Monotipia
Um ano, hein? passa rรกpido.
“Sempre quis desen
foto: Sissy Eiko
nhar um elefante�
Monotipia: Vamos começar falando
obrigado a estudar, não na acepção
depois o Loredano, os irmãos Caruso,
sobre sua formação.
comum da palavra, mas todo dia em
então, tem muita gente. A gente poderia
que está estudando, você está
ficar aqui conversando umas oito horas
aprendendo coisa nova, ou
falando de todos caras que me
conversando com uma pessoa, vendo
influenciaram...o próprio Will Eisner,
desenho de outros, vendo fotos,
desde moleque, eu lembro assim de ver
assistindo um filme, está sempre
o Eisner numa banca em Bauru, e
trazendo coisa nova para o seu dia-a-
banca era uma coisa diferente do que é
dia como desenhista. Então acho que
hoje, que a gente eia e tinha uma
minha formação começa quando eu
revista lá e a voltava um mês depois a
começo a desenhar e minhas primeiras
revista continuava lá, acontecia isso de
imagens na cabeça são fazem parte
ter uma revista ali, entendeu? E eu
dessa formação. Vem daí. Se for uma
lembro que tinham umas revistas
formação acadêmica mesmo então é a
grandes do Spirit e eu moleque assim,
formação como designer, mas tem toda
no meio da década de 80, e eu achava
uma história que vem de antes aí.
aquele traço sensacional e meu pai de
Gustavo Duarte: Bom, eu, como todo desenhista, desenho desde que me entendo por gente. Se existe uma formação que eu posso considerar assim é a minha formação como designer gráfico. Sou formado em design pela Universidade Estadual de São Paulo, a UNESP. Me formei em 1999, mas desde antes venho desenhando e colaborando com alguns jornais e revistas. Mas eu considero o começo da minha carreira O Diário de Bauru, que foi o primeiro jornal onde eu trabalhei, em 1997. Eu estava na
vez em quando me dava uma dessas
faculdade já, fazia uns bicos pra um
MT: Quais as influências que você
lado e pro outro, uma coisinha aqui e
maiores e eu ficava lendo e relendo
identifica no seu trabalho?
aquilo e leio até hoje. E quando
GD: Putz, influências... eu estava até
moleque eu não sabia que o cara era
respondendo uma entrevista esses dias
um dos maiores gênios da história do
e falei sobre isso...tem muita gente que
Quadrinho... só isso (risos). Mas eu
me influenciou e me influencia. Em
gostava muito dele, achava o máximo.
momentos distintos e outras desde
E também gostava de Homem-Aranha,
moleque até hoje. Eu não sei, acho que
Batman, de muita coisa, do Maurício,
as mais fortes seriam o Charles Schulz,
mas eu lembro dessa coisa com Will
que foi o cara que, olhei pela primeira
Eisner e tenho até hoje essas revistas
vez, apontei o dedo, olhei pra minha
guardadas em casa. E ele realmente é
mãe e disse: “quero ser isso quando
uma das influências..tenho várias... o
crescer”. Então eu provavelmente uma
próprio Sérgio Aragonés, eu sou um
das grandes influências. O Bill
cara que faz história em quadrinho sem
Watterson, o Laerte, o Henfil, o Ziraldo,
texto e ninguém faz isso melhor que o
quando moleque e eu adorava e até
ele. Eu lembro que a revista MAD, de
hoje acho um dos maiores artistas
uma maneira geral, influenciou não só a
gráficos do Brasil, sempre corri muito
mim como a uma geração grande de
atrás de ver as coisas do Ziraldo e tal,
pessoas da minha idade. E o Aragonés,
ali, mas o diário foi o primeiro trabalho que considero de verdade, até mesmo por estar todo dia publicando, ter uma responsabilidade maior, todas essas coisas... Então, minha formação tem à ver tanto com o diário quanto com a faculdade, mas, como eu falei no começo, eu desenho desde sempre, e qualquer desenhista desenha desde sempre, então acho que minha formação vem daí, de desenhar muito desde moleque, de querer desenhar, sempre tentando aprimorar, sempre tentando aprender, e eu acho que essa é uma diferença...na verdade, toda profissão é assim, mas o desenho muito, você melhora a cada dia, é
talvez junto com o Don Martin, para
caverna que eram bem originais (risos),
ideias, para poder fazer uma charge.
