Monotipia
Quinze.
A 15ª Monotipia chega trazendo, como de costume, diversas coisas bacanas. Mas, também como de costume, não quebraremos sua surpresa na página dois. Divirtam-se.
Martins de Castro, Editor Lila Cruz, diagramadora Capa: Dani Ribeiro [https://www.facebook.com/daniribeirosp]
Muito mais que uma matinĂŞ Marcelo e Magno Costa
Monotipia: Fale sobre sua formação, enquanto ilustrador e quadrinhista. Fizemos vários cursos voltados para as áreas tanto de ilustração quanto de quadrinhos. Eu (Magno) fiz Arte-final, ilustração infantil editorial, quadrinhos autorais e atualmente aperfeiçoo meus conhecimentos estudando colorização digital. Marcelo estudou vários softwares, como Photoshop, Illustrator e Indesign, além de ter trabalhado como designer. Atualmente ele trabalha como ilustrador. MT: Quais são as suas principais influências, no que se refere a movimentos e/ou artistas? Gostamos de quadrinhos desde criança, quando morávamos no Paraná. Não tínhamos muito acesso a isso lá, por ser uma cidade pequena e afastada de tudo. Conhecíamos mais X-men, Fantasma e um pouco do que a era publicado na época. Nossa influência maior veio da grande fase de Chris Claremont e John Byrne, de Dave Cockroom, a fase de John Romita no Homem-Aranha. Essas HQs nos moldaram. Depois conhecemos outras coisas mais interessantes, já em São Paulo. Cavaleiro das Trevas e Watchmen e o movimento europeu. Heavy Metal. MT: E no que se refere a formatos e materiais? Gosto de fazer direto no nanquim, mas não é sempre que faço assim. Uso tanto caneta descartável quanto pincel. Não me prendo a isso. Gosto de traço firme e rápido com a caneta 0.8 e traço leve e mais detalhado com a 0.1. Uso muito aquarela para concept e até nas páginas. Gosto de acrílica tambem. Geralmente acabamos os trabalhos no computador com colorização ou apenas retoques. Marcelo tem usado bastante aquarela em suas páginas. Atualmente ele tem usado carvão, acrílica e algumas vezes recortes. Fica um resultado interessante. MT: Como funciona a dinâmica no processo de tra-
balho para a produção das suas ilustrações e HQs? Tudo começa na conversa. Um de nós tem uma idéia e passa para o outro, aí começam as rafes. Eu passo muito tempo revisando cena por cena na cabeça. Quando começo o roteiro tenho tudo quase pronto já na memória. Marcelo trabalha na concepção dos personagens e cenários. É uma das partes preferidas dele. Eu desenvolvo uma parte do roteiro e já começo a fazer tumbanales e storyboards, que é a minha parte preferida. Depois dividimos os desenhos. Cada um tem um estilo bem diferente do outro e gostamos de dividir de uma forma que isso seja evidente e proposital. Cada um cuida da sua arte e da sua colorização. Marcelo faz a edição e diagramação final. É tudo trabalho em conjunto. Cada um faz seu papel. MT: Sobre Oeste Vermelho, quais foram as preocupações plásticas que orientaram a feitura dessa história? Sempre busco inspiração mais no cinema que em quadrinhos. Por isso costumo me preocupar com o desenvolvimento narrativo e no clima que eu quero passar. Houve muita conversa sobre o tom que seria feito. No começo era pra ser mais animado e colorido, mas aos poucos fomos optando pela colorização mais rustica, mas com cores bonitas. Marcelo se preocupa mais com essa parte. Foi decisão dele introduzir o vermelho na história aos poucos. Ele tem a preocupação de qual o formato final, de como será a capa e as fontes. Queriamos que fosse pequeno e bonito. Algo que você gosta de ter na sua estante e de ter sempre nas mãos. MT: Quais foram suas preocupações narrativas no que concerne ao ritmo da HQ? Queria uma narrativa lenta mas direta no começo da história. Claro que o ritmo acelera e desacelera no momento certo. Gosto muito quando os personagens agem naturalmente, sem muito angulo ou close desnecessario. Todas
as cenas foram pensadas para que não confundisse nem agredisse o leitor. Os quadros precisam conversar entre si. As páginas precisam conversar entre si. Não é um conjunto de pequenos acontecimentos que criam uma história, mas sim um acontecimento desfragmentado. Lento ou rápido, mas que caminhe para uma direção, sem se prender ao que tem que acontecer no final. A história não é uma desculpa para um final surpresa. O todo é que importa. Esses são meus princípios básicos e eu não gosto de fugir disso. MT: Quanto tempo Oeste Vermelho levou entre os primeiros rascunhos até chegar ao leitor? Começamos no meio do segundo semestre de 2008. O trabalho pegou um ritmo bom mesmo uns meses depois. Trabalhamos nela nas nossas horas de folga, pois trabalhavamos em tempo integral em outra função. Trabalhamos 2009 e 2010 nela. Terminamos a colorização e a diagramação no começo de 2011, quando entregamos para a Devir. Devido a agenda cheia da editora, ficamos o ano quase inteiro esperando por revisões e testes de impressão. O material ficou pronto no final de novembro. MT: Para além de OV, o que você fez até então em termos de hq e ilustração? Fizemos uma HQ independente chamada Matinê. Duas
