Monotipia13

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Monotipia



Um ano, hein? passa rรกpido.


“Sempre quis desen


foto: Sissy Eiko

nhar um elefante�


Monotipia: Vamos começar falando

obrigado a estudar, não na acepção

depois o Loredano, os irmãos Caruso,

sobre sua formação.

comum da palavra, mas todo dia em

então, tem muita gente. A gente poderia

que está estudando, você está

ficar aqui conversando umas oito horas

aprendendo coisa nova, ou

falando de todos caras que me

conversando com uma pessoa, vendo

influenciaram...o próprio Will Eisner,

desenho de outros, vendo fotos,

desde moleque, eu lembro assim de ver

assistindo um filme, está sempre

o Eisner numa banca em Bauru, e

trazendo coisa nova para o seu dia-a-

banca era uma coisa diferente do que é

dia como desenhista. Então acho que

hoje, que a gente eia e tinha uma

minha formação começa quando eu

revista lá e a voltava um mês depois a

começo a desenhar e minhas primeiras

revista continuava lá, acontecia isso de

imagens na cabeça são fazem parte

ter uma revista ali, entendeu? E eu

dessa formação. Vem daí. Se for uma

lembro que tinham umas revistas

formação acadêmica mesmo então é a

grandes do Spirit e eu moleque assim,

formação como designer, mas tem toda

no meio da década de 80, e eu achava

uma história que vem de antes aí.

aquele traço sensacional e meu pai de

Gustavo Duarte: Bom, eu, como todo desenhista, desenho desde que me entendo por gente. Se existe uma formação que eu posso considerar assim é a minha formação como designer gráfico. Sou formado em design pela Universidade Estadual de São Paulo, a UNESP. Me formei em 1999, mas desde antes venho desenhando e colaborando com alguns jornais e revistas. Mas eu considero o começo da minha carreira O Diário de Bauru, que foi o primeiro jornal onde eu trabalhei, em 1997. Eu estava na

vez em quando me dava uma dessas

faculdade já, fazia uns bicos pra um

MT: Quais as influências que você

lado e pro outro, uma coisinha aqui e

maiores e eu ficava lendo e relendo

identifica no seu trabalho?

aquilo e leio até hoje. E quando

GD: Putz, influências... eu estava até

moleque eu não sabia que o cara era

respondendo uma entrevista esses dias

um dos maiores gênios da história do

e falei sobre isso...tem muita gente que

Quadrinho... só isso (risos). Mas eu

me influenciou e me influencia. Em

gostava muito dele, achava o máximo.

momentos distintos e outras desde

E também gostava de Homem-Aranha,

moleque até hoje. Eu não sei, acho que

Batman, de muita coisa, do Maurício,

as mais fortes seriam o Charles Schulz,

mas eu lembro dessa coisa com Will

que foi o cara que, olhei pela primeira

Eisner e tenho até hoje essas revistas

vez, apontei o dedo, olhei pra minha

guardadas em casa. E ele realmente é

mãe e disse: “quero ser isso quando

uma das influências..tenho várias... o

crescer”. Então eu provavelmente uma

próprio Sérgio Aragonés, eu sou um

das grandes influências. O Bill

cara que faz história em quadrinho sem

Watterson, o Laerte, o Henfil, o Ziraldo,

texto e ninguém faz isso melhor que o

quando moleque e eu adorava e até

ele. Eu lembro que a revista MAD, de

hoje acho um dos maiores artistas

uma maneira geral, influenciou não só a

gráficos do Brasil, sempre corri muito

mim como a uma geração grande de

atrás de ver as coisas do Ziraldo e tal,

pessoas da minha idade. E o Aragonés,

ali, mas o diário foi o primeiro trabalho que considero de verdade, até mesmo por estar todo dia publicando, ter uma responsabilidade maior, todas essas coisas... Então, minha formação tem à ver tanto com o diário quanto com a faculdade, mas, como eu falei no começo, eu desenho desde sempre, e qualquer desenhista desenha desde sempre, então acho que minha formação vem daí, de desenhar muito desde moleque, de querer desenhar, sempre tentando aprimorar, sempre tentando aprender, e eu acho que essa é uma diferença...na verdade, toda profissão é assim, mas o desenho muito, você melhora a cada dia, é




talvez junto com o Don Martin, para

caverna que eram bem originais (risos),

ideias, para poder fazer uma charge.