mim eram os dois maiores caras na
de resto, todo mundo tem um
Para uma caricatura, eu pego várias
MAD, não os dois maiores, mas eu
pouquinho do que gosta, e eu acho isso
fotos da pessoa em questão e tento,
gostava muito. O Aragonés é um gênio,
legal.
graficamente, mapear essa pessoa,
ele conseguia fazer com três desenhinhos realmente em 10 minutos uma piada sensacional, histórias, ele é
para transformá-la em personagem ou Beleza... agora diga-nos, como é o seu processo de trabalho?
até mesmo num grafismo. E nos quadrinhos eu tento contar uma história
muito bom. Então, tem um monte de
Não sei... assim, desde que eu comecei
de acordo com a minha maneira de
gente, eu não sei, para falar algumas
a desenhar profissionalmente, sempre
pensar. Mas o princípio é sempre o
são essas aí, mas tem muita gente que
tive a charge, o cartum, a opinião perto
mesmo: querer desenhar e colocar uma
me influenciou e influencia. Vira e mexe
de mim, então eu vejo todos os meus
ideia no papel, seja caricatura, charge
eu vejo caras novos que eu falo: “putz,
desenhos, da mais simples ilustração à
ou HQ
olha que legal”, aí eu não sei se
história em quadrinhos de 100 páginas
influencia tão diretamente no meu traço
como uma maneira de eu expressar o
ou na minha maneira escrever mas
que eu penso, seja contando uma
também, estou querendo ver coisas
história, fazendo uma crítica, uma piada
Eu tento fazer a coisa mais simples. Se
novas ou até mesmo caras antigos que
ou uma análise gráfica, como uma
eu desenhar dez vezes a mesma coisa,
eu não conhecia. Isso é bom e é
caricatura, que não é necessariamente
você vai ver que na décima a coisa está
comum no desenho, né, você sempre
precisa ser uma coisa engraçada, que
mais simples, com o menor número de
aprende com outros caras. É legal não
tem essa coisa da caricatura ser um
linhas possível, e me comunicar da
copiar, mas aprender é bom (risos).
narigão ou um olhão e vamos dar
mesma maneira, ou da maneira mais
risada. Não. Pode ser também, tem
limpa. Eu tento tirar todos os ruídos da
caricatura com nariz enorme que são
comunicação, o que não significa que
muito engraçadas e outras caricaturas
não vai ter sujeira ou um rabisco, eu
que não são engraçadas, são
tento deixar da maneira que eu vejo as
Exatamente, é isso aí. E é legal, às
representações gráficas. Então eu tento
coisas, o mais direto possível para as
vezes você pega uns caras até
expressar a minha opinião com
pessoas entenderem, seja uma ideia
consagrados e olha ali e vê um
qualquer desenho que eu faça, do mais
direta, seja uma que a pessoa vai parar
pouquinho de outro cara antigo no
simples ao mais rebuscado. Digamos,
pra pensar, mas eu quero que esse
trabalho dele e você vai descobrindo
eu vou fazer uma charge, num primeiro
caminho seja claro. Se no final vai ser
como o cara pensa e tem um
momento eu tenho de pensar num
fácil ou difícil, aí é outra coisa que eu
pouquinho... Acho que todos nos temos
assunto. Então eu tenho de estar
penso durante o processo. Por
um pouquinho de nossos ídolos dentro
informado, lendo bastante para escolher
exemplo, quando eu faço uma página
de nosso trabalho. Não vejo nenhum de
um tema que eu ache interessante e
de quadrinho, por exemplo, eu não
nós que não tem isso, um cara 100%
que eu gostaria de opinar e, dentro
pego e coloco os quadradinhos e uma
original, a não ser os homens da
desse tema eu tento pensar em várias
pessoa conversando com a outra, eu
Sim, sim. Entender como funciona a identidade da linha de um determinado desenhista...
