Morganna Batista (@morgannab)
www.aruadosbobos.org
XXI Esta edição marca a volta das artes cênicas às nossas páginas. Muita coisa boa vem por aí. Martins de Castro Monalisa Marques editores Artur Rocha (capa) www.monotipia.com www.facebook.com/monotipia revista@monotipia.com @monotipia
Pat Duarte (@patduarte) criaturasdaminhamente.blogspot.com
O Esp铆rito n么made do
AMOK Monalisa Marques (@monalisamarques) Fotos de Pedro Henrique Barros
Atrás duma fachada charmosa numa rua de Botafogo, bairro do Rio de Janeiro, um país inteiro vive. Rodeado por paredes de tijolos e sob um pé direito que nos permitiria empilhar as memórias de uma vida, existe o Amok, e não existe em vão. Companhia teatral carioca temperada pelo sotaque francês de Stephane Brodt e pela doçura de Ana Teixeira, os diretores, o Amok segue a lógica típica de um teatro de grupo genuíno: regida por valores bem diferentes de um teatro puramente comercial. Aqui, sobre o piso de madeira, ao lado de uma icônica cortina vermelha, os valores de mercado só existem enquanto objetos de estudo. “O quê precisa ser dito” é a premissa que dá início a cada um dos seus trabalhos. O primeiro espetáculo estreou em 1998, mas só em 2003 sua casa foi inaugurada. A Casa do Amok foi comprada com o dinheiro recebido num prêmio do Governo do Estado do Rio de Janeiro pelo espetáculo “Carrasco”. Ana conta como foi ganhar algo assim numa época em que políticas de cultura não passavam de possibilidades:
– Apesar de ser um prêmio pessoal, quem o pagou foi o contribuinte do Rio de Janeiro, e por isso encaramos esse espaço como um lugar de acolhimento. Desde a fundação, nossa casa acolhe quem não tem acesso a uma formação de qualidade, a um espaço de trabalho. Todas as nossas oficinas, quando não são gratuitas, tem uma cota de bolsa. É uma maneira de darmos retorno. Quem assiste a uma peça do Amok tem a impressão de que vê a pontinha de um iceberg. É o que se espera de um grupo que trabalha com valores como permanência, continuidade e perseverança. Os espetáculos são obviamente importantes, mas são objetos efêmeros e pontuais. Por trás de cada um deles estão tempos longos de exploração e pesquisa. Nas palavras de Ana, “um projeto de companhia não se resume à produção de espetáculos”: – Um projeto de grupo vê a atividade teatral como uma coisa muito mais ampla, que envolve muito mais atividades. A formação dos atores, por exemplo, é muito importante. Eu diria que sou mais pedagoga que diretora de teatro,
até porque os processos de direção estão ancorados num processo pedagógico. Cada novo projeto é um novo desafio que nos obriga a procurar outros caminhos. Não há como escapar. Uma nova linguagem cria a necessidade de buscar novos caminhos, novos atores, nova formação. Partindo sempre do princípio de que teatro não é cópia da realidade, e sim transposição, o grupo cria suas peças. Pergunta-se sobre o que quer dizer e o que precisa ser dito, dá início às suas pesquisas e consegue material suficiente para mais de um espetáculo. Foi assim com a Trilogia da Guerra, conjunto de três peças que trazem a temática dos conflitos à tona. Antes dela veio o Ciclo das Sombras, também composto por três espetáculos que exploravam o lado sombrio do ser humano. No Amok, cada peça tem um antes e um depois: antes dela está o trabalho de investigação sobre o tema, e depois, no maior estilo “trupe teatral”, vem a circulação: – A gente ama viajar com os espetáculos, a gente ama o interior. Estamos sempre envolvidos em projetos de descentralização, porque acreditamos que um espetáculo é feito para andar, e não ficar limitado à zona sul do Rio. A gente ama ir para a estrada, ao encontro do público – Ana conta com os olhos brilhando. As apresentações da Trilogia da Guerra no Rio se encerraram em agosto, e agora vai ter Amok
em Paraty, em Bom Jardim e em Edimburgo, na Escócia. Quando a circulação terminar, volta o período de pesquisa; dessa vez, o tema é o “ritual”, que diz muito sobre como o grupo lida com o seu trabalho. – Temos em vista um texto com o qual gostaríamos de trabalhar. Ele abre esse lugar fértil para a gente investigar as relações entre cena e ritual, que já é uma coisa bem próxima. Nossa maneira de abordar a cena é cerimonial. Nós a encaramos como um espaço nobre onde revelamos a humanidade, aquilo que nos liga entre seres humanos. Um espaço muito importante, que não podemos abordar de maneira banal, sem cerimônia. Grupo com casa fixa e espírito nômade, o Amok também já falou sobre ciganos. “Savina” nasceu entre o Ciclo das Sombras e a Trilogia de Guerra, do “desejo de mergulhar no outro, no que é diferente”. – O teatro é sempre um país estrangeiro, e o cigano talvez seja o que mais revela isso. Para nós ele é o outro, e para eles nós somos os gadjés, ou seja, “aqueles que não são ciganos”. Esse lugar da viagem, onde as alteridades podem se manifestar,
é a nossa maior riqueza no teatro e sempre nos leva a experiências muito bonitas porque acaba repercutindo fora do espaço teatral. À noite, a Casa do Amok é reservada para grupos jovens apoiados pela companhia. Quando chegamos para a entrevista, Ana foi simpática, puxou umas cadeiras e, olhando para o chão de madeira, um pouco sujo, e se perguntou quem o teria deixado assim. – A gente entra aqui para trabalhar, para entrar num processo de criação ou pesquisa, por isso ele é abordado de uma forma muito cuidadosa. É um espaço de concentração, de revelação e superação. O solo é um suporte para o trabalho do ator, assim como a tela é para o pintor. Aqui a gente não entra de sapato, a gente não fuma, não come, não bate papo – ela explicou, com a voz doce, e eu me senti culpada por ainda estar calçada e ter marcado a entrevista ali. Conheça mais do trabalho do Amok em www.amokteatro.com.br
Mario Cau (@mariocau) mariocau.blogspot.com
Maria Paula (@mpaulafd) mariapaulafd.tumblr.com
Rafael Dourado @sapobrothers
www.sapobrothers.net
SUA CONTA NO FACEBOOK FOI APAGADA ACIDENTALMENTE!
