Monotipia38

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Cristina Eiko

Lupe Vasconcelos

Lilian Higa

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XXXVIII “Tempo bom”, dizia meu avô, “é sinal de tempestade”. Martins de Castro Editor Lilian Higa (Capa)

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Sobre a Monotipia



Cristina Eiko



MT: Fale sobre sua formação, enquanto ilustradora e quadrinista. Cris Eiko: Em primeiro lugar, fui mais uma daquelas crianças que não parou de desenhar depois que "cresceu", o interesse só aumentou quanto mais quadrinhos eu lia e apreciava, e animações eu assistia. Comecei copiando os artistas que eu gostava, e meu primeiro livro de "como desenhar" foi um "How to draw Comics the Marvel Way", que me chamou a atenção à perspectiva, anatomia, composição, etc. Fiz dois meses de Artes Plásticas, e me formei em Design, lá tive alguns semestres de desenho, escultura, fotografia, lógico que era mais uma introdução a esses universos, como também outras matérias nos apresentavam teorias e ferramentas digitais, mas foram importantes para mim. Depois disso fiz um curso de animação e trabalhei por um tempo como intervaladora e "clean up". No curso de animação, aprendi a importância do desenho gestual, de capturar o movimento quando se desenha um personagem, e a prática de clean up me deu a segurança para fazer artefinal, algo que me apavorava antes. Não me considero "ilustradora", pois tenho pouca prática em ilustração, em pegar uma idéia ou um texto e traduzí-lo em imagem.

MT: Quais influências, no que se refere a movimentos e/ou artistas,você identifica no seu trabalho? CE: Não identifico tão claramente todas as influências, pois gosto de muitos artistas. No início, assumi uma clara influência do James Kochalka para as primeiras histórias do Quadrinhos A2. Gosto muito do Guy Delisle e da Alison Bechdel também, no quesito autobiografia, embora eu não identifique o traço deles no meu trabalho, há uma influência lá no subconsciente. Na arte final, gostaria de chegar perto de Will Eisner, Craig Thompson e da Yuko Shimizu (ilustradora). Sei que tem muito de mangá no meu trabalho, gosto muito de Adachi Mitsuru, Rumiko Takahashi. Outros que gostaria de absorver as influências são o Rafael Albuquerque, Ashley Wood, Sean Gordon Murphy.


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MT: Há alguma predileção no que se refere a formatos e materiais? CE: Eu tenho uma preferência em desenhar sempre bem maior do que o tamanho que será impresso final. Uso folha sulfite 90 ou 120g/m tamanho A3 para as páginas do Quadrinhos A2, o rascunho faço com lápis col-erase azul que some ao ser escaneado pois eu já amassei muitas folhas apagando o grafite normal. Pincel Windsor & Newton University Series 233 n. 2 e 3 para a arte final, preenchendo as áreas pretas ou texturas com um pincel sem marca estilo de Shodô. Uso tinta sumi da Kuretake pois teve uma época em que eu implicava que a tinta tinha que estar 100% preta, hoje nem tanto. Faço as letras à mão também, embora eu não tenha uma letra com muito estilo, ainda prefiro manualmente do que

usar fonte. Meus pais foram letristas (bem melhores que eu sou hoje) então dá vontade de seguir com o ofício à maneira tradicional. Uso uma caneta Graphic 1.0 da Sakura para letreirar e uma Ames Lettering Guide para fazer as linhas-guia. No começo cheguei a usar uma Windsor & Newton série 7 n. 3, pois achava que não conseguiria fazer uma boa arte final sem um pincel que a judasse, e foi bom para tirar a minha insegurança com o material, pois eu tinha treinado com pincéis Tigre e um outro pincel de shodô da Liberdade, mas sempre ficava insatisfeita. Aí com o pincel série 7 da Windsor & Newton, vi que a culpa era só minha mesmo, rs.


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MT: Conte sobre a dinâmica de produção das suas ilustrações e HQs. CE: A história sempre começa com um brainstorming, um de nós pode ter uma idéia para uma história, e conversando aparecem outras idéias para complementá-la. O Paulo (Crumbim) costuma anotar tudo e fazer o roteiro em forma de layout a partir das anotações, em tamanho a5, até ficar satisfeito com cada página. Eu dou meus pitacos nessa fase, e começo a passar as páginas para a folha A3, seguindo as indicações dele de quadros, personagens, background em cada página. Antes da arte-final, o Paulo dá seus pitacos, e depois do nanquim, ele escaneia e aplica as retículas ou cores digitalmente. Nessa fase ele ainda altera uma ou outra coisa no desenho que ele ache necessário.