mim eram os dois maiores caras na

de resto, todo mundo tem um

Para uma caricatura, eu pego várias

MAD, não os dois maiores, mas eu

pouquinho do que gosta, e eu acho isso

fotos da pessoa em questão e tento,

gostava muito. O Aragonés é um gênio,

legal.

graficamente, mapear essa pessoa,

ele conseguia fazer com três desenhinhos realmente em 10 minutos uma piada sensacional, histórias, ele é

para transformá-la em personagem ou Beleza... agora diga-nos, como é o seu processo de trabalho?

até mesmo num grafismo. E nos quadrinhos eu tento contar uma história

muito bom. Então, tem um monte de

Não sei... assim, desde que eu comecei

de acordo com a minha maneira de

gente, eu não sei, para falar algumas

a desenhar profissionalmente, sempre

pensar. Mas o princípio é sempre o

são essas aí, mas tem muita gente que

tive a charge, o cartum, a opinião perto

mesmo: querer desenhar e colocar uma

me influenciou e influencia. Vira e mexe

de mim, então eu vejo todos os meus

ideia no papel, seja caricatura, charge

eu vejo caras novos que eu falo: “putz,

desenhos, da mais simples ilustração à

ou HQ

olha que legal”, aí eu não sei se

história em quadrinhos de 100 páginas

influencia tão diretamente no meu traço

como uma maneira de eu expressar o

ou na minha maneira escrever mas

que eu penso, seja contando uma

também, estou querendo ver coisas

história, fazendo uma crítica, uma piada

Eu tento fazer a coisa mais simples. Se

novas ou até mesmo caras antigos que

ou uma análise gráfica, como uma

eu desenhar dez vezes a mesma coisa,

eu não conhecia. Isso é bom e é

caricatura, que não é necessariamente

você vai ver que na décima a coisa está

comum no desenho, né, você sempre

precisa ser uma coisa engraçada, que

mais simples, com o menor número de

aprende com outros caras. É legal não

tem essa coisa da caricatura ser um

linhas possível, e me comunicar da

copiar, mas aprender é bom (risos).

narigão ou um olhão e vamos dar

mesma maneira, ou da maneira mais

risada. Não. Pode ser também, tem

limpa. Eu tento tirar todos os ruídos da

caricatura com nariz enorme que são

comunicação, o que não significa que

muito engraçadas e outras caricaturas

não vai ter sujeira ou um rabisco, eu

que não são engraçadas, são

tento deixar da maneira que eu vejo as

Exatamente, é isso aí. E é legal, às

representações gráficas. Então eu tento

coisas, o mais direto possível para as

vezes você pega uns caras até

expressar a minha opinião com

pessoas entenderem, seja uma ideia

consagrados e olha ali e vê um

qualquer desenho que eu faça, do mais

direta, seja uma que a pessoa vai parar

pouquinho de outro cara antigo no

simples ao mais rebuscado. Digamos,

pra pensar, mas eu quero que esse

trabalho dele e você vai descobrindo

eu vou fazer uma charge, num primeiro

caminho seja claro. Se no final vai ser

como o cara pensa e tem um

momento eu tenho de pensar num

fácil ou difícil, aí é outra coisa que eu

pouquinho... Acho que todos nos temos

assunto. Então eu tenho de estar

penso durante o processo. Por

um pouquinho de nossos ídolos dentro

informado, lendo bastante para escolher

exemplo, quando eu faço uma página

de nosso trabalho. Não vejo nenhum de

um tema que eu ache interessante e

de quadrinho, por exemplo, eu não

nós que não tem isso, um cara 100%

que eu gostaria de opinar e, dentro

pego e coloco os quadradinhos e uma

original, a não ser os homens da

desse tema eu tento pensar em várias

pessoa conversando com a outra, eu

Sim, sim. Entender como funciona a identidade da linha de um determinado desenhista...

