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Capítulo Dois
Com o estômago revirando, segui Avery em direção a parte de trás do restaurante, meu olhar focado no bonito suéter verde que ela usava para não me distrair. As multidões me eram estranhas agora, porque a conversa fazia eu me sentir instável. Como se eu estivesse capturando apenas a metade do que estava acontecendo ao meu redor. Manter conversas em grupos grandes ou onde houvesse uma grande quantidade de ruído era, muitas vezes, tão bemsucedido quanto usar minha testa para bater um prego na parede.
Os passos de Avery diminuíram quando nos aproximamos de uma mesa, e Cam nos olhou com aqueles seus olhos azuis extraordinariamente brilhantes. A primeira vez que eu encontrei Cam, fiquei com a língua presa e incapaz de formular palavras simples. Ele era muito lindo, e estava tão apaixonado por sua esposa que, às vezes, eu sentia um pouco de inveja. Receber esse tipo de devoção e aceitação era algo que eu nunca tinha sentido. Sinceramente, eu não acho que todo mundo tem que experimentar esse nível de amor. Era tão raro e belo como um jacaré albino.
“Você a encontrou.” Cam se encostou na cadeira, sorrindo para Avery.
“Bom trabalho, esposa.” Ela sorriu enquanto deslizava no assento ao lado dele.
“Desculpe,” eu disse, deslizando minha bolsa do meu ombro enquanto eu ignorava o olhar aguçado que Avery atirou em minha direção. “Eu estava atrasada.”
O homem, de costas para mim, que eu sabia que era Grady, levantouse e virou. Com um pouco de alívio, percebi que ele estaria sentado à minha esquerda. Olhando para cima, eu descobri que ele era algumas polegadas mais alto que eu e era tão bonito quanto Avery tinha dito. Seus cabelos castanho
areia e olhos azuis claros faziam eu lembrar da praia. Ele estava sorrindo, e era sexy e amigável.
“Está tudo bem”, disse Grady. “É um prazer conhecê-la.” “Igualmente, ” respondi, corando levemente quando ele puxou minha cadeira e esperou que eu me sentasse. E foi o que fiz, colocando cuidadosamente a alça da minha bolsa na parte de trás da minha cadeira. De jeito nenhum eu colocaria minha bolsa da Coach no chão. Olhei ao redor da mesa.
“Então, hum, já pedimos comida?” “Eu pedi uma porção de espinafre e alcachofra.” Cam enrolou o braço em volta do encosto da cadeira de Avery. “E batata frita com queijo... com bacon e queijo extra.” “Alguém come como se corresse para cima e para baixo de uma montanha para continuar vivo”, Grady comentou, sorrindo quando ele olhou para mim. “Ao contrário do resto de nós.” Cam riu. “Não me odeie.”
Pegando o copo de Coca-Cola, tomei um gole para aliviar a minha garganta seca e acalmar o zumbido nervoso que corria em minhas veias. “Então, Avery estava dizendo que você trabalha em Shepherd?” Grady balançou a cabeça e falou diretamente de frente para mim, obviamente, ciente da minha surdez parcial. “Sim, mas meu trabalho é longe de ser tão divertido como o de Cam. Eu ensino química.” “Ele está apenas sendo modesto”, Cam disse, esperando que eu virasse para ele antes de continuar. “Ele é o mais jovem professor no departamento de ciência.”
“Uau. Isso é impressionante”, eu comentei, me perguntando se ele sabia que eu tinha desistido da faculdade e o que ele pensava sobre isso. Você
tinha que ser muito inteligente para ensinar química. “Há quanto tempo trabalha lá?”
Quando ele respondeu a minha pergunta, eu vi o seu olhar baixar do meu, passando sobre a minha bochecha, mas sua expressão não mudou, e eu não tive certeza do que isso significava. “Eles estavam me dizendo que você frequentou Shepherd?” Eu balancei a cabeça, olhando para Avery. “Eu frequentei... ” Fechei minha boca, não tendo certeza do que mais dizer. Silêncio continuou, e eu agarrei o meu copo de novo.
Cam veio em meu resgate, trazendo à tona o assunto da fixação de Ava, agora com sete anos de idade, pelo o futebol. “Ela vai jogar.” “Ela vai dançar” Avery corrigiu.
“Ela provavelmente poderia fazer as duas coisas”, Grady interrompeu. “Não poderia?” Levei um momento para perceber que ele estava falando comigo. “Com sua energia? Ela poderia fazer dança, futebol e ginástica.
