Angola'in - Edição 08

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ISSN 1647-3574

ano ii · revista nº08 · set/out 2009 350 kwanzas · 4,50 usd · 3,25 euros Economia & Negócios · Sociedade · Turismo

Arquitectura & Construção · Inovação & Desenvolvimento · Luxos · Desporto · Cultura & Lazer · Personalidades

REVISTA Nº08 · SETEMBRO / OUTUBRO 2009

o valor do desporto Num período em que só se fala em crise, surge um oásis onde se gere milhões. Um mundo paralelo, detentor de um poder inigualável, numa economia em suposta recessão. Saiba quais os nomes dos novos multimilionários

o sólido golias O sector bancário é um dos protagonistas do momento. O seu contributo para o progresso tornaram a banca fundamental para a expansão económica e social. Nesta edição, descubra a força do gigante

casa do futuro Design, conforto e qualidade. Eis os critérios porque se pautam as habitações do Século XXI. Um bom investimento para quem deseja aliar a excelência à eficiência. Não perca as mais recentes inovações

novo round União Económica e Monetária em África. Sonho ou realidade? Países preparam integração financeira com a criação de blocos regionais para se unir a Europa em novas parcerias estratégicas



COMUNICARE - Portugal J&D - Consultores em Comunicação, Lda. NPC: 508 336 783 | Capital Social: 5.000€ Rua do Senhor, 592 - 1º Frente 4460-417 Sra. da Hora - Portugal Tel. +351 229 544 259 | Fax +351 229 520 369 Email: geral@comunicare.pt www.comunicare.pt Delegação Angola’in Rua Rainha Ginga, Porta 7 Mutamba - Luanda - Angola Contacto: Ludmila Paixão E-mail: pontodevenda@comunicare.pt Tel. +244 222 391 918 | Fax +244 222 392 216

in loco revista bimestral nº08 - set/out 2009 http://angolain.blogspot.com · http://twitter.com/angolain

Direcção Executiva Daniel Mota Gomes · João Braga Tavares Direcção Editorial Manuela Bártolo - mbartolo@comunicare.pt Redacção Patrícia Alves Tavares - ptavares@comunicare.pt Mónica Mendes - mmendes@comunicare.pt Colaborador Especial João Paulo Jardim - jpjardim@comunicare.pt Design Gráfico Bruno Tavares · Patrícia Ferreira design@comunicare.pt Fotografia Ana Rita Rodrigues · Shutterstock · Fotolia Serviços Administrativos e Agenda Maria Sá - agenda@comunicare.pt Revisão Marta Gomes Direcção de Marketing Pedro Posser Brandão Tel. +351 229 544 259 | Fax.+351 229 520 369 E-mail - pbrandao@comunicare.pt Publicidade Tel. +351 229 544 259 | Fax.+351 229 520 369 E-mail - publicidade@comunicare.pt João Tavares - jtavares@comunicare.pt Daniel Gomes - dgomes@comunicare.pt ASSINATURAS - assinaturas@comunicare.pt Envie o seu pedido para: Rua Rainha Ginga, Porta 7 Mutamba - Luanda - Angola Departamento Financeiro Sílvia Coelho Departamento Jurídico Nicolau Vieira Impressão Multitema Distribuição Africana Distribuidora Expresso Luanda - Angola Tiragem 10.000 exemplares — ISSN 1647-3574 DEPÓSITO LEGAL Nº 297695/09 — Interdita a reprodução, mesmo que parcial, de textos, fotografias e ilustrações, sob quaisquer meios e para quaisquer fins, inclusive comerciais

ECOS DO MUNDO OCIDENTAL Desengane-se quem imagina África como um conjunto de países afastados da realidade mundial, longe da ‘movida’ desportiva, desconhecedores das vantagens e existência de telecomunicações e da banca, conduzindo viaturas obsoletas e espantando-se com os automóveis europeus. O continente, que Angola tanto dignifica, servindo de exemplo para as nações menos evoluídas, está a fervilhar de progresso e os seus habitantes aproximam-se cada vez mais dos cidadãos mundiais, adoptando as suas marcas, estilos de vida e produtos. Nesta edição, a Angola’in debruça-se sobre a modernidade angolana e aborda a evolução dos sectores de actividade responsáveis por incrementar a qualidade de vida. E falando em poder de compra, é inevitável fugir a uma área que marca um estilo e uma identidade que não flutua ao sabor da crise. É o mundo do desporto que merece a nossa atenção. Todos se recordam das declarações de Platini, que no final da última época apelava aos clubes para que fossem prudentes na gestão dos seus recursos financeiros. Contudo, as recentes notícias provam que as modalidades não se deixam afectar pela contenção económica. As avultadas receitas geradas pela publicidade, direitos televisivos, bilheteiras, patrocínios e todo o merchandising envolvente revelam que o desporto gera milhões e que são modalidades como a Fórmula 1, o ténis ou o golfe que se assumem como as marcas mais valiosas. O futebol não lidera o ranking, mas encontra-se no topo e é certamente aquele que move mais segui-

dores. A Angola’in apresenta-lhe um dossier exclusivamente dedicado à matéria, em que o mundo do desporto-rei, devido às recentes transferências astronómicas como a de Cristiano Ronaldo, merecem especial enfoque. Na edição deste mês fazemos também o balanço da actividade do sector bancário, cuja implementação no país tem sofrido profundas evoluções, nomeadamente no que concerne ao alargamento da rede a diversas zonas rurais e municípios mais longínquos. O sucesso e crescente procura da banca é reflexo do desenvolvimento económico e respectiva reconstrução nacional, bem como da integração monetária em África, onde já se fala inclusive na criação de uma moeda única, à semelhança do que aconteceu com o Euro na União Europeia. A população angolana está cada vez mais cosmopolita e a procura de produtos bancários reflecte o aumento do poder de compra, que se traduz na crescente demanda de automóveis e das telecomunicações. A Angola’in analisa a sociedade do século XXI e demonstra neste número como os angolanos já não sabem viver sem os telemóveis e como a constante procura de viaturas novas e das marcas internacionais motivou a criação da primeira fábrica nacional de produção automóvel. São sinais dos tempos modernos e de uma população cada vez mais próxima dos hábitos globais.

A Direcção

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1 ANO 17,55 EUROS (10% DESCONTO) 2 ANOS 31,20 EUROS (20% DESCONTO)

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IN LOCO · ANGOLA’IN

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86 DESPORTO

vício dos telemóveis Com 7,5 milhões de utilizadores, o ‘assalto’ ao sector das telecomunicações não pára de crescer. Unitel e Movicel apostam na inovação para captar mais clientes. Marcas investem em novos modelos para combater a concorrência. Conheça as últimas novidades do mercado

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IN FOCO

INOVAÇÃO & DESENVOLVIMENTO

‘áfrica negra’

crédito ao carbono

nigéria - retrato de uma potência

O mercado do carbono merece destaque nesta edição, uma vez que é um sector de actividade que começa a captar a atenção dos governantes. A emissão de gases poluentes é um facto. É fundamental regular esta actividade e aplicar medidas que protejam o ambiente, numa altura em que o país está a crescer a um ritmo galopante e a poluição aumenta diariamente

Os africanos têm razões para sorrir. O continente tem-se afirmado mundialmente e as medidas desenvolvidas no âmbito do fomento económico e das condições de vida são evidentes. A Nigéria é uma das economias que tem merecido destaque. Apesar dos conflitos internos, este país é uma das potências em ascensão. Compreenda o que faz da Nigéria um império

ANGOLA IN PRESENTE

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IN LOCO

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INSIDE

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SOCIEDADE

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EDITORIAL

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MUNDO

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GRANDE ENTREVISTA

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ECONOMIA & NEGÓCIOS

‘o sólido golias’ Quase inexistente há 20 anos, o sector bancário sofreu um forte impulso nos últimos anos. O final da guerra e a estabilidade económica permitiram novas apostas e a banca encontrou as condições necessárias para florescer. A reconstrução nacional tem fomentado este sector, que recebe um incremento de pedidos de crédito e de novos clientes. Conheça as entidades mais poderosas e a sua expansão em todo o território

32 pirâmide invertida Índia. O continente asiático tem-se assumido indiscutivelmente como uma economia em constante crescimento, cujo poder económico começa a ser respeitado entre os gigantes do mundo, como EUA e os grandes da Europa. A Índia é um desses exemplos de desenvolvimento e evolução financeira. A inovação, modernidade e franca expansão começam a dar cartas no panorama internacional

82 INOVAÇÃO & DESENVOLVIMENTO

império das quatro rodas A evolução do sector automóvel é a imagem do angolano moderno. Requintado e apaixonado por viaturas de elevado calibre, o homem actual não dispensa o carro e prefere as marcas internacionais, preterindo os automóveis usados. Esta edição faz o balanço do desenvolvimento deste mercado, num período em que arranca a primeira unidade fabril nacional para fazer face à procura

44 comunicar com êxito Conhecida mundialmente, a Nokia lidera e está na vanguarda na concepção de telemóveis, que aliam a tecnologia de ponta a um design inovador. A Angola’in traça a evolução do maior produtor de telefones sem fios, cujos modelos conquistam pequenos e graúdos

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TURISMO

jamaica e camboja Esta edição sugere dois espaços distintos para passar as suas férias. Para os que preferem climas tropicais, com belas praias, temperaturas altas e população simpática e descontraída, a Jamaica é a escolha certa. Os amantes de circuitos culturais e que procuram conhecer melhor a história mundial encontram na Cidade Perdida de Angkor a oportunidade de descobrir uma civilização ímpar e única

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sição da Angola’in para a rubrica Estilos. Admirada pelo seu perfil e carácter inovador e experiente promete fazer furor com os seus conselhos de moda. A não perder!

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imagem vale mais que mil palavras O seu aparecimento acompanha a evolução da humanidade. As artes plásticas manifestam-se sob diversas formas, tendo surgido nos primórdios das pinturas rupestres. Em Angola, esta arte, que se caracteriza pela diversidade de estilos, desenvolveu-se ao ritmo dos momentos históricos que marcaram o país

DESPORTO

patins vitoriosos O desporto tem longa tradição. O hóquei em patins é uma das modalidades com maior potencial, em que os masculinos séniores se destacam pelos bons desempenhos a nível nacional e internacional. O inédito sexto lugar alcançado no último mundial revela o talento dos hoquistas, cujas prestações da selecção fazem os grandes respeitá-la

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ESTILOS Lisete Pote, prestigiada estilista nacional, com provas dadas em todo mundo, tendo realizado desfiles em países como Portugal, Espanha, França, Suécia, Japão, Namíbia, Benin e Moçambique, entre outros, é a mais recente aqui-

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FOTO REPORTAGEM

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ARQUITECTURA & CONSTRUÇÃO

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LUXOS

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LIVING

CULTURA & LAZER

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PERSONALIDADES

angolano de alma e coração Apaixonado pelo movimento interventivo nacional e pela literatura, Luandino Vieira é um dos escritores mais consagrados, que esteve ligado à fundação da União de Escritores Angolanos. Nasceu em Portugal, mas cresceu em Angola. Sempre reivindicou a condição de luandense e interveio na libertação nacional

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VINHOS & COMPANHIA

SUMÁRIO · ANGOLA’IN

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editorial

continente on-line

mbartolo@comunicare.pt

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On-line com o mundo! A frase pode parecer, numa to. Com uma projecção de custos de 650 milhões de primeira leitura, algo intangível, mas de facto é esse dólares, esta ligação tem rota traçada para percorrer o poder que as novas tecnologias oferecem aos seus o Quénia, Madagáscar, Moçambique e Tanzânia com usuários nos dias de hoje. A dar passos largos no munuma rede de banda larga internacional conectada com do da informação digital, África continua, no entanto, a África do Sul, Índia e Europa, com conclusão prevista a ser um info-excluído por força dos elevados preços para o início de 2010. Três outros projectos destide acesso, ligações lentas e por nam-se a espalhar as ligavezes estagnadas, que sofrem Ligar África à Europa ções de fibra óptica por cerca ainda com os problemas enerpor fibra óptica vai de 22 países por toda a Áfrigéticos que afectam grande transformar o panorama ca Subsariana. Falando soparte dos países. Pouco mais das telecomunicações no bre o projecto que agora vai de 4% da população do continente pode aceder à Internet. continente e ter um impacto ser financiado, Lars Thunell, directo e positivo a nível vice-presidente executivo do A dificuldade deste número IFC, sector privado do Banco atingir os dois dígitos faz com económico e social Mundial dedicado aos emque os poucos utilizadores sepréstimos, sublinha que «os custos normais de jam obrigados a pagar taxas demasiado elevadas paacesso à Internet na África Oriental são de 200 ou ra usufruírem de ligações demasiado lentas. Lentas 300 dólares mensais, o que significa que são dos ou mesmo estagnadas, esperando pela boa vontade mais elevados do mundo». Expectativas para o pada conhecida teimosia do sistema de electricidade de norama deste sector depois de terminado o projecgrande parte dos países. Inúmeros projectos tentam to? «Esperamos que os preços caiam cerca de dois levar a cabo operações de conexão do continente à reterços assim que este projecto esteja concluído e de, mas os custos são normalmente uma barreira difíque continuem a descer depois», afirmou Thunell cil de derrubar. Agora, um consórcio de empresas que recentemente. Para além da descida dos preços de planeia a instalação de uma ligação através de cabo acesso, o outro objectivo assumido pelo consórcio subaquático para ligar África à Europa recebeu o finané fazer triplicar os subscritores, proporcionando o ciamento necessário para arrancar com o projecto. Esacesso à Internet a cerca de um quarto dos africata auto-estrada, onde o alcatrão cede lugar ao cabo de nos - 250 milhões de pessoas. Lars Thunell não tem fibra óptica, com cerca de 10000 mil quilómetros, que quaisquer dúvidas relativamente à importância do pretendem vinte e um países (Europa e Regiões Este, projecto: «este projecto vai transformar o panorama Oeste e Sul de África), já começou a ser construída e das telecomunicações em África e vai ter um directo espera-se que entre em funcionamento até ao próxie positivo impacto nos negócios da África Oriental», mo ano. O financiamento, no valor de 70.7 milhões de assegura. Depois de concluída uma primeira fase do dólares, foi atribuído por cinco instituições financeiras projecto, outros treze países serão também incluíinternacionais: a Corporação Financeira Internacional dos na rede através ligações adicionais. Esses paí(IFC) do Banco Mundial, o Banco Europeu de Investises são o Botswana, Burundi, a República Central mento, o Banco Africano para o Desenvolvimento, a do Congo, Chade, Etiópia, Lesoto, Malawi, Ruanda, Agência Francesa para o Desenvolvimento e o Banco Suazilândia, Uganda, Zâmbia e Zimbabué. Sem dúAlemão para o Desenvolvimento. Um outro projecto, vida, um projecto megalómano, há muito esperado denominado SEACOM, que ostenta um plano ainda no continente! mais ambicioso garantiu também o seu financiamen-


EDITORIAL · ANGOLA’IN

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INSIDE

| patrícia alves tavares

SAÚDE

MÉDICOS CUBANOS VÃO REFORÇAR HOSPITAIS

TECNOLOGIA

INFRASAT APRESENTA UNIDADE MÓVEL A Infrasat, empresa do grupo Angola Telecom, dispõe de uma unidade móvel, que permitirá assegurar as situações críticas e pontuais, no que concerne às novas tecnologias de comunicação. O novo veículo, recentemente apresentado, dispõe de uma antena móvel, capaz de funcionar com energia eléctrica ou gerador, de modo a poder atender serviços de transmissão de voz, dados, inter-

Mais de duas dezenas de profissionais de saúde cubanos vão deslocar-se para Angola, ainda este ano, com o objectivo de reforçar o sistema de saúde nacional. O intercâmbio surge no âmbito de um acordo assinado entre os governos de Angola e Cuba. Actualmente, actuam no país cerca de 605 médicos cubanos, dos quais 200 encontram-se a trabalhar em hospitais e unidades periféricas. A notícia foi divulgada pelo ministro da Saúde, José Van-Dúnem, que preferiu não adiantar a data de chegada dos 239 profissionais. Questionado acerca da carência de médicos

ao nível das províncias, o responsável admitiu que os 2400 médicos existentes no país correspondem a um “número bastante reduzido”, argumentando que está a ser feito tudo para ultrapassar esta dificuldade, uma vez que existe apenas um médico para cada 10 mil habitantes (OMS recomenda um profissional para cada mil pessoas). “Os esforços consubstanciam-se na criação de cinco faculdades de medicina”, esclareceu. Van-Dúnem informou ainda que “há um programa com Cuba”, no sentido de trabalhar em conjunto “numa vacina contra a cólera”.

net e vídeo, em situações de emergência ou necessidades especiais. De acordo com o director executivo, Eduardo Continentino, o novo dispositivo representa um grande avanço para o país, uma vez que se apresenta como uma solução alternativa para os problemas de quebra da Internet, geralmente relacionados com a danificação de fibras ópticas, que podem afectar o funcionamento dos mais variados serviços, nomeadamente a banca, instituições de ensino e saúde, radiodifusão

e telefonia móvel e fixa. No caso de uma falha na ligação web de uma empresa, a unidade móvel (também apelidada de ‘antena móvel’) pode garantir a normalização do serviço, de forma célere e eficaz. A vantagem do novo mecanismo consiste no facto de este poder ser instalado em qualquer parte do território nacional, inclusive onde não existem infra-estruturas físicas no âmbito das novas tecnologias, resistindo a condições atmosféricas adversas.

SEGURANÇA

BANCOS COM SISTEMA DE VIDEOVIGILÂNCIA

INTERNET

ANGOLA TELECOM LANÇA A BANDA LARGA A empresa pública de telecomunicações e multimédia Angola Telecom apresentou a sua mais recente oferta, o sistema de Internet com quatro megas em banda larga, que se destina às pequenas e médias empresas. Segundo João Avelino, presidente do conselho de administração, o sistema permitirá resolver os problemas de acesso à Internet e da qualidade telefónica. A tecnologia, denominada de “SuperNet ADSL”, é um meio capaz de manipular o grande fluxo de informação, que pode ser usado por utilizadores que trabalhem com elevadas quantidades de dados. A Internet em banda larga permite aos empresários usufruírem de um serviço de alta velocidade, com consequências altamente favoráveis para os negócios. O sistema baseia-se em ligações ADSL, pelo que é possível usar a linha telefónica e aceder à Web em simultâneo.

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As agências bancárias deverão ser aconselhadas a adoptar o sistema de videovigilância, com vista a travar a onda de assaltos, em que os bancos são os principais visados. A decisão foi tomada durante um encontro entre o Governo da Província de Luanda, a Polícia Nacional e a Associação dos Bancos de Angola. Luanda é a região onde se regista o maior número de roubos, situação que tem gerado alguma instabilidade entre os clientes das instituições. Desta forma, de acordo com declarações de Domingos Francisco, governador para a área económica de Luanda, “a implementação de um sistema de videovigilância permitirá à polícia ter elementos que permitam analisar e investigar”, sempre que se registar um assalto. Grande parte das dependências dos bancos comerciais já tem este serviço instalado, pelo que as autoridades recomendam que se aplique o dispositivo à medida que se proceda à expansão da rede bancária. Por outro lado, a polícia argumenta que a maioria dos bancos assaltados não possuía sistemas de vigilância.


INSIDE · ANGOLA’IN

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INSIDE INVESTIMENTO

SINOPEC QUER ADQUIRIR 20% DA MARATHON A empresa Sinopec, constituída pela China Petroleum & Chemical e pela CNOOC vai pagar 1,3 mil milhões de dólares pela compra da participação em 20 por cento da Marathon Oil, no bloco 32 de Angola. O referido espaço petrolífero offshore de águas profundas é detido em cinco por cento pela Galp. A Marathon é actualmente a quarta maior petrolífera dos Estados Unidos da América e vai manter uma posição de dez por cento no bloco 32, onde já foram encontrados 12 poços de petróleo, facto que motivou todos os parceiros da empresa norte-americana a disputar os seus 20 por cento. Para tal, terão que igualar a oferta da Sinopec. A Galp é a companhia que detém a posição mais pequena naquele bloco. A operadora do espaço é a Total, com 30 por cento, seguindo-se a Sonangol com 20 por cento. Este é já o quarto desinvestimento da Marathon em termos de participação na exploração e produção de energia.

DESENVOLVIMENTO

CIMANGOLA AUMENTA PRODUÇÃO A Nova Cimangola pretende aumentar a sua produção para um milhão e 200 mil toneladas de cimento Portland. A meta será executada ainda este ano. O referido acréscimo enquadrase no modelo de gestão que a empresa está a implementar, que deverá ser eficiente e eficaz. Em 2008, a fábrica produziu pouco mais de um milhão de matéria-prima, ocupando 30 por cento da quota de mercado. O assessor do organismo explicou que a produtora de cimento tem apostado em manufacturar mais com menos recursos, recorrendo a tecnologia antiga. Quanto à necessidade de implantar novos meios, como forma de aumentar a produtividade, o responsável admitiu que essa opção conduziria à redução de mão-de-obra da empresa de 842 para 200 trabalhadores. Aliás, a empresa anunciou recentemente que está em curso um processo de recrutamento para as áreas de debilidade. A nova gestão da cimenteira engloba a implementação de um plano de carreiras e melhoria das condições sociais, com vista a rejuvenescer e envolver todos os trabalhadores. A Nova Cimangola compõe o conjunto de empresas licenciadas pelo Ministério das Obras Públicas, que estão autorizadas a importar cimento, de acordo com as necessidades do mercado nacional. No entanto, o organismo não encara esta actividade como a melhor saída, centrando-se essencialmente na produção de cimento. A fábrica labora desde 1957 e é constituída pelos accionistas da Ciminvest (49 por cento), da Cimangola (40 por cento) e do Banco Africano de Investimento (9,5 por cento).

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PRESIDÊNCIA DA OPEP

CORTES NA PRODUÇÃO

PETRÓLEO

ODEBRECHT DESCOBRE NOVA JAZIDA A construtora brasileira Odebrecht encontrou petróleo na costa angolana, revelando que a aposta no sector do petróleo e gás tem sido bem sucedida, alcançando assim o primeiro êxito. “Trata-se de crude leve, de boa qualidade e foi encontrado a uma profundidade de 4.725 metros, a 315 quilómetros da costa de Luanda”, congratulou-se o presidente da companhia, Miguel Gradin. O grupo brasileiro tem uma participação de 15 por cento no consórcio operado pela Maersk OIl, que por sua vez detém 50 por cento da empresa estatal angolana Sonangol.

O actual presidente da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP) e ministro angolano dos Petróleos, Botelho de Vasconcelos garantiu que os membros da organização estão a cumprir com os cortes de produção, estabelecidos pelo cartel em Maio último. As reduções têm oscilado entre 78 e 80 por cento, facto que permitiu reduzir significativamente a volatilidade antes registada no mercado internacional do crude. Quanto às oscilações de preços no âmbito internacional, Botelho Vasconcelos lembrou que alguns dos fundamentos do mercado ainda não estão totalmente controlados, pelo que ainda existe muito petróleo armazenado, conduzindo a algumas especulações do mercado. O dirigente afirmou ser urgente que o sector petrolífero tenha em consideração a vertente da responsabilidade social, ou seja, o incentivo à criação de cooperativas deve ser alargado a todas as províncias, para que funcione como alavanca do desenvolvimento económico do país.


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INSIDE INOVAÇÃO

GÁS DE COZINHA NO MERCADO A Sonangol colocou este ano 8.200 novas garrafas de gás de cozinha no mercado. A província de Bié foi a maior beneficiária, devido à crescente procura do produto no mercado local. De acordo com o delegado de vendas da “Sonangol Distribuidora” no Bié, Manuel Nunes, as botijas são comercializadas pelo preço único de 12.200 Kwanzas, pelo que até ao momento já foram vendidas quatro mil garrafas. A venda abrange todos os municípios do interior da província. Com esta medida, além de satisfazer as necessidades dos consumidores, será possível estender os serviços às restantes localidades da região. O delegado explicou que a transportação do produto também melhorou nos últimos tempos, graças à requalificação dos troços rodoviários.

MERCADOS

BOLSA DE VALORES ARRANCA EM 2010 Cruz Lima, coordenador da Comissão do Mercado de Capitais (CMC), adiantou que a Bolsa de Valores e Derivados de Angola (BVDA) vai arrancar no primeiro semestre de 2010. O responsável assegurou que desde Julho estão a “ser criadas as condições necessárias para o funcionamento da Bolsa”. O dirigente da CMC explicou que a abertura do referido organismo é uma prioridade para o Primeiro-Ministro. “Estamos a cumprir as orientações do Governo”, ressalvou, recordando que “seria uma falha inaceitável e indesculpável do programa governamental”, caso não contemplasse a criação da Bolsa de Valores. Sem revelar os nomes e números das empresas que podem participar no futuro projecto, Cruz Lima admitiu que as entidades petrolíferas, diamantíferas, cervejeiras, transportadoras aéreas, energia, águas e telecomunicações “são indispensáveis para o mercado bolsista”. O coordenador assegura ainda que o país dispõe de todas as potencialidades para se tornar numa praça financeira regional importante, esperando-se que no primeiro ano venha assumir o quinto ou sétimo lugar no ranking dos mercados africanos. JUSTIÇA

SISTEMA DOS PALOP NA INTERNET A ministra da Justiça de Angola, Guilhermina Prata, apresentou a base de dados online, que contém informações sobre os sistemas de justiça de todos os países dos PALOP. O acesso ao portal baseia-se em subscrições, que serão definidas de acordo com a realidade financeira de todos os Estados. O mecanismo consta do programa do Fundo Europeu de Desenvolvimento (FED) e está orçado em 9,8 milhões de euros. A página Web terá como funções divulgar e facilitar o acesso à legislação, jurisprudência e doutrina dos órgãos de administração da Justiça desses países. A gestão dos conteúdos fica ao cargo de técnicos dos ministérios da Justiça, que receberão formação específica. Os critérios de acesso ao portal devem-se à necessidade de assegurar os encargos financeiros da manutenção do site. A ideia da base de dados surgiu em 2003, mas a fase II do projecto apenas ficou concluída este ano.

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AVIAÇÃO

LUANDA E DUBAI COM LIGAÇÃO DIRECTA A partir de 25 de Outubro voos directos vão aproximar Dubai e Luanda. A notícia foi divulgada pela companhia de aviação comercial ‘Emirates’, que assegurará o transporte dos passageiros. A circulação entre os dois países decorrerá três vezes por semana (terça-feira, quarta-feira e domingo). A nova linha insere-se no plano de extensão das ligações aéreas internacionais, nomeadamente em África. O Boeing 777-300 é o avião que vai fazer o itinerário e dispõe de 364 lugares divididos pelas classes Económica, Business e Primeira Classe.



MUNDO

| patrícia alves tavares

efeméride

Homem rumo a Marte

tecnologia

Mais de 2 mil milhões de internautas em 2013 A Forrester Research, uma companhia independente especializada em estudos de mercado na área da tecnologia, acredita que, em 2013, o número de internautas no mundo deverá chegar aos 2,2 mil milhões contra os actuais 1,5 milhões. De acordo com o estudo recentemente divulgado, 43 por cento desses novos utilizadores serão asiáticos, dos quais 17 por cento correspondem apenas à China. “Apesar da desaceleração económica global, um número crescente de consumidores converte-se anualmente à Internet”, esclarece a analista Zia Widger, que prevê um aumento de novos cibernautas na ordem dos 45 por cento, entre 2008 e 2013. O continente asiático registará o maior crescimento, enquanto a Europa rondará os 22 por cento e a América do Norte os 17 por cento. Por seu lado, na América Latina as futuras conexões à Internet deverão manter-se nos 11 por cento. O documento revela ainda que a China ultrapassará os Estados Unidos, que conjuntamente com os restantes países industrializados registará uma fraca progressão nos próximos cinco anos.

A 20 de Julho de 1969, o mundo parou para ver Neil Armstrong a pisar a Lua pela primeira vez. Por ocasião das comemorações da data, Buzz Aldrin, o segundo homem a pôr o pé no satélite da Terra falou sobre o futuro da exploração do espaço extraterrestre. Durante uma conferência comemorativa, organizada pela Nasa, em Washington, os sete astronautas pioneiros da Lua apontaram Marte como a meta para o futuro. Aldrin mostrou-se surpreendido pelo facto do Homem ainda não ter alcançado Marte no final da primeira década do século XXI. O astronauta defende há muito a concretização de uma viagem tripulada ao planeta vizinho da Terra, argumentando que a solução para reduzir o impacto dos custos e dificuldades técnicas pode passar por uma expedição sem regresso, com colonos espaciais dispostos a não voltar à Terra. Por outro lado, o grupo de veteranos criticou ainda o pouco investimento financeiro que os EUA têm conferido à exploração espacial.

internet

Google chega à Lua

literatura

Nasce a maior e-livraria do mundo A maior cadeia de livrarias do mundo, a Barnes & Noble anunciou que vai criar a maior loja online de livros electrónicos nos Estados Unidos. O espaço virtual albergará as obras digitalizadas pelo Google. O projecto tem como finalidade facilitar o acesso às diversas compilações, uma vez que o presidente da marca, William Lynch acredita que “os leitores devem ter acesso aos livros a partir de qualquer dispositivo, a partir de qualquer lugar e a qualquer momento”. A futura loja virtual será considerada a maior livraria online de livros electrónicos, em todo o mundo. No total, serão disponibilizados mais de 700 mil títulos, dos quais meio milhão consiste em obras livres de direitos de autor, oferecidas através do Google Books. As obras digitais serão compatíveis com vários sistemas operativos e leitores electrónicos, bem como os conhecidos telefones “inteligentes”. Contudo, a empresa está a desenvolver uma parceria com a britânica Plastic Logic, para criar um leitor que possa competir com o Kindle e o Sony Reader.

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No ano em que se comemoram os 40 anos da chegada do Homem à Lua, o Google resolve assinalar a efeméride com o lançamento de uma ferramenta, que permite ver imagens de satélite, fotografias e vídeos das várias expedições da Nasa. O novo serviço, intitulado Google Moon, faz parte do Google Earth, que consiste numa aplicação para download gratuito e que tem como função permitir a visualização de imagens da Terra, captadas por satélite. Esta nova ferramenta integra ainda mapas geográficos e topológicos, informação sobre os muitos artefactos humanos que foram à Lua e uma visita virtual conduzida por Buzz Aldrin e por Jack Schmitt, da missão Apolo 17. O Google Moon é produto de um acordo assinado com a Nasa, em 2006.


ambiente

Alterações climáticas afectam peixes Os peixes das águas europeias perderam metade da sua massa corporal, em apenas algumas décadas, devido aos efeitos das alterações climáticas. A conclusão é de um estudo do Cemagref, um instituto especializado na gestão saudável das águas e dos territórios. Durante o período em análise, os investigadores observaram as populações de peixes nos rios europeus, no Mar do Norte e no Mar Báltico. O relatório indica que os habitantes aquáticos perderam em média 50 por cento da massa corporal, nos últimos 20 ou 30 anos. Isto verificou-se em todas as espécies, sendo que os peixes das águas europeias perderam cerca de 60 por cento. Os investigadores explicaram que as águas quentes são habitadas por espécies mais pequenas e que o seu aquecimento afecta as migrações e os hábitos de reprodução dos animais. Os impactos são “enormes”, uma vez que os peixes mais pequenos têm menos crias e são presas mais fáceis para os predadores, tendo consequências graves na cadeia alimentar e no ecossistema.

banca

Deutsche Bank investigado O maior banco da Alemanha, o Deutsche Bank, pode ser acusado de espionagem. Segundo a imprensa internacional, a instituição corre o risco de ser investigada por alegada espionagem de administradores, executivos de topo e accionistas. Os jornais adiantam que dois altos funcionários terão sido entretanto despedidos, por terem tido responsabilidade nas acções de vigilância, que a justiça pretende indagar. Aliás, um dos quadros demitidos era responsável pelo departamento da segurança e outro pelas relações com os investidores. Ainda de acordo com o Deutsche Bank, os procuradores alemães estão a reunir a documentação necessária para verificar se existem bases para avançar com um processo criminal contra o banco. “O Deutsche Bank foi, obviamente, longe de mais nas acções de espionagem”, frisou Wolfgang Gerke, presidente do Centro Bávaro de Finanças de Munique, em declarações à agência Bloomberg.

guantánamo

Fecho da prisão em risco de ser adiado

internet

Brasil lidera Twitter Um estudo do Ibope Nielsen Online anunciou que o Brasil assumiu o lugar de líder mundial ao nível da participação no Twitter, tendo registado cinco milhões de utilizadores nos últimos meses, representando um acréscimo de 71 por cento em relação a Maio. O documento revela que o país não tem o maior número de utilizadores do site, mas que é a região com maior penetração da ferramenta web. Em segundo lugar, ficaram os EUA e em terceiro o Reino Unido.

O relatório encomendado por Obama foi adiado por seis meses, levando os analistas a acreditar que o encerramento da prisão de Guantánamo, marcado para Janeiro, poderá não ser cumprido. O documento, encomendado pelo Presidente dos Estados Unidos, é crucial para a avaliação daquela prisão militar norte-americana e surgiu no âmbito dos esforços da nova Administração para encerrar aquele polémico centro de detenção de suspeitos de terrorismo. A extensão do prazo está relacionada com a necessidade de se fazer uma “análise o mais detalhada possível” sobre a situação de Guantánamo, explicaram os conselheiros de Obama, ligados à equipa encarregue de elaborar o relatório. Os mesmos garantem que o adiamento por seis meses não provocará atrasos em relação à data estabelecida para o encerramento da prisão de alta segurança. Até ao momento, o presidente americano apenas tomou conhecimento do documento interno, que enumera as opções de que a Casa Branca dispõe, nomeadamente julgar os suspeitos em tribunais cíveis ou transferi-los para outros países. Já, os analistas encaram com alguma renitência o cumprimento dos prazos de encerramento.

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MUNDO saúde

Obesidade pode tirar dez anos de vida Um estudo, publicado na revista científica “Lancet”, analisou 900 mil pessoas durante 20 anos e provou que a obesidade pode chegar a tirar até dez anos de vida. A investigação foi conduzida pela Universidade de Oxford e analisou 57 estudos sobre o tema, que incidiram sobre as populações da Europa e da América do Norte. “O excesso de peso diminui a esperança de vida. Em países como a Inglaterra ou os EUA, pesar um terço a mais do que seria óptimo encurta o tempo de vida em cerca de três anos”, enuncia Gary Whitlock, médico da referida faculdade e um dos autores do estudo. Das pessoas que participaram na investigação, uma centena morreu durante as duas décadas de acompanhamento. Os estudiosos usaram o Índice de Massa Cultural (IMC) para definirem a obesidade, dividindo o peso de uma pessoa pelo quadrado da sua altura. A população com um IMC entre 30 e 35 (o normal vai dos 18,5 aos 25) morreu três anos mais cedo do que aqueles que tinham um peso normal. Os casos de obesidade severa viveram dez anos a menos, o mesmo tempo que um fumador. Doenças cardiovasculares, diabetes, cancro e complicações relacionadas com os pulmões foram as principais patologias associadas pelos investigadores à obesidade.

literatura

eua

astronomia

Lulas invadem Califórnia

Ásia assiste a eclipse

Milhares de lulas gigantes, que atacam seres humanos, invadiram a costa de San Diego, na Califórnia, estando a causar o pânico entre os habitantes. As lula-de-humboldt frequentam habitualmente as águas profundas do México e são conhecidas por atacar os humanos. Estas podem medir até 1,5 metros e pesar até 45 quilos. Os cientistas explicam que as lulas gigantes podem ter saído do seu habitat natural devido à escassez de alimentos, provocado pelo aquecimento global. Este facto pode estar na origem da sua deslocação para a zona costeira californiana. Não é a primeira vez que as praias de San Diego são invadidas por lulas. A última vez foi em 2005, período em que estes animais apareceram mortos na costa de Orange County.

Ásia, Japão e Pacífico assistiram a um eclipse total do sol, o mais longo do século XXI, com duração superior a cinco minutos. O fenómeno teve início no golfo de Khambhat, a Norte de Bombaím e moveu-se para Este, escurecendo primeiro a Índia e depois o Nepal, Burma, Bangladesh, Butão e China, respectivamente. Prosseguiu para o Japão, tendo sido visto pela última vez a partir da ilha de Nikumaroro, no Kiribati. O eclipse durou cerca de quatro horas. O último acontecimento idêntico ocorreu em Agosto de 2008 e durou pouco mais de dois minutos. A longa duração do eclipse permitiu aos cientistas estudar os fenómenos solares.

Fãs de Graham Greene podem terminar inédito Um romance inacabado de Graham Greene (1904 – 1991) está a ser publicado numa revista norteamericana, convidando os fãs de policiais a terminar o enredo desta história, que data dos anos 20. “The Empty Chair” (“A cadeira vazia”) possui apenas cinco capítulos concluídos e conta a história de um assassinato misterioso. O enredo desta obra faz recordar os misteriosos assassinatos cometidos nas casas de campo, típicos de Agatha Christie. O autor iniciou o livro em 1926, quando tinha apenas 22 anos e foi encontrado no ano passado por François Gallix, um estudioso das obras de Greene. O romance encontrava-se no Centro de Humanidades da Universidade do Texas e corresponde ao ano mais importante na vida do escritor, período em que atingiu o sucesso. “The Strand Magazine” publica um capítulo por semana e pondera lançar um concurso para completar a história. Graham Greene é conhecido internacionalmente pelas obras “O Condenado”, “O nosso agente em Havana”, “O poder e a glória”, “O americano tranquilo” e “Monsenhor Quixote”.

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honduras

EUA emitem aviso Hilary Clinton, secretária de Estado norte-americana ameaçou suspender a ajuda às Honduras, caso as negociações promovidas pelo presidente costa-riquenho Óscar Árias falhem. De acordo com o porta-voz do departamento, Philip Crowley, a dirigente mostrou-se muito firme na conversa telefónica com o presidente de facto das Honduras, Roberto Micheletti, firmando assim a posição dos EUA.


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IN FOCO

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ÁFRICA ‘NEGRA’

NIGÉRIA

retrato de uma potência Com mais de 120 milhões de habitantes e uma densidade populacional de 131 habitantes/ quilómetro2, a Nigéria é um dos maiores produtores mundiais de petróleo e pode vir a definirse como uma das principais potências económicas da África Negra. Após o longo período de instabilidade política, nos anos setenta, dá-se a explosão da sua economia, resultante da abundância do petróleo na zona do Delta do Níger e na sua exploração acelerada provocada pelo aumento elevado da procura mundial dessa matéria-prima. Hoje, o país é destino de grandes fluxos de imigração provenientes de todos os países da zona. No início dos anos 80 as crises petrolíferas conduziram à queda dos preços e os estrangeiros em situação irregular são expulsos do país, o que envolveu cerca de 2 milhões de pessoas, obrigadas a regressar por qualquer meio para os territórios de origem. Mesmo assim, o país continua com uma grande densidade populacional e um valor do rendimento médio por habitante reduzido, estando a concentração das políticas económicas nas mãos dos grupos do poder, visto pelos organismos internacionais como “corrupto”. A estrutura urbana é essencial e, além da gigantesca concentração urbanística de Lagos, conta também com um grande número de cidades com 200 mil a 300 mil habitantes que elevam a taxa de urbanização para os 50%. Números que não encontram representação nas infra-estruturas e serviços, ainda bastante pobres. As perspectivas, no início do século XXI são elevadas. Aqui fica o retrato actual de uma Nigéria de contrastes.

