Jesus e a Politica

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Jesus e a PolĂ­tica Jesus and Politics JĂŠsus et la Politique Paulo Rangel



Jesus ea PolĂ­tica


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edição Paulo Rangel, novembro de 2014

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Tradução Inglês xxxxxxxxx

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Tradução Francês xxxxxxxxx

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Design gráfico a.cruz design studio

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Impressão xxxxxxxxx, artes gráficas, 2014

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número de exemplares impressos 4.000

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ISBN 00000000000

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Depósito legal 00000000000




Jesus ea Política Reflexões de um Mau Samaritano



+ Agradecimento e apresentação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9 + Prólogo: perdido entre os doutores . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11 + Método: ler e reler as narrativas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13 + Aproximação pela negativa: ausência de um “tempo maquiavélico” em Jesus . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14 + Aproximação pela negativa: ausência de um “espaço aristotélico” em Jesus . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15 + Jesus: um ensinamento que aspira à totalidade, mas não é total . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17 + Jesus despido de pretensão ao poder: até o poder que o mata reconhece a sua inocência política . . . . . . . . . . . . 18 + A sedutora tentação de vincular o ensinamento de Jesus a um programa ou a uma agenda política . . . . . . . . . . 20 + Um ensinamento que recusa a fractura ou segmentação social como alavanca política . . . . . . . . . . . . 22 + A justiça de Jesus não é uma justiça redutoramente social ou política . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23 + Jesus e a vocação/provocação da recusa da redução política do Seu ensinamento . . . . . . . . . . . . . . . . . 26 + Palavras e cautelas finais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 29



REFLEXÕES DE UM MAU SAMARITANO

Agradecimento e apresentação Começo por agradecer o convite para participar neste colóquio “Igreja em Diálogo”, desta feita subordinado a um tema excruciante, ou melhor, “crucificante” para qualquer orador: Quem foi (é) Jesus Cristo? E para agradecer esse convite, só posso fazê-lo na pessoa do Padre Anselmo Borges, a quem me ligam laços como ouvinte “interpelado” de rádio, como leitor “desafiado” de crónicas e de livros, como participante “atento” de festas, celebrações e outras “bodas de Canã” 1, a que ele ocasionalmente presidiu. Para mim, e mais não digo—por me parecer suficiente para dizer tudo –, ele tem sabido ser, ele tem sido e ele é Igreja em Diálogo. Obrigado, Padre Anselmo.

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Prólogo: perdido entre os doutores Quando fui convidado para estar aqui, fiquei absolutamente surpreendido e não compreendi a razão ou as razões do convite. Passados uns largos meses e depois de genuinamente ter ensaiado várias tentativas de aproximação ao tema, ainda entendo menos que motivo ou motivos podem ter estado por detrás de uma proposta tão intrigante. Depois de muitas sessões de página em branco e de computador aberto, às vezes até, e à moda antiga, de caneta em riste, verifiquei, com o vigor próprio e amargo da experimentação, o que intuía e sentia já desde o primeiro minuto… Falta-me saber teológico, falta-me saber histórico, falta-me saber político e falta-me saber científico para vos falar deste tema, para reflectir convosco sobre Jesus e a Política. E como não possuo, pelo menos em doses que se aproximem do limiar evangélico do “grão de mostarda” 2, a experiência de vida, a inspiração poética ou a virtude da fé, não há maneira de compensar aquela evidente míngua de conhecimento e de conhecimentos. Chego, pois, aqui, nesta tarde de Sábado (o tal “Sábado que foi feito por causa do Homem” 3), perdoe-se-me a comparação—que, espero, com a tolerância que apregoamos, todos percebam e relevem—chego aqui, dizia, como um adolescente entre os doutores 4. Mas evidentemente sem a sabedoria, sem a inteligência e sem a inspiração humana e divina do jovem Jesus.

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Ele que se espantou com a perplexidade de Maria e José, pois para Ele a “roda dos doutores” era confortável e natural, ou não estivesse, como repontou a sua Mãe, na casa do Seu Pai. Já no meu caso—n’ “o meu caso”, para copiar a expressão de José Régio—que me desculpem os doutores da lei e os profetas, mas sinto-me “desconfortado” e desorientado, como um perdido dos ditos pais. Pais que aparentemente seguem na caravana que desceu a Jerusalém para a Festa da Páscoa; caravana que entretanto, e ao que suspeito, regressa já, com mais de um dia de viagem, à Galileia. É, pois, neste intervalo, neste intermezzo, neste interim, em que espero que me encontrem e me resgatem, que, consciente (eu) e conscientes (vós) destas reservas e limitações, hei-de falar convosco sobre Jesus e a Política.

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Método: ler e reler as narrativas Só entrevi então uma via metodológica de aproximação ao tema ou, pondo as coisas em termos chãos, só entrevi então um caminho: voltar aos textos fundacionais—aos quatro Evangelhos e apenas a eles. E, com a “liberdade” que a ignorância permite—ou, dito de modo menos chocante e mais prudente, com “aquela liberdade” que “só” a ignorância permite—perscrutar neles, procurar neles os traços, os fios, os filamentos, os iluminadores e os ilustradores da relação entre Jesus e a Política. Este caminho ou este método—sinuoso, errático, viajante, na melhor das hipóteses, casuístico ou indutivo—parece pôr em causa, logo à partida e irremediavelmente, a possibilidade de alcançar uma “teoria geral” ou “total” da relação entre Jesus e a Política. Ou, no mínimo, e mais modestamente, de alcançar um esquiço de “teoria geral” ou um esboço ou arremedo de “interpretação” ou “compreensão global”. “Em verdade, em verdade se diga”—para usar uma locução tantas vezes (parece que 65 vezes) atribuída a Jesus 5 —esta impossibilidade de atingir ou alcançar uma “teoria geral” nada tem de trágico e, bem ao contrário, indicia, traduz ou revela um traço, uma qualidade, uma propriedade essencial ou nuclear da relação de Jesus com a Política. É que a relação de Jesus e da Sua mensagem com a política vem a ser, a meu aviso, depois desta leitura, e, em especial, depois de uma reflexão intencional sobre ela, uma relação de carácter fragmentado e fragmentário; uma relação fragmentária, intermitente, porosa e, por conseguinte, “narrativamente” aberta.

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Aproximação pela negativa: ausência de um “tempo maquiavélico” em Jesus Ensaiando paradoxalmente uma visão geral ou uma “generalização”, talvez das únicas—et pour cause, isto é, por força da própria textura do seu enunciado—, talvez das únicas, portanto, que parece admissível inferir do Jesus dos textos evangélicos, dir-se-á que é de recusar—e de recusar terminantemente—uma leitura “conspirativa” dos Evangelhos, ou até uma leitura “conspirativa” da personalidade de Jesus. Ou seja, o contacto directo e imediato com os textos e com as suas sugestões, isolado dos enquadramentos, das escolas e tradições hermenêuticas e até das galáxias narrativas que hoje proliferam, não permite nem autoriza uma leitura “maquiavélica” de Jesus, da Sua personalidade, da Sua mensagem e da Sua história. Dito de outro modo, por mais carga ou lastro histórico, semântico e contextual que se queira trazer ao discurso e à “praxis” de Jesus, não se detecta na Sua vida—tal como nos é narrada e para me socorrer de um conceito que tem alguns pergaminhos na teoria política recente, mas a que aqui se dá um sentido próprio e original –, não se vislumbra na vida de Jesus o “momento maquiavélico”. Significa isto ou acarreta isto um “fechamento” ou uma “imunização” de Jesus à política e ao político? Não, logo veremos que não. Significa apenas e tão-só—o que, apesar de tudo, não é pouco—que não há um momento—ou se se preferir, para dar mais latitude e compreensibilidade ao conceito—, não há um tempo específica, genuína e intencionalmente político em Jesus.

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Aproximação pela negativa: ausência de um “espaço aristotélico” em Jesus Esta ausência do momentum político deve ser lida no tríplice sentido da raiz e do étimo latinos, não apenas na acepção de segmento do tempo e da sua cadência, mas também no senso de “impulso/movimento” e de “causa/motivo”—enfim, momentum como tempo, movimento e causa. Esta ausência de momentum politicum não se projecta apenas na dimensão maquiavélica, ainda que restritamente percebida, de conquista e preservação do poder; mas estende-se, o que pode surpreender e porventura desencantar e desapontar, à dimensão platónico-aristotélica da produção de pensamento; de pensamento orientado a acção, seja primeiro filosofia, seja já doutrina, seja finalmente ideologia. Em poucas palavras, e do ponto de vista político, do ponto de vista constitutivamente político, em Jesus não falha apenas o tempo maquiavélico, falta também o espaço aristotélico. Eis o que aparece ou aparecerá a muitos, designadamente da nossa geração, como um grande desapontamento, quiçá motivo de escândalo. Na verdade, muitos estarão disponíveis para aceitar que, em Jesus, tirando a destrinça entre César e Deus 6 e a apartação entre o Reino e o Mundo, não há maquiavelismo. Mas, antecipo, serão muito mais relapsos—senão mesmo resistentes ou até insurgentes—a aderir à ideia de que em Jesus não há mensagem política, roteiro de uma doutrina ou carta de marear de uma ideologia. Ninguém estranhará que se não compare Jesus a Péricles ou a Alexandre, a Cícero ou a Júlio César, a Marco António ou a Octaviano. Mas alguns já

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não compreenderão que não se lancem pontes, arcos, viadutos e túneis— com mais ou menos engenho e engenharia—para Aristóteles ou para Platão, para Adam Smith ou para Marx, para Sócrates ou para Gandhi. Que em Jesus não haja a vertigem do poder—embora possa ter subsistido e emergido a tentação—muitos admitirão, quiçá sem rebuço e até com alívio… Mas que em Jesus não haja nem tenha havido a ousadia de um programa temporal e o risco de um projecto social ou societal, isso, na idade fremente e crepitante em que habitamos, já custa mais a crer e frustra e dói e escandaliza!

