Monotipia12

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Monotipia

12 Dezembro 2011



Da trilogia Esotérica Na terceira e última edição da trilogia esotérica, a palavra de ordem é correria. Vem, que eu explico tudo no caminho. Martins de Castro

Capa: Morganna Batista www.flickr.com/photos/estalarosdedos Quarta capa: Aline Zouvi vazioliterario.blogspot.com

www.monotipia.com @monotipia monotipia@gmail.com


Batemos um divertido papo com o heroi niponico das matines

ultralaf


faaaa!!!


Monotipia: Fale sobre sua formação e suas principais influências, no que se refere a movimentos e/ou artistas? Daniel Lafayette: Não tive nenhum tipo de formação acadêmica. Quando criança eu gostava de desenhar. E pouco a pouco, enquanto fui conhecendo mais quadrinhos, foi também crescendo em mim a crença de que eu também podia fazer aquilo. Por “aquilo” eu quero dizer: criar personagens e colocá-los em situações engraçadas. Eu não tinha acesso a muitas coisas. Não é como hoje, com a internet. Naquela época minhas maiores influências eram Jim Davis (Garfield), Gary Larson (Far Side), Henfil e Matt Groenning (Os Simpsons). Fui conhecer apenas mais tarde alguns outros caras que me influenciam até hoje, como Angeli, Robert Crumb, Allan Sieber, Adão Iturrusgarai e Laerte. Esses vieram bem mais tarde, mais ou menos no momento em que eu larguei a faculdade de publicidade para me dedicar integralmente aos quadrinhos. Hoje eu tenho tantas influências que seria impossível dizer aqui apenas mais um ou dois nomes. Mas geralmente o que mais me chama a atenção é o trabalho de caras que, como eu, se dedicam às tiras. Mas há um movimento underground muito interessante acontecendo

aqui e agora. Gente com muito talento produzindo quadrinhos que seriam tidos como interessantes em qualquer lugar do mundo. A turma dos (in)dependentes, com quadrinhos adultos, experimentais e absolutamente autorais até o tutano é, de longe, o melhor exemplo de movimento artístico dentro dessa área. Minha opinião, claro.

MT: Como é seu processo de trabalho? Quais seus formatos e materiais preferidos? DL: Meu processo criativo é bem variado. Não sigo um método. Muitas vezes eu sento em um bar e fico esperando a idéia surgir. Quando ela surge eu me debruço sobre ela e começo à lapidar. Essa é só a metade do processo. No dia seguinte, a lapidação é na prática. Crio um esboço e desenho por cima umas duas ou três vezes. Mas pra ser sincero esse preciosismo (que talvez muita gente não identifique ao ver o produto pronto) tem sido muito desgastante. Estou cada vez mais interessado em deixar meu trabalho mais sujo. Mais deliberadamente desleixado. Eu uso uma caneta Cis e pinto no photoshop. Admito que o preciosismo que tenho com o traço não se aplica às




ferramentas que utilizo. Talvez seja o momento de inverter as coisas.

características obrigatórias em grande parte dos críticos especializados, não importa a área.

MT: Sua leitura das situações, seja do cotidiano ou outras (como, por exemplo, na história O Lobo), nos impõe uma imersão na história. Quais são suas preocupações imagéticas e textuais, no que se refere à construção narrativa? DL: Minha preocupação, geralmente, é dar uma rasteira na mente do leitor. Se você descobre, no segundo quadrinho, qual a intenção do autor, a tira perde a graça. Achei muito estranho quando alguém (algum crítico de quadrinhos, não lembro quem) disse que ao ler meu livro Ultralafa percebeu que eu às vezes faço humor fácil ou a chamada “piada reciclada”. E bem, naturalmente quando você trabalha em um jornal e tem que fazer uma tira por dia, por vezes você acaba fazendo algo que não é tão bom, mas se você for ver todo o meu trabalho, vai perceber que há uma preocupação legítima em criar algo novo. Algo que ofereça um mínimo de surpresa ao leitor. Acho ofensivo dizer que faço “humor fácil”, porque não é fácil fazer o humor que faço. E provavelmente de uma certa petulância e ignorância, mas essas são

MT: Quando começou a fazer – e publicar – quadrinhos? DL: Comecei em um jornal de bairro de Jacarepaguá chamado Condomínios em Foco. Não lembro exatamente de datas, mas acredito que tenha sido em 1997 ou 1998. Era bem tosco, bem experimental e eu me divertia bastante com aquilo. Fazia em preto e branco. Depois entrei em contato com o Adão Iturrusgarai e ele foi me dando dicas de como fazer pra melhorar meu trabalho. Alguns anos depois entrei pro Jornal do Brasil. MT: Por que fazer quadrinhos? DL: Porque posso fazer sozinho. Quando entrei pra faculdade de publicidade minha idéia era criar peças publicitárias criativas, porque gosto do humor rápido e a propaganda pode ser feita quase da mesma forma que uma tira é feita. Mas a faculdade é uma instituição opressora, realmente. Você não entra pra estimular a criatividade, mas pra aprender a ganhar dinheiro. Pelo menos essa foi a experiência que tive em faculdades. Acho que é mais um problema das faculdades particulares do que das públicas. Posso


estar errado. Então, pra en quadrinhos p responsabilid rias, mas não e desenho.