“Avery riu. “Nossa menina é... bem, ela é incontrolável.” “É tão estranho que Alex seja o mais tranquilo dos dois,” Cam ponderou. “Eu esperava que ele fosse agitado.” “Dê-lhe tempo”, respondeu ela secamente. “Ele tem apenas onze meses de idade.”
“Ele vai jogar futebol também.” Cam inclinou, beijando a bochecha de Avery antes que ela pudesse responder. “Você os levará aos treinos em todos os lugares com uma minivan.” “Deus me ajude”, Avery riu.
A garçonete apareceu na nossa mesa, então, parou abruptamente quando seu olhar vagou por Grady e, em seguida, parou em mim. Eu rapidamente olhei para o menu, decidindo por frango assado com batatas. Eu não olhei para ela enquanto fazia o meu pedido, porque eu não queria saber se ela estava olhando para mim ou não.
Logo que ela saiu para fazer o pedido, a conversa engrenou de novo, e eu adorei ouvir o vai e vem de brincadeiras entre Cam e Avery. Esses dois me faziam sorrir mesmo quando eu não estava confortável com o jeito que as coisas pareciam ou estavam.
Eu estava calma quando os aperitivos chegaram, murmurando meu agradecimento quando Grady ofereceu para servir o pratinho para mim.
“Cam estava dizendo que você vai começar um novo trabalho na segunda-feira?”, ele perguntou, interesse genuíno brilhando nos seus olhos.
“Eu já contei para ele quem é seu pai.” O sorriso de Cam era tímido. Não fiquei surpreendida. Cam era totalmente um fã dos Lima. “Desculpa. ” “Está tudo bem.” E realmente estava. Mesmo que eu tivesse me distanciado da profissão do meu pai, eu ainda era muito orgulhosa do que meu pai e seus irmãos tinham realizado. “Meu sobrenome meio que me entrega.” “Eu não saberia,” Grady admitiu, suas bochechas ficando rosadas quando eu olhei para ele com surpresa. “Quer dizer, eu realmente não acompanho toda a coisa de MMA.” Essa coisa de MMA tinha sido parte da minha vida por um longo tempo.
Papai esteve comigo durante anos, especialmente depois que ele abriu um centro especializado em MMA e, depois, uma nova filial em Martinsburg, a menos de quinze minutos de onde eu estava cursando a faculdade na Universidade de Shepherd. Deus, eu fiquei tão chateada quando eu descobri que minha família tinha praticamente me seguido para a faculdade. Papai podia ter ficado na Philadelphia, mas um dos meus cinco mil tios sempre estaria a uma curta distância de mim.
Papai queria que eu voltasse para casa e trabalhasse no centro em Philly, mas ele finalmente compreendeu, a cerca de dois anos atrás, o fato de que isso nunca aconteceria. Nunca. Havia muitas memórias lá, muita coisa que me fazia lembrar... me lembrar dele e do jeito que eu costumava ser.
Mas cerca de seis meses atrás, o pai começou a me importunar de novo. Depois a minha mãe. Depois Tio Julio, Dan e Andre e, oh meu Deus, os Limas eram como um Gremilin 2 alimentado após a meia-noite. O negócio tinha começado de forma diferente desta vez. André, que era atualmente o Gerente Geral da Academia Lima, em Martinsburg, queria voltar para Philly até o início de outubro, porque achou que West Virginia simplesmente não era legal o suficiente para ele. Papai não estava me oferecendo a posição de GG, mas a posição de assistente do GG - uma posição de gerente que não existia antes na filial de Martinsburg. O gerente assistente iria supervisionar o funcionamento do dia-a-dia da Academia enquanto ajudava a expandir os serviços. Ele queria alguém que pudesse confiar e que conhecesse o negócio, enquanto ele encontrava um novo GG. A oferta era, bem, muito tentadora, mas eu recusei.
Em seguida, papai apareceu em meu apartamento e me entregou um pedaço de papel que tinha o meu salário escrito, juntamente com uma série de benefícios, e eu seria a pessoa mais estúpida e mais teimosa se recusasse, mas mesmo a oferta sendo incrível, não tinha sido a verdadeira razão pela qual eu finalmente aceitei. Isso só aconteceu no momento certo, quando eu apenas... apenas estava extremamente cansada das sala sem janelas e de trabalhar em um emprego que eu não ligava nem um pouco. A proposta cutucou e incitou a Jillian que eu costumava ser, e uma parte de mim sabia que era quem o pai esteve tentando alcançar este tempo inteiro com uma oferta louca de trabalho após a outra.
