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Capítulo Trinta e Três

Eu não chorei.

Nem mesmo surtei depois que Kristen foi embora.

Nem liguei pro Brock.

Eu terminei meu dia na Academia e dirigi para casa sem pegar o prato gigante de babatas-fritas com queijo como eu queria.

Na maior parte do tempo eu estava no automático enquanto pensava no que Kristen havia dito. Eu nunca esperava que ela fosse aparecer e dizer aquelas coisas. Se só a parte que ela disse sobre si fosse verdade, a honestidade nua e crua era chocante. Mas algumas coisas que ela disse não me surpreenderam.

Eu sempre temi que Brock estivesse aqui, de volta na minha vida e comigo, realmente comigo, porque ele se sentia como se tivesse que fazer isso. E isso doía, era uma ferida profunda que quase gerava uma dor física.

Isso me fez sentir como se houvesse um gorila sentado em meu peito. Esse medo roubou meu apetite. Esse medo roubou o sucesso dos últimos dias de mim.

E eu odiava isso.

Parte de mim só queria ignorar o que Kristen tinha dito para mim, e essa era uma grande parte, porque isso seria o que a antiga teria feito. Aquela que não tinha uma chama dentro de si.

A antiga Jillian teria se acomodado.

Aquela Jillian teria fingido que tudo estava bem, porque era mais fácil e seguro do que encarar a dor, mas eu sabia que não conseguiria esquecer. Isso tinha cravado um caminho na minha cabeça e ficaria ali mesmo que eu forçasse

a mim mesma a esquecer, e assombraria qualquer coisa que eu fizesse e que Brock falasse.

Me movendo, passei meus dedos sobre a lombada dos livros e abaixei minha mão.

Só que eu não era mais essa pessoa.

A conversa com Kristen fortaleceu as dúvidas que eu tinha enterrado nas últimas semanas. Agora elas foram trazidas a superfície, deixando minha pele e alma cruas e expostas.

Eu não poderia fingir que a conversa com Kristen nunca aconteceu. Eu não poderia desejar isso. Eu não poderia concordar com o medo que tinha existido antes de Kristen entrar por aquelas portas. Eu iria falar com Brock. Eu só não sabia o que ele poderia dizer que realmente fosse apagar as dúvidas, porque eu me preocupava que isso fosse algo maior que ele.

Que eu estava deixando o que Kristen falou cavar profundamente, por causa dos meus próprios problemas - minhas dúvidas, meus medos.

isso. E eu não sabia se era tudo culpa minha e, se fosse, como eu iria arrumar

Uma mão passou sobre meu braço nu, pelo meu quadril, puxando as cobertas pela minha perna. A mão calejada e áspera acariciou minha coxa, mandando um turbilhão de arrepios quentes sobre minha pele.

"Babe," uma voz profunda soou contra o cabelo da minha testa.

Sentindo um peito duro pressionado contra minhas costas, eu pisquei, abrindo meus olhos. Minha cabeça estava confusa enquanto me virava de lado. "Brock?"

Ele beijou o canto dos meus lábios. "Você diz isso como se não soubesse que sou eu." Seu maxilar áspero passando contra meu pescoço me fez ofegar. "Quem mais estaria subindo na sua cama a uma da manhã?"

Ainda meio dormindo, eu comecei a sorrir, para provocar que poderia ser qualquer um, mas enquanto os segundos se passaram e eu acordei mais, os eventos do dia voltaram.

Eu me afastei, me movendo para acender o abajur no criado-mudo. Uma luz suave invadiu o quarto. O que ele estava fazendo aqui? Ele não deveria voltar até a tarde de sábado.

"O que está fazendo?" Ele passou um braço em volta da minha cintura, me puxando de volta contra ele.

Antes que eu pudesse responder, sua boca estava sobre a minha. Com o toque de seus lábios, meu corpo respondeu sem pensar. Meus lábios se abriram e o beijo se aprofundou. Seu corpo estava sobre o meu, e eu podia senti-lo através de seu jeans, pressionando contra mim. Ele movia seu quadril contra mim, e perdi o folego devido à explosão de sensações. Em segundos eu já estava pulsando. Ele podia me excitar assim tão rápido, ou eu sempre estava pronta para ele.

