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Capítulo Vinte e Seis

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Brock e Jillian

Brock e Jillian

Bem, pelo menos agora eu sabia qual era o status do relacionamento com Brock, porém eu queria que ele não tivesse jogado a bomba assim. Eu preferia que tivesse sido em particular, para que eu pudesse fazer uma dancinha de comemoração. E eu queria que não tivesse sido na frente dos meus pais, porque as coisas ficaram meio estranhas depois disso.

Meu pai ficou todo cheio de si e deu uns tapinhas nas costas de Brock, como se estar comigo fosse algum tipo de prêmio depois de uma luta complicada. Então ele cruzou seus braços e balançou a cabeça, como se sempre soubesse que isso iria terminar assim.

E minha mãe... Bom Deus, ela parecia estar prestes a chorar, e não só algumas lágrimas. Claro que não. Ela parecia que estava prestes a soluçar como se, do nada, Brock tivesse descoberto a fonte da juventude e estivesse prestes a ensinar o caminho a ela.

Mas falando a verdade, eu estava... eu estava satisfeita por eles estarem felizes, e eles realmente estavam. Eu tive de olhar para longe, me focar no novo quadro do corredor, uma paisagem de uma praia com areia dourada e um céu escuro, que retratava os tons azuis e rosas, para que ninguém visse meus olhos marejados.

Especialmente quando Brock colocou seu braço sobre meu ombro e me puxou para seu lado enquanto minha mãe continuou a falar o quão feliz ela estava. Era um grande momento para ela. Nós estávamos aqui para o Dia de Ação de Graças e amanhã seria o primeiro jantar em família depois de um bom tempo.

E... realmente seria.

Brock se inclinou e sussurrou em meu ouvido esquerdo. "Você está bem?"

Eu concordei e olhei para a caixa de viagem do gato. Rhage estava fazendo barulho e arranhando sua caixa enquanto minha mãe encarava Brock com seus olhos sonhadores, provavelmente já planejando o convite de casamento enquanto sapatinhos de bebê dançavam em sua cabeça.

Rhage se afastou do meu dedo e eu suspirei. "Vou levar Rhage lá para cima, ele está ficando..."

A porta de frente se abriu e um bando de pessoas entraram, literalmente um mar de mini humanos. Eu pisquei, perdendo a conta quando vi a sexta criança de cabelo escuro, e eu sabia que era o tio Julio, porque ele podia completar um time inteiro de baseball com seus próprios filhos.

Me endireitei antes que fosse derrubada pela onda de crianças. Brock se moveu mais para perto e seus braços estavam em volta de mim de novo.

A esposa de Julio entrou, carregando o filho mais novo no colo e, milagrosamente, ela não parecia estar grávida. "Eu te disse que Brock estava aqui," Heather gritou sobre seu ombro. "Era seu carro na frente."

"Eu sei que é o carro dele," meu tio gritou de volta.

"E Jilly está com ele!" Heather parou, seu olhar se movendo do meu rosto, para sua mão, até o braço que estava em meu ombro. "E Brock está com seu braço em volta dela!"

Minhas sobrancelhas arregalaram.

Brock riu baixo.

Do meu lado, minha mãe quase pulou de felicidade em explicar. "Oh, Heather, querida, Brock e minha menininha estão juntos."

"O quê?" Julio gritou. "Mulher, eles não..." Sua voz falhou e eu ouvi um gritinho agudo.

"Juntos?" Heather inclinou sua cabeça para o lado e a criança pequena, menino ou menina, eu não sabia, puxou seu cabelo loiro longo.

"Nós estamos saindo," Brock explicou enquanto eu ficava parada ali como uma idiota.

Minha mãe soltou um gritinho que pareceu o Jairo dos Muppets, e Heather estava toda animada. "Brock e Jilly estão saindo!"

"Oh meu Deus," murmurei.

Brock apertou meu ombro.

Um segundo depois, acho que o último filho deles veio correndo pela porta aberta. Era Hannah - eu acho - e veio direto para a caixa de Rhage, olhando enquanto se sentava no chão, esticando seus dedos na direção da caixa.

"Eu não faria isso..." eu me movi para a criança.

"Não solte o maldito gato," Julio disse, e meu olhar voou para a porta aberta. "Você se lembra do que aconteceu da última vez, Hannah-Banana. Quase comeu seu dedo e o gato fugiu. Levou metade de um dia para gente pegar ele de volta."

"Isso é exagero," eu comentei.