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POLÍTICA Outro dos aspectos negativos apontados pela população é a dificuldade em arranjar emprego e a escalada dos preços. Após a eleição de Obasanjo em 1999, uma nova Constituição foi aprovada que garante que haja eleições de quatro em quatro anos. Obasanjo ganhou em 2003, muito embora as eleições tenham sido consideradas falseadas. O PDP que está no poder, fortaleceu a sua posição tanto na Assembleia Nacional, como nos 36 estados que constituem a Nigéria, 31 dos quais têm governadores do partido do governo. Uma tentativa de amendar a Constituição para permitir que o presidente se candidatasse ao terceiro mandato foi reprovada em 2006. As eleições presidenciais de 2007 permitiram a primeira transferência de poder civil no país desde a independência. Os três principais candidatos presidenciais (todos muçulmanos do Norte), reflectiram a crença que o cargo de líder da nação deve pertencer a um nortenho, depois de Obasanjo ter estado no poder. Atiku Abubakar candidatou-se pelo partido do Congresso da Acção, mas foi impedido de o fazer por acusações de corrupção que até hoje nega. No entanto, o Supremo Tribunal decidiu que a Comissão de Eleições não tem o poder de impedir que nenhum candidato concorra ao lugar. Contudo, um dos maiores progressos políticos dos últimos oito anos é que o exército foi politicamente neutralizado. Quaisquer generais com ambições políticas foram afastados e outros têm estado num esquema de rotação que os impede de se agarrarem ao poder. A nova geração de oficiais são profissionais e, pela primeira vez em décadas, todos os observadores concordam que um golpe militar é pouco provável. A nível regional, a Nigéria é o poder predominante no Oeste africano e estiveram na origem da Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (ECOWAS), através da qual tiveram um papel preponderante na resolução de conflitos, principalmente na Libéria e na Serra Leoa. Num panorama mais alargado, o presidente Obasanjo foi um dos principais fundadores da Nova Parceria para o Desenvolvimento Africano (NEPAD) e foi presidente da União Africana em 2005/06, promovendo conversações de paz com o Sudão. A Nigéria tem a aspiração de ter um lugar permanente no Conselho de Segurança da ONU.


Durante os dois mandatos do Presidente Olusegun Obasanjo, o país pagou quase na totalidade a dívida estrangeira de 35.9 mil milhões de dólares. Estima-se que restem 5 mil milhões ECONOMIA A Nigéria é a grande potência económica do Oeste africano, contribuindo com quase 50% do PIB da região. Economicamente, o país está dependente do sector do petróleo e do gás. Membro da Organização de Países Produtores de Petróleo (OPEP), é o oitavo maior exportador mundial de crude. Os lucros da associação nigeriana de gás, a NLNG (Nigerian Liquefied Natural Gas Ltd) vão superar os lucros de petróleo nos próximos dez anos. Ainda que o crude produzido precise de pouca refinação, o país até agora foi incapaz de construir as suas próprias refinarias e trabalhar na produção de petróleo. Os produtos refinados são todos importados. O aumento da criminalidade na região do Delta do Niger lançou dúvidas se será possível haver eleições nos estados de Rivers, Delta e Bayelsa. No período de um ano (Abril de 2006 a Abril de 2007) mais de 100 trabalhadores estrangeiros foram raptados, 70 dos quais em 2007. Os ataques às plataformas de petróleo levaram a que a Nigéria reduzisse 20% a 25% da sua produção de crude. Uma das áreas em expansão é o sector das telecomunicações. Há aproximadamente 1.25 milhões de linhas terrestres telefónicas no país, enquanto o número de utilizadores de telemóveis ascende os 30 milhões. Vários analistas acreditam que o crescimento vai continuar, com a Nigéria a ultrapassar a África do Sul como o maior mercado africano deste sector. Durante os dois mandatos do Presidente Olusegun Obasanjo, o país pagou quase na totalidade a dívida estrangeira de 35.9 mil milhões de dólares. Estima-se que restam 5 mil milhões. Após o acordo com o Clube de Paris (instituição de crédito entre governos) em 2005, a Nigéria liquidou 12.4 mil milhões de dólares da dívida. Está também prestes a pagar 900 milhões de dólares ao Clube de Londres (instituição de crédito privada), a quem já tinha pago 1.4 mil milhões de dólares. O outro credor é o Banco Mundial, que já afirmou publicamente que a forma como a Nigéria tem liquidado a sua dívida de 2.07 mil milhões de dólares é “muito boa”. No entanto, a Transparência

Internacional ainda refere o país como um dos países mais corruptos a nível mundial. Dados oficiais dizem que metade dos lucros anuais de crude estimados em 40 mil milhões de dólares, são roubados ou desperdiçados.

Muitos nigerianos queixamse que não tem havido progressos nas infra-estruturas básicas como a luz, água e saneamento básico. Outro dos aspectos negativos apontados pela população é a dificuldade em arranjar emprego e a escalada dos preços SOCIEDADE O país tem dos piores Índices de Desenvolvimento do mundo: uma em cada cinco crianças morre antes de chegar aos cinco anos. Doze milhões de crianças não estão na escola e há quase 2 milhões de orfãos devido ao vírus do HIV/Sida. Mais de metade da população (75 milhões de pessoas) vivem abaixo do limiar de pobreza, num país onde a esperança média de vida é de 47 anos. Após os programas de privatização introduzidos pelo Presi-

dente Obasanjo, os nigerianos ainda estão à espera de um fornecimento de electricidade eficaz, de uma rede de água potável, de serviços de saneamento, de melhorias nos caminhos de ferro, nas estradas e nos telefones. A capital Abuja é a cidade mais cara da Nigéria, seguida de Port Harcourt, uma cidade rica em petróleo, e pela maior cidade Lagos, que é a capital comercial do país. Em Maio de 2004, Obasanjo promoveu um programa de reformas económicas chamado NEEDS que pretendeu promover a disciplina fiscal, a reforma dos serviços civis e bancários, bem como o início de privatizações e transparência. Os direitos humanos melhoraram consideravelmente desde 1999, ainda que o país continue com a pena de morte. O governo de Obasanjo estabeleceu um painel para investigar os abusos de direitos humanos nas organizações militares e criou uma comissão de direitos humanos. Há no país uma vasta e activa sociedade civil. Os orgãos de comunicação social são livres e independentes. No entanto, ainda surgem informações de espancamentos e execuções sumárias, que as pessoas atribuem à má preparação das forças de segurança.

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RELIGIÃO O país com mais população de África passou de um regime militar à democracia. No entanto, a liberdade não permitiu alterar os constantes cenários de violência religiosa e étnica. De facto, a população nigeriana tem fama de ser controversa, violenta e sobre ela pairam alegações de manipulação e fraudes. Os censos de 2006 decorreram de uma forma geralmente pacífica, mas houve casos de violência - incluíndo mortes - e o crescimento de tensões étnicas e políticas. Os censos incluem questões sobre a educação, o emprego, rendimento, tamanho da residência, fornecimento de água, saneamento básico, tipo de combustíveis usados, acesso a rádio, televisão e telefones, mas na tentativa de impedir conflitos, não inclui temas religiosos. Grupos religiosos e étnicos mostraram preocupação quanto aos resultados dos censos que incluíssem dados religiosos, pois acreditavam que os mesmos fossem afectar a sua posição na sociedade, nos fundos governamentais e a influência política que têm na sua região. Os muçulmanos

A African Business, revista pan-africana publicada em Londres, coloca a Nigéria em terceiro lugar numa lista das empresas de países africanos mais cotadas no continente. Entre as 200 empresas mais cotadas de África, trinta são nigerianas. E as estatísticas regionais da revista para a África Ocidental são ainda mais reveladoras. Na classificação das 50 maiores empresas da África Ocidental estabelecida pela revista, a Nigéria tem 45 empresas

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Um dos maiores progressos políticos dos últimos oito anos é que o exército foi politicamente neutralizado. Quaisquer generais com ambições políticas foram afastados e outros têm estado num esquema de rotação que os impede de se agarrarem ao poder. A nova geração de oficiais são profissionais e, pela primeira vez em décadas, todos os observadores concordam que um golpe militar é pouco provável

estão em maioria na grande parte dos estados do Norte, que adoptaram a lei islâmica, também conhecida como Sharia. Os estados de Kanu e Niger não são regulados segundo a Sharia, mas são muitas vezes descritos como sendo 50% cristãos e 50% muçulmanos. Os estados do Centro do país também são uma mistura de cristãos e muçulmanos, enquanto os estados do Sul são na sua maioria cristãos e animistas.



ECONOMIA & NEGÓCIOS

| manuela bártolo

união económica e monetária

‘novo round’

em Lisboa em Dezembro de 2007. No estudo, intitulado “Estado da Integração Regional em África”, foram analisados os planos macroeconómicos e financeiros da Comunidade Económica e Monetária da África Central (CEMAC), União Económica e Monetária Oeste-Africana (UEMOA) e Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC). Subjacente à criação da UA, o objectivo de integração regional dos diferentes blocos tem “fracassado”, uma vez que está ainda longe a harmonização, enquadrada num acordo comum, dos equilíbrios orçamentais e da redução da inflação e da dívida pública. Nesse sentido, a segunda fase do Centro Africano para as Políticas Comerciais (CAPC) ficou mandatado de identificar uma nova estratégia global, tendo como pano de fundo a definição de critérios para a negociação de acordos comerciais regionais, como as parcerias económicas com a UE e de livre comércio com outras regiões ou blocos. Cabe agora ao CAPC dar às comunidades económi-

A integração económica A não integração monetária e financeira do e política tem sido des- continente é responsável pelos sucessivos de sempre um objectivo avanços e recuos nas negociações com vista para África e para o poàs parcerias económicas entre a Europa covo africano. Esse é aliás o munitária e os 54 Estados africanos maior desígnio da União nas políticas integradas dos diferentes bloAfricana (UA), em concílio com a promoção cos regionais africanos. “Os países africanos da união no continente e a prevenção da disestão a passar por enormes problemas para persão dos países em campos rivais. O seu aplicar os critérios de convergência macroepapel na cooperação pan-africana e na emanconómica estabelecidos pelas comunidades cipação das nações tem sido exímio a todos económicas regionais do continente”, lê-se no os níveis, sendo que um dos maiores desadocumento, em que se sublinha também os fios actuais é precisamente a integração moobstáculos que tais disparidades provocam netária e financeira. A sua grande debilidade nas desejadas parcerias com os “27”. tem criado obstáculos à convergência macroEssa questão é uma das razões para os sueconómica desejada no “continente negro”, cessivos avanços e recuos nas negociações gerando também dificuldades para a concrepara as parcerias ecotização das parcerias económicas definidas, nómicas entre a Euro- O objectivo de integração regional dos diferentes há cerca de um ano, na Cimeira Europa/Áfripa comunitária e os 54 blocos tem “fracassado”, uma vez que está ca. Esta é a conclusão contida num estudo Estados africanos, num ainda longe a harmonização, enquadrada num conjunto da Comissão Económica para Áfriimpasse desde o fim da acordo comum, dos equilíbrios orçamentais e ca (CEA), órgão das Nações Unidas, e UA, em cimeira que se realizou da redução da inflação e da dívida pública que são destacadas as dificuldades sentidas

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cas regionais a possibilidade de criar capacidades comerciais integradas e outras globais a todos os agentes económicos. Paralelamente, são apresentadas “recomendações” para que os governos africanos integrem os objectivos macroeconómicos nas suas estratégias nacionais de desenvolvimento e que “dêem prova de sentido de responsabilidade” na elaboração dessas políticas, definindo as suas próprias prioridades em matérias como as taxas de câmbio e de juro e ainda a política orçamental. SÉCULO DA MUDANÇA Reformas estruturais têm sido levadas a cabo com relativo sucesso em diversos países do continente. Políticas tendentes à liberalização de mercados, à promoção do sector privado e à transição para a economia de mercado estão a ser implementadas um pouco por toda a África, coadjuvados com a adopção de critérios de rigor na gestão macroeconómica e na criação de um ambiente favorável ao investimento directo externo. A infraestruturação económica do continente avança, designadamente nos domínios dos transportes, das telecomunicações, da energia, água e saneamento; atenção especial começa a ser dada à ciência e tecnologia e à valorização dos recursos humanos, na perspectiva da formação, da promoção da saúde e da luta contra a pobreza; a integração económica e financeira consolidou-se e aprofundou-se em algumas regiões. O objectivo passou a ser o de evitar a todo o

te africano - comparáveis aos dos chamados tigres da Ásia - retiram fundamento a pessimismos em relação à possibilidade do progresso em África: o sentimento crescente é o de que também é possível obter bons resultados económicos, e com eles, a prazo vencer a pobreza. O que está a ser feito no Gana, no Botsuana, no Uganda, no Burkina-Faso, em Moçambique, em Cabo Verde e noutros países africanos, engajados na modernização e no desenvolvimento, é disso prova. O esforço de renovação é tão grande que os países industrializados não podem deixar de o notar. A evolução é encorajadora. Começam a existir, custo a exclusão da economia global, acertar o cada vez mais, pólos de democracia no contipasso com o resto do mundo, criar condições nente, com um certo nível de desenvolvimende bem-estar económico, lançar as bases de to económico - como é o caso de Angola, que uma paz social alargada e promover a estabiexerce uma influência positiva, a um tempo lidade política tanto nacional, como regional. catalizadora e estabilizadora nos sistemas poUm desafio enorme que África enfrenta atralíticos africanos e no desenvolvimento de Áfrivés de uma transformação progressiva para ca. Reestruturação do Estado e do seu papel, uma economia aberta, dinâmica, autosustendemocratização, boa governação, desenvolvitada e inserida de modo dinâmico na economento dos recursos humanos, um ambiente mia mundial. O salto na taxa de crescimento institucional, legal e social incentivador do ineconómico do continente, de 1.4% no período vestimento privado, gestão macroeconómica 1990/1994, para 4%, em 1995 e 5% em 1997 é rigorosa, infraestruturação, integração regioo resultado desse esforço e sinal da seriedade nal e uma conjuntura internacional favorável que muitos dos novos governantes africanos ao investimento directo externo e a uma coopõem na prossecução do seu objectivo de inperação alargada que permita a transferência tegrar África na economia mundial. O fluxo de de tecnologia e de saber-fazer são vias exequícapital privado estrangeiro captado por vários veis, e nalguns casos, já em curso, que levarão países africanos - no valor de cerca de 12 bilio continente africano a vencer, desta vez, o ões de dólares - embora ainda muito aquém grande desafio do desenvolvimento. A boa vido desejável, traduz também o sucesso já obzinhança e o diálogo reComeçam a existir pólos de democracia no con- gional devem, por isso, tinente, com um certo nível de desenvolvimento prevalecer, asseguraneconómico - como é o caso de Angola, que exer- do um clima de estace uma influência positiva, a um tempo catali- bilidade e de distensão zadora e estabilizadora nos sistemas políticos permanentes. As dificuldades encontradas africanos e no desenvolvimento de África são ainda relevantes, mas é incontornável que se está a proceder a avanços na modertido na execução de políticas económicas adenização do continente, pelo que a sua econoquadas e rigorosas e é igualmente um sinal de mia, encabeçada por diversos países, está a confiança, que reforça o optimismo em relação integrar-se de uma forma dinâmica e sustenao futuro. Taxas de crescimento económico de tada na economia mundial. 7%, 10% e 12% em alguns países do continen-

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ECONOMIA MIA & NEGÓCIOS

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sector bancário

o sólido golias Nos últimos seis anos, têm-se vindo a verificar progressos significativos na economia angolana, reflectidos numa taxa de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB), pelo quarto ano consecutivo na ordem dos dois dígitos, o que traduz uma das mais elevadas quando comparado com os restantes países da África Subsariana. Os drivers do desenvolvimento económico angolano assentam fundamentalmente, em três importantes factores – político, económico e social. A estabilidade política e social desde 2002, associada a uma maior consciencialização e esforço de governação no sentido da criação de uma economia sustentável, e a consolidação do processo democrático, com a consequente estabilidade da gestão económica do país, como demonstrado nas recentes eleições legislativas, foram sem dúvida os factores mais importantes para o crescimento económico do país. A par disso, há a estabilidade macroeconómica e as suas naturais consequências positivas, bem como o esforço de transparência e abertura da economia. O aumento do peso de variáveis macroeconómicas internas no PIB como o consumo das famílias e o investimento privado (interno e externo), em contraponto com a diminuição da participação das despesas públicas totais foram também, segundo uma pesquisa ao sector bancário em Angola, elaborado pela KPMG, decisivos neste progresso. Nesse sentido, as políticas de dinamização da economia nacional, cada vez mais focalizadas no sector não petrolífero, têm vindo a incrementar o desenvolvimento da capacidade produtiva angolana, em simultâneo com os benefícios marcados pela conjuntura internacional no que respeita ao preço de petróleo. Dados extremamentes satisfatórios para o país que vê na evolução do sector bancário a construção de uma economia sólida e com maior poder de influência quer no próprio continente, quer a nível mundial. gestão do tempo e das atitudes. O que conta é ter mais tempo para dedicar às pessoas.

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FINANCIAR O FUTURO FIN O m mercado financeiro angolano, sobretudo o bancário, cuja concorrência conta já com b 16 bancos comerciais, tem vindo, à medida do possível, a responder positivamente aos novos nov desafios do país ligados à reconstrução e à modernização das infra-estruturas, ao rubricar em 2007 com o Governo acordos avaliados em USD mil milhões, para o finanava ciamento de projectos estruturantes, visando ciam o desenvolvimento económico e social que d os angolanos tanto desejam. A estabilidade a política e macroeconómica, assim como a vapolí lorização da moeda nacional (Kwanza) permiloriz tiram tira com que, num espaço de tempo de dois anos, ano quatro acordos financeiros, visando financiar vários projectos de infra-estruturas nan em execução no país, fossem rubricados entre o Governo angolano, representado pelo Ministério das Finanças, e os sindicatos dos Min 16 bancos comerciais que operam no país. Esb ses financiamentos garantidos pela banca nacional são empréstimos realizados através nac da emissão de Obrigações do Tesouro. O primeiro me desta série de acordos está relacionado com o financiamento do projecto de aquisição da nova frota de aeronaves da Taag, do qual o sindicato de bancos nacionais (BAI, Besa e si BFA) BFA concedeu pelo menos 250 milhões de dólares. O segundo, rubricado em Dezembro dóla de 2006, está ligado à conclusão da segunda fase do projecto habitacional “Nova Vida”, localizado a sul da cidade de Luanda, um empréstimo avaliado em 12,6 biliões de kwanzas, equivalentes a 157 milhões de dólares norteamericanos. O terceiro acordo, assinado em Março do ano passado, entre o Governo e o sindicato de bancos integrado pelo BFA, BPC e BAI, está avaliado em 400 milhões de dólares norte-americanos e visa financiar obras de investimentos públicos, no domínio da construção de estradas via expressa Luanda/ Viana, Luanda/Cacuaco e Boavista/Samba, pela marginal. Esse financiamento contempla também a construção das linhas de transporte de energia eléctrica e as respectivas subestações no percurso Capanda/Lucala/ Luanda (Viana). Atento ao crescimento dos depósitos dos bancos comerciais, agora estimados em mais de 10 mil milhões de dólares, metade dos quais transformados já em crédito, e a capacidade de liquidez destas instituições bancárias, o Executivo angolano fez, pela quarta vez, em Outubro de 2007, recurso à banca nacional, ao assinar o maior acordo financeiro interno de todo os tempos, avaliado em 3,5 biliões de dólares norte-americanos, para dar sequência ao financiamento de programas de investimentos públicos, ligados às


obras de reconstrução nacional, em curso em todo o território nacional. Por tratar-se de um financiamento bastante volumoso, os credores decidiram disponibilizar o montante em três tranches, num período de 36 meses, para facilitar o planeamento dos rácios de liquidez por parte dos bancos, de modo a acomodar esta operação ao longo dos três anos. A primeira tranche do financiamento (um bilião de dólares), cuja operação global é assegurada 80% pelo BAI e BESA, começou a ser disponibilizada no decurso de 2007 e tem um período de reembolso de cinco anos. A segunda tranche, avaliada num bilião e 500 milhões de dólares, começou a ser disponibilizada no exercício económico de 2008 e o terceiro pacote, calculado num bilião, está disponível a partir deste ano, indo o período de carência de sete a nove anos. A disponibilização desses valores, por parte das 16 unidades bancárias comerciais, evidência, por um lado, que os bancos acreditam no desenvolvimento económico do país e nas políticas macroeconómicas, que têm vindo a ser implementadas pelo Governo, por outro, mostra que há saúde financeira e patrimonial da própria banca nacional, medida pelos rácios estabelecidos pela supervisão bancária com base nas regras de Basileia. A dinâmica que o sector bancário vem registando nos últimos anos, consubstanciada numa concorrência agressiva entre os operadores, no aumento dos depósitos e créditos, está a permitir com que o Governo, na execução e gestão da sua política económica, não faça apenas recurso a credores internacionais para financiar grandes projectos de investimentos públicos, quebrando deste modo um ciclo que durava décadas. Os resultados espectaculares que a banca tem vindo a obter nos três últimos anos, em função da sua rentabilidade, mostram que as contas bancárias da população estão a ser operadas por instituições financeiras eficientes, capazes de gerar lucros, em vez de prejuízos, o que constitui um marco na histórica económica de Angola. Graças a esses lucros, os bancos angolanos dispõem agora de maiores fundos próprios para alavancar o crescimento das suas operações de crédito à economia sem o risco de incumprir com os rácios prudenciais. A título de exemplo, o Banco Internacional de Crédito (BIC), instituição financeira que iniciou a sua actividade em Maio de 2005, fechou o ano de 2007 com um bilião e 300 milhões de dólares de crédito disponibilizado, enquanto o aprovado está cifrado em USD um bilião e 600 milhões. Os fundos próprios do banco estão calculados num valor superior a USD 140 milhões. Assim, para trás

NOVAS MEDIDAS O Governo tem em curso várias medidas que visam a estabilização das reservas obrigatórias em divisas nos bancos comerciais. A iniciativa surge numa altura em que são apontadas maiores dificuldades na concessão de crédito por parte dos bancos devido ao aumento das suas reservas obrigatórias. O aumento de 20 para 30% nas reservas obrigatórias dos bancos comerciais é ainda apontado por vários economistas como a principal razão para as recentes dificuldades em transferir dividas para o exterior, especialmente dólares norte-americanos. O ministro das Finanças, Severim de Morais, explicou que este cenário resultou da queda das receitas em divisas no país, que ascendiam a 1,2 mil milhões de dólares por mês, quando o preço do barril de petróleo rondava os 140 dólares em Julho de 2008, e que “de repente” baixaram para 400 milhões de dólares. Em declarações à imprensa afirmou: “é evidente que isso obrigou à tomada de medidas porque as receitas quando caem abruptamente, as despesas não acompanham de imediato”, pelo que “estas têm de ser reanalisadas e recontratadas”. Neste sentido, o Governo avançou com diferentes acções como a redefinição das reservas obrigatórias, permitindo que uma parte destas seja feita em títulos de Tesouro de qualquer prazo. “É uma medida nova em relação à anterior. Anteriormente só permitíamos que fossem títulos do tesouro de maturidade até um ano. Neste momento, permitimos que os bancos cumpram parte das suas obrigações com as reservas obrigatórias em títulos de Tesouro de qualquer maturidade, precisamente para incentivar e dar mais confiança ao sistema bancário”, salientou recentemente Severim de Morais. Quanto à revisão do Orçamento Geral do Estado (OGE) para este ano, face à crise económica e financeira mundial, o ministro das Finanças antecipou que o Governo continua a fazer um “exercício comedido”, por desconhecer o comportamento futuro da economia nos próximos anos. O novo orçamento teve como referência o petróleo a 37 dólares o barril, quando o anterior colocava essa mesma referência nos 55 dólares. O sector petrolífero contribui actualmente com mais de 50% do Produto Interno Bruto (PIB) do país

ficaram os “dias negros” em que os bancos tinham problemas de liquidez e tesouraria, hoje, fruto da estabilidade macroeconómica, empresários e particulares têm acreditado cada vez mais nas instituições bancárias, pelo facto de nas suas operações comerciais terem preferencialmente os bancos como canais de intermediação, permitindo deste modo que grande parte da massa monetária que circula no circuito informal comece, paulatinamente, a entrar para o mercado formal. Tendo em conta a necessidade de se financiar projectos de desenvolvimento a médio e longo prazos, dois acontecimentos históricos económicos foram assinaláveis em 2007: o início das operações de financiamento do Banco de Desenvolvimento de Angola (BDA), constituído 100% por capitais do Estado, e o começo das actividades do VTB-África, uma instituição de capitais russos e angolanos, cuja missão é financiar grandes projectos, como a construção estradas, portos, aeroportos, barragens, caminhos de ferro, entre outras infra-estruturas. O BDA, criado em 2006, constitui um instrumento privilegiado do Estado para o financiamento, nesta primeira fase, do desenvolvimento da economia angolana,

especialmente os investimentos do sector privado, ligados preferencialmente às cadeias produtivas do milho, feijão, algodão e materiais de construção civil. O banco, cuja missão é financiar o desenvolvimento de Angola, à luz do Plano Nacional e da Estratégia de Desenvolvimento de Longo Prazo, aprovou, em Outubro de 2007, 31 projectos para a concessão de créditos, fruto de um trabalho acentuado junto dos empreendedores das províncias do Bengo, Benguela, Bié, Cabinda, Kwanza Sul, Huíla e Huambo. No total, foram abrangidos por esses primeiros financiamentos pelo menos 157 beneficiários, entre pequenos e médios empresários e produtores, a título individual ou enquadrados em cooperativas de produção, localizadas nas referidas regiões. Entretanto, não obstante o seu carácter ainda relativamente embrionário, o sector bancário angolano está a registar uma dinâmica muito acentuada, visível num conjunto de modificações profundas que abrangem, entre outros aspectos, a entrada de vários novos operadores, o lançamento de novos produtos e serviços financeiros, alterações significativas ao seu quadro legislativo e regulamentar e, por último, as consequências decorrentes da polí-

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ECONOMIA & NEGÓCIOS tica de estabilização macroeconómica que tem sido seguida pelo Governo angolano. CRÉDITO À ECONOMIA Fruto do crescimento, em 2006, dos depósitos na ordem de 62%, o crédito à economia, sobretudo à indústria, à importação e à habitação está a crescer muito, tendo este último um impacto positivo para o crescimento do sector imobiliário, com a consequente criação de novos empregos. De acordo com um estudo sobre o comportamento da banca angolana em 2007, da empresa de consultoria Delloite, de Janeiro a Junho desse ano, o crédito cresceu 30%, um ritmo superior à evolução da base dos depósitos. Com o alcance da paz em Abril de 2002, Angola começou a trilhar irreversivelmente a rota do desenvolvimento e tal desiderato deverá ser assegurado por um sistema bancário nacional forte, capaz de dar resposta às necessidades do mercado, facto sustentado pelos indicadores dos quatro maiores bancos comerciais do país (BPC, BIC, BAI e BFA), publicados nos últimos estudos sobre a banca angolana. Os estudos mostram que estas instituições e outras estão a apoiar, à medida do possível, a reconstrução das infra-estruturas, o relançamento da actividade produtiva e a expansão da actividade comercial em todo o território. Segundo estimativas do Banco Mundial, se Angola manter, nos próximos tempos, a actual tendência de crescimento na ordem de 18% ao ano, até 2010 o Produto Interno Bruto (PIB) poderá atingir os 100 mil milhões de dólares. Se assim acontecer, o país estará muito próximo de alcançar a segunda maior economia da África Subsahariana, a Nigéria. Para que tal crescimento seja sustentável, a longo prazo, é necessário que os 16 existentes no mercado (BPC, BAI, BIC, BFA, Besa, BDA, VTB-África, Tota Angola, Millennium, BCI BCA, BNI, BANC, Keve, BPA e Sol) alarguem os seus financiamentos a projectos ligados ao ressurgimento da indústria de aço, metalúrgicas, estaleiros navais, agricultura, investigação científica, daí a necessidade urgente de se diversificar o crédito para estas áreas de actividade. BANCA AO PORMENOR O crescimento exponencial dos bancos angolanos nos últimos anos permite que existam hoje operadores que, pela sua actual dimensão, estão próximos de figurar no ranking dos 1000 maiores bancos do mundo. O forte desenvolvimento operado pelo sector bancário, aliado à actual crise financeira global implica, no entanto, maiores responsabilidades para a gestão dos seus operadores ao nível da modernização das práticas bancárias e dos canais

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de distribuição, considerada uma prioridade em função da abertura próxima do mercado de capitais no país.

Os valores dos activos do sector bancário, tal como se tem verificado nos últimos anos, continuam a apresentar níveis de crescimento elevados ACTIVOS Na análise à estrutura do activo, em termos gerais, verifica-se o aumento dos pesos dos activos de crédito (de 26% para 38%) e das obrigações e títulos (de 22% para 26%) no total dos activos do sector. O aumento do crédito concedido resulta do esforço de reconstrução nacional, da revitalização de outros sectores que não o petrolífero e do reforço da rede habitacional do país. O incremento do nível de obrigações de tesouro dos bancos resulta, essencialmente, das emissões de OT’s lideradas e colocadas nas instituições de crédito angolana. DEPÓSITOS O crescimento exponencial dos bancos angoEm 2007, o total de depósitos continuou a apresentar um crescimento significativo, na ordem dos 45%, passando dos 617 biliões AKZ para os 896 biliões AKZ (vs. crescimento de cerca de 61% em 2006). Os depósitos à ordem, no final de 2007, representavam cerca de 80% do total de depósitos, revelando um acréscimo de 10 p.p. face a 2006, e totalizando cerca de 714 biliões AKZ. Já no que toca à estrutura dos depósitos por moeda, assistiu-se a uma maior confiança dos clientes na moeda nacional, resultado das políticas macroeconómicas de estabilização do Kwanza por parte do governo, tendo o peso dos mesmos aumentado para 41% em 2007.

Os depósitos angariados registaram um crescimento de 45% Registou-se uma alteração nas quotas de mercado, por depósitos, dos diversos operadores, face a 2006. Assim, o BFA, que liderava no final de 2006 com uma quota de 23%, seguido do BAI (21%) e do BPC (20%), foi ultrapassado por estes dois bancos em 2007. O BAI registou uma quota de mercado de 24%, face aos 20% apresentados pelo BPC e os 17% do BFA.

O BAI passou a liderar o ranking da banca por depósitos Embora se tenha registado a entrada de dois novos operadores no mercado em 2007, o grau de

concentração dos depósitos ainda permanece elevado. Assim, os 4 primeiros bancos concentram 74% do total dos depósitos, facto que revela, contudo, uma maior dispersão face a 2006, quando estes concentravam cerca de 76%. CRÉDITO No ano de 2007, o total de crédito líquido concedido pelo sector bancário manteve a tendência de crescimento dos anos anteriores, apresentando um incremento, face ao ano transacto, de cerca de 83% (sem considerar os activos de crédito do BDA). O total do crédito vencido, apesar do crescimento de 25%, em termos absolutos, apresenta, em termos relativos, um decréscimo importante, o que é revelador da maior prudência do sector na avaliação dos activos de crédito (passou dos 3,69% de 2006 para os 3,30% em 2007).

O crédito líquido concedido registou um crescimento de 83% O crédito em moeda estrangeira representava cerca de 69% do crédito concedido no final de 2007, versus os 70% registados em 2006. Continua, desta forma, a verificar-se um desequilíbrio evidente entre o peso do Kwanza no total dos depósitos angariados e do crédito concedido pelo sector. Os bancos BFA, BPC, BIC e BESA detêm, em conjunto, um peso bastante significativo de 73% sobre o total do crédito, cabendo ao primeiro a liderança neste indicador. O rácio de transformação (Crédito Líquido sobre Depósitos Totais) manteve a sua trajectória de crescimento, passando de 45% para 56%. Este acréscimo, resulta, como anteriormente já tinha sido referido, da dinâmica de reconstrução e revitalização do país, aliado à maior confiança do Estado na Banca Angolana. Neste indicador em particular, realça-se a performance dos operadores BNI, BMA, BFA, BESA e BRK durante 2007.

O BNI apresenta o rácio de transformação mais elevado do sector RENTABILIDADE E PRODUTIVIDADE Em 2007, o sector bancário angolano registou um crescimento positivo da sua rentabilidade. Assim, em termos gerais, assiste-se a uma evolução positiva do agregado ROE – lucros líquidos do sector sobre capitais próprios investidos, que em 2006 apresentava um rácio de 26,96% e, em 2007, atingiu os 28,86%. Este aumento resultou, essencialmente, do acréscimo da actividade creditícia dos ban-


cos e da ligeira subida do spread de juros, factores que se reflectiram no maior peso da margem financeira sobre o produto bancário (57% em 2007, vs. 49% em 2006). A rentabilidade dos activos médios (ROAA), de cerca de 3,08%, manteve-se praticamente inalterada, reflexo do forte investimento dos operadores na expansão da sua actividade. Numa análise por entidade bancária, assistimos a uma liderança por parte do BIC, cujo ROE registou um acréscimo de 48% em 2006, para 52% em 2007, sendo seguido pelo BESA (47%) e pelo BNI (42%). Pela negativa, destaca-se o decréscimo no seu ROE operado pelo BFA, de 34% para 27%.

O ROE atingiu os 28,9%, em 2007 O spread de juros do sector registou uma ligeira subida, passando de 5,63% em 2006 para 5,88% em 2007. No sector bancário angolano, o BFA e o BAI são os bancos que apresentam o resultado antes de impostos (RAI)

mais elevado: USD 143 milhões e USD 114 milhões, respectivamente. A performance do BAI permitiria colocar este banco na 16ª posição do TOP 20 da África Subsariana, caso tivesse sido incluído no estudo anual promovido pela The Banker. No que toca à rentabilidade dos activos totais (ROA), os 5 maiores bancos angolanos apresentam rentabilidades entre os 1,7% e 3,7%, demonstrativa da maior rentabilidade do sector nacional, em comparação com os bancos subsarianos listados no ranking. EFICIÊNCIA Em 2007, o cost-to-income do sector (o rácio entre a soma dos gastos gerais administrativos mais amortizações do exercício sobre o produto bancário) apresentou uma melhoria face a 2006, diminuindo de 46% para 42%. Todavia, os valores destes rácios ainda se encontram distantes dos níveis de eficiência da banca internacional. A necessidade de reforço dos sistemas de controlo interno e análise de risco global das instituições de crédito, e o in-

TOP DOS 20 MAIORES BANCOS DA çFRICA SUB-SAHARIANA

ANO DE INêCIO DE ACTIVIDADE

fonte: the banker e relatório dos bancos de angola

fonte: bna e relatórios dos bancos

top 20 áfrica subsariana posição 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 1 12 n/a 13 14 n/a 15 n/a n/a n/a (...) 18 19 20

banco Standard Bank Group (Stanbank) Firstrand Banking Group Nedbank Investec Intercontinental Bank Pic Access Bank United Bank for Africa Zenith Bank Oceanic Bank First Bank of Nigeria Guaranty Trust bank Union Bank of Nigeria BAI Ecobank Transnational Mauritius Commercial Bank BFA Platinium-Habib Bank BPC BIC BESA African Bank Spring Bank IBTC Chartered Bank

vestimento essencial em canais alternativos ao tradicional front-office poderá, no curto prazo, vir a agravar este indicador. No que respeita a este indicador, o banco BAI assumiu a liderança do mercado, melhorando o seu grau de eficiência dos 40% para 27% em 2007, e apesar do esforço empreendido na expansão da sua rede de balcões. Em seguida figuram o BTA, o BNI e o BFA, com níveis de eficiência na ordem dos 29%, para o primeiro e de 31% para os últimos dois operadores citados. Analisando o rácio dos custos de transformação por balcão, registou-se, em 2007, a um aumento face ao ano anterior, passando o seu valor de 82 milhões de AKZ para os 88 milhões de AKZ. Simultaneamente, verificou-se um melhoramento do índice de produtividade (produto bancário sobre o número médio de empregados), o qual passou dos 10 milhões de AKZ para os 12 milhões de AKZ em 2007. Analisando o rácio cost-to-income do TOP 20 do The Banker relativo à África Subsariana, conclui-se que o nível de eficiência da banca angolana em termos consolidados é excelente. *tica de estabilização macroeconómica que tem sido seguida pelo Governo angolano.

usd’000’000 país África do Sul África do Sul África do Sul África do Sul Nigéria Nigéria Nigéria Nigéria Nigéria Nigéria Nigéria Nigéria Angola Togo Maurícias Angola Nigéria Angola Angola Angola África do Sul Nigéria Nigéria

activos 174.920 76.901 71.454 46.813 11.781 10.055 9.479 8.716 8.265 6.855 6.225 5.460 3.574 3.504 3.479 3.474 3.001 2.787 2.276 1.890 1.051 992 861

nota: o bda não foi sujeito a análise

banco

ano

Banco de Poupança e Crédito, S.A.R.L.

1976

Banco de Comércio e Indústria, S.A.R.L.

1991

Banco Totta de Angola, S.A.

1993

Banco de Fomento, S.A.R.L.

1993

Banco Africano de Investimentos, S.A.

1997

Banco Comercial Angolano, S.A.R.L.

1999

Banco Sol, S.A.R.L.

2001

Banco Espírito Santo Angola, S.A.R.L.

2002

Banco Regional do Keve, S.A.

2003

Novo Banco, S.A.

2004

Banco Bic, S.A.

2005

Banco Privado do Atlântico, S.A.

2006

Banco Millennium Angola, S.A.

2006

Banco de Negócios Internacional, S.A.

2006

Banco de Desenvolvimento de Angola

2007

Banco VTB - África, S.A.

2007

Banco Angolano de Negócios e Comércio, S.A.

2007

Finibanco Angola, S.A.

2008

sabia que... Tendo em conta a necessidade de se financiar projectos de desenvolvimento a médio e longo prazos, dois acontecimentos históricos económicos foram assinaláveis em 2007: o início das operações de financiamento do Banco de Desenvolvimento de Angola (BDA), constituído 100% por capitais do Estado, e o começo das actividades do VTB-África, uma instituição de capitais russos e angolanos, cuja missão é financiar grandes projectos, como a construção estradas, portos, aeroportos, barragens, caminhos de ferro, entre outras infra-estruturas

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pirâmide invertida

O sonho é da pirâmide social invertida, onde mais e mais pessoas tenham acesso a canais de crescimento e de qualidade de vida, para que possam promover o próprio sustento e dedicarem-se ao progresso das suas comunidades Como a Índia se tornou uma referência mundial no desenvolvimento de produtos e serviços para a população mais pobre INOVAÇÃO, COMPETIÇÃO E RIQUEZA Após dois anos de pesquisas e um investimento de 6,9 milhões de dólares, o Massachusetts Institute of Technology (MIT), celebrado centro de ensino e investigação norte-americano, desenvolveu a prótese de pé e tornozelo mais avançada do mundo. O modelo é equipado com um pequeno motor e sensores eletrónicos que, entre outros avanços, reproduzem de maneira espantosa o trabalho de músculos e tendões. “É uma simulação quase perfeita do andar humano”, afirma Hugh Herr, chefe do grupo de investigadores. “Não dá para notar se a pessoa que utiliza a prótese está a mancar.” O pé biónico do MIT deve chegar ao mercado até ao final deste ano, mas será acessível a poucos. Cada prótese custará cerca de 25 mil dólares, o que a torna uma possibilidade distante para 85% dos mais de 20 milhões de pessoas no mundo que sofreram amputação abaixo do joelho. A maioria dos mutilados vive em países pobres e perdeu parte dos membros inferiores em tragédias como guerras e doenças. Para eles, a melhor opção disponível no mercado é uma prótese desenvolvida

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por uma equipa de especialistas da cidade de Jaipur, na região noroeste da Índia. Feito de madeira, borracha vulcanizada e alumínio, o produto evidentemente não tem o mesmo aspecto moderno e os recursos do equipamento do MIT, mas funciona admiravelmente bem. O Jaipur Foot, como foi baptizado, permite que o usuário volte a andar, correr, conduzir, pedalar, subir árvores e levar uma vida sem as limitações de uma cadeira de rodas ou de um par de muletas. Além disso, tem a grande vantagem de custar apenas 40 dólares — o que significa que o dinheiro pago por uma prótese desenvolvida pelo MIT compraria 625 unidades do Jaipur Foot. “Este é um grande exemplo de como usar a criatividade para atender o mercado de baixa renda”, afirma o consultor indiano C.K. Prahalad, professor de economia da Universidade de Michigan, nos Estados Unidos, e autor do livro ‘A Riqueza na Base da Pirâmide’. Cerca de 90 mil unidades do Jaipur Foot são distribuídas actualmente por ano em países como o Afeganistão, Angola e Camboja. As primeiras unidades foram desenvolvidas em 1968 e até hoje, apesar das inúmeras tentativas de

concorrentes, ninguém conseguiu chegar a um produto com a mesma relação custo/benefício. A prótese surgiu de uma parceria entre dois indianos, o médico Pramod Karan Sethi e o artesão Ram Chandra. Os dois conheceramse nos anos 60 quando trabalhavam no Sawai Man Singh Hospital, em Jaipur. Na época, Sethi fazia parte de uma equipa que tentava desenvolver um modelo de prótese com materiais mais baratos, sem perda de resistência. Chandra entrou na história por acaso. Certa vez, ao levar o pneu da sua bicicleta para um conserto, prestou atenção na borracha vulcanizada utilizada para tapar o buraco. Saiu de lá com a impressão de que o material poderia ser útil aos colegas do hospital que pesquisavam a nova prótese. Sethi gostou da sugestão e os dois passaram a trabalhar juntos. Enquanto o médico construiu as articulações da prótese, o artesão encarregou-se de dar forma estética ao produto. O resultado foi a prótese adaptada às necessidades de moradores de países pobres — andar descalço, realizar trabalhos braçais, caminhar e correr sobre pisos molhados — e resistente para durar mais de cinco anos.


