climáticas necessárias à actuação do parasita. Por outro lado, as fracas infra-estruturas de
saúde contribuem para um combate deficitário do vírus. Aliás, o esforço governamental angolano centra-se no reforço dos meios de diagnóstico. No que concerne ao tratamento, ecos internacionais revelam que existe um novo medicamento, elaborado pela multinacional suíça Novartis, o “Coartem”. Resta esperar pelo futuro para conhecer o grau de eficácia das actuais medidas.
ecos da doença no mundo • Bill Gates investe 75 mil euros O homem da Microsoft vai financiar através da sua fundação projectos inovadores novadores e não convencionais na área da saúde. Um tomate que liberta medicação antivíral ral quando ingerido e fungos que actuam como uma constipação em mosquitos portadores de paludismo e d são alguns dos 81 projectos inseridos na bolsa de investimento, que ronda os 75 mil euros • ONU espera por apoio Ban Ki-moon, secretário-geral da ONU reiterou a necessidade de todos os Governos unirem esforços e continuarem a apoiar a luta contra a malária. Apesar da actual crise económica, o responsável salientou que os investimentos na saúde vão garantir que cada indivíduo tenha acesso a um mosquiteiro e a possibilidade de utilizá-lo • Banco Mundial dispõe ajuda O Projecto de Apoio ao Desenvolvimento Comunitário e Social (PRADCS) beneficiará de mais de 15 milhões de dólares americanos. O Banco Mundial concede a avultada verba a um programa que tem como finalidade contribuir para a concretização dos Objectivos de Desenvolvimento do Milénio (ODM), de entre os quais se destacam a luta contra o paludismo
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Ambiente em risco de vida Luanda, conhecida por se tratar da capital de Angola, assume-se como ‘capital’ da poluição. Esta é uma das cidades mais sujas do país. A ausência de cultura cívica e a densidade populacional são responsáveis pelo acumular de lixo, que é uma ameaça para as gerações futuras. Por outro lado, a poluição visual não transmite uma imagem agradável do principal centro de negócios. As acções dos diversos intervenientes, que usufruem da metrópole diariamente, comprometem o meio ambiente.
Os problemas de poluição nas cidades angolanas não são recentes. Há muito que se alerta para os efeitos nefastos a curto prazo desta situação. A capital é apenas um exemplo de uma questão que actualmente atinge as potências mundiais. A circulação automóvel, o sobrepovoamento e os diversos serviços (comércio, restauração, indústria, etc) são alguns dos factores que têm contribuído para que Luanda continue a registar elevados índices de poluição. O caso do rio Catintom, na Maianga, personifica a degradação ambiental da metrópole angolana. As águas há muito que se tornaram impróprias para qualquer uso doméstico. O rio alberga o maior parque de lavagem de viaturas a céu aberto. Ao longo da sua extensão, lavadores improvisados implantaram moto-bombas, que sugam a água do rio para lavar os automóveis. No mesmo local, procede-se à lubrificação das viaturas, sendo que o óleo é derramado directamente no rio. Daí, as associações ambientais apelarem para uma sensibilização das populações, que não se apercebem que os seus actos têm efeitos nocivos para a natureza.
Instalar as fábricas produtoras de gases tóxicos fora das localidades, é a solução defendida por especialistas
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PLANETA SOB AMEAÇA Médicos e especialistas não duvidam que a degradação do ambiente tem impactos profundos na saúde da população. Matumba Filipe, especialista em otorrinolaringologia no Hospital Josina Machel, garante que a poluição proveniente das indústrias química, agrícola, de construção civil e de transportes é responsável pelo alastrar de determinadas patologias. A degradação atmosférica contribui para o aumento de casos como renites alérgicas, faringites, laringites, sinusites, cancros
da garganta e do pulmão. A solução, segundo o clínico, passa por instalar as fábricas produtoras de gases tóxicos fora das localidades e por obrigar os trabalhadores a usar equipamentos de protecção. Para o especialista em poluição atmosférica, Eugénio Garcia, o incorrecto aprovisionamento dos resíduos hospitalares tem consequências graves para o meio ambiente. Enquanto discursava no II Encontro Técnico-Científico da Universidade Agostinho Neto, o perito incitou os responsáveis das unidades hospitalares a que procedam a um tratamento responsável dos detritos. O médico reiterou que a queima dos resíduos por parte das unidades de saúde constitui um acto perigoso, deixando o alerta ao Ministério da Saúde e à engenharia do ambiente. O responsável apelou para que os organismos unam esforços e desenvolvam uma política de actuação comum. Eugénio Garcia lembrou que a maior consequência da contaminação atmosférica é a inversão térmica, em que o aumento da temperatura durante o dia e o drástico arrefecimento nocturno provocam problemas respiratórios e cardíacos, devida à concentração e inalação de fumos.
A degradação atmosférica contribui para o aumento de casos como renites alérgicas, faringites, laringites, sinusites, cancros da garganta e do pulmão
à perda da audição”, argumentou Filipe Matuba. Já o intendente Eugénio Bernardo admitiu que estão a ser tomar medidas para fazer face a esta problemática, designadamente nos aparelhos de som das viaturas. “Uma das principais causas associadas aos problemas auditivos está na poluição, ou seja, no exagero do volume ou na sua falta de controlo”, corroborou o chefe do departamento de prevenção rodoviária da Polícia Nacional. Relatórios da Organização Mundial de Saúde (OMS) revelam que a “surdez severa” afecta quatro em cada mil pessoas nos países subdesenvolvidos.
Os rios, mares e lagos são autênticos caixotes do lixo para os angolanos
Calcula-se que milhão e meio de angolanos apresentem algum tipo de perda auditiva e que 700 mil pessoas sejam surdas, devido à poluição sonora RUÍDOS PERIGOSOS A poluição sonora tem causado graves problemas de surdez a muitos habitantes, principalmente os que vivem nas cidades, pois estão mais expostos a altos níveis de ruídos. Luanda, devido à concentração urbana e ao funcionamento de casas nocturnas, é o caso mais preocupante. Calcula-se que milhão e meio de angolanos apresentem algum tipo de perda auditiva e que 700 mil pessoas sejam surdas. Devido ao acréscimo de situações de surdez registadas pelas autoridades de saúde, o médico Filipe Matuba defende a intervenção da Polícia Nacional no combate à poluição sonora. “O som alto é prejudicial para eles e para a vizinhança. Volumes que variam entre 150 e 170 decibéis são uma transgressão à saúde auditiva. Ao longo do tempo, podem causar uma degeneração do ouvido interno, levando
ÁGUAS EM RISCO Os rios, mares e lagos são autênticos caixotes do lixo para os angolanos. Por toda a região, assiste-se diariamente a descargas ilegais de todo o tipo de resíduos para os lençóis de água, que inevitavelmente vão poluir os solos e comprometer a sua fertilidade. A poluição do mar está a pôr em causa a biodiversidade marinha. A exploração petrolífera é uma das responsáveis pelo desaparecimento das espécies no oceano, devido aos derrames e queima do gás. A bióloga Carmem Van-Dúnem aponta ainda o transporte marítimo como um dos factores de contaminação, devido às águas de lastro e à libertação de efluentes. As estações de serviço são altamente poluentes, devido às constantes descargas de resíduos, óleos e outros lubrificantes, que têm como destino as águas dos rios e do mar. A maioria dos proprietários dos estabelecimentos não se mostra preocupada com os efeitos nocivos deste procedimento, argumentando que o que chega à natureza é ape-
nas o transbordo do recipiente, onde se mistura o óleo dos carros com a água. “Seríamos loucos se despejássemos no esgoto sete ou oito litros de óleo queimado retirado das viaturas”, contrapõe o responsável da estação do Ingombota, em declarações ao jornal ‘O País’. EM PROL DO AMBIENTE Empenhado em mudar mentalidades, alertando os cidadãos para os efeitos que a poluição pode provocar a médio e longo prazo, no que respeita às alterações climáticas e à degradação ambiental global, o Ministério do Ambiente organizou, por ocasião das comemorações do Dia do Ambiente, um workshop alusivo ao tema “o teu planeta precisa de ti”. Durante o encontro, foram discutidos assuntos relacionados com os efeitos das alterações climáticas sobre as cidades costeiras, os gases estufa, os perigos da camada do ozono e a prevenção dos impactos ambientais. A ministra do Ambiente, Fátima Jardim espera que as empresas e organizações adoptem temas e solgans, que eduquem e sensibilizem os povos para a necessidade de preservar o meio envolvente. Semelhante repto foi lançado às instituições públicas e estabelecimentos de ensino, para que procedam à realização de palestras e debates.
As matérias renováveis são uma alternativa viável a energias perecíveis e altamente poluentes ALTERNATIVA RENOVÁVEL A Organização Não Governamental Juventude Ecológica Angolana (JEA) tem desenvolvido acções no âmbito da sensibilização das populações, consciencializando os cidadãos para a importância do uso de energias renováveis, de modo a evitar a poluição ambiental. O projecto está a ser implementado na província do Kwanza Sul, contando com a colaboração de uma ONG internacional. A particularidade deste programa reside no fomento da utilização da energia solar (não tem danos para o ambiente), através de actividades de educação ambiental e distribuição de lanternas solares. A JEA dedica-se às questões de protecção, recuperação e preservação do meio. As matérias renováveis são uma alternativa viável a energias perecíveis e altamente poluentes, pelo que podem assegurar a sustentabilidade do ambiente e a qualidade de vida dos humanos. O futuro passa pela rentabilização das energias provenientes das marés, das ondas, do sol, dos ventos, entre outras.
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Fumo tem dias contados É considerado pela Organização Mundial de Saúde (OMS) como a principal causa de morte evitável em todo o mundo. O tabagismo mata em média cinco milhões de pessoas por ano e o seu combate é prioritário para o organismo da ONU. À semelhança do que ocorre em muitos Estados, Angola prepara-se para implantar uma lei anti-tabaco, protegendo assim os não fumadores, que involuntariamente estão expostos aos riscos do tabaco. Espanha, França, Itália, Portugal e ReinoUnido são alguns dos países europeus em que vigora a legislação anti-fumo, que proíbe o consumo de tabaco em locais públicos. Angola deve juntar-se brevemente a este lote, tendo inclusive ratificado a convenção 4 sobre o tabaco, seguindo assim o exemplo das nações de primeiro mundo. A lei, que futuramente impedirá os fumadores de acenderem o cigarro em zonas fechadas, está a ser criada. A iniciativa partiu dos ministérios do Ambiente e da Administração Pública, Emprego e Segurança Social, dirigidos por Fátima Jardim e António Pitra Neto, respectivamente. A proposta pretende desincentivar o hábito do consumo de tabaco e proteger os fumadores passivos.
MUDAR HÁBITOS O novo projecto de lei dita que os angolanos terão que alterar as suas rotinas, nomeadamente os fumadores. A proposta sugere a proibição do consumo de cigarros, charutos e produtos similares em todos os recintos onde funcionam as instituições da administração pública. Os edifícios ocupados por empresas, que se destinam à recepção dos cidadãos, como restaurantes, pastelarias, cafés, discotecas, centros culturais e hotelaria serão
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igualmente abrangidos pela legislação antitabágica. As unidades de restauração e estabelecimentos de diversão nocturna têm a possibilidade de criar uma área reservada para fumadores. Não existindo a devida separação de espaços, os locais recebem o dístico para a classe de “não fumadores”. COIMAS PARA PREVARICADORES Os responsáveis pelos estabelecimentos estão sujeitos à aplicação de multas sempre que não delimitem as alas para “fumadores” e “não fumadores” e que permitam o uso de cigarros em área indevida. Os proprietários serão punidos com sanções que oscilam entre os três e oito salários mínimos. Do mesmo modo, os fumadores que desrespeitem o decreto serão responsabilizados. Os infractores podem pagar coimas que variam entre os dois e os cinco salários mínimos. As autoridades da Administração Pública vão assegurar o cumprimento da medida. Assim, polícias, inspectores e fiscais do sector público administrativo detêm legitimidade para fazer cumprir a lei. AGIR GLOBAL O ministério da Saúde apelou, por ocasião do Dia Mundial Sem Tabaco, a que o Estado aposte na publicação de avisos nos maços de
cigarros e produtos derivados. Desencorajar quem pretende começar a fumar e incentivar quem o faz a largar a nicotina são os objectivos da inclusão de frases e imagens nos produtos, actuação que tem surtido sucesso nos 12 países que recorrem a este método. A entidade angolana defende a fiscalização da indústria tabaqueira, no que concerne a publicidade enganosa. Entretanto, e à semelhança de muitas potências mundiais, o Governo de José Eduardo dos Santos aposta em acções de sensibilização e pondera aumentar o imposto sobre a venda de cigarros. COMBATER MALEFÍCIOS O tabaco, quando fumado sob qualquer forma, quantidade ou frequência, provoca cerca de 90 por cento do número total de cancros do pulmão e constitui um factor de risco significativo para AVC’s e ataques do coração mortais, entre outras patologias. O tabagismo é a segunda causa de morte no mundo e, de acordo com os relatórios da OMS, entre as vítimas encontram-se os “fumadores passivos”, que inalam o fumo expelido por terceiros. Ainda segundo a entidade da ONU, os países em desenvolvimento são os mais vulneráveis. Para 2020, estima-se que as mortes provocadas por este vício alcancem os 10 milhões (um holocausto por ano).
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cidades médias: âncoras do progresso “Sistema urbano constitui a verdadeira ossatura do país”
A profissão é recente. Porém, os arquitectos detêm uma grande responsabilidade social, que vai desde o ordenamento do território, à criação de soluções que melhorem a qualidade habitacional. António Gameiro, Bastonário da Ordem dos Arquitectos (OA) acredita que Luanda é a cidade que actualmente merece a maior atenção da classe e que o Estado terá que vencer importantes desafios para levar a bom porto a meta governamental de criar um milhão de casas até 2012. Em entrevista à Angola’in, o dirigente fala sobre a polémica gerada em torno da destruição dos monumentos, manifestando publicamente e pela primeira vez a sua posição acerca desta matéria.
Deficit habitacional estimado em 1.900.000 para 2012 HABITAÇÃO SOCIAL Um dos principais desafios do Governo é melhorar, por um lado, as condições de habitabilidade das populações e, por outro, aumentar a oferta. Que políticas estão a ser conduzidas para colmatar o deficit habitacional? A consolidação da paz cria um ambiente favorável à resolução de assimetrias sociais críticas. Estando o governo a implementar a estratégia global para o combate à fome e a redução da pobreza no país. O lançamento do Programa Nacional de Urbanismo e Habitação (PNUH) deverá contribuir, sobremaneira, na consecução deste grande objectivo estratégico, tendo em conta a sua capacidade
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de geração de oportunidades de emprego regular para o maior número de cidadãos. Com este programa pretende-se mobilizar e fazer intervir as instituições públicas e os agentes privados, bem como a sociedade em geral, no sentido da participação activa e sustentada na materialização das políticas e estratégias públicas nos domínios do urbanismo e habitação para, no horizonte de 2009-2012, contribuírem para o esforço de redução gradual do enorme deficit habitacional (estimado em 1.900.000 para 2012).
Que medidas devem ser tomadas para atingir a meta governamental? Para garantir o êxito, importantes desafios devem ser vencidos, tais como a regulação do fenómeno migratório e do desenvolvimento
do sistema urbano nacional, passando pela correcção da concentração populacional no litoral e pela estabilização e crescimento das populações no âmbito do processo de desenvolvimento rural integrado. Há que melhorar as condições de habitabilidade nos bairros de génese ilegal, onde reside cerca de 80% da população urbana do país. É necessário dinamizar e incentivar a participação concorrencial da estrutura empresarial nacional nos sectores da construção civil e da produção dos respectivos materiais de alta produtividade, bem como a participação do sector bancário nacional na promoção da habitação social. Para concretizar a política nacional da habitação é indiscutível a necessidade absoluta da institucionalização do Sistema Financeiro e Fiscal Nacional apropriado.
Em que consiste o Programa Nacional de Habitação? O PNUH tem, entre outros objectivos, a prossecução de uma política habitacional que garanta o acesso a habitação condigna para cada família, compatível com o seu rendimento, priorizando o atendimento das necessidades que tenham repercussões de promoção social e económica mais sensíveis e imediatas, em particular as famílias de menores recursos. A outra meta consiste na prossecução das medidas de política públicas complementares, nomeadamente, medidas de política fundiária, de apoio às empresas de construção civil e imobiliárias e às empresas de fabrico de materiais de construção, entre outras.
De que forma será aplicado o PNUH? Através de subprogramas. É o caso do projecto de lotes urbanizados para todos os escalões sociais, que tem como objectivo restabelecer mecanismos de ocupação ordeira dos espaços urbanizáveis. Outro subprograma é o da construção de habitação social para famílias de baixa e média renda e tem como objectivo específico a produção estatal de conjuntos habitacionais, baseando-se em modelos de casas com padrão económico pré-definido e a realizar-se em regime de custos controlados. O subprograma de Habitação de Mercado para famílias de renda média e média-alta tem como finalidade a realização de projectos de habitação de custos controlados que serão executados em regime de parceria públicoprivada. Nestes perímetros serão também dadas as oportunidades de integração dos investimentos habitacionais privados e das cooperativas, correspondentes às ofertas de níveis médio, médio alto e alto, destinados ao mercado livre. O subprograma de Requalificação ou Renovação Urbana promove operações de renovação ou requalificação dos bairros precários antigos, visando manter o máximo possível de famílias na respectiva zona de residência.
Importa desenhar estratégias de desenvolvimento para as áreas em perda, em desertificação e em risco de marginalização
ORDENAMENTO DO TERRITÓRIO O crescimento tem sido regular ou ainda há necessidade de se apostar no ordenamento do território? Com a criação da Lei do Ordenamento do Território e do Urbanismo, em Junho de 2004, pretende-se implantar um sistema que assenta justamente numa concepção global da problemática do ordenamento territorial, ou seja, um sistema de normas, princípios e instrumentos em que avultam os planos territoriais, segundo tipos especializados, em razão do âmbito territorial, do conteúdo material e dos objectivos visados. A Lei prevê um instrumento de gestão territorial de âmbito nacional, o Programa Nacional de Ordenamento do Território e Urbanismo. Enquadra-se nos objectivos gerais do Esquema de Desenvolvimento do Espaço Territorial Angolano.
Qual o grau de importância deste plano? O Programa definirá as grandes opções e directrizes, no âmbito da organização e da valorização do nosso território. Opções que deverão estar ao serviço do nosso futuro, do desenvolvimento sustentável do nosso país e que deverão viabilizar um desenvolvimento espacialmente equilibrado, atenuador das assimetrias de desenvolvimento regional. Será a ponte entre a política de ordenamento do território e a política de ambiente. O Programa consubstanciará necessariamente um modelo, que não deixará de identificar as áreas preferenciais de localização de investimentos estruturantes de âmbito regional, nacional e internacional e que não poderá descurar as preocupações ligadas à sua adequada e, mesmo, harmoniosa inserção na paisagem. O Programa Nacional configurará e desenhará, acima de tudo, as macro-estruturas, os macro-sistemas e as macro-redes.
Qual a tarefa prioritária em termos de desenvolvimento e ordenamento territorial? Só uma intervenção e, sobretudo, uma visão sistémica e estruturante em relação ao território assegurará a continuidade dos seus processos biofísicos, sociais e económicos. Não sendo o território feito de espaços fechados e
discurso directo • “Temos de reforçar a rede de cidades médias. A criação de infraestruturas e prestação de serviços, sustentadores da qualidade de vida, requerem limiares mínimos de população. O desenvolvimento fazse com pessoas” • “Constatamos que ocorre uma destruição e degradação das redes de infra-estruturas de suporte à reconstrução do país e à normalização dos circuitos económicos e sociais” • “A regulação do fenómeno migratório, o desenvolvimento do sistema urbano nacional, a correcção da concentração populacional no litoral e a estabilização das populações no âmbito do processo de crescimento rural integrado são desafios que se impõem” • “Há que melhorar as condições de habitabilidade nos bairros de génese ilegal, onde reside cerca de 80% da população urbana do país” • “É necessário incentivar a participação concorrencial da estrutura empresarial nacional nos sectores da construção civil e da produção de materiais de alta produtividade, bem como a participação do sector bancário nacional na promoção da habitação social”
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tá-se a trabalhar segundo o estabelecido nas Principais Opções de Ordenamento do Território Nacional – POOTN (aquilo que pode ser o Programa Nacional de Ordenamento do Território e Urbanismo), sendo o quadro de referência para os demais planos territoriais.