Julio parecia exatamente igual à última vez que eu o tinha visto - uma versão mais nova do meu pai. Ainda sem cabelo branco ou rugas no canto dos olhos. Ele era um pouco mais alto, alguns centímetros mais alto que eu, e ele estava vestido como sempre, com calça de treino preta e a camiseta da Lima. Era isso. Estava frio lá fora e ventando bastante, e isso era tudo que ele estava vestindo.

"Olhe para vocês dois," Meu tio sorriu enquanto entrava, conseguindo passar pelas crianças enquanto elas pareciam estar escalando qualquer coisa os móveis, minha mãe e meu pai, as paredes. Julio parou na frente de Brock e deu um tapinha em seu peito. "Dê o nome do seu primeiro filho em minha homenagem."

"Oh meu Deus," eu disse de novo.

"Tenho certeza que eles vão dar meu nome ao primeiro filho," meu pai disse, sorrindo enquanto seus olhos escuros brilhavam.

"Mas e se for menina?" Minha mãe perguntou, séria, enquanto Heather andava para frente, dando um abraço em Brock com um braço só. A criança em seu colo acabou agarrando meu cabelo e levou quatro segundos para soltar.

"Podemos não falar sobre ter bebês?" perguntei, soltando a última mecha da mãozinha assassina da criança. "Nós não chegamos nessa parte ainda."

"Eu quero filhos," Brock anunciou, olhando para mim, e fiquei sem ar. "Talvez não um time de futebol inteiro como vocês."

"Mas você vai se divertir fazendo um time de futebol." Julio sorriu.

Heather virou sua cabeça para mim. "Mas você não vai se divertir parindo um time de futebol."

"Okay," disse, me afastando de Brock. Meu rosto estava pegando fogo. "Eu preciso ir..."

A criança perto da caixa caiu para trás e Rhage voou dela, uma mancha de pelo marrom e branco. Suas garras rasparam pelo chão de madeira enquanto ele corria pela sala. Minha mãe gritou. As crianças gemeram e fugiram.

"Merda," disse, exalando pesadamente enquanto algo na sala caia no chão. "De novo não."

Meu pai riu enquanto andava até meu lado e me dava um beijo na testa. "Bem-vinda em casa, Jilly."

Mais tarde, depois de Brock ter pegado a porcaria do gato que estava escondido em um mato na estufa e o trazido para meu quarto, eu me sentei no canto da minha antiga cama e esperei por Brock. Ele estava em seu velho quarto, se arrumando para a noite.

Nós tínhamos jantado cedo e Julio e Heather saíram com as crianças. Eles voltariam amanhã com todo mundo, e eu tinha certeza que isso seria interessante. Ou esmagador. Eu e Brock planejávamos falar sobre a conversão do espaço da academia na quinta ou na sexta.

Tomei banho e enrolei meu cabelo, para que ele caísse em ondas soltas pelas minhas costas. Eu não dividi ele como sempre, deixando ele dividir sozinho no meio.

Eu estava usando um suéter fino de gola V vermelho profundo, porque eu sabia que estaria quente no Mona's, e jeans escuros enfiados dentro da mesma bota que eu estava usando quando vi Brock pela primeira vez em Martinsburg.

Me arrumar tinha me lembrado daquela noite a não muito tempo atrás, mas enquanto me sentava na cama estreita que mal cabiam duas pessoas e olhava o resto do quarto, eu não conseguia evitar pensar sobre como havia mudado tanto desde aquele dia – o quanto eu havia mudado.

Às vezes parecia que eu ainda era a mesma menina que se arrumava em um sábado à noite, cheia de esperanças juvenis e, às vezes, eu nem mesmo a reconhecia.

Enquanto meu olhar passava pelas centenas de livros em minha estante, eu não sentia como se quisesse ficar longe desse quarto. Não havia dor em meu estômago nem em meu peito. Havia lembranças, mas elas não me assombravam.

Um lado dos meus lábios se curvou para cima enquanto eu pensava sobre hoje à noite. Minha barriga revirou. Eu estava nervosa, mas de... de um jeito bom. Eu sairia hoje à noite.

Eu iria ao Mona's.

Eu veria meus amigos.

Isso era ansiedade.

Uma batida soou na porta, me tirando dos meus pensamentos. "Entre."

A porta se abriu e Brock colocou sua cabeça para dentro. "É seguro ou Rhage vai sair correndo?"

Eu olhei para a porta aberta. "Ele está se escondendo no armário. Apenas feche a porta caso ele decida fugir de novo."