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Jesus: um ensinamento que aspira à totalidade, mas não é total Evidentemente que assumir a ausência de um programa político de Jesus, mesmo e até no plano doutrinal e ideológico, não significa que não haja instantes e episódios políticos na vida, no exemplo, no discurso e no pensamento de Jesus. E, outrossim seguramente, múltiplas e profundas implicações e refracções do discurso, das atitudes e do exemplo de Jesus na vida e na actividade política. Mas apresentam-se, insiste-se e repisa-se, como fragmentos, porosidades, intermitências: as aludidas “porosidades” para situar os pontos de contacto no espaço ou as já mencionadas “intermitências” para inserir as linhas de comunicação no tempo. O que não subsiste ali—diria mesmo, para actualizar, para tornar actual: o que não subsiste aqui—é um pensamento total, ou menos ambiciosamente, um ensinamento total. Um pensamento total ordenado à política. Um ensinamento total dirigido ao político. Há fragmentos, porosidades, intermitências políticas e politicamente relevantes, mas não há pensamento ou ensinamento político, que se reivindique da política ou do político. E, desde logo, porque o ensinamento—para condensar numa expressão cómoda e plástica a síntese de pensamento, vida, atitude, exemplo, carácter—o ensinamento de Jesus, dizia, mergulha na radicalidade, mas não é radical, aspira à totalidade, mas não é total. Jesus despido de pretensão ao poder: até o poder que o mata reconhece a sua inocência política

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Que em Jesus não há um momento maquiavélico, no sentido da captura do poder, antolha-se evidente no princípio vazado na resposta “O meu Reino não é deste mundo” 7. E também e ainda nesse autêntico berço ou pátria da laicidade que vem a ser a máxima, a um tempo reveladora e desconcertante, “a César o que é de César e a Deus o que é de Deus” 8. Qualquer que seja o sentido que se lhe impute—seja ele dirigido aos judeus (em particular a fariseus, escribas e saduceus) ou seja ele direccionado aos romanos (que também faziam a apologia da divindade do Imperador, não distinguindo as duas esferas) –, a verdade é que destaca e aparta o Reino de Deus de qualquer pretensão ou intenção política. Poderia demais perguntar-se se, apesar de não haver uma intenção política ou uma intenção ao poder, a detenção, o processo, a condenação e a execução de Jesus não congraçam e consubstanciam, ainda assim, um estatuto político objectivo. O qual, diga-se en passant, poderia ser visto pelo poder instituído, por força da deriva messiânica e da pregação do Reino de Deus—um reino, portanto—como um projecto rival de conquista do poder. Ou poderia ainda resultar, mais subtil e discretamente, dos efeitos populares de um simples ideário programático ou ideológico, potencialmente agregador e/ou mobilizador e criador de desconfortos e hostilidade para com o poder instalado. Ou seja, a reacção do eixo de poder de Jerusalém—eixo judaico-romano ou romano-judaico—poderia ter-se motivado tanto pela aresta maquiavélica como pela esquina ideológica. Na verdade, faz sentido perguntar: se não há estatuto político de Jesus, a que título e com que fito pretende o poder instituído desembaraçar-se d’Ele? E por que o faz no modo solene e aparentemente garantístico, ainda que informal e sincopado, de um processo do tipo jurisdicional e não o fez no modo expedito de uma prisão arbitrária seguida de execução (à 7 8

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João Baptista) ou no modo encoberto e eficaz de um assassinato ou desaparecimento? Com efeito, a via processual judicial, com a sua dialéctica retórica e argumentativa e com a sua indução à publicidade, institucionaliza e politiza, mesmo no delito comum, os factos, as personalidades, as relações e os conflitos presentes no processo, presentes ao processo. Pode pois legitimamente perguntar-se: se não intercede a condição ou uma condição política de Jesus, com que fundamento e propósito pretende o poder instituído desembaraçar-se d’Ele? A resposta que aqui deixo, de modo sumário e perfunctório, seguramente insuficiente ante a complexidade do problema suscitado, encontra-se em Lucas e na voz reiterada de Pilatos: “Não acho n’Ele culpa alguma” 9. Seja qual seja a autenticidade ou a historicidade deste obiter dictum, deste dito lateral ou acessório, ele espelha, simboliza e documenta o reconhecimento pelo poder político formal da inocência de Jesus e, mais do que da inocência tout court, ele assinala a inocência política de Jesus. Numa palavra e sem mais delongas, o poder sabe que não é ao poder que Jesus vem, nem é ao poder que Jesus vai.

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A sedutora tentação de vincular o ensinamento de Jesus a um programa ou a uma agenda política Mais árduo e difícil—para não dizer, melindroso e delicado –, nos tempos que correm e nas expectativas que a mensagem de Jesus cria e adensa, é tentar demonstrar que o Seu ensinamento não contém um programa político, uma doutrina, uma ideologia—enquanto tal e qualquer que ele ou ela seja. A tentação dos nossos dias entre os seguidores de Cristo, sejam os mais “conservadores”, sejam os mais “progressistas”, é a de consignar um estatuto político ao cristão—que de um ou de outro modo há-de filiar-se no legado e reconduzir-se à pessoa do fundador: Jesus. Na verdade, embora muitas vezes ferozmente divididos, “conservadores” e “progressistas”— baptizemo-los assim por comodidade—são, feitas as contas, processado o deve e o haver, os herdeiros de séculos de conúbio entre a religião e a política. E carregam, ambas as correntes, no seu imaginário, nos seus anseios e nas suas projecções as forças replicadoras desses genes. Curiosamente, os denominados “progressistas”, sempre foram os que mais tenazmente denunciaram essa associação perigosa da política com a religião, ao menos, nos países oficial ou maioritariamente cristãos, como uma espécie de “incarnação aggiornata do farisaísmo”. Esses mesmos críticos vêm a ser afinal os que mais “enlevo” e mais “empenho” têm posto numa leitura política da personalidade e do ensinamento de Jesus. E, designadamente, têm-no feito por uma via programática e doutrinal, vinculando o Jesus dos textos e o seu ensinamento ou “magistério” a uma certa ideologia ou a um modelo político determinado, ou, no mínimo dos mínimos, a uma dada “agenda política”.

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Um ensinamento que recusa a fractura ou segmentação social como alavanca política Tomemos um exemplo significativo que nos permita perceber porque ponho em dúvida e ponho em crise a ideia da legitimidade da dedução de uma dimensão política programática no ensinamento de Jesus. É inquestionável a preocupação cardial de Jesus com os mais fracos, os mais pobres, os mais desfavorecidos, os mais rejeitados, os mais excluídos. Basta ler com olhos de ler as bem-aventuranças 10; mas a verdade é que não há página dos Quatro Evangelhos em que esse traço do pensamento e da vida de Jesus—essa prioridade absoluta à compaixão, enquanto paixão e sofrimento com o outro, enquanto pati partilhado—não esteja presente. Em todo o caso, arrancar desta asserção ou consciência para a definição, a partir do legado de Jesus, de um programa político “socializante” ou até para uma admissão do enfrentamento entre classes ou ordens sociais já me parece, ao menos, aos meus cândidos olhos, uma inferência ilegítima. Na verdade, Jesus não exclui ninguém e, por conseguinte, em momento algum exclui ou afasta os ricos e os poderosos. Jesus não nega a ressurreição à filha de Jairo, Jairo que era um dos principais da sinagoga 11. Jesus não nega à cura ao servo do centurião, que era um militar romano, presuntivamente influente 12. Jesus come frequentes vezes em casa de gente rica e/ou prestigiada na vida social daquele tempo—lembremos o convite do fariseu Simão em que a pecadora lava os pés de Jesus e os enxuga com os cabelos 13; a amizade com um judeu proeminente como Nicodemos 14; a

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Mt 5, 3-12. Mt 9, 18-26; Mc 5, 21-43; Lc 8, 40-56. Mt 8, 5-13; Lc 7, 1-10. Mt 26, 6-13; Mc 14, 3-9; Lc 7, 36-50; Jo 12, 4-9. Jo 3, 1-20; Jo 19, 38-40.

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relação com José de Arimateia que era membro do Sinédrio 15; a disposição de Jesus para ficar em casa de Zaqueu que era chefe dos publicanos

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ou então o diálogo paciente e ilustrativo com o jovem rico 17. A mensagem de Jesus, no plano religioso e étnico, não se circunscreve aos judeus: abre-se aos samaritanos (seja o bom samaritano da parábola 18, seja a pecadora de Sicar 19), estende-se ao centurião romano (que mostra mais fé que qualquer homem em Israel) 20, alarga-se à mulher siro-fenícia que pede para si as migalhas que caem da mesa 21 e alcança as cidades gentias de Sídon e Tiro (por comparação com Corazim, Betsaida e Cafarnaum) 22. De maneira paralela, a Sua mensagem não se circunscreve aos pobres e excluídos, num sentido puramente económico ou social, mas antes se orienta para todos sem excepção, mesmo os que têm uma vida mais fácil e mais bem sucedida. Com efeito, não serão muitos deles, à luz dos critérios de Jesus, verdadeiros enfermos, mais carecidos do Seu cuidado e atenção do que os abandonados da sociedade? Esta abrangência universal e englobante afasta, desde logo, uma qualquer leitura programática que arranque de uma identidade de posicionamento na escala social, económica, cultural ou outra. A proposta de Jesus dirige-se a cada um deles e a cada um de nós—a todos, sem contemporizações nem excepções e, por isso, não convive facilmente com a segmentação e o fraccionamento que, por definição, alimenta a tensão política.

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A justiça de Jesus não é uma justiça redutoramente social ou política Prosseguindo, e era aqui que queria chegar, não menos importante ou relevante é perceber que os parâmetros e padrões do ensinamento de Jesus— que constituem expressão última e primeira da sua personalidade—casam mal com um programa que possamos apodar de “social” ou de “socialmente equitativo” no sentido político, doutrinário ou até idealmente filosófico do termo. Justamente, porque como se verá, as categorias de Jesus transcendem a política, os seus parâmetros e os seus pólos de tensão. Vejamos então. Quando a viúva pobre lança apenas dois leptas no Tesouro e os outros jogavam maiores somas de dinheiro, Jesus observa que ela faz muito maior esforço do que todos os restantes 23. Ela dá tudo o que tem. E apesar de aquele montante lhe fazer, a ela, ostensivamente falta, nós não ouvimos Jesus afirmar—como exigiria uma ideia humana e contemporânea de solidariedade e equidade político-social—que ela deveria estar dispensada de dar e que porventura deveria ainda receber dos outros (ou dos cofres públicos…). Pensemos agora na parábola dos talentos 24. Acaso faz sentido, do ponto de vista da conformação de uma política social, humanamente justa, condenar aquele a quem foi confiado um único talento por o ter guardado e não ter arriscado a sua dissipação? Ainda por cima quando tinha apenas um talento? Se ele tivesse dois ou cinco, ainda poderia guardar algum e investir os restantes, mas tendo-lhe sido confiado apenas um único… e que nem sequer era dele… Que fosse admoestado, ainda “vá que não vá”…; agora ser apelidado de servo inútil, mau e preguiçoso… não será demais? E como 23 24

