DIZER A CIDADE

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ACARE-Associação Comunitária (IPSS)


A POESIA É A ALMA DAS PESSOAS.

O PROBLEMA…

É HAvER TANTAS PESSOAS SEM


RECITAL DE POESIA Biblioteca Lúcio Craveiro da Silva

“DIZER A CIDADE” ACARE-Associação Comunitária (IPSS)


SINOPSE 1. Temas:  as pedras da arcada;  os bancos dos jardins da arcada;  as freguesias;  os nossos meninos; 2. Enquadramento:  “Dizer a cidade” em poesia com foco temático naquilo que são:  Referencia social da cidadania ativa circulante;  O fulcro emotivo dos seus equipamentos de arquitetura urbana;  A sua organização administrativa identitária;  O seu futuro enquanto pilar estrutural de continuidade; É o que se propõe o trabalho presente ao abordar o cerne umbilical de um processo secular de interação cultural em um local de encontro que atravessou gerações. A Arcada, cujas “Pedras da Arcada” foram cúmplice angular de gerações em todos os domínios da vida social respeitando sempre todos os seus valores mais íntimos como o são o silencio que sela os pactos da ética e da deontologia. Desde a vulgaridade dos negócios aos compromissos para a vida. Neste contexto os equipamentos de arquitetura urbana existentes ao longo da Avenida Central: “Bancos da Avenida” assumem relevância distinta na privacidade do ato, mas também no descanso e, na reflexão. As “Freguesias” reportam ao histórico urbano de alargamento do espaço urbano fora das muralhas mandado fazer por D. Diogo de Sousa. Os “Nossos Meninos” complementam esta abordagem interativa de entrosamento e inclusão geracional dos meninos de sempre que desbravam horizontes no tempo e na História. Este é um trabalho que visa relevar a literatura na sua componente narrativa em escrita poética sobre o meio; o Homem; a vida; de forma a que a inclusão desta sua valência, socialmente tida por mais frágil, em interação com a voz e a imagem, sirva de exemplo compacto de que uma sociedade é um todo onde a normalidade e a diferença são condição de vida quotidiana em que a verticalidade se assume como posição pendular da balança que a equilibra.


B R A G A C I D A D E

Braga é cidade de gentes, De património também E serrania circundante. Êxtase de viandante Que projeta para além Os sonhos que traz em mente! Braga é cidade de terra, De pedra e água corrente. De História milenar. Com presente para contar Que o passado é da gente Encarregue em no legar! Cidade por desnudar De vontade. Tão tenaz. Que para se reinventar Se constrói e se desfaz! E ergue, como miragem, Ousada nos desafios, Aos que fazem viagem, Sem pressas. Sem desalinhos!


Braga, capital do Minho, Terra do vira e do malhão. Única do verde vinho, Berço do São João.

B R A G A C I D A D E

Terra de espigueiros. Do milho e da broa. Onde os marmeleiros Dão marmelada, da boa!

E rodopiam, no adro da igreja Em voltas de estontear Na eira da quinta, ou largo que seja O que importa mesmo, é dançar!

Terra de romarias A Santos Padroeiros Onde se juntam Marias Os maridos e os herdeiros E dançam o vira minhoto Ou o malhão popular Ao som do bombo afoito E da concertina a tocar Onde se ouve o cavaquinho Os ferrinhos e o acordeão A voz esganiçada do toninho Mais a da Maria da Conceição


B R A G A C I D A D E

O Minho tem tradições Romarias e dançares Concertinas e canções Espigueiros e lagares.

Mas... se é de vinho que falam Do verde! Do bom beber! Então é bom que saibam Que quantidade sorver!

Da vindima à desfolhada Com picantes desafios Que a espiga encarnada Deixa a moça em sarilhos.

Que é o mesmo que dizer Aos que de nada, muito falam. O quanto devem beber Até que para o lado caiam!

Na eira ou no varandão Em noite de lua cheia Entrega o seu coração E tudo o que lhe vai na ideia.

Aos que pensam que o vinho Já se colhe engarrafado É bom que saibam que o Minho Nunca foi terra do fado!

