SATURNÁLIA BRACARAUGUSTANA
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SATURNÁLIAS Síntese de apresentação A História das civilizações é para os historiadores. Mas, também é da História escrita pelos mesmos, a existência nas sociedades, de uma forma de expressão popular e erudita em que a sátira é usada. Nesse domínio específico, a arte e a representação sempre foram um recurso irónico usado por filósofos e outros artífices e, pelas populações, anuindo a momentos ou personagens, em que, a arte de representar assume o apogeu da critica mordaz, a sátira, como recurso para desmistificar as vestes do poder. O pequeno trabalho de representação que vos apresentamos
versa
o
espírito
das
festas
designadas por; Saturnálias ou, Saturninas, um episódio da História de Roma, em que os amos se vestem de escravos e os escravos se vestem de amos e todos os serviços encerravam.
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Em
Bracara
Augusta
abre
um
Convento
Jurisdicional - nuns festejos em que todos os serviços encerravam e por isso a Lei no Império não se aplicava - o Convento Bracaraugustano, reunido num pequeno local indefinido, para proceder a uma execução. A pequena peça de teatro tem o seu inicio ao rufar de um tambor, anuncio do ato por um mensageiro vindo de Roma, um servo vestido de Tribuno; e, em que, a Presidente do Convento é uma escrava vestida de Governador; indígenas vestidos de Senadores;
Brácaros
vestidos
de
Soldados
Romanos; o Governador da Província é o Crucificado com vestes de Brácaro; Augures participam nesta execução pública porque a mesma carecia da sua aprovação. A representação termina com a distribuição de uma poção mágica confecionada para o efeito. Poção de purificação para que de todos os vossos males sejais libertados e tenhais boas colheitas. Academia Senior Dr. Egas Moniz e ACARE – Associação para a reabilitação de Braga
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Ora, como quando a peça terminar vamos sair todos juntos para beber a poção mágica farei a apresentação do elenco de representantes desta pequena sátira, neste preciso momento. Mensageiro: Celeste Machado Governador: Teresa Lanita Pinheiro Indígenas: Dália Oliveira e Angélica Lopes Escriba. Deolinda Lopes Soldados: Joaquim Carvalho e Luís Alves Galaico: Carlos Fernandes Druidas: Idalina Tavares e Manuela Matos Defesa: Antonio Barroso Acusador: Antonio Fernandes
Coreografia; Barbara Santos, Rita Oliveira, Conceição Cruzinha, Isabel Costa, Guilhermina Miranda.
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NOTA INTRODUTร RIA
As Saturnรกlias era uma festa em honra ao deus Saturno.
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SINOPSE A representação versa o julgamento e crucificação do Governador da Província no contexto das festas imperiais da Antiguidade mais concretamente nas Saturnais realizadas em todo o Imperio Romano. Assim
sendo,
este
pequeno
trabalho
de
representação, tem como temática principal nas festas Saturnais em Bracara Augusta, uma sátira social, ao tempo da Era Romana em que aos escravos e outros servos era permitido serem amos e os amos se tornavam escravos. É também dado destaque ao Augure ou Arúspice, Sacerdote da Roma Antiga, já que no tempo nada de importante se fazia sem o seu beneplácito, inserido no contexto do espírito das festividades Saturnais e que no caso, consiste na confeção de uma poção para auspicio e presságio do condenado.
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CONSIDERAÇÕES TECNICAS ELENCO DE ATORES
ANÚNCIO ➢ MENSAGEIRO.
CONVENTO JURIDICO BRACARAUGUSTANO ➢ GOVERNADOR. ➢ INDIGENA ➢ INDIGENA ➢ ESCRIBA. ➢ ACUSAÇÃO. ➢ DEFESA.