Como funciona o seu “pensar gráfico”?


tento contar uma história não só com os

surreal, como as pessoas costumam

coisa que sempre esteve comigo. Acho

personagens, mas com a página. A

dizer. Mas ela é basicamente uma

interessante o que eu posso tirar disso.

página é um elemento gráfico, e os

história sobre porcos, galinhas e uma

As ideias para as histórias, as atitudes

elementos gráficos que vão lá dentro

noite.

dentro da própria história. É algo que eu

são outros que tem de trabalhar todos

tenho gostado de fazer e gostaria de Você gosta muito de usar

fazer bem mais. E é algo que eu já

personagens animais. Existe alguma

faço, inclusive, no meu trabalho diário

intenção nesse sentido?

no Lance!, muitos dos mascotes dos

cartunista faz, eu só tento achar a

Não existe uma intenção. Aí eu não

times, por exemplo, flamengo é urubu,

minha maneira de colocar isso numa

tenho como te explicar mesmo. Eu

o botafogo é o cachorro, o porco do

página e tentar fazer essa leitura ser

gosto, acho interessante o resultado

palmeiras...têm vários animais e tal.

interessante e diferente a cada vez que

que você pode ter desenhando

Quando eu entrei no Lance!, havia uma

a pessoa vá poder ler.

expressões em animais. Animal não

escassez de ídolos muito grande. Tinha

tem muita expressão, dependendo do

o Romário que estava aqui e um monte

Agora, vc pode falar um pouco sobre

bicho. Por exemplo, galinha não tem

de perna-de-pau, que não dava

Có?

muita expressão. Mas ao mesmo

muito...eu podia ir lá e fazer uma

Bom, a Có foi a primeira revista, feita

tempo, fazendo um mix. As galinhas na

caricatura do jogador da época, mas o

em 2009, era uma ideia central que tive

Có não são como, por exemplo, o

leitor, mesmo o torcedor ia olhar e falar

(será que em 2008?) tive uma ideia

elefante da taxi ou os pássaros da

“pô, não sei quem é esse cara”. O cara

central, como costuma acontecer em

Birds. As galinhas não são

não ia falar “a caricatura do Gustavo

todas as histórias minhas, eu tenho a

antropozoomórficas, são galinhas

está uma merda”, ele ia fala “pode ser

ideia de uma cena, ou de um

mesmo, já nas outras, e outros

até que a caricatura esteja boa, mas

argumento, sempre fragmentos. A Có

personagens dentro da própria Có são

não sei quem é esse cara”. Então eu, e

tem uma cena em que uma galinha sai

humanizados. E acho importante esse

o Mário Alberto, que é outro chargista

de dentro de uma privada. Aquela foi a

mix. Acho que fica bacana, interessante

do lance!, passamos a fazer, meio que

primeira cena que me veio à cabeça, aí

você juntar animais com...talvez, aí seja

sem combinar, e foi uma coisa que foi

comecei a pensar em algumas coisa e

minha influência mais óbvia e clássica

acontecendo, é que os mascotes

tal e aí um dia eu sentei pra escrever. Aí

dos desenhos animados. Eu tenho 34

passarem a ser figuras mais presentes.

alguns amigos falam que “como eu

anos assisto desenhos animados, os

Então eles acabam virando

posso falar em escrever se(a HQ) não

clássicos principalmente. Pra mim é

personagens, com posturas específicas

tem uma palavra?”, não tem uma

muito óbvio fazer isso com os animais.