A Índia tornou-se o maior laboratório do mundo para o desenvolvimento de um conjunto de produtos e serviços presentes numa ampla galeria de inovações indianas destinadas a um público consumidor com pouco poder aquisitivo

EM PROL DOS MAIS NECESSITADOS A mais famosa das inovações indianas não tem fins lucrativos. O Jaipur Foot é distribuído gratuitamente pela ONG indiana Bhagwan Mahaveer Viklan Sahayata Samiti (BMVSS). A entidade foi criada pelo economista D.R. Mehta, que tomou contacto com o Jaipur Foot em circunstâncias trágicas. Em 1969, sofreu um grave acidente de carro e precisou de dois anos e meio de fisioterapia para não perder a perna esquerda. Durante esse período, Mehta acompanhou as agruras dos amputados que precisavam de uma prótese e acabou a conhecer o Jaipur Foot. “Era o único produto adaptado às necessidades dos indianos”, revela Mehta à revista Exame. Nessa época, porém, poucos tinham acesso ao invento. O hospital que o desenvolveu doava o produto, mas tinha capacidade de fabricar apenas 50 próteses por ano. Mehta criou, em 1975, a BMVSS com o objectivo de levar o Jaipur Foot a um número muito maior de pessoas. Ao longo de mais de três décadas de actuação, a ONG já forneceu cerca de 1,2 milhão de próteses a amputados de 25 países. Cerca de 40% do orçamento da BMVSS vem de repasses do Governo, outros 15% de doações particulares e o restante de empresas como a americana Dow Chemical. Mehta, hoje com 72 anos, continua na administração da BMVSS, sediada em Jaipur. Na véspera de completar 40 anos de existência, o Jaipur Foot continua a ser aperfeiçoado. Com a ajuda do Centro de Pesquisa Espacial da Índia, a borracha vulcanizada foi substituída por poliuretano (um polímero orgânico com textura semelhante à da borracha, mas muito mais leve) e no lugar das articulações de metal foi adoptado um material plástico igualmente articulado e resistente. De 850 gramas, o Jaipur Foot passou a pesar apenas 350 gramas. Mais recentemente, a Universidade Stanford, nos Estados Unidos, contribuiu para a BMVSS através da criação exclusiva para o produto de uma máquina de molde a vácuo de quatro mil dólares. O equipamento industrializa uma etapa que até hoje é feita manualmente, o que poderá aumentar de 100 para 1 500 o número de amputados atendidos diariamente pela ONG. O Jaipur Foot é uma tecnologia de domínio público, quem sabe quantos milhões de dólares ela não valeria se tivesse sido patenteada?

A ASCENSÃO DOS POBRES Esta prótese faz hoje parte de uma ampla galeria de inovações indianas destinadas a um público consumidor com pouco poder aquisitivo. Não é por acaso que o país se tornou o maior laboratório do mundo para o desenvolvimento desse tipo de produto e serviço. Segundo um estudo recente do Banco Mundial, o número de indianos abaixo do limiar mínimo de pobreza é de 456 milhões de pessoas (o equivalente a 35,5% da sua população). Esse contingente sobrevive com uma renda média até 40 dólares por mês. Considerando-se o restante da população, existem 390 milhões de habitantes com renda a rondar os 100 dólares por mês. “Esse é um imenso mercado consumidor que não pode ser ignorado”, diz Stuart Hart, professor de negócios globais sustentáveis da Universidade de Michigan. Para incluir essas pessoas no mercado de consumo, as empresas locais têm-se desdobrado. O Instituto de Ciências da Índia, em parceria com a British Petroleum, criou, em 2006, o fogão Oorja (que significa “energia” no idioma hindu). Tradicionalmente, as cozinhas indianas são equipadas com fogões que utilizam lenha ou querosene, combustíveis caros e que produzem muito fumo. O Oorja, além do preço atraente (17 dólares), elimina o

problema do fumo utilizando apenas gás de cozinha e biomassa. Desde o seu lançamento, o fogão flex já vendeu cinco mil unidades em distritos rurais. Em tese, são os mesmos consumidores da Bomba d’Água de Bambu. Feito, como o nome sugere, quase inteiramente de bambu, o equipamento custa 40 dólares e é desenvolvido para pequenos agricultores, que utilizam dois pedais para puxar água depositada até sete metros abaixo do solo. EXEMPLOS QUE TRIUNFAM Uma das grandes vantagens dos indianos na criação de produtos e serviços a preços mais acessíveis é a oferta de mão-de-obra barata no país, mesmo em sectores qualificados, como a medicina. Em diversas especialidades, os profissionais do país viraram sinónimo de qualidade e honorários baratos. Por causa disso, a Índia recebeu no ano passado mais de 450 mil turistas estrangeiros em busca de serviços médicos. Uma das áreas mais procuradas é a oftalmologia. Em todo o país, são realizadas 3,6 milhões de cirurgias nessa área por ano. Procedimentos como uma cirurgia às cataratas custam 45 dólares — 15 vezes menos que o valor cobrado, por exemplo, nos Estados Unidos. O mesmo princípio vale para as cirurgias cardíacas. Uma operação de ponte

Uma das grandes vantagens dos indianos é a oferta de mão-de-obra barata no país, mesmo em sectores qualificados, como a medicina

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ECONOMIA & NEGÓCIOS de safena na Índia custa sete mil dólares, contra os cem mil dólares num hospital americano. A tradição de boa qualidade de ensino no país também é uma vantagem no desenvolvimento de inovações. Centros de excelência, como as universidades da cidade de Bangalore, também conhecida como o Vale do Silício indiano, tornaram-se nos últimos anos grandes incubadoras de patentes. Uma das últimas criações surgidas por lá foi um telemóvel popular de 15 dólares. Desenvolvido pela empresa local Spice, deve chegar ao mercado até Dezembro. Para baixar o valor do produto, os engenheiros da Spice eliminaram o visor, a memória da agenda telefónica e outros recursos. “Vendemos apenas o telefone, nada mais”, diz Bhupendra Kumar Modi, presidente da Spice. “Continuamos a pesquisar para baixar o preço até 10 dólares num futuro próximo.” O potencial de vendas do produto é enorme. Do 1,1 biliões de indianos, estima-se que 870 milhões ainda não tenham um telemóvel.

‘O que falta às empresas e instituições financeiras é o ensino de como lidar com a chamada “base da pirâmide” económica e social’, C.K. Prahalad RIQUEZA NA BASE DA PIRÂMIDE Coimbatore Krishnao Prahalad, ou C.K. Prahalad como é conhecido, é um indiano de nascimento, naturalizado americano, físico por formação na Universidade de Madras (Chenai), que iniciou a sua carreira como gerente da Union Carbide. Para complementar os seus estudos formou-se PhD em Harvard, dedicando-se, desde então, à sua carreira académica, tanto na Índia, como nos Estados Unidos. Hoje é professor titular de Estratégia Corporativa do programa de MBA da Universidade de Michigan e também conselheiro do Governo indiano para o empreendedorismo. Sem dúvida que C.K. Prahalad é um dos maiores pensadores do mundo dos negócios, além de ser um dos mais influentes especialistas em estratégia empresarial da actualidade. Consagrado internacionalmente pela sua inestimável contribuição ao pensamento estratégico corporativo, é considerado um dos dez maiores especialistas em administração e negócios do mundo. Consultor e membro do conselho de administração de empresas de classe mundial, tem entre os seus clientes companhias como o Citigroup, Colgate Palmolive, Cargill, Motorola, Whirlpool, Oracle, Philips e Unilever. No seu livro - ‘A Riqueza na Base da Pirâmide’ - Prahalad demonstra um interesse profundo

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pelas camadas no estrato d que se encontram t t t mais baixo da sociedade, em função da sua experiência e conhecimento da Índia. País pelo qual viajou em função da sua consultoria e na busca de uma solução para a pobreza no mundo. C.K. Prahalad desafia a ordem económica ao propor a “base da pirâmide” como um mercado potencial para qualquer companhia explorar, defendendo a ideia de que: “A fonte real do mercado não são os consumidores médios ou emergentes que surgem no mundo, mas sim biliões de pobres que aspiram uma oportunidade de entrar num mercado do qual sempre ficaram à margem.” Para Prahlad o que falta às empresas e instituições financeiras é o ensino de como lidar com essa chamada “base da pirâmide” económica e so-

cial. Há no mundo quatro biliões de pessoas que vivem com cinco dólares por dia. Um terço dessa população sobrevive com menos de um dólar. Se as empresas, agindo em seu próprio interesse, melhorarem a vida dessas pessoas, segundo Prahalad, estarão a abrir um gigantesco mercado, ávido e capaz de consumir produtos e serviços criados sobre medida para essa parcela da humanidade. Para isso é preciso inovar, baixando custos e colocando na prateleira aquilo que é alcançável por quem está nesse estrato sócio-económico. No seu livro mais recente – O Futuro da Competição -, escrito em parceria com Venkat Ramaswamy Prahalad desafia a noção tradicional de valor e de criação de valor. Para ele as empresas não fazem o suficiente para aproveitar as oportunidades que surgem com a globalização. Neste novo mundo, o cliente é uma figura mais pró-activa, logo as regras do jogo mudaram: não basta apenas servir, é necessário criar um valor real para o consumidor. Pois o conceito de valor já é outro. Para isso, além de admitir limitações, é necessário sair do que eles chamam de “zona de conforto” para ingressar nas novas “zonas de oportunidades”.

exemplos de sucesso 1. Prótese Jaipur Foot Inventores – Ram Chandra Sharma e o médico Pramod Karan Sethi Características – A prótese é feita de borracha, montada numa base de madeira e alumínio Preço – 40 dólares 2. Fogão Flex Inventores – British Petroleum e Instituto de Ciências da Índia Características – A sua base é feita de cerâmica e funciona tanto a gás, como com biomassa Preço – 17 dólares 3. Bomba d’água de Bambu Inventores - Gunnar Barnes de Rangpur e Dinapjur Rural Service Características – Ao invés de um motor, o equipamento vem com dois pedais acoplados para o próprio agricultor fazer a força necessária para bombear a água Preço - 40 dólares


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os gigantes também caem? O Japão é um país pouco dotado de recursos naturais e que sustenta uma população de mais de 120 milhões de habitantes numa área relativamente pequena

A economia do Japão é um florescente complexo de indústria, comércio, finanças, agricultura e todos os outros elementos de uma estrutura económica moderna. O país encontra-se num avançado estágio de industrialização, suprida por um poderoso fluxo de informação e uma rede de transportes altamente desenvolvida. Um dos seus traços é a importante contribuição da indústria e da prestação de serviços, tais como o transporte, do comércio grossista e retalhista e dos bancos ao produto interno líquido do país, no qual os sectores primários, como a agricultura e a pesca, têm hoje em dia uma quota menor. Outro dado relevante é a importância relativa do comércio internacional na economia japonesa. O Japão é um país pouco dotado de recursos naturais e que sustenta uma população de mais de 120 milhões de habitantes numa área relativamente pequena. Contudo, apesar dessas condições restritivas e da devastação do seu parque industrial durante a II Guerra Mundial, o país conseguiu não apenas reconstruir a sua economia, mas também tornar-se uma das principais nações industrializadas do mundo. Ao mesmo tempo, o processo de rápida expansão industrial, junto com as mudanças nas condições económicas japonesas e internacionais ocorridas nos últimos anos, criaram vários problemas económicos que o país enfrenta hoje em dia.

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DIAS NEGROS Lamentamos profundamente. A frase, proferida pelo presidente da Yamato Life Insurance Co., Takeo Nakazono, antes de fazer uma longa reverência diante das câmaras de televisão, tratava-se do anúncio, à boa maneira oriental, da primeira quebra de uma instituição financeira japonesa esmagada pela crise mundial de crédito. A maior parte dos bancos e instituições financeiras no Japão evitou prejuízos mais graves até ao momento, situação diferente dos seus pares americanos e europeus. A Yamato, uma seguradora de porte médio e de capital fechado, com aproximadamente 1000 empregados e 1 trilião de ienes (US$ 10 biliões) em apólices individuais de seguros parece ser um caso atípico. Nakazono divulgou que o rombo da seguradora é de 11 triliões de ienes (US$ 111 biliões) devido a uma descida rápida e drástica nos preços mundiais de acções provocada pela crise, cuja alavanca foram as hipotecas de alto risco nos EUA. A empresa vinha activamente a procurar retornos de investimentos para cobrir altos custos operacionais, alocando uma proporção relativamente alta dos seus investimentos em activos alternativos, incluindo fundos de hedge. A maior parte dos 170 mil contratos individuais da Yamato serão protegidos pela Life Insurance Corporation do Japão, mas o dinheiro assegurado e os benefícios podem ser cortados, informou um porta-voz da Yamato. Ministros japoneses e participantes do mercado disseram que a Yamato, que procurou investimentos de alto risco, não é uma empresa típica do sector de seguros do Japão e que o colapso da companhia não significa que outras instituições financeiras terão o mesmo destino. A quebra da Yamato ocorreu a meio de uma forte desvalorização da bolsa de Tóquio. O pânico dos investidores estrangeiros em fuga fez com que esta registasse a maior queda percentual num único dia. O índice Nikkei, que agrupa, sobretudo, papéis da indústria eletrónica, desceu 9,62%, para fechar no nível mais baixo dos últimos cinco anos. Este pânico foi também fortemente influenciado pela bancarrota do primeiro fundo fiduciário imobiliário do país cotado na bolsa, o New City Residence Investment.

A participação directa do Estado nas actividades económicas é limitada, embora o controlo oficial e a sua influência sobre as empresas seja maior e mais intenso que na maioria dos países com economia de mercado


INTERVENÇÃO DO ESTADO NA ECONOMIA O Japão tem uma economia próspera e bem desenvolvida, baseada principalmente em produtos industriais e serviços. No entanto, o seu sistema de gestão apresenta características muito peculiares. Ainda que a participação directa do Estado nas actividades económicas seja limitada, o controlo oficial e a sua influência sobre as empresas é maior e mais intenso que na maioria dos países com economia de mercado. Esse controlo não se exerce por meio de legislação ou acção administrativa, mas pela orientação constante do sector privado e pela intervenção indirecta nas actividades bancárias. Existem, também, várias agências e departamentos estatais relacionados com diversos aspectos da economia, como exportações, importações, investimentos e preços, assim como desenvolvimento económico. O objectivo dos organismos administrativos é interpretar todos os indicadores económicos e responder imediatamente e com eficácia às mudanças conjunturais. A mais importante dessas instituições é a Agência de Planeamento Económico, submetida ao controlo directo do primeiro-ministro, que tem a importante missão de dirigir dia-a-dia o curso da economia nacional e o planeamento a longo prazo. De maneira geral, esse sistema funciona satisfatoriamente e sem crises nas relações entre Governo e empresas, devido à excepcional autodisciplina dos empregados japoneses em relação às autoridades e ao profundo conhecimento do governo sobre as funções, necessidades e problemas dos negócios. O ministro da Finanças e o Banco do Japão exercem considerável influência nas decisões sobre investimentos de capital, devido à estreita interdependência entre as empresas, os bancos comerciais e o banco central. As Ferrovias Nacionais Japonesas são a única empresa estatal.

O grau de dependência entre o Banco do Japão, os bancos comerciais e a indústria é muito superior em relação aos demais países industrializados FINANÇAS O sistema financeiro japonês apresenta algumas peculiaridades se comparado a outros países desenvolvidos. Em primeiro lugar, o crédito bancário desempenha um papel primordial na acumulação de bens de capital. Em segundo lugar, o grau de dependência entre o banco central (Banco do Japão, criado em 1882), os bancos comerciais e a indústria

EM ANÁLISE O PIB (Produto Interno Bruto) do Japão recuou, no último trimestre do ano passado, 12,7%, sendo esta a maior queda percentual do PIB dos últimos 35 anos. Este é o resultado da pior crise vivida no país desde o fim da II Guerra Mundial (1939-1945), facto que coloca a segunda maior economia do mundo --atrás apenas dos Estados Unidos-- num cenário de grave recessão. Durante todo o ano de 2008, a economia japonesa caiu 0,7%, pela primeira vez em nove anos. Actualmente o país está aplicar um novo pacote de estímulo económico para combater a crise. Uma ajuda que pode chegar a US$ 109 biliões. As medidas iniciadas pelo Governo prevêem o financiamento de grandes projectos públicos, como a reconstrução de aeroportos e outras obras de infraestrutura, ao mesmo tempo que estimula o desenvolvimento de empresas com projectos ecologicamente sustentáveis. Segundo vários analistas, a recuperação da economia japonesa só chegará no último trimestre deste ano, altura em que estima um crescimento de 0,97% após seis trimestres consecutivos de contracção. A pior recessão no Japão durou 36 meses, no início dos anos 80, quando a economia do país foi atingida pelas consequências dos choques do petróleo

é muito superior em relação aos demais países industrializados. Tóquio é um dos mais importantes centros financeiros do mundo e o seu mercado de acções equipara-se aos de Londres e Nova Iorque.

principalmente ao rápido crescimento dos investimentos, à concentração da indústria em grandes empresas e à cooperação entre Governo e empresários. A sólida posição industrial do Japão, tanto em qualidade, como em

INDÚSTRIA A característica mais notável do crescimento económico do Japão após a II Guerra Mundial foi a rápida industrialização. O “milagre económico” japonês ficou patente tanto no crescimento quantitativo, como na qualidade e variedade dos produtos e no alto nível tecnológico. O país alcançou, com os Estados Unidos, a liderança da produção em quase todos os sectores industriais. Uma das nações mais industrializadas do mundo, é também um dos maiores produtores de navios, automóveis, fibras e resinas sintéticas, papel, cimento e aço, além de produtos eletrónicos de alta precisão e equipamentos de telecomunicações. O crescimento económico atribui-se

preços, tem permitido ao país exportar grande parte dos seus produtos manufacturados e equilibrar a balança comercial. Por outro lado, a expansão internacional das empresas permitiu a ampliação do mercado nos países consumidores de produtos japoneses, por meio da construção ou compra de fábricas, ou por associação com produtores desses países. Essa estratégia observa-se claramente no sector automóvel: as principais empresas japonesas estabeleceram parcerias com grupos noutros países. TRANSPORTES Até ao fim do século XIX, a maior parte dos japoneses viajava a pé. A primeira ferrovia foi ECONOMIA & NEGÓCIOS · ANGOLA’IN

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Uma das nações mais industrializadas do mundo, é também um dos maiores produtores de navios, automóveis, fibras e resinas sintéticas, papel, cimento e aço, além de produtos eletrónicos de alta precisão e equipamentos de telecomunicações construída em 1872, entre Tóquio e Yokohama. Na segunda metade do século XX, estabeleceram-se no Japão as ferrovias mais rápidas e automatizadas do mundo e a quantidade de veículos e camiões cresceu exponencialmente. A rede de comunicações e os correios são de primeira qualidade. O país possui uma das principais frotas mercantes do mundo e as suas linhas aéreas chegam a todos os grandes aeroportos internacionais. As zonas industriais -- Tóquio, a área metropolitana de Osaka (que inclui Osaka, Kobe e Kyoto) e a de Nagoya -- apresentam excelente rede de transporte. Os principais portos são Yokohama, Kobe, Nagoya, Kawasaki, Chiba, Kita-Kyushu, Mizushima e Sakai. NOVAS ELEIÇÕES A recente dissolução do parlamento japonês, Dieta, e a convocação de novas eleições vão modificar as relações de forças políticas na Câmara Baixa no Japão. Afectado pelas disputas políticas nacionais e pelos problemas económicos internacionais, o último Governo termina antes de completar um ano. As dificuldades que se apresentaram ao longo desse período de governação, frustraram as expectativas de que esse governo japonês pudesse ter boas realizações. Havia expectativas optimistas em relação ao mandato de Aso, pois era tido como um líder carismático e de opinião própria, características que o aproximava do perfil de Junichiro Koizumi, que permaneceu no cargo de primeiro-ministro por um período longo - Abril de 2001 a Setembro de 2006 - e conseguiu bons resultados económicos. Os objectivos imediatos do primeiro-ministro Aso era a recuperação da dinâmica económica do país e, com isso, buscar a revitalização do partido que já apresentava popularidade decrescente. No entanto, sabia-se que não seriam tarefas fáceis, pois o seu partido (PLD) havia perdido a maioria na Câmara Alta em 2007, ainda na gestão de Shinzo Abe, sucessor de Koizumi. Essa realidade tornara muito difícil a aprovação de medidas pelo Governo, enfraquecendo a capacidade de gestão de Aso. Em 2008, foi a crise económica internacional, que teve o pedido de concordata pelo quarto maior banco de investimentos dos Estados Unidos, Lehman Brothers, em meados de Setembro como um dos seus ícones, que atingindo de maneira direc-

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ta a economia japonesa aprofundou as dificuldades para o governo de Aso. O PIB real do Japão contraiu -3,6% no último trimestre de 2008 e -3,8% no primeiro trimestre de 2009, o que em termos anuais, comparando com os mesmos períodos do ano anterior, reduziram respectivamente -13,5% e -14,2%. As exportações também foram afectadas. De acordo com os dados da Japan External Trade Organization, a queda no primeiro trimestre 2009 foi de –38,7%, comparadas com o período homólogo. Esses factos antecederam o início do Governo, mas o primeiro-ministro Aso também contribui para o seu enfraquecimento. Em razão dos fracos resultados económicos, no início de 2009, a popularidade de Aso estava ao redor de 10%. E o episódio de embriaguês do Ministro das Finanças, Shoichi Nakagawa, durante uma apresentação na entrevista colectiva do G-7, realizada em Roma em Fevereiro, contribuiu para deteriorar a imagem do gabinete. Desde a ascensão de Aso ao cargo, a oposição reivindicava a dissolução da Câmara Baixa e a convocação de eleições, por causa da fraqueza do Governo e da baixa popularidade. A esperança de Aso era de que as medidas económicas pudessem surtir efeito e fortalecer a sua posição para somente então convocar novas eleições. O facto é que o Japão continuou a viver dificuldades económicas e a baixa popularidade fortaleceu as pressões dentro do PLD para que este deixasse o cargo. Actualmente, o partido está diante de um grande desafio, que é conseguir manter a sua representação na próxima eleição. Em Julho, de acordo com a pesquisa do jornal Asahi Shimbun antes do anúncio da dissolução da Câmara, o apoio da população ao PLD era de cerca de 20% e, de acordo com o mesmo estudo, a expectativa já era de que o Partido Democrático do Japão iria aumentar a participação na Câmara. A investigação realizada pelo jornal Mainichi Shimbun, confirmou essa posição da população ao apresentar que 56% da opinião pública japonesa deseja que o Partido Democrático do Japão (PDJ) vença as próximas eleições. E, caso

ocorra, a mudança na relação de forças políticas no Japão, desta vez, pode ser mais duradoura do que aconteceu no inicio da década de 1990, quando a oposição chegou ao poder como Morihiro Hosokawa pelo Novo Partido do Japão. O novo governo poderá ser beneficiado pela melhoria da economia internacional, cujos resultados positivos começam a surgir e poderão influenciar positivamente a situação no Japão. E possíveis bons resultados podem dar maior popularidade ao novo ministro que será eleito em Setembro. Caso o PDJ conquiste uma maioria que permita eleger o primeiro-ministro, terá também como ponto favorável a governabilidade derivada do facto de já possuir, juntamente com partidos da sua coligação, 118 cadeiras, entre as 242 da Câmara Alta. Não é uma maioria absoluta, mas é uma representação bem mais confortável que a do PLD com 81 assentos. Esses factos podem contribuir para o início de um novo período na política japonesa. A possibilidade da oposição chegar ao comando do poder político do Japão é real, conforme mostram as pesquisas já mencionadas. Entretanto, a sua capacidade de se manter como governo ainda é incerta. Alguns fatores que contribuem para esse cepticismo são: a) a identificação do PDJ como principal partido de oposição é discutível, uma vez que a sua liderança é formada por dissidentes do PLD. Yukio Hatoyama, o actual presidente foi membro do PLD até 1993; b) o próprio PDJ foi recentemente atingido por escândalos. O presidente do partido até Maio deste ano, Ichiro Ozawa, que foi secretário geral do PLD em 1989, renunciou por causa de denúncias que o acusavem de receber doações ilegais e que envolviam o seu secretário; c) não deverão ocorrer grandes mudanças. Os actuais líderes do PDJ além de serem dissidentes do PLD, não apresentaram até ao momento propostas inéditas para o país. Isso poderá fazer com que a população frustre as suas expectativas de transformação. O quadro da política japonesa é, portanto, de expectativas. Devemos provavelmente ver mudanças de nomes, de lideranças no governo, no entanto, reais transformações políticas não serão factos consumados mesmo com uma possível vitória da oposição.


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o desafio da liquidez No início de 2008, os empréstimos empresariais dirigiam-se para um ano recorde. Mas entretanto o mercado parou. Consegue explicar porquê? ‘Uma crise de liquidez pode ser actualmente uma via muito mais rápida para a morte do que os desafios operacionais’ Os economistas podem falar sobre se esta crise se compara à crise do início dos anos 80 do século XX, mas, em Dezembro de 2008, o preço do risco do crédito empresarial chegou ao nível mais alto desde a Grande Depressão, como relata a história. Razão pela qual, uma crise de liquidez pode ser actualmente uma via muito mais rápida para a morte do que os desafios operacionais. E muitas das empresas modernas enfrentam ambos os problemas. Com os preços das acções a atingirem mínimos e o apetite pelo risco a arruinar o mercado de capitais, onde podem as empresas satisfazer as suas necessidades de capital? Para um futuro imediato e previsível, terão de se virar para si próprias. A importância da força financeira e da liquidez estratégica nos mercados de hoje não pode ser exagerada. Esta proporciona uma força que impulsiona o valor da empresa e ajuda a manter as operações, a aumentar o poder de negociação, a melhorar a posição competitiva e a apoiar o investimento durante épocas mais turbulentas. Tudo isto sugere alguns imperativos financeiros novos:

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• Implementar um programa melhor de gestão de risco financeiro As empresas não conseguem lidar com a volatilidade da fluidez do dinheiro imposta pelas matérias-primas, pelas divisas e pelas flutuações nas taxas de juro. Mas poucas empresas dedicaram atenção suficiente a quantificar, analisar e gerir a sua exposição líquida. Muitos gestores financeiros não compreendem totalmente as suas exposições, acreditam que já estão naturalmente precavidas, acham que a precaução é demasiado dispendiosa ou relegam a precaução para o mundo da “engenharia financeira”. Isso tem de mudar. • Desenvolver ou comprar liquidez estratégica Relacionado com a gestão de risco está a concepção de uma estrutura de capital. Durante anos, as empresas com boas classificações de crédito e com grandes quantidades de capital eram alvos preferenciais de banqueiros de investimento que defendiam os programas de reaquisição de acções e de aumento de dívidas. Mas agora o capital é um bem estratégico. As empresas líderes de mercado estão a reter o capital, a vender bens inactivos e a cortar nos créditos bancários. Estão a explorar outros veículos para uma liquidez secundária: linhas de crédito de apoio, financiamentos, vendas “leaseback” (vendas seguidas de locação) e mais contractos flexíveis de compras e outsourcing. As empresas estão a inverter a tendência dos programas de compras para programas e dividendos de reaquisições. Também há um aumento nos métodos criativos para reduzir a pressão e aumentar a força financeira. • Gerir o portefólio empresarial pelo valor e não pelo desempenho Quando avaliam as unidades de negócio, a maioria das empresas ainda confia nas métricas tradicionais de desempenho financeiro, como as margens, as receitas de operação e o retorno do capital investido. Presume-se que estes são os parâmetros do valor. Mas, na verdade, este desempenho já se reflecte nos valores de mercado dos bens e estas métricas são inapropriadas para as decisões relacionadas com o portefólio. Em vez disso, devem tomar decisões com base


no valor das receitas esperadas (fluxos de fundo reduzidos ou FFR) contra o valor que obteriam se eliminassem a unidade. A abordagem convencional de vender “cães” (unidades que crescem pouco e têm poucos retornos) e de adquirir “estrelas” (unidades que crescem muito e rendem muito) pode ser a estratégia mais dispendiosa, principalmente em época de crise. Mantenham os bens, em vez disso, quando acreditam que o FFR é maior do que os resultados líquidos de uma venda. • Controlar as fontes de valor Hoje em dia, mais do que nunca, as estratégias falham na altura da execução e não por causa da visão. A execução da qualidade exige que inúmeras decisões económicas e com base nos valores sejam tomadas em todos os níveis da empresa – incluindo integrações, disposições, encerramentos, outsourcing, promoções, alterações nos preços e proposições de valor. Estas decisões dependem de uma base abrangente de factores económicos, mas a maior parte dos sistemas de informação permanece concentrada na entrega de dados para as necessidades das entidades legais. Se um painel significativo de clientes, produtos e unidades em stock permanece um sonho por realizar na sua empresa, está na hora de acordar e começar a usá-lo. • Mover na direcção do crescimento, principalmente em mercados emergentes Os lucros empresariais tornaram-se cada vez mais dependentes da procura externa, com os lucros internacionais a serem actualmente responsáveis por quase um terço dos lucros empresariais. A sua estratégia global deve ter como base capacidades distintas desenvolvidas deliberadamente: através de esforços internos orgânicos, de aquisições escolhidas para as capacidades que serão obtidas através delas ou de acordos de colaboração. • Avaliar as defesas contra aquisições. Os preços das acções actuais criam uma janela de oportunidade para os compradores Isso faz com que os executivos se assegurem de que têm o tempo necessário para conceber e executar uma resposta a um pedido de aquisição. Uma auditoria às defesas cobre quatro tópicos básicos: estado geral e leis de aquisições empresariais, estrutura das políticas e da administração da empresa, processos de votação dos accionistas e preparação para uma aquisição (incluindo estratégias para evitar aquisições indesejadas) dentro das estruturas de gestão da empresa.

Com os preços das acções a atingirem mínimos e o apetite pelo risco a arruinar o mercado de capitais, onde podem as empresas satisfazer as suas necessidades de capital?

COMPREENDER O FENÓMENO Actualmente é cada vez mais importante compreender a definição de “crise de liquidez”. Senão vejamos, a tarefa clássica dos bancos é atrair depósitos e fazer empréstimos, que diferem numa característica fundamental - a duração ou maturidade. Num depósito à ordem, eu empresto ao banco a curto prazo, podendo levantar o dinheiro a qualquer momento, mas quando o banco me empresta dinheiro para eu comprar, por exemplo, uma casa, só vai receber a 30 anos. O banco consegue transformar curto em longo pazo aproveitando-se de duas regularidades estatísticas. Primeiro, por cada levantamento costuma haver um novo depósito. Mesmo que eu deposite 100 euros hoje e os levante amanhã para pagar uns sapatos, o dono da sapataria vai depositar esses 100 euros amanhã no banco, para por sua vez pagar ao fornecedor que os volta a depositar, e por aí adiante. Por isso, embora cada depósito individual seja a curto prazo, a sua sucessão permite um financiamento regular. Segundo, só uma percentagem pequena dos depósitos é levantada cada dia, pelo que basta ao banco guardar em caixa essa percentagem para satisfazer as suas obrigações. O restante pode ser emprestado. O risco é que estas regularidades falhem. Imagine que circula um rumor

que o banco vai falir. Então, vou correr para o balcão para tentar ser o primeiro a levantar o meu depósito enquanto há dinheiro em caixa e guardo-o fora do sistema bancário. A primeira regularidade falha, pois o dinheiro que sai não volta a entrar nos bancos. Porque todos pensam o mesmo e correm para o banco para fechar as suas contas, a segunda regularidade também falha. Ocorre uma crise de liquidez e, sem nenhuma intervenção, o banco vai a falência. Os bancos centrais tentam evitar estas crises, emprestando dinheiro aos bancos a curto prazo (“injectando liquidez”) na esperança que entretanto as pessoas se acalmem. Viremo-nos agora para a crise recente nos mercados financeiros. Nos últimos 20 anos, tornou-se comum reunir e vender carteiras com muitas hipotecas, conferindo direito ao seu fluxo de pagamentos (MBS para ‘mortgage-backed securities’). Tornou-se também comum comprar várias MBS ou outros activos como obrigações e créditos a empresas, rearranjar os seus componentes em diferentes pacotes e revendê-los como novos títulos (CDO ou ‘collateralized debt obligations’). O risco destes pacotes era avaliado por ‘rating agencies’ e transaccionados num mercado normalmente muito activo. Durante Julho, descobriu-se que algumas hipotecas de alto

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risco estavam a dar prejuízo, pelo que as suas MBS caíram em valor. Algumas empresas neste (pequeno) mercado faliram, mas havia muitos mais investidores com CDO suportados pelas MBS. Muitos, sobretudo ‘hedge funds’, investiam com dinheiro emprestado dando CDO como garantia. Porque a garantia desceu de valor, eles tentaram vender os CDO, mas porque toda a gente os queria vender e quase ninguém os queria comprar, o mercado dos CDO praticamente fechou. Por sua vez, dentro dos bancos existem fundos (SIV para ‘structured investment vehicles’) que vendem CDO a curto prazo e investem a longo prazo. Quando o mercado de CDO fechou, correram para a casa-mãe para se refinanciarem. Foi como se milhares de depositantes aparecessem à porta, gerando a crise de liquidez e a intervenção dos bancos centrais que saltou para as notícias. Os principais SIV com problemas eram alemães, pelo que a intervenção do BCE foi enorme, mas é nos EUA que estão muitos dos investidores apoiados em CDO. O desafio para a Reserva Federal é por isso enorme. Por um lado, a macroeconomia sugere uma manutenção das taxas de juro. Por outro lado, os mercados financeiros esperam que as taxas caiam 0,5% para restabelecer a calma e reactivar o mercado dos CDO. Manter as taxas pode levar a falências em catadupa e causar uma crise financeira; descê-las deve aquecer a economia e gerar inflação.

As empresas não conseguem lidar com a volatilidade da fluidez do dinheiro imposta pelas matérias-primas TURBULÊNCIA DOS MERCADOS O mercado internacional passa pelo maior desafio das últimas décadas, com perspectiva de uma recessão prolongada em boa parte do mundo, temor quanto à saúde das instituições financeiras e forte queda nas bolsas. Neste contexto pouco animador, um dos principais elementos é a crise de liquidez que assola o mercado. Mas você sabe exactamente o que isso significa? Antes de aprofundar este conceito, é importante conhecer um pouco melhor qual o papel das instituições financeiras, pois é na percepção da fragilidade destas que reside boa parte do problema actual.

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INTERMEDIAÇÃO FINANCEIRA Em poucas palavras, os bancos são responsáveis pela intermediação financeira dentro do mercado financeiro moderno. Isso significa que são os bancos que captam recursos junto a uma parte do mercado (poupadores) e repassam este dinheiro a quem necessita destes recursos (tomadores). Sempre que você deixa o seu dinheiro na conta corrente ou investe num CDB de banco, você está suprindo a instituição com recursos. Após captar o seu dinheiro (e de todos os outros poupadores que são seus clientes), a tarefa do banco é repassar estes recursos para os tomadores, que podem ser pessoas físicas, empresas, governos ou outros bancos, a uma taxa de juro superior àquela na qual foi feita a captação. Portanto, de forma simplificada, fica claro o papel central do sistema financeiro: fazer com que o dinheiro circule na economia. FLUXO INTERROMPIDO A crise de liquidez ocorre quando este fluxo de circulação dos recursos na economia é interrompido ou severamente reduzido. Num ambiente conturbado como o actual, muitos bancos mostram-se receosos em repassar os recursos, temendo que o tomador não tenha condições de repagar a dívida. Caso o tomador seja uma pessoa física, isso significa que ele pode não ter recursos para consumir ou pagar o seu endividamento. Para as empresas, uma redução do fluxo pode reduzir o seu capital de gestão, comprimir os seus investimentos ou criar problemas na hora de pagar outras dívidas já existentes. Mas o que acontece quando o tomador é outro banco?

BANCOS E BANCOS A resposta depende muito da situação e condição de cada banco. Por exemplo, os bancos comerciais, que possuem forte actividade junto do sector retalhista têm como fonte principal de captação pessoas físicas e empresas, sem precisar de recorrer a outros bancos para obter recursos. Numa situação como a actual, eles acabam a sofrer menos, pois boa parte da sua captação não é afectada. Mas, para os bancos que não têm uma base de captação junto ao retalho, como os chamados bancos de investimento, a situação pode ser muito diferente. Essas instituições não têm uma base de captação de recursos diversificada, dependendo de recursos de grandes clientes ou mesmo de outros bancos, no que é chamado de mercado interbancário. Em situações onde existe temor em relação à saúde de algumas instituições financeiras, os bancos que têm recursos a seu dispor reduzem ou interrompem o fluxo para bancos vistos como potenciais problemas. Foi exactamente o que aconteceu com o banco de investimentos norte-americano Lehman Brothers, que foi à falência após ter as suas linhas de crédito (boa parte das quais provenientes de outras instituições financeiras) cortadas, de forma que não teve mais condições de cumprir com as suas obrigações. Portanto, em cenários como este a desconfiança acaba a tornar-se um facto: se um banco é visto como potencial problema, o crédito (principalmente de grandes clientes e outros bancos) é rapidamente cortado ou reduzido e a questão foge do controlo.


TAXAS INTERBANCÁRIAS E A CRISE DE LIQUIDEZ E como saber se existe uma crise de liquidez? Simples! Basta analisar as taxas de juros cobradas no mercado interbancário, ou seja, nas transacções entre bancos. Actualmente as taxas encontram-se em patamares historicamente elevados, evidenciando que os recursos disponíveis para instituições financeiras, estejam elas com problemas ou não, são escassos. Esta crise de liquidez, que pode ser traduzida como falta de recursos disponíveis no sistema, explica muito do que tem ocorrido no mercado actualmente. A crise de liquidez também contribui para a queda da bolsa de valores, na medida em que diminui a quantidade de recursos disponíveis para comprar acções e também acaba reduzindo as opções daqueles que necessitam de recursos, mas têm açcões em carteira. Esta é a situação, por exemplo, de investidores como os hedge funds, que tomam dinheiro emprestado para investir. Com o crédito mais caro ou mesmo interrompido, a única opção disponível é gerar caixa através da venda de activos, no caso as acções em seu poder. Portanto, mesmo com preços baixos não resta outra opção. ANGOLA A RAIO-X A auditora e consultora KPMG Angola alertou, recentemente, as instituições que operam no

mercado angolano para os “perigos” das estratégias exclusivamente orientadas para o crescimento. “A crise que se vive actualmente nos mercados financeiros internacionais deverá servir de alerta para as instituições que actuam no mercado angolano relativamente aos perigos que se escondem por detrás de estratégias exclusivamente orientadas para o crescimento”, frisa a KPMG, no relatório “Desafios da gestão de risco em Angola”. A consultoria reconhece que “a conjuntura de paz e estabilidade social e política que se vive em Angola vem criar as condições necessárias para a continuação ou mesmo aceleração do esforço de reconstrução e modernização do país, não sendo difícil perspectivar o crescimento da economia como um processo irreversível”. “A rapidez e a magnitude das transformações que estão a acontecer no país irão traduzirse no aumento das necessidades da sociedade e do tecido empresarial angolano e na elevação do seu nível de exigência e sofisticação, tornando imprescindível a existência de um sector financeiro competitivo e preparado para responder às solicitações cada vez mais complexas dos seus clientes”, aponta o relatório. A KPMG considera que o mercado financeiro angolano enfrenta dois grandes desafios: “potencializar o seu crescimento, tirando partido das oportunidades oferecidas pelo dinamismo da economia”, e “conseguir

gerir de forma eficiente os riscos subjacentes a um processo de transformação acelerado”. No texto, a consultoria define como “crucial a convergência de esforços entre as entidades governamentais, órgãos de regulação e os próprios agentes que operam no mercado, no sentido de dotar o país das infra-estruturas e dos instrumentos indispensáveis à modernização do sector financeiro”. Contudo, o documento frisa que “a ausência de instrumentos modernos de mitigação de risco de crédito, de mercado, operacional e de liquidez, poderá constituir um sério obstáculo ao crescimento da área”. “Os problemas relacionados com o registo de propriedade e a protecção jurídica dos direitos dos credores têm contribuído para limitar a utilização de garantias como instrumento essencial de mitigação do risco”, acrescenta. A consultoria exalta a anunciada abertura, em curto prazo, do mercado angolano de capitais, mas afirma que a dualidade de moeda que caracteriza o sistema financeiro angolano “expõe as instituições financeiras às flutuações do dólar norte-americano, implicando a necessidade de adopção de mecanismos eficazes de gestão de risco cambial”. Por fim, o estudo diz que “as deficiências ao nível das infra-estruturas continua expondo as instituições a quebras de serviço originadas por falhas no fornecimento de energia, problemas no sistema de informática e de comunicação, ou falta de água”.