GUARDA DE HONRA ➢ SOLDADOS (2)
CONDENADO ➢ BRACARO (1)
RITUAL DA PURIFICAÇÃO ➢ DRUIDAS (2)
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ADEREÇOS TECNICOS: ✓ 6 cadeiras; ✓ 1 mesa; ✓ 1 púlpito; ✓ 1 cruz de madeira; ✓ 1 pote; ✓ 1 suporte para o pote; ✓ 4 microfone sem fios; ✓ 1 luz negra;
GUARDA ROUPA: ✓ 1 veste de Tribuno; ✓ 1
“
“ Governador;
✓ 4
“
“ Senadores;
✓ 1
“
“ Patrícia;
✓ 2
“
“ Soldados;
✓ 1
“
“ Brácaro;
✓ 2
“
“ Augure;
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➢ Entra um mensageiro que desenrola um pergaminho e em voz sonora o lê.
•
Mensageiro
Patrícias e Patrícios Que me escutais, Mudemos os nossos hábitos, Festejemos as Saturnais.
Sou de Roma mensageiro, E a Brácara Augusta cheguei. Aqui, este caso é o primeiro Segundo é a nossa lei.
Trago neste pergaminho, Manuscrito e selado. Que de mel pão e vinho, Seja o povo saciado.
Para que Saturno nos proteja, E nos dê a sua graça. Que um Galaico seja, Julgado, aqui, nesta praça! 10
Desde Roma caminhei Para a justiça exigir. Pela Lei e pela grei, E que ninguém se fique a rir!
O Galaico trapaceiro Que as moças, namorisca, Avé! César! Sou mensageiro Bracara Augusta, fará justiça!
Aqui. De onde tudo se avista. Até à margem do Cávado Vos trago novas. Noticia. De um Galaico… condenado!
Nesta mui bela cidade Bracara Augusta de nome, Se decidirá com verdade, Perante povo que não teme!
E que Castros desceu Para aqui, hoje, decidir Castigar tão nobre réu E dele, os males expelir!
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E que entre! Sua Excelencia! O Senhor Governador. Que com toda a reverência Aclamareis! Ou… se outra coisa for...
➢
(Entra o Governador)
Mailos outros reverendíssimos Senadores, deste nobre coletivo, Todos, mui sumaríssimos, O Galaico, é o motivo!
Neste largo, em fervor. De Castro sem que Castro se veja... Que entre o acusador! Mais o colega da defesa! ➢
(Entram o acusador e a defesa que se
posicionam lateralmente a meio do palco em local de onde possam apresentar argumentos em respeito pelos julgadores e pelo povo presente – a asistencia.
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E que se faça justiça Ao Galaico trapaceiro! Com a espada da liça E a balança do solheiro.
Neste Convento jurisdicional Perante vos, mui nobre povo. Apresente-se a Guarda imperial. E o réu! Com garbo, e denodo. ➢ Entram
dois
soldados
“Guarda
Pretoriana” com o Galaico que carrega uma cruz. Deslocam-se dos bastidores para a boca de cena do lado direito do palco. Um de cada lado do Galaico que atam na cruz. ➢ Junta-se a estes, um Augure com os artefactos para preparar uma poção para extirpar
os
maus
auspícios
do
condenado.
E que comece o julgamento Do Entrudo deste sítio. Neste preciso momento. Para que os amos ganhem juízo. 13
➢
A bancada do “Convento Bracaraugustano” está preenchida e posicionada ao centro do palco na parte superior.
➢
O acusador e a defesa estão nas laterais do palco e movimentam-se em v entre a bancada do “Convento”, o centro do palco e, a boca de cena do mesmo.
➢
A Guarda Pretoriana em pé, um de cada lado do "réu" que fica ao meio já atado á cruz segundo os usos Romanos, colocam-se na boca de cena no lado direito.
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•
Governador dá início à sessão
Declaro aberta a sessão Deste ato que é julgar Pelo que ordeno ao escrivão Para dele, o ato lavrar
Hoje, dia vinte e quatro, Do mês de maio, que salvo, Vou decidir sobre o facto, E deste ato, as mãos, lavo.
É o julgamento primeiro, Nesta Augusta cidade, Do Galaico prisioneiro Cuja sentença já se sabe.
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➢ o pleito é alternadamente direcionado para a mesa e para a assistência.