de cada time. Por exemplo, quem vê

palavra, mas o roteiro é escrito e tal, aí

Acho que nunca quando moleque

meus porcos, ou meu urubu, no Lance!,

eu sentei e escrevi um a história que se

desenhava o cachorro como um

sabe como eles agem. Então eu

passa num sítio numa noite e o

cachorro mesmo, eu o desenhava como

comecei a trabalhar esses personagens

personagem central é um cara que

o Snoopy ou como se tivesse postura

ali, isso também ajudou a eu gostar

mora ali e essa história é um pouco

de estar falando alguma coisa. É uma

cada vez mais de desenhar animais e aí

em conjunto. Então é um pouco isso, mas eu não faço nada de diferente do que qualquer designer ou qualquer



eu pensei “eu nunca desenhei um

uma coisa legal e pensei num tema que

elefante. Quero desenhar um elefante”.

não posso contar porque o Sidney não

Aí eu ia fazer uma história em que teria

deixa. Existe um tema, mas não tem

um taxista, e o taxi seria um

uma história ainda, mesmo porque eu

cinquecento, e o melhor animal pra

começo a história do Chico lá pra junho

dirigir um cinquecento é um elefante.

só. Porque eu já tinha meio que

Vem daí, a vontade de desenhar esses

programado para este ano minha

animais, das situações em que eles

primeira história para uma editora, que

podem estar junto com humanos, ou

será pela Cia. das Letras. Aí, como as

sem humanos, como no caso da birds,

duas calharam para cair no mesmo ano

que são só pássaros, então é mais por

eu acabei conversando com os dois

achar que é legal e que eu posso tirar

editores, com o André (Conti), e com o

coisa bacanas daí.

Sidney (Gusman) e tal, então nesse momento eu estou cuidando da história

Se você quiser – e puder – falar um

da companhia. A história da Cia já tem

pouco do trabalho como o Maurício e

um roteiro, um começo, meio e fim. A

demais projetos para 2012.

história do Chico não tem. A história

Esse trabalho não é nem questão de

deletem só um argumento central e é

não poder. Logo que eles tiveram a

sobre o Chico Bento e o Zé Lelé. É a

ideia de fazer as GraphicNovels, no

única coisa que tem. Não é nem porque

comecinho do ano passado – ou final

eu estou escondendo, é porque não

do retrasado – o Sidão falou comigo

tem mesmo. Não tem mais o que dizer

que gostaria que eu fizesse uma delas.

fora isso.

Aí ele oficializou isso no ano passado, dizendo que teria quatro GraphicNovels e eu seria um dos quatro. Ele me falou que eu teria a liberdade pra escolher o personagem e quis que eu desse uma ideia de história, que não precisava ser um roteiro. Aí eu escolhi o Chico Bento, por motivos até óbvios. Fiquei balançado pelo Louco, mas acabei escolhendo o Chico, por ser do interior e eu ser do interior também, eu adorava as histórias do Chico Bento quando eu era moleque e acho que posso fazer

Nesse momento eu estou cuidando da história da Cia. mesmo, que começo a desenhar agora no fim de janeiro ou no começo do outro mês.




Hot Hot Sex Ă gua-forte (gravura em metal), 2009 Murilo Souza http://cavandocomacolher.blogspot.com


Cor por Cris Peter


Monotipia: sua formação, enquanto artista visual. Cris Peter: Desde muito pequena, sempre me diverti mais pintando do que desenhando, preferia livros de colorir a uma folha branca. Depois, na

lápis, e acredito que o que consigo

adolescência, comecei a desenhar e

fazer através de pinturas artesanais

desenhar, até que encontrei um curso

hoje, veio das minhas primeiras

de quadrinhos no Museu de Artes do

experiências com o Photoshop. Ao

RS. Não era muito ligada em

contrário do que muita gente pensa,

quadrinhos na época, minha vontade de

não existe um botão automático para

ilustrar surgiu mais graças aos

fazer luz e sombra, ou combinações de

desenhos animados, não às HQs.

cores em um desenho nesse software.

