Monotipia37

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12

A. Constança

04

André Lasak

26

Eduardo Araújo

40

Vini Visentini

46

Vencys Lao

74

Emerson Wiskow

58

Tibúrcio

77

78

Patrícia Figueiredo

Melina França, Milena Azevedo e Analu Medeiros

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XXXVII Chegamos ao quarto verĂŁo da Monotipia. Que venham outros. :^)

Martins de Castro Editor PatrĂ­cia Figueiredo (Capa)

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Sobre a Monotipia


AndrĂŠ Lasak https://www.facebook.com/quimeraufana



O BARCO


ESPERO AGUARDO VENERO A O O VÉSPERA TEMPO VENTO A QUE QUE NÊSPERA FOR LEVA DO NECESSÁRIO O MAIS PARA BARCO SINGELO ENFIM AO NOME ESQUECER HORIZONTE QUE DE MESMO UM QUE QUE DIA TAMBÉM SEJA JÁ SOU UM FOI UM POUCO ONTEM ESTRANHO TARDE

TAMBÉM ESPERO QUE ONTEM NÃO SEJA IGUAL A HOJE. POR MAIS QUE O VENTO ME LEVE NA DIREÇÃO CONTRÁRIA, O TEMPO ME LANÇA AO AMANHÃ.


DOS QUADROS


Pintados a

QUADROS

ÊSMO Com simples ROSAS Em tons PASTEL Natureza Porém

MORTA

VIVA Em grandes telas de pintores dotados.

QUADROS PINTADOS Talvez com TINTAS Dádivas maléficas dos endemoniados.


LUZES NO ESCURO


Luzes no escuro Iluminando Trevas Trovas Trevos Trovões Luzes no escuro Apagando Acendendo Apagando Acendendo Trevas Trovas Trevos Trovões Luzes no escuro Temendo Meditando Sofrendo ... ... Retornando Obedecendo Simétricas Ordens Leituras Assimétricas Acabando Terminando Encerrando Finalizando Adeus.


A. Constanรงa http://aconstanca.tumblr.com/



Monotpia: Fale sobre sua formação, enquanto artista gráfica/ visual A. Contança: Sou licenciada em Artes Plásticas – Pintura, pela Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto, sendo que no último ano da licenciatura estive em Praga, República Checa, na Akademie Vytvarnchy Umeni v Praze (AVU), no âmbito do programa Sócrates-Erasmus. Quando regressei ao Porto em 2008, fiz uma pós-graduação em Gestão Cultural na Universidade Portucalense Infante D. Henrique do Porto, que me abriu portas para uma vida profissional. Neste momento estou a finalizar a dissertação do Mestrado em Ilustração e Animação no Instituto Politécnico do Cávado e do Ave, em Barcelos. Concluí a componente prática do projecto de mestrado com a ilustração de 50 Greguerías do Ramón Gómez de la Serna; numa investigação em torno da passagem da metáfora literária à metáfora visual. O meu trabalho artístico desenvolvese nas áreas da Pintura, do Desenho e da Ilustração. Comecei a participar em exposições individuais e colectivas em 2006, tendo realizado algumas oficinas e apresentações sobre ilustração.




MT: Quais influências, no que se refere a movimentos e/ou artistas, você identifica no seu trabalho? A.C: As minhas maiores influências provêm dos Movimentos da História da Arte Moderna, das Vanguardas Artísticas Europeias, da colagem, do desenho e da pintura, passando pela prática da poesia visual até à Arte Contemporânea. Destaco nomes como Marcel Duchamp, Mário Botas, Egon Schiele, Anselm Kiefer e Mark Rothko. Na ilustração de autor, acompanho o trabalho de: Pep Carrió, Franco Matticchio, Tiago Manuel. Na ilustração infantil e editorial, André Letria, Jon Klassen, Oliver Jeffers, Paloma Valdívia, Shaun Tan, Elena Odriozola e os trabalhos desenvolvidos pela editora Planeta Tangerina.