•
Defesa:
Não concordo! Não concordo! Com o desígnio apontado. E digo a este povo, O réu, ainda não foi condenado…
Mais digo a este Convento E a toda esta gente, Que o Galaico, é exemplo! Está aqui, inocente!
Não cometeu qualquer crime Contra a vida ou propriedade E do resto se redime, Essa é que é a verdade!
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•
acusação:
Apoiado! Apoiado! Mui digno Governador! O Galaico é culpado! De todos os males, o maior.
O mal da abastança. Do insidio. Da orgia. Seja noite, ou seja, dia.
O Galaico representa Os excessos, da gula e da folia, Se este Convento o inocenta, É cúmplice dessa ignominia!
Não vá tão digno coletivo Que o povo representa, Deixar passar o motivo Que a acusação argumenta!
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•
Governador:
Retomemos a data. Ano de dois mil e dezanove. Para que conste na ata E tudo o mais que nos move.
Perante este povo que assiste, O respeito a este Convento é devido. Porque a justiça se existe, É para aquilo que é preciso.
Ora neste julgamento, Uma vez que o réu é mudo, A prova é o argumento, E os factos, eu deduzo...
Deduzo com o saber Deste Convento Bracaraugustano Que Saturnálias vamos ter Neste festejo de fim do ano.
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•
defesa:
Se me é permitido, Com a Vossa permissão, Não entendi o sentido, E muito menos a razão.
Uma vez que o réu se queda Surdo, mudo e sem visão, Espero que Convento ceda E lhe dê toda a razão.
Na folia e no engano Na opulência distinta Do ato em que ser amo É matéria mui sucinta!
Por isso a decisão Só uma pode ser, A de dar toda a razão Ao Galaico, é de prever.
Que afirmo. É inocente. De todas as acusações. Os excessos desta gente Não são suas preocupações. 19
•
acusação
O meu colega está louco Perante tal ignomínia, A cruz? é muito pouco! Saturno nos alumia!
O Galaico é a devassa. A preguiça. A luxúria. Da Bracara Augusta, a desgraça! Exijo uma pena dura!
O Galaico é a cobiça. Todos os excessos carnais. Por isso, exijo justiça. Justiça, e nada mais!
O Galaico aqui presente E que será condenado Convenceu toda esta gente Que o Império se há acabado
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•
Defesa:
Nada disso! Nada disso O meu colega é indecente. Haja senso, Meritíssimo! O Galaico, é inocente!
O Galaico só aceita Aquilo que a vida lhe dá Por isso nunca rejeita Fruta madura, quando a há.
Onde é que já se viu Gozar a vida ser crime O meu colega sentiu, Ou põe a sua mão no lume?
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•
acusação
Nada disso, digo eu, Em defesa da moral. Ceder o amo ao plebeu, É uma fraqueza letal!
Não podemos deixar Este Galaico que assusta O povo que vem lavrar Terras de Bracara Augusta!
O Galaico já foi considerado Pelo povo aqui presente Como sendo o culpado Dos maus augúrios desta gente!...
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•
defesa
Mui digno Governador, Bracara Augusta clama. Com alma e com fervor. A vossa atenção chama.
O réu, que o meu colega acusa, De tudo aquilo que é a devassa, A vossa clemencia não recusa, Pois ser escravo, é uma desgraça.
Não basta ser feio, e de mau cheiro. Mal-afamado, por toda a gente! É apontado de tudo, o dia inteiro, Por de todos eles, ser diferente.
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•
acusação
Meritíssimo senhor Governador, Saturno semeou e colheu! Para o ano ser melhor; Tem de Padecer o plebeu!
Todos nós bem o sabemos Que o Galaico, é uma praga! Sendo clementes, é esquecermos, Que ele na vida, é uma chaga!
Por isso exijo ao Convento, Que à nossa razão faça jus! Para sua remissão, lamento… Tem de ser pendurado na cruz!
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•
Governador (encerra a sessão)
Povo de Bracara Augusta, Neste Convento foi acordado, Pena que julgo a mais justa. O Galaico, será crucificado!
Neste preciso local, Na presença de todos, Encerra o tribunal e que haja vinho a rodos!