Depois disso, comecei a me interessar cada vez mais por arte, e fazer um curso em um museu só ajudou nisso. Meus colegas e professores do curso eram super-interessados na cena de quadrinhos, foi assim que comecei a ser influenciada por eles. Através deles também que conheci o Photoshop, e acabei por começar a colorir meus próprios desenhos não através de mídia tradicional, mas sim digital. Tudo o que eu sei de modelagem e pintura, aprendi primeiro com a ferramenta Photoshop. Mas como falei, esse programa é uma ferramenta, é digital, mas é uma ferramenta, assim como o pincel ou

Publicidade e Propaganda por falta de Com o tempo, quadrinho começou a se

coisa melhor, mas isso foi até bom, pois

tornar algo cada vez mais palpável.

me deu uma visão mais prática e

Meus amigos começaram a divulgar

administrativa das coisas, algo que

seus trabalhos pela internet e conseguir

considero muito importante para um

trabalhos em outros países. Eu ainda

freelancer. Não sou muito lúdica graças

era uma criança, e só os acompanhava

a isso, hoje acompanho mais o muito

enquanto eles tornavam o sonho de

editorial do que o artístico.

fazer quadrinhos cada vez mais real. Logo a demanda de trabalho ficou

Enquanto cursava a faculdade e tinha

enorme, e eles não eram mais capazes

contato com o mercado real das

de fazer todo o processo de desenho e

grandes empresas e agências de

pintura sozinhos, foi quando eles

publicidade, comecei a viajar para

começaram a me oferecer trabalhos de

convenções e ter contato com o

colorização digital. Basicamente foi

mercado dos quadrinhos internacionais

assim que eu comecei, sem querer. Na

como ele É, e comparando com o que

época, colorir era um bico divertido que

eu estava vendo na faculdade, os

trazia uma graninha extra pra eu

quadrinhos pareciam se encaixar mais

comprar as minhas coisas.

perfeitamente no meu mundo do que a vida como funcionária em uma

Eu ainda não levava a sério o futuro

empresa. Depois de sofrer durante uma

fazendo quadrinhos quando escolhi o

única semana fazendo estágio em uma

meu curso de faculdade. Optei por

empresa de design, descobri que aquele não era o meu caminho, não era o que eu gostava de fazer. Foi então que decidi começar a encarar o meu bico como uma carreira, e desde então não parei. A melhor formação para um profissional é sua experiência de vida, e


não a quantidade de diplomas

chapadas, trabalhos mais de

pendurados em sua parede.

composição de cores.

Quanto àquele grupo de amigos, uns

O Impressionismo sempre me encantou

ficaram pra trás, outros mudaram o foco

de uma maneira forte. A maneira como

e outro ganhou um Eisner. E eu,

várias pinceladas de cores diferentes se

continuo me aperfeiçoando, lendo livros

misturam pra formar as combinações

de teoria das cores, aprendendo mais

sempre me deixam boquiaberta. As

de uma técnica de pintura, trocando

cores são mais vibrantes, mas ao

idéias com outros artistas. Gosto de

mesmo tempo reais. O Monet é com

aprender e gosto muito de ensinar

certeza o meu artista favorito deste

também. Comecei a dar aulas de

movimento. Mas minha maior paixão é

pintura digital em algumas instituições

a ilustração. O Norman Rockwell tem

aqui em Porto Alegre, e espero que

um trabalho fantástico. Apesar de

esses cursos se tornem cada vez mais

realista, as figuras humanas

frequentes.

apresentam umas poses e feições caricatas, e ele faz isso na medida

MT: Quais são as suas principais influências, no que se refere a movimentos e/ou artistas? CP: No que se refere a influências, acredito que estas venham mais do mercado de quadrinhos mesmo, como

certa, não fica estranho. São pinturas que sempre te fazem sorrir ao olhas pra elas. MT: Quais são seus formatos e materiais preferidos?

os trabalhos do Dave Stewart, mas

CP: Meu material favorito é o digital.

acho que a maior influência de todas,

Tenho mais familiaridade com ele.

foi o desenho animado. Sou maníaca por televisão, quando criança não era diferente. Gosto do estilo de cor sem

MT: Como é seu processo de trabalho?

