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Capítulo Quinze
Uma semana se transformou em duas, Halloween chegou e passou, enquanto novembro se aproximava. O ar ficou mais frio com o passar de cada dia e o homem do tempo do canal de notícias local avisou que seria o inverno mais rígido dos últimos anos, com metros de neve. Metros. Não centímetros.
E eu ainda não tinha montado as estantes dos livros.
Eu não tive notícias de Grady exceto por uma mensagem ocasional para saber como eu estava, a qual eu sempre respondi. Ele não mencionou o jantar e minha suspeita anterior foi confirmada.
Ao pensar sobre Grady, eu desejava que... que eu estivesse triste, porque pelo menos assim eu sabia que tinha sentido algo por alguém além de um interesse passageiro. Acho que não era para ser, porque eu não passava tempo sonhando, desejando que ele cumprisse a promessa do jantar.
Só que eu estava passando um bom tempo com Brock e as coisas... as coisas estavam okay. Trabalhávamos bem juntos, indo em reuniões. Não houve mais jantares ou aparições aleatórias em meu apartamento, mas cada dia ele ou aparecia com café, almoço ou sobremesa e, às vezes, as três coisas em um dia só.
Eu comecei a imaginar se ele estava tentando me engordar.
Não que ele precisasse tentar. Eu fazia isso por mim mesma.
Mas era gentil da parte dele, e eu acho que talvez esse fosse seu jeito de compensar o que aconteceu no nosso passado ou dele tentar compensar o tempo perdido, porque ele costumava fazer coisas assim anos atrás. Não tão frequentemente, mas ele vinha na casa dos meus pais quando eu chegava da escola, carregando uma fatia de torta ou bolo da padaria que ficava na esquina da Lima Academy. Em vez de entregar café no escritório, ele vinha com smothies e milkshake no meu quarto.
As coisas meio que eram como antes, mas não completamente.
Block flertava como antes, o que significava que ele tinha essa incrível habilidade de transformar quase todo comentário em algo sexy. E isso totalmente pode ser coisa da minha interpretação, porque sério, eu vivia atualmente em uma seca de anos, então haviam momentos onde eu conseguia transformar tudo em insinuações sexuais. Sério, eu podia estar assistindo The Walking Dead e do nada me focar nos bíceps do Daryl ou nos olhos azuis claros do Rick por tempo demais.
Mas a diferença era que eu me continha em me deixar levar pelo jeito que eu achava que ele me olhava. Eu não pensava sobre como parecia que sua mão esbarrava na minha sempre que andávamos juntos para sala de reuniões. Eu me recusava a prestar atenção em como seus dedos passavam pelos meus e ficavam lá quando ele me entregava café ou qualquer coisa que ele me trouxe. E esses momentos eram frequentes.
O que eu odiava sobre esses momentos era o fato que um simples toque dele podia desencadear uma reação arrebatadora em mim. Meu corpo instantaneamente percebia e corava. Uma dor pesada enchia meus seios e, eu ficava querendo... querendo muito mais, porque algo dentro de mim estava abrindo e acordando, crescendo e procurando.
Não preciso falar que a velha e confiável "varinha mágica" estava trabalhando demais.
Várias vezes durante as últimas semanas, eu descobri que sempre que começava a dormir ou tinha muitos pesadelos, ou ficava inquieta demais para conseguir dormir. Eu começava a pensar como certos braços ficavam ao meu redor, o quão forte eles eram e o quão duro seu peito era sob minha bochecha, e esses pensamentos davam lugar a fantasias.
Fantasias que eu tentava deixar sem rosto. Fantasias onde eu imaginava que meus dedos ou o brinquedo que estava usando eram uma mão ou uma boca. Fantasias onde eu me imaginava contra uma parede, de costas, ou com minha
barriga sobre a cama, talvez inclinada sobre algo, segurando a beira do balcão... ou uma mesa polida.
Eu desistia, deslizando uma mão por debaixo das cobertas. Eu tentava manter minha mente vazia quando os espasmos começavam e essa corda invisível dentro de mim iria se contrair, mas sempre falhava. Logo antes de gozar, assim que a corda se partisse, contraindo os músculos da minha perna, eu veria olhos castanho escuros e lábios cheios.
Eu gozaria vendo o rosto de Brock.
E cada vez depois disso, com meu coração voltando ao normal, eu queria bater em mim mesma. Fantasiar com ele enquanto eu fazia aquilo parecia errado.
Mas mesmo assim era muito bom.
Mesmo que eu não quisesse admitir, sempre era muito melhor.