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compreender, a esta luz, a afirmação final de que “ao que tem, dar-se-á e terá em abundância; mas ao que não tem, até o que tem lhe será tirado”…? 25 Mas onde pára a solidariedade social de Jesus, se se tira ao que não tem? E na mesma ou mais desconcertante senda, tomemos a parábola dos trabalhadores da vinha 26. Cada um chega a sua hora e é contratado em seu tempo, mas ao fim, para pasmo dos ouvintes, todos recebem por igual. Será isto espelho de uma doutrina social equilibrada, capaz de sedimentar uma corrente política consequente? Que dizemos nós das reformas milionárias, para as quais se descontou um ano, quando as comparamos com as pensões de sobrevivência de quem descontou uma vida inteira e agreste? Apesar da preocupação com os mais pobres e os mais excluídos, poderá alicerçar-se nestes critérios e nesta visão a tão almejada dimensão programática…? Os exemplos podem multiplicar-se, quase como no milagre dos peixes e dos pães… e estejamos cientes de uma coisa… no final sobejarão cestos e cestos 27. Basta pensar na justiça paterno-filial do filho pródigo 28, no conformismo da afirmação de que “pobres sempre tereis convosco” 29, na aceitação do bálsamo ou de perfume caro derramado por Maria, irmã de Lázaro, no recurso sistemático à imagem dos servos sem se rebelar expressamente contra a servidão… O que estes episódios da vida e do pensamento de Jesus tornam transparente é que os seus critérios e parâmetros se situam num plano que não é nem pode ser o da forja ardente de um programa ou ideário político. Com efeito e na realidade, nada têm que ver com as exigências de organização social, de perequação financeira, de justiça distributiva, próprias da política 25 26 27 28 29

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e das suas demandas. Mas que, bem ao invés, se prendem com categorias e padrões de conversão pessoal, de generosidade, de entrega e gratuitidade, numa palavra, que aqui hoje ainda não me atrevi a usar, de amor. Ora, dificilmente se pode estruturar uma opção política, com todo o seu lastro e a sua inércia nessa força telúrica e vital dos humanos que é o amor. A não ser que se queira falar, provocatoriamente, mas julgo que sem consequência por evidente contradição nos termos, numa “política do amor”… Essa é a de Jesus, mas não cabe nem quadra nas realidades e transcendências de que estamos a tratar.

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Jesus e a vocação/provocação da recusa da redução política do Seu ensinamento Este percurso, duro e sinuoso, não foi feito para negar a opção preferencial pelos pobres, compreendidos no lato e generoso sentido que lhes dá Jesus. Este calvário argumentativo não foi feito para negar a extraordinária abertura de Jesus a todas as crenças e etnias, sem distinção. Esta incursão na aridez das palavras e das abstracções não foi feita, reitere-se, para negar o afloramento sistemático, quase psicadélico, de interacções com a política no ensinamento de Jesus. As lições a tirar da vida, do exemplo, da palavra, do gesto, do pensamento de Jesus para a política e para a conduta dos políticos são tantas como as estrelas do céu ou os grãos de areia da costa marítima. Nem vale a pena falar do espírito de serviço, da humildade dos que exercem o poder, da ética dos que administram o que não é seu, mas de todos. Mesmo em domínios insuspeitos, como são os hoje actualíssimos reguengos da comunicação política, própria das sociedades mediáticas, Jesus deixa orientações sobre o balanço entre a verdade e a propaganda. E algumas lições sobre como falar ao povo e, aspecto mais importante, como viver com o povo e para ele. Este percurso foi feito para dizer que o Evangelho não contém um modelo político, não integra um discurso total ou totalitário, determinista e conformista. Mas que, ao invés, está aberto a várias concepções do mundo e da vida, dos humanos e do seu envolvimento. Jesus não decreta leis nem assina panfletos, deixa à liberdade dos seus contemporâneos—que somos todos nós: sim nós somos contemporâneos de Jesus—a possibilidade de conformação política. Mais: dá-nos a chave para lidarmos com todo e qualquer regime político, sabendo como sabe, por experiência própria, que a organização política é muitas vezes um dado pré-existente sobre o qual a pessoa-indivíduo não consegue actuar. 26


REFLEXÕES DE UM MAU SAMARITANO

E essa chave não é a de um discurso total, potencialmente totalitário: é o discurso que aspira à totalidade. A aspiração à totalidade é a disposição inabalável para assumir as consequências das suas próprias convicções; mas significa, do mesmo passo, a renúncia à sua imposição seja pela força, seja pela persuasão forçada. Este aspirar à totalidade é tão desafiante para a política e para os políticos, que eles não vêem senão um único remédio: eliminar Aquele que é portador dessa mensagem que aspira à radicalidade. O grande drama do poder político ante a mensagem cristã—ou melhor, ante a pessoa e a mensagem de Jesus—é que esta não é um concorrente e não joga no mesmo domínio ou no mesmo terreno. Insisto, pois aqui reside a centralidade desta leitura que aqui partilho: a política não compreende Jesus, a política não digere Jesus, a política não consegue aliciar nem recrutar Jesus. Mas intui e pressente que a Sua aspiração à totalidade, a sua intenção à radicalidade a ameaçam e põem em risco. O processo de Jesus visa politizá-lo, prendê-lo nos grilhões das categorias da política e dos seus pólos de tensão, mas a personalidade de Jesus e o seu “ensinamento”—como persisto em chamá-lo—estão muito aquém e muito além desse desiderato e não se deixam nem podem deixar aprisionar. Jesus não é ingénuo: é puro, desprendido e manso, mas não é ingénuo. E não Se deixou nem Se deixa cair nas malhas da política. Não que veja a política como algo de necessariamente mau, desprezível ou sujo; apenas que a aquela radicada aspiração à plenitude transcende e supera a limitação endógena dos quadros e termos desse campo do humano. O pior “inimigo” que o discurso político—que é, por natureza tendencialmente total ou até totalitário, mesmo quando democrático—pode encontrar é um discurso/ensinamento que, não sendo total, aspire à totalidade, que não sendo pleno, almeje a plenitude, que não sendo radical, vise a radicalidade. Neste sentido, Jesus não é político nem faz política, 27


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mas não deixa de ser politicamente perturbador e politicamente relevante. A política, mesmo quando marcada pelos valores da liberdade e de democracia, há-de ser hostil a quem abala os seus padrões, interpela os seus parâmetros, desconcerta as suas categorias, se põe ostensivamente fora do seu campo de acção e influência. E Jesus e o Seu ensinamento estão de tal maneira alheados dos limites quase físicos da política que representam um marco de “provocação à política”, de “provocação” política, de “pro-vocação” política.

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Palavras e cautelas finais Sei que para muitos que, à semelhança dos judeus do século I, esperam de Jesus e dos Evangelhos uma redenção política, esta minha leitura é deveras decepcionante. E para outros, que aguardavam a justificação teológica de um minimalismo político, esta visão é militantemente ligeira e superficial. É a leitura de um político que se reclama abusivamente dos cristãos (um “cristão de cultura católica”—e não simplesmente um católico –, como sempre me defino). Mas que—perdoe-se-me a intimidade da confissão, pois falar de Jesus não nos pode deixar indiferentes ao vazio e ao vácuo das nossas vidas—tem a consciência—nítida, “pesante“ e pesada—de que não passa de um samaritano; de um daqueles para os quais também Jesus veio. Mas de um samaritano que, ao contrário do homem justo da parábola, é um mau samaritano, o mau samaritano. Que estas reflexões tenham sido ouvidas e possam agora ser lidas à conta e com desconto dessa essência e dessa circunstância de vida: foram tão-só e apenas as reflexões de um mau samaritano.

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Jesus and Politics Reflections by a Bad Samaritan



+ Presentation and Acknowledgements . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37 + Prologue: in the midst of the teachers . . . . . . . . . . . . . . . . . . 39 + Method: read and reread the narratives . . . . . . . . . . . . . . . . 41 + Approach in the negative: absence of a “Machiavellian time” in Jesus. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 42 + Approach in the negative: absence of an “aristotelic space” in Jesus . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 43 + Jesus: a teaching that attempts to totality but which is not total . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 45 + Jesus stripped of pretension to power: even the power that kills Him recognizes His political inocence . . . . . . 46 + The sweet temptation to link the teaching of Jesus to a political program or a policy agenda . . . . . . . . . . . 48 + A teaching that refuses social divide or social segmentation as a political lever . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 49 + The righteousness of Jesus is not a reductively social or political justice . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 51 + Jesus and the vocation/provocation of the refusal of a political reduction of His teaching . . . . . . . . . . . 53 + Final words and warnings . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 56



Reflections by a Bad Samaritan

Presentation and Acknowledgements I would like to begin by expressing my thanks for the invitation to participate in this conference, “Church in Dialogue,” dedicated this time around to a perilous, or rather, a bewildering subject for any speaker: “ Who was (is) Jesus Christ?” To express my thanks, I must direct them to a certain person, namely Father Anselmo Borges, to whom I am attached in many ways—to his radio programs, as a devoted listener; to his writings, as an eager reader; and, at feasts, celebrations, and other “weddings at Cana” 1 over which he has presided, as an attentive fellow-worshipper. For me (and this really suffices to say everything, so I shall not say any more) he embodies the “Church in Dialogue”. Thank you, Father Anselmo.

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John 2:1

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Prologue: In the Midst of the Teachers When invited to participate in this conference, I was absolutely surprised and could not understand the reasons for the invitation. In the long time since then, and despite my sincerest attempts at discovering these reasons, I confess that I understand even less of the motives behind this intriguing proposal. After taking part in several sessions, whether clacking away at my laptop or sitting, pen poised in the old-fashioned style, scribbling notes on paper, I realized through these experiences what I had already sensed and suspected from the start, namely that my knowledge of theology, of history, of politics, and of other scientific disciplines is insufficient for me to muse and expound for you upon this subject, “Jesus and Politics.” Lacking as I do the life experience, the artistic inspiration, and the virtue of faith, even in the modest size of a “mustard seed” 2, of which the Gospels speak, it seems there is no way for me to supply or to ameliorate this deficit of knowledge. Therefore I stand here on this Saturday afternoon—a “Sabbath…made for man” 3, as it were—like the child Jesus among the scholars and doctors of the law. 4 I hope this comparison will not scandalize you, but rather that you will forgive its boldness in light of the tolerance we preach. To be sure, I make no pretensions to the insightfulness or intelligence of the young Jesus, nor either his human and divine inspiration. 2 3 4

Matthew 17:20 Mark 2:27; Luke 6:7 Luke 2:21

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When they found him in the midst of the teachers, Jesus was amazed that Mary and Joseph were perplexed. For him it was only natural to be in his Father’s house, as he himself remarked. With regard to my own case, dear scholars and doctors, I beg you to excuse me if I seem disoriented or out of place, more like the bewildered parents than the youth to whom I have just likened myself. But permit me now to say: Mary and Joseph brought Jesus with them in the caravan going down to Jerusalem for the Feast of Passover, and upon finding him, brought him home once more to Galilee, a long distance off. In this interlude, this intermezzo, this interim—it is here I hope myself to be found and rescued, with all of us I being fully aware of my limitations and reservations, as I shall speak about Jesus and Politics.