muito trabalho de degradê, com

CP: Recebo as páginas digitalizadas

sombras de bordas cortadas, cores

em preto e branco do artista. Depois


disso, envio a página pra um assistente

CP: Estou produzindo alguns livros, um

que coloca uma cor base, mas que só

específico sobre pintura digital e outro

serve para separar os objetos de cena,

de ficção, mas que ainda não tem data

as escolhas de cor do assistente são

de lançamento. Também faço algumas

logo substituídas assim que recebo a

artes comissionadas: ilustração ou só

base pronta. Eu faço a escolha das

pintura de alguma arte já pronta (faço a

cores, compondo o cenário e

pintura tanto digital como artesanal).

entendendo o que está sendo

Esses trabalhos podem ser solicitados

transmitido na página (se a página

pelo meu e-mail e pra ver um pouco da

possui alguma cena onde deve-se

minha produção é só entrar no meu site

transmitir medo ou violência, escolho as

www.crispeterdigitalcolors.wordpress.com

cores adequadas para ajudar a dar o

Também dou aulas sobre cor na

clima na ambientação), escolhendo

comunicação, pintura digital, etc.

cores de maneira a ajudar a contar a história e destacar o que é importante

MT: Que quadrinhos você tem lido

na página. Depois disso é a hora de

ultimamente? E o que além de

aplicar luz e sombra, e para dar esses

quadrinhos?

efeitos existem várias ferramentas de CP: O último quadrinho que consegui

pincel do Photoshop que podemos

ler foi o Retalhos que é maravilhoso.

utilizar pra dar estilos diferentes a

Agora vou começar a ler Daytriper. De

colorização. Depois de tudo pronto é só

livros mesmo, ando lendo muita coisa a

enviar pra editora, que vai colocar os

respeito de cor como “A interação da

balões de fala e enviar pra gráfica

Cor” do Josef Albers, “Da cor a cor

imprimir a revista. Todo esse trabalho é

inexistente” do Israel Pedrosa, e de

feito digitalmente e através da internet.

ficção “O guia do mochileiro das MT: O que você produz para além

galáxias”

dos quadrinhos? E onde o

Lápis: Roger Cruz

encontramos?



Mรกrio Cau


Do Ofício Comemorando dois anos de existência da Balão Editorial, Guilherme Kroll conversa rapidamente conosco sobre o oficio e a vida de um editor.


Monotipia: Para começar, como é

MT: Como você costuma (ou

sua rotina de trabalho?

prefere) receber os quadrinhos, ainda como projeto ou já

Guilherme Kroll: Bom, nós da Balão

finalizadas?

Editorial não publicamos apenas, mas também prestamos serviços editoriais,

GK: É bom chegar a um meio termo

então nossa rotina envolve lidar tanto

disso, projetos bem desenvolvidos e

com as nossas edições e distribuição

encaminhados, mas que ainda tenham

dos nossos livros com o trabalho que

margem para possíveis alterações

prestamos para outras casas

editoriais. Mas isso não acontece tão

publicadoras.

efetivamente na prática, que podemos dizer que recebemos projetos e HQs

MT: Quais suas preocupações, no

finalizadas na mesma proporção.

que se refere à formação de catálogo? E, de um modo geral, que

MT: Descreva o processo de criação

tipos de trabalhos lhe interessam?

de um dos seus produtos. (Seja livro, revista ou outro, e todos os

GK: A proposta do nosso catálogo é

eventuais pepinos inerentes à ele).

bem ampla, gostamos de dizer que publicamos o que gostamos, então

GK: Na condição ideal, recebemos o

além de quadrinhos já publicamos

original, que passa por dois processo

literatura, acadêmicos, relatos de

iniciais: preparação de texto e projeto

viagem, se lermos e gostarmos o livro

gráfico. Nessa etapa também é na qual

pode sair pela Balão Editorial.


são feitas as maiorias de alterações na

conseguirmos, para garantir um bom

MT: Quais suas perspectivas para

arte. Em seguida, o texto é aplicado ao

custo-benefício para o leitor.