“Eu acompanho”, Cam confirmou, me tirando dos meus pensamentos.
“Nós sabemos.” Avery suspirou. “Nós todos sabemos.”
2 Bichinho que se transforma em uma criatura endiabrada se alimentado depois da meia noite.
“Então, você... você realmente não tem ideia do que meu último nome significa?”, Perguntei, achando um pouco libertador que houvesse um homem com sangue nas veias que não desejasse secretamente que ele pudesse subir no octógono e sair de lá inteiro.
“Na verdade não. Isso é uma coisa ruim?” “Não.” Eu abaixei meu rosto quando sorri e olhei de volta para ele. “É uma... uma coisa boa.”
Seu olhar encontrou o meu. “Fico feliz em ouvir isso.”
Meu rosto aqueceu de novo, então me concentrei no meu prato. Eu estava cutucando as batatas fritas com queijo quando o meu estômago roncou. Se eu estivesse em casa, eu já teria comido metade do prato, mas eu me forcei a não comer como se eu não tivesse visto comida em uma semana.
O jantar foi... surpreendentemente tranquilo.
Cam e Avery mantiveram a conversa fluindo naturalmente, captando sempre que as lacunas de silêncio começaram a esticar-se por muito tempo, o que não aconteceu muitas vezes. Grady era fácil de conversar, me guiando na conversa. Houve apenas algumas vezes que Cam ou Avery tinham falado comigo e eu não escutei, então Grady teve que chamar a minha atenção. Isso não pareceu incomodá-los, o que tornou fácil para eu superar.
Nossos pratos principais chegaram quando Grady estava me contando sobre uma nova exposição de arte que tinha chegado a Shepherd. Pela forma como seus olhos brilhavam quando ele falava sobre a exposição, você poderia dizer que isso era o tipo de coisa que o interessava.
E isso era bonitinho.
“Parece uma coisa incrível para se ver”, eu disse, pegando o garfo. “Eu não tenho ido a muitas exposições de arte recentemente.” Ou nunca. Tipo, sério. Eu nunca fui ver arte. Não que eu veja nada de errado com isso, mas simplesmente não era algo que eu tenha feito.
Então, novamente, não tinha feito muita coisa.
“Eu posso levá-la”, Grady ofereceu, sorrindo. “Eu adoraria.” Meus lábios separaram com a oferta inesperada. Nós estávamos nos dando bem, então eu não sei porque a oferta me pegou de surpresa, mas ela pegou. Comecei a responder, mas percebi que eu não sabia o que dizer, porque eu não tinha certeza se eu estava animada com o que parecia ser uma oferta genuína ou se eu era totalmente indiferente a ela.
Uma sensação muito familiar passou por mim, aquela que normalmente me atingia no meio de uma longa noite, me mantendo acordada. Era a que eu sentia quando namorava Ben; a sensação de que eu ficava com ele, porque eu não via nada melhor para mim. Não porque eu merecia melhor, mas eu... eu dei meu coração tão completamente, tão completamente a outra pessoa, que, quando ele foi quebrado, as peças que eu tinha doado gratuitamente, não eram minhas mais.
O meu coração não estava completo.
E isso pode parecer bobagem e excessivamente dramático para alguns, mas eu não me importava. Era a verdade, e eu não tinha certeza se eu poderia, em algum momento, me sentir assim sobre alguém novamente. Então, eu tinha namorado Ben. Eu estaria fazendo isso de novo com Grady, se chegasse a esse ponto? Namorando?
Oh Deus, espere um segundo.
Eu realmente estava aqui sentada e pensando em namorar depois de apenas conhecer esse cara há uma hora?
Eu precisava manter o controle.
“Jillian?” Grady disse, e eu imaginei que ele pensou que eu não o tinha
ouvido.
“I-isso seria bom,” eu consegui por pra fora.
Ele me estudou por um momento muito longo, e eu perguntei se ele podia sentir meu nervosismo crescente.
“Eu já volto.” Coloquei meu guardanapo dobrado em cima da mesa, me levantei e dei um passo em volta da cadeira. Eu podia sentir o olhar preocupado de Avery em mim, e eu não queria fazer um grande negócio disso, apenas assegurei a ela que eu estava bem.
Eu só precisava de um minuto.
Ou três.