Brock entrou, rapidamente fechando a porta. Enquanto eu o olhava, a vibração na minha barriga aumentou, até que parecia ter um grupo de beijaflores nela.

Ele tinha tirado a barba.

Seu maxilar estava nu, a linha dura e rígida estava totalmente á mostra. Assim como a leve cicatriz em seu lábio. Eu queria tocá-la – beijá-la. Ele usava uma camiseta preta da Henley e jeans, de alguma forma parecendo que ele pertencia ao seu próprio mundo. Ele usava essas roupas. Elas não o usavam, e ele estava incrível.

"Realmente adorei essa blusa," ele disse, e eu pisquei, levando meu olhar ao dele. Ele esteve me olhando enquanto eu fazia a mesma coisa com ele. Ele andou até onde eu estava, seus dedos passando pela gola do meu suéter, sobre o inchaço dos meus seios. "Eu realmente amo essa blusa."

"Pervertido," murmurei enquanto me levantava e dava um beijo em sua bochecha. "Você se barbeou."

"Sim, achei que estava na hora. Gostou?"

"Gosto dos dois jeitos." Mordendo meu lábio, eu passei minha mão sobre seu maxilar. A pele estava extremamente suave.

Brock abaixou sua cabeça e minha mão foi parar na base de seu pescoço. O beijo era doce e parecia totalmente diferente agora que não tinha a barba. "Tem certeza sobre esta noite?"

Um pequeno sorriso apareceu em meus lábios enquanto eu colocava minha bochecha sobre seu ombro e inalava profundamente.

"Quero dizer, podemos ficar aqui." Uma mão passou sobre a parte baixa das minhas costas até a curva da minha bunda. "Esperar até seus pais irem dormir, então posso me esgueirar para seu quarto como se fôssemos adolescentes. Ter você só para mim."

Eu ri. "Tenho certeza. Eu quero ir." Olhei para cima, procurando seu rosto enquanto uma semente de dúvida começava a crescer. Talvez ele não quisesse ir... ir comigo. "Você quer ir com..."

"Babe." A mão em minha bunda apertou mais. "Se você está prestes a perguntar se eu quero ir com você, eu posso querer te jogar sobre meu joelho."

Levantei uma sobrancelha. "Eu quero ver você tentar."

"Aposto que você realmente gostaria disso."

Talvez, mas esse não era o ponto. Inalei profundamente. "Se você quer ir e eu também, então o que estamos esperando?"

Seu sorriso foi lento. "Então, vamos lá."

Meu estômago estava agitado enquanto eu saía do carro, a minha bolsa fofa da Coach pendendo em meu pulso. O estacionamento estava cheio. O que não era surpresa, já que era uma noite antes da Ação de Graças e muitos estavam de folga, o que significava que muitos iriam passar a Ação de Graças de ressaca.

Mas eu não estava pensando em beber ou passar o dia seguinte com uma dor de cabeça absurda. Inalando profundamente, eu andei para frente e sem querer, sem nem mesmo tentar, eu me encontrei encarando o outro lado do estacionamento, onde ficavam as lixeiras e onde normalmente os funcionários estacionavam. Não era muito bem iluminado ali.

Foi onde estacionei da última vez que estive aqui.

Vento gelado passou pelo lugar, levantando mechas do meu cabelo e o jogando pelo meu rosto.

Gelo entrou em minhas veias e meu estômago revirou como se fosse um ninho de cobras. Eu queria olhar para longe. Eu queria entrar direto no bar, sem ser afetada por estar aqui, mas não conseguia.

"Jillian?"

Me virei para esquerda, sem perceber que Brock tinha se juntado a mim, na frente do seu carro. "Me desculpe."

"Tudo bem." A luz amarela do poste iluminava seu rosto. Sua expressão estava preocupada enquanto me olhava, pegando minha mão na sua. "No que está pensando?"

Minha boca ficou seca. A porta do Mona's abriu e dava para ouvir risada.

"Estou pensando sobre aquela noite." Brock apertou minha mão enquanto a puxava para seu peito. "Eu acho que faz sentido. Está tudo bem se estiver para você."

Eu passei minha língua sobre meus lábios e concordei devagar. "Eu nunca... nunca passei de carro por aqui de novo. Eu nem mesmo vim aqui perto. Eu só..."

Brock passou seu outro braço pela base do meu pescoço, me puxando para perto. Por alguns minutos, nós ficamos ali em silêncio e ele disse. "Sabe, eu não estive no lugar que cresci desde que... porra, eu tinha acabado de completar vinte anos?"