Quais são os problemas de ordenamento do território angolano à escala nacional que carecem de abordagem urgente?
estanques, tornam-se importantes áreas, que assegurarão a coesão, a sustentabilidade e a competitividade do território nacional. Assim, será indispensável configurar estratégias de desenvolvimento para as áreas mais dinâmicas. Haverá, por outro lado e em contraponto, que desenhar as estratégias de desenvolvimento para as áreas em perda, em desertificação e em risco de marginalização. Se nas mais dinâmicas, especialmente nas metropolitanas, o congestionamento e a sobreocupação comprometem a funcionalidade, a sustentabilidade e a competitividade, já nas áreas excluídas dos processos de desenvolvimento, o declínio demográfico para além de determinados limiares mínimos poderá comprometer a sua futura regeneração.
A solução passa por descentralizar os centros urbanos? O modelo e o esquema de desenvolvimento do país destacarão seguramente um dos sistemas mais relevantes na organização territorial, o sistema urbano. Este constitui a verdadeira ossatura do país, estruturante do nosso território e que se pretende integrado e equilibrado, mas competitivo. Haverá, no entanto, que desenvolver as relações horizontais entre centros urbanos do mesmo nível numa lógica de funcionamento em rede de complementaridade, em resultado das respectivas especializações funcionais, que permitirão fazer face à competição crescente.
As cidades do interior são peça-chave no processo? Temos que continuar a reforçar a rede de cidades médias. No interior do país, são as indispensáveis âncoras dos estabelecimentos humanos, viabilizando a fixação das populações e o desenvolvimento dos recursos endógenos. Quem destaca o seu papel não pode deixar de distinguir a função de outros cen-
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tros urbanos da chamada rede complementar: as sedes dos nossos municípios. Estes são indispensáveis ao processo de desenvolvimento das áreas em perda, de baixa densidade populacional e predominantemente rurais. Demonstradamente, a criação e a manutenção de certas infra-estruturas e a prestação de determinados serviços, que são sustentadores da qualidade de vida, requerem limiares mínimos de população. O desenvolvimento faz-se com as pessoas.
Quais são os desafios que o PNOTU terá de enfrentar? O Programa Nacional de Ordenamento do Território e do Urbanismo (PNOTU) não poderá excluir da sua macro-visão territorial, dos seus macro-cenários, parcelas do país com dinâmicas e competitividades diversas. Com a efectivação da paz em todo o território nacional, estão criadas as condições para a materialização do objecto da lei, que é o estabelecimento do sistema de ordenamento do território e urbanismo e da sua acção política.
RECONSTRUÇÃO NACIONAL Como analisa o processo de reconstrução nacional? Actualmente, a reconstrução em curso e a perspectiva da evolução socio-económica do país impõe a necessidade de assegurar as infra-estruturas críticas ao desenvolvimento e, por conseguinte, obriga o Governo a dispensar uma atenção especial ao urbanismo e habitação. O sistema de ordenamento do território está definido como um instrumento fundamental ao processo de reconstrução nacional, no que concerne à resolução dos problemas urgentes de organização e funcionamento do território. A nível nacional, es-
Constatamos que ocorre uma destruição e degradação das redes de infra-estruturas de suporte à reconstrução do país e à normalização dos circuitos económicos e sociais. Por outro lado, a definição da hierarquia da rede urbana nacional faz chamar a atenção para a rede urbana, as infra-estruturas e a estrutura ecológica primária (Parques e Reservas Nacionais), bem como para a elaboração de planos sectoriais individuais.
E em relação à escala provincial? Devemos considerar a escala provincial como escala estratégica das políticas de ordenamento e de suporte às políticas de desenvolvimento territorial. Assim, pretendemos fazer do Plano Provincial (PPOT) o instrumento de coordenação de todas as intervenções sectoriais estruturantes do território provincial, fazendo-o acompanhar de um Programa de Investimentos Provincial de médio-prazo (investimento público vinculativo e investimento privado indicativo). Este programa deverá ser um plano de elaboração obrigatória, estabelecendo um prazo temporal para a cobertura integral do território nacional por PPOT.
Qual a dimensão dos Planos Directores Gerais? Recomendo colocar o Plano Director Geral das grandes cidades – PDG, no âmbito provincial do Sistema de Ordenamento. Atribuir ao PDG uma natureza estratégica, com funções de macro-zonamento (estabelecimento das grandes linhas de ordenamento da cidade) e de estabelecimento de orientações a desenvolver pelos Planos de Nível Inferior. A este nível (Provincial), os Planos Sectoriais Provinciais são planos dirigidos às infra-estruturas colectivas e com um carácter de urgência (na ausência do PPOT).
À escala municipal, o que é mais urgente? Aqui, devemos centrar o nível municipal nos instrumentos com vocação de gestão urba-
(cont.) nística e de ordenamento do espaço rural, privilegiando a intervenção de nível municipal nas parcelas de grandes cidades, sedes dos municípios, musseques e núcleos urbanos com forte influência no meio rural. Não devemos atribuir um estatuto prioritário ao PDM, salvo nos casos dos municípios administrativamente mais desenvolvidos. Deve-se antes dar prioridade aos planos de urbanização, ao plano de pormenor e ao plano de Ordenamento Rural.
NOVA LUANDA Como analisa o desenvolvimento arquitectónico em Luanda? Podemos caracterizar Luanda como uma cidade composta por três áreas perfeitamente definidas. A cidade consolidada, cujos problemas se prendem com a descaracterização que vem sofrendo, fruto da sobreocupação e de novas intervenções que contradizem com o existente. Depois temos a cidade que começou a ser construída no período colonial e não foi concluída, como o bairro da Terra Nova, da Precol e do Cazenga, que não constituem uma zona homogénea do ponto de vista urbano. Por último, temos a grande periferia de Luanda, constituída por toda a área de expansão, cuja ocupação começou no período pós-independência e dura até aos nossos dias, e onde arrisco dizer que vive mais de 70% da população de Luanda.
Qual o caminho a seguir para requalificar o perímetro urbano da capital? A periferia de Luanda é sem dúvida aquela que merece e merecerá a nossa principal atenção, uma vez que essa área está carente do maior número de infra-estruturas, tanto de carácter técnico (vias asfaltadas, água canalizada, energia eléctrica, saneamento básico, etc.), como social (escolas, centros de saúde, etc.), com um índice muito baixo de habitabilidade. Por isso, a requalificação é o processo de qualificação urbana a ter em conta para essa área.
A cidade está sobrelotada. Qual a melhor opção para esta questão? A solução dos problemas da cidade de Luanda passa, entre outros, pela criação e desenvolvimento de novas centralidades, novas áreas residenciais, centros de serviço, no sentido de reduzir os fluxos e fixar as populações à volta destes centros urbanos e serviços.
INFLAÇÃO IMOBILIÁRIA Na sua opinião, que factores têm levado à especulação imobiliária? Todos os indicadores económicos revelam que Angola tem crescido a um nível mais elevado do que a média de África e do Mundo, o que inevitavelmente implica uma maior “apetência” por parte dos investidores internacionais, que têm valorizado o facto de Angola estar a beneficiar de um bom ambiente macroeconómico, traduzido no baixo nível da taxa de inflação, bem como na consolidação orçamental expressa em superavits do saldo global das contas fiscais. Ao mesmo tempo que o ambiente macroeconómico é favorável, o Governo tem apostado no lançamento de obras de infra-estruturas estruturantes para os novos desafios da economia nacional e que visam dar suporte ao constante dinamismo do país, traduzido no crescimento do PIB anual em torno dos 20%, no crescimento do investimento privado, que em 2007 atingiu os 45%, representando cerca de 2 mil milhões de dólares, e de uma taxa de inflação interna em torno dos 10%, mesmo com o aumento dos produtos básicos a nível internacional. De acordo com o enquadramento económico, verifica-se uma grande actividade em todo o tecido económico angolano, onde o mercado imobiliário não é excepção.
O que pode ser feito para inverter esta tendência? Sendo o problema da habitação uma questão não só de procura e oferta, mas também de rendimentos em relação aos produtos e tipologias, só um programa de oferta habitacional poderá fazer com que haja um melhor e mais profícuo controlo da oferta imobiliária.
• “Importa implementar uma política habitacional que garanta o acesso a habitação condigna para cada família, compatível com o seu rendimento” • “O projecto de lotes urbanizados para todos os escalões sociais tem como objectivo restabelecer mecanismos de ocupação ordeira dos espaços urbanizáveis” • “A construção de habitação social para famílias de baixa e média renda baseia-se em modelos de casas com padrão económico pré-definido e irá realizar-se em regime de custos controlados” • “Mais de 70% da população luandense vive na grande periferia de Luanda, o que merece a nossa principal atenção” • “A solução para a cidade de Luanda passa pela criação de novas centralidades, novas áreas residenciais e novos centros de serviço, no sentido de reduzir fluxos e fixar as populações à volta desses centros urbanos” • “O problema da habitação não é só uma questão de oferta e procura, mas também de rendimentos em relação aos produtos e tipologias. Só um programa de oferta habitacional fará com que haja um melhor e mais profícuo controlo da oferta imobiliária” • “A OA pode influenciar o processo político. Deve contribuir para um uso mais inteligente do ecosistema e para uma divisão equitativa das qualidades espaciais da cidade” • “Em Angola existem cinco escolas de arquitectura. Um número muito exíguo para os desafios a nível nacional”
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PATRIMÓNIO NACIONAL Recentemente falou-se muito da demolição de monumentos classificados para dar lugar a hotéis e shoppings. Concorda com esta conduta? Muito se tem falado e escrito sobre o património, em especial o cultural. Achei que também tinha chegado a minha vez de fazê-lo, porque começo a sentir que chegou a hora de uma vez por todas abrirmos um debate público em relação a esta matéria, já que o Decreto nº 80/76 de 3 de Setembro não caracteriza este ou aquele edifício. Foi assim que vimos desaparecer em Luanda, o Palácio de Dona Ana Joaquina, o Mercado do Kinaxixi e mais recentemente o edifício que albergou o Centro de Documentação e Informação da Universidade “A. Neto”, em Benguela, para não citar outros.
Portanto, na sua opinião o património é indestrutível... Parece-me ser essencial que tenhamos consciência que não estamos fora do que internacionalmente se produz em matéria de preservação do património histórico-cultural do povo angolano. Hoje em dia a maior parte dos países no mundo adoptam nas suas constituições, artigos que determinem a “incum-
bência do Estado, em colaboração com todos os agentes culturais a promoção, a salvaguarda e a valorização do património cultural, tornando-o elemento vivificador da identidade cultural comum.
SUSTENTABILIDADE E IMPACTO AMBIENTAL Qual o papel da Ordem dos Arquitectos na preservação do ecossistema? A profissão de arquitecto é recente. O modo como organizamos o espaço urbano ou alteramos a paisagem; o uso que damos aos materiais ou a forma como concebemos o comportamento ambiental e climático dos nossos edifícios; a quantidade de energia que usamos para construir e manter os nossos espaços habitáveis, iluminados e ventilados; a facilidade de manutenção e durabilidade das estruturas que desenhamos; o impacto ambiental da expansão urbana; a poupança ou o desperdício de água nos nossos edifícios, tudo isto são aspectos da nossa responsabilidade e preocupações permanentes.
Qual o papel da OA na sociedade enquanto parceiro do Estado? Podemos influenciar o processo político e devemos contribuir para um uso mais inteli-
gente do ecosistema, para uma divisão mais equitativa das qualidades espaciais da cidade, para uma relação mais criativa entre o homem e a natureza e para um habitat mais saudável. A OA de Angola, na qualidade de parceiro do Estado, tem dado os seus subsídios em todas essas matérias, uma vez que a sua actividade está de acordo com o preceituado nos seus estatutos, nomeadamente na defesa e promoção da arquitectura e do urbanismo.
FORMAÇÃO Existem infra-estruturas adequadas para a formação? Ao nível da formação de arquitectos, em Angola existem cinco escolas de arquitectura, sendo uma pública e quatro privadas. Todos os cursos estão divididos em ciclos de formação, com resultados muito bons, traduzidos pelas excelentes performances em relação às prestações destes na vida profissional. Uma das atribuições da Ordem dos Arquitectos de Angola é contribuir para a elevação dos padrões de formação do arquitecto e do urbanista e pronunciar-se sobre os planos de estudos e funcionamento dos cursos. Mesmo sendo ainda em número muito exíguo para os desafios a nível nacional, pensamos estar no caminho certo com a tipologia de formação adoptada.
tempo de reflexão Para António Gameiro, as cidades lêem-se como se lêem os livros: na geografia dos seus rostos, no traçado das suas avenidas, na arquitectura das suas construções. Por isso, elege o livro do amigo Pepetela “Horror ao Vazio” como espelho daquilo que actualmente Luanda vive. “Queixamo-nos do trânsito na baixa da cidade (não só na baixa, sejamos justos) e nem sempre escapamos de lá cair, porque ali está concentrado mais de metade do capital financeiro e dos serviços do país. E querem fazer mais torres, para atrair mais gente e mais carros? Que as torres vão ter parques de estacionamento, dizem os defensores das ideias futuristas. O problema é entrar ou sair dos parques, porque as ruas estão atulhadas de carros. Claro que há uma solução do mesmo estilo: fazer as ruas da baixa com andares, género auto-estrada em fatias sobrepostas, ou até com viadutos por cima dos prédios, a arranharem as nuvens. Isso seria um arranhanço útil. E já agora peço, façam um túnel por baixo da baía ou uma ponte a ligar o bairro Miramar à Ilha, assim chegamos à praia em cinco minutos, como era há vinte anos. Como de todos os modos a ideia geral é dar cabo da baía e da Ilha, também tanto faz, mais ponte menos ponte… Suponho também que já deve haver negociações para se tirar a Igreja da Nazaré do sítio onde está, a ocupar indevidamente um espaço nobre para mais uma torre. Uma pequena concessão não fica mal, mantém-se a igreja na cave do edifício. A História que se lixe, não foi a lição da destruição do palácio de D. Ana Joaquina? Então continuemos. Neste afã de ocupar todos os espaços, proponho também acabar com o prédio dos correios, bem feio e sem valor arquitectónico por sinal, e já agora com a praceta à sua frente, outro desperdício de espaço. E aquele compacto e azul edifício que serve a polícia? Um quarteirão inutilizado! A polícia pode ocupar um andar da nova torre. Com menos agentes, claro, para se fazer encolher o Estado, assim mandam os compêndios do liberalismo económico, nossa nova Bíblia”.
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| manuela bártolo
AS QUATRO MÃES DE AGOSTINHO NETO O poema “Adeus à hora da largada” do poeta Agostinho Neto retrata na plenitude algumas das imagens que se seguem. A Mãe Negra, biológica, a Mãe Pátria, a Mãe Continente e a Grande Mãe Cristã. MãeÁfrica é um recurso simbólico diante da necessidade do continente desejar uma maior afirmação racial, cultural, social e política frente a séculos de luta. Razão pela qual, a Mãe evocada é ao mesmo tempo a mãe negra biológica - simbolizando a origem africana -, a mãe pátria – a terra e nação angolana -, a mãe continente – a África -, vista como a progenitora da raça negra -, e também a Grande Mãe Cristã – a Virgem Maria -, em razão da formação evangélica e da assimilação cultural sofrida. Estas crianças que hoje mostramos encarnam na perfeição todas estas Mães. Jovens gaiatas, de sorriso cintilante, leoas que de olhos fechados estão todos os dias mais perto. Por ti, por mim, pelos meus irmãos, gazelas que fogem do ignóbil e mantêm a luz no olhar.
fotografias - Ana Rita Rodrigues - www.lightfragments.com
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| patrícia alves tavares
cultura ancestral
O Templo Horyuji e o Templo Todaiji são essenciais em qualquer programa de visita ao Japão. Múltiplos encantos naturais, população hospitaleira e uma vasta diversidade de atractivos culturais são apenas algumas das muitas razões para visitar o Japão. As melhorias nas infra-estruturas turísticas repercutem-se na crescente procura deste destino para passar férias, em que a harmonia perfeita entre tradição e modernidade é responsável pela conquista crescente dos visitantes estrangeiros. A variedade de alojamento de elevada qualidade, os restaurantes a preços acessíveis e as ementas em línguas estrangeiras são o mote para uma estadia despreocupada. As indústrias de alta tecnologia projectam a sociedade japonesa na vanguarda do conhecimento. Porém, apesar de olhos postos no futuro, o Japão preserva a sua herança de milhares de anos, sendo capaz de traçar a sua história até às épocas mitológicas.
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PANÓPLIA DE ATRACÇÕES Os santuários e templos são a imagem de marca do Japão. Impecavelmente cuidados, a maioria destes espaços, que possuem uma história de 2.000 anos, acolhe ainda actividades culturais e é fonte de tradições e estilos de vida. Em muitos pontos da região pode encontrar bairros seculares de samurais, que coexistem com a sociedade moderna. O arquipélago detém mais de três mil ilhas, que rodeiam as principais: Hokkaido, Honshu, Shikoku e Kyushu. Em termos de clima, o turista depara-se com as quatro estações bem definidas. A primavera brinda os visitantes com as cerejeiras em flor. As áreas verdejantes são a imagem do Verão, enquanto o Outono é marcado pelas folhagens escarlates. O Inverno é caracterizado pelas paisagens brancas, cobertas de neve. As estações do ano são muito importantes para a população, são o ponto de partida para a inspiração e para as artes japonesas. O clima marca ainda o estilo de vida dos habitantes. As tradições e culturas são características de cada região e as festivida-
des são exemplo disso. Há festas quase todos os dias em algum lugar do Japão. A culinária é conhecida além-fronteiras, especialmente pelo sushi, sashimi e tempura. Contudo, cada localidade possui iguarias específicas, que são um verdadeiro desafio aos seus sentidos. Tóquio é a capital. Com mais de 12 milhões de habitantes, é a autêntica metrópole. Aqui encontra todas as formas de entretenimento urbano, desde as artes tradicionais japonesas, como o nô, o kabuki e o bunraku até concertos de orquestras mundialmente conhecidas e de artistas populares. Apesar de ultimamente se ter ocidentalizado, conserva ainda o seu velho encanto. Nikko é conhecida pelas maravilhas arquitectónicas e o Parque Nacional Fuji-Hakone-Izu tem como maior atracção o famoso Monte Fuji. Na extremidade norte do arquipélago, encontra-se Hokkaido, ponto de passagem no Japão Setentrional. É a segunda maior ilha, abrangendo 21 por cento da área total do país. A região possui uma enorme beleza natural, uma flora e fauna invulgar e um ambiente social peculiar, que remonta
ao século XVIII. O Japão tem a capacidade dade de agregar as grandes cidades cosmopolitas itas e as comunidades regionais, possuidoras de raízes profundas nas culturas locais. A hospitalidapitalidade dos habitantes é uma das vantagens gens para quem visita a região. Em muitos pontos da região, pode encontrar bairros seculares eculares de samurais, que coexistem com a sociedade ociedade moderna. SANTUÁRIOS E PAISAGENS DESLUMBRANTES Os templos budistas e os santuários xintoístas detêm igual importância, apesar das gritantes diferenças. Os primeiros são detentores de uma intensa elegância arquitectónica, enquanto que os outros expressam a mesma beleza, mas através da ausência de decoração, surgindo no meio dos bosques. As manifestções de fé são exemplo da diversidade. «Shinto» é uma religião primitiva, típica do Japão e que se baseia na crença nos ancestrais e na harmonia com o mundo natural. O budismo, por seu lado, foi introduzido na Ásia Continental há seis séculos e fundamenta-se na iluminação espiritual. Os jardins são igualmente ponto de passagem obrigatório. Reconhecidos mundialmente pelas reproduções subtis da beleza da natureza, estes pequenos espaços são óptimos locais de terapia. As zonas rurais guardam as paisagens mais deslumbrantes, áreas bucólicas e tranquilas, ladeadas de exuberantes montanhas e picos a fundo. ANTIGO E MODERNO EM HARMONIA Para os amantes da tradição, o Templo Horyuji e o Templo Todaiji são essenciais em qualquer programa de visita ao Japão. A primeira compõe uma das construções de madeira erguidas há mais de 1400 anos. O Templo Todaiji nasceu em 1709 e tem 57 metros de altura. Ambas são marcadas pelo estilo budista e são tidas como arquitecturas exclusivamente japonesas, apesar das fortes influências da China. Desde o século XIX, o estilo ocidental tem inspirado as construções modernas. No entanto, a harmonia com a natureza é uma influência tradicional marcante e que está presente na maioria das obras contemporâneas.