Na quarta antes que Avery e o pessoal viessem a academia, eu descobri depois de uma rápida ligação, que ela e os meninos queriam ir em um novo bar em Shepherdstown que também servia jantar, e é claro que eu fiquei nervosa sobre isso.
Eu tentei esconder, porque eu era estúpida.
Por mais bobo que fosse, eu não tinha entrado em um bar desde aquela noite a anos atrás, e sabendo que essa seria minha primeira vez que pisaria em um, me deixava ansiosa sobre como minha última visita a um tinha terminado. Sentada em meu escritório, eu me vi de volta naquela noite.
Katie segurou meu olhar por um momento e, então, descruzou seus braços nus por debaixo de seus peitos. Ela pegou sua bebida e veio até onde eu estava sentada. "Como que você está nesse bar? Você tem, tipo, dezoito."
"Vinte," eu a corrigi com um suspiro. Eu parecia ter dezesseis em um dia bom, mas hoje à noite... hoje eu achava que aparentava ter a minha idade. “Na verdade, tenho vinte anos." "Ainda assim não tem a idade permitida para beber." Os brilhos e lantejoulas se moveram enquanto ela bebia seu shot duplo de uma vez. "Se Jax ou Calla te virem aqui, eles vão surtar."
Calla não estava no bar hoje. Pelo menos eu não a tinha visto, e Jax não parecia ter me notado ainda. O que não era exatamente surpresa. Eu estava tentando me enturmar.
A porta abriu e algum cara entrou, gritando o nome de Brock. Eu fiquei tensa e depois tentei não ligar quando Brock se afastou do bar. "Hey!" ele gritou em resposta. "Onde você esteve, cara?"
"Yeah." Katie balançou sua cabeça. "Tem certeza que não quer que eu te acompanhe para fora agora?"
Eu concordei, sem confiar em mim mesma para falar nesse momento, porque havia uma boa chance que eu pudesse começar a soltar palavrões para tudo e para todos.
Katie andou para onde eu estava sentada. Seu perfume frutado me lembrava dos drinks que minha mãe bebia sempre que íamos a praia. Ela beijou minha bochecha. "Essa noite não vai ser diferente, Jilly. Eu conheço essas coisas." Se endireitando, ela bateu com seu dedo na lateral da sua cabeça. "É um dom, mas nesse momento, é uma maldição. Ele ainda te vê do mesmo jeito que te viu quando te levou ao baile. E isso não vai mudar hoje. Você deveria ir para casa."
Eu inalei profundamente. Isso doía - realmente doía, machucando meu peito profundamente, até os ossos.
Então Katie foi embora, e eu fiquei sentada naquele banco por um tempo, sem me mover e mal conseguindo respirar enquanto assistia Brock. Eu mal tive a chance de falar com ele desde que cheguei aqui. Ele tinha me visto.
Ele tinha parecido surpreso quando me viu, e tinha realmente me visto olhando de cima a baixo. Brock tinha me abraçado e, então, disse que iríamos embora logo. Então Colt e Reece apareceram, e eu fui me sentar em uma mesa antes que eles se lembrassem que eu não tinha vinte e um.
Pegando minha bolsa da mesa, eu a abri e peguei meu celular. Eu vi que já eram quase nove horas. Oh Deus. Será que ainda conseguiríamos ir até o restaurante? Eu não sabia que horas ele fechava. Meu olhar vagou enquanto a ansiedade fazia um furo no meu estômago. Eu não tinha ideia de quanto tempo fiquei sentada ali, mas quando olhei as horas novamente, já era mais de nove horas.
Isso não estava acontecendo.
Essa noite era para ser diferente - especial.
Eu não podia deixar isso acontecer.
Juntando todo pingo de coragem que eu tinha dentro de mim, eu saí do banquinho e andei para frente. No último minuto, eu fui para a esquerda antes que perceber o que estava fazendo. Eu estava entrando no banheiro feminino.
Oh Deus, eu era uma fracote.
Uma vez dentro do banheiro meticulosamente limpo, eu procurei pelo meu batom vermelho na bolsa. Eu o reapliquei com minha mão tremendo enquanto conversava comigo mesma. Eu sairia do banheiro e andaria diretamente até Brock. Não era como se eu estivesse o interrompendo. Eu iria perguntar se iríamos sair logo, e ele iria perceber o tempo e o quanto estive esperando. Iríamos sair e essa noite - essa noite voltaria aos trilhos.
Eu peguei o pequeno frasco de perfume, borrifei em mim mesma e sorri para meu reflexo. Minha franja tinha voltado a cair sobre minha testa. Que saco. Nada que eu pudesse fazer sobre isso.
