A DESUMANIZAÇÃO DAS CIVILIZAÇÕES

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ANTÓNIO FERNANDES


I—HISTÓRICO Temos vindo a assistir passivamente a um surto migratório cujos efeitos atingem dimensão universal sem que as sociedades ditas civilizadas se preocupem em abordar as causas que estão na origem deste fenómeno que não é novo.

De há muitos anos a esta parte que os "corredores" das migrações se centravam em África, um dos Continentes mais pobres, financeira e culturalmente, e os motivos dessas migrações

que

deram

azo

aos

primeiros

"campos

de

refugiados" se centravam na fuga a lutas tribais; guerras civis; em que o fratricídio assume contornos do medonho. A Somália,

Biafra, Etiópia e muitos outros, diria que quase todos, depois de sentirem o peso do esclavagismo e da colonização, alicerçaram no seu seio o expoente máximo do sentimento e organização tribal, de uma forma feroz em que a disputa pela palhota e a picada foram estádios depois de terem conseguido as condições necessárias à sua independência nacional entretanto abalroadas por conjunturas adversas provocadas em grande medida por interesses externos afetos ao colonialismo deposto. Casos houve em que foram as potencias colonizadoras a pretexto do reconhecimento da autodeterminação ou independência que abandonaram os territorios depois de lhes terem delapidado os recursos naturais e que não corresponderam com a ajuda internacional necessária como deviam em função da situação de miséria em que deixaram as populações.


Atualmente as migrações alargaram o seu leque de influência em Países até então supostamente estáveis como o Irão; o Iraque; o Afeganistão; a Líbia; a Síria; entre outros; em que a desestabilização social é provocada por ingerência externa e o seu retrocesso civilizacional aparece ligado a uma corrente de índole religiosa: o Islamismo. Corrente religiosa reimplantada como fonte de poder orgânico de Estado com o apoio das Nações Unidas e dos USA que teve n' "O Grande Aiatola Sayyid Ruhollah Musavi Khomeini uma autoridade religiosa xiita iraniana, líder espiritual e político da Revoluçãoo Iraniana de 1979 que depôs Mohammad Reza Pahlavi, na altura o xá do Irão", o seu pioneiro contemporâneo. Os casos de ingerência e de influência militar direta verificados no Iraque, Líbia, entre outros, e por último a Síria. Sendo que nos primeiros passaram pela morte dos seus líderes. E no segundo emergiu da guerra civil um Estado Islâmico, do nada, armado e financiado do exterior, surgem como um ponto negro de uma conspiração que emerge assustadoramente num mundo

em ebulição. Afundam-se em guerras civis, o que leva à fuga das populações que engrossam os corredores dos refugiados. A travessia do Mediterrano rumo à Europa dos sonhos dourados aumenta e o caos instala-se. No Continente Americano a instabilidade política na Venezuela e o ataque cerrado à democracia no Brasil a par da perseguição política às comunidades de emigrantes nos Estados Unidos


com maior incidência sobre a comunidade Mexicana, são o expoente daquilo que mais tarde ou mais cedo se prenuncia como sendo uma ponta devidamente orquestrada para aquilo que possa vir a acontecer naquele Continente o que, a acontecer, trará consigo consequências inimagináveis para a Humanidade. II—CONTEXTOS Importa por isso aferir contextos de conjunturas isoladas que associadas, dão forma a um novo século que se destaca pela desumanização. Há uma mistura altamente "explosiva" em Continentes onde a natalidade tem vindo a diminuir e a consequente renovação do espectro social se tem socorrido das comunidades emigrantes de outros Continentes como forma de assegurar continuidade e também, a comodidade e qualidades de vida conseguidas. E temos os Continentes, de onde as comunidades de emigrantes são originárias, com insegurança permanente e qualidade

de vida paupérrima, em que o a idade média de vida é baixa e a mortalidade infantil demasiado alta. A fome e a miséria generalizada são uma constante. Esta condição, obriga as populações a procurarem melhores condições de vida em outros Países, mesmo com o risco de na perseguição desse sonho poderem perecer, o que acontece com regularidade. Seja no transporte, marítimo e terrestre, ou o risco de serem feitos prisioneiros e obrigados a retornar aos


aos seus países de origem. E temos também, as emigrações dentro do mesmo Continente, dos Países mais pobres para os Países mais ricos. A acrescentar à má qualidade de vida, como consequência, surge a perseguição a quem ouse denunciar tal condição.