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Reflections by a Bad Samaritan

Method: Read and Re-read the Narratives I could only see one—yes, only one—methodology for approaching the subject in plain language: to return to the foundational texts of the four Christian Gospels, and these alone. And with the freedom which only ignorance allows—or to use more considered and less shocking words— with “’that’ freedom which ‘only’ ignorance allows”—dig down into their roots, search for the traces, the threads, the fine strands which illuminate and illustrate the relation between Jesus and Politics. This course or method—sinuous, erratic, wide-ranging, and at best, casuistic or inductive—seems to call into question, irremediably and from the very outset, the possibility of achieving a total or general theory on the relation between Jesus and Politics. Or at the very least, it seems to call into question the more fundamental possibility of sketching a “general theory” or drafting an ersatz interpretation or “global understanding.” “ Truly, truly, I say to you” 5—to borrow an expression placed on the lips of Jesus (65 times, to be precise)—the impossibility of achieving a general theory about the relation of Jesus and Politics is not tragic; quite the contrary, it suggests, it evinces, it indicates a quality or property essential to a right understanding of this subject. For the person of Jesus himself, and also his message about his relation with politics, are, in my own way of seeing it after reflecting upon the Gospel texts, fragmented, intermittent, porous, and as a result, narratively open.

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E.g. John 5:19, 25

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Via Negativa: The Absence of a “Machiavellian Time” in Jesus If we were to consider the general images or characterizations of Jesus drawn from the texts of the Christian gospels, seeking to differentiate between those which are acceptable and those which are not, one would have to refuse—and refuse completely—a “conspiratorial” reading of Jesus’ personality. What I mean is, direct and immediate contact with the gospel text and its contents, as distinguished from the various framings and interpretations given to the same by scholars and exegetes, does not allow and does not countenance a “Machiavellian” reading of Jesus, His personality, His message, and His history. In other words, the desire—often great—to burden the life, deeds, and preaching of Jesus with this or that historical, semantic, or contextual baggage can not be gratified on the basis of the narration which has been handed down to us. Making use of a concept which has gained ground in political theory of late, but which I use here according to a distinct and original meaning, there is not even the slightest trace of a “Machiavellian moment” in Jesus’ life. Does this mean Jesus has nothing to say about politics, or that politicians have nothing to learn from Him? No, not at all, as we shall see further on. What it means is only that there is no specific, genuine, and intentionally political time in Jesus.

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Via Negativa: The Absence of an “Aristotelian Space” in Jesus The absence of a political time in Jesus must be read in light of the word’s threefold etymology, as referring not merely to a given interval, but in broader the sense of the Latin word momentum, meaning an impulse or movement as well as a cause or motif. The absence of a momentum politicum does not mean merely the absence of a Machiavellian dimension, consisting in its own restricted sense of a drive for conquest and the preservation of power, but entails also the surprising (or perhaps disenchanting or disappointing) consequence that Jesus is not either a Platonic-Aristotelian think-tank, wherein thought in the forms of philosophy, doctrine, or ideology is directed towards action. In a word, from the viewpoint of politics, in Jesus we find neither the Machiavellian time nor the Aristotelian space—a revelation which might strike many (and which certainly strikes some) of our generation as a great disappointment or even a cause for scandalized outrage. True, many are willing to say there is no trace of Machiavellianism in Jesus, except maybe to the extent that He distinguished between that which is due to Caesar and that which is due to God, 6 or again, between the Kingdom of Heaven and the kingdom of this world. But I suspect many more are unwilling to say there is no trace of a political message, connected to some doctrine or ideology, to be found in Jesus. Because of this, it does not surprise me when someone draws connections between Jesus and Pericles or Alexander, Cicero or Julius Caesar, Mark Antony or Octavian, or when someone displays tremendous inge-

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Matthew 22:21; Mark 12:17; Luke 20:25

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nuity in constructing elaborate bridges, arches, flyovers, and tunnels in order to connect Him with Aristotle or Plato, Adam Smith or Karl Marx, Socrates or Gandhi. Though many happily say that Jesus did not lust for power, even in spite of the devil’s temptations, it is difficult to say that in Him was not the audacity of a temporal program or a plan for society. In our own age, always thundering and fulminating about such projects, this possibility challenges and frustrates one’s faith, it causes pain and doubt.

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Jesus: A Teaching Aiming at Totality, but Which is Not Total It is all the more obvious that if we wish to assume the absence of a political program in Jesus, whether on a doctrinal or an ideological basis, that this does not pose a hindrance to finding political insights and episodes in His life, deeds, example, and preaching. But these episodes are, as I have already said, fragments. They are like dots separated by a great space but with no lines to connect them, no general or systematic teaching to encompass them all and unite them into a coherent body of thought. And so it happens that people constantly, almost incessantly, propose one or another political program as the interpretive key for harmonizing or making sense of the disparate sayings of Jesus. But it seems to me there is no “total teaching” of Jesus on politics, no absolute program for the organization of political life, no step-by-step instruction for politicians to follow. There are indeed fragments of politically relevant material, true, but as far as a conscious and comprehensive political doctrine is concerned, there is none to be found. This is because the teaching of Jesus—if I might summarize it in a rather convenient expression, together with His thought, life, attitude, example, character, and all His other aspects—plunges into radicality even when it is not radical and aspires to totality even when it is not total.

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Jesus Stripped of Pretension to Power: Even the Power that Kills Him Recognizes His Political Innocence It is apparent that there is no “Machiavellian moment” in Jesus, if by that one means the seizure and jealous preservation of power. This much is seen from His answer to Pilate: “My kingdom is not of this world”. 7 It is seen also in another of His sayings, the true birthplace or fatherland of secularism: “Render unto Caesar the things that are Caesar’s, and to God, the things that are God’s”. 8 One can ascribe many senses to these words, or can consider them as directed to various hearers—whether the scribes, Pharisees, and Saducees among the Jews, or the Romans, who in divinizing the Emperor failed to distinguish adequately between the worldly and heavenly spheres. Regardless, however, it is clear that Jesus detaches and diverts the Kingdom of God from any political intention or pretension. Others might wonder if, in spite of the absence of a political intention or a lust for power, the Passion of Jesus—His arrest, His interrogation, His trial, His conviction, and His ultimate execution—nevertheless constitutes or brings into being an objective political status. In a word: is the apolitical Jesus politicized by the circumstances of His death? Let it be said in passing that this line of thought could be taken by the powers-that-be as a rival project to the conquest of power, perhaps in virtue of the messianic drift and the preaching of the Kingdom of God or, in more subtle and discreet fashion, from the popular effects of a simple programmatic or ideological compendium aimed at arousing and fomenting hostility to entrenched power.

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John 18:36 Matthew 22:21; Mark 12:17; Luke 20:25

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Actually, it makes sense to ask: If Jesus holds no political status, under what pretenses and with what aim do the powers-that-be undertake to dispose of Him? And why do they choose to do so through the solemn means of a legal process, however perfunctory and abbreviated it may have been? Why not select a more efficient means to the same end? Why not an arbitrary arrest and summary execution, as in the case of John the Baptist, or why not make Him simply “disappear”? Indeed, the juridical procedural route, with its rhetorical and argumentative dialectic and its publicity institutionalizes and politicizes, even in minor misdemeanors, the facts, personalities, relationships, and conflicts present in the process to such an extent that even the process itself is politicized. One could therefore legitimately ask: if not because of His political condition, or an aspect of politics in Him, on what grounds or for what cause do the powers-that-be undertake to dispose of Jesus? My own answer, itself very perfunctory and inadequate to the problem at hand, can be found in the iterations of Pilate: “I find no guilt in this man”. 9 Whatever the historicity or authenticity of this obiter dictum, this accessory saying, it nevertheless reflects, symbolizes, and documents the recognition by the formal political power of Jesus’ innocence, not only in a legal sense, with respect to the charges against Him, but also politically. In a word, the powers-that-be know it is not “to power” that Jesus comes, nor “to power” that He goes.

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Luke 23:4

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The Sweet Temptation to Link the Teaching of Jesus to a Political Program or Policy Agenda Considering the expectations created and deepened by Jesus’ message, in our day and age, it is extremely difficult to try and demonstrate that His teaching does not contain a political program, a doctrine, or an ideology of some kind or another. There is a temptation among the followers of Christ in our day and age, be it the most “conservative” or the most “progressive,” to assign a political status to Christians, a status which, in their own view, is linked with the legacy and person of Jesus. In fact, though often fiercely divided, “conservatives” and “progressives”—let us use these terms for expediency’s sake—are the heirs of a centuries-old alliance between throne and altar, between politics and religion. Both ideological strands carry the imagery, the longings, the features, and the multiplier forces of their shared ancestry. Interestingly, the so-called “progressives” have always been the ones to most strenuously denounce the dangerous association of politics with religion as a sort of “contemporary Pharisaism,” at least in countries where Christianity has an official status or is the majority religion. But these same critics have also ultimately put the most “rapture” and the most “commitment” in the political reading of the personality and teaching of Jesus. Specifically, they have been doing this through a programmatic and doctrinal route, linking the texts of the Gospel—comprising the magisterium of Jesus—to a certain ideology or a particular political model, or at the very least, to a certain policy agenda.

