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Capítulo Nove

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Brock e Jillian

Brock e Jillian

"Eu sei o que estou fazendo."

"Não." Brock, que estava agora parado atrás da minha cadeira nessa manhã de sexta-feira, se moveu e pegou o mouse debaixo da minha mão. "Eu acho que você precisa clicar nisso."

"Não, não preciso." Bati na sua mão para afastá-la, tomando o controle do mouse novamente, enquanto tentava mover o gráfico para que ficasse centralizado. O suspiro de Brock afastou uma mecha do meu cabelo da minha bochecha esquerda, mandando um calafrio pela minha espinha.

"Tudo o que precisa fazer é clicar no botão de centralizar."

"Yeah, eu já fiz isso." Eu me inclinei para a direita quando ele tentou pegar o mouse de novo. Afastei novamente suas mãos. "Você não tem nada melhor para fazer?" perguntei, empurrando minha cadeira para trás, o forçando a dar um passo para o lado. Eu olhei para cima enquanto ele se movia, se inclinando sobre minha mesa. "Aprovar as campanhas é meu trabalho. Eu já teria feito isso se você não estivesse aqui grudado atrás de mim."

"Grudado atrás de mim?" Ele franziu o cenho. "Isso soa meio..."

"Nem tente dizer isso."

Uma expressão inocente apareceu em seu rosto. "Aparentemente não sou eu que tenho a mente suja. Eu ia dizer que parecia com um jogo de videogame."

"Uh-huh." Vagarosamente, com cuidado, eu movi o mouse apenas uma fração de centímetro, conseguindo centralizar a caixa de texto. "Ah-ha! Pronto."

"Você é tão talentosa."

Eu atirei um olhar a ele, e ele sorriu.

Paul apareceu na porta que estava aberta. Ele era alto e esguio, um homem de meia idade com cabelo loiro e olhos azuis brilhantes. Vestindo a polo da Lima Academy e uma calça preta de nylon, ele se misturava facilmente com os vários assistentes de venda que ficavam no andar, mas ele era um dos treinadores que ficavam no primeiro andar. Ele trabalhava aqui desde que a academia abriu.

Eu não o conhecia muito bem, já que os treinadores e os olheiros eram, na maior parte, responsabilidade de Brock, mas sempre que ele olhava para mim, como ele estava fazendo agora, eu tinha a impressão que ele achava que minha vaga aqui era totalmente inútil.

A maioria dos funcionários parecia me aceitar, como Andre tinha insistido que acontecesse, mas Paul olhava para mim como se eu fosse tão desejada quanto gripe.

Ele também me lembrava do idiota com quem costumava trabalhar na Philly, aquele que me intimou no meio da sala de suprimentos.

"Sr. Mitchell, você tem um momento?" Paul perguntou, seu olhar glacial passando de mim para Brock. "Eu tenho alguns novos alunos que gostaria que você desse uma olhada." Ele levantou uma pasta. "E ver se você quer filmá-los."

"Já vou." dando um tapinha na ponte do meu nariz como se tivesse cinco anos, Brock piscou enquanto se endireitava e, então, saiu do escritório.

Claro que eu assisti ele sair.

Não conseguia evitar. Ele tinha um lindo traseiro, o que era uma merda. Quero dizer, onde que ele conseguia aquelas calças e por que elas emolduravam tão bem sua bunda? Por que?

Balançando minha cabeça, eu voltei minha atenção para o computador e terminei de arrumar e aprovar os anúncios que teriam de ser enviados.

Algumas horas mais tarde, depois da reunião diária de vendas na sala de conferências, eu estava juntando os relatórios da mesa, quando Brock perguntou. "Então, tem algum grande plano para o final de semana?"

Eu olhei para ele. Sua cabeça estava abaixada, olhando um dos relatórios de vendas que Jeffrey tinha entregado. "Hum, hoje à noite eu vou ser babá dos filhos da Avery e do Cam. Eles têm um encontro hoje à noite."