Enquanto na mesa da micas Com toalha a preceito O bacalhau e as pataniscas Se comem num ai! A eito!

Do que cantam em Lisboa E que dizem Nacional A esse? O Minho apregoa, Braga também é Portugal!


Pedras da Arcada


P E D R A S D A A R C A D A

Ah! Se a Arcada contasse As histórias a que assistiu Ou se alguém imaginasse As dores que em cada pedra sentiu E as lágrimas que levou Pela Rua da Água abaixo Até ao Este onde poisou Mágoas e outros que deixo. Não tinha pedras que chegasse Para tanta história de vida Mesmo que lhe acrescentasse A medieval muralha, desaparecida.. E assim, em silencio. A conselho do saber, Diz tudo aquilo que penso E que me escuso, de dizer!


P E D R A S D A A R C A D A

Num dos arcos da arcada, Onde tudo se comenta, Ficou-me a "beiça birada"... Conta a pia de água benta. Mesmo a meio da arcaria Se a memória me não escapa, Ontem. Hoje. Quem diria? Dentro da igreja da Lapa! Foi um "vê se te avias!" Momentâneo! Repentino! No tempo em que as "Marias" Amamentavam o menino...

E os negociantes de gado Vindos da feira, para o Viana De peito aberto, desgarrado Terça-feira! É dia de semana! Café onde os escarradores Existentes na entrada Recebiam dos lavradores . A "bisca" de enfiada! E os senhores doutores O Astória frequentavam A meio, os pensadores, No Peninsular conspiravam


P E D R A S D A A R C A D A

Por cada noite que cai No limiar do entardecer Há um horizonte de esperança Que sobre as nuvens balança O seu manso desvanecer... E desnovelando, se vai. Como se desnovelando o novelo A nuvem se decompusesse Em matinal dia seguinte Silenciosamente ouvinte A tudo o que se dissesse Sobre o negro manto em degelo De onde o frio se levanta Para tudo envolver Como se uma neblina fosse E ao ouvido segredasse O que ficou por dizer No nó que ata a garganta E se liberta ao vento Por todos os vales e veredas E os corredores serranos No trote dos garranos Por terras secas e pedras Resistente como o tempo!


P E D R A S D A A R C A D A

No sopro da liberdade Voa poesia a rodos Coisa ao alcance de todos Desde que haja vontade Mesmo daqueles que não sabem, Ou nem sequer querem saber, Que a liberdade de dizer É coisa que todos têm O que podem é não ter A coragem suficiente Para dizer a toda a gente: - Sou livre, porque o quero ser! Pagando pela liberdade De não vergar à servidão A mesa vazia de pão E de migalhas, a saudade. Porque nós, as pedras da Arcada Tudo ouvimos. Tudo vemos. Do que em redor acontece. E do que não acontece também, porque há-de acontecer Perdure a vetusta sapiência em conseguir perceber Que o que daqui se avista nem sempre é o que pareceE o que parece, não raramente, é um cântaro cheio, de nada!


Uma sobre outra

P E D R A S D A A R C A D A

Segredam entre si: Nunca me dês por conselho O reflexo do espelho Da água do chafariz Que turva, transborda Nem me apontes campanário Em fim do empedrado Com largo sem praça Que para nossa desgraça Já me chega o soldado Que o bronze fez solitário E, já agora, arruma a igreja Enquanto o Papa distraído E de braços abertos Tem os pombos despertos Ao rigor do trajo vestido Mesmo que ninguém veja


P E D R A S D A A R C A D A

em cálice me encaixo No vértice, em cunha, Em abraço do desejo De uma forma estranha. Segurando dessa forma A força declarada do amor, Em arco de arcada com norma, De que se desconhece a dor Das pedras, não das pessoas, Que essas juram o eterno Onde só há coisas boas. Muito para além do inferno. No colo de ninfas e de estrelas. Onde tudo é moderno!


Em perfeita união

P E D R A S D A A R C A D A

A tudo vamos resistindo Independentemente da razão Dos outros que vão desistindo Uns da vida. Outros dos sonhos E outros da esperança até Encostados aos escolhos Vão emborcando o café Ao sabor do tempo que passa E do vento deambulando Em arcada da devassa Em que as pedras sussurrando Dizem ao tempo que passa: O Povo está desesperando!