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A Teaching that Refuses Social Divide or Social Segmentation as a Political Lever Let us consider a significant example that will help understand why I question the legitimacy of facilely ascribing a political dimension to the teaching of Jesus. There is no question that Jesus showed paramount concern for the weak, the poor, the underprivileged, and those rejected by or excluded from society. To see this, one need only look at the Beatitudes, though in truth, there is not a single page in the four Gospels on which this characteristic of His life and thought does not find expression—this assignment of absolute priority to compassion for those experiencing suffering. 10 Now, to infer from this very clear example specific policy prescriptions— for example, the necessity of social assistance programs—or to take it as evidence of a confrontation, even a conflict, between social classes, seems to me an illegitimate inference. In fact, Jesus excludes no one, not even the wealthy or the powerful. He did not refuse to raise up the daughter of Jairus, who was one of the most prominent officials of the synagogue. 11 Nor did he refuse to heal the servant of the centurion, who we can fairly presume was an influential Roman soldier. 12 He often ate at the homes of the wealthy and prestigious, too— let us remember the invitation extended by the Pharisee Simon, at which the sinful woman washed the feet of Jesus and dried them with her hair; 13 His friendship with other prominent Jews such as Nicodemus

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Matthew 5:3-12 Matthew 9:18-26; Mark 5:21-43; Luke 8:40-56 Matthew 8:5-15; Luke 7:1-10 Matthew 26:6-13; Mark 14:3-9; Luke 7:36-50; John 12:4-9 John 3:1-20

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and


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Joseph of Arimathea, who was a member of the Sanhedrin 15; His staying at the home of Zacchaeus, a chief tax collector 16; and of course His patient and illustrative dialogue with the rich young man 17. When framed in its religious and ethnic background, Jesus’ message is clearly not confined to the Jews alone. It is open to the Samaritans (whether the Good Samaritan from the parable 18 or the sinful one from Sychar ) 19, the Romans (including the centurion, who showed greater faith than any man from among the sons of Israel) 20, and the Syro-Phoenicians (including the woman who asked even for the crumbs that fell from the table 21 to the cities of Tyre and Sidon, which Jesus compared favorably with the cities of Chorazin, Bethsaida, and Capernaum 22). In a parallel way, the message of Jesus is not confined to the poor and excluded alone, whether in a purely economic or social sense; rather, His message is directed to all without exception, even to those who have a life that could be seen as easier or more successful. Indeed, in light of Jesus’ criteria, aren’t these latter the real sick, more in need of His care and attention than the marginalized among us? This universal, comprehensive perspective rules out from the very beginning the possibility of a programmatic reading of the life and teachings of Jesus, based on an identity position in the social, economic, or cultural scale. What Jesus proposed speaks to each and every one of us, to all of us, without temporizations or exceptions; it therefore does not easily coexist with that segmentation and fragmentation which, by definition, feeds political tension. 15 16 17 18 19 20 21 22

John 19:38-40 Luke 19:1-10 Matthew 19:16-30; Mark 10:17-31; Luke 18:18-30 Luke 10:30-37 John 4:4-40 Matthew 8:5-13 Matthew 15:21-28 Luke 10:13-16

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The Righteousness of Jesus is Not a Reductive Social or Political Justice And taking the same (or perhaps an even more confusing path), let us consider the parable of the vineyard workers 23. Each worker arrives in his own time and each one gets hired in his own time, but at last, to the astonishment of all, the workers are all paid equally. Is that a mirror of a balanced social doctrine? Can that provide the basis for meaningful policy in the present day? What lessons should we draw from this parable in connection with pension policy, when some pensioners have contributed only for a year and others have contributed over the course of a lifetime of arduous work? Despite concerns about the poorest and the most marginalized, may we construct a policy agenda on the basis of such parables as these? Examples could be multiplied, almost like the miracle of the five loaves and two fish, but be aware of one thing: there will be leftovers in the end 24. Just think of the paternal-filial justice in the parable of the prodigal son 25, or the statement that “the poor you will always have with you� 26, or Jesus’ acceptance of having His feet anointed with balm or expensive perfume by Mary, the sister of Lazarus, or even His systematic use of servant imagery without expressly calling for rebellion against servitude. What these episodes from the life and teachings of Jesus make clear is that their criteria and parameters lie in a plane that is not, and indeed cannot be, the fiery forge of a political program or ideology. In fact, this has little to do with the demands of social organization, of financial equalization and distributive justice, which constitute the basic demands at the heart 23 24 25 26

Matthew 20:1-16 Matthew, 14:20, 15:37; Mark 7:43, 8:8; Luke 9:17; John 6:13 Luke 15:11-32 Matthew 26:11, Mark 14:7; John 12:8

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Jesus and Politics

of politics. Quite to the contrary, those episodes relate to categories and standards of personal conversion, generosity, dedication and gratuity—in a word, one which I have not thus far dared to use, love. But it is difficult to structure a policy option, with all its gravity and inertia, on the basis of this telluric and vital human force. Unless, of course, one wants to talk about a “policy of love.” That is Jesus’ policy, but it does not fit the realities we are now considering, nor does it suffice to frame them ideologically.

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Reflections by a Bad Samaritan

Jesus and the (Pro-)Vocation of the Refusal of a Political Reduction of His Teaching This long and circuitous route was not intended to deny the preferential option for the poor, as understood in its broadest and most generous sense, for which Jesus Himself allowed. This argumentative ordeal was not meant to deny the extraordinary openness of Jesus to all faiths and ethnicities without distinction. This foray into the dryness of terms and abstractions has not been made in order to deny the almost psychedelic, systematic cropping up of interactions between politics and the teachings of Jesus. The words and deeds of Jesus can provide countless insights for constructing policies and conducting public affairs—as countless as the stars of night or the grains of sand on the seashore. There are other lessons, too—lessons on the spirit of service, on the humility required of those who wield power, on the ethics of administering that which is not yours to keep, but is rather held in trust for all. Even in unsuspected areas, such as political communication in an age of mass media, there are still some lessons, for example, on the balance of truth and propaganda, or how to talk to people, or still more importantly, how to live with and for others. This route was chosen in order to say that the Gospel does not contain a political model and it does not incorporate a total, all-encompassing, deterministic or conformist discourse. Instead, it is open to various conceptions of the world, of life, of humans and their activities. Jesus does not decree laws. He does not scribble pamphlets. Rather, He concedes the task of configuring political life to His contemporaries. And really, aren’t we also His contemporaries, you and I and all of us? The route we have chosen also gives us the key to dealing with any and all political regimes, with the awareness gained from experience that political organization is often a pre-existing datum on which the individual person cannot act. 53


Jesus and Politics

And this key is not that of a total or a totalitarian discourse, which is to say, one aspiring to totality. Such an aspiration is really the unwavering willingness to accept the consequences of one’s own convictions while at the same time renouncing the imposition of these convictions upon others, either by force or forced persuasion. This totality is so challenging for politics and politicians, who can only see one remedy for it: eliminate whoever (or should we say, Whoever) carries the message aspiring to radicalism. The great drama of political power confronting the Christian message—or rather, before the person and message of Jesus—is that He is not a competitor and does not play in the same field or on the same grounds. I would like to stress as a central part of this discourse: politics cannot comprise Jesus, nor can they digest Him, nor inveigle or recruit Him. But politics can perceive and sense that His aspiration to totality, His radical intention, poses some danger and threat to its domain. The process aims to politicize Jesus, to hold Him in the bonds of the political categories, between its poles of tension, but the personality of Jesus and His “teaching,” as I insist on calling it, are at a single moment well short and far beyond this aim; they are not, they cannot be held in bondage. Jesus is not naïve. He is pure, yes, and gentle, but He is not naïve. He did not fall into the political trap. But neither did He see politics as something necessarily bad, as something despicable and dirty; rather, He saw that the deeply-rooted desire for plenitude transcends and surpasses the feeble constraints and frameworks which characterize that field of human activity. Even when democratic, political discourse always tends at least towards totality or even totalitarianism. Thus, the worst “enemy” it can find is a speech or teaching that, while not total, still aspires to totality; one that, while not full, desires fullness; one that, while not radical, aims at radicality. In this sense, Jesus is not political nor a maker of policy, but even 54


Reflections by a Bad Samaritan

so, He remains politically disruptive and politically relevant. Politics, even when marked by the values of freedom and democracy, is hostile to anyone who shares its standards, questions its parameters, challenges its categories, or appears to step beyond his or her own proper field of action and influence. Jesus and His teachings are so far removed form the almost physical limits of politics that they represent a cornerstone of “political provocation” or “provocation to politics.”

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Jesus and Politics

Final Words and Warnings I know that many, like the Jews of the first century, expect a kind of political redemption out of Jesus and the Gospels. I fear my discourse has been disappointing for such people, just as it must seem militantly superficial to those who expect the converse theological justification of political minimalism. All this comes from a politician who perhaps too often refers to himself as a Christian (I have always considered myself as not merely a Catholic, but as a “Christian of Catholic culture”)! Please forgive this intimate confession, however, since talking about Jesus cannot leave us indifferent to the emptiness and void in our own lives. I am very conscious, with my weighted and weighty conscience, that I am but a Samaritan, one of those for whom Jesus came, even though I am not as exemplary as the Samaritan of the parable—a “bad Samaritan,” as it were. May these reflections be read in consideration of these said life circumstances, and if needs be, let their estimation be adjusted accordingly: they are nothing but the reflections of a bad Samaritan.

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Jésus et la Politique Réflexions d’un Mauvais Samaritain



+ Remerciement et présentation . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 63 + PROLOGUE: COMME PERDU PARMI LES DOCTEURS . . . . . . . . . . . . . . 65 + MÉTHODE: LA LECTURE ET LA RELECTURE DES NARRATIVES . . . . . . . . 67 + APPROCHE APOPHATIQUE: L’ABSENCE D’UN “TEMPS MACHIAVÉLIQUE” CHEZ JÉSUS . . . . . . . . . . 68 + APPROCHE APOPHATIQUE: L’ABSENCE D’UN “ESPACE ARISTOTÉLIEN” CHEZ JÉSUS . . . . . . . . . . . 69 + JÉSUS: UN ENSEIGNEMENT QUI ASPIRE À LA TOTALITÉ, MAIS QUI N’EST PAS TOTAL . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 70 + JÉSUS DÉVÊTU DE TOUTE PRÉTENTION AU POUVOIR: MÊME LE POUVOIR QUI LE TUE RECONNAÎT SON INNOCENCE POLITIQUE . . . . . . . 72 + LA SÉDUCTRICE TENTATION DE LIER L’ENSEIGNEMENT DE JÉSUS À UN PROGRAMME OU À UN AGENDA POLITIQUE . . . . . . . . . 74 + UN ENSEIGNEMENT QUI REFUSE LA FRACTURE OU LA SEGMENTATION SOCIALE COMME LEVIER POLITIQUE . . . . . . . . . 75 + LA JUSTICE DE JÉSUS N’EST PAS UNE JUSTICE RÉDUCTIBLEMENT SOCIALE OU POLITIQUE . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 77 + JÉSUS ET LA VOCATION/ PROVOCATION DU REFUS DE LA RÉDUCTION POLITIQUE DE SON ENSEIGNEMENT . . . . . . . . . . . . 80 + MOTS DE FIN ET PRÉCAUTIONS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 82



Réflexions d’un mauvais Samaritain

Remerciement et présentation J’aimerais commencer par vous remercier de l’invitation qui m’a été faite de participer à ce colloque “l’Église en Dialogue”, cette fois-ci soumis à un thème atroce, ou plutôt, “crucifiant” pour tout orateur: Qui fut (est) Jésus Christ? Et cela, je ne peux le faire qu’au travers de la personne du Père Anselmo Borges, à qui des liens d’auditeur “interpelé” de radio, de lecteur “éprouvé” de chroniques et de livres, de participant “attentif” de fêtes, célébrations et autres “noces de Cana” 1, ce à quoi il présida occasionnellement, me lient. À mon semblant, et je n’en dirai pas davantage—car cela me paraît être plus que suffisant pour tout dire—, il a su être, il a été et il est l’Église en Dialogue. Merci Père Anselmo.