espectáculos artísticos tradicionais As artes milenares provam que o Japão é um autêntico museu de arte de valor inestimável, que tem sido preservado há mais de dois mil anos. As artes tradicionais mais importantes e que estão disponíveis todo o ano são as seguintes: · Kabuki: Data do século XVII e é o teatro mais popular do país. Tudo é multicolor, desde as danças aos acessórios. A maquilhagem é exagerada para intensificar as emoções e os papéis femininos que, nos dramas, são desempenhados por actores. · Noh: Nesta forma teatral com mais de sete séculos de existência, os actores usam máscaras sofisticadas e roupas pomposas, consistindo numa forma de drama lírico. · Bunraku: O teatro de marionetas assenta no método «três titeiros»: três manipuladores da marionete principal, que tem cerca de dois terços do tamanho natural do Homem
comunicação facilitada O idioma oficial é o japonês. Porém, a maioria dos habitantes, nomeadamente nas principais cidades e centros históricos, fala inglês. No país existem mais de 1550 intérpretes licenciados, falando fluentemente idiomas como o português, inglês ou espanhol. Acrescente-se que actuam na região mais de oito centenas de guias turísticos profissionais, que dominam o espanhol e o português. As indicações estão descritas em japonês e inglês, uma vez que mais de 700 mil americanos visitam anualmente o Japão
A NÃO PERDER onsen, as termas quentes As fontes de águas termais proliferam na região asiática. Os spas são muito procurados pelos turistas, que anseiam por experimentar estes balneários de água mineral quente. Os ‘onsen’, como são conhecidos entre os japoneses, são muito populares e procurados por todas as faixas etárias. As tendências são diversas: uns levam as águas de fontes termais para o interior das instalações (indoor), or), enquanto que outros constroem ‘piscinas-outdoors’. Estas estão disponíveis todo o ano e são muito procuradas, sobretudo no Inverno, mes-mo debaixo de leves quedas dee neve. Actualmente, os ryokans co-meçam a valorizar a privacidade e possuem infra-estruturas privadas as para atendimento a casais ou faamílias. O banho de areia quente em m Ibusuki, na província de Kagoshima ma é outra forma de onsen a céu aberto rto
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INFORMAÇÕES ÚTEIS › Para entrar no Japão, basta-lhe transportar consigo o passaporte válido e um u visto consular (emitido no consulado ou embaixada do Japão no seu país de d residência e cuja validade depende do tipo de viagem) › Não necessita de qualquer vacinação iã ão, › Tóquio, a capital é servida por inúmeras companhias aéreas. Se fôr de avião, consulte na sua agência de viagens os melhores preços ro› Tóquio e Osaka são as duas grandes portas de entrada para os turistas procedentes via aérea › Pode fazer a viagem por mar, através de cruzeiros dos › A moeda nacional é o iene. As moedas estrangeiras não são aceites em todos de os hotéis, restaurantes e lojas de souvenir. Para cambiar o seu dinheiro pode narecorrer a bancos ou aos balcões de câmbio existentes nos aeroportos internacionais de Tóquio e Osaka se › Cartões de crédito internacionais, como o American Express, VISA, Diners MasterCard são aceites na maioria dos estabelecimentos › No Japão não se pratica a gorjeta › Os hotéis de primeira classe em estilo ocidental podem ser comparados aos iomelhores dos Estados Unidos e Europa. Dispõe ainda das hospedarias tradicionais japonesas (ryokan) or› A rede de transportes públicos é bastante desenvolvida. O transporte é suporos. tado por comboios, autocarros e metro, que são muito eficientes e económicos. mo, Também encontra serviço de taxis e uma extensa rede de transporte marítimo, que interliga as ilhas.
da Europa, Estados Unidos e Ásia. No final, o reais espalhadas pelos jardins, está nos cerca MUNDO EM MINIATURA visitante pode comprar lembranças. de 140 mil bonecos diferentes, espalhados por O Tobu World Square é um parque temático cada sector e que possuem 7 centímetros de do Japão, que atrai anualmente milhares de SOUVENIRS PARA TODOS OS GOSTOS curiosos. Ali pode encontrar cerTodos os turistas gostam de levar uma ca de mil modelos de localidades No Tobu World Square pode encontrar recordação dos locais que visitaram. No mundialmente famosas, reproducerca de mil modelos de localidades país asiático, os souvenirs de reputazidas numa escala reduzida de 1 ção mundial são as câmaras fotográpara 25. No total, são 102 minia- mundialmente famosas, em miniatura ficas e artigos ópticos, bem como os turas de 21 países da Ásia, África, rádio-transistores e equipamentos eléctricos altura. Se adquirir um cartão de activação, os América do Norte e Europa. Localizado em e electrónicos. Relógios, sedas, pérolas, cerâbonecos ganham vida, dançando e cantando Nikko (Tochigi), mais de 40 estruturas repremicas, artigos de bambú, bonecas, produtos para espanto de todos. O espaço possui ressentam monumentos com a chancela de Padamascenos e xilogravuras também são muitaurantes com comida japonesa e internaciotrimónio Mundial. Uma das particularidades to populares. nal, incluindo nas ementas pratos originários do lugar, que agrega 20 mil árvores de bonsais
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tesouro arqueológico “Os entardeceres de La Paz (Chile) são como incêndios astrais e nas noites sem lua podem-se ver todas as estrelas, mesmo aquelas que já morreram há milhões de anos e as que vão nascer amanhã.” Isabel Allende, in “Paula”
As pequenas dimensões do país são meramente ilusórias. Apesar da área territorial reduzida, o Chile agrega diversos tipos de paisagem, desde o Deserto do Atacama, no Norte à imponente Cordilheira dos Andes, a Sul. A sua variedade geográfica, os diversos climas, a economia estável, a boa gastronomia e a excelente qualidade dos vinhos fazem desta nação, localizada na América do Sul, o novo destino turístico. O Chile atrai visitantes de todas as partes do mundo. É uma região de contrastes extremos, que oferece segurança e estabilidade. NATUREZA SOBERANA À paisagem espectacular juntam-se as delícias gastronómicas. O vinho chileno é conhecido internacionalmente pelo seu corpo e aroma, combinando harmoniosamente com as refeições típicas, baseadas em peixes, frutos do mar, carnes, frutas e verduras. Artesanato original, cultura e tradições únicas são algumas das muitas razões para visitar o Chile. O Deserto do Atacama é para muitos o mais seco do mundo, repleto de tesouros arqueológicos. No coração económico e político do país, localiza-se a conhecida cidade de Santiago, capital do Chile e berço de escritores famosos como Isabel Allende e Pablo Neruda. Mais a Sul, surge a imponente Cordilheira dos Andes, que desce até ao Oceano Pacífico, através dos glaciais, canais e fiordes. Aqui está localizada a Terra do Fogo, no Estreito de Magalhães.
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A capital dispõe de centros de Ski, como Valle Nevado Portillo e integra as cidades do litoral como Valparaíso, que são muito procuradas pelos turistas ILHA DE PÁSCOA O Chile controla o arquipélago de Juan Fernández e as ilhas de Páscoa e Sala-y-Gómez, as mais orientais da Polinésia, que incorporou em 1888. Lugar místico, famoso pelas estátuas de pedra “Moais”, a ilha de Páscoa possui um vasto património arqueológico e vive essencialmente do turismo. As gigantescas figuras humanas de pedra (Moais) encontram-se espalhadas por todo o arquipélago e são ponto obrigatório de passagem. Em 1995, foi considerada Património Arquitectónico. Lugares como Tahai, Ahu Akivi, Vinapu, Rano Raraku, Anakena, Rano Kau e Orongo são os locais mais visitados, devido ao simbolismo das suas esculturas. Nesta região, existe ainda a possibilidade de descobrir a ilha Robinson Crusoe, que serviu de cenário à história de Daniel Defoe, que deu ao seu livro o mesmo nome da localidade. A sua beleza cénica atrai todos os que gostam da natureza, aventura e mergulho. Não existem hotéis na ilha. Porém, as Pousadas são muito confortáveis. De Santiago até à região, a viagem de avião dura cerca de duas horas SANTIAGO: CENTRO COSMOPOLITA A capital do Chile está certamente no topo da agenda de qualquer turista, uma vez que es-
ta é considerada a cidade sul-americana com melhor qualidade de vida. Esta metrópole, repleta de contrastes onde a história e modernidade convivem juntas, é banhada pelo rio Mapocho, que atravessa a cidade. Santiago detém excelentes infra-estruturas hoteleiras e uma riqueza gastronómica, capaz de satisfazer os mais variados gostos daqueles que a visitam. Os grandes centros comerciais oferecem as marcas mundiais mais badaladas, que competem harmoniosamente com as múltiplas lojas de artesãos, que oferecem aos visitantes belíssimas jóias artesanais chilenas. A capital dispõe de centros de Ski, como Valle Nevado e Portillo e integra as cidades do litoral como Valparaíso, que são muito procuradas pelos turistas. NORTE OFERECE EXTENSOS AREAIS O Altiplano Andino contrasta com as paisagens do Sul. Aqui pode encontrar os desertos, as extensas praias e os vulcões enormes. A capital provincial do Norte é Arica, que é igualmente o principal porto que serve a Bolívia e a Tacna (Perú), gerando um activo intercâmbio comercial entre os países vizinhos. O Verão atrai muitos estrangeiros, que procuram as praias. Putre é a entrada principal. Localizada a 3500 metros sobre o nível do mar, é o lo-
Puerto Montt é a porta de entrada para uma das re giões mais belas do país, que tem co mo paisagem de fundo a Cordilhei ra dos Andes e os seus vulcões
cal ideal para o visitante se hospedar, tendo a possibilidade de se habituar à altitude. A partir daí, pode visitar o Parque Nacional Lauca, declarado reserva da Bioesfera pela UNESCO e apreciar os vulcões Parinacota, Pomerape, Guallatire e Acotando. LAGOS E VULCÕES IMPONENTES O Sul é rico em florestas e pastagens, possuindo uma série de vulcões e lagos. Puerto Montt é a porta de entrada para uma das regiões mais belas do país, devido aos seus vales, caudalosos rios, enormes e profundos lagos, tendo como paisagem de fundo a Cordilheira dos Andes e os seus vulcões. A zona é essencialmente pesqueira e ao visitá-la poderá conhecer o colorido porto, no qual encontrará uma excelente feira de artesãos e provará os deliciosos frutos do mar e o salmão chileno, conhecido mundialmente. Nesta região, o turista descobrirá o terceiro maior lago natural da América do Sul. O Lago Llanquihue reflecte os vulcões Osorno, Pontiagudo, Calbuco e Tronador. A poente surgem as cidades turísticas de Puerto Octay, Frutillar, Puerto Varas e Llanquihue. Nas proximidades do lago, o visitante pode apreciar a herança, deixada pelos imigrantes alemães, que chegaram ao país no século XIX e cuja obra na área da construção e gastronomia se mistura com os produtos autóctones, criando uma identidade muito própria e característica única do sul chileno. A Ilha Grande de Chiloé, a 90 km a Sul de Puerto Montt, é outro ponto turístico de grande importância. A capital é a cidade de Castro, mas Ancud é a mais famosa, devido às raízes da cultura chilota. Para alcançar o arquipélago necessita de alugar uma balsa para cruzar o canal. As numerosas igrejas que se espalham pela ilha constituem verdadeiras relíquias arquitectónicas, visto que das 150 que ali se encontram, 16 foram declaradas Património Mundial da Humanidade pela UNESCO. Puerto Montt e Puerto Varas dispõem de excelentes serviços, tanto ao nível de hospedagem como da restauração. Por outro lado, nestas cidades encontra uma série de actividades que podem ser realizadas ao ar livre.
à lupa Capital: Santiago do Chile Língua oficial: Espanhol Área: 756 626 km2 População: 16 284 000 (Mestiços: d descendentes de europeus e ameríndios d t d í di - 665%; % europeus - 30% e ameríndios - 5%) Religião: Católicos (70%) e protestantes (15%)
recomendações gerais para os visitantes da ilha de páscoa O peso máximo permitido para levar no avião é de 10 kg. A melhor época para visitar a ilha é entre Novembro e Março. O clima oscila entre os 15º e 26º graus. A roupa aconselhável inclui vestuário impermeável e leve, calças curtas, sandálias, ténis e sapatos de trekking. Aconselha-se que inclua na sua bagagem protector solar e repelente. Deve levar os medicamentos pessoais porque não existe farmácia. A moeda corrente é o Peso chileno. O fuso horário é o UTC - 4 (Verão UTC - 3)
o mistério dos moais: Constituem a principal atracção da Ilha de Páscoa. Os Moais são estátuas talhadas em pedra vulcânica e representam a imagem dos antepassados da população local. A sua altura oscila entre os três e dez metros e chegam a pesar mais de 50 toneladas. As figuras funcionam como protectores, responsáveis por zelar os seus habitantes. Existem cerca de mil esculturas distribuídas pelo arquipélago. A maior encontra-se nas encostas do vulcão Rano Raraku. Foi a partir deste ponto que as restantes foram transportadas para outras zonas. No entanto, continua por resolver o maior mistério: como é que as imagens, sendo tão pesadas, foram transportadas para áreas tão distantes
curiosidades › O Chile oferece quatro principais atracções: a capital Santiago, o deserto do Atacama, a Ilha de Páscoa e os Lagos Andinos; › A 40 km de Santiago localizam-se os centros de esqui, que atraem os amantes dos despor tos de Inverno, que podem desfrutar da paisagem natural, composta por vulcões, rios, lagos e bosques; › Património da Humanidade, a Ilha de Páscoa deve o seu nome ao facto de nela terem desembarcado os holandeses, num domingo de Páscoa, em 1772.
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Admirável mundo novo Luanda fervilha de progresso. Os novos projectos, alguns em fase final de construção, são a imagem de uma cidade moderna, que renasce mais cosmopolita e revela um país empenhado em apanhar o comboio do progresso e do desenvolvimento tecnológico.
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Os recentes empreendimentos habitacionais e empresariais surgem por toda a região. As cidades estão em constante mutação e os novos complexos da capital reflectem o novo conceito citadino. As estruturas hoteleiras, por outro lado, são ainda um bem escasso, pelo que os preços dos quartos é elevado. Embora o Governo preveja a criação de mais 28 hotéis em todo o país (até 2011), actualmente apenas sete unidades actuam em Luanda. Com a proximidade do CAN, o Executivo estima que em dois anos a oferta seja alargada a mais oito espaços (dois mil quartos). O MAIOR DE ÁFRICA Considerado o mais inovador e moderno espaço empresarial e habitacional, o empreendimento Comandante Gika é o maior projecto imobiliário criado em Angola e um dos melhores de todo o continente. Iniciada em 2007, a obra, a cargo da Edifer, está a nascer no espaço que albergou a escola militar “Comandante Gika”, no Bairro de Alvalade, ocupando 307 mil metros quadrados. Orçada em 470 milhões de dólares, a estrutura é composta por um hotel de 5 estrelas (VIP Grand Luanda); um complexo habitacional (Alvalade Residence), que disponibilizará mais de 130 apartamentos e penthouses; duas torres de escritórios (Garden Towers) e um centro comercial (Luanda Shopping). Noventa por cento da área foi entretanto adquirida, por valores que rondam os cinco e os seis mil euros por metro quadrado. O prazo de execução termina este ano. Porém, as diversas infra-estruturas abrirão portas aquando a sua conclusão individual. A inauguração do Luanda Shopping está prevista para 2009. Este será o terceiro centro comercial a nascer no país e comporta mais de duas dezenas de lojas, um hipermercado, seis salas de cinema, restaurantes e um parque de estacionamento, que serão distribuídos por três pisos. Em Janeiro de 2011 será a vez do hotel VIP Grand Luanda abrir ao público, que se prevê que seja detentor de um elevado poder de compra. Afinal, o futuro espaço tem a classificação de 5 estrelas, devido às suas caracte-
egipto escolhe angola “Dream Land” é o nome da cidade que o milionário Ahmed Bahgat Abdel pretende construir no país. O empresário egípcio deseja participar na reconstrução nacional criando uma localidade semelhante à “Dream Land Egipto”. O detentor do Group Bahgat revelou no final do ano passado o seu interesse em construir uma das melhores cidades de África em Angola, com infra-estruturas semelhantes às desenvolvidas no Cairo, ou seja, desde hotéis, prédios de média e alta renda a fábricas e escolas. O projecto aguarda uma resposta do Governo
rísticas, que incluem 300 quartos duplos, 70 suites, um heliporto e vários espaços de lazer. Relativamente às torres, duas destinam-se ao desenvolvimento do principal centro de negócios de Luanda (21 pisos cada e um parque para 470 viaturas), enquanto que as restantes estão reservadas para um condomínio fechado (25 pisos cada para habitação). Importante gerador de emprego, o espaço criará 6.500 postos de trabalho.
A NOVA CIDADE A finalidade consiste em absorver o excesso populacional, que actualmente agrega 5,8 milhões de habitantes, estimando-se que alcance os 15 milhões nos próximos anos. Assim, o Governo está a projectar um novo pólo urbano a norte de Luanda, denominado de “Sassa Bengo” e que será criado até 2030. De acordo com o ministro do Urbanismo, Diakumpuna Sita José, a nova infra-estrutura terá capacidade para albergar três milhões de habitantes e será erguida na via entre as áreas da capital, Caxito e Barra do Dande. Esta última será de-
O MAIS POLÉMICO Avaliada em 2,13 biliões de dólares, a requalificação e reordenamento urbano da marginal luandense vai gerar dois mil postos de trabalho, apenas na fase de construcuriosidade ção. Após a sua conclusão, agendada Casa de terra para dentro de dois anos, serão criados s da res, investigadore Said Jalali e Rute Ei 2.200 empregos permanentes. O profendem que inho (Portugal) de jecto da Baía de Luanda tem sido marUniversidade do M licadas na ões tecnológicas ap cado pelas vozes dissonantes, que se “as recentes inovaç ser aplicadas manifestaram inúmeras vezes contra a s em terra” podem construção de casa empreitada, alegando que esta implica a ndições”, nta “excelentes co no país, que aprese destruição do património. Porém, o Gomatériala sua abundante verno procedeu à sua aprovação, tendo pelo seu clima e pe ção do luções de estabiliza sido concluídas as duas primeiras fases, prima”. Ao criar so construção encontrando-se a vertente marítima na -se um material de solo, poderá obter última etapa de execução, que contempla mecânica maior resistência mais durável e de a despoluição e a introdução do sistema de recolha de esgotos. Financiada pela banca, a reestruturação deste espaço é considerada por muitos como inovadora, pois permitirá escoar parte da procura de áreas de alto nível, que se situam na capital. Para tal, a Avenida da Marginal ganha nova cara, ao ser dotada de uma estrada com seis faixas de rodagem e parques de estacionamento para 1.600 viaturas. O plano prevê a recuperação da fachada da Avenida 4 de Fevereiro e o respectivo arranjo urbanístico, incluindo espaços de lazer. No que concerne ao investimento privado, está agendada a construção de duas torres (uma com 37 pisos e outra com 24) que se destinam à instalação de escritórios, comércio e habitação. Em paralelo, serão erguidos ainda mais dois edifícios multiusos, destinados para acolher um centro de convenções e um hotel.
terminante para a organização da economia das regiões de Luanda e Bengo, a partir da transferência do porto de Luanda para aquele local. A actual capital foi construída para albergar 700 mil pessoas. Porém, hoje em dia, o número de habitantes ronda os seis milhões. A execução do Plano Integrado para a Expansão Urbana está ao cargo da consultora libanesa Dar-Al-Handasah. MAIS HOTÉIS A pensar na escassa oferta de unidades hoteleiras de referência em Luanda, a petrolífera Sonangol prepara-se para inaugurar o segundo empreendimento. A Suite Hotel Maianga
abriu ao público em Fevereiro e é resultado da recuperação de um antigo edifício da rua Marien Nguabi. A infra-estrutura de três estrelas possui 54 quartos, sala de reuniões, duas suites executivas, um restaurante e um ginásio. O investimento situou-se nos 16 milhões de dólares. O novo hotel, que será inaugurado em Agosto de 2009, ficará localizado nas proximidades do Centro de Congressos de Talatona e a empreitada está ao cargo da empresa sul-coreana Namkwang e da equipa de arquitectos Space-Arch. O futuro espaço disponibilizará 201 quartos, entre os quais 15 são de luxo, cinco são suites e uma VIP. CONCEITO EMPRESARIAL INOVADOR Idealizado como centro de negócios, o Belas Business Park, lançado pela Odebrecht consiste num complexo de 18 edifícios que conjugam a vertente de negócios com a habitacional. O projecto conta com um investimento de 350 milhões de dólares e está a ser desenvolvido na área de Talatona. Sub-dividido em quatro etapas, a obra comporta no total 16 edifícios, em que os residenciais são compostos por 112 apartamentos (84 duplex e 28 coberturas) e os empresariais oferecem 224 escritórios. A segunda fase termina este ano e contempla mais quatro torres (90 por cento está vendido). O área de escritórios possuirá duas lojas comerciais. A terceira fase será concluída em 2010, enquanto que a última termina em 2011. A infra-estrutura, que beneficia da proximidade do Belas Shopping, criou numa primeira etapa dois mil empregos. Após a sua finalização, serão assegurados 200 novos postos de trabalho. À margem da inauguração do primeiro cômputo de quatro torres, os responsáveis da Odebrecht revelaram que o conceito do mega-projecto se resume a que “cada vez mais pessoas querem morar perto do trabalho e trabalhar perto de casa”.