"Legal você fazer isso em plena sexta à noite," ele apontou e, então, perguntou, "É assim que costuma passar as suas sextas?"

Pressionando a pilha de papeis contra meu peito, eu olhei para o topo da sua cabeleira escura. "Normalmente não."

"Então normalmente você sai?"

Eu comecei a franzir o cenho. "Às vezes." Okay, essa era uma mentira, mas a última coisa que eu queria que Brock soubesse era que eu ficava sentada em casa com meu gato malvado e traidor, sozinha, comendo massa de brownie. "Amanhã eu vou ver uma exibição de arte."

Brock vagarosamente levantou sua cabeça. Seus olhos se estreitaram deixando apenas uma linha fina da sua íris de obsidiana aparecendo. "Uma exposição de arte? Isso parece... interessante."

Seu tom brincalhão atiçou meus nervos. "Sim. Eu vou com Grady."

"Grady? Aquele cara baixinho que estava jantando?"

Cara baixinho? "Ele não é baixinho."

"Ele é baixinho."

"Talvez se comparar com seu tamanho de Godzilla ele seja baixinho, mas para todos os padrões normais de um ser humano, ele não é."

Um sorrisinho apareceu em sua boca enquanto ele se encostava na cadeira que ficava na cabeceira da mesa. "Eu sempre achei que você gostava

do meu tamanho de Godzilla. Se me lembro corretamente, você amava quando eu pegava você no colo e te jogava para o alto e depois você caía na piscina." Ele aumentou ainda mais o sorriso. "E eu podia fazer isso por causa do meu tamanho."

Minhas bochechas ficaram vermelhas enquanto eu olhava por cima do meu ombro, grata que nenhum dos empregados estavam a vista. "Yeah, bem, eu não tenho mais dez anos, Brock."

"Huh." Ele cruzou seus braços sobre a mesa e se inclinou para frente. "Também me lembro claramente de fazer isso quando você tinha vinte."

O calor nas minhas bochechas continuou. "Tem algum motivo para estarmos tendo essa conversa?"

Ele riu, olhando para sua papelada. “Na verdade, não." Encarando-o, eu comecei a me virar e parei, olhando para ele novamente. Nós éramos... amigos agora. Amigos podiam perguntar sobre seu final de semana. "Então, você tem planos?"

"Depois do trabalho eu vou voltar para Philadelphia," ele respondeu, ainda olhando para os papéis.

Acho que ele ia voltar para casa, para Kristen. Ou, talvez, ela estivesse na sua casa nas redondezas de Shepherdstown. Eles estavam noivos, então imaginava que morassem juntos. "Você vai manter a casa na Pennsylvania?"

Brock balançou sua cabeça. "Não. Estou no processo de vendê-la."

"Então, a mudança para cá é permanente?"

"Parece que sim."

Uma pequena faísca de felicidade acendeu em meu peito, e eu a ignorei, nem mesmo querendo saber o motivo por trás disso. Eu queria perguntar a ele sobre sua noiva, mas parecia estranho fazer isso. "Bem, tenha um bom final de semana, Brock."

"Você também," ele disse e, quando me virei em direção a porta, ele falou novamente. "O baixinho, que também atende por Grady, é alguém que você está saindo seriamente?"

Revirando meus olhos, eu me virei de volta. Não tinha certeza do que iria acontecer com Grady, mas ele não precisava saber disso. "Estou animada por sair com ele amanhã."

Então Brock olhou para cima, um pequeno sorriso em seu rosto. "Eu sei. Posso perceber a animação em seu tom de voz. Divirta-se olhando para... as artes."

Eu tinha a sensação que ele estava zoando com a minha cara, mas eu não conseguia entender o porquê. "Eu vou."

Ele inclinou sua cabeça para o lado. "Você merece coisa melhor."

"O quê?"