Em honra do deus Saturno E melhores colheitas haja O escravo se tona amo E o amo que escravo seja.
E que o Augure desta terra Extirpe os presságios do corpo, E que para longe os corra Não deixando nenhum solto. 25
VOZ DO POVO
Diga lá, outra vez, excelência!... Que a gente... Não ouviu... Querem ver que a eminência Fala por nós? Onde é que tal se viu!?
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•
Defesa
Meritíssimo Governador Nada tenho a acrescentar Quem manda, é o Senhor, Ao povo resta implorar.
Imploro a saturno, idolatrado, nestas Saturnais, em delírio, Salva o Galaico condenado Da cruz e do seu martírio!
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•
Acusação
Não se incomode colega, Deus Saturno o ouviu, Termino esta refrega, Gozando o que aconteceu!
Imploro-te ó Saturno deus do ar, Deus da terra que tudo produz Este Galaico tem de pagar Os seus exageros, na cruz!
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•
Governador
Caro povo desta terra Aqui, a Lei sou eu. Não me importa o que queira O nobre ou o plebeu.
Vim presidir a este Convento Ouvir o réu e a razão, Perceber o argumento Da gula e da possessão
Dou por isso encerrado Mais uma vez, esta sessão, O ato já está lavrado Com esta minha decisão!
O Galaico é condenado A nessa cruz sofrer, Nela será crucificado, É o que tenho a dizer!
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VOZ DO POVO Diga lá, outra vez, excelência!... Que a gente... Não ouviu... Querem ver que a eminência Fala por nós? Onde é que tal se viu!?
➢ Entra um segundo Augure que se junta ao primeiro que havia feito o ritual dos presságios ao condenado ao mesmo tempo que confecionava a poção mágica e, ambos descem do palco levando com eles a já citada poção mais os artefactos (pote e suporte) colocando-se em local frontal ao publico para exercício de ritual de
purificação
dos
presentes
e
distribuição da poção mágica. ➢ Há uma coreografia para a colocação das lamparinas na boca e sena e na sala. ➢ O segundo augure interpela o povo com preces, alusões e outros, apoteose final Saturnina. 30
•
Augure
Clamo ao deus Saturno Por muitas e boas colheitas. Não sei se é oportuno Livrar-vos de todas as maleitas.
Também de todos os males Que trazeis no pensamento Espalhai-os por esses vales Ao sabor do rio e do vento.
Correm todas as virgens Dançam todas as bruxas Espiral de vertigens Porque somos todos trouxas
O sapo com a boca cozida Que está à tua porta Vai estragar-te a vida Mau olhado sobre a horta. 31
Se o gato preto miar Cuidado com a bicharada E quando o mocho piar Traz a morte anunciada
Abrenuncio Augusta Espíritos, que tendes vós? Sois Bracara! Vetusta! Ide-vos! Saí! De todos nós!
São as festas Saturnais De Bracara Augusta cidade. Ode Entrudo crucificais Sem dó, nem piedade!
Clamo ao deus Saturno Por muitas e boas colheitas. Não sei se é oportuno Livrar-vos de todas as maleitas. 32
Também de todos os males Que trazeis no pensamento Espalhai-os pelos vales No rio corre o momento.
Tenho o poder de expurgar. Sou o conselheiro mor. Esta poção que vos vou dar É um elixir do amor.
É uma poção com magia E poder miraculoso Aos guerreiros dá alegria E aos cidadãos o gozo.
Bebei concidadãos, bebei. Vos quero arautos do prazer E daquilo que não sei, Sobre o que vai acontecer
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Um bom presságio vos lanço Augúrio para boas colheitas Sol aberto e vento manso Sobre todos os profetas.
E assim dou por encerrada A crucificação do Galaico Nesta praça transformada Em Saturnália a preceito.
Vinde comigo beber O elixir da verdade Para termos o prazer O gozo e a felicidade.
➢ O Augure sai para fora levando atras de si os outros atores e todo o publico para que a eles seja distribuída a poção mágica por um outro Augure já posicionado à saída, para o efeito.
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