Juliano Rocha @juliamo_tiras
www.capitaobrasil.com.br
em meio ao caos surge uma esperança, seu nome:
não! o pirulito é meu!
Felipe Soares @_botamem
CB
oi!
B
B
...porque se soubéssemos, mandaríamos ele de volta!
eu vou resolver isso!
calma crianças!
é meu... é meu!!
capitaobrasil.com.br
B
capitaobrasil.com.br
B
não sabemos ao certo de onde veio ou quem mandou...
B
sem pirulito! sem briga!
B
www.botamem.com
CB
Jussara Gonzo (@hqexperimental) quadrinhosgonzo.wordpress.com
Ricardo Coimbra (@coimbraricardo) vidaeobrademimmesmo.blogspot.com
Visualizando Citações Releituras literárias em forma de Histórias em Quadrinhos Milena Azevedo (@MilenaAzevedo)
As primeiras histórias em quadrinhos tinham apenas o intuito de divertir o leitor e ganharam uma seção específica nos jornais diários. Os personagens dessas histórias sofreram forte massificação, impregnando-se de tal forma no imaginário popular, que passaram a ser publicados em revistas próprias, nas quais era possível se trabalhar melhor as tramas e o desenho, seduzindo os leitores tal qual Sherazade, sempre afoitos pela continuação das aventuras. Partindo do princípio de que as histórias em quadrinhos eram tão somente uma cultura de massa, alienante e facilmente manipulável, muitos literatos e acadêmicos passaram a combatê-las, fazendo leituras superficiais e generalizações equivocadas, construindo uma
imagem pejorativa em torno das mesmas. Essa imagem negativa, infelizmente, foi ganhando corpo e adeptos ao longo dos anos, distanciando as histórias em quadrinhos das artes ditas maiores, como a literatura. Foi Adolfo Aizen, entusiasta dos quadrinhos e presidente da extinta EBAL – Editora Brasil-América, um dos primeiros a perceber que ao fazer a quadrinização de um romance, estaria estimulando os jovens a conhecer as obras originais (ele sempre frisava que a adaptação não substituía a leitura dos livros). Através da coleção Edição Maravilhosa, publicada entre as décadas de 1940 e 1970, Aizen abriu o caminho à leitura de José Lins do Rego, José de Alencar, Jorge Amado, Alexandre Dumas, Júlio Verne e
Victor Hugo, por exemplo. Tomando como base a proposta de Aizen de unir literatura e quadrinhos, e procurando acentuar a riqueza semiótica presente na arte sequencial, para usar o termo cunhado por Will Eisner, um dos mestres e grande teórico dessa mídia, nasceu o projeto Visualizando Citações. O Visualizando Citações propõe releituras livres de pequenos trechos das obras de renomados escritores nacionais e estrangeiros, como José Saramago, Hermann Hesse, Caio Fernando Abreu, Luís Fernando Veríssimo, Ana Paula Maia, Goethe, Balzac, Lawrence Durrell, Umberto Eco, Jack Kerouac, Jean Paul Sartre, entre outros, nas quais as palavras são retiradas de seus contextos
originais e apresentadas em formato de tramas curtas (de uma a três páginas) de histórias em quadrinhos em preto-e-branco. As histórias desse projeto foram idealizadas e roteirizadas por Milena Azevedo, contando com um desenhista diferente (de várias cidades brasileiras e um angolano, residente em Lisboa) para cada HQ, que estão sendo feitas a custo zero e distribuídas bimestralmente na internet, de forma gratuita, durante o ano de 2012. O Visualizando Citações vem recebendo elogios de artistas, jornalistas especializados e escritores, como a carioca Ana Paula Maia, que teve um trecho de seu livro Entre rinhas de cachorros e porcos abatidos adaptado na segunda
edição, publicada no final do mês de julho: “É sensível a releitura de trechos literários que destacados se aplicam a situações jamais pretendidas. Dessa forma, fica claro que as palavras se recriam de acordo com o olhar do indivíduo, de cada artista.” No blog do projeto é possível acompanhar, além das edições, o processo de criação de cada história, através de uma breve descrição da obra original, trazendo ainda referências e esboços. É bem provável que em 2013 o Visualizando Citações seja impresso e comercializado nas comic shops e em eventos de quadrinhos nacionais. Conheça melhor o projeto em provc.blogspot.com.br