A ausência de instrumentos modernos de mitigação de risco de crédito, de mercado, operacional e de liquidez, poderá constituir um sério obstáculo ao crescimento da área financeira Hoje em dia, mais do que nunca, as estratégias falham na altura da execução e não por causa da falta de visão

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| manuela bártolo

comunicar com êxito PESSOAS REAIS Uma velha e sábia frase diz que o homem não é uma ilha. Metaforicamente, defende a ideia de que ninguém vive isolado. No mundo contemporâneo, ir contra essa realidade é quase uma missão impossível: mais de seis biliões de pessoas povoam a Terra e as formas de se comunicar são incontáveis. A básica, e acredito que a mais utilizada, é a fala. Aliás, esta deve ser também a mais antiga. Se os documentários da BBC estiverem correctos, desde os primórdios que os nossos antepassados se comunicavam através de grunhidos, que em todo caso são sons que provêm da boca, logo, se não forem, podem ser equiparados à fala. Falar é bom, porém exige um certo treino, isto porque actualmente o exercício deste acto se desmembra em vários meios de comunicação, como o telefone, por exemplo. Este aparelho tem favorecido ao longo das últimas décadas a comunicação, permitindo ter a reacção do interlocutor em tempo real, facto que lentamente produziu uma transformação no mundo. A escrita é também uma forma de comunicação por excelência. Nela a comunicação flui plenamente e aspectos subjectivos, como a voz desagradável ou os problemas de dicção, se esvaem. Paralelamente, exige-se mais

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do conhecimento do que da habilidade de se comunicar e é aí que vejo a grande vantagem da escrita: expõe, de forma crua, as reais capacidades intelectuais de cada um. Evidente que não se pode determinar o potencial das pessoas simplesmente com base na sua capacidade de escrita, mas que este é um bom ponto de partida para tal isso é. Fora as vantagens já mencionadas, na escrita tem-se toda a calma do mundo para pensar, repensar, retificar erros, enfim, fazer uma análise crítica e rígida sobre o que se deseja transmitir aos demais. As possibilidades de erros e gafes caem drasticamente (embora ainda existam). Comunicar é, por isso, uma actividade que todos nós fazemos, todos os dias, mas que ainda assim, merece atenção especial. O que é, em regra, simples, pode vir a ser uma arte - a arte de se comunicar. Quem não fica fascinado com um palestrante que consegue envolver a plateia e passar, de maneira leve e quase subliminar, a sua mensagem? Ou então, quem não fica espantado com uma declaração, vinda de quem menos se espera, e de maneira tão bem arranjada que chega a ser desconcertante? São inúmeras as possibilidades, e elas só existem, felizmente, porque o homem não é uma ilha.

Comunicar é uma actividade que todos nós fazemos, todos os dias, mas que ainda assim, merece especial atenção. O que é, em regra, simples, pode vir a ser uma arte - a arte de se comunicar. E a Nokia sabe-o bem MENTES SEM FRONTEIRAS Como vimos, a comunicação está intimamente associada ao ser humano, seja ela no modo visual, verbal ou corporal. Entretanto, existe uma forma de linguagem que está em ascensão nos dias actuais – a publicidade que permite a propagação de princípios, ideias, conhecimentos ou teorias; ela é a arte e técnica de planear, conceber, criar, executar e veicular mensagens geralmente de caráter informativo e persuasivo, por parte da marca identificada. Compreendo que esse género não tem apenas como objectivo a venda dos seus produtos, visa também a venda de comportamentos, de qualidade de vida que, na maioria das vezes, fica implícita, mas que tem valor igual ou superior à estratégia de venda dos produtos. Com as práticas de persuasão po-


Jorma Ollila

tencializadas nos últimos anos, a publicidade alcançou um nível elevado de refinação na sociedade de massas do século XX e tornou-se uma arma poderosa. Hoje ela protagoniza a mobilização de forças físicas, intelectuais ou morais, para vencer uma resistência ou dificuldade, para atingir algum fim, orientando convicções, atitudes ou acções de um grande número de pessoas para certo objectivo, criando no público uma imagem positiva ou negativa de certo fenómeno (ideia, facto, movimento ou pessoa), induzindo dessa forma a um comportamento desejado. A Nokia percebeu estes pressupostos desde cedo, motivo pelo qual a sua publicidade exerce sempre um carácter influenciador no quotidiano do seu público. Sendo ela uma empresa na área das telecomunicações, utiliza de forma primorosa as palavras, as imagens e os sons como estratégias de persuasão. Com o esforço sistemático de irradiar ideias e comportamentos, a publicidade da marca revela que a evolução tecnológica está a um nível bastante avançado, impondo um pensamento sem fronteiras, em que são transpostos os limites e as barreiras à nossa forma de…comunicar. Os resultados positivos da marca têm sido construídos a partir de uma matéria-prima básica, que habita em noções rudimentares conscientes e inconscientes presentes na totalidade da população – a de que ninguém vive sem comunicar. Todas as pessoas têm necessidade de partilhar. A Nokia tem como estratégia principal ajudar as pessoas a darem resposta a essa necessidade, fazendo com que estas se sintam mais perto de tudo o que para elas é importante. A empresa centra-se no objectivo

de oferecer aos seus utilizadores uma tecnologia humana, isto é uma tecnologia intuitiva, com uma forma de utilização agradável e uma qualidade estética elevada. A mesma defende a ideia de que vivemos numa era em que a conectividade se está a tornar realmente ubíqua. A indústria das comunicações está em constante mudança e a internet está no centro desta transformação. Razão pela qual, actualmente, este é o grande desafio para a Nokia.

O carácter decisivo do sector torna, ainda mais relevante e preocupante uma questão: a da acessibilidade, ou seja, a questão da “fractura digital”. Algo a que a empresa está atenta ao democratizar, cada vez mais, os seus serviços ÍCONE GLOBAL A Nokia é um verdadeiro ícone global. Os números deste gigante mundial assustam: a cada três meses vende mais de 100 milhões de telemóveis em todo o mundo (mais do que a Motorola, Samsung e Sony-Ericsson juntas), ao ritmo de 13 unidades por segundo; tem participação de mercado de 38,7% nas vendas globais e lança mais de 50 novos modelos de telemóveis por ano. Além disso, a marca apareceu em quinto lugar na lista das marcas globais mais valiosas de 2007, (divulgada pela revista BusinessWeek), sendo também a 20ª empresa mais admirada do mundo, segundo a lista deste ano da revista norte-americana

DADOS CORPORATIVOS

• Origem: Finlândia • Fundação: 1865 • Fundador: Fredrik Idestam • Sede mundial: Espoo, Finlândia • Proprietário da marca: Nokia Corporation • Capital aberto: Sim (1915) • Chairman: Jorma Ollila • CEO & Presidente: Olli-Pekka Kallasvuo • Facturação: €50.7 biliões (2008) • Lucro: €3.98 biliões (2008) • Valor de mercado: €30.7 biliões (Fevereiro/2009) • Valor da marca: US$ 35.94 biliões (2008) • Lojas-Conceito: 10 • Clientes: 1 bilião • Vendas: 430 milhões telemóveis/ano • Presença global: 185 países • Funcionários: 128.000 • Segmento: Telecomunicações • Principais produtos: Telemóveis, sistemas de comunicação, computadores • Outros negócios: Vertu (marca de telemóveis de luxo), Navteq • Principal slogan: Connecting People Fortune. Nada menos que um bilião de pessoas em todo o mundo têm hoje um telemóvel da Nokia. Isso é mais do que qualquer fabricante de bens de consumo, de qualquer sector e em qualquer época jamais conseguiu até hoje. A sua liderança é incontestável e pode ser traduzida pelo slogan da empresa: Connecting People. Com sede localizada em Espoo, região metropolitana de Helsínquia, é a maior fabricante mundial de telemóveis, estando actualmente presente em 185 países a nível mundial. A empresa conta com mais de

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ECONOMIA & NEGÓCIOS IN(TO) BUSINESS só para gurus! A empresa lançou recentemente um programa para reconhecer e afiliar os usuários que conhecem melhor a marca. O Nokia Guru reunirá consumidores que possuem conhecimento sobre as soluções da empresa. O objectivo de cada guru será actuar como frente de relacionamento da marca nas plataformas de comunicações social global (Orkut, fóruns, e-groups, Yahoo respostas, Twitter, blog pessoal, etc). Esta troca de experiências com outros consumidores será recompensada. Após ter a solicitação aprovada, o guru receberá um selo que será usado no seu blog pessoal, site, comunidade ou fórum para servir de identidade. A cada solução apontada, dúvida resolvida ou suporte dado são contabilizados 100 pontos. Todos os meses, os três primeiros vencedores são premiados com aparelhos e acessórios Nokia. Desta forma, a gigante finlandesa tenta criar uma comunidade de contactos ainda maior em torno dos seus produtos, estimulando os usuários a ajudarem-se uns aos outros e a produzirem conteúdos espontâneos sobre a marca

128 mil funcionários, sendo que 1/3 dos mesmos trabalha em exclusivo na área da investigação e desenvolvimento. Esta é, aliás, uma aposta forte da empresa, que possui nove laboratórios de pesquisa espalhados em seis países. As 11 fábricas da marca estão sedeadas em nove países diferentes (Brasil, China, Finlândia, Alemanha, Hungria, México, Coreia, Roménia, Reino Unido e Índia), sendo que o grupo é formado por duas unidades de negócio - Nokia Networks (Nokia Redes) e Nokia Mobile Phones (Telemóveis), detendo também uma organização separada denominada Nokia Ventures Organization e o Nokia Research Center (Centro de Investigação). A empresa ainda possui uma unidade de luxo que fabrica telemóveis com a marca VERTU. A Nokia tem 350 mil pontos de venda em todo o mundo, entre as lojas das operadoras, redes de retalho tradicionais e as suas próprias lojas. Desde a sua criação até hoje, a empresa foi responsável pelo fabrico de um terço dos telemóveis existentes no mundo. Em cada seis habitantes do planeta, um possui um telemóveil Nokia.

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O QUE É O NOKIA TRENDS? É uma plataforma de marketing baseada em arte multimédia e música avançada para estimular as novas formas de consumo de informação a partir de meios eletrónicos, não só tradicionais, mas sobretudo os móveis. A plataforma é permeada por eventos para trazer ao público em geral o que é tendência, equilibrando o novo e o consagrado. Desde que foi criado no Brasil, em 2004, o Nokia Trends já atraiu quase 270 mil pessoas em eventos realizados em São Paulo e no Rio de Janeiro, com apresentações de bandas e Dj’s, como Fatboy Slim, LCD Soundsystem e Laurent Garnier, Chemical Brothers, Human League e Asian Dub Foundation. A plataforma foi exportada para Argentina e mais recentemente para o México

Os números deste gigante assustam: a cada três meses vende mais de 100 milhões de telemóveis em todo o mundo. Desde a sua criação até hoje, a empresa foi responsável pelo fabrico de um terço dos telemóveis existentes no mundo. Em cada seis habitantes do planeta, um possui um telemóvel Nokia CENTRO DE INVESTIGAÇÃO Um dos principais motivos do enorme sucesso da Nokia pode ser creditado no seu moderno Centro de Pesquisa e Design e no investimento anual de US$ 7.7 biliões nessa área. Localizado na cidade de Espoo, região metropolitana de Helsínquia, abriga uma equipa composta por mais de 200 designers (quantos exactamente é segredo), oriundos de mais de 45 nacionalidades. Diariamente, os designers usam blogs para comunicarem com usuários e “futuristas” são empregados para traçar cenários. Investiga-se, no momento, a comunicação por hologramas e a confecção de telefones com materiais biodegradáveis. Eventuais choques culturais com a ala formal da empresa são amortecidos pelos valores defendidos pela Nokia. Todos os funcionários são iguais. O vice-presidente e o estagiário fazem as refeições na mesma cantina. Usar piercing ou sandálias havaianas, tudo bem. Cada um tem liberdade para ser como realmente é. A Nokia tem hoje dois centros de design global: o da matriz e um outro, localizado em Londres. Há também estúdios nos principais mercados da empresa no mundo e “oásis de desenho” em lugares que os designers considerem inspiradores, como o Rio de Janeiro.

A visão da Nokia é a de um mundo em que todos possam estar ligados entre si (Connecting People) O GÉNIO POR DETRÁS DA MARCA Desde que assumiu a liderança da empresa, o novo presidente mundial da Nokia, Olli-Pekka Kallasvuo, conhecido simplesmente por OPK, vive sob a sombra de Jorma Ollila, uma figura histórica na NOKIA. Como CEO, de 1990 a 2006, comandou a transição da empresa do seu pior momento para a sua época de glória. Sucedeu a Kari Kairamo, responsável pela trágica gestão da empresa nos anos 80. Uma época de expansão indiscriminada para novos campos, principalmente por meio de aquisições. O resultado da dispersão de receitas foi a maior crise da história da empresa, que culminou com o suicídio de Kairamo, em 1988, e com a venda das unidades de televisores e computadores pessoais. Coube a Jorma Ollila, corajosamente, estreitar o foco em telecomunicações, uma área então deficitária na empresa. Essa decisão temerária deu origem à Nokia que hoje se conhece. O seu sucesso naturalmente chamou a atenção do mundo corporativo e o seu “passe” acabou parcialmente comprado, no ano passado, pela Shell. Desde então, acumula os cargos de presidente dos conselhos de administração das duas empresas.

A revolução digital tem um potencial para acelerar o acesso daqueles que têm tradicionalmente sido excluídos do saber, da informação e dos mercados.



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Os três “C” da inclusão: Conectabilidade - quem não se pode conectar está excluído da Sociedade de Informação; Capacidade – é preciso poder compreender a informação; Conteúdos – a maioria dos conteúdos são escritos em inglês EMPRESA DO FUTURO A mudança da Nokia em direcção à web coincide rigorosamente com a ascensão de OPK à presidência da empresa, em Junho de 2006. O mesmo deu início a uma frenética temporada de aquisições de empresas de internet. Já em Agosto, investiu US$ 60 milhões na compra da distribuidora de música on-line Loudeye. Na sequência, adquiriu a Gate5, uma pequena empresa alemã de software de navegação com GPS. O ataque foi retomado no ano seguinte, em Julho, com a compra do Twango, um pequeno site de partilha de fotos e vídeos. Criado em 2004 por cinco ex-executivos da Microsoft, o portal tinha somente dez funcionários, mas, apesar de pequeno, era possivelmente o único realmente multimédia do seu

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sector. A mais recente aquisição foi a da americana Avvenu, especializada em partilha de arquivos. Como uma espécie de cereja nesse bolo de parcerias, a Nokia assinou um acordo com a Microsoft para que versões de serviços como Hotmail e Messenger sejam carregados nos aparelhos da sua Série 60 de telemóveis inteligentes. Também anunciou uma parceria com a Universal Music, que permitirá aos clientes da empresa o downdload gratuito e ilimitado de músicas pelo período de um ano. Ao todo a Nokia já gastou mais de US$ 10 biliões em aquisições de empresas de tecnologia e Internet. Porém a mais nova aposta da empresa atende pelo nome de Ovi (porta em finlandês). Trata-se de um portal onde ficarão hospedados uma infinidade de produtos como álbum de fotos, música, biblioteca de livros, etc, capazes de se comunicar com o telemóvel, o laptop e o computador pessoal do usuário. Basta arrastar os ícones com o mouse. O acesso é totalmente gratuito, usando uma única senha. LOJAS-CONCEITO A empresa decidiu, em 2005, abrir algumas das chamadas Lojas-Conceito em determina-

dos países para que o usuário pudesse “degustar” toda a linha de produtos e acessórios, tirar dúvidas sobre o seu funcionamento e, claro, comprá-los. A estratégia era gerar uma experiência de mobilidade com os produtos e serviços da Nokia. A primeira delas foi aberta em Moscovo e hoje já existem outras lojasconceito da marca em Londres, Helsínquia, Nova Iorque, Cidade do México e Shangai. Neste tipo de loja, o consumidor tem acesso a demonstrações de experiência móvel, englobando música, navegação, vídeo, imagens, Internet e jogos. Cada aparelho em demonstração está conectado à Internet por uma rede WiFi e equipado com acessórios, como caixas de som, fones de ouvido, telas de LCD, impressoras fotográficas e laptops. Uma área da loja é dedicada a palestras, cursos, eventos e capacitação personalizados.

O VALOR Segundo a consultora britânica InterBrand, somente a marca Nokia está avaliada em US$ 35.94 biliões, ocupando a posição de número 5 no ranking das marcas mais valiosas do mundo. Além disso, a Nokia é a 88ª maior empresa do mundo de acordo com a Fortune 500 de 2008


curiosidade De onde vem o nome Nokia? Na verdade esse é o nome de um pequeno mamífero que habita a região na qual estão localizados o rio e a cidade onde está a sede principal da empresa

quem inventou o telefone? Alexander Graham Bell (1847-1922), físico escocês, realizou a primeira experiência com o telefone em 1876 na Filadélfia, Estados Unidos. Nesse mesmo ano por intermédio do seu advogado, solicitou a patente do invento que chamou de “telefone eléctrico falante”. Após patentear o invento, Bell apresentou-o numa exposição na Filadélfia. O invento gerou muita curiosidade e interesse e fez com que Graham Bell fosse premiado. Antes dele, outros inventores tentaram transmitir a voz humana via electricidade, porém sem sucesso. No telefone primitivo, havia uma manivela que ao ser girada produzia a corrente necessária para a sinalização na central. A invenção de Graham Bell evoluiu tanto que hoje podemos comunicar com pessoas em qualquer lugar do mundo, estando as mesmas num lugar fixo ou em deslocação (via telemóvel). Razão pela qual, o telefone ajuda a aproximar pessoas e minimizar distâncias. Ideia a que a Nokia se associou através do seu célebre slogan “Connecting People”

A HISTÓRIA A história da Nokia começou em 1865, quando o engenheiro de mineração Fredrik Idestam fundou uma fábrica de celulose na cidade de Tampere, no sudoeste da Finlândia, logo transferida para o município vizinho de Nokia e baptizada Nokia Wood Mills, localizada às margens do rio com o mesmo nome. A partir daí, a empresa teve um crescimento meteórico, e pouco depois da I Guerra Mundial, a empresa fundiu-se com a Finnish Cable Works, fabricante local de telefones e cabos telegráficos, fundada em 1898. Era o embrião do que, em 1967, se transformaria na Nokia Corporation, um conglomerado produtor de papel, bicicle-

sabia que… A Nokia é a maior empresa da Finlândia, responsável por um terço do valor de mercado da Bolsa de Valores de Helsínquia, correspondente a cerca de 3.5% do PIB e quase um quarto das exportações do país. No ano passado, pela primeira vez na história, a facturação da empresa superou o orçamento nacional do país

tas, pneus, botas de borracha, computadores, cabos, televisores e dezenas de outros itens. Os primeiros passos para uma grande mudança nos rumos da empresa tiveram início na década de 60, com o nascimento do departamento de electrónica da Nokia que tinha como principal objectivo pesquisar rádiotransmissão. A tecnologia da empresa para comunicação via rádio foi aproveitada, a partir da década de 80, para o desenvolvimento de telefones sem fio. O pioneiro foi o Mobira Senator, lançado em 1982, como equipamento para automóveis, que pesava 9,8 quilos. Cinco anos depois, saiu o Mobira Cityman 900, para muitos, o primeiro telefone realmente portátil: pesava 800 gramas e custava o equivalente a US$ 6.150 nos dias de hoje. Nas décadas seguintes, os produtos de infra-estrutura dos telefones móveis e de telecomunicações chegaram aos mercados internacionais, e nos anos 90, a Nokia já era uma das líderes mundiais em tecnologia de comunicação digital (em 1998 vendeu cerca de 40 milhões de telefones celulares, tornandose a empresa número 1 no mundo nessa categoria, ultrapassando a Motorola). Observando o mercado agora, é fácil esquecer que a Nokia nem sempre foi dominante. Em meados dos anos 90, a Motorola dava as cartas no mercado, desfrutando o enorme sucesso do telemóvel StarTac. Silenciosamente, porém, a Nokia iniciava a sua ofensiva, adicionando elementos inovadores de design aos telefones, na forma de capas substituíveis e diferentes ringtones (toques). Mais importante, começou a operar à escala global, lançando mais modelos num número cada vez maior de países. Os finlandeses apostaram cedo no desenvolvimento de plataformas básicas para celulares, a partir das quais é possível produzir variações de produtos com grande economia de escala. Actualmente a NOKIA, além de ser um gigante, está a mudar a forma como as pessoas se comunicam. As suas próximas apostas foram apresentadas, no final de 2007, aos mercados, a começar pelo europeu: a loja virtual de música Nokia Music Store, os novos jogos para telemóvel da série N-Gage e a linha de aparelhos que navegam na Internet criados para concorrer com o iPhone da Apple. E ainda provoca a poderosa empresa americana: “Quando eles lançaram o iPhone, conseguiram uma publicidade sensacional, tudo para vender 270 mil aparelhos em dois dias”, diz o inglês Mark Selby, vice-presidente mundial de vendas da empresa. “Isso é mais ou menos o número de telemóveis que vendemos em seis horas”. Há poucas companhias com a marca, o alcance e a tecnologia necessários para liderar a convergência digital. A Nokia é uma delas.

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SOCIEDADE

| patrícia alves tavares

A febre do telefone portátil O telemóvel entrou no mercado nacional no início desta década e a adesão foi tão intensa, que este pequeno aparelho, que permite contactar com os outros em qualquer ponto do país ou do mundo, já faz parte do diaa-dia dos angolanos. Com 7,5 milhões de utilizadores, Angola é um dos países africanos com maior potencial de crescimento na procura das comunicações móveis.

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Ninguém dispensa o uso do telemóvel e poucos imaginam a sua vida sem ele. Em 2006, apenas em Luanda, 25 por cento dos seus habitantes, com mais de 15 anos já possuía telemóvel e 80 por cento manifestava interesse em adquiri-lo, a curto prazo. Esse desejo concretizou-se e, em três anos, o número de vendas aumentou 600 por cento, ou seja, em cada cem habitantes, 44 utilizam o telemóvel e um em cada cem possui telefone fixo. As estatísticas revelam que até Dezembro de 2009, estes números deverão crescer. A Unitel, unidade internacional da Portugal Telecom, é a maior operadora nacional, com cinco milhões de utilizadores. Os restantes 2,5 milhões de usuários são clientes da Movicel. De acordo com as declarações do director do Instituto Nacional das Comunicações (Inacom), Domingos Pedro António, actualmente existem 7,5 milhões de angolanos que não dispensam o telemóvel. O crescimento foi tão extraordinário que apenas em 2005, o número de habitantes rendidos ao pequeno aparelho eram pouco mais que um milhão. No âmbito das comunicações fixas também se regista um acréscimo significativo. Em 2005, os clientes do telefone fixo eram cerca de 94 mil. Hoje, a “Angola Telecom”, empresa estatal que controla a rede básica de telecomunicações nacionais, atende mais de cem mil clientes. Em 16 milhões de habitantes, 200 mil possuem rede fixa. O presidente da Inacom classifica como positiva a evolução dos serviços de comunicações no país, pois verifica-se uma “crescente tendência de adesão dos cidadãos”. UNITEL É LÍDER Participada pela Sonangol e Portugal Telecom, a Unitel é a principal operadora móvel, detentora do maior número de clientes. Fundada em 1998, começou a operar no mercado em 2001. No último ano, a empresa deu inicio a uma acção de rejuvenescimento dos seus quadros, de forma a garantir o seu desenvolvimento sustentado. O recrutamento de jovens estudantes e licenciados tem sido uma das medidas, permitindo alcançar os 70 por cento de colaboradores com menos de 30 anos. O ritmo de crescimento da operadora 92 tem sido constante e consolidado, pelo que em 2007 possuía três milhões de clientes, subindo para quatro milhões em 2008 e cinco milhões até ao início do primeiro semestre


rcas mais Top das ma adas comercializ

deste ano. O volume de negócios da entidade é proporcional ao crescimento de clientes, o que levou a operadora a anunciar que o seu novo plano de investimento, que ronda os dois biliões de dólares, será repartido entre a criação de novas infra-estruturas e de novos serviços, bem como na formação e recrutamento. Para os próximos tempos, está em curso um plano para cobrir os 168 municípios do país, de forma faseada. Aliás, a maior operadora angolana vai investir 1,2 milhões de euros nos próximos quatro anos para melhorar as infra-estruturas e expandir a sua rede, que deverá cobrir todo o território até 2012. A pensar no CAN, a Unitel volta a estar na vanguarda e lança o serviço de televisão no telemóvel, dispondo três canais nacionais, que aderiram ao projecto: a TPA 1 e 2 e a TV Zimbo. Os clientes da operadora 92, que possuem aparelhos 3G, podem ver televisão em tempo-real, tendo a possibilidade de assistir aos jogos do CAN em qualquer ponto do país e a partir do telefone móvel. “Isto constitui um facto inédito no mundo das telecomunicações em Angola”, salientou o director de investimentos internacionais da Unitel, Henriques da Silva. Durante a última edição da Filda, a operadora apresentou ainda o portal Wap, que dá a possibilidade de fazer downloads de música e imagens, dando a oportunidade a “outras empresas que produzem conteúdos de participarem no projecto”.

A pensar no CAN, a Unitel lança o serviço de televisão no telemóvel, dispondo de três canais nacionais: a TPA 1 e 2 e a TV Zimbo MOVICEL APOSTA NA INOVAÇÃO Distinguiu-se ao tornar-se na primeira operadora africana a instalar nos seus produtos o sistema CDMA (Acesso Múltiplo por Divisão de Código) com tecnologia de Terceira Geração (3G). A operar no mercado nacional desde 2002, a Movicel lançou em 2007 o 3G, que permitiu aos clientes transmitir dados a alta velocidade, à semelhança do que ocorre no estrangeiro. A nova tecnologia permitiu ainda atender um maior número de utilizadores na mesma faixa de frequência, oferecendo transmissão de voz e dados à velocidade de banda larga. No mesmo ano, a empresa lançou-se no mercado das telecomunicações, ao apresen-

1. Nokia 2. Motorolla 3. LG 4. Samsung 5. Alcatel 6. Siemens n 7. Sony Ericso 8. ZTE 9. Huawei 10. HTC

tar o novo conceito de acesso à Internet, através da Banda Larga, o Movinet. A operadora 91 tem-se evidenciado ao nível dos preços, uma vez que foi a pioneira a comercializar telemóveis a custos abaixo de valores equivalentes a cem dólares americanos. A Movicel assumiuse no mercado através das campanhas Kilapi e Gingongo, do serviço ‘Liga-me’ e o ‘Saldo Móvel’. Recentemente, a operadora esteve presente na Filda/ 2009, onde anunciou os novos produtos, de modo a proporcionar novas opções de comunicações aos usuários. Recorde-se que a instituição foi comprada em 2008 pela ZTE, que é o segundo maior fabricante de equipamentos de telecomunicações móveis na China. A pensar já na próxima década, a empresa lançou o “Cartão Taco 50 UTT”, o “Plano Movinet no Telemóvel”, a “Movinet Zone”, o “Roaming Movicel no Mundo” e os pacotes de “Mensagens Escritas”. O evento serviu ainda para demonstrar os telemóveis de terceira geração, que estarão brevemente no mercado. Este ano, a facturação global de todos serviços da Movicel é de mais de 300 milhões de dólares americanos.

A Movicel assumiu-se no mercado através das campanhas Kilapi e Gingongo, do serviço ‘Liga-me’ e o ‘Saldo Móvel’ ‘BOOM’ A PARTIR DE 2010 O mercado das comunicações móveis sofrerá um impulso já no próximo ano. O valor do mercado deverá quadruplicar até 2015. Quem é o diz é um estudo da consultora Frost & Sullivan, que adianta ainda que não é só o consumo que vai crescer. A concorrência também deverá aumentar, com a provável atribuição de uma terceira licença móvel, em 2010. “Este facto vai aumentar o nível de concorrência entre os operadores e os revendedores de serviços”, desta-

ca a analista Sílvia Venter. A consultora refere igualmente que Moçambique deverá sofrer o mesmo impacto tecnológico, encontrando-se a par de Angola, em termos de explosão ao nível de construção de infra-estruturas, desde as estradas até às telecomunicações. A empresa Frost & Sullivan prevê que o volume de vendas nacional poderá ascender dos 1,26 mil milhões de dólares (em 2008) aos 5,7 mil milhões de dólares, em 2015. “Este mercado vai ter significativos níveis de crescimento nos próximos sete anos, bem como melhorias das infra-estruturas, que vão colocar o país como um dos mais desenvolvidos de África”, corrobora a analista.

A concorrência também deverá aumentar, com a provável atribuição de uma terceira licença móvel, em 2010

números › 7,5 milhões de utilizadores de telemóvel › 5 milhões de clientes são da Unitel › 2,5 milhões de clientes são da Movicel › 200 mil usuários da rede de telefone fixo › 5,7 mil milhões de dólares em vendas de telemóveis, em 2015 › 600 por cento foi o aumento registado nas vendas (2006-09) FONTE: INACOM, UNITEL E MOVICEL

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governo aposta na tecnologia O plano de acção governamental para este ano dá especial enfoque à área das novas tecnologias, tendo como principais objectivos ampliar o acesso da população aos serviços de telecomunicações de qualidade e modernizar a rede básica em todas as regiões. Para tal, o ministério das Telecomunicações tem como metas a implementação de 2,64 milhões de terminais da rede fixa e seis milhões de terminais da rede móvel. Por outro lado, pretende alcançar 370 mil subscritores de Internet e conquistar uma taxa de teledensidade fixa de seis por cento e móvel de 42 por cento

COMBATER A FRAUDE Apesar das seis operadoras de rede fixa (Angola Telecom, O Mundo Startel, a MSTelecom, a Nexus e a Wezacom), esta tem baixa adesão, sobretudo quando comparada com a móvel que tem tido um crescimento acelerado. Esta última gera maior preocupação, devido às constantes denúncias de fraude no sector. Assim, a empresa de telecomunicações e multimédia Angola Telecom está empenhada em liderar o combate à fraude, para tentar evitar as incalculáveis perdas financeiras a que tem assistido, por causa dos ‘piratas’ não identificados que se apoderam das infra-estruturas e redes, com o intuito de prestarem serviços por conta própria. A companhia está a criar mecanismos tecnológicos, que lhe permitam detectar fraudes na rede. A outra medida prende-se com a criação de uma associação nacional de luta contra o fenómeno, que coloca a rentabilidade do sector em risco. Por outro lado, está a ser estudada a implementação de um grupo regional de combate anti-fraude para controlar e desmantelar os grupos prevaricadores e para que se proceda à troca de informação entre os respectivos membros. Uma nova legislação é outra das soluções propostas pela entidade, apelando a que se altere a actual lei que não regula os crimes contra as telecomunicações. O administrador da Angola Telecom afirma que a maioria dos usurpadores da rede, que beneficiam dos serviços sem pagar e vendem chamadas, é proveniente do Senegal, Mali, Índia, Portugal e RD Congo, que actuam na província de Luanda. APOSTA NAS TECNOLOGIAS O desenvolvimento será sustentado pelo investimento de empresas internacionais em Angola, contribuindo para um aumento da procura de vários tipos de serviços, particular-

mente na área das telecomunicações. Este ano a Angola Telecom adjudicou à empresa chinesa ZTE o projecto de expansão e modernização da rede de telecomunicações da zona leste. O investimento estatal de 102 milhões de dólares abrange as províncias de Malanje, Zaire, Bié, Moxico, Cuando, Cubango e Lundas Norte e Sul. A data de conclusão está marcada para 2010. O plano abarca a instalação de novas redes de acesso de cobre e sem fios (3276 quilómetros de fibra óptica e seis mil linhas telefónicas), permitindo a instalação de 1392 linhas VSAT, 761 de Internet em banda larga (ADSL) e de 13 mil linhas fixas sem fio (CDMA).

Angola será dotada de rede de fibra óptica, que deverá estar operacional em todas as capitais do país dentro de três anos SATÉLITE EM 2012 Angola será dotada de rede de fibra óptica, que deverá estar operacional em todas as capitais do país dentro de três anos. Empenhado em não perder o comboio do progresso tecnológico, o ministro da Telecomunicações e Tecnologia de Informação, José da Rocha, anunciou que o Governo está a unir esforços no sentido de interligar o país através da nova rede. A fibra óptica consiste num meio de transmissão, que utiliza o sinal através de uma rede de telecomunicações de alta tecnologia de nova geração. Para o mesmo ano, está prevista a construção do primeiro satélite do país. O projecto conta com a participação da Unitel, que pretende depender cada vez menos desta infra-estrutura. O acordo para o primeiro satélite nacional foi assinado recentemente entre Angola e Rússia e compreende um empréstimo de 213,5 milhões de euros.

SERVIÇOS UNITEL E MOVICEL

Unitel

Movicel

• 3G

• 3G

• Roaming no estrangeiro (117 países)

• Movinet (acesso à Web em banda larga,115 países)

• MMS

• Liga-me’

• Pacotes avançados 3G

• ‘Saldo Móvel’

• Serviço Wap

• Cartão Taco 50 utt

• Televisão no telemóvel

• Plano Movinet no telemóvel

• Participação no primeiro satélite angolano e cobertura do país em

• Movinet zone

fibra óptica

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• Roaming Movicel


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SOCIEDADE

| patrícia alves tavares

Águas arriscadas É uma das infecções que mais mata nos países subdesenvolvidos, nomeadamente africanos. As crianças são as mais vulneráveis a uma bactéria que se transmite essencialmente através da ingestão de água ou alimentos contaminados. As deficientes infra-estruturas existentes no continente são as principais responsáveis da cólera. Em Angola, o pior já passou, apesar de desde Janeiro terem registado mais de mil casos. A melhoria das condições de vida tem contribuído para uma redução da incidência do vírus. A cólera pode ocorrer em cidades, que apresentem uma estrutura eficaz de tratamento de águas e esgotos. No entanto, geralmente afecta os habitantes das regiões carentes, onde o saneamento básico é inadequado ou simplesmente não existe. Os riscos de contrair a doença são menores para quem mora em zonas detentoras de estações de tratamento de águas residuais, que estão mais vulneráveis à ingestão de alimentos, que podem chegar contaminados da origem, algo que exige cuidados higiénicos na sua preparação. Quando uma cidade não possui as infraestruturas adequadas, o contágio pode dar-se através da ingestão de água imprópria. EPIDEMIA MUNDIAL A doença é responsável por seis pandemias entre 1817 e 1923. A actual faz subir o número para sete e desencadeou-se na Indonésia, em 1961, causada pelo biótipo El Tor. Entretanto,

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alastrou-se a outros países na Ásia, Médio Oriente, África (70 por cento dos casos detectados mundialmente) e Europa, acabando por atingir a América do Sul, em 1991. No ano seguinte, na Índia o vírus sofreu uma mutação, em que o V. cholerae O139 atingiu o Paquistão, o Bangladesh e a China. Já no caso do Brasil, a cólera surgiu na região amazónica, registando-se actualmente casos em todas as zonas do país. Os países africanos, devido às parcas condições de higiene, resultantes dos conflitos, guerras e atraso no desenvolvimento sócio-económico, são as mais atingidas. Recorde-se recentemente o ataque de cólera que tem dizimado centenas de vidas no Zimbabué. A bactéria é endémica em vários países e esporadicamente ocorrem surtos, devido às inadequadas ou inexistentes infra-estruturas de saneamento básico. A probabilidade de transmissão também varia dentro de um país, em que podem existir

diferentes graus de risco entre regiões e diferentes bairros de uma cidade. ZIMBABUÉ E MOÇAMBIQUE EM RISCO Catorze milhões de habitantes lutam com todas as armas para travar o flagelo da cólera, que afecta a zona da África Austral. O Zimbabué é o mais afectado, que se vê confrontado com uma epidemia que teve início em Agosto de 2008 e já fez mais de vinte mil vítimas e infectou outras tantas. A rápida propagação deve-se à reduzida capacidade das autoridades zimbabueanas para combater o surto e ao facto da maioria da população continuar a beber água imprópria e não ter cuidados de higiene. Apesar dos últimos números apontarem que o pico já passou, está a alastrar-se para países vizinhos. O Governo moçambicano divulgou recentemente que apenas entre Janeiro e Março, a doença matou 112 pessoas, contaminando 12.262 habitantes. As zonas de Cabo Delgado e Nampula são as mais afectadas. Actualmente, as autoridades sanitárias actuam em duas frentes: evitar ao máximo os óbitos e intensificar as acções de prevenção. CHEIAS LANÇARAM O PÂNICO Até Junho deste ano, as autoridades sanitárias angolanas registaram 1.250 casos de cólera em todo o país, tendo ocorrido 35 óbitos. De acordo com informações do Centro de Proces-


samento de Dados Epidemiológicos (CPDE)) da Direcção Nacional de Saúde Pública, tem-se -se assistido a uma diminuição acentuada do número de casos em Angola, uma vez que em igual período de 2008, as estatísticas apontantavam já para cinco mil casos e 125 mortes, cauausadas pela bactéria. As cheias que atingiram ram o país no início do ano ainda fizeram temer er o pior. A zona do Cunene foi a mais fustigada, ada, levando a Protecção Civil a recear um aumento nto dos casos de cólera. O Ministério da Saúdee e a Cruz Vermelha tomaram as medidas necescessárias, enviando para o local medicamentos, tos, material e equipas médicas. Porém, o cenário ário não se concretizou e o alerta de epidemia não passou disso mesmo. Ainda segundo a anánálise dos anos anteriores, ao longo de 2008, 8, o país teve 10.540 casos de cólera e 249 óbitos. tos. Os números indicam que de facto o flagelo gelo que atinge a maioria da sociedade angolana ana tem sofrido uma recessão ao longo dos últimos anos. Para tal, tem contribuído em grande escala a resposta adequada das unidades de saúde face aos surtos e ao melhoramento das actividades de vigilância epidemiológica. EVOLUÇÃO FAVORÁVEL A mobilização social, através das campanhas de informação e educação para a saúde são um dos factores que têm contribuído para o controlo da doença e decréscimo do grau de incidência. Por outro lado, a distribuição de água potável às comunidades, que se encontram em zonas de difícil acesso, bem como de medicamentos às unidades de saúde (inclusive as mais longínquas) tem sido decisiva no combate à cólera. A distribuição de água potável, efectuada por camiões cisternas, pertencentes à administração municipal da Maianga, tem tido um peso importante na redução de novos focos da doença, especialmente na área de circunscrição. Para Maria José, chefe da repartição da saúde em Luanda, a implementação do poder local e a criação de bases para a distribuição de água aos munícipes são decisivos na erradicação da epidemia.