Perseguição política; perseguição religiosa; perseguição social; Estas ocorrências Regionais, Continentais e Intercontinentais, mostram a crueza do tratamento dos Homens entre si e o íindice de desumanização de que são capazes. A jusante de tudo isto, nos Países mais desenvolvidos, surge um completo desapego entre o Homem e o meio envolvente. Entre o indivíduo e os seus pares. Entre o cidadão e a cidadania. Onde a organização social funciona, mas o cidadão pouco ou nada participa por manifesto desinteresse. As consequências da implementação das novas tecnologias no seu quotidiano. O crescimento desordenado das concentrações urbanas e o aumento desmesurado da densidade habitacional concentrado trouxe necessidades inumeráveis a que só a produção em quantidade e com um preço competitivo conseguiu responder através da implementação de tecnologias emergentes do uso militar e, a que o ajustamento resultante da sua inovação


respondendo a necessidades globais da sociedade originou o crescendo do consumo culminando em hábitos sociais generalizados. Houve, até ao início do corrente século, um evoluir constante na civilização do Homem e dos modelos da sua organização política e social em Nações e Estados, em que a sua humanização aconteceu como referência incontornável de vida enquanto indivíduo e cidadão. Esta crescente humanização teve, ao longo dos tempos, várias condicionantes. A sua organização política e social foi uma delas. Por ventura a de maior influência e de relevo. Mas, como

tudo na vida, mais concretamente num ciclo de vida, que não é hermético, há registos negativos. Simplesmente, chegados ao segundo milénio, d.C., o resultado apurado é incomensuravelmente positivo. III—OS RECEIOS

No entanto, aqui chegados, a questão que se coloca, é se o atual estádio a que o Homem chegou, no que ao índice do conhecimento e da sua civilização diz respeito, foi demasiado célere, ou não, relativamente ao acompanhamento que a sua estrutura mental e intelectual é capaz de absorver, assimilar e projetar, face à disparidade atualmente existente na componente

diferencial

entre o conhecimento e o saber, uma vez que a

interação de gerações com formação diferente é um

facto


coabitante em família e em sociedade. Condição que põe em confronto a vertente do conhecimento sustentado no seu processo evolutivo e, o simples saber adquirido na componente do uso, seja ele do equipamento que for. Esta realidade conjuntural evidência as contradições emergentes resultantes das profundas alterações feitas pelo Homem no Planeta nos domínios da fauna e da flora, dos ecossistemas e das condiçõeses climatéricas e outras, no âmbito da matéria que a geologia trata, e que estão a condicionar a sua existência em que a sustentabilidade e a autonomia, essência da sua existência, estão a ser colocadas em causa pela orientação das políticas que tem vindo a implementar no Planeta. Contradições de que resulta condiçãoo de que há, na atual conjuntura que contextualiza a vida, uma cada vez maior e por isso assustadora, crescente desumanização do Ser Humano. Desumanização que se constata com demasiada facilidade face aos atuais padrões estilizados em que a indiferença é a tónica de conduta mais dominante, mas que, neste apontamento, também ele de circunstância, circunscreverei a domínios específicos sem paradigmas. Sem paradigmas porque a atual conjuntura nacional e internacional dispersou conceitos que posicionou em valores de substrato variável para a organização social e política da vida Humana.

Valores que se radicalizaram na essência coletiva e se concentraram no indivíduo e nas suas necessidades específicas.


Assistimos por isso ao ruir da espiral em torno do interesse e da necessidade coletiva. E assistimos também, a um perigoso desvio cívico, do raciocino comum para o raciocino do rácio entre o humanismo e a automatização em que o Humanismo é um fator de somenos importância. Porque, o que de facto interessa, é que dentro do espaço mental e físico de comodidade do indivíduo, tudo se processe como pensa dever processar-se. Automaticamente! Esta semelhança com a inteligência artificial introduzida nas atuais tecnologias ao dispor da civilização, começa perigosamente a condicionar a capacidade de pensar e de raciocínio do cidadão comum. O que o torna autómato e por isso insensível. Ora, a sensibilidade, introduz valores de acutilância determinante na análise do conhecimento e do saber. Porque, é a sensibilidade do indivíduo que medeia o conhecimento e o saber e lhe acrescenta o fator de justiça. Condição, que a não existir, conhecimento e saber, não haverá na mente Humana o interesse em despertar essa componente essencial para a vida e que, em última instância, empurrará as civilizações para um processo complicado em que o desconhecimento domine e a teoria do caos ganhe consistência política e social. Um cenário dantesco para o qual as novas gerações não estão

preparadas e que por isso, a Humanidade e o meio envolvente não terão condições de resposta eficaz.



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