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ARQUITECTURA & CONSTRUÇÃO
Passado vs Futuro A lei do património cultural estipula que monumentos são obras de arquitectura notáveis pelo seu interesse histórico, arqueológico, artístico, científico, técnico ou social. Num período em que os cidadãos vêem nascer modernos empreendimentos habitacionais, empresariais e turísticos de grande envergadura, surge uma questão pertinente: o ordenamento das cidades salvaguarda a herança histórica e regula o crescimento urbano em função do património existente? Os 27 anos do Dia Internacional dos Monumentos e Sítios foram assinalados envoltos em polémica, uma vez que a demolição do património histórico e cultural para dar lugar a prédios modernos e projectos que não aproveitam as estruturas antigas têm causado indignação entre os habitantes. De facto, uma panóplia de edifícios classificados já não existe ou está na iminência de desaparecer. Para acalmar os ânimos, o Presidente da República apelou para “que se respeite a combinação da tradição com a modernidade, de modo a que os registos patrimoniais do passado, desde que seja imprescindível a sua preservação, possam conviver harmoniosamente com as soluções arquitectónicas e urbanísticas de vanguarda”. A razão apontada para a demolição de tantas construções históricas prende-se com a degradação dos espaços. Os mais emblemáticos estão a ser restaurados. Porém, inúmeros monumentos, serão arrasados. Muitos defendem que no mínimo deveria preservar-se os aspectos arquitectónicos, de forma a salvaguardar a história. A Angola’in revela algumas das maravilhas nacionais, que ainda resistem aos tempos modernos.
cristo-rei Localizada no centro geográfico do país, no município de Kamacupa, a estátua, eternamente associada ao Cristo Redentor brasileiro, está na serra da Chela a mais de 2100 m de altura abraçando a cidade de Lubango. A imagem do Cristo de braços abertos é o patrício da região, sendo ponto de visita obrigatório.
fortaleza de s. pedro da barra Edificada sobre as ruínas do Forte Cassondama, esta construção do século XVII abraça o estilo da arquitectura militar colonial. Para além da função defensiva, a fortaleza serviu de albergue de escravos, que eram enviados para a América. A partir de 1961 foi transformada em prisão para os nacionalistas angolanos.
fortaleza de s. miguel Erguida em 1576 para defender a cidade, a estrutura alberga actualmente o Museu das Forças Armadas, criado em 1975, após a implantação da Independência. O acervo da galeria é vasto. Nela pode encontrar-se fotografias, aviões bimotores, armas diversas e artefactos, manuseados durante as batalhas travadas pela libertação da colónia, bem como estátuas das personalidades Diogo Cão, Paulo de Novais e Agostinho Neto.
monumento da batalha do kifangondo É o representante dos símbolos de Angola: duas rodas dentadas semi circulares, uma catana construída como uma fonte com três jactos de água e uma estrela com luz eterna. O mural possui seis placas em bronze, exibindo as sequências do combate feroz entre as forças coloniais e os nacionalistas.
ruínas de massangano O Forte de Nossa Senhora da Vitória de Massangano (Kwanza-Sul) adquiriu valor histórico por nesse local se ter desencadeado a famosa batalha, que em 1580 envolveu as forças portuguesas e o rei Ngola Kiluange. A fortificação foi criada pelo capitão português Novais para defender o presídio. Foi refúgio para muitas figuras históricas.
igreja de nazaré Construído em 1664, quase sobre a água, o edifício foi erguido a pedido do governador André Vidal de Negreiros como forma de agradecimento por ter sido salvo de um naufrágio. No local, está sepultada a cabeça do rei do Congo, Garcia II, capturado na batalha de Ambuíla. No interior da igreja, que é um santuário e foi recentemente restaurada, destaca-se a imagem negra da Santa Ifigénia da Etiópia.
monumento da independência A mais recente obra homenageia a memória do primeiro presidente, Agostinho Neto. Localizado no Largo da Independência, onde a 11 de Novembro de 1975 foi proclamada a autonomia, o mausoléu e o respectivo arranjo urbanístico podem ser apreciados a partir de vários pontos da cidade.
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A febre do mercado imobiliário A revista brasileira Veja mostr ou ao mundo o importante mome nto que se vive no sector habitacional angolano ao revelar que a empresa paulista Camargo Cor rêa vendeu em apenas seis dias a totalidade das casas de um projecto de alta renda que será con struído no Talatona. Se Angola fosse avaliada pelo ‘ran king’ da Cushman & Wakefield , Luanda seria a quarta cidade mais cara do mundo, apenas ult rapassada por Londres, Hong Ko ng e Tóquio.
A problemática não é recente. Em 2007, Fernando Teles, presidente do Conselho de Administração do Banco BIC foi o primeiro a recordar os efeitos nefastos da especulação imobiliária. O gestor mostrou-se preocupado pelo facto de vários promotores imobiliários estarem a cobrar o custo total dos imóveis ainda antes de estes terem sido construídos, o que leva “muita gente a oferecer valores muito altos por coisas que, às vezes, não valem tanto assim”. Os valores dos terrenos a subirem constantemente, os elevados custos dos materiais e a procura superior à oferta disponível são os principais factores da inflação do mercado imobiliário, que ultimamente atingiu valores surreais, levando os cidadãos a exigir medidas governamentais para pôr termo à escalada dos preços.
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CASAS A PREÇOS EXORBITANTES Luanda é a região mais cara e onde a inflação dos valores das habitações e escritórios mais se faz sentir. De acordo com o estudo Imobiliário Luanda 2009, desenvolvido pela empresa de consultoria e avaliação imobiliária Proprime, na capital, os apartamentos T4 (com 850 metros quadrados) chegam a custar cerca de três milhões de dólares. No município da Maianga praticam-se os preços mais elevados, em que um T2 de 165 metros quadrados chega aos 774 mil dólares. Na Ingombota, os custos não diferem muito, pois um T4 de 223 metros quadrados é vendido por 1.300.000 dólares. As zonas de Luanda Sul e Viana praticam preços semelhantes. O mesmo documento revela que os apartamentos são bem mais dispendiosos que as moradias. Uma vivenda no Talatona, de tipologia V3 com 385 metros quadrados custa 2.150.000 dólares,
enquanto que uma V4, com 525 metros quadrados é vendida por 2.400.000 dólares. A discrepância está relacionada com o valor do metro quadrado dos apartamentos, que é demasiado alto, uma vez que no Ingombota pode atingir os 5.760 dólares. No que concerne a Luanda, o município do Camama é a zona mais acessível. O estudo destaca que a situação pode inverter-se à medida que as áreas de construção forem aumentando.
Em Luanda praticam-se rendas mais altas que em Nova Iorque HABITAÇÃO SOCIAL É ESSENCIAL O êxodo rural dos últimos anos não tem facilitado o desenvolvimento do mercado imobiliário. As populações que procuram trabalho nas cidades são na sua maioria famílias da classe
média e baixa, que não possuem poder económico para comprar ou alugar os referidos apartamentos de luxo. Assim, os cidadãos concentram-se nos subúrbios, em bairros construídos ilegalmente e anarquicamente (musseques), que não possuem as mínimas condições de salubridade e chocam com o desenvolvimento arquitectónico do centro da capital. Esta situação é resultado da pouca oferta de habitações para cidadãos com baixos rendimentos. “A maior parte das construções está dirigida à classe média e de altos rendimentos, aumentando assim o desequilíbrio que existe entre a procura e a oferta”, defende Branca do Espírito Santo, presidente da Associação de Profissionais Imobiliários de Angola. Actualmente, a habitação social é encarada como um pólo dinamizador do sector da construção, que poderá ser útil na regulação do mercado. Aliás, este segmento é encarado pelos promotores imobiliários como uma oportunidade de negócio, pelo que se verifica um redireccionamento da oferta de habitação para os compradores mais desfavorecidos, que procuram as baixas e médias rendas. Por outro lado, o Executivo, numa tentativa de satisfazer grande parte da população, tem apostado na edificação de casas sociais em Luanda. São exemplos os projectos do Morar e Zango. Em 2008, José Eduardo dos Santos assumiu ainda o compromisso de criar um milhão de habitações sociais até 2012, num investimento que rondará os 50 mil milhões de dólares.
José Eduardo dos Santos reconheceu que o Estado tem que assumir o papel de fiscalizador para tornar o sector mais transparente e regulado CLASSE EMPRESARIAL, A MAIS AFECTADA Trabalhar na capital é uma autêntica dor de cabeça. Aliás, os escritórios são bem mais dispendiosos que as habitações. Encontrar um local para instalar uma empresa em Lu-
flação destes valores resulta essencialmente do processo de reconstrução nacional, que atraiu entidades dos quatro cantos do planeta, que procuraram áreas de qualidade para instalarem as empresas. O mesmo estudo demonstra que existem apenas 603 mil metros quadrados de escritórios, o que equivale a uma área para 35 mil pessoas, quando actualmente existem 80 mil pessoas a trabalhar no sector terciário. Para corrigir esta lacuna serão necessários três a cinco anos, período em que os projectos em curso estarão concluídos. Contudo, o tempo de espera pode ser alargado, uma vez que a maior parte das áreas em construção já estão arrendadas.
anda é particularmente difícil ou até mesmo impossível e nem os novos empreendimentos chegam para tanta procura. “A falta de espaços é tão grande que as pessoas alugam o que aparece”, explicou recentemente Joaquim Chambel, da consultora Colliers P&I, que fez um estudo de mercado e concluiu que as empresas dividem os escritórios pelos edifícios coloniais e pelos imóveis novos, recorrendo inúmeras vezes a moradias, nos bairros ‘chiques’ da cidade. Analisando os números, facilmente se chega à conclusão que em Luanda praticam-se rendas mais altas que em Nova Iorque. Alugar no centro da capital pode custar entre 34 e 48 euros/ m2 por mês, subindo para os 102 euros se se tratar de um edifício novo, enquanto que na região americana a renda ronda os 61 euros. Para os poucos que se aventuram a comprar o escritório, os preços também não são simpáticos. A in-
PROVIDENCIAR ESTABILIDADE Ciente das consequências económicas e sociais a longo prazo, José Eduardo dos Santos comprometeu-se publicamente a fazer descer os preços praticados, de forma a combater a especulação. O Presidente da República admitiu que “o problema habitacional não pode ser negado e é um dos mais difíceis que o governo enfrenta actualmente”. Nos últimos anos tem-se assistido ao nascimento de “bairros peri-urbanos”, de modo “espontâneo e caótico”. Isto pode conduzir a um incremento do descontentamento social e consequentes episódios de violência. “O mercado imobiliário deve ser mais regulado”, finalizou, numa clara alusão à importância de satisfazer todos os segmentos de mercado, incluindo as habitações de baixo custo, de forma a garantir a estabilidade social.
“O problema habitacional não pode ser negado e é um dos mais difíceis que o governo enfrenta actualmente”, José Eduardo dos Santos
FISCALIZAÇÃO E MAIS APOIO Branca do Espírito Santo argumenta que a solução para o fim da especulação passa pelo aumento das acções de fiscalização das obras e pela criação de um diploma legal, que regule a
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ARQUITECTURA & CONSTRUÇÃO
actividade. “Só com estes pressupostos e com o aumento da oferta das habitações é possível reduzir os elevados preços que se praticam no sector”, reitera, reconhecendo a existência de algum oportunismo por parte dos investidores face à crescente procura, que tentam obter lucros superiores aos investimentos aplicados. A entidade tem o intuito de estabelecer um acordo com as autoridades governamentais, para a criação de fundos imobiliários, sociedades de hipotecas e cooperativas, que financiem a habitação social. Por seu lado, durante a primeira Conferência Nacional sobre o Desenvolvimento Urbano e Habitacional, o Executivo condenou publicamente a especulação no sector imobiliário, salientando que é fundamental combater a especulação dos terrenos e facilitar a sua aquisição, desde que se trate de um projecto estruturado, sob o ponto de vista técnico. No encontro, José Eduardo dos Santos reconheceu que o Estado tem que assumir o papel de fiscalizador para tornar o sector mais transparente e regulado. O congresso reuniu especialistas das diversas áreas, que discutiram soluções para um problema que parece não ter resolução a curto prazo.
Os apartamentos são bem mais dispendiosos que as moradias
a ‘fina nata’ de luanda Preços por apartamento MAIANGA T4 (850 m2) › três milhões de dólares T2 (165 m2) › 774 mil dólares T2 (220 m2) › um milhão de dólares INGOMBOTA T4 (223 m2) › 1.300.000 dólares T1 (64 m2) › 380 mil dólares LUANDA SUL T1 (57 m2) › 249.000 dólares T4 (179 m2) › 1.080.000 dólares VIANA T1 (56 m2) › 206 mil dólares T2 (82 m2) › 285 mil dólares T2 (119 m2) › 378 mil dólares CAMAMA T1 (60 m2) › 210 mil dólares T2 (85 m2) › 285 mil dólares T2 (120 m2) › 365 mil dólares
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O QUE DIZEM OS PROMOTORES IMOBILIÁRIOS A justificação é simples: os altos preços dos projectos residenciais resultam da falta de indústria de materiais de construção e, consequentemente do custo elevado dos mesmos, principalmente do cimento. De acordo com as empresas imobiliárias esta é a principal razão (a par dos elevados preços dos terrenos) da especulação que se vive no mercado. Os responsáveis sugerem assim a redução das tarifas de importação das matérias e uma maior abertura ao nível da aquisição do produto. Já Nelo Victor, director nacional de materiais de construção explica que existem apenas 25 indústrias, a nível nacional, num momento em que se estima que a construção de um milhão de novos fogos em quatro anos exija mais 90 fábricas de cimento. Todavia, o Governo garante que o projecto está assegurado. Os bancários, principais financiadores das empresas e particulares também são unânimes ao afirmar que a inflação dos espaços deverá manter-se por algum tempo. Álvaro Sobrinho, presidente do BESA, reitera que a “solução é aumentar a oferta”
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INOVAÇÃO & DESENVOLVIMENTO
| patrícia alves tavares
genéricos para todos Indústria Farmacêutica
Na hora de adquirir um medicamento, muitos questionam-se sobre a escolha a tomar: genéricos ou produtos de marca? Os primeiros são uma realidade há muito conhecida nos países mais desenvolvidos. Todavia, em vários pontos do mundo começam a dar os primeiros passos. África é um desses exemplos. Os principais fornecedores do continente africano são a Índia e a China. No caso particular de Angola, Portugal é o maior parceiro, cujas empresas de renome apostam na distribuição dos fármacos. Mais baratos e detentores da mesma qualidade, os genéricos têm tudo a seu favor para se implementarem numa região ainda marcada pela venda ilegal de medicamentos de marca duvidosa.
Genéricos são produtos com a mesma substância activa, forma farmacêutica e dosagem e com igual indicação que o medicamento de marca. A vantagem está no preço, bastante inferior e na capacidade de intercâmbio em relação ao original, ou seja, é possível proceder à troca pelo genérico. Analisando os múltiplos estudos clínicos, publicados no Jornal da Associação Médica Americana (JAMA), estes fármacos são clinicamente equivalentes aos medicamentos de marca usados no tratamento de doenças, como é o caso das patologias cardiovasculares. No contexto africano, dada a conjuntura social e económica o recurso a estes produtos tem sido uma maisvalia para cuidar de pacientes sem recursos financeiros. A introdução desta alternativa despoletou em 2007, altura em que o continente tomou medidas no sentido de arrancar com a produção local de medicamentos genéricos, essenciais para o combate eficaz das múltiplas doenças que devastam o continente. O plano de fabrico começou a ser estudado há quatro anos, período em que o Comité Regional da OMS para África adoptou duas resoluções que salientam a produção local de medicamentos fundamentais e re-
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médios tradicionais africanos. Esta indústria cria uma série de benefícios para as populações carentes, criando empregos, promovendo as exportações e troca de conhecimentos e tecnologias, sendo um passo decisivo para que as regiões africanas se tornem auto-suficientes em matéria de abastecimento medicamentoso. A generalização do recurso a genéricos, substancialmente mais baratos e acessíveis aos escalões mais pobres, pode contribuir para um decréscimo da venda de medicamentos ilegais, pouco fiáveis e de qualidade duvidosa.
União Africana alertou para a necessidade dos países do continente africano começarem a produzir os seus próprios genéricos ULTRAPASSA FRONTEIRAS Foi nos EUA, na década de 60 que se ouviu falar pela primeira vez nos genéricos. No entanto, só em 1984, os norte-americanos definiram os critérios que seriam adoptados internacionalmente para o registo e regu-
lamentação deste tipo de medicamentos. O modelo foi fundamentado no Hatch-Waxman (The Drug Price Competition and Patent Term Restoration Act), o acto legislativo que estruturou os parâmetros exigidos para a consolidação deste mercado, que ao longo dos anos foi adquirindo competitividade. O objectivo que serviu de mote à criação dos genéricos consistiu na elaboração de uma alternativa legal para reduzir os encargos com os tratamentos de saúde e alargar o acesso da população aos medicamentos. Em regiões como os EUA, Alemanha e Inglaterra, os genéricos detêm em média mais de 30 por cento de participação de mercado, em volume. Embora os países ditos desenvolvidos possuam uma estrutura de venda dos referidos medicamentos bastante sólida, em muitas regiões do globo, apesar das medidas de fomento à sua implementação, a quota de mercado ainda é reduzida. Estudos recentes revelam que países europeus como o Reino Unido e Dinamarca atingem quotas na ordem dos 49 e 60 por cento, respectivamente, enquanto Espanha, Itália, França, Portugal e Suécia ainda apresentam relutância na adesão a estes produtos.
curiosidade
GARANTIR A QUALIDADE A nível nacional, tem-se verificado uma implementação gradual dos genéricos. No entanto, há factores mais urgentes, que merecem especial atenção governamental, como é o caso da qualidade dos medicamentos fornecidos às populações. Aliás, de acordo com recentes declarações do ministro da Saúde, José Van-Dúnem, uma das principais apostas do Governo relaciona-se com a garantia de acesso a medicamentos de qualidade e a preços competitivos, por parte da população. Empenhado em desenvolver acções de fiscalização, o dirigente garantiu que o seu ministério pretende empenhar-se ainda mais na avaliação das condições de qualidade e de armazenamento de medicamentos, a nível urbano e periférico. O esforço tem sido reconhecido pela OMS, que reiterou o apoio na fiscalização e distribuição dos referidos produtos a preços baixos, garantindo o prazo de validade e a sua boa composição. ENTRAVE: A ILEGALIDADE A ausência de controlo total das fronteiras terrestres e dos portos marítimos é a principal razão para a entrada de medicamentos de qualidade duvidosa, que são comercializados à luz da ilegalidade (mercados informais, farmácias ilícitas e na rua). Por outro lado, a legislação surge como um entrave, pois a lei não prevê que os grossistas não façam a sua venda a indivíduos que não estejam devidamente identificados. Daí, a necessidade de fiscalização por parte do Estado, em relação ao modo como são vendidos e a quem. Esta é, aliás, uma das metas do ministro que detém a pasta da saúde. Apenas no último mês, o governo da Província de Luanda proibiu a comercialização de medicamentos, material cirúrgico e hospitalar nos mercados municipais, considerados locais impróprios e inadequados para a venda destes produtos, que carecem de condições específicas de higiene. No mesmo período, a Direcção Nacional de Investiga-
ção e Inspecção das Autoridades Económicas (DNIIAE) e a Direcção Nacional de Medicamentos assinaram um protocolo de parceria com o Ministério da Saúde português, no sentido de combater a contrafacção, regular e supervisionar o sector.