úmeros Cólera em N no: Caso angola sos e 35 óbitos 2009 › 1250 ca o) (dados até Junh s sos e 249 óbito ca 40 .5 2008 › 10 s ito ób 5 51 e sos 2007 › 18.390 ca s ito ób 3 77 2. e sos 2006 › 67.256 ca blica nal de Saúde Pú Direcção Nacio Fonte: CPDE da

o que é a cólera? É uma doença causada pelo vibrião colérico (Vibrio Cholerae), uma bactéria que se multiplica rapidamente no intestino humano, produzido uma toxina que provoca diarreia intensa. O vírus afecta apenas os seres humanos e a transmissão ocorre através da ingestão de água ou alimentos contaminados. Na maioria dos casos, a infecção é assintomática (cerca de 90 por cento) e caracteriza-se por diarreias de pequena intensidade. Em algumas situações, pode ocorrer diarreia aquosa profusa de instalação súbita, que é a mais fatal.

quais os sintomas? O período de incubação da doença é de cerca de cinco dias. A partir daí, surgem os primeiros sintomas, que se manifestam através de diarreias. As perdas sem reposição de água dão lugar a vómitos, cólicas, aumento da frequência cardíaca, choque e insuficiência renal.

quais os riscos? A cólera é uma doença de transmissão fecal-oral. A propagação directa entre pessoas é mínima. O principal risco é através da água e alimentos contaminados, nomeadamente, por fezes de pessoas infectadas, com ou sem sintomas. A taxa de ataque da cólera, mesmo em grandes epidemias, raramente ultrapassa os dois por cento da população.

como se previne? Existe uma vacina, que só é recomendada em casos muito especiais. Tem uma eficácia de cerca de 50 por cento e a sua duração protectora não ultrapassa os seis meses.

EMPENHO POR UMA CAUSA Marcelina da Costa, responsável pelo centro de cólera do Hospital Central do Bié, anunciou que a unidade tem apostado em palestras nas zonas rurais para motivar a população local a redobrar os cuidados na prevenção da doença. No primeiro semestre deste ano, no Bié apareceram dois casos em toda a província, o que levou a responsável a enaltecer o empenho da Direcção Provincial de Saúde e do Hospital Central, responsáveis pelo abastecimento antecipado de medicamentos e pela colaboração na execução das actividades

do centro. Em Huíla, a Repartição Municipal de Saúde está a oferecer às famílias litros de lixívia para desinfectarem as águas, incentivando ainda os beneficiários a participarem numa acção de sensibilização e formação sobre as causas da doença e o modo de prevenção e respectiva contenção. A acção englobou ainda a distribuição de água potável, recipientes para conservação de 20 litros da mesma e pacotes de soro de hidratação. Estas ofertas contaram com a colaboração da Unicef, Cruz Vermelha e Direcção Provincial das Águas.

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GRANDE ENTREVISTA

| manuela bártolo

a voz da diáspora Naturais de Luanda, Pétio, Eurice, Druvaldo e Esperança são quatro jovens talentos, iguais a tantos outros, que acalentam o desejo de um dia regressar a Angola e contribuir para o progresso do seu país. Integram a Associação de Estudantes Angolanos em Portugal, núcleo do Porto, e encontram-se actualmente a frequentar o Ensino Superior. Num discurso directo, exclusivo para a Angola’in, desvendam certezas e tecem comentários sobre a nova geração de mwangolés que se destaca diariamente além-fronteiras. Palavras sentidas, no fogo de uma conversa que se estendeu tardiamente, por entre risos e confissões marcadas pela saudade da terra. Uma nova diáspora nasce hoje para dar voz ao angolano do futuro. Como se diz em Quimbundo: “Malembe, malembe” (devagar se vai ao longe!).

Da esquerda para a direita: Esperança Cafumana, Pétio Penelas de Barros, Eurice dos Santos, Druvaldo Teixeira

ESTÓRIAS DO PASSADO, IMPULSOS PARA O FUTURO NOVA GERAÇÃO Pétio Juarez – ‘Os nossos pais cresceram no período do colonialismo e posteriormente num clima de instabilidade do próprio país. Seguindo esse raciocínio, é natural que, pelas dificuldades que passaram, não tenham tido a possibilidade de perceber e aprender aquilo que a nossa geração tem oportunidade de fazer e alcançar. Hoje em dia, os jovens angolanos valorizam a paz porque foi uma conquista dos nossos pais. Parte do que somos hoje é aquilo que eles sonharam e queriam ser, caso tivessem tido a capacidade de estudar como nós temos actualmente. Tenho a certeza que se tivessem tido essa oportunidade fariam

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aquilo que nós hoje nos predispomos fazer. Em termos de geração a nossa é diferente, mas se formos a analisar sentimos, porque o tempo é cíclico, que os jovens actuais voltam a ser aquilo que os nossos pais eram. Talvez por isso não sei se haverá assim tanta diferença ou se pelo contrário vivemos com uma capa. Sentimos, cada vez mais, um apelo à cultura angolana, que considero importante não perder. O país muda, mas deve manter intacta a sua própria identidade e é isso que a maioria dos jovens sente’. Druvaldo Teixeira – ‘É importante qualquer cidadão conhecer a sua identidade, saber de onde veio, onde está, como chegou a esse momento e para onde vai e é nesse sentido que digo que é fundamental olhar para o passado.

É enriquecedor qualquer pessoa reconhecer os motivos que fizeram a sua História’.

‘Para um país ter estabilidade tem de cumprir ao máximo os princípios e os direitos democráticos’ ALÉM-FRONTEIRAS Pétio Juarez – ‘Considero que ainda temos muitos passos a dar enquanto país. Falamos em Angola como uma importante nação emergente a nível mundial, mas essa análise é realizada tendo em conta, muitas vezes, apenas os factores económicos. A meu ver, por exemplo, só se estão a criar agora as condições necessárias para a redistribuição do rendimento, para a educação da população, etc.


Desenvolvimento não é só ter crescimento, um PIB elevado, um Superávit todos os anos, é sim fundamental ter essa riqueza distribuída. Angola, que é um país como se sabe com poucos anos de paz, só agora é que vai começar a dar os primeiros passos. Existem províncias que sofreram demasiado com a guerra e as pessoas sabem que demora. O contexto diz tudo. As diferenças sociais preocupam todos os angolanos. Neste momento, toda a sociedade, governantes ou não, está a dar o melhor de si para desenvolver o país em termos de educação, saneamento básico e saúde, sectores que têm de estar minimamente salvaguardados para que o país comece a dar passos firmes para o desenvolvimento. As eleições são, por exemplo, cruciais para esse progresso porque não vale a pena termos leis e a nível internacional as pessoas pensarem que Angola tem uma governação fraca, sobre a qual pairam dúvidas, porque não segue os requisitos de transparência. A meu ver, é importante termos um Governo firme para podermos dar os passos que nós achamos fortes e vindouros, razão pela qual haver eleições é fundamental. Caso contrário, até podemos caminhar e progredir, mas sempre com a má imagem da comunidade internacional. Para crescermos temos de partir dos pontos mais básicos, como as eleições, no caso do ano passado as legislativas, este ano as presidenciais. Para um país ter estabilidade tem de cumprir ao máximo tudo aquilo que puder como os princípios e os direitos democráticos. Angola sempre serviu de exemplo para o mundo porque mesmo a viver durante décadas um clima de instabilidade, o país nunca mostrou aquilo que se passava nas suas 18 províncias e como se sabe ocorreram muitos desastres, sobretudo ao nível ferroviário e viário. Foi um país praticamente destruído, se formos a comparar com o Afeganistão ou o Iraque, mas que nunca deixou transparecer para o exterior. Essa posição não se tratou de uma mera questão de orgulho. Apenas eu, assim como muitos angolanos, achamos que não se deve estar constantemente a mostrar tudo que é de mau de Angola. É importante mostrar também o que o país tem de bom, visto que, mesmo em clima de guerra e sofrimento, tínhamos coisas de que nos orgulhávamos. Senão vejamos, mesmo no período de maior instabilidade, o país, dentro do contexto africano, sempre foi considerado um oásis para os estrangeiros. Angola, por exemplo, não tem nenhum requisito para se tirar um visto de entrada em que venha escrito “vai, mas apenas sob a sua responsabilidade”. Angola sempre, mesmo com

A Associação de Estudantes Angolanos em Portugal no Porto é uma instituição sem fins lucrativos que acolhe as várias gerações de jovens que passam pela cidade. O seu maior objectivo é promover a cultura angolana no exterior, bem prestar apoio em diferentes níveis ao associado. Actualmente, existem três tipos de associados: o extraordinário, o ordinário e o honorário. Todos devem reconhecer os seus direitos e deveres e apoiar o bom funcionamento dos vários departamentos da associação. Um dos principais é o Departamento Académico e de Acção Social, que ajuda o jovem estudante a traçar linhas directas para atingir as metas a que se propôs. Nesse sentido, este organismo disponibiliza informação ao nível da formação profissional, cursos superiores, estágios de acesso a empresas e workshops, assim como convida os jovens associados a participar em diversos convívios culturais. A instituição oferece ainda um espaço lúdico e cultural, que facilita o acesso à internet, livros, jornais e revistas do país e promove acções de apoio junto daqueles que carecem de explicações. Este grupo pretende tornar-se cada vez mais dinâmico, tornando-se uma referência na cidade para todos os jovens angolanos

a guerra, soube acolher e manter a segurança para as pessoas que chegam ao país’.

‘O meu objectivo não é ganhar dinheiro, mas sim dar o contributo ao país, do qual espero uma remuneração justa’ FORMAÇÃO E EMPREGO DENTRO DE PORTAS Pétio Juarez – ‘Hoje em dia Angola precisa, cada vez mais, de quadros formados em diferentes áreas. Para se aceder a uma melhor qualidade de vida é preciso, sem dúvida algu-

ma, formação. No entanto, um dos factores que considero mais importantes é o princípio de rigor e equidade no acesso aos cargos das empresas em Angola. É natural que tenhamos de estar abertos à concorrência das outras pessoas. Não devemos ser nacionalistas, nem pôr isso muito patente, o que nós devemos fazer é contribuir para o crescimento do país, assim como todas as outras nacionalidades. Falando, por exemplo, em objectivos, o meu objectivo não é ganhar dinheiro, mas sim dar o contributo ao país, do qual, por sua vez, espero uma remuneração certa e justa. Se eu voltar a Angola com o objectivo de só ganhar dinheiro, sinceramente não estarei a lutar pelo seu desenvolvimento. É importante, a meu

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raio-x • Pétio Juarez Penelas de Barros, 28 anos, ISPGAYA (Instituto Superior Politécnico Gaya), estudante do curso de Engenharia Informática e presidente da Associação de Estudantes Angolanos em Portugal no Porto; • Eurice Luís Carvalho Dos Santos, Universidade Lusíada do Porto, estudante do 3º ano do curso de Arquitectura; • Druvaldo Fernando dos Santos Teixeira, 20 anos, ISCAP (Instituto Superior de Contabilidade e Administração do Porto), estudante do curso de Contabilidade e Gestão; • Esperança Cafumana Lourenço, Universidade Lusófona do Porto, estudante do curso de Gestão

ver, existir um sentimento de utilidade. Quase todos queremos regressar ao país e ter um papel importante a desenvolver. Sair de Angola não é um privilégio, mas uma necessidade que nós tínhamos’. Eurice Dos Santos – ‘Tenho visto Luanda a mudar lentamente através de estradas em melhor estado, prédios em construção de maior qualidade, etc, e cada dia que passa isso é mais visível. É importante que esse desenvolvimento seja realizado por angolanos, daí considerar necessária a questão da angolanização dos quadros nas empresas’. Druvaldo Teixeira – ‘Angola precisa de quadros com qualificações. O país está-se a desenvolver e não há progresso apenas com mão-de-obra desqualificada. Façamos um breve exercício. Analisemos o facto de Luanda ser uma das cidades mais caras do mundo. Bem sei que é uma fase do mercado, pela qual o país está inevitavelmente a passar. Em contabilidade costuma-se falar em justo valor que é quando duas pessoas conhecedoras de um bem sabem mais ou menos o valor do mesmo e estão dispostas a negociar por determinado preço. Agora, em relação aos preços praticados na capital, isso deve-se também um pouco à falta de formação das pessoas. Existem muitas pessoas em Luanda que não têm essa

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formação e não têm a capacidade de analisar a situação, pelo que é isso que está a desestabilizar o mercado e tem levado consecutivamente à especulação imobiliária. Mas essa especulação também tem o seu lado bom porque hoje em dia já se vêem empresas dos mais variados países e não só de Portugal a irem para Angola à procura de quadros angolanos para integrar nos seus quadros porque fica bastante inviável ter de pagar despesas de arrendamento e de habitação para manter lá expatriados. Para subtrair nos custos, nem tudo que aparentemente é mau o é na totalidade. Acredito, por isso, que esta tendência é passageira porque a situação irá concerteza estabilizar’.

conciliarmos as nossas raízes à modernidade, pois se esquecermos aquilo que é nosso e implantarmos só o que é estrangeiro estaríamos a perder a identidade angolana. Acho que vivemos num concílio de cultura, mas os jovens hoje em dia estão a perder um pouco isso. A globalização torna as pessoas mais individualistas e esquecem o que é viver em conjunto e sociedade. Angola, por exemplo, defende muito em termos culturais a tradição da família. Para nós o mais velho é um ancião e é muito importante. Na comuna em que se vive, para tomarmos alguma decisão temos de o consultar. Na modernidade são os nosso pais e respeitamos muito a sua opinião. Realidade que hoje se tem vindo a perder’.

ÍCONES INTEMPORAIS

Eurice Dos Santos – ‘A ilha de Luanda e a música de Rui Mingas são para mim dois ícones importantes do país. Aqueles que me fazem sonhar e querer sempre regressar’.

ONTEM, HOJE E SEMPRE Pétio Juarez – ‘Um ícone angolano é o José Eduardo dos Santos. Quando falo de Angola não estou a pensar logo nele, mas não gosto de o esquecer porque ele conduziu o país desde sempre e acho que, se não o tivesse guiado da forma que o fez, talvez muitos jovens da minha geração nem sequer estariam aqui. Outra figura que admiro é o Bonga, pois as suas músicas fazem-me regressar à terra. É a meu ver um cantor de raiz, que não esquece as suas tradições e cultura. Considero importante

Esperança Cafumana – ‘Agostinho Neto e os seus poemas. Para mim são muito cativantes e descrevem na perfeição o que é se sentir angolano’. Druvaldo Teixeira – ‘Pepetela, sem dúvida. Um ilustre representante angolano, prémio da lusofonia, que permite encontrar parte de Angola em todos os seus livros’.



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Geração da esperança São os homens e mulheres de amanhã. A sua persistência, sonhos e vontade de vencer são o retrato da Angola do futuro. A juventude é sinal de expectativa para os anciãos, que almejam uma vida melhor para estes rostos infantis, repletos de determinação. Do desejo de conseguir uma vida melhor e de luta por um país cada vez mais justo, mais cosmopolita, mais desenvolvido e mais igualitário. A eles cabe fazer ainda melhor que os seus antepassados, defendendo e honrando as suas raízes e culturas ancestrais. Às crianças de hoje e futuros dirigentes dos destinos do seu povo cabe a missão de continuar a batalha pela modernização e crescimento da sua pátria. Aos jovens cabe fazer ainda melhor que os seus progenitores. A alegria da meninice é um bom sinal. É símbolo de uma vida mais confortável, onde a escola faz parte desta viagem e o acesso a bens que os pais não tiveram é uma realidade constante. Afinal é com instrução e com uma infância saudável que se formam aqueles que vão escrever as linhas da história, que se antevê optimista e recheada de acções dignas de registo.

fotografias - Ana Rita Rodrigues - www.lightfragments.com

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Em pleno mar das Caraíbas surge o paraíso na terra. A Jamaica é uma nação insular a 145 km de Cuba e a 190 km das ilhas Hispaniola. É considerada o terceiro país anglófono mais populoso da América. A Jamaica inventou o conceito de turismo de luxo em países pobres. Com praias perfeitas e montanhas verdes, a ilha foi dividida em resorts de luxo, auto-suficientes, que se encontram distribuídos ao longo da costa, de modo a isolar os turistas dos pontos conturbados da região. Ao entrar na ilha, depara-se com um dos países mais exóticos do planeta, em que o movimento-religião-filosofia do rastafarianismo fez surgir uma cultura singular, que ultrapassa o próprio reggae. O destino mais requisitado pelos viajantes independentes é a região de Porto António, onde as praias convivem com a floresta densa, excelente em termos de possibilidades de ecoturismo.

por terras de

bob marley É um destino fantástico para qualquer época do ano. Belas praias, sol constante e muito reggae são a imagem de marca da Jamaica. As belezas naturais, o ambiente descontraído e os sabores exóticos compõem o cenário deste país idílico. As estações do ano são virtualmente inexistentes e as temperaturas máximas diurnas junto à costa rondam os 27-30ºC. 66 | ANGOLA’IN · TURISMO

MOTIVOS NÃO FALTAM Praia, música, sorrisos, paisagens coloridas e o espírito descontraído são os pontos fortes da terra do reggae. Além da cultura do golfe, da história e da natureza, o turista depara-se com as singularidades da cultura jamaicana, produto do cruzamento de diversas nacionalidades e origens. A terceira maior ilha das Caraíbas é um dos pontos turísticos mais procurados. Montanhosa e banhada por muitos rios, as suas principais atracções são as magníficas praias. Ocho Rios é um porto de mar e cidade de férias, que recebe grandes cruzeiros, onde se assiste a uma forte procura das excursões rumo às cascatas e quedas de água. O clima é quente. Mesmo na zona das Montanhas, as temperaturas geralmente não descem abaixo dos 20ºC. Se pretende visitar esta zona ou a costa leste deve ter em conta a chamada época das chuvas, que vai de Maio a Novembro. Contudo, a chuva cai apenas por curtos períodos (normalmente ao final do dia), pelo que deverá encontrar sol durante a maior parte da visita. No entanto, os visitantes não devem esquecer que este período coincide com a temporada dos furacões, que varrem a ilha nesta altura do ano. A região é muito procurada de Dezembro a Abril, nomeadamente nas semanas do Natal e da Páscoa. KINGSTON É a capital e maior cidade do país e alberga o centro da vida cultural local. Os inúmeros teatros apresentam um calendário contínuo de actuações e o National Gallery detém a maior colecção de arte jamaicana. Kingston é indubitavelmente o centro do comércio e cultura


nacional. A cidade merece ser visitada pelo elo seu dinamismo e especialmente pelas festistividades anuais. Se a vislumbrar a partir das montanhas, a localidade apresenta-se atraravés das encostas de subúrbios verdejantess e do esplendoroso porto natural. O centro hisistórico aparece a norte da zona ribeirinha, onde encontrará os grandes hotéis e edifícios de escritórios. A parte nova da capital desenvololveu-se a norte da referida área. A antiga casa asa do cantor Bob Marley, em New Kingston, convertida em museu, é a maior atracção da zona urbana. O local coloca ao dispor dos fãs o quarto do cantor, com a sua guitarra em forma de estrela à cabeceira, onde pode ver os buracos das balas cravadas nas paredes (fruto da tentativa de assassinato em 1976) e conhecer a árvore onde o cantor se sentava a fumar erva e a compor. A área ribeirinha de Kingston, que ainda espera pelas obras de restauro, é conhecida pela feira de artesanato das docas. Na zona sul, situam-se os hotéis económicos e os restaurantes indianos, chineses e americanos. A música reggae ouve-se ao virar de cada esquina. MONTEGO BAY A cidade piscatória mais conhecida da Jamaica recebe constantemente no seu porto uma multidão de turistas, que percorrem as ruas estreitas da região em busca das praias cintilantes, dos campos de golfe e das casas históricas. Localizada no extremo noroeste da ilha, a região é famosa pelos vendedores ambulantes e pelos admiráveis edifícios “Georgeanos” de pedra, que coabitam harmoniosamente com as casas de madeira. Apesar das melhores praias estarem restritas aos luxuosos estabelecimentos hoteleiros, os turistas têm ao seu dispor todo o género de desportos náuticos. Montego Bay é o local ideal para quem procura férias repletas de animação nocturna. As lojas e mercados lotados de bugigangas atraem os turistas, que encontram nesta pequena cidade estâncias de luxo, que lhe proporcionam dias calmos sob a luz do sol. NEGRIL Fica a 84 km a oeste de Montego Bay e é uma estância turística essencialmente de ‘massas’. Nos últimos anos teve um crescimento fenomenal, sendo muito procurada pelos adeptos do conceito “férias ao sol” na Jamaica. Porém, o facto de Negril ser um dos locais mais atrasados, permite ao turista estabelecer contacto privilegiado com os habitantes locais, pois encontra os artesãos a esculpir madeira na praia,

A NÃO PERDER Em Kingston, o National Galery e o Instituto da Jamaica estão no topo da agenda de qualquer turista. A galeria é um prédio moderno, que exibe uma colecção de quadros e esculturas de artistas jamaicanos. Porém, se a intenção é comprar pinturas ou mapas antigos, a Livraria e Galeria Bolívar são os espaços apropriados. Os museus Arqueológico, Marítimo e da Ciência e a Casa da Moeda são pontos de passagem obrigatórios. O Museu Bob Marley merece destaque em qualquer programação. Para quem aprecia cozinha internacional num ambiente elegante e com um serviço impecável, o Blue Mountain Inn, em Kingston é a escolha certa. O restaurante Jarde Garden é um bom local para os amantes da comida chinesa. Em Montego Bay, o Coral Cliff apresenta-lhe todas as especialidades da cozinha jamaicana. Se passar por Negril, não deixe de experimentar o Country Restaurant. A capital é ainda o espaço de eleição para comprar bom artesanato e rum. A loja Things Jamaican é a mais procurada. Em Montego Bay, as roupas do mercado Old Fort Craft Park fazem as delícias dos visitantes

barracas de venda de refeições saudáveis em pleno areal e será saudado afavelmente pelos moradores. As praias são de perder de vista e o pôr-do-sol é fenomenal. O litoral da estância foi a primeira área natural a receber a designação de zona protegida, que abrange um parque marítimo, os pântanos do Great Morass e as florestas circundantes. OCHO RIOS Insere-se num fundo vale, rodeado de encostas verdejantes e de frente para a larga praia Turtle e a baía protegida por recifes de coral. Ocho Rios é muito popular pelos navios de cruzeiro, que anualmente transportam 400.000 pessoas, que invadem as artérias da cidade. Os que preferem ambientes mais calmos e sossegados encontram a leste da região praias mais pacatas. No interior da localidade, a uns 5 km no fundo de um desfiladeiro escavado por um antigo curso de água, encontra Vala Fern. Encoberta por densas árvores, a zona possui pela manhã uma luminosidade subaquática. A 3 km da cidade encontra-se a maior atracção de Ocho Rios: as cataratas do rio Dun. A multidão de estrangeiros acumulase no local, fazendo filas que percorrem os 180 metros até à praia, por entre as múltiplas cascatas e piscinas naturais. É impossível evitar a confusão, pelo que se desejar experimentar a refrescante água, proveniente das quedas sombreadas pela alta floresta, terá que

se juntar inevitavelmente à multidão e esperar pacientemente pela vez. A menos de 2 km desta área, surge uma fabulosa e restrita praia, banhada pelas Laughing Waters. LONG BAY Na parte nordeste da ilha, surge uma das mais impressionantes paisagens jamaicanas, que forma uma baía em meia-lua, (com 1,5 km de comprimento) com areia de tons rosados, profundas águas azul turquesa e suaves brisas. A autêntica Long Bay é um dos melhores locais para a prática do surf. Contudo, os banhistas devem ter cuidado com as correntes. A região dispõe de canoas de pesca, que podem ser alugadas para passeio. Os turistas que procuram desfrutar de um período de laser na vila piscatória, intocada pelo turismo de massas, optam por Long Bay, onde encon-

SÍMBOLOS NACIONAIS Ave símbolo: Colibri Fruta nacional: Ackee hoe Árvore nacional: Blue Ma co aya Flor nacional: Gu Cerveja: Red Stripe Rum: Appleton Gold


TURISMO

tram um rústico parque de campismo e cabanas de madeira. Para lá chegar, a maioria dos forasteiros apanham os autocarros que partem de Porto António. Na região existe um bar-restaurante de praia e uma infindável panóplia de locais em que o peixe e mariscos secos são a especialidade. ALIGATOR POND Isolada do resto da ilha, esta povoação encontra-se edificada entre uma baía azul e dunas de areia, no fundo de um vale entalado entre ravinas inclinadas. A rua principal é animada pela vida rural, em que as mulheres rumam à praia todas as manhãs para recolher o peixe acabado de pescar. Em Aligator Pond, os turistas procuram os Sandy Cays, os famosos bancos de areia que emergem das águas a cerca de 32 km da costa e são excelentes para a prática de mergulho. Na ilha, existe um autocarro privado que faz o percurso entre Kingston e Aligator Pond. TREASURE BEACH Este é o nome dado a quatro enseadas que se estendem por alguns quilómetros a sul de

Starve Gut Bay, na costa sul da Jamaica. Os pequenos penhascos isolam as numerosas praias de areia cor de coral, cenários idílicos para umas férias românticas. A região é pouco frequentada por turistas e os desportos náuticos ainda não são praticados na ilha, apesar das suas excelentes condições. Porém, vale a pena conhecê-la, especialmente se procuram uma zona mais sossegada para relaxar. A possibilidade de ver as tartarugas marinhas a nadar até à margem é uma das atracções da ilha. Esta zona da costa recebe os caminhantes que seguem os caminhos usados pelos pescadores. LEQUE DE MÚLTIPLAS ATRACÇÕES A Jamaica tem muito mais que praias para oferecer. Os adeptos das caminhadas levariam semanas a explorar o emaranhado de percursos que existem na região, sobretudo nas Montanhas Azuis. A luxuriante Terra das Copas é ainda pouco explorada, mas perfeita para os caminhantes mais experientes. Passear a cavalo é outra possibilidade para explorar a Jamaica, pelo que a maioria das estâncias turísticas possuem estábulos e organizam excur-

informações gerais Área: 10.990 km2 Capital: Kingston Língua Oficial: Inglês (entre si os jamaicanos falam patois, que é uma mistura de espanhol, inglês e dialecto africano) Moeda: Dólar Jamaicano (geralmente aceitam dólares americanos) As principais redes de cartões de crédito e traveler’s checks são aceites na Jamaica. Pode trocar-se dinheiro em bancos, cambistas autorizados ou hotéis Preço médio por refeição: 2 a 5 USD Preço médio por refeição em restaurante: 10 a 20 USD Fuso Horário: UTC menos 6 horas A temporada alta situa-se entre Dezembro e Abril. Em Maio e Junho, o clima é igualmente agradável e os preços são mais baixos

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sões no interior do país. Os desportistas têm ao seu dispor dez campos de golfe e uma costa norte com excelentes condições de mergulho. Os tesouros nacionais vão desde os recifes de pouca profundidade às grutas a poucos metros da costa. Muitas instâncias têm embarcações de vela ligeiras, iates e pequenos barcos de cruzeiro para aluguer.

como chegar A entrada principal do país é através de Miami. A American Airlines tem onze voos diários. Três chegam a Montego Bay e os restantes a Kingston. Para conhecer toda a ilha, o ideal será alugar um carro. A circulação faz-se pela esquerda, tal como em Inglaterra. Os cidadãos não precisam de visto, mas necessitam exibir o passaporte

o que evitar • Drogas (inclusive a marijuana, que apesar de fazer parte da cultura da Jamaica, é proibida por lei desde 1913) • Frequentar lugares ermos ou escuros, sem a companhia de um guia confiável • Ir à praia sem protector solar • Pimenta na comida • Estradas à noite • Perder a paciência



TURISMO

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a cidade perdida de angkor Entre as ruínas do Império Khmer ergue-se Angkor, a cidade que dominou a região do Camboja até ao século XV. Classificada de Património Mundial pela Unesco, a região alberga mais de mil templos. Cerca de um milhão de turistas visitam anualmente os famosos monumentos, encobertos pelas florestas do norte do Grande Lago. O ponto de partida é Siem Rep.

SABIA QUE... maraviAngkor Wat foi finalista no concurso de eleição das sete ento monum al princip O O. UNESC pela ido promov , mundo do lhas a sagrad tria geome e ncia de Angkor é conhecido pela sua imponê

TRAGÉDIA E EVOCAÇÃO DIVINA Enigmática, Angkor foi o palco do colapso de uma das maiores civilizações da história do Camboja. Só a partir do século XIX é que os arqueólogos conseguiram traduzir as inscrições em sânscrito dos templos e descobrir a verdadeira história dos reis que os ergueram. Entre os séculos V e XV, o reino Khmer era o mais poderoso da região, controlando todo o sudeste asiático, desde Mianmar até ao Vietname. Considerado o maior complexo urbano do mundo pré-industrial, a cidade, que albergava mais de 750 mil habitantes, entrou em declínio em finais do século XV. Ninguém sabe apontar com exactidão as causas da queda do império mais po-

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deroso da Indochina. A cidade de Angkor ficou inacessível por duas décadas. Oculta pela densa selva, coube a um naturalista francês, que visitou as ruínas de Angkor, seguindo as indicações dos relatos de um missionário, a missão de colocar a cidade perdida no mapa. Henri Mouhot publicou os seus desenhos e diários, dando assim a conhecer a região ao resto do mundo. A terra perdida merece e precisa de pelo menos três dias para ser explorada. O melhor meio para fazê-lo é recorrer ao meio de transporte preferido dos asiáticos – a bicicleta. A região é ultra plana, pelo que é impossível perder-se. Além do mais, os cambojanos estão sempre dispostos a dar informações aos visitantes.

PROTEGIDA PELA UNESCO Desde 1991, a UNESCO tem desenvolvido um plano para preservar e desenvolver os sítios históricos de Angkor. Principal atracção turística do Camboja, a cidade dificilmente sairá da memória de quem a visita. As esculturas, que sobrevivem a séculos de deterioração e de guerras, representam o ritmo de vida em Angkor. Os baixos-relevos nas fachadas dos templos captam a atenção dos turistas, ávidos por descobrir o quotidiano da civilização Khmer. Além dos acontecimentos do dia-a-dia, os monumentos relatam cenas de guerra, através das imagens desgastadas e esculpidas nas paredes. Actualmente, existem cerca de 1,3 milhões de inscrições nos templos de Angkor. ANGKOR WAT É o maior monumento religioso do mundo. Edificado para honrar a divindade hindu Vishnu, foi construído em menos de 40 anos e constitui um símbolo nacional, marcando presença na bandeira nacional. O templo budista é a principal atracção turística, constituindo um dos principais emblemas do Camboja. Construído pelo rei Suryavarman II, no início do século XII, sob a designação de monumento central, é o templo maior e melhor preservado. É o único que assume um importante significado religioso. Inicialmente hindu e posteriormente budista, Angkor Wat é o ponto máximo do estilo clássico da arquitectura Khmer. O seu desenho representa o Monte Meru, a casa dos deuses da mitologia hindu.


Belos templos, tribos nas montanhas, ilhas cercadas de águas límpidas, belas praias e populações hospitaleiras esperam os visitantes do Camboja. A cidade de Angkor é o destino de destaque, pela sua cultura milenar, misticismo e história. Visto do ar, o monumento erguido há tantos séculos aparece e desaparece como uma alucinação. A região perdida de Angkor, actualmente em ruínas, é habitada essencialmente por agricultores de arroz, que mantêm vivos e intocáveis a panóplia de espaços. A jóia da coroa é o templo de Angkor Wat. O governo do Khmer Rouge foi deposto há mais de 20 anos pelas tropas vietnamitas. Actualmente, a impressionante região arqueológica de Angkor permite aos visitantes compreender a trajectória dos grandes imperadores. Considerada uma das maravilhas turísticas do Sudeste Asiático, a cidade atrai a curiosidade de historiadores, arqueólogos e cientistas. Entre as casas, construídas ao estilo Khmer, surge o templo Banteay Samre. Localizado entre o “grande lago”, o Tonle Sap e a serra que se ergue a norte, ladeada pelos montes Kulen, o templo foi restaurado na década de 40. As muralhas que o ladeiam simbolizam o oceano à volta do monte Meru, a mítica morada dos deuses do hinduísmo. Banteay Samre é apenas um dos mil santuários existentes na cidade de Angkor. Muitos visitantes comparam a escala e dimensão destas construções às pirâmides egípcias.

ESPÍRITOS DIVINOS As principais marcas da geração de reis Khmer são os templos, erguidos para contemplar as divindades hindus. No apogeu deste império nasceu uma religião, que sobrevive até hoje, sendo a mais praticada no Camboja: o budismo. Os visitantes encontram nesta cidade uma panóplia de templos e esculturas, criadas com fins específicos e diversos. Os seguidores do hinduísmo e budismo ergueram espaços de culto para as suas divindades. Os reis Khmer consideravam-se semidivinos e veneravam os espíritos da natureza, os Neak Ta. Ao conhecer Angkor, descobrirá que embora o budismo seja a religião oficial, o hinduísmo ainda perdura e o seu maior símbolo resiste numa estátua, que representa a divindade hindu, a cobra d’água com várias cabeças, que é conhecida entre os locais como naga e que tem como função proteger Buda. Quem passa pela cidade perdida, não pode deixar de descobrir as belas entidades femininas, mundialmente conhecidas como apsaras. Os muros de Angkor possuem cerca de 1,7 mil apsaras esculpidas. Os gestos das entidades constituem a inspiração para a dança tradicional cambojana.

o que deve saber sobre o camboja: • A população é de cerca de 12 milhões • A capital é Phnom Penh • O país faz fronteira com a Tailândia, o Vietname e o Laos • O idioma oficial é o Kmer • Nos centros turísticos fala-se o inglês

indicações para conhecer angkor Melhor época para visitar: os meses de Dezembro a Janeiro são os mais agradáveis para visitar o país. O que levar: água mineral, máquina de filmar ou fotográfica, boné, protector solar e calçado apropriado para caminhar. Imperdível: a arquitectura colonial francesa da capital, Phnom Penh. Nos restaurantes, encontra o peixe apanhado no rio Mekong em todas as ementas.

TEMPLOS PARA VISITAR: Supõe-se que os mais de mil quilómetros quadrados da antiga cidade perdida escondam mil santuários. Até ao momento, foram encontrados 50. Os mais conhecidos e procurados pelos turistas são os seguintes:

PHNOM BAKHENG: Erguido sobre uma colina, foi construído em 900 d.C.. Foi o primeiro templo a nascer em Angkor e o seu construtor, Yasovarman I, foi responsável pela abertura do canal, que alterou o curso do rio Siem Reap, redireccionando-o para o sul até ao Baray Leste.

PRASAT KRAVAN: Edificado em 921 d.C., o templo é incomum devido à sua fila de cinco torres de tijolo em baixo-relevo. Prasat Kravan nasceu pelas mãos dos funcionários do alto tribunal.

PHIMEANAKAS: Data de cerca de 910/ 1100 e é uma pirâmide única, feita em rochas densas. A torre é lendária, bem como o local onde o rei Khmer tinha encontros com a deusa serpente, que aparecia sob a forma de mulher. TA KEO: Homenageia a divindade hindu Shiva. É o templo mais massivo do seu período, que data de 1000 d.C.. Ta Keo possui cinco torres e foi construído em arenito.

PREAH KHAN: Criado em 1191, o Preah Khan constitui um labirinto de pavilhões, salas e capelas. O templo foi erguido pelo budista Jayavarman VII, para homenagear a memória do seu pai.

BAYON: Nasceu entre os finais do século XII e inícios do século XIII. Os seus murais em baixo-relevo imortalizam as batalhas conquistadas e descrevem a vida comum do rei Khmer

nota: angkor Designado de Património Mundial (UNESCO), o complexo de ruínas está inserido no meio das florestas do norte do Grande Lago. Cerca de um milhão de turistas visitam Angkor, um dos mais importantes locais arqueológicos da Ásia. São mais de 400 km2 de ruínas das capitais do Império Khmer

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ARQUITECTURA & CONSTRUÇÃO

| patrícia alves tavares

Casa do Futuro O nome do projecto diz tudo. Chama-se “Casa de Sonho” e foi dada a conhecer ao público na Export Home Angola, onde foi feita a antevisão de um plano habitacional, que está a ser desenvolvido pela Associação de Indústrias de Madeira e Mobiliário de Portugal (AIMMP), que pretende desta forma incutir o conceito da qualidade e inovação aliados ao design moderno, de modo a dinamizar o mercado da construção civil. As residências do futuro, que se adaptam às exigências ambientais, de eficiência e sustentabilidade, serão apresentadas oficialmente na Constrói.

‘casa de sonho’ ao pormenor Ocupa 386 m2 e está totalmente decorada, equipada e pronta a habitar. Possui: • Quatro suites • Cinco casas de banho • Duas salas de estar • Uma sala de jantar • Uma piscina • Um jacuzzi • Um jardim

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A ideia de criar uma modelo habitacional que revolucione o mercado angolano e se adapte às necessidades nacionais partiu da associação portuguesa AIMMP, que se encontra no país a desenvolver três acções de grande envergadura. Por um lado, há que dar continuidade ao plano de instalação das indústrias do sector nas várias províncias (orçado em 100 milhões de euros). Os restantes objectivos nucleares dizem respeito ao desejo de introduzir, em colaboração com diversas empresas associadas, o projecto “Casa de Sonho”, que foi recentemente abordado na Export Home e será erguido no próximo certame dedicado à construção civil para que os visitantes possam conhecer integralmente as residências do futuro. De 15 a 18 de Outubro, a AIMMP mostra na sétima edição da Constrói Angola o protótipo da casa que faz parte do imaginário de cada família. Construído pela Modular

System, o espaço, que será dado a conhecer ao público no maior evento associado ao mercado imobiliário nacional, foi equipado por diversas empresas, que acederam ao convite da AIMMP e da sua marca Associative Design. As características únicas são apenas uma das novidades de um projecto que tem como intuito introduzir no ramo da construção civil uma nova génese residencial, que tenha em consideração a eficiência energética e a preocupação com a salvaguarda dos recursos naturais e redução da emissão de poluentes, visto que o país começa a registar elevados índices de poluição, sendo urgente regular este ramo de actividade. NOVA GERAÇÃO RESIDENCIAL Após a passagem por Milão e Nova Iorque, a marca empresarial Associative Design escolhe Angola para expor o conceito inovador de edificar residências, que se adaptem às novas exigências da sociedade moderna. Dezoito empresas associaram-se à AIMMP para desenvolver um produto, concebido de raiz em Portugal. O facto de estar em curso a implementação de seis fábricas de produção de madeira nas províncias nacionais é uma mais-valia, uma vez que o novo modelo habitacional proposto pela empresa poderá, no futuro, recorrer a matéria-prima nacional. Totalmente decorada, equipada e pronta a habitar, a casa que todos


export home antevê projecto inovador A AIMMP, representada pela secretária-geral Maria Fernando Carmo e por elementos da Associação Empresarial de Portugal (AEP), participou na Export Home, que decorreu em Luanda entre 30 de Julho e 2 de Agosto. O protocolo celebrado entre a AEP e FIL (Feira Internacional de Luanda) tem como finalidade promover iniciativas, que permitam às empresas portuguesas aceder ao mercado angolano, que se assume como destino preferencial, devido ao programa de criação de um milhão de casas até 2012. O certame permitiu aos visitantes antever o inovador e imponente plano da AIMMP. “Estamos a falar de um projecto de grande impacto, que não só vai juntar empresas da Fileira Casa, mas também de sectores que lhe são complementares. Só podemos avançar que tudo o que um angolano necessita e sonha vai encontrar no espaço que estamos a preparar na Constrói”, avançou Maria Fernanda Carmo

idealizam ocupa 386 metros quadrados e dispõe de quatro suites, cinco casas de banho, duas salas de estar, uma sala de jantar, uma piscina, um jacuzzi e jardim. No cômputo geral, serão utilizados cerca de 30 módulos para concretizar o projecto, que conta com uma vasta equipa, composta por empresas de decoração de interiores e de concepção de produtos e sistemas para a construção. AMIGOS DO AMBIENTE Painéis solares, espaços reservados para combustão, reciclagem e electrodomésticos que economizam energia são algumas das funcionalidades que compõem a “Casa de Sonho” e fazem deste projecto habitacional uma estrutura auto-sustentável. A empreitada está ao cargo da empresa Modular System, que recorre a um sistema construtivo modular em madeira, que parte da sua justaposição para alcançar diversas configurações, que se adaptam às necessidades de cada utilizador. Os edifícios são integralmente desenvolvidos em Portugal e apresentam um reduzido impacto ambiental, devido à utilização de materiais naturais e recicláveis, em que se aposta nas energias renováveis e no reaproveitamento dos recursos naturais. Ao projecto associa-

ram-se múltiplas marcas portuguesas, que têm como responsabilidade equipar a “Casa de Sonho” com todas as infra-estruturas, design e decoração, essenciais para tornar o espaço habitável. Aliás, a eco-eficiência e gestão ambiental incorporam as preocupações da AIMMP, cuja filosofia da empresa tem como objectivos a redução do consumo de recursos e seus impactos na natureza, bem como o aumento do valor dos produtos e serviços. As residências que a entidade pretende erguer deverão ter em atenção a redução da intensidade energética de bens e serviços, a diminuição da dispersão tóxica, a promoção da reciclabilidade dos materiais e a maximização do uso sustentável dos recursos renováveis, aumentando a durabilidade dos produtos. IMPORTÂNCIA DA SUSTENTABILIDADE Os seus componentes são acessíveis para a maioria das bolsas, uma vez que a aplicação das técnicas de design industrial na arquitectura habitacional contribui para o fabrico em série das matérias, permitindo a redução dos custos de produção. Os materiais usados são de elevada qualidade, pautando-se pela durabilidade aliada ao conforto. Não obstante, os preços da “Casa de Sonho” ainda não foram

divulgados, pelo que só devem ser conhecidos durante a edição da Constrói. Certo é que é necessário ter poder de compra para adquirir estas residências, já que as funcionalidades e equipamentos com que estão dotadas são dispendiosos. Apesar de se tratar de um investimento caro para muitos, esta tipologia permite a muitas famílias poupar a médio e longo prazo. Uma casa que está provida com energias renováveis e com infra-estruturas que permitem a poupança energética acarreta inúmeros benefícios em termos económicos e ambientais. Desta forma, o investimento inicial compensa e, apesar dos custos iniciais, a “Casa de Sonho” traz a possibilidade de poupança durante o dia-a-dia, em que as despesas com os materiais renováveis são compensadas pela sua maior durabilidade em detrimento de outros mais baratos e mais poluentes. O novo conceito proposto nas habitações do futuro é determinante para o desenvolvimento nacional, que começa a ter em conta as necessidades de preservar recursos vitais e perecíveis e de reduzir os níveis de poluição e impactos ambientais. A evolução das cidades será mais sustentável caso as residências tenham em consideração as problemáticas diárias e exigências da sociedade actual.

