50 PEGADAS

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ANTÓNIO FERNANDES


Antรณnio Fernandes 2


INTRODUÇÃO Escrever sonetos fora dos pré conceitos dos nossos ilustres letrados é um desafio enorme. Desde logo porque tentar contornar aquilo que os citados ajuízam por regras da escrita e quiçá, da linguística, em que dizem haver princípios elementares a respeitar, condição que, a meu ver, condiciona a capacidade criativa em toda e qualquer forma de escrever com enfoque especial na poesia. Mas também, porque este arrojo em desafiar uma classe corporativa que em regra constitui os júris de avaliação, é um exercício de alto risco por ser motivo de exclusão simples. Ora, a poesia é, no domínio da escrita, a forma mais sublime de chegar ao leitor. Como todos sabemos, a melhor forma que o ser Humano tem para assimilar um texto, é na letra de uma canção. A música é, por motivos vários, uma condicionante do comportamento Humano sobre o qual influi de forma decisiva. Música essa que para atingir um vasto universo de ouvintes teve necessidade de se fazer

acompanhar de uma letra. Um poema. Combinação que conseguiu exponenciar a projeção mundial de ambas. A música e a letra. Este exercício que ora vos apresento, é um exercício que nos é comum. Não fora assim e, não faria qualquer sentido. Por isso, estas são as palavras que nos acompanham e marcam a cavidades das pegadas que deixamos nos caminhos! Braga, ano de 2017, mês de dezembro António Fernandes

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SONETO 1/2017

Quando o que amamos perdemos Queremos saber a verdade. Preencher o que não soubemos De que só nos resta, a saudade.

Queremos deixar de chorar No silêncio de cada noite, Aquilo que não soubemos dar Em tempo útil, bafejados pela sorte.

Quando o que amamos perdemos E não encontramos razão Que justifique o motivo,

É porque nunca soubemos Que a única condição Era darmo-nos, quando foi preciso!

Braga, 2017, Janeiro, dia 2

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SONETO 2/2017

Não vale a pena culpar o janeiro Pela tristeza, pela chuva, ou pelo frio. Nem sequer por ser o primeiro De mais um ano. De mais um desafio.

Não vale a pena louvar o janeiro De alegrias vindouras também, Só porque é o primeiro De mais um, que pela frente se tem.

Não vale a pena abrir o postigo Da culpa, da razão, ou da esperança. Da tristeza, da alegria, ou somente do riso,

Sempre que se encontra um Porto de abrigo Longe das vagas, aonde paira a bonança, De janeiro a dezembro. Porque é preciso!

Braga, janeiro, ano de 2017, dia 04

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SONETO 3/2017

No colo de cada um Há uma ternura imensa, Do tamanho, sem tamanho algum, Aonde arde uma chama imensa. De um fogo incolor Com brasume, sem madeira, De que só se sente a dor De saltimbanco, sem eira nem beira. Que no colo de cada um Se dá o aconchego necessário A quem dele necessita

A todo o tempo sem tempo nenhum Para ele que é sacrário E para os outros guarida.

Braga, janeiro de 2017, dia 04

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SONETO 4/2017

Nunca dizer adeus A quem parte, para parte incerta,

Aonde só estão os seus, Mais uma flor que desponta.

É de todo conveniente Por maioria de razão Que por ser a sombra da gente Será sempre, a nossa mão.

Porque motivo afinal Nascem as flores no campo E as do mato no monte?

… Há no limbo um madrigal Sobre nuvem, sobre manto, E brota a agua na fonte.

Brega, janeiro de 2017, dia 05

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SONETO 5/2017

Hoje ĂŠ o dia dos Reis Que foram ver o menino De janeiro, o dia seis, E dizem, estava nuzinho.

Seguiram estrela cadente Que lhes indicou o caminho Deixando um rasto ardente E assim os levou ao destino

Eram trĂŞs, os Reis Magos: Gaspar, Baltasar e Belchior, Cansados de cavalgar,

Chegaram bem mais magros. Dizem, um de cada cor, Ouro, incenso e mirra, ao menino foram dar.

Braga, ano de 2017, mĂŞs de janeiro, dia 6 (dia de Reis)

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SONETO 6/2017

Gentes que me escutais, Os Reis vos venho lembrar, Para que não esqueçais, De aqui os euros deixar.