Os genéricos são medicamentos com a mesma substância activa, forma farmacêutica e dosagem e com a mesma indicação que o medicamento de marca (original)
A Angomédica vai reactivar a produção de fármacos de qualidade a partir do segundo semestre deste ano DISTRIBUIÇÃO ESCASSA Nenhum país africano é auto-suficiente em produtos farmacêuticos e Angola não é excepção. No último ano, estavam registados 114 técnicos de farmácia. O sistema de armazenamento é ainda insuficiente, uma vez que o sector público conta apenas com um armazém central funcional em Luanda, um regional em Benguela e 18 estruturas provinciais em cada região. A compra de fármacos – a maioria através do Orçamento Geral de Estado (cerca de 90 por cento) – é centralizada e a recepção regionalizada em três portos (Luanda, Lobito e Namibe). O fornecimento de medicamentos e outros produtos abrange todo o sector público e unidades sanitárias sem fins lucrativos, com total financiamento do Estado. A somar à ausência de meios para uma distribuição que cubra na totalidade o território e de quantidade suficiente para abranger todos os cidadãos, junta-se a falta de serviço de registo de medicamentos e a insuficiência de espaço de armazenamento dos fármacos no sector público. Para colmatar este défice, o director nacional de Medicamentos e Equipamentos do Ministério da Saúde, Boaventura Moura, anunciou que será criada uma Central de Aprovisionamentos, de forma a aumentar o número de stocks e a garantir o acesso das populações a esses meios. O organismo vai garantir que cada paciente recebe o medicamento no local correcto, na hora certa e ao custo mais baixo possível. A entidade tem autonomia financeira e administrativa, sendo tutelada pelo ministério. A associação vai garantir que cada medicamento que chegue em Angola seja detentor do registo prévio de autorização para entrada no mercado.
DESCUBRA MAIS SOBRE OS GENÉRICOS Quais são as principais vantagens? Estes medicamentos possuem a mesma qualidade, eficácia e segurança que um produto original, mas a preço inferior (cerca de 35 por cento mais barato que os de marca). Porque são mais económicos? Após o período de protecção de patente dos originais, os fabricantes de genéricos não têm os custos inerentes à investigação e descoberta de novos medicamentos. Assim a qualidade mantém-se e o preço baixa. Como se identifica um medicamento genérico? São identificados pela Denominação Comum Internacional (DCI) das substâncias activas, seguido do nome do titular da Autorização de Introdução no Mercado (AIM) ou de um nome de fantasia, da dosagem, da forma farmacêutica e da sigla “MG”, inserida na embalagem exterior do medicamento.
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INOVAÇÃO & DESENVOLVIMENTO
GENÉRICOS E A SIDA A doença do HIV/ SIDA é aquela que tem maior procura de medicamentos genéricos. Os fármacos são muito usados no tratamento desta patologia, situação que levou a União Africana a pronunciar-se sobre esta questão, alertando para a necessidade de os países do continente começarem a produzir os seus próprios genéricos para continuar a combater o flagelo durante a crise financeira e garantir que a economia possa beneficiar da produção de drogas. A África do Sul é o único país daquele continente que produz este tipo de medicamentos para combater a SIDA. Face a isto, o novo director da agência da ONU questiona os dirigentes no sentido de conhecer se têm meios para combater a doença, caso falhem os apoios dos países doadores e explica que é urgente “mobilizar a produção local” para não colocar em causa os progressos desenvolvidos na área da saúde. PARCERIA COM PORTUGAL Parte dos medicamentos comercializados no país, sobretudo ao nível dos genéricos, são oriundos de Portugal. O Infarmed é o organismo com maior presença no território angolano. O instituto e a Direcção Nacional de Investigação e Inspecção das Actividades Económicas (DNIIAE) de Angola assinaram há cerca de dois meses um acordo de cooperação, que visa a regulação do sector, a formação de especialistas e a troca de conhecimentos entre os dois países. O mesmo sucede com a PharmaPortugal, que entrou neste mercado em 2006, altura em que firmou um protocolo semelhante com o Hospital Pediátrico de Luanda. Também a Laboris Portugal tem trabalhado no sentido de assumir-se no mercado internacional, onde marca presença com particular incidência em Angola, Moçambique, Argentina, Brasil e Espanha.
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política nacional farmacêutica O Ministério da Saúde, em cooperação com a Direcção Nacional de Medicamentos e Equipamentos, está a trabalhar no sentido de aprovar uma Política Nacional Farmacêutica, cuja existência se afigura “imperiosa” e tem como finalidade congregar as estratégias coerentes e conducentes à resolução dos principais problemas de saúde identificados. Assim, espera-se melhorar a qualidade de vida dos habitantes, através do desenvolvimento de mecanismos de acesso aos produtos e fixação de preços de referência
META: REDUZIR IMPORTAÇÃO Recentemente reaberta, a Angomédica é encarada como a saída para a excessiva dependência dos fármacos sem marca, oriundos do exterior. A fábrica estatal de produção de medicamentos genéricos vai reactivar a concepção de diversos produtos de qualidade a partir do segundo semestre deste ano. Dotada de equipamentos com tecnologia de ponta, a unidade tem capacidade para fabricar entre um a três milhões de medicamentos por minuto, graças às quatro linhas de produção (sólidos orais, líquidos estéreis e não estéreis e xaropes). A empresa, que possui uma filial em Benguela, tem como objectivos a produção, aquisição e comercialização de medicamentos, matérias-primas e controlo da sua qualidade.
SEXTO MAIOR FABRICANTE ENTRA EM ANGOLA O grupo farmacêutico esloveno KRKA, considerado pelos seus responsáveis como “um fabricante da segunda geração de genéricos”, devido à sua experiência de 50 anos no sector, pretende entrar no mercado angolano. A operar em Portugal desde 2007, a empresa pretende expandir a sua área de intervenção e espera chegar em breve a Angola e depois a Moçambique, alargando assim os seus projectos aos Países Africanos de Língua Portuguesa (PALOP)
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“CAN será uma montra para os desportistas” Saiu de Angola com 16 anos. É natural do Kwanza Norte, mas considera-se luandense, uma vez que apenas guarda memórias da capital. Mateus Galiano da Costa, promessa da selecção nacional, não teve um percurso profissional fácil, mas conseguiu vencer os obstáculos e é actualmente um dos avançados mais requisitados no Nacional da Madeira (Portugal), clube onde pretende continuar por wmais um ano. Este jovem talento, de apenas 24 anos é um exemplo de determinação e força de vencer.
Quando decidiu ingressar no mundo do desporto? Tive sempre a paixão pelo futebol. Acompanhava os desafios na televisão, sempre que podia jogava na rua com os amigos e faltava à escola algumas vezes para jogar à bola. (risos) Foi um percurso difícil? Comecei como qualquer miúdo: gostava de futebol e um dia tive a possibilidade de fazer uns treinos de captação no 1º de Agosto. Viram as minhas capacidades e o treinador propôs-me fazer testes no Sporting, em Portugal. Nem pensei duas vezes, aceitei logo e cheguei quando estava quase a completar 17 anos para jogar com os juniores. Porém, o clube já tinha o número de estrangeiros completo e fui para o Desportivo de Beja, que tinha vagas em aberto. Depois da grande época que fiz, voltei para Alvalade para integrar a equipa B. O regresso foi muito desejado. Um ano depois, emprestaram-me ao Casa Pia, por uma temporada. Na época seguinte, o
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meu colega José Fonte recomendou-me aos dirigentes do Felgueiras e aceitei o desafio. Contudo, percebi que o clube tinha graves problemas financeiros e acabei por me mudar para a formação de uma freguesia próxima, o Lixa. A época correu muito bem e o Gil Vicente reparou em mim. Consegui provar o que valia dentro de campo e em Dezembro de 2006, chegou o interesse de uma equipa da Roménia, o Dínamo de Bucareste. Estive lá apenas um mês, porque os testes físicos acusaram Hepatite B. Achei que era impossível, pois fazia exames médicos regularmente no clube. Falei com os dirigentes do Gil Vicente, que admitiram já conhecer os resultados e não terem dito nada para não me preocupar. Fiquei desiludido e decidi rescindir o contrato. Fiquei o resto da época sem jogar. Foi complicado. Mas depois de terminar os tratamentos apareceu o Boavista. Contudo, o clube acabou por ter problemas e nessa altura surgiu o Nacional, com a proposta para ir para a ilha da Madeira. Estou lá desde a época 2007/08.
Teve sempre muita força para conseguir atingir os objectivos? Não foi mesmo nada fácil. Apesar de considerar que tive sempre uma estrelinha da sorte. Mas acima de tudo lutei para que a sorte também me acompanhasse. Não esmoreci quando encontrei dificuldades. Sempre acreditei. Tem algum segredo quando entra em campo? Não sou muito supersticioso. Só gosto de rezar um bocadinho, de pedir para que Deus me proteja no relvado para não ter lesões. O que espera do futuro? A minha perspectiva é fazer a próxima época no Nacional, ter um desempenho ainda melhor e conquistar uma oportunidade para jogar noutro campeonato. Desejava muito jogar em Inglaterra ou Espanha, pois são competições que sempre me fascinaram. Queria pôr à prova as minhas capacidades num futebol ainda mais exigente que o português.
raio x Gostava de jogar em Angola? Se houver a possibilidade de um regresso antecipado a casa, se for uma boa proposta, claro que via com bons olhos e gostava de jogar lá pois nunca experimentei a 1ª divisão. O futebol europeu é distinto do africano? É muito diferente. É mais táctico. Não é tão fora-da-lei, em que cada um faz o que lhe apetece dentro de campo. As pessoas têm regras e ensinam que o importante é o colectivo, nada de processo individual.
se almeja alguma coisa tem que se ser muito rígido e fazer sacrifícios.
Um estilo musical: Semba Um cantor: Yuri da Cunha Um filme: Gladiador
Em relação à selecção, esta encontra-se motivada, agora que tem um novo técnico? Passamos por momentos conturbados. Foi despedido um treinador a que estávamos habituados há muitos anos. Penso que o Manuel José é o homem certo para o lugar certo. Com um novo seleccionador é incutido outro ânimo, outro método de trabalho. Renova muito mais a auto-confiança dos jogadores.
Um destino: Angola Um restaurante: Boi na Brasa Uma paixão: Cinema Um jogador: Fabrício Akwá Um treinador: Ulisses Morais Momento mais importante da carreira: Campeonato do Mundo (2006) Um projecto: Ter uma casa própria e
Como encara a realização do CAN em Angola? O CAN está a ser vivido actualmente com muita expectativa por causa do trabalho que fizemos no último campeonato. Como conseguimos chegar aos quartos-de-final num país estrangeiro, os adeptos imaginam o que podemos fazer numa prova a ser organizada por nós. Ao nível dos atletas, vamos colocar objectivos e pensar racionalmente. Mas o povo está eufórico. Para o país é muito importante. Angola conseguiu organizar-se e fazer uma boa campanha, que convenceu os organizadores da CAF. Foi uma grande vitória, uma grande responsabilidade. Acredito que o Governo está a completar os objectivos a que se propôs. É um ponto de viragem a todos os níveis? Sim, será óptimo para modalidade. Vão surgir novos estádios de futebol. Com mais infra-estruturas em outras cidades, as equipas que têm instalações precárias podem usufruir dessas condições e praticar ainda melhor futebol. O CAN permitirá mostrar os talentos nacionais ao mundo? Será uma montra para os desportistas, sobretudo futebolistas. Muitos olheiros dos grandes clubes europeus vão estar atentos e querem saber realmente o que é que valem os jogadores angolanos. Estamos a torcer para que muitos desses novos talentos possam vir para a Europa para engrandecer o seu dom. Qual o principal conselho que dá aos jovens? A todos os miúdos que têm o sonho de jogar à bola, a sugestão que dou é que acreditem em si e que tentem procurar formação. Em Angola, existem clubes que têm boas escolas, mesmo na 1a divisão. No futebol, quando
Em termos gerais e sociais, fala-se muito na reconstrução de Angola. Sente esse desenvolvimento? Senti na pele essa evolução e essa reconstrução. De momento, é tudo complicado, o trânsito é caótico, mas é um mal necessário pois daqui a uns meses, no caso das estradas, a circulação será facilitada.
um negócio em Angola (a estudar ainda) Clube do Coração: 1º de Agosto Jogador da selecção: Love
Tem confiança no progresso do país? Tenho muita confiança e o Governo transmite isso ao povo, que acredita cegamente nas promessas que os políticos fazem. Têm cumprido a maioria delas e a população crê que o futuro está mesmo a começar. Estão muito optimistas, pois analisando tudo o que se tem feito, há que esperar que as coisas vão correr para melhor.
o caso mateus Escreveu-se muito sobre o Caso Mateus. O que aconteceu? O clube de amadores da Lixa viu a minha situação no Felgueiras e fez-me uma proposta. Aceitei por uma época, para não ficar parado. Fizemos um excelente campeonato e apareceu-me o Gil Vicente, uma formação de Barcelos da 1a divisão e foi algo irrecusável. Quando a direcção foi fazer a minha inscrição, não deixaram. A federação portuguesa tinha uma lei que referia que quem tinha um contrato amador não podia ser inscrito no campeonato nacional, só no final da época. Não fazia ideia dessa lei. O clube, através dos advogados tentou resolver a situação. Ainda consegui fazer quatro jogos e marquei três golos. No quinto jogo, a liga interpôs um recurso e a juíza teve que alterar a decisão. Como já tinha feito algumas exibições com equipas que lutavam pela manutenção, estas recorreram aos tribunais. Isso ajudou-o a evidenciar-se? Até diminui um pouco a minha imagem porque apenas falavam da polémica e não enalteciam o meu lado futebolístico, nem a qualidade do meu trabalho. O mundial surgiu numa boa altura e isso passou-me à parte, pois apanhou-me fora de Portugal. O campeonato do mundo foi um momento de muita satisfação e só pensava em jogar bem para ter a oportunidade de ir para um grande clube. Como terminou o caso? Encerrou o capítulo quando a equipa resolveu voltar aos jogos e provei às pessoas que não era só um nome associado a um caso do qual não tinha culpa.
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DESPORTO
| patrícia alves tavares
Genialidade negra arrasa nos ‘Courts’ Tradicionalmente associado a um desporto elitista, acessível apenas às bolsas das classes média/alta e alta, o ténis esteve durante muitos anos longe do alcance dos africanos
Apelidada de “desporto branco”, a modalidade encontrou-se por muito tempo restrita a famílias com elevado poder de compra, que nos finais do século XIX eram compostas apenas por brancos. As outras raças, nomeadamente a negra, tiveram que ultrapassar inúmeros obstáculos para chegar aos courts nacionais e mundiais. Actualmente, tenistas com raízes africanas estão nos tops dos rankings internacionais e revelam que com trabalho e empenho o talento é reconhecido. As irmãs norte-americanas Venus e Serena Williams são exemplo da dedicação africana, encontrando-se entre as melhores do mundo (ocupam a terceira e segunda posição no WTA, respectivamente). James Blake e Gäel Monfils elevam as origens da terra natal dos progenitores ao mais alto nível. Já na região africana, as actividades desenvolvidas para o fomento da prática do ténis têm contribuído para a massificação do desporto. COMBATE PELA IGUALDADE O crescimento da modalidade entre os negros acompanha a evolução dos direitos humanos. Enquanto em África, a maioria da população se encontrava subjugada pela escravidão, os seus emigrantes davam os primeiros passos na luta pela igualdade do desporto entre raças. Foi nos Estados Unidos da América que surgiram os primeiros tenistas afro-descendentes. Os torneios remontam a 1895. O Chicago Prairie Tennis Club iniciou a aposta na
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formação de um pequeno grupo de jogadores negros, em 1912, abrindo os courts aos talentos com parcos recursos económicos. Contudo, a modalidade era muito segregada e a situação apenas se inverteu quase meio século depois. Em 1916, nasceu a Associação Americana de Ténis (ATA), responsável por estender a modalidade às comunidades urbanas. Após várias restrições impostas pela United States Lawn Tennis Association (USLTA), que negava a participação de tenistas negros nas competições, o talento excepcional de uma jovem chamada Althea Gibson contrariou as regras. Apesar das intenções da USLTA, as suas prestações em campo permitiram o acesso aos torneios nacionais, tornando-se na primeira afro-americana a ganhar o Grand Slam, em 1956. Mais tarde, voltou a conquistar cinco títulos no famoso campeonato, assumindo-se como inspiração para as futuras gerações. Doze anos depois, na altura em que Martin Luther King foi assassinado, Arthur Ashe foi o primeiro tenista negro a sagrar-se vencedor do US Open. O ÍCONE Ashe personifica a determinação africana. A sua brilhante carreira é simbólica, não apenas pelo que alcançou, mas especialmente pelo modo como o fez e o significado que isso tem para muitos. Numa das últimas entrevistas, o ícone dos tenistas de origem africana surpreendeu a jornalista ao referir que a sua doença (o atleta morreu de Sida) não tinha sido a maior
angústia que vivenciou. “A raça foi sempre o meu maior fardo”, enfatizou. Mesmo no auge profissional, Ashe foi constantemente recordado pela sua cor, especialmente quando enfrentava a ‘fina nata’ da modalidade. Ashe descobriu aquele que viria a ser um dos tenistas mais aclamados em França: Yannick Noah. O jovem descendente de um camaronês, deixou os adeptos parisienses eufóricos ao vencer o Torneio de Roland-Garros, em 1983. Actualmente, o veterano francês assume as funções de treinador e dedica-se à música. Lançou na década de 90 a canção Saga África, mostrando que nunca esqueceu as suas raízes.