REQUALIFICAÇÃO ATRAI NOVOS PROJECTOS A associação portuguesa pretende investir 100 milhões de euros na concretização de um plano encomendado pelo Ministério da Indústria, em Outubro de 2008. O projecto consiste na criação de seis fábricas (uma de aglomerados de madeira, outra de pavimentos, duas de mobiliário e duas de carpintaria) e de um centro de formação profissional. A iniciativa vai gerar 720 postos de trabalho directos e dois mil indirectos. A AIMMP propõe-se desta forma a assumir o desafio de criar uma indústria de transformação florestal semelhante à portuguesa, num período de 15 anos (e que em Portugal demorou 35 anos)

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ARQUITECTURA & CONSTRUÇÃO BREVES

| patrícia alves tavares

INAD clarificou maior área de estradas Mais de nove milhões de metros quadrados de bermas de estradas e da faixa do aeroporto Albano Machado, na província de Huambo, foram clarificados apenas no primeiro semestre de 2009. A acção esteve a cargo do Instituto Nacional de Desminagem (INAD) e segundo o responsável local, Victor Jorge, os trabalhos foram concretizados através dos métodos de desminagem manual e mecanizada (Hitachi). As operações permitiram recolher 52 minas anti-pessoal, três minas anti-tanque, 307 engenhos explosivos e 96 munições. O técnico explicou que a maioria das áreas concluídas se inseriram nos projectos de fibra óptica, levados a cabo pela empresa de telecomunicações Angola Telecom. Vítor Jorge recordou que no referido período foram desenvolvidas actividades de pesquisa e levantamento nas zonas de reserva fundiária do governo, nas localidades de Lossambo, Canhama e S. José-Canjaia, na sede dos municípios de Huambo e Caála. Estão igualmente em curso os trabalhos de desminagem do novo traçado das torres de alta tensão Belém do Huambo-Chinguari (Bié) e o acompanhamento da reabilitação do Caminho-de-Ferro de Benguela.

Isenção de impostos favorece reconstrução António Lapa, director comercial da empresa FERMAT, defende que a isenção de impostos aduaneiros e de consumo sobre os materiais de construção civil vai contribuir para a dinamização do processo de requalificação das infra-estruturas nacionais. A referida medida foi aprovada recentemente em Conselho de Ministros e mereceu elogios por parte do responsável, que admitiu que a acessibilidade dos materiais terá como beneficio a minimização dos custos de construção das residências sociais. O consumidor também é afectado por esta medida, cuja inexistência de carga fiscal permitirá vender mais barato. Além das vantagens para privados e empresas, a iniciativa, segundo António Lapa, favorece “aqueles que estarão integrados no processo de construção de habitações para as populações de baixa e média renda”. De acordo com o empresário, o processo contribuirá para a evolução da economia nacional, através da redução dos preços de construção, que se traduzirão mais competitivos. A FERMAT está implementada no mercado angolano há 18 anos, trabalhando no ramo da venda de artigos como máquinas, ferragens, cerâmicas, sanitários, andaimes, prumos, cofragens, cimento, massas de reboque, tintas, entre outros.

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Cem mil lotes para construir O Governo pretende doar até ao final deste ano cem mil lotes de terra aos cidadãos nacionais, que se destinam à construção de residências em todo o território. A iniciativa insere-se no programa de fomento habitacional. O anúncio foi proferido pelo ministro do Urbanismo e Habitação, José Ferreira, que explicou que 50 por cento das referidas áreas já se encontram totalmente urbanizadas nas 18 províncias. O responsável preferiu não avançar a data da entrega dos lotes. No entanto, avançou que o projecto se enquadra no programa de construção de um milhão de casas nos próximos quatro anos (lançado em 2008). O ministro aproveitou o momento para confirmar que a iniciativa decorre a bom ritmo, contando com a colaboração das direcções provinciais, que têm actuado essencialmente nos espaços destinados à criação de residências de baixa, média e alta renda. José Ferreira apontou a acção do governo da Huíla como exemplo a seguir, pois nos últimos seis meses a execução do processo tem sido rápida. Por seu lado, Isaac dos Anjos, governador da Huíla anunciou que foram identificados 25 701 hectares, o que permitirá atribuir 135 mil lotes às populações dos 14 municípios, estando prevista a construção de habitações para todos os estratos sociais, fábricas, hospitais, escolas, universidades, indústrias e outras infra-estruturas. “A província da Huíla tem condições propícias para que este projecto decorra sem sobressaltos. Depois de Luanda, a província é a segunda em termos de densidade populacional. Por isso, é preciso que canalizemos com urgência os projectos que aqui forem direccionados”, finalizou.



INOVAÇÃO & DESENVOLVIMENTO

| manuela bártolo

crédito ono ao carb

Mercado de emissões como motor de progresso económico

Os executivos devem estar atentos às potencialidades que as novas políticas ambientais propiciam aos seus negócios As alterações climáticas são diferentes de todos os outros desafios ecológicos ou de saúde pública que as democracias alguma vez enfrentaram. A escala do problema ao longo do tempo e espaço, as suas causas versáteis e complexas, o enorme custo de o abordar (e o custo ainda maior de o ignorar) – tudo isso desafia a nossa intuição. E esta enorme complexidade irá confrontar os executivos à medida que estes começarem a contemplar o que as realidades das políticas climáticas significarão para os seus negócios. Muita da discussão actual entre os líderes empresariais e políticos envolve pormenores sobre como aplicar um sistema de ‘cap and trade’ com base no mercado. Isto, claro, é o esquema em que os reguladores definem limites de emissões e um sistema de créditos que permite às empresas cumprirem esses limites – criando assim um incentivo para que estas encontrem as formas mais eficientes de reduzirem emissões pelos custos mais baixos. É claro que a maioria dos governos vai acabar por se convencer principalmente, ou até exclusivamente, neste tipo de abordagem concentrada no mercado e isso proporcionará um contexto nacional e global para

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a acção empresarial sobre as alterações climáticas. Mas o ‘cap and trade’ por si só será insuficiente, por duas razões. Primeiro, tendo em conta as tecnologias actuais, o preço dos créditos de CO2 precisaria primeiro de subir a níveis politicamente insustentáveis para atingir as reduções de emissões que a maioria dos cientistas acredita serem necessárias para evitar danos irreparáveis no ambiente. Segundo, muitas das medidas mais poderosas para reduzir as emissões envolvem infraestruturas novas, padrões técnicos novos, planeamento regional e pesquisas básicas – domínios nos quais os preços e os mercados, por si, são inadequados. A natureza das alterações climáticas, assim como as realidades do comportamento económico e político, tornam mais provável que no final seja usada uma abordagem reguladora com várias frentes – incorporando, mas não se limitando a, abordagens baseadas no mercado. Apesar de ser impossível prever exactamente que forma terá este conjunto de políticas públicas e privadas, as possibilidades mais realistas estão hoje em enfoque. Infelizmente, algumas empresas, ao planearem um futuro “pós-carbono”, estão a apostar em estratégias que

apenas compensariam em cenários mais extremos (e pouco prováveis). A tecnologia de fixação de carbono actualmente disponível, por exemplo, faz sentido apenas quando os preços dos créditos de CO2 estão extremamente altos; o desenvolvimento de fábricas convencionais a carvão só funcionaria financeiramente se não existissem limites de CO2. Uma avaliação lúcida aos pontos fortes e aos limites de um sistema ‘cap and trade’ sugere uma via estratégica mais evolutiva para os produtores energéticos e industriais.

A regulação do carbono será inesperadamente complexa e os líderes empresariais terão de planear a sua abordagem de modo adequado CUSTOS E COMPLEXIDADES As alterações climáticas são uma questão inerentemente complicada para se compreender. Primeiro há a amplitude do problema. Sob os cenários “do costume”, em que as emissões de carbono continuam a subir (ou até a estabilizar), calcula-se que o custo total


dos danos relacionados com as alterações climáticas ao longo dos próximos dois séculos seja “equivalente a uma redução média no consumo global per capita de pelo menos 5%, agora e para sempre” e 20% nos países mais vulneráveis (a fonte destes cálculos está no relatório de 2007 de Nicholas Stern intitulado The Economics of Climate Change e publicado pela Cambridge University Press). Estes custos podem ser mitigados, mas apenas se as emissões do sector energético forem cortadas em 60 a 75% e sejam realizados cortes extensivos nas emissões dos transportes. Até as melhores abordagens podem exigir biliões de euros na sua implementação. Para a maioria das pessoas, estes números são tão grandes que acabam por perder significado. O problema na forma de abordar as alterações climáticas é igualmente intrigante, em parte graças à cadeia difusa de causalidade e aos atrasos envolvidos. As emissões que entram na atmosfera hoje podem ter impactos insignificantes a curto prazo, mas contribuir directamente para níveis perigosos de gases com efeito de estufa (GEE) daqui a cem anos ou mais. As melhores respostas tecnológicas ainda não estão disponíveis comercialmente e por isso não sabemos quanto vai custar a sua implementação. E a variedade de actividades humanas que resultam em emissões apresenta os seus próprios desafios.

As questões de igualdade, como por exemplo se as nações pobres deverão pagar ou se as incertezas actuais justificam que paguem as futuras gerações, abundam A chuva ácida foi reduzida significativamente com o ‘cap and trade’, mas foi principalmente causada pelas emissões de dióxido de enxofre e de óxido nitroso, ambas de centrais eléctricas alimentadas a carvão; as emissões de GEE vêm de várias actividades e sectores da economia. Nenhuma fonte única de carbono atmosférico representa mais de 30 ou 40% do total. Em vez disso, o único consenso actual sobre soluções parece ser que não há uma fórmula mágica. E, claro, toda a discussão está a ter lugar numa altura em que

temos uma ciência imperfeita que se desenvolve rapidamente e ao mesmo tempo perspectivas muito partidárias. As questões da equidade (como por exemplo se as nações ricas ou pobres deverão pagar ou se as incertezas actuais justificam que paguem as futuras gerações) abundam. Os esforços para estabelecer taxas de juro apropriadas para uma análise custo/benefício de políticas alternativas acabam enredados no que parecem ser contradições irreconciliáveis. Apesar das muitas complexidades desta questão, o apoio público a acções que combatam as alterações climáticas é vasto e está a crescer. Muitas nações já adoptaram limites obrigatórios às emissões de CO2; o mesmo fizeram muitos estados, cidades e empresas no mundo industrializado. O debate sobre o sistema ‘cap and trade’ em particular está a passar do “Devemos fazê-lo?” para as múltiplas questões que envolvem o “Como fazê-lo?”. E aqui, mais uma vez, há desacordos: em relação à percentagem dos direitos às emissões que devem ser dadas às empresas em oposição à percentagem que deve ser leiloada; em relação à velocidade e severidade das reduções nas emissões; em relação ao uso apropriado dos procedimentos por parte dos governos. Em geral, estes debates reduzem-se a uma questão de distribuição: se os pormenores da distribuição devem ser definidos para favorecerem geografias em particular (áreas dependentes do carvão versus áreas receptivas a moinhos de vento), sectores em particular (produtores que precisam de mais energia versus sectores de serviços) ou tipos de empresas em particular (empresas de energia eléctrica com grandes portefólios nucleares e renováveis versus empresas com mais unidades movidas a carvão). Contudo, a qualidade acalorada destes debates pode obscurecer uma questão mais fundamental relacionada com a natureza dos próprios mercados.

No mundo real, o esquema de troca de emissões da União Europeia passou por uma volatilidade. Os impostos sobre o carbono são vistos em geral como um fracasso político

OLHAR SOBRE ÁFRICA O comércio de carbono podese converter numa garantia de segurança alimentar em África, se a comunidade internacional reconhecer que a agricultura sustentável e a preservação das florestas contribuem para minimizar a mudança climática. O continente é responsável por apenas 3,8% da concentração de gases causadores do efeito de estufa, mas será a região mais prejudicada do planeta. A África deve utilizar o comércio de carbono para conseguir a segurança alimentar em risco. No contexto do mercado de carbono estabelecido no Protocolo de Quioto, as empresas que superam os seus limites de emissões de GEE podem investir em projectos limpos, enquanto ganham tempo para reduzir a sua própria contaminação. É aí que entram os pequenos agricultores africanos. Se forem reconhecidas a importância do cultivo sustentável e a preservação das florestas, os contaminantes dos países ricos poderão comprar créditos de carbono aos camponeses deste continente. Dessa forma, o mercado global de carbono cresce.

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INOVAÇÃO & DESENVOLVIMENTO

sabia que…

AS OMISSÕES NO MERCADO DE EMISSÕES Winston Churchill afirmou que a democracia era o pior sistema político, exceptuando todos os outros. Pode dizer-se algo semelhante sobre o uso dos mercados de ‘cap and trade’ para reduzir os gases com efeito de estufa. Os mercados podem ser imperfeitos e estar incompletos, mas todas as alternativas (pelo menos individualmente) são piores. A regulamentação clássica de “ordem e controlo” pode ser ineficiente e provavelmente intragável em termos políticos. Os impostos sobre o carbono são vistos em geral como um fracasso político pelo menos nos Estados Unidos. E ficar de braços cruzados, pelo menos a nível empresarial ou nacional, é uma proposta demasiado arriscada. Como referido anteriormente, os regimes ‘cap and trade’ foram aplicados com grande sucesso na regulação da chuva ácida, com início em 1989. Os regimes reguladores existentes na Europa, no nordeste dos EUA e na Califórnia estão a usar abordagens semelhantes. Os benefícios destes regimes com base em mercados, em comparação com mandados quantitativos ou tecnológicos, são bem conhecidos. Os mercados criam sinais de preços que permitem que milhões de escolhas descoordenadas sejam direccionadas para a redução do carbono, apresentando ao mesmo tempo inovações tecnológicas e empresariais, sem a necessidade de um controlo centralizado. Mas as desvantagens da utilização de mercados na redução de emissões não podem ser ignoradas. Primeiro, e antes de mais, como mostrou um inquérito recente da Booz & Company aos consumidores dos EUA, muitas pessoas não estão preparadas para os preços que teriam de pagar pela energia com um regime ‘cap and trade’. Não surpreende assim que no centro e sul dos EUA, onde o preço da electricidade permaneceu igual ou caiu em termos reais no espaço de duas décadas e onde o apoio político à abordagem às alterações climáticas é

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O sistema ‘cap & trade’ funciona como algo similar a um mercado de créditos de carbono. O governo estabelece limites de emissão; quem se mantiver abaixo do limite pode vender créditos; quem precisar emitir acima do limite terá de comprar créditos. Esta é uma opção para sistemas ambientalmente mais desgastantes, como, por exemplo, os EUA, que tem prevista a tributação das emissões ou a proibição de emissão acima de determinados patamares. O ‘cap and trade’ não deixa de ser controverso, mas tem vindo a encontrar cada vez mais adeptos, inclusive entre ambientalistas

baixo, as pessoas se mostrem relutantes perante a ideia de um aumento nos impostos. Mas os inquiridos que são ambientalmente e socialmente progressivos de locais como o nordeste e o noroeste dos EUA também não se sentem inclinados a pagar um preço mais alto pela electricidade ou pelo combustível para transportes, mesmo depois de ficarem a saber que isso iria reflectir a necessidade de reduzir as emissões de carbono. Em vez disso, a pesquisa mostrou que os consumidores dos EUA e de todas as cores políticas acreditam que os outros (nomeadamente os grandes negócios) deveriam desembolsar os custos. Isto sugere que as tentativas de impingir o aumento nos preços aos consumidores para reduzir as alterações climáticas seria politicamente insustentável, talvez até reduzindo a boa vontade geral que actualmente apoia as acções contra as alterações climáticas. Infelizmente, os preços da energia sob a maioria dos sistemas ‘cap and trade’ e dos sistemas de trocas não serão suficientemente altos para fazer com que os consumidores dêem os passos necessários para mitigarem as alterações climáticas. E as provas sugerem que, não importa quão altos fiquem os preços da energia, mesmo assim serão motivadores insuficientes por si só. Por exemplo, muitas pessoas continuam sem aproveitar o isolamento das suas casas, a climatização (a modificação de edifícios para os tornar menos vulneráveis ao calor, frio e humidade) e

outras oportunidades para melhorar a eficiência energética, apesar de essas soluções serem economicamente atractivas aos preços actuais. O hábito, a ignorância e a inconveniência servem como barreiras resistentes à mudança de comportamento, independentemente dos incentivos. Outra falha dos sistema ‘cap and trade’ é a sua dependência por incentivos pecuniários – os quais têm um historial pobre na influência de certos tipos de comportamentos humanos. Vejamos os milhões de pessoas que decidem dar sangue, fazer trabalho militar voluntário em tempos de guerra, perder algum tempo com as comunidades locais e separar voluntariamente todas as semanas o lixo reciclável. A sensação de auto-satisfação ou a aprovação ou a recriminação social podem funcionar onde os mercados não funcionam – ou onde estes são vistos como socialmente inapropriados. O mesmo parece acontecer no caso das atitudes populares em relação às alterações climáticas. Cerca de 80% dos inquiridos pela Booz & Company afirmou que pagaria um preço substancialmente mais alto pelas suas próprias soluções renováveis, mas que não pagaria uma pequena percentagem dessa quantia por um preço mais alto na energia. Por exemplo, a maioria dos inquiridos revelou que preferia instalar um painel solar em casa do que pagar um ligeiro aumento na conta da electricidade para reflectir o custo da redução no carbono. Por fim, como a crise no sector



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financeiro da segunda metade de 2008 nos relembrou, os mercados livres nem sempre dirigem as pessoas a escolhas ideais ou apropriadas. Nos mercados energéticos em geral, a capacidade dos preços para fornecerem informações úteis é comprometida pelas falhas temporais e pela enorme escala dos investimentos, típicos neste sector de capital intensivo. As simulações recentes levadas a cabo pela Booz & Company sobre as possíveis implicações de um regulamento climático para o sector eléctrico dos EUA (com executivos líderes de empresas de utilitários e de petróleo e gás e outros participantes) sublinharam esta questão. Tal como no mundo real, até os peritos mais experientes falharam na previsão das consequências das escolhas uns dos outros. O resultado foi uma onda geral de desinvestimento e depois um excesso de investimento na nova geração de energias, com o preço das emissões a subir a níveis muito altos antes de caírem e chegarem quase a zero. No mundo real, o esquema de troca de emissões da União Europeia passou por uma volatilidade semelhante. Este padrão pode facilmente reaparecer no mercado de ‘cap and trade’ dos EUA.

Muitas nações já adoptaram limites obrigatórios às emissões de CO2; o mesmo fizeram muitos estados, cidades e empresas no mundo industrializado O QUE PODEM FAZER OS LÍDERES POLÍTICOS? No final, a natureza multifacetada das alterações climáticas e as mudanças exigidas no comportamento e no investimento necessário para lidar com elas fazem com que qualquer abordagem que dependa apenas do programa ‘cap and trade’ seja problemática. O que podem então fazer os líderes políticos? Em vez de colocarem um peso excessivo em cima das frágeis instituições de mercado, vão

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acrescentar outros instrumentos políticos veneráveis ao sistema ‘cap and trade’. Algumas iniciativas para as alterações climáticas já seguem a abordagem denominada “cinto e suspensórios” (em que há mais de uma abordagem para o mesmo problema). Por exemplo, o Global Warming Solutions Act da Califórnia, de 2006, estabeleceu um programa de referência para as alterações climáticas que junta os mecanismos reguladores e de mercado com o objectivo de reduzir as emissões de GEE para apenas 20% dos níveis de 1990 em 2050. Como os transportes contribuem 39% para as emissões brutas de GEE, esse sector tornou-se um alvo importante. A Califórnia usa uma mistura de políticas, incluindo a eficiência de veículos e padrões de quilometragem, mandatos para níveis baixos de carbono nos combustíveis para transportes e uma transição de gasolina e gasóleo para combustíveis alternativos e renováveis. Além disso, o estado oferece 90 milhões de euros todos os anos em concessões, empréstimos rotativos, garantias de empréstimos e outras medidas para desenvolver e usar tecnologias automóveis e combustíveis. A Califórnia também quer aumentar a produção de electricidade a partir de recursos renováveis em 33% até 2020, através de uma combinação de padrões para edifícios e aplicações e programas fornecidos por empresas públicas, governos locais, organizações comunitárias e o sector privado. Formaram-se subgrupos Climate Action Team em sectores como a agricultura, silvicultura e energia para identificarem e analisarem medidas de forma a reduzir as emissões. O uso de terras e as políticas agrícolas também estão incluídas neste portefólio robusto. Do outro lado do Atlântico, o governo alemão implementou um plano semelhante para uma redução de 40% nas emissões de GEE do país até 2020. O plano, que afecta sectores como o da agricultura e transportes, também exige que a electricidade produzida na Alemanha a partir de fontes renováveis seja de 25% a 30% em 2020 (o pa-

Tome nota Os mercados de carbono são um mecanismo previsto no Protocolo de Quioto da Convenção das Nações Unidas sobre Mudança Climática, segundo o qual países e empresas, especialmente do sector da energia, podem adquirir o direito de emitir gases de efeito estufa em troca de financiamento de projectos que minimizem o fenómeno

ís já tem a percentagem mais alta de capacidade eólica instalada no mundo). Além disso, o governo vai implementar um pacote de políticas de redução de emissões, assim como 14 novas leis e regulamentos concebidos para encorajar os negócios que conservam energia. E ao dar centenas de milhões de euros em subsídios para encorajar os proprietários de edifícios e de casas a instalarem sistemas de aquecimento eficientes, o governo alemão espera aumentar a eficiência energética dos edifícios. Tendo em conta a novidade, complexidade e escala do desafio, os governos irão indubitavelmente passar por várias abordagens. Contudo, ao longo do tempo acabarão por gravitar na direcção de políticas que reflectem as realidades subjacentes da redução de emissões, das políticas nacionais e locais e da economia. Isso quase de certeza que significa, no fundo, que a paisagem reguladora irá reflectir estes três princípios gerais:

O debate sobre o sistema ‘cap and trade’ em particular está a passar do “Devemos fazê-lo?” para as múltiplas questões que envolvem o “Como fazê-lo?”


1.soluções “low-cost” As fontes mais acessíveis para a redução das emissões de GEE são, de longe, a melhoria da eficiência energética e programas de conservação de terrenos e reflorestação; foi essa a experiência de dezenas de empresas e de governos de todo o mundo. No passado, as opções mais bonitas e com custos mais altos, como o solar fotovoltaico e as tecnologias de “carvão limpo”, receberam mais atenção e fundos. Isso vai mudar à medida que os acordos de custo/benefício favorecem essas medidas como padrões de eficiência para edifícios e produtos electrónicos. A automatização também ajudará a reduzir as barreiras comportamentais ao proporcionar maiores poupanças através da eficiência energética. Por exemplo, as tecnologias avançadas de controlo, juntamente com os dados sobre preços em tempo real e as trocas de informações possibilitadas por sistemas de redes inteligentes, farão com que os aparelhos “decidam” quando reduzir a carga como uma função das condições da rede geral de electricidade (o que por sua vez incorpora os preços do carbono). A opção mais acessível para reduzir emissões em termos de custos irá muitas vezes variar consoante a geografia e o estado do desenvolvimento económico local. Um estudo de 2008 do World Wildlife Fund e da Booz & Company revelou que as fontes mais significativas de emissão mudam bastante ao longo do ciclo de vida de uma cidade ou região. Durante as primeiras fases do desenvolvimento económico, a maior redução acontece na concepção de novas infra-estruturas para transportes e comunicações de forma a apoiar uma habitação densa e uma banda larga (a ligação à internet pode reduzir as viagens para o trabalho e outras viagens e possibilita um uso mais inteligente de energia dentro dos edifícios). Para as cidades mais estabelecidas com um crescimento mais lento, as fontes mais eficazes de redução de emissões são as alterações no fornecimento de electricidade e a eficiência energética.

2.

mercados aerodinâmicos A concepção de mercados de emissões de carbono ainda está em desenvolvimento. Uma das tendências mais importantes, por exemplo, é o movimento para incorporar “compensações” como as florestas, as quais têm um papel enorme na redução de CO2 mas nem sempre são aceites como viáveis num programa de trocas. Outro desenvolvimento provável será a criação de mecanismos que reduzam a volatilidade dos preços. Por exemplo, certos líderes podem aplicar nas alterações climáticas alguns dos princípios que William Hogan, professor em Harvard, propôs para o controlo dos mercados de electricidade.

3.

um compromisso a longo prazo Até agora, os governantes de muitos países, incluindo dos EUA, não forneceram as condições estáveis e a longo prazo para que as novas tecnologias florescessem. No coração da redução de GEE estarão escolhas corporativas sobre quais os projectos a apoiar, os quais envolvem biliões de euros e várias décadas para implementar. Infelizmente, as empresas que querem investir em tecnologias limpas enfrentaram uma paisagem reguladora imprevisível e inconstante. Os subsídios param e começam. As leis mudam. Sem um compromisso correspondente por parte dos seus homólogos políticos, os líderes empresarias não conseguem prometer o capital necessário para transformar o sector ao longo do tempo. Comparemos o destino do sector da energia eólica dos EUA com o do sector da energia solar fotovoltaica no Japão e Europa. Nos EUA, o investimento na energia eólica tem dependido de um “crédito fiscal de produção” fornecido pelo governo, o qual foi oferecido e retirado numa série de “pára e arranca” ao longo dos últimos anos. Mas o mecanismo para subsidiar o sector da energia solar fotovoltaica no Japão, Alemanha e noutros locais foi explicitamente concebido para durar. Os subsídios diminuíram de uma forma lenta e cuidadosamente planeada, criando assim incentivos para os produtores fornecerem a preços reduzidos através do aumento de escala, aprendizagem e inovação. A resultante melhoria nos custos e o crescimento do sector seguiram-se previsivelmente. Nos EUA, a mudança na regulamentação contribuiu para um aumento drástico no custo dos projectos, enquanto que em França, um ambiente regulador mais estável possibilitou um crescimento rápido e custos de projecto mais baixos.

FAZER APOSTAS ACERTADAS Se as políticas públicas forem desenvolvidas desta forma, então o caminho é claro para os líderes empresariais no sector energético e industrial. Não vale a pena apostar em projectos que só compensam com um preço muito alto de CO2. Por exemplo, com as tecnologias actuais, a fixação de carbono só é financeiramente viável se o preço do CO2 se mantiver aproximadamente acima dos 50 euros por tonelada. Por outro lado, uma estratégia de status quo que dependa da “liberdade” das emissões de carbono (como a estratégia da geração que dependia tradicionalmente do carvão) também é arriscada. As maiores oportunidades para investimento serão as transformações holísticas em infraestruturas urbanas ou regionais onde os sistemas de energia, transportes, saneamento e telecomunicações são vistos como estando interligados e o desenvolvimento financeiro, de construções e tecnológico e o design social são concebidos em uníssono. Muitas das discussões sobre a soluções baseadas em mercados são demasiado optimistas ou demasiado pessimistas. Essas discussões ignoram ou subvalorizam os custos ou insistem que os custos são demasiado grandes para qualquer acção. A melhor resposta empresarial envolve uma análise aos pontos fortes e aos limites das opções disponíveis, à luz da complexidade do ambiente regulador, político e social emergente. Idealizar um mundo no qual a sociedade usa várias ferramentas para abordar o problema das alterações climáticas (incluindo padrões, programas de pesquisa, subsídios e interdições, além dos mercados de carbono) abre uma vaga muito maior de oportunidades novas do que as estratégias limitadas (apesar de meritórias) que actualmente são seguidas. O carvão limpo, a geração renovável e afins são apenas a ponta do icebergue “pós-carbono”. São as acções sob a superfície (mudanças comportamentais, eficiências, inovação incremental, concepção de infra-estruturas e boas práticas de gestão) que acabarão por ter o impacto maior.

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| patrícia alves tavares

império das quatro rodas sabia que... O BMW X6, orçado em cerca de USD 120 mil, foi fabricado de acordo com as estradas, o combustível e o clima angolano

É a outra face da recuperação financeira. Apesar das estradas débeis e das reduzidas infra-estruturas rodoviárias, os automóveis proliferam no país, mostrando que este nicho de mercado é um mundo de possibilidades para os investidores, uma vez que as condições de produção automóvel são ainda muito imberbes e a procura de viaturas de gama alta fez disparar as importações. As empresas de renome internacional aproveitam para explorar este sector altamente lucrativo e que pode funcionar como alavanca do desenvolvimento interno, numa altura em que se procura diversificar a produção nacional.

O sector automóvel tem um largo mercado de clientes e uma infinidade de potencialidades. Nos últimos anos, tem assumido um papel preponderante, fazendo parte dos hábitos do angolano do século XXI. A actividade vive essencialmente das importações, em que as marcas de reconhecida qualidade estão implantadas no país há alguns anos e têm dificuldades em responder à crescente procura, que aumenta anualmente. A nível nacional, a

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vertente de produção interna avança timidamente e começa a dar os primeiros passos, com a entrada em funcionamento da primeira grande fábrica. A elevada procura deste produto, tão apreciado pelos angolanos, tem levado os fabricantes internacionais a investir no território nacional, onde é mais fácil responder às necessidades dos clientes. Com uma produção forte, será possível responder com rapidez e eficiência aos pedidos, melhorar o serviço pós-venda e de distribuição de peças. Além do mais, o país encaminha-se para a concretização da meta de combate à pobreza, através da criação de postos de trabalho. O crescimento da economia angolana proporciona novas oportunidades de negócios e permite a consolidação de segmentos, que ao longo dos anos de guerra enfrentaram dificuldades de afirmação no país. Porém, actualmente estes sectores registam elevadas taxas de crescimento. É o caso do ramo automóvel, que exemplifica o ‘boom’ económico que se tem verificado na nação africana. No âmbito da reconstrução nacional, o Executivo de José Eduardo dos Santos procura apoiar todas as áreas, para levar a bom porto a política de recuperação da produção nacional,

reduzindo a excessiva dependência da actividade petrolífera e diamantífera e relançando a economia nacional, através de reequilíbrio da balança comercial (reduzir as importações e fomentar as exportações).

O crescimento da economia angolana proporciona novas oportunidades de negócios CRESCIMENTO CONSOLIDADO A importância estratégica do sector contribui para que este se assuma como interveniente directo, possibilitando a concretização de bons negócios. Nos últimos quatro anos, a área cresceu 60 por cento. Com importações anuais que ultrapassam as cem mil viaturas, a evolução deste ramo tem acompanhado o desenvolvimento financeiro. Relatórios da especialidade referem que entre 2005 e 2006, o segmento, representado pelas concessionárias, cresceu em média 59 por cento. No ano seguinte subiu para 79 por cento e em 2008 evoluiu cerca de 32 por cento. No último ano, a marca Toyota de Angola foi líder de vendas, escoando quase duas mil viaturas. O segundo concessionário que mais


vendeu foi a Cosal, representante da marca Hyundai, seguindo-se a Angolauto e a Lusolanda, ambas embaixadoras da Suzuki. Os angolanos são apaixonados pelos automóveis, tendo preferência pelos carros das melhores marcas internacionais, que oferecem inovação tecnológica e conforto. Também o mercado de importadores paralelos, segundo a Associação dos Concessionários de Transportes Rodoviários, tem assistido a um acréscimo na procura de viaturas pesadas, nomeadamente jipes e carrinhas, em que a preferência vai para os produtos chineses, que custam entre 20 e 24 mil dólares. Apesar dos elevados preços do combustível, o fomento do poder de compra e a possibilidade de adquirir crédito automóvel junto da banca são as bases do desenvolvimento do sector. A mudança de atitude e cultura dos clientes tem desencadeado a procura de viaturas novas. Os modelos adaptados ao clima e às características do país têm sido responsáveis por esta opção, levando os angolanos a preterir os carros usados. Por outro lado, a durabilidade e o facto de as viaturas chegarem ao país completas (evitando-se o roubo de peças) também pesam na escolha. Aliás, a procura de automóveis novos é tão intensa, que as concessionárias, representantes oficiais das marcas mais vendidas, não conseguem satisfazer todos os pedidos. Em média os clientes esperam dois meses para receberem os modelos dos seus sonhos, devido às constantes rupturas de stock. A demanda excessiva tem originado algumas complicações ao nível do serviço pós-venda, situação que tem merecido a atenção dos representantes das marcas, que têm apostado na melhoria das infra-estruturas e respectivos serviços.

A marca Toyota de Angola foi líder de vendas, escoando quase duas mil viaturas PRIMEIRA UNIDADE FABRIL O projecto foi aprovado em Julho e vem dar um novo fulgor ao sector, que se aventura no mercado, com produtos ‘made in Angola’. A implementação da nova infra-estrutu-

BMW VENDEU 1,5 MILHÕES DE CARROS A marca alemã tem fechado os últimos anos com saldo positivo e tem como meta a curto prazo tornarse num dos líderes do mercado angolano na venda de viaturas. Para tal, abriu em 2008 uma representação oficial da marca em Luanda, para comemorar os resultados do último ano, em que registou um volume de vendas na ordem do milhão e meio de automóveis. O espaço BMW em Angola está dotado de uma oficina de apoio equipada com tecnologia de última geração e de uma loja de venda de peças, num investimento de 12 milhões de dólares. O fabricante alemão inaugurou no mesmo local um estaleiro e um centro de formação, que desde então tem dotado os jovens angolanos das capacidades técnicas necessárias para trabalhar no ramo. Recorde-se que a marca entre 2007 e 2008 registou um volume de negócios de 56 milhões de euros

ra vai criar na economia angolana um valor acrescentado médio anual na ordem dos Usd 18.520.530. A fábrica de automóveis CSG, implantada no município de Viana (Luanda), vai produzir viaturas de todo o género, desde jeeps e carrinhas até autocarros de pequeno, médio e grande porte, bem como acessórios. A fábrica, no valor de 21,4 milhões de euros, surge no âmbito de uma iniciativa da Agência Nacional de Investimento Privado (ANIP). Com aptidão para fabricar dez mil automóveis de vários modelos por ano, terá capacidade para produzir 32 mil carros por ano até 2016. A infra-estrutura, cujo projecto de investimento privado foi entretanto aprovado, terá ainda a função de comercializar e alugar veículos. O plano tem como objectivo insta-

lar postos de venda a nível nacional e internacional, bem como dar assistência e adaptar automóveis. No total, serão criados 680 postos de trabalho directos em diferentes especialidades, 510 dos quais para funcionários angolanos. Os promotores do projecto são as empresas britânicas Pearkbright International Limited (cinco por cento do capital social) e a Powerquest International Limited (95 por cento do capital). Cada viatura deverá ter um preço médio de 26 mil dólares, sendo que o mais barato custará 24 mil e o mais caro 32 mil dólares. No final de 2009, os primeiros automóveis fabricados em território angolano deverão chegar ao mercado nacional. Nesse âmbito, 45 profissionais já receberam formação em vários domínios da mecânica, na China. O responsável pelas Vendas e Marketing da CSG Angola, Wu Hu Ming, afirmou recentemente que o mercado se revela bastante favorável para os investidores, visto que a unidade industrial ainda não arrancou e já estão encomendadas 2.800 viaturas, o que ultrapassa a produção de um mês, estimada em 2.500 automóveis. A fábrica será dotada de tecnologia japonesa.

Com competência para fabricar dez mil automóveis de vários modelos por ano, a CSG terá capacidade para produzir 32 mil carros por ano até 2016 ANGOLA, SÍMBOLO DE CONFIANÇA A crise financeira internacional tem abalado a confiança dos consumidores e investidores, que arriscam menos. O mercado angolano, por seu lado, garante confiança, devido à estabilidade económica dos últimos anos. Essa situação reflecte-se no sector automóvel, levando as companhias internacionais a optar pelo mercado africano, especialmente o angolano, para alargar a sua área de actuação, encontrando no país estabilidade e uma forte procura de automóveis, fruto das melhorias da qualidade de vida das populações. De facto, a dinamização do sector tem incentivado os

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investidores a estabelecerem parcerias, encarando Angola como parceiro económico, com um sector cheio de potencialidades por explorar. A indústria de automóveis joga um papel fundamental no desenvolvimento económico, especialmente num momento em que se investe nas estradas, situação que tem levado as entidades a adaptarem as viaturas às ruas, com resultados animadores. CHINA LIDERA MERCADO ANGOLANO Já em 2006, o país asiático exportava mil veículos de passageiros para Angola, movimentando valores na ordem dos 10,6 milhões de euros. O projecto partiu do governo chinês e marcou a sua entrada no mercado de exportação de carros para Angola, criando uma equipa específica para o efeito. A primeira acção ficou a cargo da Dongfeng Nissan, que produziu pela primeira vez veículos completos e montados, direccionados para o exterior. A empresa, fruto da parceria entre a Dongfeng Motors e a japonesa Nissan, aumentou entretanto a unidade de produção para fazer face às exigências do mercado angolano. Conhecidos por serem os mais avançados tecnologicamente e sempre na vanguarda, os chineses estão em força no mercado angolano. Em 2008, a Hipogest arrancou com as negociações para a entrada de uma terceira marca chinesa no ramo automóvel, para juntar-se à BYD e Jin Bei.

| patrícia alves tavares

APRENDIZAGEM NACIONAL A formação de quadros tem sido uma das metas das grandes marcas, que se concentram essencialmente em Luanda, o maior mercado consumidor. Segundo os operadores, há falta de técnicos, nomeadamente mecânicos e electricistas. As novas fábricas e oficinas representam o fomento do mercado de trabalho. No caso do Ingombota, os cursos profissionais básicos de electricidade e mecânico-auto são os mais procurados. A preferência por estas áreas revela a importância e peso que este sector tem vindo a assumir. A BMW também arranca este ano com um centro de ensino, que formará técnicos informáticos, mecânicos, pintores e manobradores de equipamentos. “A Sadasa investe não só em infra-estruturas, mas também no homem. Angola é um país grande pelo que precisa de uma academia para a formação de técnicos para atender as necessidades da BMW em Luanda e noutras cidades, para onde iremos expandir brevemente”, afirmou recentemente o gestor da marca. A implementação da produção nacional pode contribuir para empregar jovens, que quando terminam os cursos de aprendizagem não conseguem montar a sua oficina, devido à falta de espaço e de ferramentas, que são muito dispendiosas.