MT: Há alguma predileção no que se refere a formatos e materiais? A.C: Gosto de trabalhar em aguarela sobre papel. O uso da tinta-da-china e a possibilidade de obter uma vasta gama de cinzentos e das suas gradações até ao negro absoluto liberta-me da procura de outros materiais que possam exigir tempos de secagem e espera. Gosto do imediato na ilustração. De poder avançar com uma ideia e torná-la num trabalho final. Mas tenho saudades de trabalhar em tela, de pintar a óleo e a acrílico. Sinto que o meu trabalho precisa de passar para um formato maior. Retomar a Pintura.




MT: Conte sobre a dinâmica de produção de seus trabalhos. A.C: Valorizo o trabalho em atelier, o de reunir as pesquisas, leituras, prática e experiências para, quando me sento na secretária, iniciar uma nova série de trabalhos. Por vezes, passo os olhos nos textos, nos poemas e nas imagens que tenho guardadas no computador. Abro os livros de outros ilustradores como que para me libertar de vícios e saber filtrar o mais importante. O diário gráfico é também precioso, para o registo e a organização mental de uma ideia antes de começar a trabalhá-la. Depois, gosto de ter o material organizado sempre da mesma forma: as tintas, os frascos com água, os pincéis, panos e papéis. Sóassim posso começar. Tenho sentido mais a necessidade de usar o lápis. Até há uns tempos usava a caneta e o marcador directamente sobre o papel, muitas das vezes sem esboço prévio. Agora não, talvez até por uma questão de melhor organizar o tempo, convidei o lápis para o papel. Depois parto para as manchas, para as transparências e velaturas para, no final, voltar à caneta e ao marcador. Trabalho, por norma, num registo tradicional, com o papel. A passagem para o formato digital ocorre com o Photoshop, onde posso pontualmente saturar ou contrastar alguma cor, para fins


de divulgação, catalogação ou arquivo. O processo ou a dinâmica criativa para a elaboração dos trabalhos decorre de um conjunto de desenhos e divide-se no que posso denominar por três grupos: a cor, a mancha e as personagens. Estes são de alguma forma diferenciados, mesmo que tenham uma leitura contínua. Alguns trabalhos caracterizam-se pela cor mais pura e saturada da aguarela, tendendo para uma mancha mais transparente, simplificada e maioritariamente feita a tinta-da-china. Os do grupo das personagens aparecem e evidenciam-se pelas expressões de afectos, nostalgia e introspecção, com uma certa melancolia intemporal. Os restantes casos divergem pela figura masculina, que reaparece sempre como a mesma ou em consolidação com a figura feminina. Esta última é quase sempre um auto-retrato, nas suas

diferentes manifestações emocionais. Aqui, a linha é mais evidenciada, tanto no trabalho exaustivo de pormenores como do cabelo ou passando pela linha de contorno, delimitando-a a um espaço, a um momento, numa captação de um simbolismo emocional. O rosto é por vezes ocultado, mas as características do retrato e do autoretrato permanecem, sublinhando uma vez mais a intenção de ficar numa eterna ligação à poesia, pela sugestão de sentimentos, mais do que pela representação figurativa. Os trabalhos com mancha, ou tendencialmente mais abstractos, são o veículo do meu olhar para uma interacção entre a interpretação e a visão que tenho da realidade. Gosto que funcionem como um trabalho centrado na folha de papel, como uma captação do momento instantâneo, preso e fora do tempo.



MT: Por que artes gráficas/ visuais? A.C: É uma necessidade pura e dura.

MT: O que você tem lido ultimamente? A.C: Para além da investigação para o Mestrado, acabo de ler “A realidade do artista”, de Mark Rothko. Na mala está o “Ficções” do Jorge Luís Borges e na mesinha de cabeceira as actas do colóquio “Arte e Melancolia”, numa edição da Universidade Nova de Lisboa.



Eduardo AraĂşjo



Monotipia: Fale sobre sua formação, enquanto artista gráfico/ visual Eduardo Araújo: Me formei em Artes Visuais na PUC-Campinas em 2011, mas já fazia aulas de desenho desde os 16 anos. Considero que comecei a levar a minha produção com mais seriedade em 2010, foi quando determinei de maneira mais clara o conceito dos meus trabalhos tentando estabelecer uma poética pessoal, que de certo modo é a que eu ainda sigo até agora.




