Antรณnio Fernandes
INTRODUÇÃO Corre já o mês de maio, estamos no seu dia nove, do ano de 2018, dia em que estou, ainda, a organizar este terceiro trabalho “PEGADAS—Entre águas” que por motivos de outras atividades de índole pessoal só agora me é possível executar. Conto com a preciosa ajuda da Mar Maria Frazão, uma pessoa de tez alva e sentimento na flor da pele que, sendo uma poetiza impar e invulgar, acedeu desprendidamente a ceder parte do seu espólio fotográfico para completar aquilo que são pegadas ilustradas em que as palavras são imagens mas, as ima-
gens também são palavras. Discordo da “máxima” de que: uma imagem vale mil palavras. Assim como não comungo com a ideia de que uma palavra pode conter em si, um numero incalculável de imagens. Discordo porque a palavra tem condimentos que uma imagem não tem e, vice-versa. O que quer dizer que a palavra tem o seu lugar distinto no dialogo entre os Homens enquanto que a imagem só reproduz
aquilo que de facto captou. As linguagens diversas na panóplia daquilo que se convenciona como sendo a cultura são por isso distintas na forma. O que, implicitamente, virtualiza ou desvirtua, o seu conteúdo. Uma “discussão” filosófica sobre algo de melindre extremo na relação entre as civilizações mas, de linear conclusão cientifica: não passam de meros “fios condutores de energia”; um emissor e os recetores possíveis e vice-versa. CONCLUSÃO Neste trabalho aceitei um desafio estruturante da organização linguista no que toca ao soneto: o de respeitar a forma. Por isso, o soneto tem duas quadras e dois tercetos em que cada frase tem dez silabas. Não é um exercício fácil por ser limitativo daquilo que a poesia tem por essência. A criatividade.
Porque, um texto, seja ele qual for, quando é balizado por regras, perde toda a sua liberdade: criativa; intuitiva; e todas as demais. Braga, nove de maio do ano de dois mil e dezoito
SONETO 31/2018
Hoje não devia dizer nada, hoje devia ficar calado, no silêncio duma escarpa devia ficar só e sentado.
Olhar teus olhos amêndoa quão profundamente doces são, somente, para quem os entenda,
são uma nuvem de um vulcão,
da neblina onde se esfuma nas leves gotas do amanhecer como se tudo fora, na bruma,
dum beijo na boca da espuma que espera poder acontecer no sono brando das tuas dunas.
Braga, abril, dia 9 de 2018 António Fernandes
SONETO 32/2018
Não importa se me arrependo como sinto nem como o faço porque ao fazê-lo compreendo os limites do meu espaço
qual é a dimensão da sombra que é minha em permanência moldando figura que é baça
Sol do caminho da decência
Porque o que é mais importante num sério arrependimento quando o que ocorre nos marca
sempre o silêncio nos mata naquilo que ditou o momento é lutar. Nunca ficar distante
Braga, abril, dia 20 de 2018 Antonio Fernandes
SONETO 33/2018
Surfei teus olhos d’água verdes, azuis e, ou castanhos mas também aqueles que são pardos, redondos, amêndoa, em vaga...
Surfei teus cabelos lisos voando na saliva das ondas, no teu corpo deixamos pingos
suor quente que te deixa tonta.
Surfei por mares de perigo, um faz de conta na ilusão de que a entrega é sentida.
Surfei por mares, em deriva de um autêntico turbilhão onde te sinto, estás comigo!
Braga, abril dia 21 de 2018 António Fernandes
SONETO 34/2018
Aperta-se-me o peito, sem dor, aperta-se-me o sol, o dia aperta-se-me o sonho, a cor, aperta-se-me a utopia.
Escapa-se-me a alegria num único inspirar, expirar, de um sopro, arte, magia,
numa tela única, por pintar.
Talvez só, ainda por inventar, exigência em demasia, arte mista imaginaria,
que o surrealismo raia, arco-íris, quiçá, fantasia, aperta-se-me o peito, sem ar.
Braga, abril, dia 25 de 2018 António Fernandes
SONETO 35/2018
Acordar a coragem doce do fel amargo em acreditar que a esperança é um pote de barro sempre pronto a quebrar,
espalhando os seus pedaços que nunca mais serão juntos no aconchego de um regaço
que lhes acolha os sentimentos,
porquanto o gume afiado de uma lamina que gelada, é doce, é fria, é acordar,
sem dizer a um simples despertar aurora de uma madrugada: - é um ponto final, obrigado!
Braga, abril, dia 26 de 2018 António Fernandes
SONETO 36/2018
Obrigado por me ensinares a ver o claro e o escuro aonde são raros os olhares que destrinçam as sombras do muro
que colocamos onde queremos no momento mais oportuno de forma a melhor conseguirmos
vencer os mais desprevenidos
porque o amor é um só jogo sem segunda oportunidade Para estancar o sofrimento
que causa num único momento de acaso ou fatalidade, num único golpe desferido!
Braga, abril, dia 26 de 2018 António Fernandes
SONETO 37/2018
O amor também é silêncio quando o silêncio existe. Sentir unicamente do vento o calor macio que transmite.
E sentir o cheiro intenso que da terra arada exala, em uma áurea, silencio,
e no fino rasgo se embala.
Mas, como a chama se apagou no silêncio que não existe em cada gemido do arado,
em cada rasgo de dor sulcado, nasceu semente, não resiste e que, só por isso, não floresceu!
Braga, abril, dia 28 de 2018 António Fernandes
SONETO 38-2018
Enormes, sombras da perfeição, por chão afora distendidas dissimulam a imperfeição de todas as palavras malditas.
Letra a letra, em silêncio, Sussurradas ao teu ouvido, registam o solene momento
em que a razão faz sentido.
Na maior das imperfeições com que se constrói cada frase para o teu ego enganar,
a melhor forma que sabe usar sombra em que melhor se disfarce a mais nobre das intenções.
Braga, abril, dia 30 de 2018 António Fernandes
SONETO 39-2018
Foi num desses raros momentos de acasos nas circunstâncias por entre nevoeiros densos envoltos em nulas fragrâncias
por entre luzes incandescentes e a poeira das palavras que vi nos teus olhos brilhantes
asas soltas. Velas desfraldadas.
Confesso, não pensei muito, só tropecei no teu olhar
estranhamente embebecido onde me deixei enredar, não me importa se fortuito.
Braga, maio, dia 9 de 2018 Antonio Fernandes
SONETO 40/2018
Trago-te maio de giestas, colhidas no sopé de um monte, são lindas: brancas e amarelas, verde, é “gano” de suporte.
Ah! Também trouxe aleluias com pingos de orvalho cobertas, único desejo: que te rias (!),
tão só porque, já estão murchas.
À tua porta as deixei, na soleira, junto do aro, para desejar:
- muitos dias!
- Maio a maio (!). Dirás. - Sim! é o meu voto sincero. Uma a uma as apanhei.
Braga, maio, dia 1 de 2018 António Fernandes
Textos:
Antonio Fernandes
Fotografias: Mar Maria FrazĂŁo