A BMW arranca este ano com um centro de formação, que formará técnicos informáticos, mecânicos, pintores e manobradores de equipamentos

CARRO ELÉCTRICO CHINÊS EM 2009 Hipólito Pires, importador exclusivo da BYD Auto para Portugal e Angola está confiante no desenvolvimento dos modelos híbridos e eléctricos do construtor chinês BYD, acreditando que as novas viaturas, menos poluentes, devem ser comercializadas na Europa ainda este ano. O responsável da Hipogest acredita que a empresa chinesa tem capacidade para substituir os híbridos eléctricos a gasolina e tornarse num dos sistemas mais eficientes do mundo. A aposta deste gestor centra-se no lançamento das marcas chinesas em Angola, uma vez que os lóbis franceses e alemães limitam a homologação destes veículos em Portugal. O gestor é ainda importador da BMW e está a negociar a entrada de uma terceira marca chinesa, no mercado nacional

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| patrícia alves tavares

Há crise no desporto? O marketing é ferramenta essencial para o sucesso do desporto. O poder das marcas, que investem nos atletas e clubes, as receitas publicitárias, de merchandising e direitos televisivos, os patrocínios e prémios são os motores de todos os sectores de negócio e o desporto não é excepção. Estes factores são decisivos para manter a máquina em funcionamento. Mas o marketing desportivo não se resume apenas ao futebol. Movimenta todas as modalidades, em que a Fórmula 1, o ténis e o golfe geram lucros, que ultrapassam o imaginável.

Num período em que a crise financeira mundial é tema de conversa diária, existe um sector da economia que não parece sofrer dos males internacionais, representando um nicho de mercado que vive num tempo e realidade próprios, onde as transferências milionárias fazem corar os mais cépticos. Veja-se o caso do futebol, cujo mercado das transferências foi notícia na imprensa mundial. Apenas o Real Madrid investiu cerca de 200 milhões de eu-

ros para renovar a equipa para a época 2009/ 2010. Contudo, se os valores movimentados neste meio são considerados para além do razoável, o futebol europeu não é a marca desportiva mais valiosa. A Sport Magazine revelou recentemente que a Fórmula 1 é, em valor, uma das competições e modalidades com maior valor comercial do mundo. A National Footeball League (futebol americano) ocupa o ranking da lista, com 3,2 biliões de euros. Seguem-se

quanto vale alonso? Os milhares de fãs compram tudo o que ele vende, o que leva as marcas a seguir Alonso para todo o lado. Marcas que investem em Fernando Alonso: Silestone (fabricante de superfícies de quartzo): 2.000.000 € Bridgestone (Fabricante de pneus): 8.900.000 € Renault (fabricante de automóveis): 100.700.000 € Total (gasolina e lubrificantes): 23.240.000 € Viceroy (relógios): 2.000.000 € Universia (portal sobre universidades): 380.000 € Puma (roupa desportiva): 1.230.000 € ING (banco): 41.800.000 € Mutua Madrileña (Seguros): 4.640.000 € Pepe Jeans (roupa jovem): 6.200.000 € Unicef: 0 €

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a Major League Baseball (Liga de Basquetebol americana) com 2,8 biliões de euros e a NBA (Liga de Basquetebol), com 2,4 biliões de euros. A Fórmula 1 vale 1,7 biliões de euros.

raio x TIGER WOODS É O MAIS RENTÁVEL O desportista individual mais cotado é o jogador de golfe Tiger Woods, que ocupa o 11º lugar do ranking, encontrando-se à frente da cotada Liga dos Campeões da UEFA. O atleta deverá subir no ranking nos próximos anos, graças aos lucros provenientes do desenho de novos campos de golfe no mundo inteiro, o que representa uma verdadeira mina de ouro para os mais cotados jogadores de golfe da actualidade


‘MARCA’ FERRARI SUPERA FÓRMULA 1 As grandes escudeiras como a Ferrari ou a McLaren investem anualmente 450 milhões de euros e pilotos de topo, como Fernando Alonso ou Kimi Räikkönen ganham 30 milhões de euros por época. Os patrocinadores também investem quantias exorbitantes, uma vez que este campeonato está no topo das audiências televisivas internacionais, com uma base de fãs cada vez mais transversal em todo o mundo. O retorno para os patrocinadores é bastante lucrativo. As estimativas realizadas no início da temporada da F1 revelam que a competição de alto nível é um mercado rentável. Analisando o valor de cada equipa no actual campeonato do ponto de vista comercial e patrimonial, ou seja, os pilotos e respectivos contratos, os preços dos patrocínios que angaria e o impacto dos direitos de transmissão televisiva, a Ferrari ocupa o topo da lista, com 550 milhões de euros. Seguem-se a McLaren (400 milhões de euros), a Renault (280 ME), a BMW (230 ME), a Toyota (225 ME) e a Williams (220 ME). Curiosamente, as equipas menos valiosas, em termos comerciais, dominam actualmente as corridas, pelo que o seu valor patrimonial é agora superior. De acordo com a revista britânica Sports Pro, a Ferrari é a sétima propriedade desportiva mais valiosa do mundo, com uma avaliação de 1,5 biliões de dólares. Aliás, a marca de Maranello vale ainda mais que a própria modalidade onde está inserida (F1) e que os ‘reis’ do futebol, o Manchester United e o Real Madrid. A venda de Cristiano Ronaldo por 94 milhões de euros ao Real Madrid fez agitar os mercados, mas em termos de retorno mediático global nenhuma marca, equipa, competição ou jogador de futebol consegue suplantar a NASCAR e a Ferrari. O investimento de 250 mil dólares realizado para o GP da Austrália por Richard Branson na Brawn GP permitiu à marca Virgin um retorno de dez milhões de dólares em cobertura televisiva, relativamente a esse evento. A publicação “Sports Pro” calculou que a Brawn ocupou 42.38 minutos da transmissão televisiva durante a qualificação e a corrida e que durante esse período os logótipos da Virgin estiveram ‘em exibição’ durante 8.56 minutos. Daí em diante, o contrato de 250 mil dólares por corrida tem sido um negócio das arábias para Branson, patrão da Virgin. À procura de um patrocinador principal, encontra-se a USF1, que tem tentado seduzir o You Tube,

uma marca com ‘alto perfil’ e capacidade financeira para o desenvolvimento do projecto da pequena equipa norte-americana.

A venda de Cristiano Ronaldo por 94 milhões de euros ao Real Madrid fez agitar os mercados, mas em termos de retorno mediático global nenhuma marca, equipa, competição ou jogador de futebol consegue suplantar a NASCAR e a Ferrari ELITES VALIOSAS Se o FIFA World Cup é o campeonato mais valioso, em termos de acontecimentos anuais, o torneio de ténis de Wimbledon surge em primeiro no ranking geral, avaliado em 900 milhões de dólares. Os tenistas também possuem cotações altas. De uma maneira geral, um jogador não participa em mais de vinte torneios anuais, apesar de se organizar mais de 60. Os melhores atletas são os mais disputados e, curiosamente, os que jogam menos. Tenistas como Federer disputam obrigatoriamente os torneios essenciais. Os restantes não são necessários e obviamente têm cotações. João Lagos, mentor e responsável do Estoril Open, em Portugal, conseguiu trazer a vedeta internacional ao último evento (em 2008) e reconhece que não é fácil requisitar os tenistas de topo. Tal implica um bom cachet e muita habilidade. Conseguir a participação de Federer numa das competições fora do círculo obrigatório custa entre meio milhão e um milhão de euros. No caso do Estoril Open, como não podia aumentar o cachet, João Lagos propôs que dez por cento do mesmo fosse para uma fundação que o atleta possui para ajudar crianças na África do Sul. O responsável do evento admite,

por outro lado, que no Estoril Open, o lucro da bilheteira corresponde apenas a dez por cento da receita global. O restante é assumido pelos direitos de transmissão televisiva e pelos patrocínios da empresa de telecomunicações PT e do banco BES. Em termos de desportistas individuais, é no golfe que surgem os atletas mundiais mais caros. A modalidade surge no topo, graças a Tiger Woods. PARTICULARIDADES DESPORTIVAS Os adeptos são factor determinante e a estratégia de gestão da marca tem que estar adaptada à realidade de cada país, aos valores de cada clube e às necessidades dos seus seguidores. Esta é a opinião da maior referência mundial nesta matéria, William Sutton. O especialista não tem dúvidas de que o marketing desportivo é diferente de tudo, pois lida com a imprevisibilidade e as emoções das pessoas, o que traz proveitos. O segredo está em concentrar-se nas extensões do produto, encarando as novas tecnologias e as crianças como aliados de peso na definição do marketing de uma modalidade. William Sutton defende que o desporto será “um negócio de entretenimento”, pois “devido à situação económica que se vive, será mais visto como um negócio, porque tem de fazer economicamente sentido para os investidores e patrocinadores”. Em entrevista à revista ‘Marketeer’, o gestor entende que o bom profissional de marketing desportivo é o bom observador. “Se visitar a página da internet dos Phoenix Suns, uma equipa da NBA, vai ver um balneário virtual, onde é possível encontrar diferentes tipos de produtos e ao clicar sobre esses produtos navega directamente para a respectiva página (ex. McDonalds, Coca-Cola, etc.) e pode comprar o bilhete para o jogo já com uma bebida ou jantar incluído e depois no estádio é muito prático para utilizar. Com isso, ganham milhões de dólares. Viram uma oportunidade de ganhar dinheiro e aproveitaram-na”, exemplificou. A inclusão das mulheres no mundo do desporto é igualmente uma oportunidade de mercado, uma vez que estas se interessam por diferentes partes do produto.

f1 perderá milhões Se a FOTA abandonar o campeonato, a F1 perde 2,2 biliões de dólares em investimento, o que representa metade do total das receitas obtidas em 2008. Os valores dos contratos televisivos podem passar para metade das quantias actuais, que chegam aos 550 milhões de dólares. De facto, as próprias equipas ao dividirem-se ficam a perder, devido à quebra potencial das audiências televisivas. Se a FOTA fugir com todo o valor comercial da disciplina para outra série, equipas como a BMW-Sauber, Brawn, Ferrari, McLaren, Red Bull e Renault podem estar de saída. “Estas equipas também gastam grandes montantes em alojamento e publicidade nas pistas. Por isso, a sua partida terá outros impactos nas receitas”, revela o relatório da Fórmula Money, citado pela Reuters

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Bola de ‘ouro’ A transferência mais cara da história do futebol agitou os mercados e a sociedade. Cristiano Ronaldo vale 94 milhões de euros e é o jogador mais valioso do mundo. A injecção de dinheiro fresco por parte do Real Madrid e do Manchester City fez correr muita tinta, suscitando comentários por parte dos analistas de futebol, que consideram exageradas as quantias investidas pelos clubes, numa altura em que a crise faz tremer todos os sectores da economia e Michel Platini aconselhou prudência nos investimentos. Enquanto as formações regionais e com menos poder económico se vêm em dificuldades para pagar aos atletas e assegurar a permanência, os grandes da Europa demonstram que nem tudo vai mal no futebol. “Um espectáculo desportivo tem características únicas como a inconsistência e a imprevisibilidade. São características que não existem em mais nenhum sector. Não se quer que um carro seja imprevisível, não queremos ir ao teatro ver o Hamlet e que toda a gente morra no fim, enquanto num evento desportivo, um jogador pode marcar um golo, na próxima semana pode marcar quatro e na próxima talvez não marque nenhum”, afirmou recentemente William Sutton. Não é a marca comercial mais valiosa do mundo, mas encontra-se no “top ten” e desperta o maior interesse da população. É a modalidade que ocupa maior tempo de antena na comunicação social. O futebol vale 1,2 biliões de euros, a Liga dos Campeões movimenta 787 milhões e os Jogos Olímpicos valem 744 milhões de euros. A importância patrimonial re-

vela que o futebol é mais que um desporto, é sobretudo um negócio, bastante rentável para todos os envolvidos. O Manchester United, o Real Madrid e o Barcelona são os mais valiosos. Analisando o estudo anual, efectuado pela consultora Brand Finance, as três formações valem no seu conjunto mil milhões de euros, onde o clube inglês lidera com 386 milhões de euros. A avaliação, realizada com base nas receitas oriundas da venda dos bilhetes, do merchandising, dos patrocínios e direitos televisivos, define os Red Devils como uma marca “extremamente forte”. O valor da equipa cresceu em 77 milhões de euros relativamente ao ano anterior. Embora as duas marcas mais valiosas sejam espanholas, a Liga Inglesa é a mais representada na lista dos 20 mais importantes do mundo, contando com sete clubes. As ligas alemã e italiana

surgem na lista com quatro equipas cada, enquanto França e Espanha têm apenas duas. MARCA DE QUALIDADE O valor da marca (brand) de um clube é actualmente o seu maior activo. Símbolo de grandeza desportiva e financeira, a marca desperta o interessa das grandes empresas, que estão sempre dispostas a apostar o seu capital em mercados que lhes gerem retorno através da publicidade. O relatório da Brand Finance, “Most Valuable European Football Brands 2008” mostra que dos 20 clubes avaliados em 2.940 milhões de euros, cerca de 51 por cento desse mesmo valor diz respeito aos cinco primeiros lugares. O actual campeão europeu, Manchester United lidera a tabela, em que a marca “Man U” é conhecida à escala global. A transferência de Cristiano

1. as 10 marcas desportivas mais valiosas

2. quais os clubes com maiores receitas?

O Valor das Marcas dos Clubes Europeus 2009 CLUBE PAÍS VALOR 1. Manchester United Inglaterra 372.000.000 € 2. Real Madrid Espanha 339.000.000 € 3. Barcelona Espanha 300.000.000 € 4. Bayern Munich Alemanha 279.000.000 € 5. Arsenal Inglaterra 227.000.000 € 6. Chelsea Inglaterra 203.000.000 € 7. AC Milan Itália 174.000.000 € 8. Liverpool Inglaterra 153.000.000 € 9. Inter Milan Itália 113.000.000 € 10. Juventus Itália 105.000.000 €

Deloitte - Football Money League 2008 CLUBE BILHETEIRA 1. Real Madrid CF 82.2 2. Manchester United FC 137.5 3. FC Barcelona 88.6 4. Chelsea FC 110.7 5. Arsenal FC 134.6 6. AC Milan 28.6 7. FC Bayern Munchen 54.9 8. Liverpool FC 57.1 9. FC Internazionale 29.8 10. AS Roma 24.0

Fonte: Brand Finance

Valores em milhões de euros

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DIREITOS TV 132.4 91.3 106.7 88.5 65.8 153.6 61.2 77.5 128.0 54.0

COMÉRCIO TOTAL 136.4 351.0 86.4 315.2 94.8 290.1 83.8 283.0 63.5 263.9 45.0 227.2 107.2 223.3 64.3 198.9 37.2 195.0 29.1 157.6


Ronaldo para o Real Madrid pode alterar o ‘ranking’, recolocando a formação espanhola na liderança. “Se o estudo fosse feito no final do ano, é natural que o Real Madrid altere a sua posição”, pois “os jogadores levam todo um conjunto de merchandising atrás”, explicou Pedro Tavares da Brand Finance. O Real Madrid é a segunda marca de futebol mais valiosa, com um património de 352 milhões de euros (mais 34 milhões que em 2008). A terceira posição é ocupada pelo Barcelona, com uma avaliação de 312 milhões. As três marcas distinguem-se por serem as únicas avaliadas com o ‘rating’ AAA. A gestão da marca desportiva é baseada em investimentos, que têm como retorno avultadas receitas. No caso do futebol, o valor dos adeptos é uma mais-valia para engrossar os lucros da marca, uma vez que a venda dos bilhetes para os espectáculos desportivos é uma fonte de dinheiro. A sondagem da Sport+Markt aponta o Barcelona como sendo a formação detentora de maior número de adeptos, com cerca de 50,3 milhões. Os clubes espanhóis são os que detêm mais seguidores, com 103,5 milhões contra os 99,2 milhões das equipas inglesas. A competição inglesa registou ainda um crescimento recorde das receitas da Premier League. Comparativamente com o ano anterior, os clubes da liga inglesa arrecadaram 953 milhões de euros, o que permitiu investir mais na aquisição de jogadores. O campeão da primeira divisão, o Manchester United foi o clube que mais ganhou, com mais de 61 milhões de euros provenientes dos direitos televisivos. O papel da televisão ganha particular enfoque quando se trata do mercado internacional. A Ásia e o Médio Oriente são os principais consumidores de futebol europeu, cujo acréscimo da procura tem tido benefícios elevados para as ligas e respectivos clubes.

CONTRATAÇÕES MILIONÁRIAS No marketing desportivo, não são apenas as SAD e os clubes que lucram. Os jogadores são peça-chave nesta estrutura de aquisição de lucros. Bons salários e um nível de vida muito acima da média ocupam os sonhos da maioria dos jogadores, que sonham chegar à liga inglesa ou espanhola. Os africanos não são excepção. Todos desejam atingir o patamar de Manucho, que assinou pelo Valladolid após uma época no gigante inglês Manchester United. O angolano é o ídolo dos jogadores nacionais, que mesmo quando chegam ao campeonato português (que para eles simboliza um salto significativo na carreira) têm como meta profissional e pessoal alcançar as maiores marcas desportivas do mundo. As compras “astronómicas” de Cristiano Ronaldo, Kaká e Benzema pelo Real Madrid revelam que as opções de marketing permitem obter lucros, que duplicam de ano para ano. Por outro lado, estas movimentações impulsionam indirectamente todo o mercado, incluindo os clubes mais pequenos. Veja-se o caso da compra de Benzama, cujos 35 ME cobrados pelo O. Lyon permitiram ao clube francês comprar ao Futebol Clube do Porto o Lisandro Lopez (24 ME) e Cissoko (15 ME). ‘RIFAR’ O CLUBE A constante necessidade de obtenção de receitas para suportar os gastos do clube, incita os directores de marketing a procurarem constantemente alternativas inovadoras para venderem os espaços de publicidade. O sistema de rifas é um método inovador de venda de espaço publicitário e é já utilizado por alguns clubes, com resultados favoráveis. O sistema funciona em diversas formas: 1) o clube quer vender o direito de naming do estádio (avaliado em um milhão de euros) por uma época. Para tal, divide o valor pretendido por 50 bilhetes de rifa, no valor de 20 mil euros

cada, convidando empresas potencialmente interessadas em patrocinar o clube a comprar as que desejar. A entidade sorteada associará o seu nome e marca ao nome do estádio (método da Liga de Rugby Inglesa); 2) pode, à semelhança da Liga de Futebol Americano, criar objectivos para a aquisição de rifas, em que a empresa ao comprar dez mil bilhetes ou lugares anuais ganha um bilhete de rifa para o sorteio anual do direito de naming do estádio; 3) por último, o clube pode usar este método para encontrar um patrocínio para a camisola do clube, colocando ao dispor dos interessados 100 rifas ao preço de dez mil euros cada. O primeiro prémio consiste em estampar a marca da empresa nas camisolas do clube nos jogos efectuados em casa, o segundo prémio vale o patrocínio nas camisolas em jogos fora e o terceiro prémio equivale a um placar publicitário de destaque no estádio. NOVAS TECNOLOGIAS AO SERVIÇO DO FUTEBOL Atento à evolução tecnológica, o marketing desportivo encontra-se na vanguarda. O “Bluetooth Marketing” é o mais recente gerador de dinheiro, que já é explorado pelos clubes brasileiros e ingleses. O sistema caracteriza-se pela instalação de uma rede de comunicação nos estádios, que envia aos adeptos durante o jogo uma mensagem, pedindo autorização prévia para downloads de imagens, vídeos e mensagens. As receitas provêm das empresas que desejam anunciar através deste sistema. Estima-se que cerca de 1/3 dos clubes ingleses e brasileiros instalaram o mecanismo, cujos valores são negociados através da empresa detentora dos direitos, que vendem o sistema bluetooth em pacotes de publicidade, em que o clube recebe 25 por cento da receita dessa venda. Este dispositivo pode render entre 150 e 300 mil euros por época, só em jogos da liga.

3. as 10 maiores transferências do futebol mundial

1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. 9. 10.

JOGADOR Cristiano Ronaldo Zinedine Zidane Ricardo Kaká Luís Figo Hernan Crespo Gianluigi Buffon Rio Ferdinand Christian Vieri Andriy Shevchenko Gaizka Mendieta

PAÍS POR FRA BRA POR ARG ITA ING ITA UCR ESP

POS A M A M A G D A A M

VENDEDOR Manchester United Juventus AC Milan Barcelona Parma Parma Leeds United Lazio AC Milan Valencia

COMPRADOR Real Madrid Real Madrid Real Madrid Real Madrid Lazio Juventus Manchester United Internazionale Chelsea Lazio Roma

ANO 2009 2001 2009 2000 2000 2001 2002 1999 2006 2001

VALOR 94.000.000 € 73.500.000 € 65.000.000 € 61.500.000 € 51.200.000 € 46.800.000 € 46.000.000 € 45.300.000 € 45.000.000 € 44.900.000 €

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DESPORTO

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PATINS VITORIOSOS

O fomento do hóquei em patins enquanto desporto de sucesso é aposta ganha. A prová-lo está o sexto lugar alcançado pela selecção sénior masculina no último mundial. O resultado é inédito e prova que a evolução da modalidade é uma realidade e os bons resultados revelam que o país tem capacidade para disputar os títulos internacionais com os melhores do mundo. A recente prestação dos atletas nacionais no 39º campeonato do mundo é produto do esforço e dedicação dos responsáveis e praticantes do hóquei em patins. Em Vigo e Pontevedra, os hoquistas derrotaram a veterana selecção italiana, ascendendo assim à sexta posição, a melhor de sempre em competições do género. No último Mundial, os palancas não foram além do oitavo lugar. A formação comandada por Miguel Umbert Riera já tinha impressionado os seus adversários no torneio internacional de Blanes (Espanha), que antecedeu o Mundial. O cinco nacional derrotou a França e a congénere da Áustria e apenas não passou à fase seguinte, devido ao gol average, em que os franceses foram superiores. NAÇÃO EMERGENTE Foi no Egipto que a modalidade deu os primeiros passos, existindo registos de que na França, na Idade Média, existia um desporto conhecido por Hoquet, que provavelmente deu origem à denominação inglesa Hockey. Já a patinagem aparece representada nas gravuras do século

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XII e o primeiro patim de rodas foi divulgado pelo belga Joseph Merlin. A primeira prova organizada data de 1905 e coube a Inglaterra a vitória do primeiro campeonato europeu (1926) e do mundo (1936). Actualmente, o hóquei em patins é praticado em mais de 60 países e tem como principais potências Portugal, Espanha, Itália e Argentina. Nos últimos anos, tem crescido exponencialmente em regiões como a França, Suíça, Brasil, Angola, Moçambique, Estados Unidos e China. As previsões para o futuro são de que a modalidade vai crescer ainda mais (sobretudo nas áreas emergentes), tanto ao nível masculino como feminino, esperando-se que volte a integrar os Jogos Olímpicos, como já aconteceu em 1992, nos Olímpicos de Barcelona, mas não conseguiu a denominação de modalidade olímpica. RECONHECIMENTO INTERNACIONAL Angola acolheu em 2006 o Campeonato do Mundo de Clubes, alcançando a desejada visibilidade internacional. O evento foi criado em 2005 e o país foi escolhido pelos responsáveis

À LUPA colecs é um desporto O hóquei em patin , em os ad recintos fech tivo, praticado em am us e s lam sobre patin que os atletas ro pa ui eq A nduzir a bola. um stick para co tro ua (q s cinco jogadore é formada por orgaguarda-redes). O em campo e um ade id al od que tutela a m nismo máximo, em ei qu rnacional de Hó é o Comité Inte miCo o nível europeu, Patins (CIRH). A tor po l ve H) é responsá té Europeu (CER te. en in nt istentes no co das as provas ex os rm te mpeonatos, em Os principais ca , as in in m asculinas e fe de selecções m ei qu Hó de o do Mundo são o Campeonat peu de mpeonato Euro em Patins e o Ca s Hóquei em Patin

mundiais para albergar a prova, como forma de fomentar o desenvolvimento deste desporto. O evento, reconhecido pelo Comité Interna-


sabia que VERBAS LIMITAM DESEMPENHO A situação económica da Federação Angolana de Patinagem (FAP) é o principal entrave ao desenvolvimento das modalidades relacionadas com a patinagem, especialmente no que concerne ao hóquei em patins. Aliás, a débil estrutura financeira do organismo colocou em risco a participação do cinco angolano no campeonato do Mundo, por falta de verba para suportar as despesas de preparação. A entidade é tutelada pelo Ministério da Juventude e Desportos e depende exclusivamente do seu apoio, pelo que o atraso na disponibilização das quantias deixou o grupo em dificuldades, provocando alguma instabilidade emocional. Contudo, a estadia da equipa em Espanha contou com a colaboração de alguns patrocínios e empresários, que se mostraram solidários e ajudaram a pagar as despesas da formação. A situação gerou alguma controvérsia, uma vez que o orçamento para esta modalidade estava confirmado desde Fevereiro, levando o presidente da FAP, Carlos Alberto Jaime a afirmar que não entende “porque o hóquei não tem o mesmo tratamento que as outras modalidades”. RELANÇAR COMPETIÇÃO FEMININA É um dos handicaps da modalidade. Enquanto os seniores masculinos surpreendem nos campeonatos internacionais e são encarados como adversários temíveis e os juniores revelam que o futuro do hóquei em patins angolano tem qualidade para evoluir, a equipa ao nível dos femininos está muito aquém das potencialidades. A última vez que as atletas represencional de Hóquei em Patins (CIRH), escolheu pela primeira vez e oficialmente qual o melhor clube do mundo. O pavilhão da Cidadela, em Luanda, foi o palco escolhido para a realização do campeonato, cuja ideia surgiu após o sucesso do Torneio de San Juan, em 2004. A prova ditou a eleição do AS Bassano Hockey 54 como o melhor do mundo. O evento repete-se de dois em dois anos. A referida competição reconheceu o mérito do desporto nacional. Aliás, esse foi um dos principais motivos que levaram a CIRH a seleccionar a FAP para coordenar a primeira edição. A opção foi tomada tendo em conta o desejo de expandir a modalidade no continente africano, pelo que o projecto de levar os melhores clubes do planeta a África funcionou como “motor” do desenvolvimento da modalidade. Angola é o país do continente onde o hóquei em patins está mais amplificado, apresentando excelentes condições para a sua prática. Essa realidade é comprovada pela participação dos “Palancas Negras” nos campeonatos continentais, internacionais e na Taça das Nações de Montreux.

A Juventude de Viana ocupa a 18ª posição no ranking mundial de títulos em hóqueis em patins, com nove conquistas (1 Campeonato Africano de Clubes, 3 Campeonatos de Angola, 3 Taças de Angola, 2 Supertaças de Angola)

taram o país no estrangeiro foi no Mundial de 1994, em Portugal. A partir daí, a modalidade caiu um pouco no esquecimento e pouco ou nada foi feito em prol da formação feminina. O presidente da Associação Provincial de Luanda de Patinagem (APLP), Hirondino Garcia, tem-se mostrado preocupado com a situação e defende a necessidade de reactivar a modalidade na classe feminina, de modo a oferecer maiores opções desportivas à mulher angolana. O responsável lamenta o actual estado do sector e tem solicitado que os clubes e respectivas entidades desportivas desenvolvam acções que visem a melhoria da modalidade, de modo a que possa voltar a marcar presença nas competições internacionais. A associação luandense tem inclusive procurado implementar junto dos filiados (clubes e núcleos) acções de sensibilização para o desenvolvimento da vertente feminina. O dirigente lembrou ainda os vários clubes que se encontravam em expansão na década de 90 e que actualmente estão praticamente desaparecidos, pelo que é fundamental auxiliar essas entidades, para que possam relançar-se nas competições e assim, promover ainda mais o hóquei em patins nos campos mundiais.

TREINADORES ESPANHÓIS EM GRANDE NOS PALOP Detentores de longa tradição no hóquei em patins, os espanhóis são os técnicos preferidos por países como Angola e Moçambique, que se encontram em ascensão nesta modalidade. No caso nacional, Miguel Umbert Riera substituiu o português Fernando Fallé no comando da equipa, prometendo dar seguimento ao trabalho que tem sido desenvolvido nos últimos anos. O actual técnico foi seleccionador espanhol e tem como principal qualidade o desenvolvimento de jogadores jovens, tendo inclusive formado os actuais bicampeões do Mundo, em juniores. Em Moçambique, a escolha recaiu no catalão Josep Maria Barbera, treinador que tem apoiado o seleccionador Pedro Pimental. O ex-seleccionador da Catalunha, Jordi Campos é o comandante da selecção brasileira que, tal como os “Palancas Negras”, possui jogadores com elevadas capacidades técnicas e que têm crescido ao longo dos últimos mundiais. A par dos angolanos são excelentes candidatos a lugar de destaque nas competições mundiais, necessitando apenas de adquirir maior consistência técnica

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PERFIL

DESPORTO

tana Carlos Nome: José da Silva San be de Guimarães Clube: Vitória Sport Clu Posição: Avançado Percurso: 2002 - Petro de Luanda nça 2003/ 05 - Sagrada Espera a nd Lua de ro Pet 2006/ 08 2008/ 09 - Vitória

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CURIOSIDADES

“Vamos lutar para ganhar” Em 2008, saltou para as capas dos jornais ao sagrarse goleador do Girabola, ao serviço do Petro de Luanda. Facto que lhe abriu as portas do campeonato europeu. Santana alcançou o sonho de menino e estreou-se como avançado no campeonato português. O número 14 do Vitória de Guimarães confessou à Angola’in os seus projectos e a paixão pela terra natal.

Como chegou ao Guimarães? No final do último ano, começaram a surgir equipas interessadas em mim. Esperei pela decisão do clube, que chegou a acordo com a direcção do Vitória de Guimarães. Sempre quis jogar fora e chegar a um clube maior.

Quando surgiu o interesse pelo futebol? Desde miúdo sempre gostei de jogar à bola, mas não tinha muito interesse em ser jogador profissional. Gostava apenas de assistir. Quando tinha 11/ 13 anos comecei a treinar ginástica no Petro. Entretanto, deixei a modalidade e fui praticar futebol. Porém, desisti e inscrevi-me no Karaté e só em 1998/ 99 despertou o bichinho.

Gostava de voltar a Angola? Se tudo correr bem, acabo a carreira no meu país.

Foi nessa altura que encarou o futebol mais a sério? Sim, comecei a ver os jogos do Mundial de 98 e a partir de 2000 comecei a treinar nos juvenis. Em 2002, fiz a minha primeira estreia na equipa sénior. Porém, em 2003, chegou um treinador holandês, que me dispensou, alegando que eu era muito miúdo, preferindo os jogadores mais velhos. Por isso, fui para o Sagrada Esperança ganhar experiência. Em 2005, o Petro pediu-me para voltar e assinei contrato por dois anos.

Qual o significado do CAN? O CAN é excelente para o nosso país. Em termos de economia e negócios, é muito bom, especialmente para a reconstrução nacional. Por outro lado, o país está a fazer tudo para preparar um bom evento e a população está alegre, pois é a primeira vez que organizam o CAN. Vai colocar Angola no mundo.

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O que espera do futuro? Gostava de evoluir ainda mais. Tenho muito para aprender com os outros colegas. Há sempre o sonho de jogar no Arsenal, no Manchester, no Liverpool, no Porto ou no Benfica. Para já é ir trabalhando e suando a camisola.

O futebol português é diferente do angolano? É um pouco diferente. Em Angola é mais contacto físico, aqui é mais exigente. Na mínima coisa, há falta.

A selecção está motivada? Jogamos em casa e sei que os adeptos vão exi-

nry Um jogador: Thierry He o Pedroto din nar Um treinador: Ber milagre” um de a cur Um filme: “Á pro e” rib “Ka Um restaurante: galinha Um prato: Muamba de nga ma de o Uma bebida: Sum omba Kiz ro, du Uma música: Ku no Um cantor: Bru Uma cantora: Ari o Uma qualidade: Sincer so mo Um defeito: Tei ecer o planeta Excentricidade: Conh Herói: Pais

gir muito. Vamos lutar para ganhar, mas sabemos que existem equipas complicadas, tal como a Nigéria e o Senegal, que são difíceis de bater. Mas o grupo está empenhado, há espírito de equipa e é motivante saber que o CAN é no nosso país, pois sabemos que o povo vai estar presente e a dar força. O que lhe parece a escolha de Manuel José? Costumo ver alguns jogos dele pela televisão. Conhece bem o campeonato africano, treinou um dos grandes, o Al Ahly e é muito bom treinador. É uma boa escolha. Como analisa a formação dos jovens? Tem evoluído muito. Ainda é diferente do que se faz aqui, mas a formação é muito boa. A modalidade tem crescido e nota-se a diferença. Há muitos talentos por explorar? Sim. Actualmente, os clubes europeus estão muito atentos. Existem em Angola excelentes jogadores, com capacidades para triunfar nos campeonatos europeus. Além disso, também há bons treinadores, que já jogaram na Europa e estão a dar boa formação. Que características são necessárias para se triunfar? Aconselho os jovens atletas a que lutem como eu lutei, para que consigam realizar os seus sonhos. É preciso ter muita disciplina, trabalhar e fazer muitos sacrifícios. Tem que suar a camisola. Se ficarem relaxados não alcançam nada.


INOVAÇÃO & DESENVOLVIMENTO · ANGOLA’IN

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DESPORTO BREVES

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automobilismo

Angolanos são sensação do circuito internacional José Carlos Madaleno e João Carvalho fizeram recentemente a sua estreia internacional no Circuito da Boavista (Jornada do Campeonato de Portugal de Circuitos/ PTCC), no Porto. A dupla foi a grande surpresa da prova, ao alcançar o 9º e 10º lugar em PTCC, respectivamente, obtendo assim excelentes prestações. O bom resultado, logo na estreia mundial (“top ten”), augura um futuro risonho para o desporto automóvel angolano, que começa a evidenciar-se e a apresentar-se com pilotos, capazes de desafiar os mais experientes nas lides internacionais. Os dois automobilistas integram pela primeira vez a equipa portuguesa Veloso Motosport, uma das mais conceituadas em território luso. Apesar de não possuírem currículo internacional, José Madaleno e João Carvalho detêm uma carreira de prestígio a nível nacional, onde competem há vários anos e têm conseguido bons resultados nas provas reservadas a carros de turismo. Representantes do desporto automóvel africano nas pistas de renome, os pilotos angolanos provam que a modalidade está a renascer e tem capacidade para evoluir e dar cartas nos circuitos mundiais. Em dia de estreia internacional, José Madaleno, o mais experiente, explicou que “em Angola, neste momento, vive-se um momento de ascensão no desporto motorizado e esta [participação no Circuito da Boavista] foi uma forma de mostrarmos ao mundo que nós também estamos cá”. O atleta já tinha competido em Portugal, em 2006, ao participar no rally Lisboa-Dakar, fazendo dupla com o português Luís Ferreira e em 2008 na mesma prova. Os resultados dos pilotos nacionais em terras lusas revelam que o desenvolvimento da formação de talentos é aposta ganha, visível nas prestações ao nível dos campeonatos nacionais e continentais.

can 2010

Um milhão de dólares para a selecção Fernando Teles, presidente do Conselho de Administração do Banco Internacional de Crédito (BIC), anunciou que a instituição pretende oferecer um milhão de dólares americanos, caso a selecção nacional de futebol vença o CAN2010. O responsável esclareceu que a iniciativa tem como finalidade incentivar os jogadores e a equipa técnica, para que se empenhem e esforcem por obter um bom resultado na 27ª edição da Taça Africana das Nações, que decorrerá em território angolano, de 10 a 31 de Janeiro. O presidente do BIC convidou as outras empresas a aderirem à iniciativa, como forma de apoiar os “Palancas Negras”. Além do prémio pela conquista do troféu, o banco garante ainda 250 mil dólares para o caso da equipa fi car em segundo lugar e 50 mil por cada vitória. Dez mil dólares serão o valor oferecido por cada golo marcado (o benefi ciário é o jogador marcador) e para o melhor jogador angolano em campo (no final de em cada encontro). Os prémios anunciados por Fernando Teles sofrem um acréscimo se Angola for apurada para a final. Nesse caso, cada golo marcado no último jogo vale 25 dólares para o autor. O BIC desenvolveu uma campanha semelhante aquando a participação da selecção nacional no Mundial da Alemanha de 2006, premiando monetariamente os atletas. A estrutura bancária opera em Angola desde 2005.

competição feminina

Mais mulheres no desporto A Associação dos Comités Nacionais Olímpicos de África (ACNOA) pretende incentivar todas as mulheres, residentes no continente, a praticarem desporto. A ideia foi lançada pela vice-presidente, Teresa Quarta, que ambiciona aumentar o número de atletas, de forma a alcançar uma participação regular do sector feminino nas provas internacionais. A angolana apresentou o plano da nova direcção da ACNOA durante uma conferência de imprensa, em Luanda, que se destinou a divulgar as “linhas de força” para os próximos quatro anos de mandato. A responsável revelou que durante esse período vai desenvolver uma base de dados, onde será possível encontrar informações concretas sobre a mulher e a sua participação no desporto africano, para que seja possível adaptar o regulamento jurídico às exigências do sector.

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SOCIEDADE · ANGOLA’IN

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LUXOS | patrícia alves tavares

CHEVROLET CAMARO SS 96 | ANGOLA’IN · LUXOS

A Chevrolet apresenta o seu novo Camaro, que está disponível nos EUA, devendo chegar em breve à Europa. Disponível nas monitorizações V6 de 3,6 litros e V8 de 6,2 litros, este veículo apresenta potências entre os 304 e 426 cavalos. A nova geração do muscle car norte-americano vem desafiar a hegemonia do Mustang e do Dodge Challenger


PORSCHE GEMBALLA GT A empresa alemã Gemballa, especializada na preparação de modelos Porsche apresenta-se com o novo modelo GT, que se caracteriza pelas alterações na redução do peso e num ligeiro aumento da potência em relação ao original Porsche Carrera GT. A pensar nos amantes da velocidade, o difusor inferior e a enorme entrada de ar sob o tejadilho que alimenta o propulsor V10 são detalhes que captam a atenção.

LUXOS · ANGOLA’IN

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LUXOS

HUMMER HX O todo-o-terreno foi concebido por três jovens designers da General Motors e apresenta uma visão do futuro do design da Hummer. O HX Concept está equipado com uma monitorização que recorre a combustível E85 FlexFuel e propicia uma experiência de condução ao ar livre, devido aos painéis removíveis do tejadilho, que permite a rápida reconversão do veículo fechado para uma pick-up descapotável

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no epicentro da comunicação

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LUXOS

HONDA CB1000R Com design inovador e futurista, a nova Honda promete muita emoção, cuja potência atrai os amantes da linha CB da marca. Com traçados modernos, esta mota tem capacidade para 17 litros de combustível e o assento do piloto tem 828 mm de altura, com uma posição mais adiantada para privilegiar a pilotagem desportiva.

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MP-2 GLOVES Altamente versáteis, estas luvas adaptam-se a todas as performances. Mesmo que conduza uma scooter ou uma moto de elevada cilindrada, a MP2 é a escolha mais confortável, que garante elevada protecção.