MT: Quais influências, no que se refere a movimentos e/ou artistas, você identifica no seu trabalho? EA: Acho que posso falar melhor em artistas do que em movimentos específicos. Atualmente, os artistas que mais me influenciam são: William Kentridge, Albrecht Dürer, William Blake, Andreas Versalius, André Breton e James Castle, um artista que infelizmente é muito pouco conhecido. Fora, é claro, alguns amigos artistas aqui de Campinas, em especial dois que muito me influenciam com seus trabalhos: Filipe Guimarães e Kauê Garcia.


MT: Há alguma predileção no que se refere a formatos e materiais? EA: Não há necessariamente uma imposição de formatos e técnicas em minhas obras, embora eu me utilize muito da pintura (guache) como matéria prima em meus trabalhos, principalmente por ser a maneira com a qual consigo materializar de modo mais objetivo minhas ideias, mas eralmente eu a uso mais como um meio do que como um fim na obra.




MT: Conte sobre a dinâmica de produção de seus trabalhos. EA: Parte da minha poética visual e conceitual vem da ideia de fragmentação do processo da obra. Geralmente eu inicio com uma referência fotográfica, que é transformada em desenho, depois pintura, e o produto final é de preferência uma impressão digital reticulada desse registro. Em outros casos (principalmente quando a foto de referência é feita por mim) eu utilizo a pintura ou o desenho como formato final, por uma questão de comprometimento com o suporte ou quando não vejo a necessidade da tradução de técnicas como recurso expressivo.


MT: Por que artes gráficas/ visuais? EA: Porque é por onde consigo dizer o que me parece importante, da maneira como eu penso e apreendo minhas experiências pessoais, e que talvez possam ser parte do inconsciente coletivo. Pode parecer piegas, mas concordo com Nietzsche quando ele diz: “A existência do mundo só se justifica como fenômeno estético”.



MT: O que você tem lido ultimamente? EA: No momento estou lendo “Com a graça de Deus – Leitura fiel do evangelho inspirada no humor de Jesus”, de Fernando Sabino. Mas ultimamente tenho lido bastante os textos socráticos de Platão, Carl Jung, Santo Agostinho e Nietzsche, que de certo modo são as principais referências bibliográficas em minha atual produção.


http://odemiurgo.tumblr.com/








Vencys Lao http://www.igoro.com.br/



Monotipia: Fale sobre sua formação, enquanto quadrinista Vencys Lao: Me apaixonei por quadrinhos por conta dos desenhos animados e especialmente por conta do Cinema! Quando era muleque amava ver filmes, qualquer um que passasse na tv eu corria pra ver! E por isso encontrei no quadrinho o modo de fazer meus “filmes”. Tinha por volta de 1314 anos quando comecei a traduzir os filmes em formato de quadrinho, bastava assistir o filme uma ou duas vezes seguidas e já decorava a maior parte dos dialogos! Curtia muito inventar coisas novas que achava que iam melhorar minhas adaptações. Lembro que adaptei pra quadrinhos, MIB homens de Preto e Batman (infelizmente juntei o Batman eternamente e o Batman & Robin, ambos do Joel Schumacher), lembro que fiz duas adaptações de Titanic (hahahah). A primeira

versão foi a que criei em cima dos artigos que eu lia e a segunda foi depois de ver o Filme do James Cameron. Apesar desses títulos, esses filmes foram a minha primeira escola. Foi depois de adaptar esses filmes que fiquei com vontade de criar algo meu, e na época eu estava muito viciado em desenhos japoneses e decidi criar minha propria série. Com meus personagens e minha história apesar de ser influenciado diretamente por Yu Yu Hakusho. Foi depois disso que decidi que era hora de começar a fazer cursos. Estudei ilustração de Mercado com o mestre Mario Cau na Pandora em Campinas e Estudei animação tradicional na artacademia em São Paulo.