MT: Onde en trabalhos? DL: A grande lhos podem s blogs. O nov e o antigo, o (blogdolafa.b estiver se ref sos, poderá e como Beleléu Tarja Preta, C não é revista

MT: Conte-n para além d DL: Para alé coisa que pro fusão mental escrevo algu que serviu pa A minha idéia essas duas c


. ncurtar a conversa, faço porque são de minha total dade. Gosto de contar históo gosto de falar. Então vou

ncontramos seus outros

e maioria dos meus trabaser encontrados em meus vo (ultralafa.wordpress.com) qual geralmente nem cito blogspot.com). Mas se você ferindo à trabalhos impresencontrar em várias revistas u, Samba, Golden Shower, Calendário Pindura (que a, mas vale ser citado)...

nos: o que você produz dos quadrinhos? ém dos quadrinhos a única oduzo é problema e conl. Na verdade as vezes umas coisas, como o texto ara O Lobo, por exemplo. a é cada vez mais juntar coisas.

MT: Que quadrinhos você tem lido ultimamente? E o que além de quadrinhos? DL: Olha, o que chega em minhas mãos eu leio. Pra ser sincero, não li nada (impresso) ultimamente que me fizesse brilhar os olhos, tirando um livro do Jim Woodring que comprei pela A Bolha Editora. Mas na área em que trabalho com mais propriedade (ou seja, humor), é fácil dizer uma penca de nomes que estão na internet e as vezes não tem nem nada impresso. Tenho gostado muito dos trabalhos do Bruno Maron, Rafael Sica, Calote, Bruno Di Chico, Marcos Oliveira, Ricardo Coimbra, Ryot, Fí, Pablo Carranza, Chiquinha e Cynthia B... sem contar meus parceiros de Beleléu o Eduardo Arruda, Stêvz e El Cerdo. É muita gente fazendo trabalho de primeira, ou se encaminhando pra isso. Ultimamente não tenho lido muita coisa. Os últimos livros que li acho que foram O Buraco na Parede, do Rubem Fonseca e Diário de um Ladrão, do Jean Genet. Tenho é assistido uma penca de filmes. Só outro dia assisti um filme do Godard, outro do Pasolini e um do Buster Keaton. Baixo tudo e assisto. Tô nessa onda agora.


Adoção. Agua-forte (Gravura em metal). 2009 Murilo Souza @eu_tu_itter cavandocomacolher.blogspot.com



Marco Oliveira @marc_liveira

Rafael Marรงal @rafaelmarcal

Otavio Tersi @otavioptersi

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seisecinco.wordpress.com



Wes Samp @oslevados

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Emerson Lopes @Emerson_Lopes

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Maurício Rett @mauriciorett

Felipe Assunpção @_botamem

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Rafael Dourado @Sapobrothers

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Poema sujo.

Um coração lascado e duas doses de amor


Ele usava óculos. Sempre fui fissurada em caras que usam óculos. Mas não era só isso. Foi também o modo como ele se encostou no poste e a blusa xadrez por cima da calça surrada. Talvez tenha sido a maneira como segurava o cigarro entre os dedos compridos e a feição que sua boca adquiria a cada trago. A fumaça suspirada. A medida do Bonfim no pulso esquerdo. Meus olhos se largaram nele e decidi que tinha de buscá-los. Nos encontramos então ali, no cruzamento daquelas duas avenidas que não se conhecem. Perguntei se ele tinha fogo. Tenho. Me acende. Acendeu. E o isqueiro vermelho virou brinquedo em suas mãos enquanto nos sentamos no meio-fio daquele boteco. As sobrancelhas dele me sorriam. Retribui. Conversamos vigiados por uma e outra janela das casas e edifícios ao redor. O céu era nublado. A bebida era gelada. O cigarro estava aceso. Três batidas de limão depois, talvez ele começasse a me achar muito louca. Sexo, culturas fúteis, solidão, astrologia, eu não sei. Eu falava sem parar. Três batidas de limão depois e eu precisava

de amor. Três batidas de limão, ele, eu e depois. Sorri pela primeira vez. Ele incomodava meus lábios. Sem saber, eu já o imaginava tomando café encostado na cortina do meu quarto numa noite que ventaria muito. Eu me senti maior. Ou talvez o mundo tenha diminuído. Talvez, naquele instante, tenhamos descoberto nossos mundos. Numa vontade infantil, beijei-lhe as pálpebras. Os olhos castanhos desse rapaz começaram a me invadir. Gargalhei por dentro. Gargalhei da minha tentativa frustrada de esvaziar o mar com um balde furado. Era mais ou menos assim. Mais assim. Numa conversa de perto, insustentados pela leveza, lembro quando ele disse gostar das minhas cores e da maneira como minha roupa andava. Eu usava saia e meia-calça pretas. Blusinha branca, tela para o que a noite pintasse. Os cabelos soltos, ao vento. Sem maquiagens, sem máscaras. Ele me via em cores. Eu era preto e branco. Choviam elipses enquanto borboletas bêbadas iam me perturbando a garganta. Tive uma curiosidade de outros tempos em