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LUXOS · ANGOLA’IN

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LUXOS

HTC Hero O novo telemóvel da HTC surge com algumas novidades em relação aos modelos anteriores (Magic Touch e HTC Dream): é mais quadrado e fino que o seu antecessor, de interface mais atractivo e substitui os headphones mini USB pelos 3,5 mm, mais fáceis de encontrar.

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MERIDIAN DSP7200 Adaptados para todos os ambientes, desde os mais pequenos ao Home Theater, os altifalantes da Meridian são os primeiros a incluir os novos SpeakerLink input/ output e são capazes de corrigir as falhas na gravação de CD’s e DVD’s, melhorando a sua qualidade.

Sony XEL-1 LED TV A nova TV da Sony possui apenas 17 polegadas. Com apenas alguns milímetros de espessura, a sua qualidade não tem comparação, devido à taxa de contraste de 1.000.000:1. Cores intensas e portabilidade são outras das características.

DELL Desktop Stud dio Hybriid O seu design pequeno e ultracompacto conferem um estilo único a este desktop, que usa tecnologia móvel da Intel, o que garante um óptimo desempenho e boa eficiência. As suas dimensões são cerca de 80 por cento menores que um computador normal.

Miccro osofft Arcc Mou usee O seu design revolucionário combina o conforto de um mouse de desktop e a facilidade de transporte de um mouse de um portátil. Este pode ser dobrado e existe nas cores preto, vermelho e branco.

LUXOS · ANGOLA’IN

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LUXOS

HUBLOT One Million $ Black Caviar Poderia chamar-se ‘relógio de um milhão de dólares’, uma vez que esta peça única custa de facto o preço que surge na sua designação. Os engenheiros da Hublot e da Bunter despenderam 2.000 horas na concepção do engaste totalmente invisível e composto exclusivamente por 544 diamantes negros. Original, este magnífico relógio representa a fusão perfeita entre a relojoaria e a joalharia, combinando tradição e tecnologia

IWC

Bvlgari

Aquatimer

Assioma Tourbillon

Esta bela obra-prima é feita em platina e o seu mostrador de cristal não sofre riscos. A edição é limitada, estando disponíveis no mercado apenas 20 relógios deste modelo, que mostra mais do que as horas ou data. É uma peça única, que revela um estilo de vida luxuoso.

A escolha ideal para homens conservadores e de bom gosto. O modelo, à semelhança de todos os relógios da marca, é de edição limitada a 500 exemplares, produzidos em aço e platina. É um modelo atractivo, cujo design e característicos sugerem os elementos aquáticos e marinhos, sendo óptimo para usar durante o mergulho.

Wolf-Peter Schwarz

Global Lightwatch

É o relógio perfeito para os amantes de desporto e viagens de aventura. A peça disponibiliza automaticamente o fuso – horário das várias cidades do mundo, como Tóquio, Nova Iorque ou Londres, sem ser necessário fazer ajustes, uma vez que o ponteiro desloca-se para o local onde está, possuindo no mostrador as 24 horas do dia.

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Foi com enorme satisfação que aceitei o desafio da Angola’in para, no decorrer das próximas edições, apresentar um conjunto de propostas de Moda, que possam ir ao encontro das expectativas e desejos dos nossos leitores. Para este número sugiro a prestigiada marca Hugo Boss, conceituada no mercado internacional e com um representante em Angola, situado na rua Rainha Ginga, Luanda. Lisete Pote - lpote@comunicare.pt

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elegância e glamour

ESTILOS


A colecção que tenho o prazer de vos apresentar representa uma conjugação de três estilos: Executivo, Sport Urbana e Desportiva. A primeira é caracterizada pelas cores cinzas e azuis escuros em contraste com as camisas em rosa de várias estampas e gravadas nos mesmos tons. A Sport Urbana é composta maioritariamente pelas cores rosa vivo, branco e lilás, enquanto a Desportiva é a mais indicada para a maioria das gangas, fazendo um contraponto com o vermelho, azul escuro branco em conjugação com alguns pólos em tons vivos. ESTILOS · ANGOLA’IN

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ESTILOS

A marca é subdividida em dois conceitos, adequados às exigências do homem moderno – a Boss, que é detentora de uma linha sóbria e clássica, e a Hugo, jovem e actual, dirigida a um público masculino que querendo manter o glamour, gosta de se sentir descontraído e a par das últimas tendências de moda. Ambas são um complemento, pois representam a superação daquele que todos os dias se esforça para ser o melhor. Combinam a força das linhas clássicas, especial para homens que já chegaram ao topo da pirâmide de status, com a suavidade e energia de tecidos que permitem a mais alta perfomance e sucesso pessoal.

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ESTILOS · ANGOLA’IN

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ESTILOS

| manuela bártolo

sean john

Unforgivable Men é o produto certo para o homem dinâmico e moderno. é um perfume fresco, companheiro ideal para todas as tendências e causas. reinventa o estilo masculino com luxo clássico, misturando química e sentimento.

diesel

Only The Brave é a mais recente novidade da diesel. composto por notas de limão e espumantes, aromas frescos, âmbar e tons de cedro, esta fragrância é a opção segura para uma saída nocturna. é um perfume masculino e moderno, com tons de couro.

carolina herrera

212 o 212 sexy men é a escolha ideal para homens arrojados e que gostam de deixar a sua marca por onde passam. a fragrância apresenta notas de mandarina, folhas de bambu, lavanda francesa e almíscar suave.

jean paul gautier

Le Male ideal para homens clássicos, que gostam s de se afirmar. este perfume possui notas de menta, artemísia, bergamota, lavanda,, canela, flor de laranjeira, sândalo, baunilha, cedro e âmbar.

hugo boss

in Motion a pensar nos homens desportivos, a sugestão da boss apresenta um tom oriental amadeirado. possui notas de bergamota, folhas de violeta, cardamomo, noz-moscada, pimenta rosa, almíscar, sândalo, canela e vetiver.

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ralph lauren

Ex xplo orerr as suas notas combinam frutas exóticas, gengibre, flor de laranjeira, almíscar, musgo de carvalho, vetiver e sândalo.


LUXOS · ANGOLA’IN

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LIVING

| joão paulo jardim

Tailored Design Não é uma questão de moda. Não é acessível à maioria. Não é certamente do conhecimento geral. O tailored design (ou o que em português poderia ser traduzido como desenhado por medida) é o luxo absoluto a que só algumas carteiras podem aceder. É um sector do design que sempre existiu, e que de algum modo terá sido ele próprio um precursor da produção do design em massa. Existente nas diversas vertentes do design, interessa-nos debruçar sobre as que envolvem a nossa área. Nomeadamente o design de equipamento, o design de mobiliário, de iluminação e das restantes actividades afectas ao design de interiores. Com a democratização do design e o aparecimento de marcas com elevados padrões de qualidade (quer de criatividade, quer de matéria prima) e com produção maciça de milhares, para não dizer milhões de exemplares vendidos em todo o mundo, perdeu-se nas últimas décadas a noção de tailored design. Os componentes de um projecto passaram a ser escolhidos a partir da oferta existente no mercado, diminuindo drasticamente o que de facto é desenvolvido especificamente para o trabalho em mãos. Sendo apenas desenhado de raiz o que inevitavelmente não pode deixar de o ser, tal como cortinados. E mesmo estes já existem prêt-à-porter! Um projecto de interiores passou a ser quase um grande jogo de puzzle, que consiste mais em coordenar as peças certas para um espaço,

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do que em criar peças personalizadas e especíecíficas para um determinado cliente. Nada disisto é errado. Existem actualmente muito mais ais edificações e melhores condições de vida,, o que leva a que dentro das suas possibilidades des os seus ocupantes procurem valorizar os espaços. Apenas demonstra que um percentual ual muito maior de pessoas são sensíveis a esta sta área e recorrem aos serviços de profissionais. ais. Só que, por uma questão de custos, os prorojectos ficam na sua grande maioria por uma abordagem mais aligeirada e massificada. Pelo design prêt-à-porter, em grande escala. No entanto, todas a grandes marcas de design desenvolvem peças por encomenda, com especificações próprias, para além da colecção que apresentam regularmente ao grande público. Desengane-se quem pensar que a criação de peças únicas e personalizadas está directamente associada a algum tipo de artesanato ou de produção menor. E tudo pode ser personalizado e desenvolvido. Desde um sofá com medidas ergonómicas adequadas ao cliente, até ao papel de paredes ou ao serviço de jantar. Os custos deste tipo de produção personalizada é que o tornam tão exclusivista e inacessível ao público em geral. Contudo, são estes os projectos que se tornam intemporais e são referência a vários níveis, justificando largamente o investimento realizado.

João Paulo Jardim - jpj J J jpjardim@comunicare.pt


ERCUIS Presente desde o início do Séc. XX nos melhores hotéis da Riviera, nos casinos europeus e nos navios de luxo que cruzavam os oceanos, esta marca de artigos em prata de origem francesa levou o seu nome aos quatro cantos do mundo. Continuando ainda hoje a acompanhar os turistas das classes privilegiadas tanto em aviões de luxo como em iates privados, a Ercuis é por si só um símbolo de elegância e de prestígio. Contando actualmente com linhas específicas para diversos fins, podemos em todos os seus produtos encontrar a mesma preocupação com a qualidade associada ao desempenho que tornam esta marca também uma referência ao nível do design.

QX


LIVING

CASA MOURA Com algumas décadas de existência, a Casa Moura tornou-se um marco na decoração de interiores e um exemplo de serviço com elevados padrões de qualidade. Sediada em Portugal e especializada em soft furnishing, desenvolve todo o tipo de projectos de interiores, desde espaços particulares privados até grandes obras públicas. Conta com várias obras internacionais de renome no seu curriculum e está actualmente a laborar com projectos de grande envergadura em Angola.

WRX

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LIVING

ISABEL PADRÃO Uma artista portuguesa, uma cidadã do mundo. Nasceu no norte de Portugal no início dos anos 60 e formou-se em Artes Plásticas pela Faculdade de Belas Artes do Porto. O seu imaginário policromático reflecte a sua forte personalidade e a sua vivência, as suas viagens pelo mundo, tanto a destinos exóticos como a grandes metrópoles. O seu local de residência poderia ser qualquer ponto do globo, ou até fora deste. Já não é um potencial valor do mundo das artes. É, sem dúvida alguma, um investimento mais do que garantido. Expõe individualmente desde 1987 e é detentora de diversos prémios.

QUX

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VINHOS & CA.

| patrícia alves tavares

DONA MARIA Vinho Regional Alentejano 2005 Este vin vinho tinto, de aspecto límpido e cor violácea viva, é oriundo da região alentejana. Apresenta um complexo aroma de frutos vermelhos tostados, sugerindo alenteja essencialmente frutos silvestres. Este sabor rico apresenta-se como persistente, essenci equilibrado e com uma óptima estrutura que lhe confere uma boa longevidade. equilibr Deve se servir-se entre os 17 e 18ºC, de preferência uma hora após a abertura.

QUINTA DE PANCAS Grande Escolha Singular, complexo e elegante, este néctar apresenta notas de minerais, amêndoas, pimenta e chocolate, inseridas num fundo elegante de frutos vermelhos e vegetais frescos. Caracterizado pela enorme frescura, é recomendado para carnes assadas e pratos de caça, servindo-se à temperatura de 18ºC.

PRIMAVERA A BAIRRADA A O aroma frutado a frutos vermelhos hos esa maduros, com notas de amora, framboesa nho e especiarias é a essência deste vinho de cor granada. Combina a suavidade de Castelão, o corpo e persistência de Bragaa e riz. a elegância de Tinta Roriz.

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VIÑA MAIPO IPO erlot Cabernet Sauvignon/Merlot Oriundo das castas Sauvignon e Merlot, este néctar tinto de intenso rubi com tonalidades violetas possui um aroma a frutos cristalizados alizados e ameixas vermelhas, com notas de chocolate. Na boca revela toda a sua essência, revelando bom corpo e taninos harmoniosos. moniosos.

CO CONVENTUAL Vinho Tinto Vi Este néctar caracteriza-se pela sua intensa cor rubi. Apresenta um conju conjunto de aromas complexos, com notas de frutos vermelhos maduros. O sa sabor destaca-se pela frescura, surgindo como um produto bem e ui eq equilibrado e com um final com boa fruta e persistente.

VIÑA MAIPO CHILE Reserva Cabernet Sauvignon Este vinho resulta da combinação das antigas técnicas de vinificação do Chile. Oriundo da região de Maipo, o Viña Maipo Chile, reserva da Cabernet Sauvignon, é bem estruturado e possui um belo final. A sua cor rubi intensa revela os aromas de frutos vermelhos, cerejas e ameixas pretas. A estes sabores junta-se um toque de carvalho tostado, conferindo-lhe elegância e notas de chocolate e aromas.

VINHOS & CA. · ANGOLA’IN

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VINHOS & CA.

MONTE VELHO BRANCO NCO Aromático e frutado, este vinho branco possui um aspecto cristalino e uma corr citrina ligeiramente aloirada. De sabor intenso, elegante e equilibrado, é uma boa escolha lha para uma panóplia de refeições, desde peixes grelhados e mariscos a queijos fortes es e até à simplicidade da cozinha vegetariana. A temperatura ideal para consumo oscila entre ntre 10 e 12ºC, proporcionando múltiplos prazeres degustativos. stativos.

ALVARINHO - VERDE 2007 7 Límpido e citrino, este néctar é a escolha certa para raa s. acompanhar peixes e mariscos, nomeadamente ostras e aves. No aroma apresenta-se como elegante, com notas florais, s, o, citrinas e nuances de frutos tropicais. No paladar, é frutado, m possuindo volume e uma acidez bastante equilibrada, com C. final prolongado. Deve servir-se entre 10 e 12ºC.

EVEL DOURO GRANDE ESCOLHA Este vinho apresenta uma cor rubi intensa. Os aromas são potenciados pela madeira nova, assumindo-se com uma mistura de taninos redondos e madeira bem integrada, tornando-o muito encorpado. A prova é caracterizada por sabores a frutos pretos, apresentando um longo final. Ideal para carnes e queijos fortes, este néctar é servido à temperatura de cave.

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HERDADE ESPORÃO ESPUMANTE HER Aroma fino, no mineral e complexo com notas de bolacha e avelãs, este espumante de aspecto límpido caracteriza-se car pela aparência de bolha e cordão médios. No paladar, apresenta-se como equilibrado, seco e fresco. Na boca é frutado com alguma intensidade, rico e bem estruturado. equilibrado Ideal para refeições re tipo fois-gras e peixe fumado, bem como para acompanhar frutos secos. Deve servirservir-se entre os 7 e 10ºC.

QUINTA DO PORTAL BRANCO QU Vinho de cor citrino, é constituído por uma excelente intensidade aromática, que apresenta aromas bem definidos de frutos aromá tropicais e notas florais. De frescura impar e aromas únicos, é tropic estruturado na boca com boa e fina acidez, deixando um final estrut fresco e longo.

CASAL GARCIA ROSÉ Excelente opção para aperitivo ou para acompanhar saladas leves ou entradas. Óptimo para ambientes jovens, este vinho possui uma cor rosada e um aspecto límpido, ligeiramente efervescente. Bastante fresco, é um produto frutado, em que no nariz sobressaem notas de framboesa e morango, com um final harmonioso e persistência suave. Serve-se entre os 8 e 10ºC.

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VINHOS & CA. À CONVERSA COM… Martim Guedes, Director de Marketing da Quinta da Aveleda

| manuela bártolo

Hino à Alegria! APOSTA NOS VINHOS ‘PREMIUM’ A viver uma nova fase de expansão, com investimentos significativos patentes num crescimento notável no mercado internacional, a Quinta da Aveleda tem-se imposto como uma das três maiores empresas vitivinícolas portuguesas, sendo também uma das mais rentáveis e eficientes do país. Desde sempre dedicada aos vinhos verdes, nos quais é líder de mercado, a Aveleda exporta para mais de noventa países, sendo que os seus principais mercados (EUA, França, Alemanha, Canadá, Brasil e Angola) protagonizam metade da sua produção, dignificando, assim, os vinhos portugueses e o vinho verde em particular. As suas marcas principais são o Casal Garcia, Aveleda Fonte, Quinta da Aveleda, Charamba, Follies e Adega Velha, provenientes das mais famosas regiões demarcadas do Norte de Portugal – Região Demarcada dos Vinhos Verdes, Região Demarcada do Douro e Região Demarcada da Bairrada. A Aveleda tem procurado ao longo dos últimos anos criar sempre uma relação de confiança com os seus consumidores através da garantia de qualidade que cada um espera encontrar, fortalecendo desta forma os laços de união que estabelece com todos os amantes dos seus vinhos. Este é aliás o seu maior segredo, pois a marca defende um vinho de conquista, aquele que fideliza os velhos e angaria os novos clientes de uma forma consistente e intemporal, de geração em geração. A Quinta da Aveleda almeja alcançar a glória e o sucesso, tornando-se o vinho de eleição do século XXI, que conduz os seus consumidores numa viagem pelos sentidos, proporcionando uma experiência mágica e sublime.

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CASAL GARCIA FAZ A FESTA! Esta é a frase-chave da campanha publicitária que marca a diferença entre o vinho Casal Garcia e os seus mais directos concorrentes no mercado angolano. Nenhum outro seduz tanto! O segredo é simples: ideias fortes e apelativas que conquistam o cliente pela emoção, mas sobretudo pelo sabor suave e frutado de que é detentor em exclusivo. De carácter jovem, fresco e leve, Casal Garcia tem-se tornado companheiro indispensável da boa disposição. Ideal para acompanhar pratos de peixe, marisco, saladas ou pratos de gastronomia oriental, é o protagonista principal de uma filosofia de vida marcada pela descontracção e bem-estar. Dirigido a um segmento jovem, essencialmente feminino, consagrou-se, em 2007, como o maior exportador da alegria capaz de unir culturas, sendo consumido em mais de 60 países, espalhados por todo mundo, que Angola tem a honra de integrar. 2008 foi, no entanto, o ano que deu um tom rosado ao ‘verde’ Casal Garcia. Nasceu o novo Casal Garcia Rosé! O mais recente vinho tem ainda mais alegria associada à frescura, agora também com notas de morango e framboesa. Apesar do seu recente lançamento em Angola, a qualidade do vinho Casal Garcia Rosé já é reconhecida no país.


curiosidade UMA HISTÓRIA DE SUCESSO QUE COMEÇOU EM 1939 O aparecimento da marca Casal Garcia data de 1939, sendo já para a época um vinho inovador, marcado pelas novas técnicas utilizadas pelo enólogo francês Eugène Hélisse. O nome Casal Garcia advém do nome de uma das parcelas da propriedade que ainda hoje é conhecida por este mesmo nome e na qual se continua a produzir uvas utilizadas na produção do vinho Casal Garcia. A imagem de Casal Garcia manteve-se sempre fiel às suas origens. O seu rótulo representa uma renda antiga da família e simboliza a ligação à história da Aveleda e à tradição. Por isso mesmo o brazão da família Guedes está também presente neste rótulo.

MARCA DE ELEIÇÃO Proprietária do emblemático vinho Casal Garcia, a Quinta da Aveleda está presente no mercado angolano essencialmente através desta marca de renome internacional. Martim Guedes, director de marketing da empresa, considera Angola “um mercado em franca expansão e de enorme potencial”, que tem vindo a acolher os vinhos da companhia há mais de 50 anos sempre com fortes índices de crescimento, revelando-se, cada vez mais, um país de consumidores exigentes. “Em ano de crise, este é o mercado que nos tem proporcionado o maior crescimento. Temos vendas 50% acima do ano anterior, o que nos motiva a investir no país a vários níveis, procurando incentivar sobretudo uma maior proximidade através, por exemplo, da formação de novos escanções”, refere. De salientar, que as vendas em Angola atingiram um valor próximo de um milhão de euros em 2008. Razão pela qual, a aposta actual passa por “dar continuidade ao trabalho de divulgação publicitária que tem sido implementado, sobretudo através da marca Casal Garcia”, uma vez que “acreditamos que a

importância deste mercado vai crescer substancialmente num futuro próximo e que, por esse motivo, se justificam os avultados investimentos que temos vindo a realizar no país”. Operações de charme com o objectivo de “capitalizar a marca”, assentes essencialmente em acções de formação, comunicação e merchandising realizadas em associação com parceiros locais, que permitem explorar melhor o seu mercado de eleição – “o público jovem, dos quais se destaca o feminino, aquele com maior propensão para o consumo de vinhos verdes. O sucesso tem sido evidente, facto que permitiu à empresa avançar com a entrada no mercado do Casal Garcia Rosé. “Uma novidade com cerca de um ano, que tem tido uma boa adesão, fruto de um trabalho de base de qualidade, cujo maior desafio foi a adaptação ao mercado, indo ao encontro das expectativas do consumidor nacional”, conclui. Igualmente comercializados em Angola, encontram-se o vinho tinto Charamba, os vinhos da gama Follies (cinco vinhos de castas diferentes, dirigidos a um segmento alto) e a aguardente Adega Velha, premium no mercado.

VINHOS & CA. · ANGOLA’IN

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VINHOS & CA.

| chakall

REFEIÇÃO LEVE REPLETA DE SABORES EXÓTICOS

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Quem imaginaria que o ananás e os coentros combinam? A verdade é que estes ingredientes funcionam na perfeição quando usados na mesma refeição. Aliás, esta receita revela que não existem dúvidas de que podem ser muito felizes juntos. A ementa que vos apresento foi criada em exclusivo para os leitores da Angola’in e integra o meu próximo livro, que vai sair em Portugal entre os meses de Novembro e Dezembro. O conceito do meu Carpaccio de ananás com coentros baseia-se na ideia de uma refeição digestiva, refrescante e ao mesmo tempo acessível, pois é muito fácil de preparar. Esta receita também pode ser confeccionada com papaia (em vez do ananás)

e essa fruta faz-me recordar justamente Angola. Utilizando o ananás ou a papaia, este menu é uma óptima escolha para um dia ameno, em que as refeições leves e pouco calóricas são as mais apreciadas. Simples e prática, esta receita permite-lhe preparar um almoço rápido, altamente saboroso e com produtos nacionais, cuja diversidade gastronómica é reconhecida mundialmente. Em 1999, tive a sorte de passar duas semanas numa missão em Cabinda, onde cuidaram muito bem de mim e descobri as árvores de mamão. Por isso, à tarde, no final desta deliciosa refeição, o ideal será sair de casa e ir até junto do mar de Cabinda e comer um mamão fresco.


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Apresento-vos esento-vos o meu Carpaccio de ananás com coentros ingredientes: • ½ Ananás • 100 g de açúcar • 20 ml de água • 2 colheres de coentros picados • 1 ramo de canela • 1 limão (raspas) • Bagas de pimenta rosa

modo de preparação: Corte o ananás em fatias finas (de preferência utilize máquina apropriada para cortar a fruta, caso possua) e reserve. De seguida, faça uma calda com os restantes ingredientes. Após a sua conclusão, mergulhe as fatias de ananás na calda, onde deverão repousar apenas por um minuto. Depois retire e disponha num prato. Regue o ananás com o preparado anterior (calda) e decore no final com coentros frescos e pimenta rosa.

Se desejarem enviar as vossas receitas ou comentários a este ou outros pratos, escrevam para eu@chakall.com

VINHOS V VIN IN & CA. · ANGOLA’IN

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CULTURA & LAZER

| patrícia alves tavares

Imagem vale mais que mil palavras RECONHECIMENTO ALÉM-FRONTEIRAS Dois artistas plásticos angolanos tiveram a oportunidade de apresentar os seus trabalhos numa exposição colectiva de pinturas e esculturas, em Israel. Tomás Ana “Etona” e Sozinho Lopes estiveram presentes na Feira Contemporânea de Artes Plásticas do Estado de Jerusalém, que decorreu no último mês. A participação neste evento permitiu aos artistas mostrar ao Médio Oriente o que se produz em termos culturais em Angola, através da mostra de vinte esculturas e dez pinturas. “Etona” salientou que as obras expostas representam questões sociais e os desenvolvimentos que têm ocorrido a nível nacional, em áreas como o desporto e economia. “É uma oportunidade que temos para exibir Angola em termos de arte”, finalizou

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As artes plásticas existem desde os primórdios da humanidade, sendo ferramentas indispensáveis para descortinar o percurso de todos os habitantes. A pintura e a escultura representam o que melhor se faz em Angola, em termos artísticos. As duas áreas têm um longo historial e descrevem a evolução da sociedade, fazendo parte das tradições e rituais mais remotos. A nível nacional, a década de 80 e 90 ficou marcada pela afirmação dos artistas, que actualmente são reconhecidos internacionalmente, sendo merecidamente galardoados.

As belas-artes ou artes plásticas surgiram na pré-história e são responsáveis pela compreensão da cultura e evolução dos antepassados. São formações expressivas, que recorrem a técnicas de produção, que manipulam os materiais para construir formas e imagens que revelem uma concepção estética e poética de um dado período. A sua evolução acompanha o desenvolvimento da espécie humana, pelo que hoje em dia o sector alberga uma panóplia de meios. São o caso das artes visuais, do desenho, da pintura, da gravura, da escultura, da fotografia e da arquitectura. TRÊS MARCOS IMPORTANTES Quando se fala de artes plásticas em Angola é necessário delimitar três momentos distintos da sua evolução, em termos históricos e de individualidades. O período mais longínquo da história da arte, caracterizado pelas primeiras manifestações culturais, remete para os

artistas anónimos, que deixaram o seu contributo através de imagens pictóricas em fontes arqueológicas como as grutas de Citundo, Ulo e Caningiri. Os escultores dessa época legaram às gerações mais novas os testemunhos da actual memória e identidade cultural, assumindo-se como fonte de inspiração para muitos criadores do século XXI. Os anos que antecedem a independência nacional correspondem a outro marco do desenvolvimento artístico, em que as produções de cariz nacionalista eram as mais comuns, bem como os temas relacionados com o quotidiano da população, retratada por artistas oriundos de outras culturas. No entanto, é no pós-independência que os criadores angolanos, detentores de formação académica específica na área, criam um novo movimento artístico, baseado na formação e descoberta dos novos valores. Com a explosão cultural da década de 70, os protagonistas angolanos contaram com o apoio de artistas de todo o mun-


do, empenhados na campanha pela autonomia do país. Devido à agitação política, a arte nacional deste período manifesta-se em murais e cartazes públicos de grandes dimensões. Os murais do Hospital Militar de Luanda e as paredes externas da sede da União dos Escritores Angolanos são exemplos dos anos conturbados. Assim, hoje em dia as artes plásticas nacionais assumem um lugar de destaque em África e no mundo, em que os artistas aparecem associados a eventos de reconhecida qualidade. ENTRADA NO MERCADO INTERNACIONAL A partir da década de 80, a pintura e a escultura nacional deram o salto para a internacionalização, com os primeiros artistas a deslocarem-se a países como Cuba, Brasil, Portugal, França, Hungria, Suécia e Noruega (entre outros), para apresentarem os seus trabalhos. O reconhecimento do talento angolano tornou-se visível através dos prémios arrecadados pela qualidade técnica e maestria das obras. Contudo, no referido período, devido ao eclodir da guerra, a maioria dos talentos nacionais refugiaram-se noutros países, como foi o caso de António Olé (EUA), Alvim (Bélgica), Viteix (França), Eleutério Sanches, Raul Endipwo, José Rodrigues, Vazz de Carvalho e Dília Fraguito (Portugal). O anos 80 simbolizaram o início da carreira de muitos jovens artistas, tistas, que actualmente são os grandes ícones das artes tes plásticas angolanas, como João Inglês, Tirso Amaral, al, Jorge Gumbe, Pululu, Zan Andrade, Helga Gambôa, entre outros. A Escola Média de Artes Plásticas, sticas, na década de 90, permitiu consolidar a cultura angolana, impulsionando a formação de técnicos médios vocacionados para o ensino, indústria gráficaa e desenvolvimento des eessen e volvimento de actividades artísticas. Coube igualmente ig gua ualm lmen enttee a este est ste te ororrganismo, em parceria com o M Ministério inis ini in is istério da Cultura, a organização de exposições e a criação de prémios, como os do Banco de Fomento e Exterior e o da Cidade Luanda em Artes Plásticas, que abrange os sectores da pintura, gravura, esculturaa e tecelagem.

INSPIRAÇÃO MODERNA Os artistas plásticos nacionais partilham uma característica interessante. Tanto os profissionais do passado, como os do presente recorrem frequentemente à ligação às suas raízes para desenvolverem as obras, focando constantemente o seu referencial cultural e os sentimentos da população angolana. Os trabalhos plásticos angolanos voltam-se essencialmente para as telas, gravuras, baixos-relevos em latão, esculturas e estatuária artesanal. Nos últimos anos, a promoção da paz contribuiu decisivamente para assegurar um padrão de qualidade às artes nacionais e, por outro lado, fomentou o interesse dos mais novos pelas múltiplas formas de expressão artística. São muitos os jovens que procuram formação profissional na área, seja de nível médio ou superior. Os investimentos no sector e a experiência e sensibilidade dos profissionais de renome auguram um futuro de sucesso para este campo de actividade, em que o número de talentos não pára de crescer. É o caso de nomes como Venâncio, Sozinho Lopes, Ngola, Hildbrando ou Álvaro Macieira, cujas obras podem ser apreciadas nas principais galerias da capital.

Os trabalhos plásticos angolanos voltam-se para as telas, gravuras, baixos-relevos em latão, esculturas e estatuária artesanal

A partir da década de 80, a pintura e a escultura nacional nal deram o salto para a internacionalização acionalização

SÍMBOLO NACIONAL Constitui o emblema do sector artístico angolano. O Pensador, representado pela figura de um ancião, com a face ligeiramente inclinada para baixo, é considerado um símbolo da cultura nacional. O autor desta obra é anónimo e a peça adquire especial relevo devido ao equilíbrio perfeito entre os gestos, a expressão calma, tranquila, serena e harmónica. A escultura retrata ainda tensões, ritmos e movimentos, que remetem para a Escola Cokwe. Aliás, em Angola existem oito regiões representativas das escolas de artes tradicionais, que simbolizam o nascimento das artes plásticas enquanto expressão artística. As escolas do Kikongo, Yaka, Cokwe, Umbundo, Kimbundo, Mbali, Ngangela e Lwena distinguem-se entre si, de acordo com a etnia e localização geográfica

perfil

ETONA Natural do Zaire, Etona iniciou a sua actividade em 1970, após a conclusão do curso médio de Artes Plásticas no Instituto Nacional de Formação Artística e Cultural. Especializou-se em escultura monumental e novas tecnologias, em Portugal, e é autor de mais de 30 exposições individuais e 27 colectivas, em Angola e no estrangeiro. Em 2005, recebeu o terceiro prémio Internacional, em Granada (Espanha), o terceiro prémio de Art for Global Development (EUA) e foi condecorado por José Eduardo dos Santos, com a Medalha da Ordem de Mérito Civil do 1º Grau, em Ouro

SOZINHO LOPES Oriundo do Uíge, Sozinho concluiu, em 2003, o curso médio de artes plásticas, no Instituto Nacional de Formação Artística (INFA) e, desde então, tem participado em diversas colecções institucionais e particulares. Em 2006, recebeu a menção honrosa do Prémio Cidade de Luanda e foi distinguido no concurso “Desenho na Areia”, promovido por uma petrolífera norueguesa. Em 2008, recebeu o prémio Cidade de Luanda em Pintura

CULTURA & LAZER · ANGOLA’IN

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CULTURA & LAZER BREVES

| patrícia alves tavares

cultura

Direitos de autor discutidos Pinto Baptista, director nacional dos Direitos de Autor e Conexos, defendeu recentemente que a protecção da criação artística é fundamental para estimular e favorecer a actividade criadora, permitindo a difusão de ideias e o acesso do público às obras intelectuais, de forma regulamentada. O responsável admitiu que, em muitos casos, os criadores não estão actualizados, nem conhecem os seus direitos. Para tal, assegurou que o organismo que tutela tem-se esforçado no âmbito de sensibilizar a sociedade para as violações dos direitos de autor, que ocorrem diariamente. “Até agora, os resultados não são visíveis porque o plágio, a fotocópia, a reprodução de imagem e som são feitos de forma impune”, lembrou. O director revelou que a questão da salvaguarda dos direitos de autor tem sido muito discutida. O responsável apelou assim para que os criadores recorram ao seu direito de exigir a menção do seu nome, sempre que as obras passem para o domínio público.

teatro

Apelar à preservação do património Os actores do grupo “Enigma-Teatro” sensibilizaram os habitantes da Maianga para a necessidade de salvaguardar os bens públicos, combatendo a delinquência juvenil. A mensagem foi transmitida através de uma peça de teatro, que procurou informar a população acerca dos cuidados a terem com o lixo, apelando ao respeito pelos símbolos nacionais, sinais de trânsito e à erradicação das construções anárquicas. As peças contam com o apoio do governo provincial luandense, que recorre assim à vertente social do teatro para apelar ao civismo.

dança moda

Pango propõe Conselho de Moda A agência de consultoria, moda e eventos Pango sugeriu a criação de um “Conselho de Moda Angolana”. O desafio foi lançado aos agentes profissionais de moda, para que o organismo esteja a funcionar até ao final deste ano. O intuito de criar uma entidade específica prende-se com a necessidade de impulsionar a organização, o profissionalismo e a criatividade artística de quem trabalha no meio. A agência defende que o Conselho de Moda será determinante na internacionalização da indústria e do mercado de sector angolano, sendo decisiva no combate à ineficiência da indústria de produtos têxteis, artigos e acessórios de moda. O Conselho de Moda, a ser criado, será composto por todos os agentes acreditados e terá como principal missão promover este sector em todos os domínios entre 2010 e 2025. À semelhança do que se faz a nível internacional, nomeadamente nas grandes capitais da moda, a organização teria ainda a função de acreditar todos os agentes, supervisionar e promover o intercâmbio técnico-profissional, entre outras questões.

128 | ANGOLA’IN · CULTURA & LAZER

Bié carece de incentivos Cândida da Silva, governadora da província de Bié, apelou a todos os jovens para que utilizem a dança para recuperar os valores culturais, numa alusão ao esquecimento de certos costumes, incluindo a dança tradicional. Assim, defende que é urgente recuperar esses hábitos, pelo que o Governo local está disponível para apoiar a concretização de actividades culturais, promovidas pelos grupos regionais, com o intuito de relançar a província, que se encontra estagnada ao nível artístico. A directora provincial da Cultura, Alcida Camatali, por seu lado, referiu que ao valorizar as danças, a população está a criar condições para preservar os costumes das regiões e fomentar o intercâmbio entre as múltiplas localidades.

literatura

Escritor lança disco O primeiro disco de poesia do escritor Francisco Ngola é lançado a 20 de Setembro. Intitulado “O Sabor da Poesia Cristã”, o álbum é composto por 12 poemas escritos e declamados pelo artista. Numa primeira fase serão colocados no mercado cinco mil exemplares do CD, que foi gravado em Luanda e contou com o apoio do conhecido poeta Fridolin Kamolakamwe. Segundo Francisco Ngola, o disco resulta de vários anos de investigação e retrata o povo angolano. O escritor nasceu em Malanje e desde cedo que se interessou pela poesia, sendo membro da Brigada Jovem de Literatura de Angola desde os 12 anos.


DESPORTO · ANGOLA’IN

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PERSONALIDADES

| patrícia alves tavares

Angolano de alma e coração fernaocampos

“Conheci rios. Primevos, primitivos rios, entes passados do mundo, lodosas torrentes de desumano sangue nas veias dos homens. Minha alma escorre funda como a água desses rios.” José Luandino Vieira, in O Livro dos Rios

Interveniente activo no movimento de libertação nacional, Luandino Vieira é reconhecido pela qualidade da sua escrita e pelo contributo dado para o nascimento da República Popular de Angola. Aliás, a literatura e a paixão pelo movimento interventivo social andaram sempre ligados na vida do Prémio Camões (2006), que possui uma vasta obra (onde se inclui poesia), parte dela concebida durante os períodos em que esteve preso. José Luandino Vieira nasceu na Lagoa do Furadouro, em Portugal, em 1935. O escritor foi viver para Angola com três anos, onde passou toda a infância e juventude. Para homenagear a cidade onde cresceu, adoptou o nome de Luandino, tendo reivindicado sempre a condição de luandense. Pertencente à geração angolana da “Cultura” entre 1957 e 1963, foi um dos fundadores da União de Escritores Angolanos (1975), assumindo a função de secretário-geral desde a abertura da entidade até à década de 80. Desempenhou o mesmo cargo (como adjunto) na Associação de Escritores Afro-asiáticos, de 1979 a 1984, tornando-se posteriormente secretário-geral da mesma até Dezembro de 1989. Em termos literários, a escrita de Luandino Vieira é original, recorrendo à linguagem crioula e subversiva para conferir maior realismo às suas personagens, enriquecendo-as e conferindo-lhes a expressão viva e colorida das pessoas e lugares que retrata. Em 1961 ganhou o Prémio Sociedade Cultural de Angola e, em 1963, foi distinguido com o galardão da Associação de Naturais de Angola. Da vasta obra do ícone dos escritores africanos, desta-

130 | ANGOLA’IN · PERSONALIDADES

cam-se os livros “A Vida Verdadeira de Domingos Xavier” (traduzido em várias línguas e que foi adaptada pelo filme “Sambizanga”, realizado por Sarah Maldoror) e “Luuanda”. Esta última obra, além de ter sido traduzida em vários idiomas, valeu-lhe o Prémio Literário angolano “Mota Veiga”, em 1964 e o Grande Prémio de Novelística da Sociedade Portuguesa de Escritores, em 1965, causando alguma polémica, devido à violenta reacção do regime ditatorial que existia na altura em Portugal, o Estado Novo. A sua obra de narrativas “Vidas Novas” tem um cunho importante, uma vez que foi concebido no pavilhão prisional da PIDE, em Luanda, em 1962. Por outro lado, a compilação foi apresentada no concurso literário da Casa dos Estudantes do Império, em Lisboa, acabando por receber o Prémio “João Dias”, atribuído por um júri composto por personalidades do mundo literário português, como Urbano Tavares Rodrigues, Orlando da Costa, Lília da Fonseca, Noémia de Sousa e Carlos Ervedosa.

PERCURSO ATRIBULADO Luandino Vieira teve várias profissões até ser preso em 1959, sendo depois libertado. Em 1961 foi novamente detido e condenado a 14 anos de prisão. Em 1964 foi transferido para o campo de concentração do Tarrafal (Cabo Verde), onde após oito anos de clausura foi libertado, em regime de residência vigiada em Lisboa. Durante este período, escreveu a maior parte da sua obra, que foi publicada em 1972, depois de sair da prisão. Após a independência angolana, desempenhou múltiplos cargos, entre os quais a direcção do Departamento de Orientação Revolucionária do MPLA (até 1979), a organização e direcção da Televisão Popular de Angola (de 1975 a 1978) e do Instituto Angolano de Cinema (1979 a 1984). O colapso das primeiras eleições em 1992 e o início da guerra civil, levou o escritor a decidir abandonar a vida pública, dedicando-se em exclusivo à literatura, nomeadamente infantil.

obras publicadas › A Cidade e a Infância › Luuanda › Vidas Novas › Velhas Estórias › João Vêncio: os seus amores › A Vida Verdadeira de Domingos Xavier › Nós, os de Makulusu › No Antigamente, na Vida › Macandumba › O Livro dos Rios › Lourentinho, Dona Antónia de Sousa & Eu › Nosso Musseque › A Guerra dos Fazedores de Chuva com os Caçadores de Nuvens, (infantil)



ISSN 1647-3574

ano ii · revista nº08 · set/out 2009 350 kwanzas · 4,50 usd · 3,25 euros Economia & Negócios · Sociedade · Turismo

Arquitectura & Construção · Inovação & Desenvolvimento · Luxos · Desporto · Cultura & Lazer · Personalidades

REVISTA Nº08 · SETEMBRO / OUTUBRO 2009

o valor do desporto Num período em que só se fala em crise, surge um oásis onde se gere milhões. Um mundo paralelo, detentor de um poder inigualável, numa economia em suposta recessão. Saiba quais os nomes dos novos multimilionários

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