MT: Quais influências, no que se refere a movimentos e/ou artistas,você identifica no seu trabalho? VL: Como disse, desde pequeno eu curtia muito animação. Minha influencia vem daí! Sempre assistia os curtas de Walt Disney e depois conheci o japones mais foda da terra, Hayao Miyazaki! Assim como esses dois lendários artistas que ainda me influenciam, tem o Chris Sanders que tem muita fofura nos traços dele e Enrico Casarosa que tem um traço desleixado mas que passa muita vivacidade e movimento aos seus desenhos. Amo a aquarela simples que ele e o Miyazaki fazem. Hoje em dia tem muitos artistas na internet, que me inspiram e influenciam, não tem como citar todos. Mas não são somente artistas que me influenciam, mas música também. As vezes ouço uma música e fico via jando em como poderia fazer uma animação com um determinado trecho de musica. As vezes isso vira um projeto tipo o Dia do Porko e ou ficam só na imaginação. Uma vez o Mario (Cau) me disse que o artista não deve ser uma ilha. E infelizmente eu era assim! Essas adapatações que fiz, só foram vistas por meus familiares e meus amigos mais próximos.

Estudando com o Mario, eu comecei a conhecer outros artistas. Brasileiros fantásticos! E descobri que tem muita gente foda aqui no Brasil e que é possivel fazer quadrinhos aqui no Brasil. Das minhas várias inspirações brasileiras, não tem como puxar uma sardinha pro Mestre Cau, as aulas dele sempre foram inspiradoras. Aprendi muito com ele. Outros quadrinhistas como Paulo Crumbim e Cristina Eiko, Vitor Cafaggi, Edu Medeiros e Gustavo Duarte me inspiram e me dizem que não é preciso fazer quadrinhos com traço americano ou mangá! Que o cartoon é bem aceito! Sempre vou nos quadrinhos desses caras, ou na pastinha de ilustrações que tenho no meu computador pra me inspirar sempre que preciso! Artistas franceses, espanhois e japoneses me influenciam tbm. A lista é bem grande! hahahah



MT: Há alguma predileção no que se refere a formatos e materiais? VL: Sim! Tenho uma preferencia pra trabalho digital, prq é mais “fácil” pra mim. Apanho demais de materiais como Nanquim e tinta. Ainda quero fazer um curso pra aprender a pintar a aquarela.

MT: Conte sobre a dinâmica de produção das suas ilustrações, HQs e outros trabalhos. VL: Meu processo sempre é o mesmo! Seja pra ilustração ou Quadrinhos. Um tempo atrás, eu fazia tudo no FLASH (versão MX), tudo mesmo! Desde Sketch até a colorização. Aplicava um efeito de finalização no photoshop. O Macacada Urbana foi feito nesse processo. O Dia do Porko começou pelo Photoshop. Com os thumbnails. Como meus thumbs estavam bem detalhado nem passei pra parte do esboço, peguei eles aumentei e arte-finalizei no Flash. As ultimas ilustrações que posteis nos meus sites e redes sociais, foram feitas todas no Photoshop!


MT: Quais costumam ser suas preocupações narrativas, no que concerne à construção de um ritmo visual, em suas HQs? VL: Sempre é um desafio contar uma história somente com imagens. Mas criar histórias com imagens é o melhor modo do artista praticar narrativa. E mesmo usando balões e diálogos, essa parte de contar a história com imagens tem que continuar. Esse é um ponto forte que me dediquei e peguei o jeito depois do curso de animação. Pra mim, valeu o curso de animação já que em curta metragem o processo é o mesmo e não usamos dublagem, somente atuação do personagem.

MT: O que você tem produzido para além dos quadrinhos? VL: Quando não estou criando quadrinhos, estou trabalhando com ilustração e animação. Como o mercado pra animação tradicional está quase fechado, eu trampo pra area de animação Cut-Out. Nesse exato momento, estou trampando no meu curta metragem pro TCC da ArtAcademia e me decidindo entre três idéias pro meu próximo quadrinho.



MT: Por que quadrinhos? VL: Pergunta difícil! Mas deve ser pela paixão de contar histórias. Levar um sorriso no rosto do leitor. Quadrinhos é gostoso demais.