Como funciona o seu “pensar gráfico”?
tento contar uma história não só com os
surreal, como as pessoas costumam
coisa que sempre esteve comigo. Acho
personagens, mas com a página. A
dizer. Mas ela é basicamente uma
interessante o que eu posso tirar disso.
página é um elemento gráfico, e os
história sobre porcos, galinhas e uma
As ideias para as histórias, as atitudes
elementos gráficos que vão lá dentro
noite.
dentro da própria história. É algo que eu
são outros que tem de trabalhar todos
tenho gostado de fazer e gostaria de Você gosta muito de usar
fazer bem mais. E é algo que eu já
personagens animais. Existe alguma
faço, inclusive, no meu trabalho diário
intenção nesse sentido?
no Lance!, muitos dos mascotes dos
cartunista faz, eu só tento achar a
Não existe uma intenção. Aí eu não
times, por exemplo, flamengo é urubu,
minha maneira de colocar isso numa
tenho como te explicar mesmo. Eu
o botafogo é o cachorro, o porco do
página e tentar fazer essa leitura ser
gosto, acho interessante o resultado
palmeiras...têm vários animais e tal.
interessante e diferente a cada vez que
que você pode ter desenhando
Quando eu entrei no Lance!, havia uma
a pessoa vá poder ler.
expressões em animais. Animal não
escassez de ídolos muito grande. Tinha
tem muita expressão, dependendo do
o Romário que estava aqui e um monte
Agora, vc pode falar um pouco sobre
bicho. Por exemplo, galinha não tem
de perna-de-pau, que não dava
Có?
muita expressão. Mas ao mesmo
muito...eu podia ir lá e fazer uma
Bom, a Có foi a primeira revista, feita
tempo, fazendo um mix. As galinhas na
caricatura do jogador da época, mas o
em 2009, era uma ideia central que tive
Có não são como, por exemplo, o
leitor, mesmo o torcedor ia olhar e falar
(será que em 2008?) tive uma ideia
elefante da taxi ou os pássaros da
“pô, não sei quem é esse cara”. O cara
central, como costuma acontecer em
Birds. As galinhas não são
não ia falar “a caricatura do Gustavo
todas as histórias minhas, eu tenho a
antropozoomórficas, são galinhas
está uma merda”, ele ia fala “pode ser
ideia de uma cena, ou de um
mesmo, já nas outras, e outros
até que a caricatura esteja boa, mas
argumento, sempre fragmentos. A Có
personagens dentro da própria Có são
não sei quem é esse cara”. Então eu, e
tem uma cena em que uma galinha sai
humanizados. E acho importante esse
o Mário Alberto, que é outro chargista
de dentro de uma privada. Aquela foi a
mix. Acho que fica bacana, interessante
do lance!, passamos a fazer, meio que
primeira cena que me veio à cabeça, aí
você juntar animais com...talvez, aí seja
sem combinar, e foi uma coisa que foi
comecei a pensar em algumas coisa e
minha influência mais óbvia e clássica
acontecendo, é que os mascotes
tal e aí um dia eu sentei pra escrever. Aí
dos desenhos animados. Eu tenho 34
passarem a ser figuras mais presentes.
alguns amigos falam que “como eu
anos assisto desenhos animados, os
Então eles acabam virando
posso falar em escrever se(a HQ) não
clássicos principalmente. Pra mim é
personagens, com posturas específicas
tem uma palavra?”, não tem uma
muito óbvio fazer isso com os animais.
de cada time. Por exemplo, quem vê
palavra, mas o roteiro é escrito e tal, aí
Acho que nunca quando moleque
meus porcos, ou meu urubu, no Lance!,
eu sentei e escrevi um a história que se
desenhava o cachorro como um
sabe como eles agem. Então eu
passa num sítio numa noite e o
cachorro mesmo, eu o desenhava como
comecei a trabalhar esses personagens
personagem central é um cara que
o Snoopy ou como se tivesse postura
ali, isso também ajudou a eu gostar
mora ali e essa história é um pouco
de estar falando alguma coisa. É uma
cada vez mais de desenhar animais e aí
em conjunto. Então é um pouco isso, mas eu não faço nada de diferente do que qualquer designer ou qualquer
eu pensei “eu nunca desenhei um
uma coisa legal e pensei num tema que
elefante. Quero desenhar um elefante”.