2012?

diagramação, que é seguida das

MT: Por que disponibilizar para

GK: Pretendemos lançar mais 6

provas de revisão e emendas. Por

download os livros esgotados?

títulos ao longo do ano, sendo que

projeto gráfica na etapa de

último, são feitos os aparatos editorias (capa, quarta capa, orelha etc.). Basicamente é esse o nosso processo de produção. MT: Quais as suas preocupações com o quadrinho, enquanto produto? GK: Primeiro de tudo a HQ precisa ser

pelo menos 3 serão de quadrinhos. GK: Na verdade, não são só os livros esgotados que estão para download,

MT: Que quadrinhos você tem

mas também algumas edições

lido ultimamente? E o que além

exclusivas para o meio digital.

de quadrinhos?

Fazemos isso para que os livros

GK: Sou um leitor contumaz, leio

continuem a disposição dos leitores,

tudo que cai na minha mão. De

mesmo quando não há mais uma

quadrinhos, recentemente li “A

edição impressa.

Juventude”, de Hugo Pratt, estrelada pelo personagem Corto

do nosso gosto, como eu disse, ser uma HQ que gostaríamos de ler. Depois, tentamos fazer o possível para que o livro tenha o menor custo possível e com a melhor qualidade que

MT: Por que quadrinhos?

Maltese, um trabalho muito bom. Livros, tenho lido a saga “Guerra

GK: É uma questão de gosto pessoal.

dos Tronos” de George R.R. Martin,

Gostamos desse tipo de expressão

fantasia da melhor qualidade.

artística e publicamos por causa disso.


Natรกlia Tudrey, Guilherm Kroll e Flรกvia Yacubian. A equipe da Balรฃo.


www.glauco.art.br






"Melstrom" é uma adaptação visual de um dos contos do livro "crimes exemplares", de Max Aub. Amauta Editorial, 2003


Da teoria Batemos um papo com Liber Paz sobre os quadrinhos, enquanto objeto de pesquisa acadêmica. Ilustrações de Morgana Mastrianni


Monotipia: Qual a importância de

Daí vem a importância da produção

desenvolver artigos abordando os mais

uma produção teórica, em ambiente

teórica. A partir dela, podemos não

diversos assuntos.

acadêmico ou não, quadrinhos?

apenas pensar a linguagem dos

Liber Paz: Uma produção teórica sobre quadrinhos implica em pensar sobre quadrinhos. Essa é toda a questão: pensar sobre quadrinhos. Tanto no ambiente acadêmico quanto fora dele, quando alguém se senta para estudar uma obra em quadrinhos e teorizar sobre ela, essa pessoa imediatamente deve por de lado sua opinião e gostos pessoais e começar a analisar, estudar, pesquisar e refletir

quadrinhos, mas seu papel, sua posição dentro da sociedade. Trata-se de compreender a dimensão cultural dos quadrinhos.

Internacionais de Histórias em Quadrinhos, um evento realizado na

acadêmicos ou de sites especializados,

com artigos nas mais diversas áreas,

onde pessoas interessadas em

todos tendo como base histórias em

desenvolver uma crítica séria sobre

quadrinhos. Tivemos grupos discutindo

quadrinhos desenvolvem textos que

quadrinhos e sociedade, quadrinhos e

levam a reflexões mais profundas sobre

cinema, quadrinhos e cidadania,

as obras.

quadrinhos e educação, quadrinhos e

dentro de parâmetros bem definidos.

como o público vê os quadrinhos como

quadrinhos afeta a linguagem

ideia, em 2011 tivemos as I Jornadas

USP. Participaram mais de 200 pessoas

Isso é importante tanto para o modo

estudar como o layout da página de

temático recorrente. Para se ter uma

Isso pode se obter a partir de estudos

sobre as características dessa obra

Por exemplo, alguém pode querer

Por isso é difícil dizer que há um recorte

para o modo como os próprios autores avaliam sua produção e os rumos a serem seguidos.