"Senti saudades desse som," ele disse contra meus lábios. "Dirigi como um maníaco para chegar aqui agora em vez de amanhã só para ouvir isso."

Eu estava a segundos de me deixar levar pelo desejo. Se eu não parasse isso agora, eu não conseguiria parar, e mesmo que não quisesse nada além de senti-lo, ele todo, nós precisávamos conversar.

Juntando cada gota de força de vontade que eu podia encontrar, eu coloquei minha mão sobre seu peito. "Brock..."

"Porra." Seu quadril se moveu enquanto sua mão passava por baixo da camiseta solta que eu usava, passando pelo inchaço dos meus seios enquanto sua testa estava contra a minha. "Isso foi outra coisa que senti saudades. Meu nome em seus lábios."

Meu corpo corou, quente. Cara, ele realmente sabia como me distrair, mas eu o empurrei um pouco. "Precisamos conversar."

"Podemos fazer isso." Seus lábios passaram sobre meu maxilar direito e, então, seus dentes mordiscaram o lóbulo do meu ouvido. "Podemos fazer outras coisas também."

"Não, não podemos."

Ele riu. "Se chama multitarefa, Jilly."

"Eu não posso fazer várias coisas ao mesmo tempo assim," admiti. Meu coração já estava acelerado a essa altura.

Sua mão passou sobre meus seios, seus dedos brincando com a ponta enrijecida. "Isso não é problema meu."

Eu queria rir, mas se fizesse isso, ele iria me convencer. Meus dedos apertaram o suéter que ele usava. "Kristen veio ao escritório hoje." Essas palavras foram como afogar Brock em água gelada. Suas mãos pararam, assim como seu quadril. Ele levantou sua cabeça e olhou para mim com olhos escuros.

"O quê?"

"Kristen passou na Academia para falar comigo."

"Sobre o quê?"

Sua pergunta parecia tão genuína que eu tive de pensar que ele não tinha ideia do tipo de detalhes íntimos que ela compartilhou comigo. Mas talvez, apenas talvez, uma parte do que ela disse não fosse verdade.

Eu encontrei seu olhar. "Sobre várias coisas."

Ele abaixou suas sobrancelhas e, então, saiu de cima de mim, para que ficasse de lado, usando seu cotovelo para se apoiar. Sua mão continuou em meu estômago. "Por que tenho a sensação de que não vou gostar do que estou prestes a ouvir?"

As ondas de desejo sumiram. "Boa pergunta."

"Bem, eu não acho que ela veio falar sobre cartões de natal feitos em casa." Ele sorriu - ele realmente sorriu.

"Você não parece incomodado pelo fato dela ter aparecido e vindo falar comigo."

"Por que estaria?" ele perguntou, passando sua mão pela barra da minha camiseta. "Honestamente, eu não estou feliz de saber que ela esteve aqui. Ela não tem motivo nenhum para estar ao seu redor."

Eu estudei suas feições, tentando decifrar como ele realmente se sentia sobre isso." Você... você nunca falou comigo sobre ela."

mais." "O que tem para ser dito? Nós estávamos juntos. Depois não estávamos

"Vocês ficaram juntos por anos," apontei, embasbacada por sua afirmação. "Estavam noivos. Não é como se tivessem namorado alguns meses e depois ido em caminhos separados."

Ele ficou quieto por um momento. "O que ela queria falar com você?"

"Muitas coisas," me sentei. Sua mão caiu, mas ele a manteve em volta da minha cintura até que me apoiasse contra a cabeceira. Meu olhar voou para a porta e eu vi o contorno de Rhage no corredor, tentando decidir se era seguro entrar aqui ou não.

Brock esperou. "Detalhes?"

Meu olhar voou para ele. "Por que não me contou que Kristen esteve grávida?"

"Ela falou com você sobre isso?" Sem tom estava cheio de surpresa. "Mas que porra?"

"Então, é verdade?"