MT: Que quadrinhos você tem lido ultimamente? E o que além deles? VL: Estou revendo os trampos do Akira Toryama e do Boulet. Também estou lendo os quadrinhos independentes que trouxe do FIQ2013. Já vi o Imbróglio do Cayo Yo, A entendiante vida de Morte Crens do Gustavo Borges, Quadrinho A2 - vol 03, Valente por opção e Monstros do Fabio Coala. Ah! Vi tbm o Remy da Julia Bax! Foda pra caralho! Alem de quadrinhos, estou lendo Walt Disney o triunfo da imaginação americana do Neal Gabler e o Livro A Magia da Pixar do David A. Price.



Tiburcio https://www.facebook.com/MeuMonarcaFavorito



MT: Fale sobre sua formação, enquanto ilustrador e quadrinista. Tibúrcio: Desenho desde criança – meus pais diziam que com 2 anos de idade já o fazia, sem saber segurar o lápis ainda! – e tive a graça de ter uma tia muito querida que era secretária e taquigrafa. Por causa disso ela gastava muito papel, somente em um dos lados. Ela então me enviava todo esse papel de rascunho e eu desenhava no lado em branco. Era muito papel. Por causa desse detalhe – fartura de papel – eu pude desenhar muito quando criança. Tive também um professor no ensino fundamental – Adolpho de Carvalho – que me fez ganhar muita confiança no meu traço e consegui por intermédio dele publicar meu primeiro cartum em 1977. então com 14 anos em um (que hoje chamaríamos de fanzine) gibi chamado “Traço 2” aqui de Niterói. Depois - ainda menor de idade comecei a publicar no suplemento infantil PINGO DE GENTE que vinha encartado no jornal niteroiense O FLUMINENSE. De inicio publicava cartuns, mas em seguida passei a publicar tiras e posteriormente a convite da editora Nina Rita eu passei a produzir a pagina 2 do suplemento onde antes vinha uma HQ da Mônica. E passei a receber por isso. Minha origem então passa pelo

quadrinho. Antes de entrar para a universidade – no caso a EBA UFRJ - eu já publicava uma pagina dominical. Apesar desse inicio bem quadrinhesco, ao me desligar do jornal descobri que não havia muito espaço para o que eu fazia em termos de quadrinho, digamos que eu apesar de desenhar bastante não tinha um trabalho tão bem acabado, e isso me fez migrar para o campo da ilustração que na época, (anos 80) era muito vasto e promissor. Os jornais e impressos eram em sua maioria em preto e branco e necessitavam encher seus buracos com ilustrações sempre. O meu material era papel e caneta futura. Era preciso ir às redações dos jornais e muitas vezes fazer na hora o material, recebia-se na hora e em dinheiro... uma beleza. Resumindo: Minha formação tem uma parte acadêmica mas tem também uma grande parte no trabalho mesmo, elas se mesclam. Uma curiosidade da questão da formação acadêmica e que na MAD por exemplo eu era dos poucos cartunistas que colocavam overlay (papel manteiga sobre as artes para proteger), isso eu aprendi na universidade.



MT: Quais influências, no que se refere a movimentos e/ou artistas,você identifica no seu trabalho? TB: Acho que de cara se percebe a influencia do HERGÉ no meu trabalho, ou seja da Escola Belga. Eu diria que hoje temos aí Hergé, Uderzo, Disney, F.Ibanez, Mort Walker, os desenhistas dos quadrinhos que eu lia, que era Recruta Zero, Mortadelo e alaminho, Asterix, Tintim. Como hoje sou menos preguiçoso, dá pra ver bem mais nitidamente a influencia do Hergé do que dos outros artistas. Tenho influencia do Laerte também, mas só no traço dos anos 80, nos tempos da Circo.

MT: Há alguma predileção no que se refere a formatos e materiais? TB: Trabalho hoje com papel sufite e uma caneta V5 da Pilot ou similar. Escaneio e pinto as imagens em Photoshop e finalizo a parte de texto no Corel ( apesar do protesto dos colegas) e essa segunda parte feita no computador - costuma ser a mais demorada.