OURO NEGRO EM LONDRES A final do torneio feminino de Wimbledon foi disputada entre duas negras, que curiosamente são irmãs. Serena e Vénus Williams são tenistas de renome internacional, sendo consideradas adversárias extremamente temíveis. Na competição londrina, Serena derrotou a irmã mais velha, que era até aí a campeã do Grand Slam inglês. Vénus perdeu a oportunidade de igualar a lendária americana Billie Jean King, em número de campeonatos. As irmãs já se defrontaram no circuito profissional mais de 20 vezes, nas quais Serena venceu onze contra dez da irmã
Actualmente, tenistas com raízes africanas estão nos tops dos rankings internacionais e revelam que com trabalho e empenho o talento é reconhecido
COMPETIÇÃO AO MAIS ALTO NÍVEL A capital parisiense voltaria a vibrar com a modalidade em 2008, quando Gäel Monfils alcançou a semi-final do Roland-Garros. Filho de pais oriundos da Martinica e de Guadalupe, o tenista foi número um em juvenis, em 2004, tendo, nesse ano, conquistado o Open da França e da Austrália e o torneio de Wimbledon na categoria de juvenis. Monfils ocupa actualmente o 13º lugar no ranking mundial. No mesmo período, os franceses assistiam à ascensão de Jo-Wilfried Tsonga, descendente de um congolês. O jovem evidenciou-se no Open da Austrália de 2008 ao ter alcançado a final, superando alguns dos melhores tenistas, incluindo o então número dois do mundo, Nadal. O actual número oito da WTA é considerado herdeiro dos “serve-and-volleyers”, estilo que consagrou Pete Sampras e Tim Henmann. O norte-americano James Blake é um caso de sucesso em múltiplas vertentes. Convidado habitual de talk-shows das televisões americanas, a sua auto-biografia constou da lista de best-sellers do New York Times. A sua carreira ficou marcada por problemas de saúde, responsáveis pela descida ao 210º posto do ranking. A recuperação foi épica e o tenista conta actualmente com dez títulos, ocupando a 17ª posição no ranking mundial.
ATP NA ÁFRICA DO SUL A Association of Tennis Professionals (ATP) tem vindo a apostar nas últimas décadas na massificação da modalidade, particularmente nas nações mais pobres. O African Júnior Championships consiste na prova mais prestigiada do continente, sendo responsável por encorajar o espírito competitivo entre os atletas mais novos, que revelam capacidades para singrar nas competições mundiais. Introduzido em 1978, o evento cresceu substancialmente, contando com a presença de 140 atletas, oriundos de 24 países africanos. O maior salto em termos de visibilidade no panorama do ténis ocorreu este ano, com a realização, pela primeira vez, do Open da África do Sul. O circuito profissional de masculinos da ATP passou por Johannesburgo, em Fevereiro. Tsonga venceu a prova, que contou com o patrocínio da companhia aérea South African Airways. Por seu lado, em Angola, os atletas mostram preferência pela prática do ténis de mesa, que se assume como o mais popular. Aliás, Lunda Norte é a província que reúne mais praticantes de ténis de campo, constituindo o segundo desporto de referência. O Sagrada Esperança e o Clube de Ténis do Dundo são exemplos a seguir pela Federação Angolana de Ténis, que se comprometeu a reactivar a modalidade em todo o país, bem como a apoiar a formação de jogadores e treinadores. Angola encontra-se aquém das suas potencialidades, uma vez que, no passado, já foi campeã africana de juniores.
SERENA WILLIAMS A atleta de 27 anos está incluída na restrita lista de jogadoras que possuem no seu currículo todos os grandes títulos do Grand Slam. A tenista possui poucas fraquezas técnicas que possam ser exploradas facilmente. Serena e a irmã Vénus deram os primeiros passos na modalidade pela mão do pai, que cedo reconheceu o talento das filhas. A mais nova do clã Williams tornou-se profissional em 1995 e venceu o primeiro torneio em 1999, o US Open. A tenista norte-americana arrecadou duas medalhas de ouro nas olimpíadas de duplas (com a irmã), em 2000 e 2008. De momento, encontrase na segunda posição do ranking mundial da WTA VÉNUS WILLIAMS O percurso de Vénus é muito semelhante ao da irmã. Iniciou-se nos campos de Los Angeles e causou sensação ao destronar Shaun Stafford da 58ª posição do ranking da WTA. Profissionalizou-se em 1994 e desde logo atraiu a atenção de todos, devido aos seus remates poderosos. Em 1997, surpreendeu todos ao alcançar a final do US Open, onde perdeu para Martina Hingis. Em 2000, conquistou o torneio de Wimbledon e o US Open. Actualmente, com 29 anos ocupa o terceiro lugar no ranking mundial
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DESPORTO BREVES
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motociclismo
modalidades
Campeão angolano em Portugal
Governo forma atletas
O piloto Sandro Carvalho, actual campeão do Supersport de Angola, espera conseguir participar no campeonato português. O líder do desporto motorizado está a negociar com o Team Benimoto Suzuki Cetelem a sua participação na prova de velocidade, em terras lusas, na classe Promomoto 1000. Sandro Carvalho participou no troféu Honda entre 2001 e 2003 e venceu o campeonato nacional em 2006. Não é a primeira vez que o craque passa por Portugal. O piloto já disputou as provas de resistência do Estoril, nos 500 quilómetros Vodafone, com especial destaque para o quarto lugar na geral e a segunda posição nas 600cc, em 2007.
Até 2012, o Executivo pretende lançar 30 mil novos desportistas nas diversas modalidades. O programa, intitulado “Despontar” preconiza a massificação desportiva, que numa primeira fase vai dar formação a seis mil monitores e técnicos desportivos das 18 províncias. O projecto é fruto de uma parceria entre os Ministérios da Juventude e Desportos e da Educação e envolve crianças com idades entre os dez e os 14 anos, que pretendam ingressar em modalidades como o futebol, o basquetebol, o andebol, o voleibol, o atletismo e a ginástica. O objectivo consiste em criar técnicos, capazes de formar jovens nas suas regiões de origem, multiplicando assim o número de quadros nas múltiplas actividades. Apenas em Huíla, o programa “Despontar” prevê criar 180 monitores e técnicos, envolvendo oito mil crianças.
futebol
Super Bock patrocina torneio A Unicer, através da marca de cerveja Super Bock prepara-se para a partir de 2010 organizar um torneio de futebol no país, em colaboração com o Futebol Clube do Porto e o Sporting Clube de Portugal. A prova é resultado dos acordos de patrocínio que vão assegurar a inscrição da marca nas camisolas ofi ciais de jogo das equipas profissionais dos dois clubes portugueses. O torneio será anual e a Unicer pretende que a selecção nacional de futebol (Palancas Negras) integre a competição. Para o efeito, a empresa portuguesa, que também patrocina esta formação (através da cerveja Cristal) encontra-se em fase de negociações para conseguir a participação da selecção. Esta atitude surge no âmbito da estratégia de internacionalização da Unicer, em que o mercado nacional é dos mais importantes.
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ginástica
Aposta na massificação A Federação Angolana de Ginástica elegeu em Abril o novo presidente. Auxílio Jacob garantiu, durante a tomada de posse, que a sua equipa ambiciona trabalhar arduamente para massificar a modalidade no país. A organização está empenhada em criar as condições técnicas fulcrais para a implementação da ginástica como um hábito regular nas escolas académicas. “A prática da ginástica é um factor indispensável no desenvolvimento da sociedade, por isso vamos procurar expandi-la em todas as províncias”, garantiu o novo dirigente. No plano de actividades, encontra-se a promoção de acções formativas para professores de Educação Física e outros agentes para divulgar e elevar a modalidade aos patamares internacionais.
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LUXOS | patrícia alves tavares
AUDI R8 É a novidade da Audi. A nova versão do desportivo da empresa alemã possui 525 cavalos de potência e demora apenas 3,9 segundos para atingir os 100 km/hora. Pode alcançar uma velocidade máxima de 316 km/ hora. O recente modelo apresenta novas entradas de ar laterais, ópticas dianteiras e traseiras com tecnologia LED e duas saídas de escape.
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MASERATI GRANTURISMO - S A nova versão do coupé italiano tem como novidade a adopção de uma caixa automática. Com um funcionamento mais rápido, o fantástico V8 de 4,7 litros possui 440 cavalos de potência. A caixa automática de seis velocidades é a principal característica, bem como as novidades introduzidas no interior do veículo.
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LUXOS
INFINITI FX50 -V8
É o novo modelo da marca de luxo da Nissan. O crossover FX surge com um motor V8 de cinco litros e caixa automática de sete velocidades com Adaptive Shift Control. Detentor de um estilo imponente, apresenta algumas características das versões desportivas. Tem mais de 390 cavalos de potência e tecnologias avançadas, como o sistema de navegação sustentado em DVD Around View Monitor.
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LUXOS
YAMAHA VMAX O conhecido modelo V-Max surge com uma nova aparência, após ter sido alvo de uma série de mudanças. O novo chassis em alumínio é uma das novidades. O motor tem quatro cilindros em V, com 1679 cm3. Os 200 cavalos de potência máxima a 9000 Rpm e os 310 kg são algumas das características desta Yamaha.
KBC VR1X É a nova versão do capacete mais conhecido da KBC e que tem feito muito sucesso. Este modelo promete conquistar todos oss admiradores, desde os mais novos aos mais velhos, elhos, devido ao design avançado, específico paraa reduzir os ruídos do vento. Possui canais duploss de ventilação e o revestimento interior é bastante ante confortável, podendo ser removido ou substituído. tituído.
Halvarssons Safety Gloves Estas luvas possuem aperto de segurança e são fabricadas em napa, proveniente de pele de canguru e cabra. Estee produto da Halvarssons está disponível apenas na cor preta e cumpre mpre ttodas as normas de segurança, aprovadas pela CE.
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Lindst Lindstrands L ndstrands Graffiti Textile Motorcycle Jacket T Moderno, de design explosivo, o casaco da Lindstrands está disponível em três cores diferentes. Possui bolsos extra a pensar nas suas necessidades, permitindo-lhe o armazenamento das garrafas de água.
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LUXOS
LIV VE LU UGGA AGE
Power assisted Suitcase Esta mala é composta por um motor em cada roda, que funciona através de sensores. O usuário fica liberto do peso da mala, uma vez que 85% do peso está distribuído nas rodas. Cada mala tem um código único. Em caso de perda, basta introduzi-lo no site da empresa fabricante e ficará a saber onde esta se encontra.
LEIC CA M8 Discreta e silenciosa, é a primeira máquina digital clássica. Funciona com precisão e velocidade, mantendo todas as vantagens das Leica M analógicas.
HTC C Touch Diamond É tão bonito co como fácil de usar. É a combinação perfeita entre tecnologia, fu funcionalidade e design atraente. Possui um ecrã sensitivo de 2.8 polegadas.
MOTION F5 Fino e leve, o Motion F5 é o primeiro puro Tablet PC robusto, concebido especificamente para o trabalhador no terreno. Combina durabilidade, múltiplas funcionalidades e mobilidade.
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SONY KDL 55-46XBR8 É a novidade na linha de televisores LCD Bravia. O monitor de 55 polegadas é dotado da tecnologia Triluminos para blacklighting, aumentando assim a faixa de reprodução de cores.
BANG & OL LUFSE EN BeoLab 5 A revelação nos sistemas de som apresenta como maior aior particularidade o design, com formas geométricas invulgares, que permitem que este se confunda com uma escultura. O aparelho ho mede as ondas sonoras e adapta os sons graves em função do local. ocal.
BEN NQ LED GP1 Concebido a pensar nos empresários, o mini projector possui uma resolução de 858X600, suficiente para assistir a DVDs, jogar ou fazer apresentações de negócios. Em termos de voz, apresenta resoluções de elevada qualidade. É compatível com PC ou outro formato de vídeo.
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LUXOS
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Com uma aparência deliberadamente ‘low profile’, este Wyler Genève utiliza um material luminoso SuperLuminova laranja para os pontos que marcam as horas, minutos e as inserções dos ponteiros, fornecendo um agudo contraste em relação à sobriedade do restante mostrador. Um pormenor fantástico
Certina DS Prince
Clássico. Este Certina DS Prince oferece a todos os amantes de relógios linhas sóbrias, num estilo contemporâneo que destila charme. Tem um carácter incomparável e é dedicado a todos os apreciadores de um estilo refinado e intenso
102 | ANGOLA’IN · LUXOS
ESTILOS
| manuela bártolo
silhueta moderna O crescimento do mercado de moda masculina na mostra que os homens estão cada vez mais vaiaidosos e se interessam pelas novidades do munundo fashion. A aparência agora está no topo da lista de prioridades do homem moderno. Os homens interessam-se pelo que está a acontetecer no mundo da moda. Procuram-se informar mar e não têm receio de entrar sozinhos numa loja de roupa e comprar o que lhes fica bem. As roupas masculinas cada vez mais arrojadas se tecnológicas, representam a personalidade e e o estilo de vida do homem moderno. A maior ior preocupação dos homens continua a ser com ma praticidade e o conforto, razão pela qual a indústria da moda tem colaborado e acompanhahado esta mudança, lançando no mercado roupas as que seguem as tendências, segmentando estistilos e acompanhando a vaidade masculina, que ue na última década cresceu como nunca.
LEE blusão perfecto em pele
MIGUEL VIEIRA ténis em pele envernizada e camurça
LEE t-shirt em algodão
LEE cardigan em lã
GANT necessaire em poliéster
104 | ANGOLA’IN · ESTILOS
LEE chapéu com textura de palhinha
GANT blusão impermeável
LEE t-shirt em algodão
LEE blusão impermeável
Um jeans modernos com umas sapatilhas arrojadas e uma camisa desportiva (para os mais arrojados uma tshirt alegre e divertida) são a marca desta estação. Aposte em opções despojadas!
LEE jeans
LACOSTE ténis
ESTILOS · ANGOLA’IN
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ESTILOS
LEE t-shirt em algodão
LACOSTE cachecol em lã
Nesta ediç edição ção não n perca as últim ú últimas mas novidades. novi idades. Reservamos Reservamo os para pa ara si um conjunto conjun nto de blu blusões usões e tshirts tshir rts q que lhe pe p permitirão rm mitir rão marcar ma arcar ra diferença. Temos difer rença. Tem mos moda todos mod da para a tod dos os gosto os, q os que os gostos, celebra celeb o espírito aventureiro a ureiro e ousad do homem ousado moderno! oderno!
LEE GANT
jeans
mocassins em camurça
LEE Blusão em pele
106 | ANGOLA’IN · ESTILOS
LEE Blusão Perfecto em pele
seja ousado! Chegou a vez dos homens terem atenção. Agora é hora de pensar no novo. Tente criar um equilíbrio entre o casual e o formal, compondo um estilo mais descontraído. A dica? Um jeans modernos com umas sapatilhas arrojadas e uma camisa desportiva (para os mais arrojados uma tshirt alegre e divertida). Aposte em opções despojadas. Mas tenha sempre em atenção: é essencial que o homem comporte a roupa que usa, ou seja, tenha estilo o suficiente para usá-la, senão pode ser uma catástrofe. Também é importante estar atento ao lugar em que se encontra. A roupa para passear à tarde no shopping é diferente da roupa que usa para sair à noite, que, por sua vez, é diferente da roupa que se usa para namorar e diferente da usada no trabalho. Importante é parecer o mais natural possível porque pode ter a certeza que de outra forma irá atrair muitos olhares críticos. Para o tiro não sair pela culatra, a dica é única: seja fiel ao seu estilo!
LEE camisola em algodão
LEE saco em pele metalizada
GANT Blusão impermeável
MIGUEL VIEIRA botins em pele envernizada
ESTILOS · ANGOLA’IN
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ESTILOS
chanel
Allure Homme detentor de notas de bergamota, jasmim, cedro, baunilha, sândalo e âmbar, esta fragrância é reconhecida pela sua frescura oriental. recomendado para usar durante o dia, a chanel apresenta um perfume com uma mistura de frutas cítricas com um rasto de temperos e pimenta.
escada
Magnetism for Men pensado para homens exigentes, que querem sempre o melhor, é magnífico para o fazer sonhar acordado. amadeirada, especiada e ambarino, esta fragrância possui notas de pimenta de aroeira, açafrão, cedro, sândalo, couro, âmbar, bálsamo de tolu e almíscar.
paco rabane
Black XS
christian dior
Fahrenheit Men concebido a pensar em homens que gostam de seduzir, este perfume deixa saudades por onde passa, uma vez que a dior escolheu as mais raras essências para criar um produto único. com um toque de flor amadeirada, a fragrância possui notas de bergamota, lavanda, sândalo e styrax.
bulgary
Aqua Men esta fragrância revela uma interpretação única dos seus ingredientes. possui uma mistura de folhas de laranjeira misturados com o aroma delicado e picante da mandarina. as suas características marinhas naturais e ricas conferem uma qualidade distinta a este perfume, que possui notas finais da âmbar mineral, com um tom amadeirado e masculino.
108 | ANGOLA’IN · ESTILOS
amadeirado oriental, este perfume é indicado para o “bad boy”, homens livres, independentes, extrovertidos e sensuais. as notas de cabeça são energéticas, com aroma de limão da calábria e kalamanzi. possui notas de âmbar negro, patchouli, canela, cardamomo negro e praline.
LUXOS · ANGOLA’IN
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LIVING
| joão paulo jardim
Decoração versus investimento Tradicionalmente não consideramos a decoração como uma forma de investimento numa perspectiva economicista, é vista apenas e tão somente como uma aposta no conforto e bem estar pessoal. Mas existem vários tipos de aquisições, que para além de mais-valias a um projecto de decoração propriamente dito, são também investimentos seguros e economicamente muito interessantes. Tendo, na sua maioria das vezes, um elevado grau de retorno financeiro a médio e longo prazo. A aquisição deste tipos de peças pode ser quase um hobby. No entanto, como forma de investimento, sendo esta uma área muito específica e para quem não pretende dedicar o seu tempo a investigar novos talentos com potencial no mercado de arte ou a percorrer galerias, antiquários ou leiloeiras em busca de boas apostas de aquisição, a solução ideal é recorrer aos serviços de um consultor. Uma compra bem aconselhada é um investimento redobradamente garantido e com a colaboração do responsável do projecto de interiores é também um valor acrescentado à decoração de qualquer espaço. Seja ele residencial, laboral ou comercial. Um projecto de decoração bem assessorado pode tornar-se num excelente investimento económico Não é também por acaso que nestas alturas em que os mercados financeiros estão mais instáveis que grandes leiloeiras internacionais como a Sotheby’s e a Christie’s fazem espectaculares vendas com licitações surpreendentes.
110 | ANGOLA’IN · LIVING
E são nestas épocas em que se conseguem efectuar aquisições que noutras alturas seriam impensáveis. A instabilidade económica faz com que entrem no mercado peças muito raras que alguns coleccionadores se vêem obrigados a pôr em praça e surgem oportunidades únicas de compra, quer a nível de exclusividade quer a nível de cotação dos objectos em circulação. Esta é, sem dúvida, um boa altura para compra de todo o tipo de peças únicas. Desde obras de arte, a peças de design exclusivo, passando pelas antiguidades até aos mais variados objectos de colecção. Uma forma de investimento emergente, também nesta área e que já foi aqui abordada é a aquisição de peças de design exclusivo. Existem algumas marcas de eleição que actualmente se dedicam e editar peças em séries muito limitadas ou mesmo únicas, de novos autores ou de outros já consagrados e que entram automaticamente num circuito de coleccionadores, tornando-se de imediato objectos de desejo com valor acrescentado. Seja qual for a opção tomada, um projecto de decoração bem assessorado pode tornar-se assim num excelente investimento económico. Deixando de ser apenas um deleite para os sentidos e ganhando um carácter mais racional que por vezes se sobrepõe ao óbvio prazer material. João Paulo Jardim - jpjardim@comunicare.pt
FOSCARINI Define-se como uma colecção de forte personalidade, resultante de factores como pesquisa e inovação, qualidade de produção e design arrojado, que em associação constituem a identidade desta grande marca italiana de iluminação. Com características tão particulares e desenvolvendo parcerias com grandes mestres do design, assim como apostando em novos valores emergentes, a Foscarini apresenta uma colecção em que todos os modelos são únicos e individualizados, mas em que todos se articulam entre si em harmonia e se regem pelos mesmos princípios fundamentais de exigência e rigor. XQW
LIVING · ANGOLA’IN
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LIVING
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HAVILAND Fundada no ano de 1842 por David Haviland, com a ajuda dos seus dois filhos. Uma família americana que atravessou o Atlântico para se instalar em Limoges e criar esta empresa que se tornou um marco incontornável da porcelana a nível mundial. Por esta casa passaram os maiores ceramistas de todos os tempos, que a enriqueceram com os seus conhecimentos técnicos e valores estéticos. Assim como consagrados artistas plásticos, desde Cocteau, passando por Kandinsky, até aos grandes artistas contemporâneos, que se envolveram na aventura da porcelana imprimindo-lhe o seu génio criativo e dando vida a verdadeiras obras de arte. A Haviland combina a tradição com a modernidade de forma exímia para aqueles que apreciam a paixão da arte e do luxo.