Colocando os papéis para baixo novamente, ele segurou meu olhar. "Você merece alguém melhor que ele."

Por um momento eu nem consegui responder e, então, comecei a rir. "Você está passando bem?"

Seu maxilar ficou tenso. "Estou me sentindo totalmente normal."

"Estou perguntando isso porque você está falando para mim que eu mereço alguém melhor do que um homem que você nem conhece." Raiva, doce e empoderadora, passou por mim. "E francamente, não é direito seu, nem seu problema, sugerir algo como isso." Depois de ter começado, eu levantei meu queixo. "E, se você realmente quer se sejamos amigos, você não pode dizer uma merda dessas para mim."

Silencio passou entre nós antes dele falar.

"Eu não te conheço mais," ele disse baixo e, quando eu não respondi não pude porque essa afirmação me pegou com a guarda baixa, ele inclinou sua

cabeça para trás. "Eu conheço a velha Jillian. Podia sentar aqui e falar sobre ela o dia todo, mas essa nova Jillian? Eu não a conheço." Um sorriso malicioso apareceu. "Mas quero conhecer."

Pensando que algo pudesse estar errado com seu cérebro, tudo que consegui fazer foi encará-lo.

"Por sinal, eu quero que algo fique claro entre nós," ele disse, segurando meu olhar. "Não houve um momento sequer nessas duas últimas semanas que eu olhei para você e vi a menininha que eu costumava jogar na piscina... eu vejo uma mulher - uma linda mulher. Não diga a si mesma o contrário."

Naquela noite, enquanto estava deitada na cama sem conseguir fazer meu cérebro desacelerar o suficiente para conseguir pegar no sono ou para me concentrar em um livro, eu encarei o teto, levemente obcecada sobre o que Brock disse para mim antes de sair.

E não era sobre a parte de ser linda.

Brock soltava elogios como se nunca fossem sair de moda. Considerando o que aconteceu com meu rosto, não era tão ruim. Eu conseguia passar por bonita em um dia bom. Mas linda eu não era.

Não, não era só isso, por melhor que soasse saindo daqueles lábios bem definidos. Era a parte onde ele disse que não via mais a menininha quando olhava para mim, e tudo que eu conseguia pensar era sobre aquele dia onde pensei que tudo entre nós iria mudar.

Parada no meu antigo quarto, eu não precisava olhar ao redor para saber como ele parecia quando eu o deixei a três anos atrás.

Uma cama de menina.

Uma penteadeira de menina.

Uma cômoda de menina.

Pôsteres dos meus livros favoritos que foram adaptados para filmes estavam presos na parede. Um velho ursinho de pelúcia estava no banco da janela, entre uma almofada azul e uma rosa, suas cores ainda tão vibrantes como no dia em que minha mãe os havia colocado ali. Prateleiras alinhadas em uma parede toda, parando apenas para caber o armário e a entrada para o banheiro.

Centenas de livros estavam guardados nessas prateleiras, meticulosamente organizados por gênero e, então, pelo sobrenome do autor. Minha mãe que começou com minha paixão pelos livros quando tinha dez anos, e eu devorei romances históricos, e aquelas brochuras velhas e mofadas que ficavam empilhadas uma em cima da outra, com três fileiras de profundidade. Uma estante inteira era dedicada aos infanto-juvenis e, então, uma outra tinha todos os romances adultos que colecionava, ou ganhava, indo desde os mais doces até os incandescentes. A última estante, a quarta, estava pela metade. Ela continha alguns suspenses e meus livros antigos da escola. Eu não os vendia de volta, mas também não tinha espaço em meu dormitório de Shepherd para guardá-los.

Estar de novo nesse quarto trazia de volta boas lembranças. Eu, toda encolhida no banco perto da janela, lendo. Eu, deitada de lado na cama de casal, tarde da noite, apenas com uma pequena lâmpada que tinha luz suficiente para ler. Eu, parada na outra janela, aquela que era voltada para a garagem, assistindo Brock ir embora depois que ele tinha vindo para um dos vários jantares de família.

