A Classe Média

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Antonio Fernandes


INDICE

I - Teorias sobre as Origens da Classe Média……………….… 4 II - A Classe Média subserviente………………………………… 6 III - O Virar do Século……………………………………………… 9 IV - O Novo Paradigma…………….…………………….……… 13 V - Conclusões…………………………………………………… 16

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INTRODUÇÃO Visa o presente texto encontrar um padrão objetivo definidor daquilo a que convencionalmente classificamos por classe média no contexto simplista da definição de algo que tem servido de elo regulador do suporte estrutural da organização social da Humanidade ao longo da sua evolução, com especial enfase para as sociedades hoje civilizadas, organizadas em Estados, modelos económicos regulados e com disciplina fiscal, assim como possuidoras de um conjunto de Leis e uma Constituição. O “estatuto social” aferido por uma hierarquia de chefia ou de liderança foi, até ao presente, uma forma imposta de autoridade ditada por dinâmicas diversas que influíram na rotação das gerações em diversidade e transmissão de experiências tornadas em saber acumulado. Não sendo uma abordagem técnica de conteúdo cientifico, registo o texto como sendo de criatividade à solta que se serve das palavras escritas para dar nota de uma forma de olhar “na

diagonal” uma tipificada classe social que desde o inicio do seculo XXI vem perdendo a sua identidade por motivos vários e não consegue lidar com essa realidade.

Braga, dia onde de dezembro do ano de dois mil e dezoito 3


I - Teorias sobre as Origens da Classe Média A classe média é uma distinção social que surge em consequência da necessidade em mediar as rivalidades existentes entre tribos na disputa e defesa de territórios ao tempo da sedentarização, estabelecer a ordem no povoado e o cumprimento dos deveres acordados pelas comunidades, comercializar os produtos excedentes entre os diversos povoados, entre outras funções de intermediação, condição que a torna em uma classe abastada de condição nómada mas possuidora do conhecimento necessário no tempo, o que lhe transmitia capacidade de influência nas chefias tribais e por essa via o poder de mediar. Esta uma das várias teorias sobre a origem da classe média primitiva. Outra teoria é a de que a classe média surge por alturas da idade média, entre a nobreza proprietária das terras e os camponeses que trabalhavam essas terras, para que gerisse o seu património e assim ficar, a nobreza, mais liberta para as parcimónias sociais, mas também, para de si distanciar os famintos e demais miseráveis. A classe média beneficiou desse exercício de poder intermédio e de gestão dos conflitos travando, ou promovendo, a sua eclosão, sendo remunerada de acordo com a função exercida.

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A teoria corrente, curiosamente, é a teoria Marxista, de pendor sociopolítico, em que a classe média assume o perfil da pequena burguesia detentora de todos os serviços no burgo, numa sociedade organizada em moldes de “exploração do Homem pelo Homem” caraterística das sociedades capitalistas, mas também, do exercício das atividades intermédias entre o patrão

e o assalariado, industrial ou rural. O proletariado. Ou seja; nas cidades, nas indústrias, no campo, na organização política e social dos povos, é a classe média que determina as regras, sempre submissa e subserviente aos interesses da classe dominante. A Nobreza e o do Poder Financeiro. Ao longo de séculos! O seu desempenho político na organização social garante-lhe privilégios e assegura-lhe continuidade e diferenciação de estatuto no ciclo dos interesses económicos. É a classe média que controla todo o aparelho do Estado com predominância para o já referido setor económico, tanto no se-

tor privado como no setor publico, em todos os domínios, ao longo dos tempos, sendo que a educação é o seu nicho de poder oculto que gere com mestria.

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II - A Classe Média é, subserviente Desde sempre a classe dominante: a nobreza; a burguesia; o poder financeiro; se escudou por detrás de linhas avançadas para se proteger. Política, económica e militarmente. A classe média foi sempre essa linha avançada.

Alias, essa foi sempre a sua estratégia de controlo do poder económico, pela via da imposição da força, desde os primórdios em que a sedentarização como forma de vida se acentuou e a sua organização em sociedades o exigiu. Na era dos grupos nómadas, mais tarde constituídos em tribos, o processo de combate entre grupos foi similar. Valia tudo. Imperava a “Lei da Selva”. O chefe nunca era o “batedor”. O chefe estava sempre por detrás dos seus subordinados que comandavam os guerreiros de então, consoante os tempos. Esses sim, eram a frente que dava o corpo nas batalhas. A classe média emerge neste contexto de poder oligárquico de comando territorial num segmento intermédio com várias classificações, tipificadas consoante a era. Situa-se entre a nobreza e os camponeses configurando uma “nova burguesia”. 6