MT: Conte sobre a dinâmica de produção das suas ilustrações e HQs. TB: Sou enquanto ilustrador, um ilustrador interpretativo. Isso significa que eu leio os artigos e os interpreto nas minhas ilustrações, eu não costumo render no formato publicitário onde o brieffing vem pronto pelo chefe de arte. Gosto de ler, refletir e construir a imagem a partir do meu próprio entendimento. Isso quer dizer que preciso saber interpretar os textos para poder fazer um bom trabalho. Essa capacidade me permite fazer – e faço bem – a “conversão” de um texto corrido para uma HQ já que lido com as duas linguagens. Nos quadrinhos, quando trabalho com os de entretenimento como o Monarca, procuro trabalhar desde o storyline até o desmembramento em resumos das tiras e seus desenvolvimentos nos quadrinhos em si, revisão (com o Lasak) e posterior construção da arte. O próximo lote de tiras do Monarca compreende umas 30 tiras mas se vc me perguntar não vou saber te dizer como é a tira 22, está anotado lá mas eu mesmo não lembro. Me perco nas gags e piadas específicas. Por isso que um leitor certa vez disse que eram tantas referências numa mesma tira que ficou tonto. :)



MT: Quais costumam ser suas preocupações narrativas, no que concerne à construção de um ritmo visual, em suas HQs? TB: Costumo pensar que uma HQ precisa ser entendida ate por quem não tem o habito de ler HQs, então eu priorizo a legibilidade. Até porque eu costumo lidar com temas mais difíceis como no caso do Monarca, e preciso nesse caso tentar ser o mais claro na mensagem. Como eu trabalho em um plano narrativo mais intimista, carregado de referencias históricas e trocadilhos muito sutis, ou seja, o monarca não e nenhum Homem Aranha, eu não me disperso em planos espetaculares que na verdade não me a judariam a contar a história como desejo. O Monarca não é um quadrinho fácil de se ler até porque não se resume em paginas seguidas de arte sequencial. Mas a grande vitória do quadrinista é quando as pessoas entendem o que ele quis dizer, e não quando concordam ou discordam.

MT: Em que quadrinhos você está trabalhando agora? TB: Alem dos livrinhos infantis dos NOVOS AMIGUINHOS – hoje estamos trabalhando em converter algumas historias para um formato de gibi – comecei a fazer roteiros para a webcomic Gi &Kim do Marcos Noel, e trabalho também na próxima fase do Monarca que vai ser muito interessante e surpreendente. O Monarca – MEU MONARCA FAVORITO (http://meumonarcafavorito.blogspot.com.br/) – é uma webcomic que comecei em 2009 e que hoje soma 126 episódios sendo que mais da metade deles compreendem uma série que envolve uma opera! Por conta do entusiasmo do nosso revisor e redator Andre Lasak, tivemos em um determinado momento presenteado por ele o texto da opera O CURUMIM que era o pivô da historia. Então decidi encenar a ópera inteira em quadrinhos (muita gente deu pulo pra trás quando falei da minha intenção).



A ópera (que pode ser lida em http:// meumonarcafavorito.blogspot.com. br/p/opera-o-curumim-1o-ato.html) é cantada o tempo todo. E por isso, e pela HQ não terminar enquanto o espetáculo não é encenado na sua totalidade ela fica sendo a primeira ópera encenada por inteiro em uma HQ, Tomei o cuidado de pedir ao Gilberto Zavarezzi (velho amigo e ilustrador em 3D http://fotologue.jp/zavarezzi) que fizesse os cenários a parte de modo que eles destoassem propositalmente dos personagens, já que eles - os personagens - representavam a realidade e o cenário a fantasia. Também contei nesse tema como o apoio do Shumora que foi e o nosso consultor de operas pois eu não entendia muito do assunto - e designer de produto. Foi ele que deu vida aos projetos das engenhocas criadas para viabilizar os absurdos que acontecem em cena na peça O CURUMIM. Quanto aos suportes, O MONARCA E Gi & Kim ainda são preferencialmente lidos na web. Já OS NOVOS AMIGUINHOS tem já 5 versões impressas mas você pode também baixar os pdfs dos livros no site da obra (http://osnovosamiguinhos.wordpress.com), inclusive em outros idiomas.