Estar nesse quarto também me fazia me sentir como se eu ainda fosse a menina que nunca iria crescer e ir embora, mas eu não era ela mais. E eu tinha feito exatamente isso.

Eu andei para a cômoda, onde tinha meu medalhão de São Sebastião, que achei em uma loja hippie em Shepherdstown. Era do tamanho de uma moeda e ficava preso em uma corrente de prata. Eu li uma vez que ele era o

patrono dos atletas, então sempre que via um, eu sempre o comprava para Brock. Pegando-o cuidadosamente, eu o coloquei no bolso de dentro da minha bolsa.

Parada na frente do espelho, eu mal conhecia a pessoa que me encarava de volta. Eu tinha deixado meu cabelo solto, passando quase uma hora com o baby-liss para que ele ficasse ondulado. Eu tinha conseguido arrumar minha franja de lado, e ela ficou no lugar depois de uma lata de spray de cabelo.

Eu estava usando delineador, o que tinha levado cinco ou seis tentativas para deixá-lo direito, e eu ainda não tinha certeza se o havia aplicado corretamente depois de ter assistido várias meninas de treze anos ensinando como no YouTube.

Nada faz você se sentir mais incapaz do que ver uma adolescente aplicar maquiagem melhor que você.

Mas a minha sombra cintilante lilás deixava meus olhos castanhos mais quentes, o batom vermelho fazia meus lábios parecerem mais cheios e o iluminador bronze em minhas bochechas complementam meu tom de pele.

As blusas e saias sem forma que eu sempre usava já eram. Eu comprei esse vestido especificamente para hoje à noite e eu nunca tinha usado nada como ele antes. Era preto e justo na região dos seios, mostrando o que eu normalmente escondia. A cintura era alta e era mais solto na região da barriga e do quadril, camuflando a bunda que nenhuma quantidade de cardio iria me fazer perder. A barra do vestido parava bem no topo das minhas coxas.

E eu até estava usando saltos - saltos pretos com tiras.

Havia uma boa chance que eu pudesse quebrar meu pescoço hoje, mas eu me sentia...

Eu me sentia bonita. Talvez até... sexy.

Calor subiu para minhas bochechas e eu revirei meus olhos para mim mesma. Brincando com a pulseira que estava em meu braço, me virei e conferi

as horas. Eu precisava sair logo. Meu estômago afundou um pouco e eu me forcei a inalar profundamente enquanto eu me virava de volta ao espelho.

Pequenas bolas de nervosismo enchiam meu estômago. Eu já tinha passado tanto tempo com Brock, anos na verdade. Passando tempo juntos na piscina que ficava no quintal, quando os dias de verão eram longos e as noites mais longas ainda. Dividindo o jantar com minha família enquanto nos sentávamos lado a lado no balanço da varanda. Correndo atrás dele e dos meus tios mais novos quando eles saiam para jogar bola ou iam para a academia para treinar. Katie estivera certa mais cedo. Eu tinha sido a sombra de Brock desde que tinha oito anos e ele quatorze. A maioria dos meninos dessa idade teria se irritado com uma menina ao seu encalço a cada segundo, mas Brock nunca me fez me sentir indesejada ou como se estivesse atrapalhando.

Apesar da diferença entre nossas idades, ele tinha se tornado meu amigo mais próximo. Quando meus tios ou primos não queriam que eu fosse junto, ele sempre me defendia e sempre se certificava que eu fosse incluída. Ele falava comigo sobre coisas - sobre seu pai e sua mãe - coisas que eu sabia que ele não falava com ninguém, especialmente com as meninas com quem ele ficava. Nós compartilhamos segredos e histórias. Quando o colegial se tornou... tornou difícil, ele era um abrigo sempre que eu o via. Ele nunca me tratava de um certo jeito por causa de quem meu pai era ou pelo que minha família fazia. E quando todos os caras na escola tinham ficado com medo suficiente para me convidar para o baile por causa dessa família, foi Brock quem me levou para meu baile do colegial depois que eu disse que não iria.