páginas cada um para o projeto ainda inédito “QQ Por Amigos” de Marcelo Campos, que reinventa o personagem Quebra-Queixo. Tambem fizemos quatro páginas para o projeto Gazzara de Rafael Coutinho. Estamos trabalhando em algumas páginas para uma coletânea em quadrinhos e outros projetos gráficos, como o Calendário Pindura, Enox, Projeto Cão Falido, do Estudio Mulisha e Projeto 54 para a loja El Cabriton. MT: O que você tem produzido para além dos quadrinhos? Marcelo está trabalhando em um livro infantil. Temos artes E venda em uma loja de São Paulo. MT: Que quadrinhos você tem lido ultimamente? E o que além de quadrinhos? Marcelo está lendo Epilético de David B, Corto Maltese e o Vendedor de Armas de Hugh Laurie. Eu estou terminando Jimmy Corrigan. MT: Há projetos para 2012/13? Há um thriller de ação em uma cidade pequena que estou escrevendo, e talvez mais uma se der tempo. Mas por enquanto é só isso. Geralmente acontecem convites.
Mรกrio Cau
http://mariocau.blogspot.com
André Valente Batemos um papo com André Valente, autor dos quadrinhos ‘Bátima’, ‘Não fui eu’ e mais um mundo de coisas bacanas
Monotipia: Fale sobre sua formação, enquanto ilustrador e quadrinhista. André Valente: Eu me formei em quadrinhos na segunda turma da Fábrica de Quadrinhos (atualmente Quanta Escola de Artes), em São Paulo. Depois vim pra Brasília fazer Artes Plásticas. Fora isso, colei num monte de gente legal e enchi o saco deles até aprender alguma coisa. E passo uma boa parte do meu dia procurando novos ilustradores na internet, acho que pra sentir inveja e passar raiva, mais do que tudo. MT: Quais são as suas principais influências, no que se refere a movimentos e/ou artistas. AV: Eu gosto muito de artistas clássicos como Rembrandt, Goya, Rubens e as tartarugas ninja (tirando o Donatello, que eu não acho lá essas coisas). Nos quadrinhos eu tive uma fase meio adolescente em que fui fanático por Alan Moore e Frank Miller, e aquele lance de super-herói. Mas isso foi passando, e à medida que eles foram ficando meio chatos, eu fui crescendo e descobrindo o trabalho de caras como Daniel Clowes, Chris Ware e Seth. Tudo que aparece de novo deles eu entro na fila pra comprar. Imagino que pode ser uma fase também, mas por enquanto tô curtindo. E se tem uma influência por quem minha admiração não muda com o passar do tempo (até porque ele se renova constantemente) é o Laerte. Constantemente releio tudo que eu consigo do cara. Vivo abrindo umas Piratas do Tietê antigas e analisando quadrinho por quadrinho, ou então entrando no blog do Minotauro e voltando pro início pra ler todas as tiras. Acho a obra toda dele inesgotável. AV: E no que se refere a formatos e materiais? AV: Eu gosto mesmo é de desenhar com pincel e nanquim, de vez em quando pena. E recentemente eu peguei umas manhas com o Gabriel Góes, de ao invés de
desenhar por cima do lápis, escanear e imprimir o lápis em azul (que é fácil de tirar no photoshop). E repetir isso algumas vezes, aliás. A arte-final fica mais limpa e você não precisa usar borracha. O que acontece é que frequentemente os prazos apertam e eu tenho que correr pra terminar tudo na tablet. Pra desenhar direto no photoshop (ou pra finalizar no photoshop) eu faço, fico chateado que tá tudo muito ruim, e então consulto as centenas de sites e blogs de artistas e desenhistas que eu vejo diariamente, até conseguir ter uma ideia de soluções pros meus problemas. O estilo de finalização da capa do meu gibi Não Fui Eu, por exemplo, é tablet/ photoshop sobre lápis, e eu tive a ideia pra esse tipo de finalização vendo o trabalho de um espanhol chamado José Luis Agreda. Passei tanto tempo vendo os desenhos dele (e alguns rascunhos) que comecei a elaborar teorias de como ele finaliza, e comecei a usar isso em alguns trabalhos meus. A internet é uma coisa muito maluca, é como se você compartilhasse um escritório com centenas de desenhistas talentosíssimos todos os dias. Você pode pedir conselho pra vários, ou até ficar olhando eles trabalharem o dia inteiro e esquecer de fazer o seu próprio trabalho. MT: Como funciona a dinâmica no processo de trabalho para a produção das suas ilustrações e HQs? AV: Por alguma razão, eu nunca consegui ser um desses desenhistas que tem um estilo próprio, quase uma assinatura. Eu tenho que aprender a desenhar de novo a cada trabalho que faço, e tentar descobrir que estilo cada trabalho pede. Antes de desenhar eu tenho que escolher como vai ser o desenho, senão não sai. Tem gente que desenha como se estivesse assinando um cheque, e eu tenho muita inveja disso. Paciência.