não posso contar porque o Sidney não
Aí eu ia fazer uma história em que teria
deixa. Existe um tema, mas não tem
um taxista, e o taxi seria um
uma história ainda, mesmo porque eu
cinquecento, e o melhor animal pra
começo a história do Chico lá pra junho
dirigir um cinquecento é um elefante.
só. Porque eu já tinha meio que
Vem daí, a vontade de desenhar esses
programado para este ano minha
animais, das situações em que eles
primeira história para uma editora, que
podem estar junto com humanos, ou
será pela Cia. das Letras. Aí, como as
sem humanos, como no caso da birds,
duas calharam para cair no mesmo ano
que são só pássaros, então é mais por
eu acabei conversando com os dois
achar que é legal e que eu posso tirar
editores, com o André (Conti), e com o
coisa bacanas daí.
Sidney (Gusman) e tal, então nesse momento eu estou cuidando da história
Se você quiser – e puder – falar um
da companhia. A história da Cia já tem
pouco do trabalho como o Maurício e
um roteiro, um começo, meio e fim. A
demais projetos para 2012.
história do Chico não tem. A história
Esse trabalho não é nem questão de
deletem só um argumento central e é
não poder. Logo que eles tiveram a
sobre o Chico Bento e o Zé Lelé. É a
ideia de fazer as GraphicNovels, no
única coisa que tem. Não é nem porque
comecinho do ano passado – ou final
eu estou escondendo, é porque não
do retrasado – o Sidão falou comigo
tem mesmo. Não tem mais o que dizer
que gostaria que eu fizesse uma delas.
fora isso.
Aí ele oficializou isso no ano passado, dizendo que teria quatro GraphicNovels e eu seria um dos quatro. Ele me falou que eu teria a liberdade pra escolher o personagem e quis que eu desse uma ideia de história, que não precisava ser um roteiro. Aí eu escolhi o Chico Bento, por motivos até óbvios. Fiquei balançado pelo Louco, mas acabei escolhendo o Chico, por ser do interior e eu ser do interior também, eu adorava as histórias do Chico Bento quando eu era moleque e acho que posso fazer
Nesse momento eu estou cuidando da história da Cia. mesmo, que começo a desenhar agora no fim de janeiro ou no começo do outro mês.
Hot Hot Sex Ă gua-forte (gravura em metal), 2009 Murilo Souza http://cavandocomacolher.blogspot.com
Cor por Cris Peter
Monotipia: sua formação, enquanto artista visual. Cris Peter: Desde muito pequena, sempre me diverti mais pintando do que desenhando, preferia livros de colorir a uma folha branca. Depois, na
lápis, e acredito que o que consigo
adolescência, comecei a desenhar e
fazer através de pinturas artesanais
desenhar, até que encontrei um curso
hoje, veio das minhas primeiras
de quadrinhos no Museu de Artes do
experiências com o Photoshop. Ao
RS. Não era muito ligada em
contrário do que muita gente pensa,
quadrinhos na época, minha vontade de
não existe um botão automático para
ilustrar surgiu mais graças aos
fazer luz e sombra, ou combinações de
desenhos animados, não às HQs.
cores em um desenho nesse software.