MT: O que você tem produzido para além dos quadrinhos? TB: Varias coisas, Uma vem atrás da outra e quando vejo estou fazendo algo diferente. Faz pouco tempo criei uma fanpage no facebook (https://www.facebook.com/tiburcio. illus) e para gerar movimento nela tenho inserido desenhos para colorir. Agora estou os colocando em lotes de 4 a 9 desenhos por post e em geral vinculados a um tema. Posso fazer isso porque construí com a Comsut um site desse gênero que hoje esta desativado, mas temos um acervo de mais de 800 desenhos bastante diferenciados do usual que vão agradar os followers professores, crianças e adultos. Da mesma forma e pelo mesmo motivo iniciei de forma amadora pequenos vídeos no youtube onde mostro como desenho e comento porque faço esse ou aquele procedimento no papel, Esses vídeos que são bem interessantes eu também publico na fanpage. E para deixálos mais atraentes e legíveis criei

um blog chamado 'Desenhos do Tiburcio" http://desenhosdotiburcio. blogspot.com.br/ onde posto esses videos. É um blog somente disso, o desenho + ele sendo feito e comentado. Alem disso eu ilustro livros infantis independentes, Também o faria para editoras mas elas não são tão assertivas quanto o autor independente que costuma dar mais liberdade ao ilustrador e mais respeito mesmo, sabe? Como sou do tipo que veste a camisa, o autor costuma ficar bem satisfeito. E trabalho em pequenos projetos de livros infantis, mas nesse caso bem mais pra frente, São como o monarca, com temas fora do eixo normal, usando linguagem e temas que podem surpreender o leitor comum acostumado ao de sempre. Também atendo clientes normais, house organs, slides instrucionais e ilustrações didáticas, paradidáticas.



MT: Por que quadrinhos? TB: O quadrinho e uma ferramenta fantástica e subestimada, que pode dentro de um espaço delimitado como o papel ou de um ilimitado como a web reproduzir, ou fazer o leitor ver e sentir tanto ou mais emoção do que o vídeo ou outra mídia qualquer. Fizemos a ópera por causa disso. Para mostrar o quanto pode se dizer falar e expressar através dessa linguagem. Nos jornais institucionais onde colaboro com tiras e quadrinhos, é fato notório que a tirinha e a primeira coisa que o leitor do jornal acessa ao pegar o impresso. Então, esses editores utilizam da tira para passar o que for mais importante para o colaborador da empresa, já que eles sabem que o texto corrido vai ser ignorado diante do chamariz da HQ. Existem casos inclusive em que o roteiro mal concebido prejudica o resultado final mas ainda com roteiros ruins um gibi fala mais do que um texto corrido. Diz mais e comunica mais, e custa muito mais barato do que se produzir um vídeo por exemplo.

MT: Que quadrinhos você tem lido ultimamente? E o que além deles? TB: Quadrinhos que tenho lido: Allan Kardec - de Carlos Ferreira e Rodrigo Rosa; D Joao Carioca - do Spacca; Tintim e os Sovietes - do Herge; 7vidas - do Andre Diniz; Gi & Kim – do Marcos Noel; O bom o mau e o Feio - do Mauricio Rett. Alem dos quadrinhos (parece estranho mas eu leio com mais freqüência textos não quadrinizados), leio O GLOBO de sábado que considero o mais inteligente da semana. Leio todos os livros e artigos que ilustro e sou devorador de revistas de consultório medico, acha-se coisas curiosíssimas na nossa mídia impressa, onde menos se espera. Leio a revista de Historia da Biblioteca Nacional, apesar de na minha opinião enxergá-la tão tendenciosa quanto a Veja, mas leio ambas, sendo a única diferença que eu compro a RHBN na banca - a Veja leio nos consultórios… :) Os dois livros mais recentes que li eram ambos de Julio Verne e também li de cabo a rabo foi um dicionário de verbetes e aforismos em latim para compor um personagem, o Miguelito da próxima fase do Monarca.