Pras ilustrações eu tento achar o estilo mais adequado pra matéria e estudo bastante o assunto e o estilo antes de começar a desenhar. Aí o processo é o de sempre: rascunho, aprovação, lápis, arte-final, e cor (a cor é um desafio pra mim, sou daltônico e troco alguns tons de verdes e marrons). Frequentemente, nos trabalhos de ilustração, eu conto com a parceria dos meus colegas da Ilustrativa, pra que a gente divida as ilustrações em etapas e consiga terminar tudo no prazo. Pras HQs eu sou teimoso e tento fazer tudo sozinho. Eu guardo um arquivo com uma lista de ideias, e se eu tô lavando louça e tenho uma ideia pra uma história ou tira eu corro pro computador e acrescento uma linha sucinta no final da lista, só uma frase, e deixo salvo num depósito online. A minha regra pessoal é que quando começo uma nova história, preciso usar a ideia mais antiga da lista, e não a mais nova. Isso me permite esquecer e tentar descobrir a graça da historia como leitor, se é que ela existe. Eu não escrevo roteiro, eu faço uns “thumbnails” minúsculos que só eu entendo. E desenho e redesenho até ficar satisfeito. Não feliz, veja bem. Mas satisfeito. O meu processo é cheio de superstições (obsessões) malucas, como usar o mesmo lápis do princípio ao fim da mesma história, ou o mesmo pincel. Se por alguma razão eu perco o lápis ou a caneta estraga, eu me sinto na obrigação de comprar um idêntico, ou começar tudo de novo. Quando eu começo uma história, só posso trabalhar nela, até terminar – mesmo que apareça um outro trabalho. Eu tento me encher dessas regras e limitações, acho que me ajuda a ser mais disciplinado e produtivo. Durante o processo das histórias eu converso com algumas pessoas cuja opinião eu respeito, e tento desatar os nós que eu vou descobrindo na produção. Mesmo trabalhando sozinho conto com a imprescindível colaboração e a opinião de amigos e familiares. É comum que eu mostre um pedaço de alguma coisa, fora do contexto, só pra perguntar “isso aqui funciona?”, ou “tá legível?”.
MT: Qual é a do Bátima? AV: Bátima é um dos raros casos em que o “depois eu termino” acabou sendo terminado de fato. O gibi partiu de uma ideia que eu tive com o Gabriel Góes, de fazer uma história sobre um cara normal, tendo uma vida normal, vestido de Batman. Anos depois, no trabalho, eu tive uma ideia de argumento que mandei num e-mail pra mim mesmo. Em casa, separei o e-mail em doze partes e desenhei as doze páginas durante um fim de semana. Preparei as páginas pretas e fui preenchendo com branco. Tudo bem rápido. E aí eu tive um bloqueio, porque não conseguia encaixar o texto. Eu tentei várias vezes, por alguns anos, até conseguir chegar no texto final. Consegui uma máquina de escrever antiga com a minha sogra pra fazer o letreiramento, e quando eu vi tinha um gibi pronto. Entrei em contato com os meus amigos da Samba, que disseram que estavam planejando começar uma linha de mini-gibis, e já que esse estava pronto, podiam começar com o meu. Minha parte favorita do gibi é que cada pessoa que lê inventa sua própria interpretação da história. É muito gratificante ver as pessoas encontrando uma história além daquilo que você escreveu e desenhou. MT: Fale sobre a “Não Fui Eu”. AV: Acho que todo quadrinista fica imaginando como seria a sua Piratas, ou a sua Chiclete com Banana. Eu passei muito tempo sonhando com o meu gibi, sem nunca realmente começar a fazê-lo. Eu até tinha inventado que ele se chamaria Não Fui Eu, e tinha contado pra alguns amigos. No dia em que comprei a passagem pra Rio Comicon, pra ir lançar a Bátima, eu fui conversar com a minha amiga Bebel Abreu no Gmail e ela quis saber se eu tinha meu projeto de gibi pronto pra lançar também. No fim da conversa ela me propôs comprar uma cota das edições do gibi (o que