Nesta boa terra, Real, Da realeza nascida. Que celebra no Natal, Jesus menino, e a vida.

Na União de freguesias, De Dume, Real e Semelhe, Aonde há este Centro de Seniores.

Que abre todos os dias, Quer chova, neve ou orvalhe, E junta, todos estes Senhores!

Centro Sénior de Real, 28/01/17 (Cantar de Reis)

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SONETO 7/2017

Partiu. Partiu, Simplesmente.

Sorriu. Bonacheirão, como sempre.

Não acenou Como era seu costume Mas deixou No Pais, o seu perfume!

De um aroma intenso A liberdade e democracia E também de Irreverência

Num querer que foi imenso Em ver no povo a alegria De poder ter esperança!

Braga, Janeiro, 09 (Mário Soares, morreu)

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SONETO 8/2017

Estivemos lá. Todos nós. Uns, fisicamente, outros não Fazendo ouvir o som da voz Da História. Da luta. Da razão. Inconfundível na sonoridade Ecoou pelas ruas de Lisboa Num grito pleno, liberdade! Sobre o Tejo aonde gaivota voa. Nas avenidas o povo aclama O homem que se despede: Até sempre!

Deixando acesa a chama Que aquece ao de leve, O coração da gente!

Lisboa, Janeiro, dia 10

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SONETO 9/2017

Seguia a jovem caminho Protegendo sua barriga Por onde não havia carinho, Perdido, numa simples briga

Cuidava assim do bebé Que haveria de nascer Protegido por São José E todos os Santos que houver

Que o que lhe importa afinal É que nasça com saúde e perfeito na formação Porque amor, lho dará eternamente

Mesmo que para tal No rigor da educação Substitua quem está ausente!

Braga, 2017, janeiro, dia 24

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SONETO 10/2017

Corre, corre, o menino Procurando equilíbrio, Ainda é pequenino Para pensar no perigo.

Corre, corre, o menino Procurando sua mãe, Ainda é pequenino Não conhece mais ninguém

Já não corre o menino Para o colo do aconchego Aonde o choro calava

Deixou de ser pequenino Deixou de ter sossego Deixou uma lagrima na entrada!

Braga, 2017, janeiro, dia 24

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SONETO 11/2017

Limpei de ti o orvalho, Enxuguei-o com um toque

Perdi-me no brilho do cabelo E tudo o resto, foi sorte.

Luzidia, acetinada, Pele que se arrepia ao toque Em uma face corada E tudo o resto foi sorte.

Ficou a lágrima contida Vá - se lá saber porquê Na vontade em não mostrar

Porque há amores na vida Que estão sempre à mercê De razões para os calar!

Braga, 2017, janeiro, dia 31

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SONETO 12/2017

Tem tantas cores A felicidade.

Tem tantos odores A felicidade.

Tem arco iris Imensos Aonde hรก sentires Intensos.

Tem o sabor do mel e do sal. A tremura do toque, da saliva, O calor no suor da ansiedade.

Tem a descoberta daquilo que vale A coragem em enfrentar a vida E dela conquistar a felicidade!

Braga, 2017, fevereiro, dia 3

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SONETO 13/2017

A felicidade é feita De coisas pequenas

Com a medida certa Para o que desejarmos.

Um acaso pode ser Um clique, um aceitar. Uma onda a romper, Uma chama a rasgar

Um brilho simples da iris, Um riso franco, aberto, De uma leveza sem descrição.

Um medo enorme de partires Ao primeiro desacerto, Desta coisa que bate no coração!

Braga, 2017, fevereiro, dia 03

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SONETO 14/2017

Ah! Se as rosas soubessem..

Ah! Se as rosas dissessem..

Ah! Se as rosas cantassem.. Ah! Se as rosas chorassem.

NĂŁo floririam jardins Nem sequer jarras de adornar. Cravariam os seus espinhos

Nas almas que de tĂŁo ruins, Ficam eternamente a pairar Na cruz dos quatro caminhos!

Braga, 2017, fevereiro, dia 5

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SONETO 15/2017

A felicidade é feita De coisas pequenas

Com a medida certa Para o que desejarmos.

Um acaso pode ser, Um clique, um aceitar, Uma onda a romper, Uma chama a rasgar.