P E D R A S D A A R C A D A

A esplanada é ampla Quão amplo é o vislumbre Sendo que não difunde Tudo aquilo que contempla De vontade que desperta E sentir que não conhece Sabendo que se A cor garrida da saia entendesse A alvura da blusa A esplanada seria aberta! Onde escorreita confusa Sulco de visibilidade rara

A um pedido formal Com toda a informalidade De quem tendo vontade Pensa que levas a mal

O momento oportuno De postura corporal Propositado ou acidental Ou... Algo de algo, em abono... Um simples piscar de olho De ingenuidade enlevada E as mesas alinhadas Mesmo que envergonhada Deixam ao Sol ver A esplanada, e o pimpolho! Tudo aquilo que quiser Entreabertas ou alçadas De uma a outra ponta De um a outro lado Há sempre um bocado De cobiça que desponta

E as cadeiras E as mesas E as tristezas Das solteiras

E os que o Sol guardam Mesmo em sombra franca Já cansados da cor branca Ouvem, riem e calam... As historias de encantar E as tenebrosas também Coisas que toda a gente tem E de que gostam de falar Pensando ficar por ali O que pediram segredo Esquecendo que o enredo Gira em torno de si Restando á esplanada Essa coisa de encantar Com tempo para descansar Dizendo tudo! Dizendo nada!


Bancos da Avenida ACARE – Associação Comunitária, IPSS


B A N C O S D A A V E N I D A

Há um banco, algures, No centro do imaginário, Onde sentas o pensamento, E descansas os sentidos. Onde arrumas os vestidos, Que em determinado momento, Usaste em local vário, Sito em sítio nenhures... Há um medronho maduro Em medronheiro sitiado Entre pedras de socalco Caídas pela ação do tempo Sem que lhe importe o momento Em que o trepes a pé descalço E te sentes. Leve e bela. Sem enfado. No seu tronco, corcovado, mas seguro!


B A N C O S D A A V E N I D A

Há um banco que navega Por ondas de mar, sem mar. Como se foram dote d'arte Pincelando o teu rosto Em banco onde o encosto Dos teu sentires, é parte. E o lastro, o Luar Onde o sonho escorrega. E assim, a áurea fica cheia. De cores, de sons, e de luz. De alegria incontida! Que balança, balanceando. Esfinge de musa dançando, Balé! Valsa! Em passo de corrida. Onde ninguém te conduz E te sentes menina. Sereia.

No arco do arco íris Penduras a corda do baloiço E a nuvem passageira Te empurra devagar Sem pressas. Sem magoar. Só o vento e a esteira Te sentem o corpo, o bulício. Paleta das cores onde ris! E serpenteias o olhar E a traquinice também. O afago. O vazio a vazar. O sentir sentido. Alguém!


B A N C O S D A A V E N I D A

De quando em vez, Percorro com o olhar O tabuado do banco corrido Localizado na avenida. Em lugar meio escondido, Que se encontra, de seguida, Mesmo sem procurar, No topo de tudo o que se fez. Percorro também, Aquele de pedra cinzenta Que no Bom Jesus se encontra Em descanso permanente. E onde cai a sombra. Protegendo do Sol quente, A memória que acalenta O sonho que ainda tem! Para pousar no horizonte O descanso do olhar E a ânsia de sentir. Do que ficou por encontrar Por entre aquilo que não digo, Incapaz de decidir, E também de entregar A água, em bica de fonte!


B A N C O S D A A V E N I D A

Em Santa Bárbara, Na Praça do Município, Senhora a Branca, Ou no Campo das Hortas. Algures em qualquer sítio. Haja ou não arcos sem porta. Mesmo que seja franca, Ou então banco de cátedra! Assim passo todos os bancos, Cada um com seus segredos, Em espaço e horizonte definido. Fica o tempo recordado Conjuntamente vivido. O campo que foi semeado, As veredas e os vinhedos, As capelas e os Santos...