Por alturas da “idade média”, era em que alicerça a sua influência de intermediação social, embora essa sua capacidade de intermediação social seja anterior e posterior a esse tempo de poderes diversos, acantonados territorialmente e de forma ditatorial. A classe dominante apropriou-se ao longo dos séculos de todos

os fluxos da riqueza mundial usando os camponeses mais os artesãos, ainda na era em que o trabalho era manual e a que sucedem os operários – proletariado industrial e rural – e o trabalho por espécie, a manufatura: o trabalho manual organizado em unidades fabris e grandes explorações agrárias, assumindo a classe média toda a área de serviços internos e periféricos. Tanto nos serviços administrativos e de articulação da produção como do comércio e transportes periféricos. É a classe média que assume, após a revolução industrial, a liderança política global, com raras exceções, servindo também nesta vertente, de “rosto” do novo interesse internacional conjugado. O interesse financeiro. Com o desenrolar dos acontecimentos ocorridos ao longo da História em que as alterações na organização social foram profundas, em todos os domínios, na senda da evolução e do progresso que se conjuga na modernidade da vida em comunidades que se fixaram nas cidades e também da elevação dos modelos políticos da organização social dos Estados, há avanço

incomensurável na investigação cientifica que se traduz na 7


melhoria significativa da qualidade de vida das pessoas, com custos e riscos. Custos e riscos que já são quantificáveis naquilo que concerne aos impactos ambientais negativos, provocados, assim como as evidências e os riscos a advir: •

aquecimento global;

inundações;

erosão;

chuvas acidas;

escassez dos recursos naturais;

contaminação dos recursos naturais indispensáveis à vida;

poluição;

poluição radioativa;

redução da biodiversidade;

entre muitas outras consequências;

Também nesta componente essencial para a vida a classe média, alojada no poder político e cargos de destaque na cadeia produtiva e de serviços, não preveniu, mesmo quando alertada pela comunidade científica, em permanência, e foi a principal 8


responsável pelo descalabro nos desequilíbrios naturais ao não ter em conta os danos diretos, indiretos e colaterais causados, limitando-se a servir, com um único objetivo. O de que os seus subalternos gerassem o lucro possível. III - O Virar do Século Com o virar do século a “mãe” de todas as revoluções – a revolução industrial – é confrontada com a necessidade em se modernizar para responder com eficácia às necessidades da nova Ordem Mundial das Sociedades Civilizadas em que o conhecimento cresceu exponencialmente em função dos progressos da Humanidade no domínio de literacia individual necessária ao manuseamento das novas tecnologias e aos equipamentos que

as Civilizações foram desenvolvendo, acrescentando sempre mais saber e conhecimento a cada cidadão comum. Ora, é esta condição, a de o saber, passar a ser comum que, dispensa uma classe intermédia, propiciando um cenário em que a correlação das forças sociais nacionais e internacionais fica fora de controlo com enfoque no Continente Europeu onde as fissuras existentes são já de difícil solução, extinta que está a ser a classe média, em completo desnorte, serve-se de todos os meios que tem ao seu dispor para reagir sem que, em concreto, saiba muito bem contra o quê ou quem. Condição que divide, nas sociedades modernas e civilizadas, o espectro social em dois segmentos: Os detentores da riqueza 9


e, os que manuseiam os mecanismos geradores dessa mesma riqueza. Uma nova conjuntura que surge na organização social cujas consequências são imprevisíveis, mas que importa reter as consequências. Importa por isso perceber as verdadeiras raízes de onde rebentam os rebentos nefastos para a estabilidade social nacional e internacional que através de práticas discutíveis chegam ao exercício do poder de onde emanam diretrizes para que se construa legislação de proteção aos interesses que efetivamente estão por detrás da sua trajetória social e política. Importa por isso olhar o caminho percorrido e em que circunstancias o foi, para que não sobrem muitas dúvidas sobre porque é que, de facto, a classe média, está desesperada. Desde logo porque: 1. perdeu o protagonismo social que detinha;

2. perdeu estatuto social; 3. perdeu poder de compra diferenciado; 4. foi encostada aos pobres da atualidade; 5. é tratada como classe dominada;

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No entanto, ainda detém o efetivo poder de manipular a opinião publica em domínios de massas. Mais concretamente: •

as crenças;

a comunicação social;

as organizações sociais de classe;

as organizações sociais de cariz político partidário;

as organizações de claques desportivas;

as redes sociais;

Outros;

Poder de que não descartam com facilidade o uso, porque as grandes transformações políticas e sociais que o conceito 4.0 preconiza, ainda não são exequíveis globalmente. Sendo que, a sua implementação setorial já é prática corrente nas normas comunitárias de orientação política estratégica para todos os parceiros que constituem a União Europeia com a consequente projeção global implícita ao funcionamento orgânico e organizado das sociedades modernas e, do futuro.