Colocando a tira da bolsa sobre meu ombro, eu andei de volta ao bar. Passei por um grupo de meninas e por sorte, Kristen não estava acoplada ao lado dele quando cheguei. Ela ainda estava ali, apesar da sua cabeça estar inclinada sobre o ouvido de outra menina. Elas estavam sussurrando e rindo sobre algo. Reece me viu primeiro. Suas sobrancelhas levantando e meu coração acelerando. Eu toquei o braço de Brock.
Ele virou de lado e olhou para baixo. Ele tinha mais de um metro e noventa, e eu mal chegava ao um e sessenta. Ele era um gigante e eu mal alcançava seu peito. "Jillybean," ele disse profundamente. "Onde você esteve esse tempo todo?"
"Hum, estava falando com a Katie," eu disse. "E ela teve de voltar ao trabalho."
Ele sorriu enquanto se movia e pegava sua cerveja do balcão do bar. "Ela nem veio dizer oi para mim."
"Bem..."
Brock colocou seu braço em volta do meu ombro e me puxou para seu lado. Seu cheiro era ótimo. Fresco e amadeirado, algo que me lembrava a natureza. Meu corpo todo tremeu. "Eu estava procurando por você, na verdade. Pensei que tinha fugido sem mim."
"Não." Eu não conseguia esconder o sorriso em meu rosto.
"Bom ouvir isso." Ele apertou meu ombro. "Isso teria machucado meus sentimentos."
Colton se virou e ele tinha aquele olhar em seu rosto, aquele que dizia que era um policial fora do expediente. "Hey, Jillian."
"Oi," disse, porque a mão de Brock estava se movendo em meu braço. Bem, não era sua mão toda. Era só seu dedão. Ele estava traçando círculos sobre minha pele.
e um." Ele levantou sua garrafa. "Não sabia que você já tinha completado vinte
"Hum," disse.
Nesse exato momento, Jax apareceu atrás do bar. Seus olhos arregalaram quando ele me viu ao lado de Brock. "Hey," ele disse cruzando seus braços. "Você sabe que eu te amo de paixão menina, mas você não pode estar aqui. Menores de idade só são permitidos nas quartas a noite... graças a Deus." ele disse suspirando. "Quando você chegou?"
Eu suspirei também. Considerando que estive aqui por duas horas, era meio que vergonhoso o quão fácil eu passava despercebida. Eu provavelmente poderia fazer um strip-tease e ninguém perceberia.
"Ah inferno." Brock tirou seu braço do meu ombro e colocou sua cerveja sobre o bar. "Nem lembrei disso."
Meu rosto estava queimando enquanto ele me olhava. "Tudo bem. Nós... nós estávamos de saída mesmo, certo?"
Brock franziu o cenho. "O quê? Merda! Que horas são?"
"Hum." Eu comecei a pegar meu celular, mas ele já tinha pegado o seu do bolso.
"Aqui," uma voz suave interrompeu, e eu olhei para cima. Era Kristen. Ela estava segurando dois copinhos de shot. "Tome um comigo, Brock."
Brock olhou para mim, ainda segurando seu celular.
"Vamos lá," ela disse, e eu enrijeci enquanto meus dedos envolviam a tira da bolsa. "Você prometeu."
"Prometi." Ele olhou para o copo, mas não bebeu. Seus olhos estavam tão escuros, quase pretos, quando encontraram os meus. "Merda, Jillybean. Me desculpe. Eu não sabia que tinha ficado tão tarde."
Totalmente consciente que Kristen estava esperando, tipo, exatamente do nosso lado, eu disse. "Tudo bem."
Seu olhar passou pelo meu e um arrepio percorrei minha coluna. Ele estava olhando para Kristen. "O que você vai fazer amanhã à tarde?"
Amanhã à tarde? Eu pisquei devagar. Eu estava planejando voltar para Shepherd, e ele iria sair com meu pai e o Lima Team. Então por que estava...?
"Que tal pegarmos algo para comer amanhã? Yeah." O sorriso de Brock podia parar quarteirões. Ele não teria tempo.
"Nós podemos pegar algo para jantar então," ele continuou, levantando o copo com um sorriso fácil. "Passar um pouco de tempo juntos."
Meu corpo corou quando a verdade apareceu. Ele estava me esnobando. Ele estava me esnobando pelos seus amigos e pela Kristen, e não haveria um jantar amanhã à noite, porque ele não estaria aqui. Ele iria viajar com meu pai e ele gostava de chegar ao aeroporto cedo.
"Jillian," Jax disse, franzindo o cenho.