Jn 2, 1.

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Réflexions d’un mauvais Samaritain

PROLOGUE: COMME PERDU PARMI LES DOCTEURS Quand je fus invité à venir ici, je restai tout à fait surpris et ne compris la ou les raisons de l’invitation. Après de longs mois et diverses réelles tentatives d’approche au thème, je comprends encore moins quel ou quels motifs ont pu être derrière une proposition aussi intrigante. Après de nombreuses heures passées devant des pages blanches et un écran d’ordinateur allumé, et parfois même, à la mode d’antan, stylo à la main, je vérifiai, avec la force propre et amère de l’expérience, ce que j’intuitais et ressentais déjà depuis la première minute… Je manque de connaissances théologiques, historiques, politiques et scientifiques pour vous parler de ce thème, pour réfléchir avec vous sur le thème de Jésus et la Politique. Et comme je ne possède pas, tout du moins dans des proportions se rapprochant du seuil évangélique de la “graine de moutarde” 2, l’expérience de vie, l’inspiration poétique ou la vertu de la foi, il n’y a pas moyen de compenser cet évident manque de connaissances. J’arrive, donc, ici, en cette après-midi de samedi (ce “Samedi qui fut fait à cause de l’Homme” 3), l’on me pardonnera la comparaison—, j’espère, qu’avec la tolérance que nous prêchons, tous comprennent et relèvent—j’arrive ici, disais-je, comme un adolescent parmi les docteurs 4. Mais bien sûr sans la connaissance, sans l’intelligence et sans l’inspiration humaine et divine du jeune Jésus. Lui qui s’étonna de la perplexité de Marie et de Joseph, quand évidemment pour Lui le “cercle des docteurs” était confortable et naturel, n’était-il

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Mt 17, 20. Mc 2, 27; Lc 6, 5. Lc 2, 41.

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pas, comme il le rétorqua à sa Mère, chez son père? Dans mon cas—dans “mon cas”, pour copier l’expression de José Régio—que me pardonnent les docteurs de la loi et les prophètes, mais je me sens “déconforté” et désorienté, comme un enfant perdu des dits parents. Parents qui apparemment suivent dans la caravane qui descendit à Jérusalem pour la fête de Pâques; caravane qui entretemps, et à ce que je soupçonne, revient déjà, avec un jour de voyage en plus, en Galilée. C’est, donc, dans cet intervalle, dans cet entremet, dans cet intérim, dans lequel j’espère que vous me trouviez et me sauviez, que, conscient (moi) et conscients (vous) de ces réserves et limitations, je parlerai avec vous du thème Jésus et la Politique.

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Réflexions d’un mauvais Samaritain

MÉTHODE: LA LECTURE ET LA RELECTURE DES NARRATIVES J’entrevis alors uniquement une voie méthodologique d’approche au thème ou, mettant les choses en termes plus terre à terre, j’entrevis alors un seul chemin: revenir aux textes fondateurs—aux quatre Évangiles et uniquement à eux. Et avec la “liberté” que l’ignorance permet—ou, dit d’une façon moins abrupte et plus prudente, avec “cette liberté” que “seule” l’ignorance permet—de percevoir en eux, rechercher en eux les traits, les fils, les filaments, les illuminateurs et les illustrateurs de la relation entre Jésus et la Politique. Ce chemin ou cette méthode—sinueux, erratique, voyageant, dans la meilleure des hypothèses, casuistique ou inductif—paraît remettre en cause, dès le départ et irrémédiablement, la possibilité de parvenir à une “théorie générale” à un aperçu ou à un semblant “d’interprétation” ou de “compréhension globale”. “En vérité, en vérité soit dit”—pour utiliser une locution tant de fois (parait-il 65 fois) attribuée à Jésus 5—cette impossibilité d’atteindre ou de parvenir à une “théorie générale” n’a rien de tragique et, bien au contraire, indique, traduit ou révèle un trait, une qualité, une propriété essentielle ou nucléaire de la relation entre Jésus et la Politique. C’est que la relation de Jésus et de Son message avec la politique vient à être, à mon avis, après cette lecture, et, en particulier, après une réflexion intentionnelle sur elle, une révélation du caractère fragmenté et fragmentaire; une relation fragmentaire, intermittente, poreuse et, par conséquent, “narrativement” ouverte.

5

Jn 5, 19; Jn 5, 25.

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Jésus et la Politique

APPROCHE APOPHATIQUE: L’ABSENCE D’UN “TEMPS MACHIAVÉLIQUE” CHEZ JÉSUS M’essayant paradoxalement à une vision générale ou une “généralisation”, peut être des seules—et pour cause, à savoir, par force de la propre texture de son énoncé-, peut-être des seules, donc, qui paraisse admissible inférer du Jésus des textes évangéliques, l’on dira qu’il est de refuser, et de refuser strictement- une lecture “conspirative” des Évangiles, ou ne serait-ce même une lecture “conspirative” de la personnalité de Jésus. C’est-à-dire, le contact direct et immédiat avec les textes et avec ses suggestions, isolé des encadrements, des écoles et des traditions herméneutiques ou même des galaxies narratives qui prolifèrent aujourd’hui, ne permet ni n’autorise une lecture “machiavélique” de Jésus, de Sa personnalité, de Son message et de Son histoire. Dit d’une autre façon, pour plus de charge ou de ballast historique, sémantique et contextuel que l’on veuille apporter au discours et à la “praxis” de Jésus, l’on ne détecte pas dans Sa vie—telle qu’elle nous est racontée et pour me sauver d’un concept qu’ont certains parchemins en théorie politique récente, mais ce à quoi l’on donne ici un sens propre et original—, l’on ne perçoit pas dans la vie de Jésus le “moment machiavélique”. Cela signifie-t-il ou cela amène-t-il à une “fermeture” ou à une “immunisation” de Jésus à la politique et au politique ? Non, nous verrons plus tard que non. Cela signifie juste et uniquement- ce qui, en dépit de tout, n’est pas peu- qu’il n’y a pas un moment- ou si l’on préfère, pour donner plus de latitude et compréhensibilité au concept—, il n’y a pas de temps spécifiquement, réellement et intentionnellement politique chez Jésus.

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Réflexions d’un mauvais Samaritain

APPROCHE APOPHATIQUE: L’ABSENCE D’UN “ESPACE ARISTOTÉLIEN” CHEZ JÉSUS Cette absence du momentum politicum doit être lue dans le triple sens de la racine et de l’étymologie latines, non seulement dans le sens de segment du temps et de sa cadence, mais également dans le sens d’ “impulsion/ mouvement” et de “cause/motif”—enfin, momentum comme temps, mouvement et cause. Cette absence de momentum politicum ne se reflète pas seulement dans la dimension machiavélique, comprise dans un sens strict, de conquête et de préservation du pouvoir; mais s’étend, ce qui peut surprendre et peutêtre même désenchanter et désappointer, à la dimension platonico-aristotélique de la production de pensée; de la pensée orientée vers l’action, qu’elle soit d’abord philosophique, déjà doctrinaire, ou finalement idéologique. En quelques mots, et du point de vue politique, du point de vue constitutivement politique, chez Jésus ne manquera-t-il pas seulement le temps machiavélique, mais également l’espace aristotélique. C’est ce qui apparaît ou apparaîtra à beaucoup, à savoir de notre génération, comme un grand désappointement, qui sait peut-être même un motif de scandale. En réalité, beaucoup seront prêts à accepter qu’en Jésus, à l’exception de la distinction entre César et Dieu 6 et la séparation entre le Royaume et le Monde, il n’y ait pas de machiavélisme. Mais, j’anticipe, ils seront beaucoup plus réticents—sinon même résistants ou même insurgés— à adhérer à l’idée qu’il n’y ait pas chez Jésus de message politique, de guide d’une doctrine ou de boussole idéologique.

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Mt 22, 21; Mc 12, 17; Lc 20, 25.

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Jésus et la Politique

Personne ne trouvera étrange que l’on ne compare pas Jésus à Périclès ou à Alexandre, à Cicéron ou à Jules César, à Marc Antoine ou à Octavien. Mais certains ne comprendront plus que l’on ne lance pas des ponts, des arches, des viaducs et des tunnels, avec plus ou moins d’ingéniosité et d’ingénierie—vers Aristote ou vers Platon, vers Adam Smith ou vers Marx, vers Socrate ou vers Gandhi. Qu’en Jésus il n’y ait pas le vertige du pouvoir—bien qu’il puisse avoir existé et émergé la tentation—beaucoup admireront, qui sait honnêtement et peut-être même avec soulagement… Mais qu’en Jésus il n’y ait pas et n’ait jamais eu l’audace d’un programme temporel et le risque d’un projet social ou sociétal, ça, à l’âge frémissant et crépitant dans lequel nous vivons, est déjà plus difficile à croire et ça frustre et ça blesse et ça scandalise !

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Réflexions d’un mauvais Samaritain

JÉSUS: UN ENSEIGNEMENT QUI ASPIRE À LA TOTALITÉ, MAIS QUI N’EST PAS TOTAL Évidemment qu’assumer l’absence d’un programme politique de Jésus, même sur le plan doctrinaire et idéologique, ne signifie pas qu’il n’y ait pas d’instants et d’épisodes politiques dans la vie, dans l’exemple, dans le discours et dans la pensée de Jésus. Et, aussi sûrement, de multiples et profondes implications et réfractions du discours, des attitudes et de l’exemple de Jésus dans la vie et dans l’activité politique. Mais ils se présentent, insistons-y et persistons-y, comme fragments, porosités, intermittences: les “porosités” auxquelles l’on a fait allusion pour situer les points de contact dans l’espace ou les déjà mentionnées “intermittences” pour insérer les lignes de communication dans le temps. Ce qui n’existe pas là-bas—je dirai même, pour actualiser, pour le rendre actuel: ce qui n’existe pas ici—est une pensée totale, ou de manière moins ambitieuse, un enseignement total. Une pensée totale ordonnancée à la politique. Un enseignement total dirigé au politique. Il y a des fragments, des porosités, des intermittences politiques et politiquement pertinentes, mais il n’y a pas de pensée ou d’enseignement politique, qui se revendique de la politique ou du politique. Et, dès lors, parce que l’enseignement—pour condenser dans une expression commode et plastique la synthèse de la pensée, de la vie, de l’attitude, de l’exemple, du caractère—l’enseignement de Jésus, disais-je, plonge dans la radicalité, mais n’est pas radical, aspire à la totalité, mais n’est pas total.