QW
LIVING · ANGOLA’IN
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LIVING
LÚCIA DAVID Após uma licenciatura em Escultura e Metais, conclui o Mestrado em Book Arts em 2002, ambos no London Institute, Camberwell College of Arts, em Londres. Expõem desde 2003, tendo estado desde então presente em diversas exposições patentes em França, Inglaterra, Portugal e mais recentemente no leste europeu. O trabalho desta promissora artista desenvolve-se entre escultura, livro de artista e escrita, integrando técnicas artesanais como o bordado. Reflectindo sobre questões da condição das mulheres, Lúcia David constrói histórias visuais sobre um mundo em ruptura social e política.
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ANGOLA’IN AN A NGOLA NG OLA’ OL LA A’IN ’IN N · LIV LIVING LLI IV VING NG N G 114 11 14 | ANG
VINHOS & CA.
| patrícia alves tavares
Cem Amigos Reserva Tinto 2007 Proveniente de uvas colhidas manualmente, os 75 hectares de vinha, que deram origem a este néctar, beneficiaram do clima mediterrânico continental. Esta reserva foi envelhecida em barricas. de carvalho francês e americano durante noves meses. O aroma floral e frutado com notas de especiarias define este vinho, que se apresenta como um produto elegante e rico. Possui uma boa estrutura de taninos, o que lhe confere grande longevidade em garrafa. Perfeito para acompanhar pratos elaborados de cozinha mediterrânica, pastas e queijos, deve ser servido entre os 16 e 18ºC.
Cem Amigos - Tinto 2007 Este néctar destaca-se pelo seu equilíbrio e estrutura suave. É a escolha ideal para acompanhar refeições de carne branca, pastas e queijos suaves. Para tal, deverá servir-se a uma temperatura que oscile entre os 16 e 18ºC. Quanto aos aromas, no nariz revela notas de frutos vermelhos maduros, enquanto que no palato é elegante, com uma frescura agradável.
Casa dos Zagalos 2005 Vinho Regional Alentejano De cor granada, este vinho beneficiou do clima mediterrânico continental. Rico e equilibrado, possui uma óptima acidez, apresentando aromas complexos de frutos vermelhos, sempre bem integrado com notas de tostados e especiarias. A boa estrutura de taninos permite-lhe uma boa evolução em garrafa e um final longo.
116 | ANGOLA’IN · VINHOS & CA.
Gato N Negro Cabernet Sauvignon É uma das pérolas do Gato Negro, cuja qualidade é reconhecida. Este Cabernet, de cor ruby escura, é muito intenso. Apresenta-se cheio de aromas de frutos vermelhos, tais como aromas, cassis e cerejas, que se fundem na mais completa perfeição com notas de baunilha e coco. N Na boca, é encorpado e muito equilibrado, revelando boa frescura, com ligeiros taninos. O derradeiro paladar consiste num longo e agradável final.
Gato Negro Sauvignon Blanc Vinho com aroma a ervas e frutos, como folhagem de tomate, uva, ananás anan e manga. Este néctar de cor ligeira verde-amarelado e as suas características equilibram a acidez, é refrescante refresca aumentando o paladar frutado, proporcionando ao que vai au coonsumid um agradável final. cconsumidor
Dão Meia Encosta a Vinho Tinto 2007 7 Este néctar límpido, de cor ruby intensa acompanha na p eu perfeição pratos de caça, assados e queijos curados. O seu arom aroma vinoso a frutos vermelhos maduros apresenta notas de espec o, especiarias. No paladar, o vinho apresenta-se macio e redondo, te. com a fruta bem presente num final fresco e persistente.
VINHOS & CA. · ANGOLA’IN
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VINHOS & CA.
Quinta do Mouro 2004 Vinho Regional Alentejano A principa principal característica é o aroma profundo e complexo de frutos pretos maduros, com amên amêndoa torrada e especiarias, evidenciando o cravinho num ambiente mentolado. De cor granada intensa, este vinho inicia-se no paladar com uma macieza mentolado e untuosid untuosidade, onde se distingue uma riqueza de fruta madura, que é conjugada com um eq equilíbrio perfeito. Os taninos robustos contribuem para uma sensação persistente de um final que não chega a acontecer.
Porca de Murça Este vinho agradável resulta do facto da casta Boal ter sido fermentada em barricas de carvalho português, pelo que o produto permaneceu em contacto com os fermentos durante seis meses. O aroma é complexo, possuindo toques de frutos tropicais, baunilha e madeira amanteigada. Encorpado, com um agradável equilíbrio ácido e um final longo e vivo, este néctar C. Acompanha idealmente deve ser servido entre os 12 e 14ºC. pratos de peixe, carnes brancas e refeições de massa.
Esporão Private Selection 2008 8 Originário da região portuguesa alentejana, este produto apresentaa um aspecto cristalino, cor de palha. De aroma frutado com notass subtis de madeira de carvalho, fruta exótica, pêssego e baunilha, estee néctar acompanha bem com múltiplos pratos, desde sopa de peixee s, até pratos de caril, fazendo sobressair o gosto exótico das especiarias, m tornando a refeição numa fusão de sabores exuberantes. É um vinho complexo e encorpado, cheio, cremoso, com bom equilíbrio e C. persistência na boca. Deve servir-se entre 10 e 12ºC.
118 | ANGOLA’IN · VINHOS & CA.
Royal Oporto 10 anos Oriundo da região demarcada mais antiga, a do Douro, este néctar consiste numa produção altamente cuidada dos Vinhos do Porto de elevada qualidade. É um vinho que possui reflexos aloirados de tonalidade topázio queimado, sendo detentor de um bouquet harmonioso armonioso e elegante, característica do envelhecimento em cascos de carvalho. Possui aromas as e sabores primários, típicos dos vinhos jovens, desenvolvendo um vasto leque de subtis btis nuances torrados e complexados, com notas de especiarias, frutos secos (nozes e avelãs), compotas ompotas de frutas e finas madeiras. Deve ser consumido mido a 16ºC.
Herdade Esporão Vinho Licoroso A sua particularidade é conferida pelas castas que lhe dão origem, a éctar Trincadeira e o Aragonês. Límpido e com uma tonalidade ruby, este néctar apresenta-se com um aroma complexo e fino, carregado de notas de compotas. O paladar é intenso, sugerindo sabores de nozes e frutos secos, com um final prolongado e persistente. É uma óptima sugestão para usar obremesa, devendo servir-se a 16 ou 18 C. como aperitivo ou vinho de sobremesa, 18ºC.
Marquês de Marialva a É um espumante branco, oriundo da Região Demarcada daa Bairrada. De cor citrina e brilhante, com tons esverdeados,, bolha fina e cordão persistente, este produto deve serr servido entre os 6 e 8ºC. O seu aroma a flor de laranjeira,, ameixa e brioche confere-lhe um toque de mineralidade. Naa boca possui uma mousse intensa e persistente e uma acidezz equilibrada, que lhe proporciona um final longo e agradável.. Deve servir-se bem fresco, sendo uma boa escolha paraa aperitivo ou para frutas e saladas..
VINHOS & CA. · ANGOLA’IN
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VINHOS & CA. À CONVERSA COM… Bernardo Gouvêa, Director Geral da Companhia das Quintas
| manuela bártolo
a tradição de fazer a diferença
A Companhia das Quintas tem sete quintas/adegas diferentes em várias regiões de Portugal. A empresa é também proprietária de 100% da PortuVinus, uma das maiores empresas de distribuição de vinhos e bebidas espirituosas em Portugal. A companhia detém propriedades nas regiões de vinhos mais destacadas portuguesas: Quinta da Fronteira (Douro), Quinta do Cardo (Beira Interior), Quinta de Pancas (Alenquer), Quinta da Romeira (Bucelas), Quinta de Pegos Claros (Palmela), Quinta da Farizoa (Alentejo) e Caves Borlido (Bairrada)
120 | ANGOLA’IN · VINHOS & CA.
‘VINHOS ÚNICOS DE QUINTAS ÚNICAS’ “Angola é o nosso segundo maior mercado de vinhos. Queremos em três anos ser uma das três marcas de vinho português mais vendido no país”. A afirmação é de Bernardo Gouvêa, director geral da Companhia das Quintas, proprietária da Quinta de Pancas, uma das marcas de vinhos portugueses mais vendida no país. O objectivo é fazer com que este seja o seu principal mercado, razão pela qual a empresa tem canalizado, nos últimos cinco anos, um forte investimento para Angola. Associada a valores de prestígio e tradição, em Luanda pode-se encontrar a nova imagem de marca da Companhia - ‘The Quinta Collection’ -, composta por vinhos produzidos em Portugal e provenientes da Quinta do Cardo (Beira Interior), da Quinta de Pancas e da Quinta da Romeira (ambas da Estremadura). Uma nova colecção de vinhos que dá continuidade à estratégia iniciada com a renovação da imagem do Prova Régia, cujo o intuito é salientar, cada vez mais, a qualidade de produção à credibilidade e notoriedade nacional e internacional conquistada nas últimas décadas. Defensor da realização de eventos de carácter lúdico e
pedagógico, que procurem associar o convívio e a degustação, ao debate de questões gastronómicas, culturais e técnicas, tendo em conta as especificidades do mercado angolano, Bernardo Gouvêa almeja que a Companhia das Quintas e os seus vinhos conquistem definitivamente o consumidor nacional, considerado pelo mesmo como “um cliente exigente, sofisticado e moderno”.
Aumentar a percepção de valor e a relação qualidade/ preço tem sido uma das grandes aposta da Companhia das Quintas no mercado nacional “Angola é para nós um mercado de elevado interesse, cuja experiência até ao momento tem sido muito positiva”, salienta. Exemplo disso, tem sido o sucesso associado à comercialização dos vinhos da Quinta de Pancas, que têm tido um crescimento na ordem “dos 50% ao ano”, fruto de uma qualidade de oferta situada entre a gama média e média/al-
‘O cliente angolano é um consumidor exigente, sofisticado e moderno’
CURIOSIDADE A Companhia das Quintas pretende atingir fortes crescimentos de vendas por ano quer através de investimentos em vinhas, adegas e nas suas marcas, quer através da aquisição de empresas existentes ou de activos seleccionados, para ser uma das empresas do top 5 do sector em Portugal
a não perder…
ta, com especial destaque para os vinhos de topo, segmento para o qual “estamos vocacionados”, refere. A excelência é um factor de diferenciação preponderante para este responsável, que destaca o facto do cliente nacional ter já muito enraizada a “percepção de valor qualidade/preço” relativamente a este tipo de produto, sendo esta uma mais-valia para a companhia face à concorrência feroz que se tem vindo a sentir em Angola. Actualmente, o seu maior desafio é “fazer com que as pessoas experimentem”, para isso tem apostado na formação e acordos com escolas de hotelaria, de forma a divulgar não só as particularidades de cada vinho, mas também a forma como eles se adaptam ao gosto de cada consumidor. O ritmo de crescimento do mercado tem sido elevado, o que obriga a elevar a qualidade de toda a cadeia de valor.
RETALHOS DA HISTÓRIA A Companhia das Quintas marca presença em seis diferentes regiões de Portugal - Estremadura, Alentejo, Douro, Palmela, Beiras e Bucelas. Detentora de quintas nas
principais regiões produtoras de vinho portuguesas, detém actualmente cerca de 328 hectares de vinha na totalidade, o que a torna num dos principais proprietários de vinha em Portugal. Um processo de crescimento sustentável que a faz estar entre as dez maiores companhias produtoras de vinho lusas e que é fruto de um forte investimento em infra-estruturas (propriedades, vinhas e adegas). Igualmente importante para o seu posicionamento no mercado nacional e estrangeiro tem sido a aposta na renovação de imagem e identidade institucional, facto que permitiu à empresa agrupar todos os vinhos da Companhia das Quintas num só, com o objectivo de transmitir aos consumidores os novos valores da marca sustentados pelo conceito “Vinhos Únicos de Quintas Únicas”. Esta é também a mensagem de tradição, personalidade e prestígio transmitida ao consumidor angolano. Diferenciação e qualidade são, por isso, dois factores muito importante para Bernardo Gouvêa. O objectivo da companhia para os próximos tempos é crescer organicamente em volume e valor sobretudo a nível internacional.
Quinta de Pancas – Alenquer/Estremadura Esta é uma quinta com grande tradição e historial, tendo sido fundada pela família Guimarães em 1945, à qual pertenceu até ter sido integrada na Companhia das Quintas em 2006. A Quinta de Pancas é fortemente marcada pela arquitectura do seu Solar, nomeadamente o arco de entrada e os painés de azulejo do século XVI. É rodeada por serras que a protegem dos ventos do Atlântico, permitindo o excelente amadurecimento das uvas, que inclui as castas Touriga Nacional e Cabernet Sauvignon. Esta situação, aliada ao equipamento moderno do processo de vinificação, tornou a Quinta de Pancas desde início uma bandeira da região. A Quinta de Pancas tem aproximadamente 50ha de vinhas.
quinta da romeira – bucelas Em 1703, o terceiro Conde de Castello Melhor, antigo Primeiro Ministro do Reino, integrou a Quinta da Romeira no Morgadio de Santa Catherina, uma propriedade de grande dimensão baptizada em honra de um membro distinto da família real – Rainha Catherina, esposa de Carlos II, Rei de Inglaterra. O projecto da Quinta da Romeira começou em 1988 e focou-se no restauro do Solar do século XVIII e de uma Capela, na construção de uma adega ‘state-of-the-art’ e na plantação de cerca de 80 hectares de vinhas, na sua maioria da casta de Arinto, originária de Bucelas e grande responsável pela qualidade dos vinhos desta região, a uva mais apropriada para o vinho de Bucelas, onde beneficia de um clima único proporcionado pelo vale entre o mar e o rio
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VINHOS & CA.
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INFLUÊNCIAS BRASILEIRAS ENVOLTAS NOS SABORES DAS ESPECIARIAS AFRICANAS Para esta edição, escolhi uma receita que tem por base um produto originário da América do Sul. As regiões deste continente possuem o mesmo clima tropical e ingredientes exóticos. O Filet Mignon provém do Brasil e consiste num tipo de corte específico da carne bovina. É retirado da parte traseira do animal e representa menos de três por cento da carcaça. Por isso, o filet é o corte mais macio da carne bovina e quase que não contém gordura. Durante as minhas passagens pelo Brasil descobri esta iguaria e fui aprendendo diversas receitas. A que vos apresento é uma mistura dos sabores brasileiros com uma das maiores especialidades angolanas, o café. Nas minhas viagens a África descobri vários tipos de café, que são únicos e detentores de um sabor inesquecível. Como Angola possui uma longa tradição nesta cultura e está a desenvolver esforços no âmbito da dinamização do sector, incluí no molho desta receita o delicioso café africano. Os sabores intensos são uma das particularidades do menu que vos apresento. O pimentãodoce, os cominhos e a hortelã conferem um toque exótico e apimentado, típico da gastronomia africana e brasileira, principais adeptas dos sabores intensos, característicos dos climas tropicais. A escolha do vinho branco para o molho fica ao critério do cozinheiro(a), que tem total liberdade para optar pelo produto da sua região ou por uma das muitas variedades que encontra ao seu dispor nas lojas. A cobertura confere ao prato um toque aveludado e um tempero especial, que torna esta carne ainda mais suculenta. O Filet Mignon com molho de fígado e café pode ser combinado com múltiplos produtos. Sugiro que acompanhe com esparguete. Contudo, no Verão pode optar por algo mais leve, como uma salada para contrastar com a espessura do molho.
Apresento-vos o meu Filet Mignon ao molho de fígado e café: ingredientes: - 200 ml de café - 1 kg de filet mignon - 200 ml de vinho branco - 200 ml de água - 300 g de fígado de frango - 2 colheres de óleo - 2 colheres de manteiga - 2 dentes de alho - 1 colher de cominhos - 1 colher de pimentão doce - 1 tomate - 1 cebola - 1 colher de sopa de sumo de limão - 1 colher de sopa de Maizena - Hortelã picada
modo de preparação: Corte o filet mignon em medalhões. Aqueça duas colheres de manteiga numa frigideira e passe a carne até ficar dourada. Reserve. Para o molho, coloque numa frigideira o óleo e refogue o fígado de frango. Acrescente dois copos de água e as especiarias. Deixe cozinhar. Entretanto, bata ligeiramente no liquidificador a cebola, o alho e o tomate. Junte esta mistura ao fígado e ao café. Deixe cozinhar. Triture até formar um creme homogéneo. Junte o vinho e uma colher de maisena. Tempere com hortelã picada e sumo de limão. Disponha os bifes numa travessa e cubra-os com o molho de fígado e café. Acompanhe com esparguete ou outro ingrediente a seu gosto.
Se desejarem enviar as vossas receitas ou comentários a este ou outros pratos, escrevam para eu@chakall.com
VINHOS & CA. · ANGOLA’IN
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CULTURA & LAZER
| patrícia alves tavares | patrícia alves tavares
‘Lingua-mater’ Símbolo da identidade de uma nação e característica intrínseca da história e cultura de um povo, a questão linguística é uma forma de expressão primordial e, portanto, tem merecido especial atenção por parte dos ministérios da Cultura e da Educação. O português é a única língua oficial de Angola. Todavia, além dos numerosos dialectos, o país possui mais de vinte idiomas nacionais.
Com uma população a rondar os 16,8 milhões de habitantes numa superfície de 1.246.700 quilómetros quadrados, Angola apresenta mais de duas dezenas de línguas nacionais. A este número acrescente-se os múltiplos dialectos
124 | ANGOLA’IN · CULTURA & LAZER
“Os problemas que temos enfrentado para suprir esta lacuna da utilização das línguas nacionais no sistema de ensino têm sido superados, tendo em conta o trabalho que o Instituto de Línguas Nacionais tem desenvolvido, nomeadamente de quadros e recursos financeiros”. O balanço foi proferido pela ministra detentora da pasta da Cultura, Rosa Cruz e Silva, que, durante o último seminário respeitante à área do kimbundu, salientou ser fundamental a inclusão das línguas nacionais no sistema de ensino, de modo a valorizar e preservar o símbolo da identidade e diversidade cultural. O tema tem
estado no centro da discussão pública, devido aos apelos das entidades governamentais para que haja uma reflexão profunda sobre as múltiplas línguas, sobretudo ao nível da sua inclusão nos planos escolares, com vista à sua revalorização. O último encontro dedicado a esta questão, decorreu no final de 2008, que reuniu especialistas nacionais e estrangeiros. Na abertura do III congresso, a ministra da Cultura enalteceu a durabilidade das línguas nacionais, defendendo a sua preservação e divulgação. “Se durante a agressão cultural” imposta pelos portugueses, esta herança sobreviveu, hoje, “mais do que nunca, deve-se envidar todos os esforços para a sua valorização e, consequentemente, para a consolidação da identidade cultural angolana”, defendeu a governante. Por outro lado, a multiplicidade linguística permite a inter-comunicação entre as comunidades, assumindo um papel de peso no mosaico sócio-cultural e no desenvolvimento das respectivas sociedades. Nesse sentido, a principal batalha do ministério, em colaboração com a área da Educação, está relacionada com a introdução de mecanismos de aprendizagem das línguas nacionais “não só no sistema de ensino de base, mas também no superior, como forma de permitir que todos os angolanos possam ter um profundo domínio das mesmas”. MÚSICA E LITERATURA: VEÍCULOS DE TRANSMISSÃO Os compositores e os escritores são os veículos privilegiados para incutir os valores culturais e linguísticos na vida social e institucional, através da concepção de textos que exaltem as raízes nacionais. As entidades estatais têm procurado ao longo dos anos incentivar os investigadores, estudiosos, artistas, criadores e principalmente músicos e interpretes a reflectirem sobre o património linguístico angolano, pretendendo-se com isto implantar a unidade e preservar os valores da cultura nacional. Em relação ao sistema de ensino, os dados referentes ao último ano lectivo demonstram que o projecto de implementação gradual das línguas nacionais no plano curricular está no bom caminho. Iniciado em 2007, em determinadas províncias, o projecto experimental abrangeu 4500 alunos na primeira classe e disponibiliza os materiais didácticos necessários. O intuito relaciona-se com a necessidade de inclusão de todos os habitantes na sociedade angolana, de forma a estarem dotados para comunicar correctamente na língua oficial (português), bem como na língua materna, que varia entre regiões. A primeira intervenção ocorreu nas províncias veiculadas
aos seis idiomas nacionais: kikongo, kimbundu, umbundu, tchokwe, ngangela e Kuanhama. Em 2008, o projecto foi alargado aos alunos do segundo ano e conforme as elações retiradas desta experiência, prevê-se que no futuro, o ensino seja alargado a todos os anos. Por outro lado, o corpo docente possui professores e supervisores capazes, que contam com o apoio do Instituto Nacional de Investigação e Desenvolvimento da Educação (Inide).