Um brilho simples da iris Um riso franco, aberto, De uma leveza sem descrição,

Um medo enorme de partires Ao primeiro desacerto, Desta coisa que bate, no coração!

Braga, 2017, fevereiro, dia 03

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SONETO 16/2017

Todos os dias tropeçamos Nos encantos e desencantos

Daquilo que hoje guardamos Só porque não esquecemos

Tudo aquilo que perdoamos Em circunstancia oportuna E que por isso deixamos Que a nostalgia nos consuma

Nos dias que vão passando, devagar, A espera longa, o percurso sem certezas, A esperança vazia

O horizonte aonde o Sol vai pousar A foz aonde o rio perde as veredas A noite, fim do dia.

Braga, 2017, fevereiro, 4

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SONETO 17/2017

A lágrima corrida Pela face da tristeza

É sempre a despedida De algo que era certeza.

E deixa um buraco enorme No sitio em que se alojava Aonde a imagem e o nome Terão sempre uma morada.

Porque a mente não consegue Apagar o que a lágrima cala E o sentimento eterniza

Guardando tudo o que deve Recordações que embala Em berço feito de vida!

Braga, 2017, fevereiro, dia 05

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SONETO 18/2017

Dobrei a vinco do teu verniz sem o estalar Rasguei-te um sorriso de uma assentada Enfunei vela em nuvem sem saber velejar Pensando assim abrir porta há muito fechada

Arrisquei mar aonde mar não havia Imaginando poder ser timoneiro De uma nau em completa deriva

No casco de um sábio nevoeiro

Rasgadas foram as velas e as águas Por quilha deslizante em colo que aconchega A imensidão de todos os Oceanos

Que sobre o Universo lavam mágoas E deixam na aurora boreal todos os medos Para em liberdade abrir voos planos.

Braga, 2017, fevereiro, dia 9

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SONETO 19/2017

Hoje sonhei contigo Em sono alvoroçado

Pensando para comigo Naquilo que está guardado

Nas gavetas mais profundas Das razões que a razão esconde Só porque as vidas vividas Rumaram caminho diferente

Não dando oportunidade Ao que no tempo se queria Para sempre por eterno

Porque a grande verdade É que não aconteceria O sonho, que é efémero!

Braga, 2017, fevereiro, dia 10

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SONETO 20/2017

Preenchem todos os sentidos, Todos os cantos da memória,

Todos os segundos vividos, Os encantos de quem namora.

Não há um momento sequer Que não sintam a emoção. A força em tanto querer Deixar voar o coração.

Ao sabor de qualquer maré, Dos vendavais que aconteçam, Mesmo de uma tempestade.

Acreditar com a força de fé Ser possível que mereçam Um do outro, ser metade!

Braga, 2017, fevereiro, dia 14 (Dia dos namorados)

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SONETO 21/2017

Ah! Como eu gostava, De correr pelas ondas Da linha em cascata No tempo das mondas.

De me deixar enredar, Numa vez primeira, Na ilusão do sonho e voar Sobre a estação da primavera.

Surfar pele macia brilhante Dedos compridos com toque E arfar emocional de satisfação.

Desfalecer num beijo ardente Em que a chama se enleva forte E no final, há mutua satisfação.

Braga, 2017, fevereiro, dia 17

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SONETO 22/2017

Encontrei num dia ameno Um desses acasos que acontecem

E tornam o dia pequeno Para as arvores que florescem

E de cuja flor se espera fruto Depois do aroma intenso E cores finas antes do abrupto Sacudir inconstante do vento.

Foi assim, algo de novo Que brotou sem ser esperado Num dia ameno sem novidade.

Um suspiro que absorvo Em momento desalmado De que ficou sentida saudade

Braga, 2017, fevereiro, dia 20

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SONETO 23/2017

Na mão direita tenho uma rosa Na esquerda tenho um cravo

Que te dou em forma de prosa Lavrada em jardim que guardo

Em local aonde trago Os cantos de encanto só De um cacho são o bago De uma vide são o pó

Que cobre com muito carinho A terra que a aconchega Para a raiz proteger

Vindo de um longo caminho Por fio de água sem pressa Em rego, acabado de fazer.