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Jésus et la Politique

JÉSUS DÉVÊTU DE PRÉTENTION AU POUVOIR: MÊME LE POUVOIR QUI LE TUE RECONNAÎT SON INNOCENCE POLITIQUE Que chez Jésus, il n’y ait pas de moment machiavélique, dans le sens de la conquête du pouvoir, semble évident dans le principe vaseux de la réponse “Mon Royaume n’est pas de ce monde” 7. Et aussi et encore dans cet authentique berceau ou patrie de la laïcité qui vient à être la maxime, à un temps révélateur et déconcertant, “à César ce qui est à César et à Dieu ce qui est à Dieu” 8. Quel que soit le sens qu’on lui impute—qu’il soit dirigé aux Juifs (en particulier aux pharisiens, aux scribes et aux sadducéens) ou aux Romains (qui faisaient eux aussi l’apologie de la divinité de l’Empereur, ne distinguant pas les deux sphères) -, la vérité est qu’il détache et sépare le Royaume de Dieu de quelconque prétention ou intention politique. L’on pourrait de plus se demander si, en dépit de ne pas avoir une intention politique ou une intention au pouvoir, la détention, le procès, la condamnation et l’exécution de Jésus ne consacrent pas et ne sont pas consubstantiels, toutefois, à un statut politique objectif. Lequel, soit dit en passant, pourrait être vu par le pouvoir institué, par force de la dérive messianique et de la prédication du Royaume de Dieu—un royaume, donc— comme un projet rival de conquête du pouvoir. Ou encore pourrait en résulter, plus subtilement et discrètement, des conséquences populaires d’un simple ensemble d’idées programmatique ou idéologique, potentiellement agrégateur et/ou mobilisateur et créateur de déconfort et d’hostilité envers le pouvoir installé. C’est-à-dire, la réaction de l’axe du pouvoir de Jérusalem—axe judaïco-romain ou romano-judaïque—pourrait avoir été motivé tant par l’arête machiavélique comme par le coin idéologique.

7 8

Jn 18, 36. Mc 12, 17; Mt 22, 21; Lc 20, 25.

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Réflexions d’un mauvais Samaritain

En réalité, il est logique de se demander: s’il n’y a pas de statut politique de Jésus, à quel titre et à quelle fin prétend le pouvoir institué se débarrasser de Lui ? Et parce qu’il le fait d’une façon solennelle et apparemment offrant de grandes garanties, encore qu’informel et syncopé, d’un procès de type juridictionnel et ne le fit pas d’une façon expéditive par une prison arbitraire suivie d’exécution (à la Jean Baptiste) ou à la façon dissimulée et efficace d’un assassinat ou d’une disparition. En effet, la voie processuelle judiciaire, avec sa dialectique rhétorique et argumentative et avec son induction à la publicité, institutionnalise et politise, même dans le délit commun, les faits, les personnalités, les relations et les conflits présents dans le procès, présents au procès. L’on peut légitimement se demander: s’il n’intercède pas la condition ou la condition politique de Jésus, avec quel fondement et but prétend le pouvoir institué se débarrasser de Lui ? La réponse que je laisse ici, de manière sommaire et réduite, sûrement insuffisante devant la complexité du problème suscité, se trouve chez Luc et dans la voix réitérée de Ponce Pilate: “Je ne trouve aucun crime en Lui” 9. Quel que soit l’authenticité ou l’historicité de cet obiter dictum, de ce dire latéral ou accessoire, il reflète, symbolise et documente la reconnaissance par le pouvoir politique formel de l’innocence de Jésus et, plus que de l’innocence tout court, il signale l’innocence politique de Jésus. En un mot et sans plus tarder, le pouvoir sait que Jésus ne vient pas vers le pouvoir, comme ce n’est pas au pouvoir que Jésus va.

9

Lc 23, 4.

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Jésus et la Politique

LA SÉDUCTRICE TENTATION DE LIER L’ENSEIGNEMENT DE JÉSUS À UN PROGRAMME OU À UN AGENDA POLITIQUE Plus ardu et difficile—pour ne pas dire, complexe et délicat -, dans les temps qui courent et dans les attentes que le message de Jésus crée et accumule, est d’essayer de démontrer que Son enseignement ne contient pas un programme politique, une doctrine, une idéologie—en tant que tel et quel qu’il ou elle soit. La tentation de nos jours parmi les disciples du Christ, que ce soit les plus “conservateurs”, ou les plus “progressistes”, est celle de consigner un statut politique au chrétien—que d’une façon ou d’une autre il doit se retrouver dans le legs et revenir à la personne du fondateur: Jésus. En réalité, bien que beaucoup de fois férocement divisés, “conservateurs” et “progressistes”—baptisons-les ainsi par commodité—sont, tout compte fait, traité le du et l’avoir, les héritiers de siècles d’union entre la religion et la politique. Et portent, chacun des courants, dans son imaginaire, dans ses aspirations et dans ses projections les forces réplicatives de ces gènes. Curieusement, les dits “progressistes”, ont toujours été ceux qui, avec le plus de ténacité, ont dénoncé cette association dangereuse entre la politique et la religion, tout du moins, dans les pays officiellement et majoritairement chrétiens, comme une espèce d’ “incarnation réadaptée du pharisaïsme”. Ces mêmes critiques viennent à être au final ceux qui mettent le plus de “ravissement” et le plus d’ “engagement” dans une lecture politique de la personnalité et de l’enseignement de Jésus. Et, à savoir, ils l’ont fait par une voie programmatique et doctrinaire, liant le Jésus des textes et son enseignement ou “magistère” à une certaine idéologie ou à un modèle politique déterminé, ou, à minima, à un “agenda politique” donné.

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Réflexions d’un mauvais Samaritain

UN ENSEIGNEMENT QUI REFUSE LA FRACTURE OU LA SEGMENTATION SOCIALE COMME LEVIER POLITIQUE Prenons un exemple significatif qui nous permette de comprendre pourquoi je mets en doute et je mets en crise l’idée de la légitimité de la déduction d’une dimension politique programmatique dans l’enseignement de Jésus. L’on ne peut douter de la préoccupation cardiale de Jésus avec les plus faibles, les plus pauvres, les plus défavorisés, les plus rejetés, les plus exclus. Il suffit de lire attentivement les Béatitudes 10; mais la réalité est qu’il n’y a pas une page dans les Quatre Évangiles dans laquelle ce trait de la pensée et de la vie de Jésus—cette priorité absolue à la compassion, en tant que passion et souffrance avec autrui, en tant que “pati ” partagé—ne soit présente. En tout cas, partir de cette assertion ou conscience pour la définition, à partir du legs de Jésus, d’un programme politique “socialisant” ou même pour une acceptation de l’affrontement entre classes ou ordres sociaux me paraît être, tout du moins, à mes yeux candides, une inférence illégitime. En réalité, Jésus n’exclut personne et, par conséquent, à aucun moment il n’exclut ou n’écarte les riches et les puissants. Jésus ne refuse pas la résurrection à la fille de Jaïre, Jaïre qui était l’un des principaux de la synagogue 11. Jésus ne refuse pas le traitement au serf du centurion, militaire romain 12, supposé influent. Jésus mange de nombreuses fois chez les gens riches et/ ou reconnus par la société de l’époque—rappelons-nous de l’invitation du pharisien Simon où la pécheresse lave les pieds de Jésus et les essuie avec les cheveux 13; l’amitié avec un Juif proéminent comme Nicodème 14; 10 11 12 13 14

Mt 5, 3-12. Mt 9, 18-26; Mc 5, 21-43; Lc 8, 40-56. Mt 8, 5-13; Lc 7, 1-10. Mt 26, 6-13; Mc 14, 3-9; Lc 7, 36-50; Jn12, 4-9. Jn 3, 1-20; Jn 19, 38-40.

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Jésus et la Politique

la relation avec Joseph d’Arimathie, membre du Sanhédrin 15; la disposition de Jésus pour demeurer chez Zachée, chef des publicains 16 ou encore le dialogue patient et illustratif avec le jeune riche 17. Le message de Jésus, sur le plan religieux et éthique, ne se circonscrit pas aux Juifs: il s’ouvre aux Samaritains (que ce soit le bon Samaritain de la parabole 18, ou encore la pécheresse de Sichem 19), s’étend au centurion romain (qui se révèle avoir plus de foi que n’importe quel homme en Israël) 20, s’élargit à la femme syro-phénicienne qui demande pour elle les miettes 21 qui tombent de la table et atteint les villes non-juives de Sidon et de Tyr (en comparaison avec Chorazeïm, Bethsaïde et Capharnaüm) 22. En parallèle, Son message ne se circonscrit pas aux pauvres et aux exclus, dans un sens purement économique ou social, mais s’oriente d’abord vers tous sans exception, même ceux qui ont une vie facile et plus réussie. En effet, ne seront-ils pas beaucoup ceux qui, à la lumière des critères de Jésus, vrais infirmes, plus en carence de Son attention et délicatesse que des abandonnés de la société ? Cette portée universelle et englobante écarte, dès lors, une quelconque lecture programmatique qui parte d’une identité de positionnement sur une échelle sociale, économique, culturelle ou autre. La proposition de Jésus se dirige à chacun d’eux et à chacun de nous—à tous, sans temporalité ni exceptions et, pour cela, ne cohabite pas facilement avec la segmentation et le fractionnement qui, par définition, alimente la tension politique.

15 16 17 18 19 20 21 22

Jn 19, 38-40. Lc, 19, 1-10. Mt 19, 16-30; Mc 10, 17-31; Lc 18, 18-30. Lc 10, 30-37. Jn 4, 4-40. Mt 8, 5-13. Mt 15, 21-28. Lc 10, 13-16.