Freguesias

ACARE – Associação Comunitária, IPSS


F R E G U E S I A S

Aqui. Na Serra dos Picos. Parceira da do Carvalho Onde nasce o Rio Este, Em terras do "baurd'Este" Onde se dilui o orvalho E se acumulam registos! Se inicia o Vale do Este Em vértice de aconchego Por casario a Poente Seiva de vida da gente Que na terra tem apego E rio abaixo se despe. Engrossando o caudal Com lágrimas de dor dilacerante Sem um grito. Sem um som. Sem uma voz. Esgueirando-se por matagal Da mágoa de se ser emigrante Mundo afora. Mundo adentro. Sempre sós!


F R E G U E S I A S

Se Gualtar dissesse Que seu nome é S. Miguel E São Braz o Santo venerado Teríamos o "caurdo" entornado Uma vez que o "Se Manel" É de gema! Não de veste!

Gualtar teve muitos lugares: Lugar da Lage; da Estrada Velha; Da Bela Vista; do Bairro Novo; No de Barros o forno do povo, O do Piolho junto à Igreja E o do Monte de bons ares!

Gualtarense dos costados Da alpergata e da sandália Da sulipa e do truz- truz Diariamente vê o Bom Jesus E lembra a benfeitora, Dª Amália. Que aos pobres doou seus legados.

O da Poça ficava a meio Muito próximo do da Escola; O da Reta; e o da Mourisca; "Vendas" onde o vinho e a patanisca O jogo do fito com "patela" E a sueca, sem muito "paleio" !

Amália, da família Lima, Tem nesta freguesia enorme Condição especial

Lugares, entretenimentos, vidas. Gentes de trabalho honrado No campo. Na oficina. Na construção.

Admiração e estima De toda a gente com nome E caráter vertical!

Gentes com memórias vivas Dos regos sulcados por arado Em campo fértil. Milho. Pão!


Diz-me vento que passa Notícias de Maximinos O vento? Ri. Com graça. Graça própria dos meninos!

F R E G U E S I A S

Dos meninos envelhecidos A quem o cabelo branco Recorda os anos vividos De cu ao léu e o pé descalço Que corriam na Rua Direita Ou no Peão de Meia Laranja No Penedo que resiste E do Caires tem a franja! Que no alto da colina De onde a Naia se avistava Onde coruja peregrina Em fazer o seu ninho, teimava! Se via também o carroceiro Que azeite e petróleo vendia E o povo dizia:- Vem aí o azeiteiro! E trás também mercearia!


Os meninos


O S M E N I N O S

O menino não sabe que em torno do jardim existia uma só sebe toda feita em alecrim aonde um rosal havia de todas as rosas e cores e a alfazema competia com o cheiro dos amores O menino não sabe que para haver a sebe foi preciso trabalhar os canteiros floridos aonde todos os sorrisos são a terra por lavrar


O S M E N I N O S

O menino não sabe da terra outrora quinta tão macia e tão leve em memória que a sinta uma imagem que seja sempre que os olhos fechar no colo que o aconchega ao sair e ao chegar o menino não sabe que o campo estava verde quando as entranhas lhe abriram para nele construir a casa aonde mora as ruas e avenidas e o mais que há lá fora só os canteiros floriram.


O S M E N I N O S

O menino adormeceu a um canto que ali estava só porque o sono lhe deu e o cão já não ladrava A seu lado se deitou com um só olho aberto a mãozinha lhe lambeu não fosse ele estar desperto O menino acordou quando na fralda mijou e o cão ao rabo a dar ladrando por sua mãe que a correr logo vem e o menino vai mudar


O S M E N I N O S

É o dia do meu menino, comemora aniversário, continua tão pequenino, ... no meu colo solidário, Cheio de amor, alegria, em cada afago recebido, o aconchego em cada dia, em cada olhar, cada sorriso. Que me dá e eu retribuo, todo o dia e a noite, o meu menino sempre será para lá do dia em que irá à procura de outro Norte, futuro de que não desisto!


FIM OBRIGADO ACARE-Associação Comunitária (IPSS)


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