Braga, 2017, fevereiro, dia 23

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SONETO 24/2017

Cansei-me de tanto te amar Sem um motivo aparente

Não sei se... por me agastar Esta dor que tenho presente

Não sei se.. por não querer Palavras rendilhadas elaborar Ou simplesmente esquecer A pena para as lavrar

Que esta coisa de dizer O que é simples, elaborado, É coisa de gente fina.

Aquela que não quer sofrer Pelo eleito, muito amado Na elegância da rima…

Braga, 2017, fevereiro, dia 24

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SONETO 25/2017

Este, não é o final. Outros, hão-de vir.

De um jeito marginal Sempre, sempre a rir.

Porque a poesia é assim, Como as cerejas palavras, Brotam em qualquer jardim Terra quente que desbravas.

A poesia é a tua alma O amor. O riso. A alegria. A tristeza. As tuas entranhas profundas.

Da tua mão é a palma Que nos mostra a grandeza Do colo em que a fecundas!

Braga, 2017, fevereiro, dia 25

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SONETO 26/2017

Das grades desta prisão Nada se avista por altas estarem,

Somente se vê o chão Aonde há sulcos por tanto andarem.

Em redor das paredes frias Rasgadas pelo deslizar De rijas mãos vazias, Ficam histórias por contar.

Das grades de uma prisão Por afetos construída E com carinho calafetada

No calor de uma mão Agarrada a uma vida Está uma rosa encarnada!

Braga, 2017, fevereiro, dia 26

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SONETO 27/2017

Em nuvem vi a forma Que se desfez com o vento

De algo que me transtorna E se perde, no vazio do tempo.

De memรณria dividida Por cantos do esquecer Os encantos desta vida Que temos para viver

Sem que nada saibamos Sobre o momento seguinte Ou sequer da nossa vontade

A nรฃo ser, aonde erramos, Aquilo que o corpo sente, E tudo o mais da saudade.

Braga, 2017, Marรงo, dia 4

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SONETO 28/2017

Há uma nau que transporta Mar adentro, vaga a vaga,

No sibilar do vento, ou em nota, As novas que em seu seio traga.

Que não são da maresia, Nem sequer do encapelado, São uma sublime sinfonia De sons, em som entrelaçado.

No acorde do vento vivo Do despontar da alvorada Em ondas corridas sobre a areia,

Uma espiga de trigo Cruelmente arrancada Da seara, em noite de Lua cheia.

Braga, 2017, Março, dia 5

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SONETO 29/2017

As letras são os desenhos Das palavras escritas.

As que alimentam os sonhos Só porque não são ditas.

As letras são um jogo inacabado Daquilo que no lápis o carvão Dá por assunto encerrado Trespassando forte o coração.

As letras quando lidas Articulam da voz o som A energia em movimento,

Rasgando diálogo nas feridas, Uma espécie de raro dom, Que adoça o sentimento.

Braga, 2017, março, dia 7

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SONETO 30/2017

A cidade são as pessoas Tudo o resto é acessório, As coisas más e as boas O efémero e o transitório.

A casa, a rua, o transporte. O emprego, a formação. O azar, o empenho, a sorte. A mudança de geração.

A cidade são as pessoas Que a constroem e lhe dão vida Em crescendo permanente,

Umas más e outras boas Se organizam na subida De uma espiral consistente.

Braga, 2017, março, dia 10

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SONETO 31/2017

Hoje vai ser um dia diferente. Um dia assim, quase igual,

Aos dias de toda a gente Com quem vivo, afinal.

Ainda não sei como vai ser. Nem imagino o alinhamento. Não penso sequer em morrer E muito menos o invento.

Um dia assim, como soe dizer, Diferente porque é novo, deslumbrante, Cheio de cor e vida, com alegria.

Um dia em agonia ao anoitecer. Nos minutos que são as horas de sempre, Como se fora algo que se esvazia.

Braga, 2017, março, dia 14

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SONETO 32/2017

Sangue de meu sangue ร sangue de meu pai Em vida que se expande Da vida de meu pai.

Desde o primeiro momento Em que ao colo me pegou Sempre fui o alimento Dos sonhos porque lutou.

O motivo das suas lides A que se deu e entrega No sorriso com que ainda volta,

Absorvendo tudo o que dizes Guardo em cada prega A vida que me deste, sempre solta!