Eu sorri lembrando desse dia.

O baile havia sido uma loucura. Quando tinha dezessete e ele tinha acabado de fazer vinte e três. Além do fato de que ele era o cara mais velho lá e que isso teria sido super estranho, Brock já era meio famoso no meio daqueles que assistiam as lutas. Tenho certeza que ele passou mais tempo posando para fotografias do que passamos dançando, mas se eu não fosse apaixonada por ele antes, eu me tinha me apaixonado para valer nesse dia.

Ele tinha sido como um irmão para mim até que, bem, eu comecei a olhar tempo demais para o jeito que seus braços flexionavam ou como seu lábio inferior era mais cheio que o superior. E quando ele tinha feito sua primeira tatuagem aos dezessete, uma de várias, e eu parei de pensar nele como um irmão. Ele nunca parou de pensar em mim como uma irmã mais nova.

Mas hoje à noite era diferente.

"Estou pronta," disse em voz alta para meu reflexo. "Estou mais que pronta."

Eu estava pronta naquele sábado à noite, pronta para mudar as coisas entre nós, exceto que aquela noite terminou com ele... com ele conhecendo a menina que viria ser sua noiva e eu... comigo no hospital, quase morta.

Grady estava segurando minha mão enquanto saíamos do local da exibição para a brisa gelada da noite de Outubro. Era mais tarde do que imaginei que sairíamos. Acabamos jantando em um dos restaurantes na German Street e, então, paramos para pegar um café antes de irmos para o Centro de Artes Contemporâneas.

Tinha sido uma boa noite, realmente boa.

As conversas foram fáceis e parecia que nunca acabaria as coisas que tínhamos para falar. Ele me contou sobre como foi crescer ao oeste de Maryland e sobre passar os verões ajudando seu avô na fazenda da família, e como ele ainda voltava lá bastante. Eu expliquei que cresci no meio da família Lima. Mesmo ele não sabendo nada sobre MMA, ou qualquer coisa do gênero, ele estava genuinamente interessado do que eu tinha para dizer.

E agora, enquanto andávamos até onde estacionamos, minha cabeça estava em um lugar complicado. Era estranho voltar ao campus desde que larguei a faculdade faltando três semestres para me formar. Olhando ao redor

agora, com os alunos indo de dormitório a dormitório, eu me lembrei de como era antes de cada final de semana que eu voltava para casa depois de finalmente ter voltado a faculdade.

Me encontrei pensando sobre a época em que descobri que Brock estava noivo de Kristen. Como eu estava evitando saber notícias dele, eu normalmente conseguia sair de perto da minha família sempre que começavam a falar sobre ele. Essa época eu não era tão bem-sucedida assim.

Eu tinha tomado a decisão certa em abandonar a faculdade. Depois de quase morrer, e isso não era exagero. Eu realmente quase morri, realmente morta, mortinha. Eu tinha as cicatrizes para provar isso. Eu não conseguia me convencer a desperdiçar horas sentada em uma sala de aula e estudar, aprender sobre coisas que eu nunca usaria durante minha vida. Relembrando tudo agora, se tirar a intensidade de tudo, eu sabia que não foi a necessidade de viver que me afastou das aulas.

Eu estava deprimida.

E era algo comum. Descobri mais tarde que, depois de um evento traumático, pessoas ficavam deprimidas e, às vezes, mesmo depois de anos do evento. Eu tinha ficado inquieta, sem vontade nenhuma de ir as aulas, de ficar perto de pessoas e de, até mesmo, sem conseguir ler por um bom tempo. Nada me interessava.