MT: Quais costumam ser suas preocupações narrativas, no que concerne à construção de um ritmo visual, em suas HQs? CE: O que mais me preocupa é a clareza do desenho, embora em alguns quadros eu ainda ache que não sei a hora de parar de colocar detalhes. O ritmo visual é dado pelo layout do Paulo, mas ao acrescentar cenários ainda mexo e rearranjo para que o olho seja atraído de um ponto a outro. A intenção é essa, pelo menos.

MT: Em que quadrinhos você está trabalhando agora? CE: Atualmente trabalho no quarto volume do Quadrinhos A2, HQ autobiográfica que faço com o Paulo. Já temos o roteiro de algumas histórias prontas, e estou começando a desenhá-los.


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MT: O que você tem produzido para além dos quadrinhos? CE: Atualmente pouco tenho feito fora quadrinhos, um fanart ou outro de HQs que gosto, de amigos... Faço muitos rabiscos, rascunhos que nunca verão a luz do scanner, e vez ou outraregistro um fato em micro-quadrinhos tosquinhos no meu caderno. Ocupo muito de meu tempo livre (e até do tempo nãolivre, fonte de stress extremo) com o hábito nada nobre de procrastinar, e gostaria muito de estudar para melhorar meus pontos fracos, portanto produzo muito “wishful thinking” para que isso um dia aconteça.

MT: Por que quadrinhos? CE: Quadrinhos sempre me acompanharam, foram minha primeira paixão, e fonte constante de diversão, reflexão, aprendizado. Sempre quis trabalhar com desenho, e quadrinhos é o que me dá mais prazer, e o fato de poder contar uma história sem precisar de uma grande equipe, como no caso de animação, foi um ponto a mais para os quadrinhos.


MT: Que quadrinhos você tem lido ultimamente? E o que além deles? CE: Outro dia fui reler Sandman, tinha lido há muito tempo e não lembrava de muita coisa. Li também A Queda de Murdock, completa pela primeira vez, os 3 primeiros volumes de 20th Century Boys, e Crônicas de Jerusalém. Tem muita coisa que foi lançado no FIQ e que li e gostei, como o “Cara eu sou legal” da Marília Bruno. Algumas HQs online da Emily Carroll, da Gabrielle Bell, e várias tirinhas que sigo no facebook. Sem ser HQ, Cujo do Stephen King, O Chamado de Cthulu e outros contos do Lovecraft, e Nove Noites do Bernardo Carvalho. Fora isso diariamente abro muitas abas do navegador com matérias interessantes que as pessoas compartilham, mas acabo não lendo tudo, coloco bookmark em alguns e nunca mais retorno. A não ser que a procrastinação tome conta, aliás, procrastinação é um assunto sobre o qual gosto de ler


Cris Eiko Foto: Rafael Roncato http://www.flickr.com/rafaelroncato



Lilian Higa Fotografia digital S達o Paulo, 2014 www.facebook.com/lilianhiga.fotografia



Lilian Higa Fotografia digital S達o Paulo, 2014 www.facebook.com/lilianhiga.fotografia


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Com a palavra, Lupe Vasconcelos: Sou bacharel em Artes Visuais e mestre em Cultura Visual, ambos pela Faculdade de Artes Visuais da UFG, mas venho produzindo desde a adolescência, quando "publicava" zines xerocados, de quadrinhos. Meu contato com o mundo do desenho se deu muito cedo; minha mãe é arquiteta, e por isso sempre tive uma grande familiaridade com papel, lápis e, especialmente, tinta nanquim. Foi a observando trabalhar que aprendi todo o básico, conhecimento que levo comigo até hoje. A literatura de fantasia/ contos de fadas e quadrinhos foram cruciais para minha formação de leitora, e, consequentemente, influenciaram muito meu imaginário como artista. Minhas primeiras referências em termos visuais saíram das páginas de livros dos Irmãos Grimm e Charles Perrault, e de quadrinhos e tirinhas de autores como Maurício de Souza, Fernando Gonzales, Laerte, Angeli. A predominância do uso do preto e branco em muitas dessas publicações foi algo decisivo para a formação de minhas preferências em termos estilísticos, já que essas foram minhas referências primárias. Posteriormente meu leque de influências foi se ampliando; além de quadrinistas e ilustradores, um interesse crescente pelas artes plásticas me levou a conhecer diversas novas fontes de