Depois disso, comecei a me interessar cada vez mais por arte, e fazer um curso em um museu só ajudou nisso. Meus colegas e professores do curso eram super-interessados na cena de quadrinhos, foi assim que comecei a ser influenciada por eles. Através deles também que conheci o Photoshop, e acabei por começar a colorir meus próprios desenhos não através de mídia tradicional, mas sim digital. Tudo o que eu sei de modelagem e pintura, aprendi primeiro com a ferramenta Photoshop. Mas como falei, esse programa é uma ferramenta, é digital, mas é uma ferramenta, assim como o pincel ou
Publicidade e Propaganda por falta de Com o tempo, quadrinho começou a se
coisa melhor, mas isso foi até bom, pois
tornar algo cada vez mais palpável.
me deu uma visão mais prática e
Meus amigos começaram a divulgar
administrativa das coisas, algo que
seus trabalhos pela internet e conseguir
considero muito importante para um
trabalhos em outros países. Eu ainda
freelancer. Não sou muito lúdica graças
era uma criança, e só os acompanhava
a isso, hoje acompanho mais o muito
enquanto eles tornavam o sonho de
editorial do que o artístico.
fazer quadrinhos cada vez mais real. Logo a demanda de trabalho ficou
Enquanto cursava a faculdade e tinha
enorme, e eles não eram mais capazes
contato com o mercado real das
de fazer todo o processo de desenho e
grandes empresas e agências de
pintura sozinhos, foi quando eles
publicidade, comecei a viajar para
começaram a me oferecer trabalhos de
convenções e ter contato com o
colorização digital. Basicamente foi
mercado dos quadrinhos internacionais
assim que eu comecei, sem querer. Na
como ele É, e comparando com o que
época, colorir era um bico divertido que
eu estava vendo na faculdade, os
trazia uma graninha extra pra eu
quadrinhos pareciam se encaixar mais
comprar as minhas coisas.
perfeitamente no meu mundo do que a vida como funcionária em uma
Eu ainda não levava a sério o futuro
empresa. Depois de sofrer durante uma
fazendo quadrinhos quando escolhi o
única semana fazendo estágio em uma
meu curso de faculdade. Optei por
empresa de design, descobri que aquele não era o meu caminho, não era o que eu gostava de fazer. Foi então que decidi começar a encarar o meu bico como uma carreira, e desde então não parei. A melhor formação para um profissional é sua experiência de vida, e
não a quantidade de diplomas
chapadas, trabalhos mais de
pendurados em sua parede.
composição de cores.
Quanto àquele grupo de amigos, uns
O Impressionismo sempre me encantou
ficaram pra trás, outros mudaram o foco
de uma maneira forte. A maneira como
e outro ganhou um Eisner. E eu,
várias pinceladas de cores diferentes se
continuo me aperfeiçoando, lendo livros
misturam pra formar as combinações
de teoria das cores, aprendendo mais
sempre me deixam boquiaberta. As
de uma técnica de pintura, trocando
cores são mais vibrantes, mas ao
idéias com outros artistas. Gosto de
mesmo tempo reais. O Monet é com
aprender e gosto muito de ensinar
certeza o meu artista favorito deste
também. Comecei a dar aulas de
movimento. Mas minha maior paixão é
pintura digital em algumas instituições
a ilustração. O Norman Rockwell tem
aqui em Porto Alegre, e espero que
um trabalho fantástico. Apesar de
esses cursos se tornem cada vez mais
realista, as figuras humanas
frequentes.
apresentam umas poses e feições caricatas, e ele faz isso na medida
MT: Quais são as suas principais influências, no que se refere a movimentos e/ou artistas? CP: No que se refere a influências, acredito que estas venham mais do mercado de quadrinhos mesmo, como
certa, não fica estranho. São pinturas que sempre te fazem sorrir ao olhas pra elas. MT: Quais são seus formatos e materiais preferidos?
os trabalhos do Dave Stewart, mas
CP: Meu material favorito é o digital.
acho que a maior influência de todas,
Tenho mais familiaridade com ele.
foi o desenho animado. Sou maníaca por televisão, quando criança não era diferente. Gosto do estilo de cor sem
MT: Como é seu processo de trabalho?