Fiquei surpresa. "Não esteve?"

Ele balançou sua cabeça. "Não desde aquela época."

Tudo que eu consegui fazer foi encarar. Brock raramente falava sobre seu passado. Sempre foi desse jeito. "Eu pensei que você tinha voltado."

"Fiz isso uma vez só. Vi meu pai." Ele exalou. "Ele ainda estava bebendo e ainda queria nada além de falar com seus punhos."

"Você nunca me disse que viu seu pai."

Ele levantou um ombro, dando de ombros de leve. "Não havia nada a dizer. O homem mal se importava comigo, parado na frente dele e vivo. Tudo que ele viu foi que eu estava usando roupas boas e dirigindo um bom carro. Ele me viu e viu sua próxima garrafa de whisky."

Fiquei triste. "E sua mãe?"

Ele balançou sua cabeça de novo. "Ela não estava lá, mas isso não é novidade. Ela mal ficava lá."

Seus pais eram realmente os piores. Seu pai era um bêbado que nunca conseguiu se manter em um trabalho. Ele ficava fora, voltava para casa, e mesmo que Brock quase nunca admitisse, eu sabia que seu pai o usava como saco de pancadas.

Assim como o pai dele tinha usado sua mãe.

E era por isso que sua mãe mal ficava lá, mas quem poderia ir embora sabendo o que estava acontecendo com seu filho? Eu nunca entendi. Nunca iria.

"Eu não dirijo por aquela rua. Não entro naquele bairro." Ele segurou minhas bochechas, passando seu dedão pelo maxilar machucado. "Eu entendo porque você não passa por aqui e porque é um grande feito para você."

Meu olhar se afastou do dele, indo para o estacionamento. "Eu... eu estou bem. Só - não sei, eu quase morri aqui." Exalei enquanto tentava entender como me sentia, mas não havia nada no fundo. "Eu acho... não sei. Pensei que voltar aqui seria como acordar, um momento de epifania, mas meio que me sinto entorpecida."

"De qualquer jeito que você se sentir, seja nada, raiva ou tristeza, está tudo bem."

Eu concordei enquanto voltava a olhar para ele. "Você ainda quer vêlos de novo - seus pais?" Perguntei enquanto um vento gelado me fazia tremer.

"Sabe, eu nem me sinto mal em dizer isso, mas não. Não quero." Ele se virou, para que suas costas me protegessem do vento. "A única coisa que aquelas pessoas me ensinaram foi como sobreviver, e nem nisso eles foram bons."

"Mas você sobreviveu," eu apontei.

"Por sorte," ele disse, o canto de seus lábios se curvando para cima.

Balancei minha cabeça. "Não, não é sorte. Você... você tem fogo dentro de você, Brock. Você tem a determinação para fazer mais do que só sobreviver, fazer algo com sua vida. Ter sucesso e..."

"E você não tem isso?" Seus olhos procuraram os meus. "Depois do que você sobreviveu e onde está hoje?"

Abaixei meu olhar, sem ter certeza de como responder a essa pergunta, porque eu não tinha certeza se eu tinha o mesmo fogo que Brock, já que tinha desistido de tantas coisas enquanto ele tinha lutado tanto.

E eu realmente não queria pensar sobre isso agora. "Vamos entrar antes de todos pensem que demos o cano neles."

Ele estava quieto por um momento. "Podemos ir embora quando você quiser. Apenas me avise e saímos."

"Okay." Pensando que ele merecia um beijo por isso, eu me estiquei e coloquei meus lábios sobre os dele.

Apesar do vento frio, o beijo me esquentou de dentro para fora. Meus lábios se afastaram e o beijo ficou mais profundo, ficando escaldante. Brock beijava como se estivesse bebendo cada parte de mim, tomando grandes e

longos goles. Meu corpo derreteu contra o seu, e eu fui recompensada com um gemido profundo.

"Tem certeza que quer entrar ali?" ele perguntou, pressionando sua testa contra a minha.

Eu soltei uma risadinha. "Sim."

"Então é melhor fazermos isso logo antes que eu mude de ideia e encontre um jeito diferente para passarmos nossa noite." Ele mexeu seu quadril, e meus olhos arregalaram quando o senti contra meu estômago, duro e grosso.

Corando até a raiz do meu cabelo, eu dei um passo para trás, mas ele me manteve por perto enquanto virávamos para a entrada do bar. Com minha mão na dele, entramos juntos no Mona's, pela primeira vez, lado a lado.

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