Emerson Wiskow http://emersonwiskow.blogspot.com.br/



Emerson Wiskow http://emersonwiskow.blogspot.com.br/





Patricia Figueiredo



Monotipia: Fale sobre sua formação, enquanto artista gráfica/ visual Patrícia Figueiredo: As minhas escolhas foram acontecendo um pouco por acaso mas agora vejo-as como passos importantes que definiram o trabalho que faço hoje. Queria ser veterinária e estive em Ciências, até um dia ver o desenho de um amigo e decidir no dia seguinte ir para Artes. Depois não tinha a certeza qual a área que queria seguir e entre as opções que escolhi acabei no curso de Artes Plásticas - Pintura na Faculdade de Belas Artes do Porto. No último ano quis ir estudar para outro país, através do programa Erasmus, e optei por Wroclaw, na Polónia. Mas acabei por ficar em Cracóvia, felizmente, porque tive a oportunidade de aprender muito acerca do Cinema de Animação. Quando voltei pensei em tirar um mestrado em Animação noutro país mas mais uma vez felizmente surgiu um Mestrado em Portugal de Ilustração e Animação, no Instituto Politécnico do Cávado e do Ave, em Barcelos. Na altura conhecia muito pouco de Ilustração e por isso pareceume uma boa opção. E foi, porque aprendi bastante. Neste momento estou a desenvolver o meu projeto final de mestrado, em Cinema de Animação.



MT: Quais influências, no que se refere a movimentos e/ou artistas,você identifica no seu trabalho? PF: As minhas referências surgem de diferentes áreas, há imensos autores que me inspiram mas há alguns que revejo com frequência e nos quais descubro sempre algo de novo. Por exemplo Buster Keaton, Lewis Carroll, Paul Driessen e José Miguel Ribeiro. Descobri há algum tempo o trabalho de Ibn Al Rabin, que admiro muito pela forma como constrói narrativas através do mínimo de elementos nas personagens. É como ver um filme num livro.



MT: Há alguma predileção no que se refere a formatos e materiais? PF: Prefiro os formatos menores, quase tamanho de bolso. Mesmo quando tenho de trabalhar com formatos maiores preciso de experimentar primeiro num tamanho pequeno. É mais descontraído, é mais difícil perder-me em pormenores e a juda-me a arrumar as ideias. Se começo a trabalhar logo num grande formato é provável que comece a complicar. Costumo pintar sobre colagem de papeis, gosto de trabalhar num suporte que já tenha alguma informação, manchas ou texturas que me sugiram outras narrativas e que possa rasgar, sujar e pintar por cima. Também sou bastante desastrada e desta forma posso enganar-me à vontade. Costumo utilizar com frequência o acrílico mas também gosto de misturar os materiais que estejam à mão: aguarela, grafite, caneta, tinta-da-china, etc.




MT: Conte sobre a dinâmica de produção de seus trabalhos. PF: Tenho sempre comigo cadernos onde possa apontar ideias, pesquisas, fazer testes ou simplesmente desenhar/ escrever coisas que vou vendo ou lembrando-me no dia a dia e que talvez um dia ao voltar a abrir o caderno ganhem um novo sentido. Tenho uma memória péssima e os cadernos são uma espécie de backup. Apesar de muitas das ideias que esboço não surgirem no resultado final a judam-me a sentir-me mais próxima e ao mesmo tempo menos presa ao trabalho que estou a fazer. Depois é só experimentar com os materiais e as ideias vão-se moldando, até chegar a algo que gosto.


MT: Por que artes gráficas/ visuais? PF: Porque me permitem experimentar diferentes meios, diferentes formas de expressar ideias. Posso desenhar, animar, construir objetos que criem narrativas a partir de conceitos que através do texto, por exemplo, seriam muito mais difíceis (para mim) de partilhar. E porque dá uma sensação semelhante à que sentia ao brincar, ao imaginar histórias. Quando consigo afastar-me do trabalho que fiz e ele conta-me coisas que não tinha imaginado ao início e consegue surpreender-me, sinto que ganhei algo e que posso também dar algo aos outros.




MT: O que você tem lido ultimamente? PF: Os últimos livros que li são duas bandas desenhadas de autores que desconhecia e que por sorte alguém se lembrou de me oferecer: "Chhht !", de Jason e "Goliath", de Tom Gauld.


Revista Monotipia http://monotipia.tumblr.com


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