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Réflexions d’un mauvais Samaritain

LA JUSTICE DE JÉSUS N’EST PAS UNE JUSTICE RÉDUCTIBLEMENT SOCIALE OU POLITIQUE Ensuivant, et c’était là où je voulais en arriver, non moins important ou pertinent est de comprendre que les paramètres et les patrons de l’enseignement de Jésus—qui constituent l’expression ultime et première de sa personnalité—se marient mal avec un programme que l’on pourrait appeler de “social” ou de “socialement équitable” dans le sens politique, doctrinaire ou même idéalement philosophique du terme. Justement, car comme nous le verrons, les catégories de Jésus transcendent la politique, ses paramètres et ses pôles de tension. Alors voyons. Quand la veuve lance à peine deux leptes au Trésor et les autres jouaient de plus grandes sommes d’argent, Jésus observe qu’elle fait un bien plus grand effort que tous les autres 23. Elle donne tout ce qu’elle a. Et en dépit de ce montant lui faire, à elle, ostensiblement défaut, nous n’entendons pas Jésus affirmer—comme exigerait une idée humaine et contemporaine de la solidarité et équité politico-sociale—qu’elle devrait être dispensée de donner et que peut-être devrait aussi recevoir des autres (ou des coffres publics …). Pensons maintenant à la parabole des talents 24. Peut-être que cela a un sens, du point de vue de la conformation d’une politique sociale, humainement juste, condamner celui à qui fut confié un unique talent pour l’avoir gardé et ne pas avoir risqué sa dissipation ? En plus de n’avoir qu’un seul talent ? S’il en avait eu deux ou cinq, il pourrait encore en garder un et investir les restants, mais ne lui ayant confié qu’un seul… et qui n’était même pas à lui… Qu’il fût punit, encore “vaille que vaille”…; maintenant être appelé de serf inutile, mauvais et paresseux … n’en serait-il pas trop ? 23 24

Mc 12, 41-44; Lc 21, 1-4. Mt 25, 14-30; Lc 19, 17-27.

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Jésus et la Politique

Et comment comprendre, à cette lumière, l’affirmation finale qu’ “ à celui qui a, l’on donnera et il aura en abondance; mais à celui qui n’a pas, même ce qu’il a lui sera enlevé”… ? 25 Mais où s’arrête la solidarité sociale de Jésus, si l’on enlève à celui qui n’a pas ? Et dans la même ou plus déconcertante veine, prenons la parabole des travailleurs de la vigne 26. Chacun arrive à son heure et est embauché en son temps, mais à la fin, à l’étonnement des auditeurs, tous reçoivent la même chose. Est-ce le miroir d’une doctrine sociale équilibrée, capable de sédimenter un courant politique conséquent ? Que disons-nous des réformes millionnaires, pour lesquelles l’on a décompté un an, quand on les compare avec les pensions de survie de qui a épargné une vie entière et agreste ? En dépit de la préoccupation avec les plus pauvres et les plus exclus, pourrait-elle s’appuyer sur ces critères et sur cette vision la tant désirée dimension programmatique…? Les exemples peuvent se multiplier, presque comme dans le miracle des poissons et des pains … et soyons alertes d’une chose … au final subsisterons des paniers et des paniers 27. Il suffit de penser à la justice paterno-filiale du fils prodigue 28, au conformisme de l’affirmation que “vous aurez toujours les pauvres avec vous” 29, à l’acceptation du baume ou du parfum cher versé par Marie, sœur de Lazare, au recours systématique à l’image des serfs qui ne se rebellent pas expressément contre la servitude … Ce que ces épisodes de la vie et de la pensée de Jésus mirent à la lumière est que ces critères et paramètres se situent sur un plan qui n’est et ne peut être celui de la forge brulante d’un programme ou corpus d’idées politiques. En effet et dans la réalité, rien n’a à avoir avec les exigences d’orga25 26 27 28 29

Mt 25, 29-30; Lc 19, 25. Mt 20, 1-16. Mt 14, 20; Mc 7, 43; Lc 9, 17; Jn 6, 13; Mc 8, 8; Mt 15, 37. Lc 15, 11-32. Mt 26, 11; Mc 14, 7; Jn 12, 8.

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Réflexions d’un mauvais Samaritain

nisation sociale, de péréquation financière, de justice distributive, propres à la politique et à ses demandes. Mais que, bien à l’envers, se prennent avec les catégories et les patrons de conversion personnelle, de générosité, de donation et de gratuité, en un mot, que je n’ai aujourd’hui pas encore osé utiliser, d’amour. Or, difficilement l’on peut structurer une option politique, avec tout son ballast et son inertie dans cette force tellurique et vitale des humains qui est l’amour. À moins que l’on ne veuille parler, de manière provocante, mais que je juge sans conséquence par l’évidente contradiction dans les termes, dans une “politique de l’amour”… Celle-là est de Jésus mais ne sied ni ne sert dans les réalités et transcendances desquelles nous sommes en train de traiter.

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Jésus et la Politique

JÉSUS ET LE VOCATION/PROVOCATION DU REFUS DE LA RÉDUCTION POLITIQUE DE SON ENSEIGNEMENT Ce parcours, dur et sinueux, ne fut pas fait pour nier l’option préférentielle pour les pauvres, compris dans le large et généreux sens que leur donne Jésus. Ce calvaire argumentatif ne fut pas fait pour nier l’extraordinaire ouverture de Jésus à toutes les croyances ou ethnies, sans distinction. Cette incursion dans l’aridité des mots et des abstractions ne fut pas faite, réitérons-le, pour nier l’affleurement systématique, presque psychédélique, d’interactions avec la politique dans l’enseignement de Jésus. Les leçons à prendre de la vie, de l’exemple, du geste, de la pensée de Jésus pour la politique et pour la conduite des hommes politiques sont aussi nombreuses comme les étoiles du ciel ou les grains de sable de la côte maritime. Il n’est pas nécessaire de parler de l’esprit de service, de l’humilité de ceux qui exercent le pouvoir, de l’éthique de ceux qui administrent ce qui n’est pas à eux, mais à tous. Même dans des domaines insoupçonnés, comme le sont les aujourd’hui très actuels droits de la communication politique, propre des sociétés médiatiques, Jésus laisse des orientations sur la balance à faire entre la vérité et la propagande. Et certaines leçons sur comment parler au peuple et, aspect plus important, comment vivre avec le peuple, pour lui. Ce parcours fut fait pour dire que l’Évangile ne contient pas un modèle politique, n’intègre pas un discours total ou totalitaire; déterministe ou conformiste. Mais que, à l’inverse, est ouvert à différentes conceptions du monde et de la vie, des humains et de leur implication. Jésus ne décrète ni des lois ni ne signe des pamphlets, laisse à la liberté de ses contemporains—que nous sommes tous: oui nous sommes tous contemporains de Jésus—la possibilité de conformation politique. Davantage: cela nous donne la clef pour que l’on puisse vivre et survivre avec et à tout et plus 80


Réflexions d’un mauvais Samaritain

encore régime politique, sachant comme il le sait, par expérience propre que l’organisation politique est beaucoup de fois une donnée préexistante sur laquelle la personne-individu ne peut agir. Et cette clef n’est pas celle d’un discours total, potentiellement totalitaire. C’est le discours qui aspire à la totalité. L’aspiration à la totalité est la disposition inébranlable pour assumer les conséquences de ses propres convictions, mais signifie, de la même manière, le renoncement de son imposition que ce soit par la force ou par la persuasion forcée. Cette aspiration à la totalité est tellement éprouvante pour la politique et pour les politiques qu’ils ne voient sinon un unique remède: éliminer Celui qui est porteur de ce message qui aspire à la radicalité. Le grand drame du pouvoir politique devant le message chrétien—ou mieux, devant la personne et le message de Jésus—est que celui-là n’est pas un concurrent et ne joue pas dans le même domaine ou sur le même terrain. J’insiste, car ici réside le point central de cette lecture que je partage ici, la politique ne comprend pas Jésus, la politique ne digère pas Jésus, la politique n’arrive ni à séduire ni à recruter Jésus. Mais induit et pressent que Son aspiration à la totalité, Son intention à la radicalité la menace et la met en péril. Le procès de Jésus vise à le politiser, à l’emprisonner dans les grandes grilles des catégories de la politique et de ses pôles de tension, mais la personnalité de Jésus et de son “enseignement”—comme je persiste à l’appeler—sont bien en deçà et bien au-delà de ce désidérata et ne se laissent ni ne peuvent se laisser emprisonner. Jésus n’est pas un innocent: il est pur, détaché et doux, mais non pas innocent. Et ne se laissa ni ne se laisse tomber dans les mailles de la politique. Non pas qu’il voit la politique comme quelque chose de nécessairement mauvais, de méprisant ou sale; juste que cette radicale aspiration à la plénitude transcende et supère la limitation endogène des cadres et termes de ce champ de l’humain.

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Jésus et la Politique

Le pire “ennemi” que le discours politique—qui est, par nature tendanciellement total ou même totalitaire, même quand il est démocratique—peut trouver est un discours/ enseignement qui, n’étant pas total, aspire à la totalité, que n’étant pas plein, a pour objectif la plénitude, qui n’étant pas radical, vise à la radicalité. En ce sens, Jésus n’est pas politique ni ne fait pas de politique, mais demeure toujours politiquement perturbateur et politiquement pertinent. La politique, même quand elle est marquée par les valeurs de liberté et de démocratie, sera hostile à qui ébranle ses patrons, interpelle ses paramètres, déconcerte ses catégories, se met en apparence hors de son champ d’action et d’influence. Et Jésus et Son enseignement sont de telle manière aliénés des limites quasiment physiques de la politique qu’ils représentent une marque de “provocation à la politique”, de “provocation” politique, de “pro-vocation” politique.

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Réflexions d’un mauvais Samaritain

MOTS DE FIN ET PRECAUTIONS Je sais que pour beaucoup qui, à l’image des Juifs du premier siècle, espéraient de Jésus et des Évangiles une rédemption politique, cette lecture qui est mienne est effectivement décevante. Et pour d’autres, qui attendaient la justification théologique d’un minimalisme politique cette vision est vraiment légère et superficielle. C’est la lecture d’un politique qui se réclame abusivement des chrétiens (“un chrétien de culture catholique”— et non pas simplement un catholique-, comme je me définis toujours). Mais qu’il—l’on me pardonnera l’intimité de la confession, parler de Jésus ne peut nous laisser indifférents au vide et au néant de nos vies— la conscience—nette, “pesante” et lourde—qu’il n’est rien d’autre qu’un Samaritain; de ceux pour lesquels Jésus est aussi venu. Mais d’un Samaritain qui, à l’inverse de l’homme juste de la parabole, est un mauvais Samaritain, le mauvais Samaritain. Que ces réflexions ont été entendues et puissent maintenant être lues à la charge et à la décharge de cette essence et de cette circonstance de vie: ce ne furent seulement et uniquement que les réflexions d’un mauvais Samaritain.

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Reflexões de um Mau Samaritano Reflections by a Bad Samaritan Réflexions d’un Mauvais Samaritain


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