Cerca de 90 por cento da população é de origem bantu, cujo principal grupo étnico é o dos ovimbundo, que se concentram no centro-sul de Angola e se expressam em umbundu, a língua nacional com maior número de falantes LÍNGUAS E DIALECTOS Com uma população a rondar os 16,8 milhões de habitantes numa superfície de 1.246.700 quilómetros quadrados, Angola apresenta mais de duas dezenas de línguas nacionais. A este número acrescente-se os múltiplos dialectos. Contudo, as formas de expressão mais praticadas são o umbundu (Centro), o kimbundu, o kikongo e o fiote (Norte) e o tchokwe (Leste). O português é a língua oficial e com mais falantes. Segue-se o umbundu, proferido em muitos meios urbanos e no centro-sul da região, consistindo na língua materna de 26 por cento da população. UMBUNDU É O MAIS EXPRESSIVO Falado em Bié, Huambo e Benguela, o umbundu é das línguas Bantas e mesmo nacionais mais praticadas em todo o país. Aliás, em consequência do êxodo para a capital e da emigração, é igualmente usado em Luanda e em Portugal. Muitas palavras deste idioma foram transmitidas para a língua portuguesa fora de Angola, sobretudo para o Brasil. Linguagem usada no comércio, é utilizada na Rádio Nacional de Angola e usada em projectos de alfabetização, possuindo alguma proximidade com o Nkhumbi, o Ndombe e o Nyaneka. KIMBUNDU E OUTRAS LÍNGUAS É a terceira mais praticada (20 por cento), especialmente no eixo Luanda-Malanje e no Kwanza-Sul. Possui particular relevância por ser a língua da capital e do antigo reino dos N’gola, tendo estado na base de muitos dos vocábulos da língua portuguesa e vice-versa.
O kikongo é usado no Norte, sobretudo no Uíge e Zaire e detém vários dialectos. Era a linguagem do antigo Reino do Congo. Na mesma região, na província de Cabinda fala-se o fiote ou ibinda. No Leste, o tchokwe é dominante e é responsável pela maior expansão por todo o território angolano, desde Lunda Norte até ao Cuando Cubango. De origem bantu, no país recorre-se ainda ao kwanyama, ao nyaneca e ao mbunda. Já no Sul, usa-se outras línguas do grupo Khoisan, faladas pelos san, também conhecidos como bosquímanos. Os vocábulos nacionais assumem primordial importância, uma vez que são as línguas maternas da maioria da população.
A principal batalha do ministério, em colaboração com a área da Educação, está relacionada com a introdução de mecanismos de aprendizagem das línguas nacionais “não só no sistema de ensino de base, mas também no superior, como forma de permitir que todos os angolanos possam ter um profundo domínio das mesmas” VALORIZAR ETNIAS A importância de preservar e divulgar cada modo de expressão linguística prende-se com a cultura e tradição subjacentes a cada povo. As línguas nacionais contam a história de tribos específicas. Cerca de 90 por cento da população é de origem bantu, cujo principal grupo étnico é o dos ovimbundo, que se concentram no centro-sul de Angola e se expressam em umbundu, a língua nacional com maior número de falantes. Na zona centro-norte, residem os ambundo, que falam o kimbundu e na área do Uíge e Zaire concentram-se os bacongos que comunicam através dos dialectos do kikongo. Estas e outras linguagens adquiriram o estatuto de línguas nacionais após a independência, que actualmente coexistem com o idioma português como veículos de comunicação e expressão. Aliás, o Instituto de Línguas Nacionais fixou normas ortográficas dos dialectos para instituir o seu estudo e até os media recorrem a estas formas de comunicação. É o caso da emissora de rádio Ngola Yetu (Nossa Angola, na língua kimbundu), que diariamente emite programas e notícias em sete línguas nacionais.
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CULTURA & LAZER BREVES
| patrícia alves tavares
música
Ary arrasa no “Road Show Blue 2009” A revelação do panorama musical foi cabeça de cartaz de uma série de espectáculos que percorreram dez províncias. Ary, a par do DJ Big Renas, sucede o grupo Kalibrados e Anselmo Ralph, que, no ano anterior, animaram diversas cidades, através da sua participação no “Road Show Blue”. Este é um projecto cultural promovido pela Refriango, através da sua marca Blue e que vai na terceira edição. Este ano, os concertos tiveram início em Maio e terminaram no final deste mês em Luanda.
teatro
Hoji Fortuna em Nova Iorque Desde Janeiro o destino do actor angolano passa pelos palcos americanos. Hoji Fortuna participará nas peças teatrais “The Tale of the Allergist’s Wife” e “Young Pugilist”, da autoria do dramaturgo Charles Busch. A primeira entrou em cena a 8 de Maio, no Queens Theatre in the Park, e conta a história de Marjory Taub, uma mulher judia de meia idade da classe alta de Nova Iorque, na qual o actor angolano desempenha o papel de novo amor da protagonista. “Young Pugilist” estreou em finais de Maio e baseia-se na vida do pugilista pesado Alonza Knowles. O jovem talento tem vindo a acumular sucessos na televisão portuguesa, onde se lançou em 2001. No início do ano, Hoji Fortuna integrou o elenco de “Two Gentlemen of Verona”, de William Shakespeare, que esteve em cena em Nova Iorque.
Enigma grava DVD Com o intuito de apresentar ao público a peça vencedora do Prémio de Teatro Cidade de Luanda (edição 2009), o grupo Enigma Teatro vai gravar “A Grande Questão”, no Cine Atlântico (Luanda). O DVD, que deverá chegar em breve às lojas, foi produzido pela Movie-Produções e contou com a actuação do grupo ao vivo. “Estamos a produzir cinco mil exemplares para a venda ao público ao preço de dois mil kwanzas”, adiantou Tony Franpênio, director artístico do Enigma Teatro. A peça “A Grande Questão”, que agora estará disponível em formato digital, aborda aspectos sociais, económicos e históricos de Luanda, em que a componente da sensibilização não foi esquecida. O grupo teatral está no activo desde 1987 e integra jovens dos 18 aos 38 anos.
Liceu Vieira Dias homenageado O ex-integrante dos Ngola Ritmos foi recentemente homenageado numa gala que decorreu em Luanda, no Cine Tropical. O evento ultrapassou todas as expectativas, pelo que a agência Angola África Fashion está a ponderar gravar um disco e um DVD com os principais temas de Liceu Vieira Dias. O director da empresa, Gil Costa revelou ainda que, além do material fonográfico, a entidade planeia publicar um livro com as memórias do “mestre”. “O nosso projecto, no momento, é ainda extenso a Liceu Vieira Dias. Agora estamos com a responsabilidade do CD, DVD e livro, onde vamos relatar a vida e obra dele”, assegurou Gil Costa, não descartando a hipótese de homenagear outros artistas. No presente, a agência estuda a hipótese de levar a França o elenco que participou na gala e onde o disco será editado.
exposição
Luanda acolhe galeria de arte A galeria Kozy Arte, inaugurada em Maio, é já encarada como um ponto de encontro de artistas africanos, especialmente entre os criadores de Angola, Senegal, Lesoto, Burundi e Gabão. Localizado no município da Ingombota, o novo espaço tem como propósito a exposição e comercialização das obras africanas. O responsável da galeria, Aicha Hakoum, esclareceu que o organismo valoriza os objectos únicos e as pequenas séries de arte que demonstrem a criatividade dos autores. Por seu lado, o pintor Hildebrando de Melo “HM” recordou que na Kozy Arte os criadores nacionais têm uma oportunidade única para manter contacto com a arte da África Meridional, que embora seja similar à angolana ainda é pouco conhecida.
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PERSONALIDADES
| patrícia alves tavares
“Novo Homem Angolano” É membro do Conselho Científico do Ministério da Cultura de Angola e curador da Fundação Eduardo dos Santos. Jorge Gumbe, artista plástico, possui um vasto currículo na área das artes. A sua obra não se resume à pintura. Aos 50 anos, este ícone angolano tem um percurso diversificado, que abarca cargos em organizações nacionais e internacionais, actividades de direcção e de docência, possuindo mais de dez artigos sobre arte publicados em diferentes revistas, catálogos e jornais em Angola, Reino Unido e Portugal. Aliás, é entre estes países que o criador divide o seu tempo. O Prémio Nacional de Cultura e Arte do Governo de Angola (2005) fez a análise do mercado artístico nacional, em entrevista à Angola’in.
Como retrata o seu percurso? Qual o trabalho que mais o marcou? O meu percurso caracteriza-se em vários momentos seguindo a trajectória dos desenvolvimentos político e social do pós independência de Angola. Considero-me um artista que faz parte destes desenvolvimentos. O projecto que mais me marcou foi a minha última exposição “Mitos e Sonhos”, concretizada em 2005. Foi fruto de um trabalho sofrido, metódico, sistematizado e elaborado ao longo de dez anos, que antes de sair a público foi reflectido com base em discussões em vários espaços (particularmente académicos) em Angola e no exterior. Foi uma experiência muito interessante, que me motivou a continuar nesta perspectiva. É necessário que o artista africano, como me identifico, assuma as suas responsabilidades perante o mundo e dê uma outra visão do artista contemporâneo e, sobretudo, de África. Quando descobriu a vocação para o mundo artístico? Desde criança que sempre manifestei vocação para as artes. Desenhava com lápis de cera, os professores na escola primária e os colegas ficavam admirados, pelos traços e pelo conteúdo harmónico das cores. Sentia uma grande
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necessidade de registar o meio envolvente do interior de Angola, na vila do Golungo Alto e no Ngongembo, onde o meu pai era enfermeiro. Em que se inspiram as suas criações? Nasci e cresci no interior de Angola, rodeado de animais domésticos e selvagens, florestas com magia, rios, cascatas. À noite ouvia provérbios, fábulas e histórias fantásticas da cultura local, em língua kimbundu, à volta de fogueiras. Reconheço que cresci rodeado de um mundo maravilhoso. Vou procurar inspiração às memórias da minha infância, das histórias sobre seres misteriosos e, nestes últimos anos, tenho pesquisado o significado mítico do embondeiro e da Kyàndà, a divindade das águas, para as populações da Ilha de Luanda e com outras designações no imaginário popular angolano. A sua forma convida-me para o fantástico, para uma viagem no espaço, provoca-me a despoletar uma imaginação para além do real, que me permite criar tempos e temporalidades, recriar mitos que, por vezes,
“Defino a minha obra como uma obra feita por um africano com uma visão aberta ao mundo”
se sobrepõem numa espécie de palimpsestos literários e pictográficos. As suas raízes estão presentes nas criações? A minha última exposição é uma espécie de manifesto. Quero alertar o público para a urgência de Angola não deixar de cultivar os seus mitos e sonhos, aspectos importantes para a sua existência. Desejo contribuir para um questionamento da sociedade angolana e reflectir o seu passado, o património cultural e histórico e poder usá-lo para perspectivar o seu enquadramento na sociedade moderna e contemporânea, afirmando-se com uma identidade própria no mundo cada vez mais globalizado. Utilizando a metáfora, a minha obra, apesar de se basear na cultura tradicional, está contextualizada aos problemas da sociedade actual. Existe em Angola um rico património cultural, resultante da interculturalidade que hoje se confronta com outros desafios, nomeadamente com o da integração num mundo global, determinante na construção da sociedade angolana actual e cujos efeitos estão na base de muitos debates não pacíficos. Defino a minha obra como uma obra feita por um africano com uma visão aberta ao mundo, onde se pode observar um reencontro entre várias culturas, tendo em conta a minha vivência
e experiência de vida nos vários continentes: o africano, o europeu e o americano. Tem agendada alguma exposição em Angola? Tenho agendado uma exposição para 2010. Penso que vai dar início a uma nova fase da minha criação artística.
“Não se pode considerar ainda que exista uma crítica de arte contínua em Angola, há falta de revistas de arte, bem como de espaços em jornais e programas dos media de uma forma periódica” Projectos para o futuro… Estou no final do meu doutoramento e perspectivo para o próximo ano iniciar uma nova fase da minha vida. Concentrar-me mais na família e na área em que me especializei, a investigação científica e a criação artística.
Como analisa o panorama artístico angolano? Se compararmos com alguns países da região africana, como na SADC (por exemplo a África do Sul, o Egipto e o Senegal), o espaço das artes visuais em Angola é ainda muito reduzido. Circunscreve-se apenas a Luanda, a capital. Noutras cidades a prática artística e a sua promoção é nula. Não se pode considerar ainda que exista uma crítica de arte continua em Angola, há falta de revistas de arte, bem como de espaços em jornais e programas dos media de uma forma periódica. Por outro lado, há falta de especialistas para dinamizarem esta tarefa. Quer dizer que os artistas que vivem em Angola, na sua grande maioria, trabalham ainda para o mercado exterior. Passados trinta e quatro anos, não existe nenhuma escola superior de arte. Existe apenas uma escola de nível médio em Luanda, mas que não corresponde às demandas dos jovens angolanos, mesmo os da capital que pretendem iniciar-se formalmente.
“Passados trinta e quatro anos, não existe nenhuma escola superior de arte”
O que pode ser feito no âmbito cultural? Primeiro é preciso aglutinar os agentes, produtores e outros, que de alguma forma estão ligados às artes para uma reflexão profunda e avaliar todo o trabalho já desenvolvido. A partir daí, deve traçar-se estratégias para a implementação de projectos concretos ao nível da extensão do país para o sector da cultura poder auxiliar e promover uma política cultural de apoio às artes, para o incentivo à formação artística (que deve ser prioritário), à produção artística, à promoção, à criação de infra-estruturas para as mesmas e à internacionalização dos artistas angolanos. Existe dinamização do sector? O sector da cultura tem desde 1975, o ano da independência de Angola, feito o possível, condicionado aos desenvolvimentos político e social. Na minha opinião, a dinamização da cultura necessita em primeiro lugar de investimento financeiro, sem o qual não é possível implementar projectos. Outro aspecto importante está na formação dos agentes culturais, desde os artistas, gestores, promotores, críticos de arte e outros, através de um sistema de formação coerente e eficaz, de acordo com o contexto sóciocultural de Angola.
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PERSONALIDADES
metodologias de ensino e tecnologias artísticas. Esta estratégia seria um primeiro passo para levar a formação ao país inteiro, para depois numa forma faseada se ir instalando escolas do nível secundário ao universitário. Que conselho daria a quem está a iniciar uma carreira na área cultural? Há que ter em conta que é uma área em que é necessário muita paciência. Os resultados não são imediatos, levam tempo, tem que respeitar e cumprir com as etapas e trabalhar muito. Para tal, deve estar sempre aberto em actualizar-se. Aprendemos todos os dias. Ouvir sempre e ser humilde significa respeitar a ética e a deontologia profissional.
Há mercado nacional e internacional para a produção angolana? A partir do período pós 2002, começa a existir um mercado de arte composto apenas por instituições oficiais e algumas privadas, como empresas de grande porte e bancos. Quanto a personalidades individuais, o número é bastante reduzido, não sendo mais do que meia dúzia. Mas já é um grande passo se compararmos com os anos anteriores. Entretanto, existem poucas galerias, mas nem todas funcionam com o profissionalismo a que se impõem.
“A dinamização da cultura necessita em primeiro lugar de investimento financeiro, sem o qual não é possível implementar projectos” Ao nível dos jovens, há qualidade para vingarem no plano internacional? Existem alguns jovens que têm dado mostra de seriedade e capacidades, mas é preciso que haja suporte institucional para que os mesmos possam desenvolver o seu talento, dando-lhe oportunidades para melhorar as suas habilidades artísticas. Para tal, é necessário que se crie uma política de formação artística nos âmbitos formais e informais. Porque a técnica é importante para a criação de uma obra de arte. É comissário do ENSA-Arte. O prémio é importante para motivar os futuros artistas? O ENSA-Arte, que dura há cerca de 20 anos e vai já na 10ª edição (que será em 2010), tem revelado ser uma referência na definição de políticas de apoio às artes, no geral, e às ar-
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tes plásticas, em particular. Tem motivado diversas reacções positivas, tendo em vista o mecenato cultural em Angola. Também a sua acção vem encorajar os artistas a produzirem e os coleccionadores nacionais a investirem mais em arte angolana. Até ao surgimento do ENSA-Arte, na República de Angola, não obstante as inúmeras actividades culturais a nível institucional e oficial, desenvolvidas de uma maneira geral para assinalar efemérides a nível nacional (tais como espectáculos musicais, de danças “tradicionais” ou de teatro), os incentivos oficiais sempre foram escassos para a realização de actividades na área das artes plásticas. O ENSA-Arte, desde a sua criação, tem mostrado uma boa parte da rica diversidade artística e cultural de Angola. Este Prémio evidencia-se como um veículo para a promoção e difusão da arte contemporânea angolana a nível nacional e internacional e surge num momento preciso para dar um impulso e alento às artes plásticas angolanas.
“O ENSA-Arte, desde a sua criação, tem mostrado uma boa parte da rica diversidade artística e cultural de Angola” Para se tornar num artista excepcional basta ter talento ou a formação é indispensável e decisiva? As duas vertentes são importantes. Uma complementa a outra. A formação não significa que tenha de ser só numa academia de arte. Temos vários exemplos, sobretudo em África, de que pode ser informal, através de workshops, numa forma sistemática e ministrada por especialistas com um conhecimento profundo nas
“A arte, entre outras qualidades, é um vector universal para a compreensão mútua, o intercâmbio e a tolerância” Como assiste ao desenvolvimento económico e social dos últimos anos? Para quem esteve sempre em Angola, participou e acompanhou todos os desenvolvimentos que o país viveu vê que há de facto crescimento. Embora não no ritmo em que esperávamos porque o ser humano quer sempre mais, o que é bom no sentido positivo, pois só assim enfrentamos os desafios. Desde o ano 2002, há uma grande evolução, tendo em conta as prioridades do governo na reconstrução e reconciliação, na edificação da nação, na transformação, na coerência social, na rectificação do passado, no desenvolvimento sustentável, na provisão de bens básicos (água, abrigo, electricidade, comida) e tem provado que a paz veio para ficar. Estamos cansados de guerra. Mas, há ainda muitíssimo trabalho para fazer, sobretudo na mudança das mentalidades e, por outro lado, é preciso um maior investimento na educação, cultura e saúde. A arte pode dar um grande contributo nesse processo de reconstrução do país e ajudar na mudança de mentalidades para a formação de um Homem Novo Angolano. Pois, a arte, entre outras qualidades, é um vector universal para a compreensão mútua, o intercâmbio e a tolerância. A promoção das suas expressões numa perspectiva endógena permite que as pessoas sejam abertas, compreendam o outro, aceitem a expressão dos outros em harmonia e que se predisponham ao diálogo, ao entendimento humano, social, cultural e económico.
ISSN 1647-3574
ano ii · revista nº07 · jul /ago 2009 350 kwanzas · 4,50 usd · 3,25 euros Economia & Negócios · Sociedade · Turismo
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REVISTA Nº07 · JULHO / AGOSTO 2009
Ciberguerra Uma nova geração de armas online permite sabotar centrais eléctricas, telecomunicações, sistemas de aviação ou congelar mercados financeiros de outros países. Num mundo onde já não se aplicam as regras dos conflitos tradicionais conheça a nova realidade
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