Braga, 2017, marรงo, dia 16, (DIA DO PAI, SIMPLESMENTE!)

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SONETO 33/2017

Escrever, é coisa fácil. Basta passar para papel De uma forma versátil Sem rodilhos de cordel

Tudo aquilo que é a vontade Mais recôndita ou prosaica Transformando a ansiedade Em agua corrente, em fonte seca.

Escrever, é deixar voar a imaginação Ao sabor do que acontece E se pensa poder acontecer.

É deixar que a caneta faça a combinação Das palavras soltas em que mexe E as misture a seu belo prazer.

Braga, 2017, março, dia 19— (dia da poesia)

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SONETO 34/2017

A poesia é um trabalho de artífice Desbastando dor escondida

Por entranhas aonde se disse Ser poiso de crosta empedernida

De tal forma resistente Ao cinzel que essa dor lavra, Mascota de poeta persistente, No uso singelo da palavra.

Tentando com arte inverter O íngreme caminho da escarpa Que o fio do pensamento tem,

Julgando assim esquecer O acorde de uma harpa Que soou, mas não mais vem…

Braga, 2017, março, dia 21 (dia da poesia)

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SONETO 35/2017

Nunca te direi o estado do tempo, Nem sequer como me corre a vida, Na distância que instalou o silêncio Com tapume de que não vejo saída.

Nunca te direi qual o temor Que tenho, nem o de o enfrentar. Nunca te direi: amor. Que foste a luz do meu caminhar.

Por sinuosos caminhos Por acentuadas escarpas Por carreiros entre prados

Tentei tirar os espinhos Do mato e de todas as farpas Das rosas e dos cardos.

Braga, 2017, março, dia 26

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SONETO 36/2017 O amor é um sentimento estranho Cada um tem dele sabor diferente É algo difícil de dizer o tamanho Da emoção ou da dor que se sente

Não tem uma cor uniforme Nem um único tom de o sentir Jamais terá um único nome Ou sequer um jeito de se exprimir

O amor, é assim, um vai e vem. Uma mistura entre o agro e o doce Num sentimento suspenso

É algo que, ora sabe bem. Como se o mais desejado fosse, E se perde num suspiro intenso…

Braga, 2017, abril, 16

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SONETO 37/2017 Foi numa tarde De uma tarde quente Em que o Sol arde Dentro da gente

E se solta num olhar De brilho intenso Para desafiar O medo imenso

De se perder no ocaso Aonde acaba o mar SaĂ­do de um simples desejo

Que trago guardado Num toque, de arrepiar. Que ĂŠ um gesto, feito beijo.

Braga, 2017, abril, dia 17

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SONETO 38/2017

Seja bem vindo Amigo meu Mesmo desavindo No caminho seu

Por entre vegetação densa Aonde abundam os espinhos Naquela vontade imensa Que ilumina os meninos

Dos carreiros mais estreitos Nesgas abertas em terra fecunda Aonde germinarão as sementes

Por estre as pedras dos socalcos Incrustadas numa fenda Na tua mão, por estre os dedos

Braga, 2017, abril, 19

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SONETO 39/2017

Passaste e sorriste Ao virar da rua

Não sei se me viste De alma nua

Tentando dizer Aos pombos famintos Que para comer Há os labirintos

Por entre as agulhas Presas aos beirais Contornando arcos

E também as cornijas E todos os locais Passaste. Não me viste

Braga, 2017, abril, dia 20

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SONETO 40/2017

Tenho na mão um cravo Que deixei morrer

Das pétalas que dele largo Já quase nada sei dizer

Não sei porque morreu Ou sequer se o mataram Só sei que era meu E do sonho mo arrancaram

E assim, pétala a pétala Vou percebendo o percurso Do caule que também murcha

Como papiro de vela Que seguindo o seu curso Na cera encontra a cela

2017, abril, dia 25

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SONETO 41/2017

Fez caminho duro abrindo o horizonte

derrubou muros em busca da fonte

que sacia a sede e a fome em saber como derrubar a rede que os povos faz sofrer

Fez da descrição forma de estar da presença física forma de ser e da conversa franca luta permanente

Foi uma referência exemplar de uma lucidez rara de ver Agostinho Domingues, um camarada, sempre!

Braga, 2017, maio, dia 2

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SONETO 42/2017

Sabes, mãe: Disseram ser hoje o teu dia.