muito trabalho de degradê, com
CP: Recebo as páginas digitalizadas
sombras de bordas cortadas, cores
em preto e branco do artista. Depois
disso, envio a página pra um assistente
CP: Estou produzindo alguns livros, um
que coloca uma cor base, mas que só
específico sobre pintura digital e outro
serve para separar os objetos de cena,
de ficção, mas que ainda não tem data
as escolhas de cor do assistente são
de lançamento. Também faço algumas
logo substituídas assim que recebo a
artes comissionadas: ilustração ou só
base pronta. Eu faço a escolha das
pintura de alguma arte já pronta (faço a
cores, compondo o cenário e
pintura tanto digital como artesanal).
entendendo o que está sendo
Esses trabalhos podem ser solicitados
transmitido na página (se a página
pelo meu e-mail e pra ver um pouco da
possui alguma cena onde deve-se
minha produção é só entrar no meu site
transmitir medo ou violência, escolho as
www.crispeterdigitalcolors.wordpress.com
cores adequadas para ajudar a dar o
Também dou aulas sobre cor na
clima na ambientação), escolhendo
comunicação, pintura digital, etc.
cores de maneira a ajudar a contar a história e destacar o que é importante
MT: Que quadrinhos você tem lido
na página. Depois disso é a hora de
ultimamente? E o que além de
aplicar luz e sombra, e para dar esses
quadrinhos?
efeitos existem várias ferramentas de CP: O último quadrinho que consegui
pincel do Photoshop que podemos
ler foi o Retalhos que é maravilhoso.
utilizar pra dar estilos diferentes a
Agora vou começar a ler Daytriper. De
colorização. Depois de tudo pronto é só
livros mesmo, ando lendo muita coisa a
enviar pra editora, que vai colocar os
respeito de cor como “A interação da
balões de fala e enviar pra gráfica
Cor” do Josef Albers, “Da cor a cor
imprimir a revista. Todo esse trabalho é
inexistente” do Israel Pedrosa, e de
feito digitalmente e através da internet.
ficção “O guia do mochileiro das MT: O que você produz para além
galáxias”
dos quadrinhos? E onde o
Lápis: Roger Cruz
encontramos?
Mรกrio Cau
Do Ofício Comemorando dois anos de existência da Balão Editorial, Guilherme Kroll conversa rapidamente conosco sobre o oficio e a vida de um editor.
Monotipia: Para começar, como é
MT: Como você costuma (ou
sua rotina de trabalho?
prefere) receber os quadrinhos, ainda como projeto ou já
Guilherme Kroll: Bom, nós da Balão
finalizadas?
Editorial não publicamos apenas, mas também prestamos serviços editoriais,
GK: É bom chegar a um meio termo
então nossa rotina envolve lidar tanto
disso, projetos bem desenvolvidos e
com as nossas edições e distribuição
encaminhados, mas que ainda tenham
dos nossos livros com o trabalho que
margem para possíveis alterações
prestamos para outras casas
editoriais. Mas isso não acontece tão
publicadoras.
efetivamente na prática, que podemos dizer que recebemos projetos e HQs
MT: Quais suas preocupações, no
finalizadas na mesma proporção.
que se refere à formação de catálogo? E, de um modo geral, que
MT: Descreva o processo de criação
tipos de trabalhos lhe interessam?
de um dos seus produtos. (Seja livro, revista ou outro, e todos os
GK: A proposta do nosso catálogo é
eventuais pepinos inerentes à ele).
bem ampla, gostamos de dizer que publicamos o que gostamos, então
GK: Na condição ideal, recebemos o
além de quadrinhos já publicamos
original, que passa por dois processo
literatura, acadêmicos, relatos de
iniciais: preparação de texto e projeto
viagem, se lermos e gostarmos o livro
gráfico. Nessa etapa também é na qual
pode sair pela Balão Editorial.
são feitas as maiorias de alterações na
conseguirmos, para garantir um bom
MT: Quais suas perspectivas para
arte. Em seguida, o texto é aplicado ao
custo-benefício para o leitor.