"Merda." Brock levantou uma mão para sua cabeça, passando os dedos pelo seu cabelo. "Sim, é verdade. Ela engravidou alguns anos atrás. Ela teve um aborto. Eu nunca te contei porque não é algo que realmente gosto de pensar muito." Houve uma pequena pausa. "Eu também não contei porque tinha certeza que era algo que você não iria gostar de saber."

Meu estômago revirou com a mistura estranha de sentimentos. Afastando meu cabelo do meu rosto, eu não fazia ideia do que pensar sobre isso. Eu estava aliviada que ele estava sendo honesto, desanimada pelo fato dele não ter me contado e, de um jeito, até entendia o porquê. O ciúmes estupido que tinha acalmado em mim me dizia porquê ele não tinha falado sobre isso.

Eu estava... eu estava com ciúmes, porque ele tinha engravidado outra pessoa e, acredite em mim, eu sabia o quão ridículo isso era. Eu percebi quão incrivelmente horrível isso era. Quão errado.

bebê." Inalei profundamente. "Isso deve ter te machucado - por ela perder o

Brock se deitou de costas, esfregando suas mãos pelo seu rosto. "Não foi bom para nenhum de nós, Jillian."

"Desculpa," disse.

"Não tem nada para se desculpar." Seu peito levantou enquanto ele respirava profundamente. "Eu não estava preparado para ter uma criança. Nem era algo que eu pensava quando ela engravidou, mas eu fiquei feliz com a ideia." Ele abaixou suas mãos para seu peito enquanto inclinava sua cabeça para o lado, seu olhar encontrando com o meu. "Não era para dar certo."

"Ela disse que você se sentiu culpado sobre isso."

Ele franziu o cenho.

"Que você se sentia responsável por ela ter perdido o bebê," eu disse. "Que a culpa de ter perdido o bebê fez você pedir ela em casamento."

Seus olhos ficaram sombrios. "O que mais ela disse para você?"

Ele não negou.

amou." Meu coração afundou. "Ela... ela me disse que você nunca realmente a

Um músculo flexionou em seu maxilar. "Eu não tenho ideia do porquê ela te disse isso, mas eu me importava com ela. Acho que parte de mim a amava, mas eu não estava apaixonado por ela. Essa parte está certa."

Me contraí. Enquanto havia essa terrível, horrível, pequena parte de mim que ficou feliz em ouvir isso, saber que seu coração ainda teria de pertencer a alguém, havia uma parte maior de mim que não conseguia entender como ele passou seis anos com alguém, que engravidou essa pessoa, a pediu em casamento, e ainda assim não a amou.

Mas então, pessoas ficavam juntas o tempo topo por milhões de motivos além de amor. Dinheiro. Crianças. Solidão. Às vezes era apenas mais fácil ficar com alguém, então por que a culpa deveria ser afetada?

Não era.

Mas essa era a pessoa que ele escolheu no meu lugar naquela noite. Eu tinha superado isso. Pelo menos, eu pensava que sim. Às vezes eu não tinha tanta certeza. Eu achava que sempre seria um trabalho contínuo para mim, e não havia nada de errado com isso enquanto eu continuasse trabalhando para deixar isso para trás. Mas, e se Brock ficasse comigo por anos e anos e nunca me amasse, nunca me amasse como ele deveria?

"O que mais ela te disse, Jillian?"

"Ela me disse que ela estava... ou esteve tentando voltar para você." Um flash de raiva me iluminou. "Por que você não me disse que ela ainda estava entrando em contato?"

"Por que eu deveria?"

Eu me contraí. "Sério? Por que? Eu sou sua namorada..."

"Sim, você é minha namorada e, por causa disso, eu não queria que se preocupasse com uma mulher que obviamente não entendeu que tudo acabou."

A emoção de ouvir as palavras "minha namorada" ainda estava aqui, mas ele deveria ter me dito. "Entendo isso, mas você deveria ter me contado se alguém ainda estivesse tentando entrar em contato com você. Eu tenho o direito de saber."

Ele pareceu querer discordar, mas suspirou. "E ter você se preocupando com algo que deveria ser irrelevante? Porque nada vai acontecer com a Kristen. Nada vai acontecer com nenhuma mulher. Eu sei que, a tempos atrás, eu não queria um relacionamento, mas você me conhece. Quando estou com alguém, estou com alguém. Você nunca tem que se preocupar comigo."