jornalismo... Fora da academia, encontramos muitas pessoas desenvolvendo um bom trabalho de cobertura jornalística e crítica sobre histórias em quadrinhos. São sites organizados por pessoas apaixonadas

seqüencial. Ou como o desenho de

MT: No que diz respeito ao volume

por quadrinhos que divulgam notícias e

letras e balões influencia a percepção

de trabalhos realizados, seja em

comentários sobre as diversas

da história. Esses são estudos

nível de graduação ou pós-

publicações disponíveis no mercado. As

referentes à forma e à linguagem.

graduação, você identifica algum

resenhas produzidas por essas

recorte temático recorrente? E fora

pessoas variam muito de profundidade

da Academia?

e rigor de análise. Entretanto,

Mas o pesquisador também pode estudar como a figura da mulher é

encontramos ótimos textos produzidos

representada dentro da obra: de uma

LP: Dentro da academia percebo que

forma machista, feminista,

os quadrinhos acabam servindo de

preconceituosa ou crítica. Pode pensar

objeto de estudo de pesquisadores de

como diversos aspectos da sociedade

diversas áreas. Encontramos

são representados dentro dessa HQ:

estudantes de Letras, História,

política, religião, trabalho. Enfim, uma

Comunicação, Design, Artes, Sociologia

obra em quadrinhos pode servir de

e até Medicina usando histórias em

Cada vez mais pessoas se dedicam a

base para diversas possibilidades de

quadrinhos como base para

escrever com seriedade sobre

estudo.

por jornalistas, pesquisadores e que ao se dispor a escrever sobre um título, esmiúçam diversos aspectos de sua produção, as referências intertextuais, os contextos históricos e sociais.


quadrinhos e isso é muito positivo para

Os artigos e dissertações produzidas na

forma haveria um diálogo entre crítica e

a produção e apreciação dessas obras.

academia também têm pouquíssima

autor, o que poderia implicar em uma

distribuição e divulgação, o que torna

evolução do trabalho.

difícil seu acesso à maioria dos MT: Como essas questões tem

interessados.

MT: Em seu exame sobre o meio, McLoud consolida o quadrinho

afetado o “fazer” nos quadrinhos?

Talvez o material acadêmico

também como ferramenta

LP: Essa é uma pergunta que é difícil

transformado em livro tenha um alcance

paradidática. Na sua opinião, quais

de responder.

maior, mas, novamente, seria

as implicações dos usos dos

necessário fazer uma pesquisa mais

quadrinhos na educação?

O ideal seria realizar uma pesquisa e

séria para poder avaliar se e como os

perguntar aos autores se essa

autores de quadrinhos estão lendo

produção de textos afetou sua

essas publicações.

produção de alguma maneira.

LP: Acredito que os quadrinhos tenham uma importância tão grande na educação quanto outras mídias, como

Já os textos de críticas e resenhas

jornais, filmes ou seriados de TV. São

O que eu posso fazer aqui é especular

produzidos nos sites especializados

produtos culturais que podem ser

despretensiosamente.

parecem ter uma repercussão maior.

trabalhados de diversas maneiras para

Muitos autores de quadrinhos

estudar e refletir sobre diversos

aguardam com ansiedade a avaliação

assuntos.

de certos sites. Isso porque entendem

O que eu acho que deve ser evitado é

que uma avaliação positiva pode servir

pensar as histórias em quadrinhos

como um estímulo para o sucesso

apenas como ferramenta paradidática.

comercial de seus trabalhos.

Acho que elas têm muito mérito em si

Em minha opinião, a grande maioria dos autores não toma conhecimento de quando suas obras são utilizadas como base de pesquisa acadêmica, seja em artigos ou dissertações. Há casos em que os pesquisadores contatam esses autores para entrevistá-los e discutir

Há autores que efetivamente reparam

sua obra, mas muitas vezes a

na crítica como um processo reflexivo e

abordagem que o pesquisador quer dar

que podem considerá-la, ou não, na

à obra é completamente

elaboração de seus próximos trabalhos.

desinteressante para o autor.

Pensando de modo otimista, dessa

mesmas, como entretenimento, como meio de informação e reflexão e mesmo como arte. Tentar justificá-las ou pensá-las como mero apoio didático pode acabar limitando seu potencial.



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