2012?
diagramação, que é seguida das
MT: Por que disponibilizar para
GK: Pretendemos lançar mais 6
provas de revisão e emendas. Por
download os livros esgotados?
títulos ao longo do ano, sendo que
projeto gráfica na etapa de
último, são feitos os aparatos editorias (capa, quarta capa, orelha etc.). Basicamente é esse o nosso processo de produção. MT: Quais as suas preocupações com o quadrinho, enquanto produto? GK: Primeiro de tudo a HQ precisa ser
pelo menos 3 serão de quadrinhos. GK: Na verdade, não são só os livros esgotados que estão para download,
MT: Que quadrinhos você tem
mas também algumas edições
lido ultimamente? E o que além
exclusivas para o meio digital.
de quadrinhos?
Fazemos isso para que os livros
GK: Sou um leitor contumaz, leio
continuem a disposição dos leitores,
tudo que cai na minha mão. De
mesmo quando não há mais uma
quadrinhos, recentemente li “A
edição impressa.
Juventude”, de Hugo Pratt, estrelada pelo personagem Corto
do nosso gosto, como eu disse, ser uma HQ que gostaríamos de ler. Depois, tentamos fazer o possível para que o livro tenha o menor custo possível e com a melhor qualidade que
MT: Por que quadrinhos?
Maltese, um trabalho muito bom. Livros, tenho lido a saga “Guerra
GK: É uma questão de gosto pessoal.
dos Tronos” de George R.R. Martin,
Gostamos desse tipo de expressão
fantasia da melhor qualidade.
artística e publicamos por causa disso.
Natรกlia Tudrey, Guilherm Kroll e Flรกvia Yacubian. A equipe da Balรฃo.
www.glauco.art.br
"Melstrom" é uma adaptação visual de um dos contos do livro "crimes exemplares", de Max Aub. Amauta Editorial, 2003
Da teoria Batemos um papo com Liber Paz sobre os quadrinhos, enquanto objeto de pesquisa acadêmica. Ilustrações de Morgana Mastrianni
Monotipia: Qual a importância de
Daí vem a importância da produção
desenvolver artigos abordando os mais
uma produção teórica, em ambiente
teórica. A partir dela, podemos não
diversos assuntos.
acadêmico ou não, quadrinhos?
apenas pensar a linguagem dos
Liber Paz: Uma produção teórica sobre quadrinhos implica em pensar sobre quadrinhos. Essa é toda a questão: pensar sobre quadrinhos. Tanto no ambiente acadêmico quanto fora dele, quando alguém se senta para estudar uma obra em quadrinhos e teorizar sobre ela, essa pessoa imediatamente deve por de lado sua opinião e gostos pessoais e começar a analisar, estudar, pesquisar e refletir
quadrinhos, mas seu papel, sua posição dentro da sociedade. Trata-se de compreender a dimensão cultural dos quadrinhos.
Internacionais de Histórias em Quadrinhos, um evento realizado na
acadêmicos ou de sites especializados,
com artigos nas mais diversas áreas,
onde pessoas interessadas em
todos tendo como base histórias em
desenvolver uma crítica séria sobre
quadrinhos. Tivemos grupos discutindo
quadrinhos desenvolvem textos que
quadrinhos e sociedade, quadrinhos e
levam a reflexões mais profundas sobre
cinema, quadrinhos e cidadania,
as obras.
quadrinhos e educação, quadrinhos e
dentro de parâmetros bem definidos.
como o público vê os quadrinhos como
quadrinhos afeta a linguagem
ideia, em 2011 tivemos as I Jornadas
USP. Participaram mais de 200 pessoas
Isso é importante tanto para o modo
estudar como o layout da página de
temático recorrente. Para se ter uma
Isso pode se obter a partir de estudos
sobre as características dessa obra
Por exemplo, alguém pode querer
Por isso é difícil dizer que há um recorte
para o modo como os próprios autores avaliam sua produção e os rumos a serem seguidos.
jornalismo... Fora da academia, encontramos muitas pessoas desenvolvendo um bom trabalho de cobertura jornalística e crítica sobre histórias em quadrinhos. São sites organizados por pessoas apaixonadas
seqüencial. Ou como o desenho de
MT: No que diz respeito ao volume
por quadrinhos que divulgam notícias e
letras e balões influencia a percepção
de trabalhos realizados, seja em
comentários sobre as diversas
da história. Esses são estudos
nível de graduação ou pós-
publicações disponíveis no mercado. As
referentes à forma e à linguagem.