Brock era leal - as vezes até demais. Ele me trair não era algo que me preocupava. Esse não era o problema.

"O que mais ela disse?" ele perguntou. "Porque aposto que tem mais."

E havia. "Ela disse que você sentia culpa pelo que aconteceu comigo naquela noite no Mona's," eu disse a ele.

Sua testa enrugou. "Claro que me senti culpado por isso. Nós já falamos a respeito. Eu não vejo..."

"Você está comigo porque quer estar ou por que se sente culpado pelo que aconteceu comigo?"

Ele me encarou por um momento, como se não conseguisse achar as palavras para responder, então disse: "Você está falando sério?"

"Sim. Estou."

"Eu não acho que preciso responder isso."

Frustração cresceu por causa das sementes de medo que estavam em meu estômago. "Acho que precisa."

"Você realmente acredita nisso?" Brock se sentou com graça, passando uma mão por seu cabelo de novo. Ele a parou na parte de trás do seu pescoço. "Sério?"

"É uma pergunta séria, Brock."

"E como eu querer ficar com você só pela culpa faz sentido?" Seus olhos brilharam. "O que ela disse para você?"

"Ela disse que você ficou com ela por causa da culpa e que estava comigo pela culpa também."

Brock xingou baixo enquanto balançava sua cabeça. "E você realmente acredita nisso? De verdade?"

"Eu não sei o que pensar." Colocando meu cabelo para trás, eu o torci e soltei. O cabelo girou solto, "Eu preciso de tempo." E eu precisava de espaço para que pudesse pensar direito. "Olhe, está tarde. Talvez você devesse ir para casa."

Suas sobrancelhas voaram para cima. "Você realmente quer que eu vá embora?"

Levantei da cama, pegando o cardigã longo que estava em um canto. Eu o coloquei. "Sim. Sim, eu quero."

"Bem, odeio ser o portador da verdade, mas eu não vou embora."

Meus braços caíram ao meu lado. "Oh, sim, você vai."

Ele me encarou de onde estava sentado na cama. "Não tem como eu ir embora quando você tem essa merda toda corrompendo seus pensamentos, para que você possa se convencer de qualquer merda que esteja tentando acreditar sobre mim."

Eu o encarei. "Eu não quero acreditar em nada disso, Brock."

"Tem certeza?" ele desafiou. "Porque você parece ter pensado bem rápido que eu estou com você só pela culpa. Que eu estaria te fodendo por causa da culpa."

Me contraí. "Não precisa dizer isso dessa forma."

"Mesmo? Você acha que isso soa ruim? Tente estar na outra ponta quando alguém diz isso," ele atirou de volta e, okay, ele tinha razão. "Eu entendo porque é fácil você acreditar nisso, mas você precisa me dar mais crédito que isso."

Engolindo a bola que estava na minha garganta, eu cruzei meus braços sobre meu peito. "Eu te dou crédito, mas como você poderia não tê-la amado?"

"Como o que senti por ela tem alguma coisa a ver conosco?" ele retrucou. "Jesus Cristo, Jillian, eu não posso responder essa pergunta. Eu não sei porque nunca a amei o suficiente para querer ficar com ela. Só não aconteceu."

"Você a pediu em casamento porque ela perdeu o bebê?"

Balançando sua cabeça, ele abaixou seu queixo. "Não sei. Talvez tenha feito. Talvez isso tenha sido parte. Eu queria fazê-la feliz. Eu tentei."

Puxando meu cardigã fechado, eu olhei para longe. "Ela disse que você deixou a culpa pelo que aconteceu comigo..."

"Por que raios importa o que ela disse para você?" ele exigiu enquanto se movia para a beira da cama.

"Importa porque eu mereço alguém que não esteja comigo por causa da culpa!" gritei. "E eu mereço estar com alguém que me ame tanto quanto eu o amo!"

Brock congelou.

Eu não acho que ele tenha respirado.

E, então, eu percebi o que tinha dito para ele.

Oh meu Deus.

O sangue sumiu do meu rosto e voltou correndo para ele. Eu tinha acabado de dizer que o amava.

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