inspiração. Recentemente meu interesse por artistas e ilustradores do simbolismo, romantismo, e aqueles do movimento Pré-Rafaelita, assim como artistas ligados ao ocultismo, teve grande impacto em meu trabalho. Dentro do meu atual espectro de influências, posso citar, nos quadrinhos: Sérgio Toppi, Moebius, Jaime Hernandez, Robert Crumb, Daniel Clowes; nas artes plásticas: Cameron, Austin Osman Spare, Aubrey Beardsley, Harry Clarke, Zdzilaw Beksinski, Wayne Barlowe, Klimt, Gustave Moreau, Gustave Doré, William Blake, Leonor Fini... Outra fonte muito importante de inspiração é a música. Não consigo trabalhar sem, e muitas vezes me sinto inspirada por canções específicas, que fornecem aquele lampejo inicial para um desenho ou projeto. Quanto a formato e materiais, minha preferência tem sido pela tinta nanquim, com pena ou pincel, desde o princípio, assim como as canetas de ponta porosa descartáveis, em papel formato padrão (geralmente algo um pouco maior que um A4). Para trabalhos artísticos, também gosto de usar guache, aquarela e acrílica. Meu processo de produção é bem simples; antes de começar um desenho ou projeto, faço uma pesquisa sobre o tema (ou temas) do trabalho, anotando as informa



ções que julgar relevantes. A partir daí, faço estudos a lápis, de maneira bem livre, para experimentar as possibilidades de composição. No caso de HQs, faço esboços de páginas e de cenas aleatórias. Definida a composição, faço o desenho a lápis. Geralmente defino as linhas principais do desenho, e os detalhes vou resolvendo durante a finalização, como, por exemplo, a disposição e sentido das hachuras. Geralmente faço o preenchimento dos pretos primeiro, assim fica mais fácil equilibrar a textura das linhas com as áreas chapadas. Os quadrinhos foram essenciais para minha formação intelectual, e embora nos últimos anos o foco do meu trabalho tenha se voltado para ilustração e artes plásticas, as HQs nunca deixaram de influir na minha maneira de criar. Mesmo minhas pinturas possuem uma narrativa interna, e tenho a tendência a preferir fazer séries de desenhos, refletindo sempre a lógica dos quadrinhos no que quer que eu faça. A produção de uma HQ sempre começa com a vontade de contar uma história, e eu sempre tive a preocupação de que o elemento visual fosse parte importante na narrativa, mais até do que o texto. Tenho preferência por HQs com pouco ou nenhum texto, justamente para permitir que as imagens sejam protagonistas da ação. Gosto de



criar um sentimento de drama físico que se estende através da continuidade dos quadros, e é essa possibilidade que me fascina nos quadrinhos. Contar uma história utilizando as possibilidades narrativas das imagens sequenciais é um grande atrativo para mim, pois embora goste de escrever, sinto que consigo ser muito mais eloquente usando imagens. Quadrinhos formam ainda hoje a maior parte de minha biblioteca, mas já há alguns anos não acompanho a cena, e por isso raramente adquiro algum título recente. Estou relendo Love and Rockets, dos irmãos Hernandez, e recentemente li o excelente "Yaxin, le Faun Gabriel", de Manuel Arenas e Dimitri Vey, esse último acho que não foi lançado no Brasil. Também têm estado constantemente na minha lista livros sobre ocultismo, filosofia e biografias de artistas. No momento, estou lendo o livro "A poética do devaneio", de Gaston Bachelard, e a biografia "Sphinx: The Life and Art of Leonor Fini".

Conheça mais sobre a Lupe e seus trabalhos em http://www.lupevision.com




Lilian Higa Fotografia digital S達o Paulo, 2014 www.facebook.com/lilianhiga.fotografia



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Revista Monotipia http://monotipia.tumblr.com


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