graduação, você identifica algum
resenhas produzidas por essas
recorte temático recorrente? E fora
pessoas variam muito de profundidade
da Academia?
e rigor de análise. Entretanto,
Mas o pesquisador também pode estudar como a figura da mulher é
encontramos ótimos textos produzidos
representada dentro da obra: de uma
LP: Dentro da academia percebo que
forma machista, feminista,
os quadrinhos acabam servindo de
preconceituosa ou crítica. Pode pensar
objeto de estudo de pesquisadores de
como diversos aspectos da sociedade
diversas áreas. Encontramos
são representados dentro dessa HQ:
estudantes de Letras, História,
política, religião, trabalho. Enfim, uma
Comunicação, Design, Artes, Sociologia
obra em quadrinhos pode servir de
e até Medicina usando histórias em
Cada vez mais pessoas se dedicam a
base para diversas possibilidades de
quadrinhos como base para
escrever com seriedade sobre
estudo.
por jornalistas, pesquisadores e que ao se dispor a escrever sobre um título, esmiúçam diversos aspectos de sua produção, as referências intertextuais, os contextos históricos e sociais.
quadrinhos e isso é muito positivo para
Os artigos e dissertações produzidas na
forma haveria um diálogo entre crítica e
a produção e apreciação dessas obras.
academia também têm pouquíssima
autor, o que poderia implicar em uma
distribuição e divulgação, o que torna
evolução do trabalho.
difícil seu acesso à maioria dos MT: Como essas questões tem
interessados.
MT: Em seu exame sobre o meio, McLoud consolida o quadrinho
afetado o “fazer” nos quadrinhos?
Talvez o material acadêmico
também como ferramenta
LP: Essa é uma pergunta que é difícil
transformado em livro tenha um alcance
paradidática. Na sua opinião, quais
de responder.
maior, mas, novamente, seria
as implicações dos usos dos
necessário fazer uma pesquisa mais
quadrinhos na educação?
O ideal seria realizar uma pesquisa e
séria para poder avaliar se e como os
perguntar aos autores se essa
autores de quadrinhos estão lendo
produção de textos afetou sua
essas publicações.
produção de alguma maneira.
LP: Acredito que os quadrinhos tenham uma importância tão grande na educação quanto outras mídias, como
Já os textos de críticas e resenhas
jornais, filmes ou seriados de TV. São
O que eu posso fazer aqui é especular
produzidos nos sites especializados
produtos culturais que podem ser
despretensiosamente.
parecem ter uma repercussão maior.
trabalhados de diversas maneiras para
Muitos autores de quadrinhos
estudar e refletir sobre diversos
aguardam com ansiedade a avaliação
assuntos.
de certos sites. Isso porque entendem
O que eu acho que deve ser evitado é
que uma avaliação positiva pode servir
pensar as histórias em quadrinhos
como um estímulo para o sucesso
apenas como ferramenta paradidática.
comercial de seus trabalhos.
Acho que elas têm muito mérito em si
Em minha opinião, a grande maioria dos autores não toma conhecimento de quando suas obras são utilizadas como base de pesquisa acadêmica, seja em artigos ou dissertações. Há casos em que os pesquisadores contatam esses autores para entrevistá-los e discutir
Há autores que efetivamente reparam
sua obra, mas muitas vezes a
na crítica como um processo reflexivo e
abordagem que o pesquisador quer dar
que podem considerá-la, ou não, na
à obra é completamente
elaboração de seus próximos trabalhos.
desinteressante para o autor.
Pensando de modo otimista, dessa
mesmas, como entretenimento, como meio de informação e reflexão e mesmo como arte. Tentar justificá-las ou pensá-las como mero apoio didático pode acabar limitando seu potencial.
www.caixadoremedios.com
Milena Azevedo e Felipe Assumpção
Felipe Assunção
Maurício Rett
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www.cartunista.com.br
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