Não percebi muito bem, Só quero o teu mimo e a tua alegria.

Sabes, mãe: Não tenho de ti um só dia Tenho todos os que a vida me dará Do primeiro ao ultimo e o amor guardará.

Sabes, mãe: Eu sei que sabes porque sentes Tudo aquilo que não é necessário dizer

Daquilo que o amor tem E que me dás em formas constantes Aonde estar presente é o maio valor.

Braga, 2017, abril, dia 8

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SONETO 43/2017

A poesia É um sopro

Feito dia Num gesto solto

A poesia Dos diversos sons É a sinfonia De todos os tons

A poesia És tu. Somos todos. É a terra. O mar. E o céu.

É o dia O Sol. A chuva. Os pingos. A neblina que lhe faz o véu.

Braga, 2017, maio, dia 9

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SONETO 44/2017

A poesia que tens na mão E dás aos pombos livres

Como se fora a razão Dos momentos mais felizes

É a tua força interior Para o revés encarar Em cada passo ulterior Ao do acaso, do azar

A poesia não é um dia Nem uma forma de estar Ou alivio para o que se tem

É uma áurea de nostalgia Sobre o que se quer mudar Em cada madrugada que vem

Braga, 2017, maio, dia 9

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SONETO 45/2017

Nunca te vou dizer O que sabes por intuição Deste duplo sofrer Que corta a respiração

Aperta o peito e cala a voz Prende o gesto e a expressão Cega todos os nós Do sentir e da emoção

Por isso não saberás Das razões desta atitude Tomada com tranquilidade

De que por ventura pensarás Precipitada e sem virtude Num qualquer momento de ansiedade

Braga, 2017, maio, dia 12

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SONETO 46/2017

No esburacado muro feito de pedra sobre pedra a terra o traz seguro aonde a era medra

Medra tambĂŠm a raiz de uma figueira brava os fetos e o petiz que por comida aguarda

mamĂŁ melro cuidadosa saltita os ramos temerosa no bico traz a bicada

atenta ao que em volta seja uma ponta solta e ao seu ninho esteja filada

Braga, Junho, dia 12

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SONETO 47/2017

Nos dias longos em que se perde a vista Perscrutamos o zĂŠnite no horizonte Poisando os sentires em forma de lista Que estendemos nos picos do monte

E deles fazemos retalhos de manta De cores esbatidas pelo tempo Sem os buracos de angustia tanta Que rasga a sorte em cada momento

E assim lavramos as noites e os dias Entre o Sol reluzente e a Lua cheia E os outros dias em que nem um nem outro aparecem

Aonde escondemos as dores e as alegrias Em castelos de onde caĂ­ram as ameias Encosta abaixo, por revinas e outros obstĂĄculos que aparecem.

Braga, Julho, dia 25

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SONETO 48/2017

Não importa, se fugaz desde que não seja frio de forma e cor eficaz que provoque um arrepio

Daqueles que mexem a sério e são causa de calor sangue célere contra o medo deixando na face o rubor

Rosado em maças macias aonde as rugas vazias mostram claro um desejo

no correr do suor que transpiras sôfrego fica o ar que respiras anda cá! Dá – me um beijo !

Braga, Setembro, dia 13

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SONETO 49/2017

A minha menina está doente, Está doente a minha menina Tenho uma lagrima corrente Em uma face que é a minha.

A minha menina está doente Não a entendo, ela ri, Um riso lindo, um riso quente, Tónico para a alma, o senti.

Olha em redor e aponta A janela, o Sol, o dia Sempre alegre. Sempre rindo.

Penso que não se dá conta Da mágoa que em mim porfia Em cada dia que é findo.

Braga, Dezembro, dia 8

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SONETO 50/2017

A minha menina é o meu Sol. O meu ar. O meu ser. A minha vida. Agua que cai em pedra mole, Sempre em busca de uma saída.

Sempre pronta a correr Nas asas do vento norte, Que ma leva p'ra viver Aonde haja melhor sorte.

A minha menina é uma estrela Que brilha em permanência Sobre o meu imaginário

Com é linda! Como é bela! Como é forte! Como é imensa! O meu coração é o seu sacrário!

Braga, Dezembro, dia 8

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Um dia te direi… “António Fernandes”

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