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A que acrescem o descontentamento popular generalizado em setores nevrálgicos como o são: •

O emprego;

a precariedade laboral;

o desemprego qualificado;

o desemprego de longa duração;

o desemprego em idade tida pela indústria como improdutiva;

as penalizações na reforma antecipada;

o alargamento da idade para a reforma;

a habitação para os jovens;

os índices de natalidade;

a desertificação;

os surtos de emigrantes;

as alterações climáticas;

a elevada carga fiscal sobre os rendimentos dos cidadãos, bens de consumo e património;

outros;

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Um conjunto alargado de motivos que incentivam um clima social de ódio crescente onde o fulcro central não é a melhoria das condições de vida sempre reclamadas pelas classes sociais subjugadas, mas tão só, um processo intestino de autorregulação na sobreposição social em que as soluções são complexas em virtude de fatores que ultrapassam uma só classe em vias de extinção pela ordem natural da modernização das sociedades e dos progressos já referidos mas que não aceita o rumo História como condição.

IV - O Novo Paradigma

O proletariado e o campesinato não tiveram qualquer problema em ultrapassar as alterações na organização social ao verem as grilhetas da pobreza aliviar a pressão extinguindo a sua condição menor, melhoradas que foram as suas condições de vida e que, os coloca em igualdade de estatuto social ativo, salvo na

remuneração da mão de obra que se inverteu ao potenciar massa salarial superior para a mão de obra indiferenciada por haver menos oferta o que não acontece com a mão de obra qualificada onde a oferta é superior à procura num mercado onde as regras da economia continuam a privilegiar o binómio oferta/procura.

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Resulta deste novo paradigma a linearidade relativa ao montante do pagamento ao assalariado fornecedor de mão de obra qualificada, por ser menor a oferta de emprego, uma vez que a automação e a automatização dos procedimentos e da produção tem vindo a alastrar exponencialmente em todo o tecido empresarial privado e publico o que obriga a uma reconversão nos processos de formação intelectual dos indivíduos e da sociedade no seu todo de forma a que a mente Humana se reja por uma nova ordem mundial naquilo que toca à distribuição quantitativa e qualitativa da riqueza produzida, assim como, a sustentabilidade e o equilíbrio das espécies em presença, de forma a assegurar os recursos primários que lhe são indispensáveis. Esta nova conjuntura internacional tem provocado o êxodo nos Países subdesenvolvidos e a estagnação económica e de desenvolvimento nos Países desenvolvidos. Nomeadamente na Europa. A dispensa da mão de obra objetivando o crescimento do lucro líquido da exploração implica o aumento da produção e do consumo havendo para isso a necessidade política de munir com recursos económicos os consumidores. O que não está a acontecer. Aquilo que pode vir a acontecer é o crescimento e implementação tentacular de fatores de desordem publica a saber: •

corrupção; 14


acesso, uso e violação de bancos de dados diversos;

criminalidade de colarinho branco;

fraude, evasão fiscal e outros neste domínio;

o narcotráfico;

o comércio de Seres Humanos;

a criminalidade violenta;

a pequena criminalidade não violenta, mas que perturba a estabilidade social e a segurança de pessoas e bens;

outros;

Uma vasta lista de procedimentos ilegais em que o crime compensa e por essa via, os “sinais exteriores de riqueza”, transformam esta charneira social em um segmento com posses acima da média, umas. De efetivo poder social, outras. Que, pela ostentação, posse e capacidade financeira, assumem rosto de classe média também, num universo de valores de referência que caraterizam e distinguem os indivíduos uns dos outros.

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V - CONCLUSÕES

Conclui-se assim que a classe média sempre ocupou um lugar de destaque privilegiado na História das Civilizações ao longo dos tempos e que não aceita ser subalternizada numa postura

em que perde o poder de coordenação da organização estrutural e económica das Sociedades Civilizadas passando a ser um simples elo de articulação social sem benesses ou benefícios acrescidos num contexto global de tratamento igual em função e mesmo entre funções distintas.

Adivinha-se por isso uma batalha fratricida no seio daquela que já deixou de ser uma classe intermediária organizada a mando, para ser uma classe marginal espartilhada, mas que ainda domina.

Uma batalha intermédia num estádio Histórico incomum que resulta da evolução da organização e da qualidade de vida das pessoas em função do conhecimento e do saber acumulado que permite ao Homem do futuro desfrutar da vida em detrimento daqueles que foram os paradigmas estilizados: competitividade e sucesso.

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Conclusões:

1. O poder financeiro perdeu o controlo do poder político minado pela classe média que se tenta impor não olhando a meios.

2. A classe média não tem dimensão intelectual no discernimento do momento Histórico que atravessamos em que a sua extinção é o obvio.

3. A era do conhecimento já dita novas regras de regulação e organização social.

4. A construção da História é uma batalha estoica para um novo ciclo em que o escalonamento social igualitário é uma nova realidade.

5. O interesse financeiro nunca foi efetivamente poder porque declinou na classe média essa função.

6. O interesse financeiro é um interesse parasitário.

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