olhá-lo por dentro. Senti ciúmes. Quis saber sonhá-lo. Uma mesa esvaziou e tratamos de ocupá-la. Lembro de como ele se levantou, bebendo o mundo a doces goles e tentando falar bonito sobre toda a ausência de sentido em sentir. Me confessou semanas depois que nesse momento, ao me ter mais perto, ele soube que treparíamos dali a alguns dias. Eu também soube. Enquanto ele comia amendoim e Gal cantava Baby, eu soube. Soube ainda quando senti inveja dos seus cílios brincando uns com os outros. Meu reflexo viveu em suas lentes e era absurda a quantidade de coisas lindas que iam sendo despejadas em cima daquela mesa plastificada. Meu pedido era que ele houvesse me fundado dentro em si. Era nascer nele, para mim. Meu coração tava batendo. Porra, sabe? Sinais. Sinos. Era um samba. Era a noite indo embora e um bilhete, quando voltei do banheiro:


Passeia entre os poemas rasgados em cima da mesa, em nome de cada amor que se ergue nessas paredes manchadas. Passeia para depois descansar em mim. Descansa em mim, coração. Leo

Atrás, um número de telefone. Fiquei por mais alguns minutos. Pensei bobeiras. Pensei em como ele caberia na minha sala, decorando meu apartamento. Tive uma vontade boba de que lavássemos roupas juntos. De tê-lo amassando minha cama. Tive medo de atrasar o amor, de que ele esquecesse de começar. Naquela cadeira de ferro, amarela e gelada, torci cachos inexistentes. Minhas retinas se afogaram, momentaneamente. Engarrafei poesia para ser entregue um dia. Se viesse. Uma semana depois, telefonei. Leo, Isabela. Apesar de não saber meu nome até então, ele soube que era eu. Nossos dedos se buscaram entre as linhas. Entrelinhas. A vida falada, uns silêncios, nossa respiração se abraçando. Um novo encontro. Era noite, ele chegou. Eu, ausente de mim que era, cheguei ao mesmo tempo. Pela maneira como o cabelo caiu em minha testa, ele soube: eu estava pronta. Descansar, enfim. Viver de repente pareceu fácil. Conversamos. Naquela noite, Leo cheirava às reuniões de porta aberta na casa de Vinicius. Um puta cheiro de inefabilidades. Ele segurou minhas mãos. Contei que


precisava que ele segurasse minhas mãos. Que entendesse minha ausência de romantismo falado, praticado. Eu só precisava que ele segurasse minha mãos, assim, enquanto ficávamos sentados no corredor do sétimo andar, em frente ao elevador. Era o momento onde meu coração descia para a palma da mão e o amor escorregava para as pontas dos dedos. Ali eu entregava tudo. Aqui fico cavando um espaço para poetices. Fico contando, cantando, porque, cara, eu precisava falar disso tudo. Minha língua já não pousava nas palavras que sabia. Era uma anestesia louca de carinhos: todos os amores sendo arrumados para que coubesse ele. Meus amores são todos guardados, na composição deles é onde me encontro. Naquele dia ele me trouxe uma frase feita com meu nome. Usei de todos os neologismos para traduzi-lo. Ineficaz. Corria o risco de voltar para casa ausente de braços. Ele tentava me ensinar a dizer o amor. Drummond soltou meus cadeados, por ele. Porque, Isa, o amor é isso que você está vendo: hoje beija, amanhã não beija, depois de amanhã é domingo e segunda-feira ninguém sabe o que será. Nós não sabíamos. Mas, hoje beija? Me

beija! E ponto. Alcancei seus lábios e cobri todos os nomes que ali moravam. Ele me abraçava rascunhando todos os contornos do meu corpo. Na manhã seguinte, abri os olhos e havia sido deixado nos lençóis esse eco de sorriso. Paixão saltando da janela. Uma coisa que dizia que a gente deve ser feliz. Uma vontade de viver mais, de se cuidar mais. Uma necessidade de plantar uma flor. Deixou-se, em mim. Tão mais tarde, descobri-o sendo minha insanidade etílica. Minha ressaca mais lírica. Esvaziar de garrafas, encher de cinzeiros. Equilibrei minha falta de métrica e ele escolheu aconchegar-se em meus cantos. Espalhou-se. Eu precisava muito me encantar absurdamente com qualquer coisa antes que acabasse a sexta-feira. Me encantei. Ele se propôs a deitar entre as vírgulas e pontos desse texto. Tudo era linha nova cosendo meu coração de retalhos. Talvez ele esteja agora mais distante que as nuvens. As nuvens, as nuvens eu vejo. Aprendi, ali mesmo, a amá-lo poeira. Leo tinha um rosto de primeiro beijo. É lindo sê-lo.



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