Eu tinha largado a faculdade, voltado para casa, uma volta meio estranha já que eu sabia que meus pais me queriam ali, mas não sob essas circunstâncias.

Minha mãe tinha me chamado de lado um dia, depois do jantar, para me dizer que Brock havia pedido a mão de Kristen e que ela tinha aceitado. Isso foi dois anos depois daquela noite.

Dois anos e... Brock estava no Pay-Per-View. Ele estava noivo da menina que ele havia flertado naquela noite, e finalmente tinha caído a ficha de que não havia nada de que Brock tivesse que se recuperar, porque ele não tinha

esses sentimentos por mim. Nada. Ele tinha seguido seu caminho porque não havia nada o segurando.

Sua vida estava explodindo de todos os melhores jeitos possíveis enquanto a minha... a minha tinha implodido e tudo que sempre quis - um diploma, trabalhar para minha família, viajar, ser feliz e me apaixonar - parecia que estava fora do meu alcance.

Então eu fiquei em casa por seis semanas, encontrei um trabalho em um escritório de seguros e me mudei de volta a Martinsburg.

E agora eu estava começando a querer essas coisas de volta. Eu estava feliz. Eu estava trabalhando para minha família e eu... inalando profundamente, olhei para Grady.

Nós paramos perto do meu carro, um de frente para o outro.

Ele não era baixinho.

Grady era, pelo menos, dez centímetros mais alto que eu, então eu conseguia usar saltos de tamanho normal, mas yeah, ele era mais baixo se comparado com Brock. Ele devia ter 1,75m. Claro que não era do tamanho do Godzilla mas...

Oh meu Deus, eu não ia ficar pensando sobre ele enquanto estava em um encontro com Grady.

"Então, eu estava pensando," Grady disse, e o centro de suas bochechas ficaram rosadas. Fofo. "Se você quer sair para jantar algum dia essa semana?"

Eu comecei a sorrir, mas abaixei um pouco meu queixo. "Isso... isso seria bom."

"Então isso é um sim?"

Eu concordei.

"Fico feliz que tenha dito sim." Ele apertou minha mão. "Eu estava preparado para implorar por um segundo encontro."

Outro encontro? Isso soava... muito bom. "Não precisa implorar."

"Bem... está ficando tarde," ele disse, seu olhar encontrando o meu.

"Está."

Ele deu um passo para frente e sua mão se afastou da minha, subindo até meu cotovelo. Ele exalou tremendo. Grady inclinou sua cabeça para o lado, alinhando sua boca com a minha e eu sabia que ele iria me beijar.

Ele realmente ia fazer isso!

Tinha se passado tanto tempo desde que fui beijada, até mesmo estar nessa posição de ser beijada, e agora iria acontecer. Seus cílios claros abaixaram. Seus olhos estavam fechados. Sua boca estava vindo de encontro com a minha.

Grady se inclinou, abaixando sua cabeça mais um pouco, e eu fechei meus olhos.

No último segundo, sem pensar, eu virei minha cabeça e os lábios de Grady encontraram minha bochecha. Calor me atingiu, uma mistura de vergonha e desapontamento. Por que eu tinha feito isso? Ele queria me beijar. Eu queria que ele me beijasse.

Não queria?

Sim, eu disse a mim mesma enquanto abria meus olhos e encontrava os seus, me questionando. Eu fiquei envergonhada. Me forcei a dar um sorriso, um que parecia mais uma careta. "Eu realmente me diverti hoje."

"Mesmo?" ele perguntou.

Eu concordei. "Mesmo."

Seu olhar procurou pelo meu e, então, ele sorriu inocentemente e carinhosamente. "Então, jantar na semana que vem? Quarta?"

"Quarta," confirmei.

Dessa vez quando Grady se inclinou, eu não me afastei, mas porque ele só me deu um abraço. Eu retribui, dizendo a mim mesma que se ele tentasse me beijar de novo, eu não iria recusar.

Eu não iria.

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