Corando até ficar da cor do meu batom, meu olhar vagou rápido pelo grupo. Reece estava olhando para longe - para sua namorada de longa data Roxy, que estava na outra ponta do bar. Colton estava estudando seus sapatos. O cara que eu não conhecia estava sorrindo para o grupo de meninas, totalmente alheio a tudo, exceto elas. E Kristen... Kristen estava olhando para mim do jeito que toda menina olha para aquela outra menina, aquela que não tem ideia - aquela que te deixa com vergonha alheia.
Oh Deus.
"Yeah. Hum, tudo bem." Eu me afastei, piscando para afastar as lágrimas também. Isso era humilhante. Eu precisava ir embora. Eu precisava ir embora agora. "Pode ser amanhã," eu disse, sabendo que amanhã nunca iria acontecer.
Essa noite não foi diferente de nenhuma das outras, e eu tinha sido tão estúpida por acreditar.
"Jillybean." Ele se virou para colocar a dose sobre o bar. Sua boca estava em uma linha fina. "Hey, me deixe te acompanhar para fora."
Eu sorri, continuando sorrindo mesmo quando seu rosto começou a embaçar. "Não. Não precisa. Tudo bem. Eu preciso ir mesmo."
Brock começou a franzir o cenho enquanto seus olhos se estreitavam. "Jillian..."
"Tchau!" Eu disse, acenando rápido para Colton e Reece. "Vejo vocês depois."
Eles podem ter dito tchau ou podem não ter dito nada. Eu não sei. Sangue fervia em minhas orelhas e eu não conseguia ouvir nada enquanto saia rápido do bar, evitando a multidão que falava e ria. Minhas mãos tremiam enquanto eu empurrava a porta aberta e corria para o ar da noite.
Uma leve batida na porta me tirou da memória. Me sentindo abalada e enjoada, tendo presenciado esse desapontamento como se tivesse acontecido a segundos atrás em vez de anos, eu olhei para cima e vi Brock parado ali, como se tivesse surgido das memórias do passado.
Por que ele tinha que estar aqui agora? Por que? Porque vê-lo agora era tão ruim quanto vê-lo depois de pensar nele enquanto me masturbava. Dolorosamente embaraçoso.
Ele olhou para mim e sua expressão se encheu de preocupação. "Hey, está bem?"
"Sim." Engoli o nó na minha garganta enquanto o assistia entrar no meu escritório. "Eu estava..." Me interrompendo, eu não tinha uma boa desculpa para explicar porque estava sentada aqui parecendo com alguém que tinha
chutado o próprio gato na frente de um carro. Levantando a mão, eu coloquei meu cabelo para trás. "Você não ficou parado muito tempo aí, né?"
"Tempo suficiente."
Fiquei tensa.
O olhar de Brock passou pelo meu rosto, sem deixar nada para trás. Ele não disse nada enquanto andava para frente e se sentava na cadeira do outro lado da minha mesa. Vários segundos se passaram então ele disse. "Às vezes você tem essa expressão. Como se estivesse a quilômetros de distância. Como se estivesse em outro lugar. E eu acho que sei onde."
Oh Deus.
Meus olhos arregalaram.
"E eu vi essa expressão antes," ele continuou, seu olhar nunca saindo do meu. Seus ombros ficaram tensos. "Porque eu... eu coloquei essa expressão em seu rosto antes."
Inalando, eu me afastei um pouco da mesa. Segurei os braços da cadeira. "Eu não estava pensando sobre isso. Nem um pouco. Só estava perdida em meus pensamentos. Sério."
Suas sobrancelhas levantaram em surpresa, e ele me encarou como se eu tivesse acabado de admitir que era a Batgirl ou coisa do tipo. "Você... você nunca para de me surpreender."
Eu ri nervosamente. "Não tenho certeza se isso é uma boa coisa."
Balançando sua cabeça como se estivesse preso em uma bolha de surpresas, ele se inclinou para frente, pressionando suas mãos juntas. "Você me protege."
"O quê?"
"Você me protegia antes," ele disse, sua voz estranhamente rouca. "E você ainda faz isso agora, não? Você não quer que eu pense sobre aquela noite, porque não quer que eu fique chateado."
Meu Deus, eu era assim tão fácil de se ler?
"Mesmo que eu saiba que ainda mexe com você. Ainda mexe comigo. Sempre mexe comigo, mas foi você que se machucou. Eu fui aquele que ferrou com tudo e você, ainda assim, tenta me proteger."
Eu iria quebrar os braços da cadeira.
"E eu não mereço isso," ele disse, um musculo flexionando em seu maxilar. "Tenho certeza que não merecia isso naquela época, como não mereço agora."
Fechando meus olhos, eu lutei para conseguir respirar. "Brock..."
"Mas eu vou mudar isso," ele prometeu, e meus olhos voaram para se abrir. "Um dia, um dia logo, eu vou mudar isso."