pagaria a impressão), se eu conseguisse terminá-lo a tempo (menos de um mês). Foi o maior desafio que eu já enfrentei em quadrinhos, fazer um gibi inteiro de 36 páginas em um mês (acabou que eu usei algumas histórias que eu já tinha começado, como a Coelho, que foi proposta naquele concurso de novelas gráficas da Barba Negra e não foi nem finalista), mas no fim das contas foi uma escola. Passei uma semana sem dormir pra conseguir terminar no prazo. Até acho que consegui fazer um gibi que eu gostaria de ler, a minha versão meio torta da Eightball do Daniel Clowes. E ainda tem o desafio dos Bitous. Quem consegue identificar as músicas aportuguesadas dos Beatles que aparecem em uma história ganha um desenho original. Já apareceram uns seis beatlemaníacos que acertaram tudo. Eu sempre gostei de livros e revistas que obrigam uma segunda leitura, que continuam depois que as histórias acabam. MT: Fale também sobre os quadrinhos que tem publicado em seu blog AV: Eu queria fazer meu site, mas site de quadrinhos sem
conteúdo atualizado constantemente acaba sendo esquecido. Outra é que eu não tenho disciplina pra produzir o tempo todo, então eu inventei um esquema de atualização pro site que me obrigasse a fazer quadrinhos sem parar. Antes de lançar o site eu passei um tempo produzindo pra ter um espaço entre o que vai pro ar e o que eu ainda tô fazendo. Quando lancei tinha uns quatro, cinco meses de folga. Hoje só tenho uma semana. Mas aí é só sentar, pegar aquela lista de ideias, e fazer mais uma. Também acho que o formato ainda não é o ideal. Descobri que eu não sei fazer tirinha, pelo menos não o tempo todo. Eu ando fazendo histórias completas e dividindo elas em partes. Não tem muita graça, mas se você acompanha talvez seja mais recompensador do que ler a história de uma vez só. Sei lá. Eu achava que ia ter mais retorno antes da história acabar, e que isso poderia influenciar as histórias e o curso delas. Mas não acontece nada disso. Acho que em tempo de facebook e twitter as pessoas não comentam mais nos blogs. MT: O que você tem produzido para além dos quadrinhos? AV: Eu produzi meu segundo filho, Bento. Nasceu faz menos de um mês. E o meu primeiro filho, Augusto, tem dois anos e ainda não deixou de dar trabalho. Além de quadrinhos e do trabalho, só tenho tempo pra eles. MT: Que quadrinhos você tem lido ultimamente? E o que além de quadrinhos? AV: Os últimos quadrinhos que eu li foram X-Ed Out do Charles Burns (maravilhoso) e o livro do ET do Mutarelli (sensacional). Tô na metade do The Filth do Grant Morrisson, mas esse tá me dando um certo trabalho, não tá sendo muito prazeroso. De literatura, eu tô no meio do Blood Meridian do Cormac McCarthy, e esse eu tô demorando porque acho bom demais. Quero ler com calma. MT: Há projetos (físicos ou virtuais) para este ano? AV: Eu preciso fazer a Não Fui Eu 2, e se tempo e dinheiro colaborarem, a Não Fui Eu 3. Empolgação não falta. E eu tenho um projeto de novela gráfica que tá inacabado. O ideal seria terminar esses três, mas com o bebê no colo não sei se vou conseguir. O que eu garanto é que o site vai continuar sendo atualizado terças e quintas. Mesmo que nem sempre tenha muita graça.
Leia mais sobre o trabalho do André Valente em http://oandrevalente.com
Lila Cruz @colorlilas
colorlilas.com
Rafael Dourado @sapobhothers
www.sapobrothers.net
Marco Oliveira @marc_liveira
www.verdosehomeopatica.com
Felipe Assunção @_botamem www.botamem.com
Rafael Marçal @rafaelmarcal
http://profeticos.net
Murilo Souza @eu_tu_itter
http://cavandocomacolher.blogspot.com
Mauricio Rett @mauriciorett
Wes Samp @oslevados
www.cartunista.com.br
www.oslevadosdabreca.com