Fazendo meu caminho pelas mesas estreitas, eu fui para o banheiro. Apenas quando eu abri as portas duplas e parei em frente ao espelho manchado de água, eu percebi que eu tinha deixado minha bolsa na mesa, então não haveria como reaplicar o batom.
Eu bombeei sabão em minhas mãos e balancei-as sob a torneira. Água fluiu, lavando a espuma quando eu lentamente levantei o olhar para o meu reflexo. Normalmente, quando eu olhava para mim mesma, eu realmente não prestava mais atenção do que era necessário para colocar maquiagem sem acabar parecendo um tutorial errado.
Parada aqui agora, eu realmente olhei para mim, apesar de tudo.
Eu costumava usar o meu cabelo preso o tempo todo, mas eu tinha parado de fazer isso todos os dias. Meu cabelo estava agora pendurado em ondas e as extremidades enroladas sobre as pontas dos meus seios. Eu também costumava ter franjas densas, mas graças a Deus elas estavam bem grandes. Eu finalmente aprendi como aplicar delineador. Esse era outro milagre. O leve rubor do meu rosto escurecia minha pele naturalmente bronzeada. Meus lábios estavam cheios e meu nariz reto.
Meu cabelo se dividia para cair para a esquerda, assim ele protegia minha bochecha... e meu rosto não parecia tão ruim, especialmente considerando como parecia a primeira vez que eu o vi depois... depois de dias no hospital.
Inferno, todo o meu rosto havia se tornado uma bela bagunça.
Havia um corte fundo na minha bochecha esquerda, quase como se um triturador de gelo tivesse sido lançado nela e, enquanto eu olhava para a minha linha da mandíbula direita, eu ainda estava espantada pelo que os cirurgiões plásticos reconstrutivos puderam realizar. A metade do meu rosto havia sido literalmente remendada com um enxerto de crista ilíaca, com placa de reconstrução e uma tonelada de porcaria odontológica para me dar de volta um conjunto completo de dentes funcionais.
Os cirurgiões plásticos não têm varinhas mágicas, mas eles eram mágicos. Se você não estivesse me olhando de frente, você não teria nenhuma ideia de que minha mandíbula direita era mais fina do que minha esquerda.
noite. Você não teria nenhuma ideia do que tinha acontecido comigo naquela
Agora eu olhava para mim como eu tinha feito naquela noite, seis anos atrás, de pé em um banheiro, poucos minutos antes de toda a minha vida desabar.
Não era que eu odiasse como eu parecia agora. O fato de que eu estava viva significava que eu era uma dessas raras estatísticas que andam e respiram.
Mas, mesmo sabendo a quão sortuda eu era, não mudava o fato de que eu me sentia... deformada. Essa era a palavra dura de usar. Eu não gostava de dizê-la muitas vezes. Fazer isso no que até agora havia sido um bom encontro, provavelmente não seria uma boa ideia.
Respirando fundo, eu balancei a cabeça. Eu não precisava que meus pensamentos fossem nessa direção esta noite. Até agora, o jantar tinha sido incrível. Grady era agradável e bonito. Talvez eu até pudesse me ver sair com ele de novo, para uma exposição de arte, e talvez um café.
E foi o que me assustou.
Eu não ia deixar a vida me assustar.
Não.
Eu poderia lhe dar uma chance e não me preocupar sobre estar ou não namorando.
Saindo da pia, eu sequei minhas mãos e depois arrumei meu cabelo para que ele caísse para frente, por cima do meu ombro e bochecha esquerda. Saí do banheiro e, passando pelo corredor estreito, com o olhar fixo no chão, eu dei cerca de dois passos antes de perceber que alguém estava parado bem ao lado da porta, encostado na parede. Antes de quase me chocar com ele.
Ofegante, eu dei um passo para trás. Tudo o que eu podia ver eram calças pretas de corte fino combinadas com... com Chucks3 preto e branco velhos? O que era uma combinação estranha, mas aqueles sapatos me lembravam de...
Eu dei um pequeno aceno de cabeça e dei um passo para o lado. “Sinto muito. Me desculpe... ” “Jillian.”
Eu parei.
O tempo parou.
Tudo parou, exceto o meu coração, porque de repente, ele estava batendo no meu peito muito forte, muito rápido. Aquela voz profunda, áspera. Eu a reconheci todo o caminho até a minha essência. Lentamente, eu levantei meu olhar, já sabendo o que eu ia ver, mas me recusando a acreditar.
Brock Mitchell em pé na minha frente.
3 Tênis tipo All Star.